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GAËË TANË

Históó ria dó I

Tradução de
TOMAS G. BERNATHY
Históó ria dó I

Gaëtane

História do I
Um pouco rosa, muito louco

I sorria. Não perdera a noite. Uma bela presa, aquela mulher. Esguia e alta, ela calçava botas de
pele fina, um vestido curto da mesma pele, à altura das nádegas, com laços sobre os seios que deixava
escandalosamente descobertos. Sua abundante cabeleira, vermelho fogo, movediça, acompanhava os seus
movimentos, até a altura de sua cintura.

Na verdade, mergulhado na leitura de seu policial, não a tinha visto logo e fora ela quem, a passos
decididos, evoluíra até a sua mesa. Fora ela quem lhe sorrira. I tremia um pouco quando ela fixava seu
olhar claro. Arrumava seus cabelos louros que formavam cachos em seu pescoço. Ela olhava seus quadris
largos e I agitava as pernas debaixo da mesa, surpreendido. E, principalmente, ela olhava o volume de sua
calça, sobre a coxa esquerda. - Poderíamos tomar um drinque em minha casa - dizia I, tolamente. - Há
muita gente neste bar, Está lotado. - Ela propôs irem ao carro dela. Caminhava de maneira que todo
mundo, no bar, se voltou para vê-Ia passar. Ele estava orgulhoso.

Ao volante, ela deu a partida resolutamente. Evidentemente, não iam à direção do apartamento de
I, mas, afinal de contas, pouco importava. Ela estava ali. Ela podia perfeitamente ir para onde quisesse. E
ele calou-se recostado nas almofadas. Mas a mão da mulher coberta de jóias brilhantes deixou
bruscamente o volante e tocou sua coxa, ali onde sua ceroula florida libertava o sexo. Ora essa! Ela não
perdia tempo, aquela mulher. Era preciso fazer alguma coisa. I quis abraçá-la. Mas, sem saber por que, ele
achou que isso era ridículo. Sobretudo com esta mulher. Era preferível não se mexer.

Com um gesto de carícia, ela abriu a calça, meteu a mão por ela e sacou o sexo. Ele se erguia já,
um pouco rosa, muito excitado. Os dedos anelados de bronze e de ranhuras alisaram-no primeiro, depois
apertaram-no e deslizaram sobre a pele, cada vez com maior precisão, tocando em cada movimento de
vaivém a prega da pele na glande, ali onde a carne é tão sensível. Ele deixou-a fazer, atordoado,
constrangido e feliz. Ela conduzia com a outra mão e arrastava-o.

Quando chegaram a casa dela, e largou o seu cabo, I não soube o que fazer, não ousou tornar a
abotoar-se e ficou como estava. Subiu os degraus da escada atrás dela, o membro ereto, no ar, mas
levemente desviando-se para o lado e encurvando-se.

Os braços em cruz
oferecendo-se aos golpes

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I não agüentava mais. A desconhecida excitava-o como nunca uma mulher o havia excitado. Porém
ele, o fanfarrão, o profissional experiente, hesitava em abraçá-la. Não ousava derrubá-la sobre o leito
muito alto de penas, ao fundo da alcova revestida de madeira, entre as grandes flores pálidas dos
cortinados. Ela se mantinha de pé, não verdadeiramente orgulhosa. Só. Imensa. A peça era bela, sem
dúvida, mas emaranhada como uma floresta, tão profusamente se acumulavam ali os objetos e os véus,
profunda como o mar, tanto as plumas e os espelhos ali presentes. Um perfume oriental embebia
surdamente as paredes. Lâmpadas baixas e abajures de pérolas iluminavam a face de velhas bonecas, de
corpos roídos sob as vestes de cretone trabalhado. Os olhos de um banhista estavam fixados nos seios
volumosos de um manequim de costureira, vestido de renda negra.

Imóvel, ela olhava I, esperando sem dúvida que ele desse o primeiro passo. Não, ela não esperava.
Ela sorria e sonhava. Ele é que esperava, inquieto, hesitante, o sexo erguendo-se sempre fora da calça que
ele não soubera tornar a fechar.

Lentamente, sem que ele compreendesse quando o gesto havia começado, ela desabotoou seu
corpete de couro e seus seios saltaram de repente, belos como o ferro e o gelo. Suspirando, I estendeu as
mãos. Seus joelhos tremeram um pouco. E de repente, com um gesto louco, gritando, ela atirou-se toda
sobre o leito, abrindo largamente suas longas coxas morenas, finas e leves, descobrindo todo o seu sexo de
tosão selvagem como uma crina de jumento, de monte de vênus bem esboçado, de lábios quentes e
espessos, úmidos sobre uma fenda sombria.

As pálpebras de I bateram nervosamente. O sangue queimou suas orelhas. Ele agitou-se. Sua vara
estendeu-se, saltou para ela e tocou a vulva. No mesmo movimento, ele ejaculou, esvaziou-se, derramando
o seu prazer antes mesmo de tê-lo sentido.

Ele experimentou um intenso sentimento de vergonha, de raiva contra si mesmo, de humilhação.


Que iria ela pensar dele e de sua virilidade? Não fora sequer capaz de enfiar-se nela. Ele olhou-a, ela não
sorria mais. Endireitara-se e seu rosto tomara tal expressão de profundo desprezo e ódio feroz, que além
de confuso ele quase sentiu medo. Ele abateu-se sobre a borda da cama, o ventre, com seu sexo mudo,
contra a coberta. Ela passou por trás dele. Ele ouviu-a caminhar, aproximar-se.

Uma chibata silvou em suas orelhas e abateu-se sobre suas costas. A dor, aguda, sufocou-o. Mais
ainda, a surpresa. Ela estaria louca? Para sua vergonha, ele, entretanto não se moveu. Ela recomeçou
batendo cada vez mais forte, marcando suas costas e suas nádegas, que ela desnudava com um gesto
rápido, como as feiticeiras de dedos em garra arrancam os olhos. Ele experimentou logo um grande
sentimento de alívio. Sim, que ela o punisse, que ela o esfolasse. Ele perdera a partida. Cobrira-se de
ridículo. A punição fazia-lhe bem, absolvia-o, purificava-o.

Por si mesmo, estendeu os braços em cruz, oferecendo-se aos golpes que o queimavam, marcavam
o seu corpo.

Um grito de revolta,
um líquido quente e acre

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Quando ela parou, ele permaneceu assim, dolorido, massacrado, mas liberto. Ela disse-lhe que se,
erguesse. Ele ficou estupefato ao ver seu rosto, mais belo por causa da exaltação que acentuava seus
traços, cavava suas faces. Ela mantinha, entre seus dedos nervosos, a longa chibata de couro amarelo que
o tinha marcado. Ela disse-lhe ainda que andasse, ergueu uma tapeçaria que escondia uma porta, fê-lo
descer por uma escada escura, de degraus de carvalho, desiguais, e fê-lo entrar numa espécie de caverna
tão escura que não se podia enxergar nada. Ela o empurrou e fez com que caísse rudemente de costas. O
solo devia estar recoberto de palha.

Ela segurou um de seus pulsos, fechou-o num anel de ferro, fixado ao solo, depois o outro pulso, depois os
seus dois pés. Quando os longos dedos da mulher tocaram seu corpo, ele sentiu apenas o contato com
felicidade e perturbação. Mas depois que ela o deixou, ele se deu conta de sua situação.

Estava nu, preso ao solo, braços e pernas em cruz, tão estendidos que lhe doíam. As costas, já
talhadas pela chibata, esfolavam-se na palha que se tingia de sangue. Ele estava prisioneiro.

Teve então uma violenta reação de revolta e de cólera. Pôs-se a gritar, a insultá-la, a debater-se para
tentar quebrar suas cadeias. Ele ouviu-a rir perto dele.

Redobrou de raiva e de esforços. Enquanto sua boca se abria para um grito de revolta, sentiu um
líquido quente e acre, de odor forte, penetrar no fundo de sua garganta. Ela urinava sobre ele. Ele fechou a
boca, mas, na sua posição deitada, não pôde deixar de engolir e o jato poderoso continuou a molhar seu
rosto, seu pescoço, seu peito. Desanimado, ele calou-se.

Então as mãos da mulher começaram a passear sobre seu corpo. Ele lutava contra a emoção, mas se
sentiu perdido quando a vulva úmida acariciou seu torso, seus braços, suas coxas. Ele se retesou. Não
podia ver nada, mas sentia fortemente o contato da pele fina e fria, o contato das pontas dos seios,
granulosos e duros, o contato dos lábios do sexo que pareciam sugar sua carne, alimentar-se dela.

A mulher começou a gemer em cima dele. Uma respiração rouca que se ampliava, subia e fez-se um
grito agudo quando, de um golpe, a vulva enfiou-se sobre o seu membro erguido e o engoliu.

Ele se sentiu preso pelas coxas que o apertavam convulsivamente, espasmodicamente, As unhas
agudas laceravam seu peito, agarravam-se a ele. Um fogo estranho corria dentro dele, sobre ele,
anulando-lhe a vontade. Ele sofria violentamente o contragolpe do combate, sem o dominar. Depois, a
mulher dos tentáculos dançou mais fortemente sobre ele. Ela gritou e sua vulva, numa horrível sucção,
engoliu-o como um polvo, chupou-o, aspirou-o. Seu membro foi sugado, depois relaxado, como um balão
de gás furado.

O silêncio fez-se pesado. Seu corpo conheceu uma dor suja, um desmoronamento cruel e feliz, o
pavor da solidão. A fada toda-poderosa esqueceu-o naquela noite sobre a cama dos animais.

A roupa

Um leve ruído, um roçamento delicado o despertaram, A roupa de sua amante tocava sua face. O
tecido dançante aflorava seus cílios e soava ao seu ouvido como uma música. Ele abriu lentamente as
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pálpebras. Seda selvagem vermelha, de reflexos de fogo, que cobria os tornozelos da mulher. Com um
passo rápido e farfalhante, ela veio postar-se diante dele, no fundo do quarto. As paredes eram curvas. A
abóbada estava atapetada de tecidos espessos, de pesadas ramagens, onde se entremisturavam flores e
pássaros exóticos.

Sob sua pequena capa de cor malva, de largas pontas e 'pena de pavão, ela o observava. Estava nua
debaixo de sua roupa que modelava estranhamente seus seios duros, de pontas erguidas. Lentamente, o
sexo de I se intumesceu, engrossou e ergueu-se, o desejo por esta mulher acordava junto com ele. Ele se
recordou de como se sentira abocanhado, ontem, quando ela fazia amor com ele, depois arrastado para
fora de si mesmo até perder completamente a consciência e soube que nunca havia gozado como então.

A mulher fez um gesto com sua mão de fada malfeitora, hoje com luvas de veludo encarnado. Uma
porta abriu-se ao lado, que ele não tinha observado, e quatro garotas entraram, risonhas.

Elas estavam inteiramente nuas, seus cabelos despenteados caíam e tocavam seus rins arqueados.
Suas pequenas vulvas gordinhas eram lisas e sem pelos. Entre elas, uma pequena negra, de seios
minúsculos e mal formados, porém dotados de pontas muito grossas, duras e erguidas. Elas cercaram a
mulher, beijaram suas mãos e seus lábios e fizeram-lhe festa acariciando suas ancas, suas pernas e seu
ventre. Depois, como se soubessem o que se esperava delas, vieram na direção de I e o libertaram, com
um só gesto, divertindo-se. Por fim, elas desapareceram como tinham vindo, mal tocando o solo com seus
pequenos pés nus.

I achou-se livre. Movimentou um pouco seus membros doloridos. Embaraçado, ele não sabia que
atitude devia tomar. Ergueu os olhos para a mulher, encontrou seu olhar duro e, muito depressa,
instintivamente, se pôs de joelhos diante dela. Foi um movimento quase natural. Compreendia que não
podia fazer de outra maneira. E, como se não estivesse senão esperando tê-lo de joelhos, ela falou.

Sua voz era insana e rouca, de uma mulher um tanto embriagada e que vem de fora.

Você sofrera comigo


todos os suplícios

- Você está livre - disse-lhe ela - livre para voltar à triste vida normal. Não lhe peço nada. Se, que
você é um pequeno funcionário do amor. Se que sua vileza é obscura e vazia e que, quando você dá o seu
tiro, nem sequer encontra eco. Você gosta de erguer a crista, como um galo sobre seu estrume, você se
sente perdido e, às vezes, a sua fraqueza o angustia.

- Quanto a mim, eu lhe proponho perder-se realmente, perder-se num mundo terrível e imenso, que
o apanhará e o matará. É um mundo de mulheres e você tem tudo a recear delas. Você será seu escravo e
pertencerá a elas como um objeto vivo.

- Você está prestes a entrar neste mundo de aflição e de prazer voraz onde você será amarfalhado,
achincalhado e, por fim, excluído, porque, repito-o, é um mundo de mulheres. Você jamais saberá quem
elas são, nem quantas são. São minhas irmãs condenadas. Elas poderão usar e abusar de você, quando o
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quiserem e como o quiserem e você nunca saberá o que deve fazer. Pois não existem regras aqui, se não o
meu desejo apenas e o de minhas demoníacas acolitas. Não é um convento, é um prostíbulo e as mulheres
cruéis saberão destruir você e submergi-lo.

- Sofrerá por mim todos os suplícios que sonhou sem o saber, suplícios infinitos, deliciosos,
perturbadores, desejados. Será uma coisa insignificante aos meus joelhos, submetido a todos os meus
desejos. Será a presa de todos os fantasmas do amor e dos irreais demônios aos quais você pertencerá.
Amarrarei você com cordas, prenderei você fortemente com cadeias, e eu o chicotearei, eu o machucarei,
eu pintarei seu corpo, tenho agulhas de jade que entrarão em você como pequenas flechas e rosas
venenosas que rasgarão sua pele, Farei correr o seu sangue, gota a gota.

- Você me pertencerá muito além da vida. Então o sortilégio se produzirá, todas as portas do amor
se abrirão por si mesmas em uma noite ilimitada e as forças misteriosas do irracional e da eternidade
penetrarão e, por fim libertadas, se cumprirão todos os ritos, numa fulguração de sangue, de sofrimento,
de humilhação, de aniquilamento e de alegria suprema. Porque eu serei, soberanamente, amante, e todo o
mal que eu farei a você é aquele que você espera, obscuramente.

Com a correia, ela o dirige

A mulher calou-se. Seus lábios, borrados com um vermelho brilhante e espesso, fecharam-se com
um sorriso. I tremia. Uma emoção violenta colhera-o enquanto ele bebia cada palavra, dita pela mulher.
Estava extasiado, enleado, cativo. Não hesitou um segundo em aceitar a vida de escravidão que ela lhe
propunha e não soube, para expressar a sua submissão, senão repetir o discurso que o tinha seduzido.

- Eu lhe pertencerei como um objeto vivo. Faça de mim o que quiser. Sofrerei de você todos os
suplícios pelos quais não cesso de sonhar. Ser para você um pequeno escravo, aos seus pés. Estou em suas
mãos, eu lhe pertenço, para além de minha vida.

- Desde já, olhei com emoção e alegria indizíveis os esquisitos recortes que cobrem meu corpo e
adoro suas mãos divinas. A cada um de seus golpes, a cada um dos seus desejos, por todos os poros de
minha pele, minha alma vinha exalar-se e morrer sob seus olhos. Sim, eu lhe pertenço, nada, nenhum
rosto, nenhuma voz, nenhum olhar poderão impedir-me de lhe obedecer.

- Adoro estar-lhe submetido, completamente submetido, oh, a você que soube tão bem apropriar-se
de meu corpo.

I abaixou os olhos. Seu coração batia a ponto de quase romperse. Ele respirava levemente. Ousou,
com voz mal perceptível, perguntar o nome desta mulher que o dominava. Ela lhe disse suavemente:
Gaetane, e depois estendeu para a boca de I sua longa mão enluvada e ele a beijou longamente,
apaixonadamente, respeitosamente. Assim se selou o pacto de sua submissão.

Para melhor simboliza-las, ela lhe colocou um cabresto que ele não deveria mais tirar. Era feito,
exteriormente, de pedaços de seda e de lã, misturados, rosas e castanhos com reflexos dourados. No
interior, ferro liso e duro em torno de seu pescoço. Ela fechou-o e segurou-o por uma tira que se prendia à

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coleira, feita dos mesmos pedaços de lã e de seda misturados. Ele estava sempre de joelhos diante dela,
humilde, preso como um cão.

Ela ergueu lentamente a roupa, descobrindo suas esplêndidas pernas, sempre mais alto, até a
floresta que apareceu sobre seu sexo saliente. Emocionado I não se mexia mais. Ela o puxou pelo
cabresto, até que os lábios de I se colaram aos lábios de sua vagina. Com a tira, ela dirigiu-o habilmente a
fim de que ele sugasse o seu clitóris ereto, I fremiu em todo o seu ser quando sentiu em sua língua a jóia
de seu corpo, esta estranha proeminência tão suave, tão aveludada, tão acre, que se erguia como uma flor
mágica para aspirar toda a sua alma. Sim, a mais bela jóia que possa existir e pela qual ele tanto havia
chorado! Gaetane gozava violentamente e todos os sobressaltos de sua vulva ressoavam na cabeça de I.

Quando seu prazer se esgotou, ela repeliu I com um gesto brutal. Ele voltou a cair de costas, como
ao acordar, estendido em todo o seu comprimento. De pé, os olhos ainda meio fechados, Gaetane deixou
cair sua roupa com um movimento soberbo. Depois ela avançou para ele e começou a caminhar sobre o
seu corpo.

Ela trazia calçados rosas com veludos, com laços sobre os tornozelos, de saltos Luís XV
imensamente altos e pontudos. Enquanto ela caminhou sobre suas pernas, I suportou bem a dor, tanto mais
que a falta de equilíbrio de Gaetane o divertia. Mas quando ela chegou às suas virilhas e plantou os dois
saltos de cada lado de seu sexo, ele berrou. Ela continuou caminhando, enterrando seus sapatos no seu
peito onde deixava a pele aberta e sangrando, depois sobre suas faces onde o sofrimento foi atroz. Por rim
ela desapareceu, tendo caminhado sobre todo o seu corpo, tendo imprimido sua marca feminina em todo o
seu ser, tendo-o transfixado de parte a parte.

Tonificante de cravos azuis

I não ficou muito tempo sozinho. Furtivas como da primeira vez, dançando em seus pés nus, as
garotas entraram. Elas o cercaram, empurrando-se para melhor ver as marcas sangrentas que semeavam
seu corpo. Elas riam de alegria, brincavam entre elas, metiam seu dedo em cada ferida exclamando: - Oh,
esta daqui... Você viu esta daqui? É a mais bela. - Seus longos cabelos varriam o corpo de I,
entremisturavam-se e sua alegria aumentava sempre. A pequena negra tentou mesmo introduzir seu dedo
mínimo numa das marcas deixadas pelos saltos. A unha, muito longa, penetrou na carne, fazendo brotar o
sangue espesso e I sufocou de dor os cabelos da garota, em pequenas tranças, se erguiam, agitavam-se e
vinham sacudir o ar em volta da cabeça de I. Seu riso era mais sonoro, mais estridente do que o das outras.

I espantava-se pelo fato de que garotas assim pudessem ser de tal modo cruéis. Ele sempre olhara
as garotas como seres puros, inocentes e um pouco tolas. Descobria-as perversas e maldosas, mais
insensíveis do que a pedra.

Duas dentre elas o seguraram pelos punhos fizeram-no erguerse e o arrastaram. Ele estava preso
por suas delicadas mãos que o apertavam E deixava-se levar, feliz como um garoto que os adultos
transportam. A mais jovem, graciosa e ondulante como o vento, o precedia, Suas pequenas nádegas
agitavam-se diante dos olhos de I. A quarta fechava a marcha, como se fosse uma procissão derrisória uma
ridícula marcha triunfal. Ele se sentia fraco e levado. Sua correia pendia do pescoço, inútil e, entretanto

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deliciosamente humilhante.

O cortejo seguiu por longos corredores. Nenhuma porta se abria. Apenas cortinados mascaravam a
entrada das peças diante das quais eles passavam. E I ouvia murmúrios, gritos, gemidos, todos femininos.
Chegaram a uma sala, que era a do banho, inteiramente redonda. As paredes curvavam-se e faziam uma
casca de ovo e uma imensa banheira fora cavada na própria parede, ela também redonda e suave como um
ventre. Um banho de água tépida, relaxante, esperava I e ali o atiraram com grande ruído e grande prazer.
Seu corpo afundou sob a água azulada. Sentiu uma grande sensação de bem-estar que quase o levou ao
desmaio. O líquido banhava suas feridas, desentorpecia seus músculos. Ele deslizava numa espécie de
beatitude dolorosa. Sentia-se flutuar, vazio de toda substância, aberto. As garotas observavam a
metamorfose, Quando julgaram que ele já se banhara suficientemente em sua água acalmadora, elas se
aproximaram.

Mantinham-se caladas, mas seu olhar continuava zombador e risonho. Elas permaneciam
olhando-o em sua banheira, sem se mover, quando de repente, como a um sinal convencionado, elas se
precipitaram todas as quatro ao mesmo tempo para segurar seu sexo debaixo da água. Dar-se-ia que elas
iam à pesca da enguia, elas se misturavam, seus dedos agarravam e deslizavam, suas mãos se chocavam e
seu membro era torcido, puxado, pressionado e muito maltratado.

I não ousava dizer nada, tanto a brincadeira parecia engraçada e diferente para elas. Aliás,
ninguém pedia a sua opinião. Ele não tinha existência. Apenas, por um momento, seu sexo adquiria algum
interesse porque podia servir de brinquedo para elas.

Depois que o manipularam bastante, tiraram-no da água, pingando como um rato tirado do esgoto,
deitaram-no sobre uma imensa e muito espessa toalha esponjosa, enrolaram-no nela e, colocadas duas de
cada lado, frente a frente, rolaram para lá e para cá esse pacote para o secar. Quando isto ocorreu, elas o
estenderam sobre uma mesa e passearam suas mãos sobre todo o seu corpo; aqui, para massagear
longamente seus músculos doloridos; aqui, para depositar delicadamente um bálsamo benfazejo sobre
suas pequenas feridas; aqui, para friccionar longamente sua pele com uma loção tonificante de cravos
azuis; aqui, enfim, para aspergi-lo com um perfume suave e um pouco doce, sobretudo no pescoço, nos
sovacos e nos joelhos, na risca das nádegas e nos pelos do púbis. Eles foram cuidadosamente penteados,
assim como os cabelos que se encachoavam no pescoço.

Todos estes cuidados foram prestados, com seriedade e habilidade. As garotas agiam como
verdadeiras enfermeiras profissionais. Absorvidas em sua tarefa, elas não prestavam mais vigilância sobre
seu paciente. Mas I não cessava de excitar-se, porque ama ponta de seio, uma anca lisa, uma nádega
arredondada o roçavam continuamente. As vezes, uma pequena abertura cheinha e imberbe apoiava-se
fortemente sobre sua pele e enchia I de um desejo louco, porém mudo.

Quando terminaram de cuidar bem dele, vestiram-no. Passaram-lhe pelas pernas uma calça de couro
negro, muito mole que modelava suas nádegas e apertava suas coxas, mas deixaram a calça desabotoada
para que a todo momento se pudesse verificar o estado do seu sexo e utilizá-lo. Calçava sandálias
prateadas, de grandes correias, cujas solas tinham pelo menos dez centímetros de espessura. Cercaram sua
fronte com uma faixa de seda rosa de flores amarelas, a que deram um no, entre seus cachos de cabelos,
por trás da nuca. Por fim elas depuseram unia mancha de hené vermelho na palma de cada uma de suas
mãos.

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Depois, três delas sumiram e a mais velha ficou para levá-lo de volta ao seu quarto, puxando-o
pela coleira. Ele a seguiu, empoleirado em seus coturnos e manquitolando um pouco.

Ela prendeu sua correia à parede e o deixou. Ao alcance de sua mão, unia refeição lhe fora servida,
a qual ele comeu distraidamente, inquieto por saber o que se esperava dele depois daquela delicada
preparação que deixava sobre sua pele fremente e doce o contato dos toques furtivos e graciosos dos
pequenos demônios.

Carregado de exuberâncias

Foi somente no final da tarde, depois que ele dormira um pouco, que foi apresentado às suas
senhoras. Uma espécie de música infernal invadiu seus ouvidos, uma algazarra primeiro, feita de ruídos
roucos, de batidas rápidas, de assobios agudos. Assobiava-se em cornos, em toda a sua extensão e
enrouquecido como vozes. Batiam sobre tambores de ferro, de ressonâncias sincopadas. Mas I não via
nada e nunca pôde ver de onde vinha essa zoeira musical.

A jovem negra que cuidara dele, divertindo-se, pela manhã, entrou em seu quarto, fê-lo erguer-se
com um pontapé nas costas, tão leve que era apenas um roçamento, mas tão cheio de desprezo que ele o
fez levantar-se de um salto, como se seus rins tivessem sido pisados. Ela o segurou pela correia de lã e
puxouo, precedendo-o entre os corredores atapetados de tapeçarias. Sua bunda ondulava diante dos olhos
de I, porém ele estava muito preocupado e inquieto quanto ao que se esperava dele agora e seu sexo
permanecia murcho, pequeno úbere balouçando sobre sua calça de couro. Por fim, a jovem ergueu a mais
pesada das tapeçarias, feita de várias espessuras de veludos carmesim, que o fizeram lembrar-se de uma
cortina de teatro. Ela abandonou sua correia e o impeliu para que ele entrasse sozinha na peça.

Ele ficou atordoado, depois de ter dado alguns passos. A peça era grande e, sobretudo muito
comprida, abobadada como seu quarto, porém atulhada de molduras e de arcos. Guirlandas d rosas e de
folhas, anjinhos bochechudos, graças d seios Pontudos, isto tudo em pálido carmim, verde-pistache e
açafrão, decoravam pesadamente o teto em semicírculo. Um forte odor de sândalo impregnava toda a sala
e a barulheira musical era ali intensa, misturada a algumas notas de flauta, que eram lamentos e gritos.

Cerca de vinte mulheres estavam ali, em movimento e agitadas e seu caminhar ondulante era ta
que I teve a impressão de ter caído numa cova da serpentes. Muitas destas mulheres eram belas, de uma
beleza estranha e especial, altas e magras suaves como lianas. Seus rostos adornavam-se de cores e
desenhos que lhes modelavam um rosto de gata ou de leoa. Suas vestes tinham a leveza e a suavidade de
uma noite irreal.

Mas cinco ou seis dentre elas eram monstruosamente feias. Gordas, ou melhor, enormes, eram
horríveis megeras de uma vulgaridade sem igual. À entrada de I um riso espantoso tinha sacudido todas as
rugas e dobras de sua carne gordurosa.

Visivelmente à frente deste bando de bruxas, uma negra horrenda, maior do que todas as outras,
cujas mamas elefantescas pendiam até sobre o seu ventre inchado. Ela era caolha e, de seu olho vazado,
pois nada escapava ao olhar assustado de I, corria pus espesso e esverdeado. Ela movimentava-se com
muita dificuldade. I soube mais tarde que ela se chamava Uranie e que era a companheira preferida de
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Gaetane, que lhe dedicava estranhos poemas: <<Uranie, bolha monstruosa que faz recuar o solo; Uranie,
minha Uranie, mulher de cem quilos, que se mostra nas feiras inspiradas dos bairros Uranie, você que
patinha em sua gordura como u soberano em sua grandeza; Uranie, cujas mamas, gigantescas sacodem os
risos de medo dos passantes adormecidos; Uranie, oh Uranie, minha deusa da vulgaridade, sentada sobre
uma montoeira de parafusos amassados como um corsário sobre um ninho de zangãos, estrangulando com
suas coxas globulosas a cabeça do réptil alado>>.

I notou também uma mulher forte, maior de que todas as outras e, além disso, quadrada e
atarracada como um carregador de mercado. Ela fazia lembrar um bussardo e sua corpulência vigorosa
não deixou de impressionar I, sendo ela maior do que ele uma cabeça. Ela estava vestida unicamente de
couro: tiras de couro que se cruzavam sobre os duros músculos de suas pernas, largas faixas de couro que
cercavam suas ancas e escondiam seu peito flácido, punhos de couro como um lutador e, para completar a
panóplia, longo chicote de couro que ela segurava na mão. De tempos em tempos, sem motivo aparente,
ela o fazia vibrar violentamente no ar. Seu rosto, habitualmente um tanto embrutecido e sonolento,
assumia então uma expressão de brutal maldade, que, somente assim, iluminava seu olhar. I soube mais
tarde que esta força em estado bruto chamava-se Pélagie e era a executora fiel e entusiasta de todas as
ordens impiedosas de Gaetane. Era seu carrasco mais eficiente e o mais temível.
Ela se mantinha, por ora, junto a grandes cortinados de tule negro que velavam o fundo da peça E
se prendiam a colunatas torcidas. Atrás dessas cortinas, adivinhava-se que uma silhueta se agitava
lentamente. Logo os cortinados se abriram e Gaetane apareceu, aos olhos deslumbrados do rapaz, mais
majestosa do que nunca. Ela estava sentada sobre um imenso leito redondo, coberto com uma espessa pele
de leopardo.

O que surpreendeu I, primeiro, foi o número de jóias que Gaetane trazia naquele dia. Ele
perguntava-se como seu pescoço gracioso não se curvava sob os incontáveis colares e pingentes,
misturados a dentes de tigre, que se enrolavam em seu Pescoço e pendiam sobre seu peito largamente
desnudo. Ele se perguntou como suas fracas orelhas suportavam o peso de longos pingentes de ouro que
faziam um ruído de chocalhos quando ela movia suavemente sua cabeça. Perguntou-se como seus braços
elegantes podiam se sobrecarregar com tantos braceletes e manoplas de ouro pesado, misturados a
pedrarias brilhantes. Sua roupa também era bordada de ouro fino e de jóias incrustadas e I perguntou-se
como a espessura do tecido Podia dar-lhe este porte real sem nada de afetado. As mangas da túnica,
imensas, tocavam quase a terra e, quando ela movia os braços, parecia uma grande borboleta carregada de
exuberâncias.

Todas essas bocas abertas

I avançou, hesitante em seus coturnos. Percebeu que as pálpebras de Gaetane estavam


imensamente douradas, assim como seus lábios e suas faces. Seus cabelos estavam cuidadosamente
erguidos sobre sua cabeça e pesados alfinetes de ouro sustinham o edifício. Ela fez um gesto, o braço
estendido, a mão de unhas de ouro apontada para ele. I ajoelhou-se e baixou a cabeça. Ela se ergueu então
majestosamente, ergueu o rosto de I com um pequeno golpe de seu calçado pontudo sob o queixo, depois,
plantando-se diante dele, ela lhe voltou as costas e ergueu sua pesada capa de ouro, até que descobriu
inteiramente suas nádegas nuas, que o brilho dourado da roupa fazia aparecer de um moreno luminoso. O
gesto tinha alguma coisa de inaudito e de insensato. Esta rainha, esta deusa erguia suas saías sem que a
vulgaridade da postura diminuísse em nada sua grandeza. Em lugar de parecer ridícula e oferecida, ela

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Históó ria dó I

pareceu a I escandalosamente divina. Ele retesou-se.

Imediatamente, uma dezena de mulheres se encaminharam para ele. Num instante, elas lhe tiraram
a calça, não lhe deixando senão os sapatos prateados e sua faixa de seda e o deitaram no chão. Como
fúrias elas tinham erguido ou tirado suas longas roupas de tecido fino, de grandes flores malvas e coral.
Com as duas mãos, elas afastavam os lábios de seu sexo. I teve medo dos atrozes beijos que lhe dariam
todas essas bocas abertas que o cercavam. No mesmo momento, duas mulheres se enfiaram em seus
artelhos, duas outras em seus dedos, que elas mantinham retos, uma outra sobre o seu nariz, que ela
sufocava com sua vulva glutona. A sexta enfiou-se em seu membro. Todas as outras mulheres da sala,
cercando o grupo formado no chão, olhavam, riam, exaltavam-se acariciandose, sozinhas; ou em grupos.

Aconteceu então a mais incrível bacanal que se possa imaginar. Cada uma dessas possessoras
agitava-se em seu ritmo como uma endiabrada, dançava, movia os seus rins, fazia saltar seu ventre. Ele
acreditava-se vítima de um sortilégio, aprisionado entre os retos dessas feiticeiras de rostos pintados de
flores e de chamas, rosa tenra ou violácea, amarelo-açafrão ou verde amêndoa. Literalmente, elas o
sugavam, toda a sua substância, para arrancar dele o seu prazer. Sua aparência, primeiro, era, contudo tão
frágil, tão suave e agora sua dança de prazer era também uma dança de morte.

I estendia-se com toda sua pobre força e procurava cumprir o papel que lhe impunham, sem
muita fraqueza, porque ele via Gaetane que, sentada de novo em seu leito, do qual tinha afastado as
cortinas de tule, vigiava a cena com um olho divertido fumando uma longa piteira. Apesar de todos os
seus esforços, ele achava o gozo feminino muito demorado. Ele não estava agüentando mais. Conteve-se
ainda algum tempo, o bastante para alguns estertores femininos, depois ejaculou com um grito.

Quando ela sentiu sua presa escapar assim, aquela que dançava sobre o sexo de I deteve-se, os
olhos maus, o lábio torcido de desprezo. Ela era extremamente bela com seus seios minúsculos e afilados,
de mamelões violetas. I lamentou-se de não ter podido levar a seu termo o prazer de uma tal beleza. Mas a
hora não era mais para remorso.

As cinco outras mulheres, que o tinham segurado entre suas coxas, tinham-se retirado, elas
também. Juntas, e prontamente, elas apoderaram-se de I e o ligaram a uma coluna do leito, à qual o tule
negro estava enrolado. Os laços eram tão fortes que a coluna, contra a qual estava apoiado, entrava na
risca de suas nádegas e seus braços estavam puxados para trás, quase quebrando-se. Sua correia de seda e
de lã estava presa ao poste, retendo sua cabeça.

Armadas de chicotes e de chibatas de couro vermelho, as mulheres começaram a flagelá-lo


violentamente, batendo especialmente sobre seu tórax e suas coxas. Elas não poupavam, contudo, seu
rosto e nem seu sexo. Os golpes, rápidos e furtivos, vigorosos, que elas lhe davam sobre estas partes tão
delicadas de seu corpo, faziam-lhe maior mal porque elas o atingiam, de cada vez, a traição.

I, bem depressa, não pôde deixar de gritar e de chorar, de pedir graça. Não pôde também evitar
mostrar-se excitado de novo. Mesmo depois de terem obtido o resultado desejado, as suas possuidoras
continuaram ainda por algum tempo a chicotear, pelo puro prazer de lhe causar sofrimento e de ouvir seus
gemidos humilhados. O rosto de Gaetane inflamava-se com uma agitada felicidade.

Ela ergueu por fim a mão, que fez desfraldar sua longa manga, em um gesto de apaziguamento.

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Históó ria dó I

Então, suas companheiras cessaram de bater, de má vontade, desligaram I de suas cordas, estenderam-se
de novo no chão e retomaram de imediato suas posições, escanchadas.

I nunca prestara muita atenção no sexo das mulheres. Para ele, era um buraco, no qual entrava
vagamente e se sacudia, para deixar cair algumas gotas, envergonhado se a mulher não lhe gritava no rosto
seu prazer e sua ternura reconhecida. Ele agora se dava conta de como essas conchas eram complicadas e
diferentes umas das outras. Ele sentia, com uma acuidade particular, no sexo, no nariz, e nas extremidades
de seus membros, pregas e pregas babosas, lisas ou rugosas, firmes ou tenras, um corredor que se abria e
se estreitava espasmodicamente, caminhos confusos e escorregadios e até pequenos dentes rudes. Julgou
perceber círculos que encerravam cada vez mais sua pele.

O gozo das mulheres tinha-se aguçado com o prazer de bater. Elas deixavam escapar gritos, surdos
ou estridentes, cada vez menos espaçados. Logo e quase no mesmo instante, elas foram tomadas por
espasmos tão violentos que elas arrastaram I em seu estremecimento. As mulheres derramaram seu líquido
gosmento sobre todo o seu corpo. Isto fazendo, a vulva que se encaixara em seu membro tinha-o tão bem
massageado e preso, que ele se esvaziou, pela segunda vez.

Sentiu-se esgotado. Os olhos meio-cerrados, a respiração curta, ele entreviu os seis demônios,
paradas, as faces vermelhas, os olhos aumentados e como perdidos num sonho no qual ele não tinha vez.
Os anjinhos e as graças de forro não tinham um olhar tão ausente.

De sua carne lacerada o desejo

Aquela que o cavalgara, ergueu-se, resplandecente, veio até Gaetane e murmurou-lhe algumas
palavras ao ouvido, designando I. As duas mulheres, curvadas uma para a outra, discutiram um momento
juntas. Tinham a aparência de irreais conspiradoras, pintadas segundo as cores e as formas de alguma
estranha seita, desconhecida do comum dos mortais. I sabia que elas falavam dele, mas não podia
apreender o sentido de suas palavras. Somente ouvia algumas palavras: - ineficaz. . . - falta de... e era
necessário, para o dia seguinte, um castigo.

Não teve tempo de refletir no que podia significar aquilo. Já seis outras mulheres tinham-se
aproximado e, erguendo suas vestes, o cercaram. Ele compreendeu com pavor que não obtivera nenhum
descanso e que essas novas panteras iam, também elas, amá-lo. Ele alegrava-se olhando a pequena tripa
murcha que descansava sobre seu ventre. Conhecia-se e sabia que depois de duas ejaculações era incapaz
de recuperar algum vigor. Mas suas perseguidoras não o entendiam assim. Estavam todas muito decididas
a experimentar o novo objeto que Gaetane lhes entregava pela primeira vez hoje.

Elas o fizeram erguer-se a pontapés nas costas, prenderam-no à coluna em torçal e fizeram, como
as outras, a ronda dos chicotes e das chibatas. Os primeiros golpes que se abateram pobre I o fizeram urrar
de dor. As marcas, ainda frescas, que zebravam seu corpo em todos os sentidos, se perolaram de gotas de
sangue. Fora de si, ele tentou esquivar-se aos golpes e a debater-se, apesar dos laços. Mas sentiu, sobre
ele, o olhar pesado de Gaetane, como uma ordem muda. Lembrou-se de sua promessa e logo se calou,
recebendo sem dizer uma palavra, sem esboçar mais nenhum gesto de defesa, os golpes que choviam
sobre sua pele e a feriam selvagemente.

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Históó ria dó I

Mas o rosto de Gaetane continuava severo e descontente, porque o pênis de I pendia sempre,
lamentavelmente. Ela balançou a cabeça e os brincos de suas orelhas bimbalharam como para anunciar
alguma cerimônia. Com um gesto nervoso, fazendo ruído com os dedos, ela chamou Pélagie.

Esta se mantivera desde o início perto de sua senhora, sem proferir uma palavra, observando a
cena sem se mexer. O gesto de Gaetane fê-la saltar e uma chama se acendeu em seus pequenos olhos,
iluminando sua testa curta. Ela se atirou na direção da coluna onde I estava solidamente preso e brandiu
seu chicote. Todas as mulheres logo se afastaram respeitosamente. Fez-se um grande silêncio. I notou que
as mulheres olhavam atentamente e prendiam a respiração. Ele se sentia desfalecer de medo.

Viu o braço de Pélagie erguer-se e abater-se num relâmpago. Uma dor nova, desconhecida, mil
vezes mais aguda que tudo quanto experimentara até então, atravessou o seu ser. Acreditou que seu corpo
estava dilacerado e, de fato, o chicote, com o comprimento de quase dois metros, fino e afiado como uma
lâmina, tinha entrado em sua carne, cortando a pele. Tinha aderido tão bem em certos lugares que
pequenos pedaços tinham ficado colados sobre o couro e o sangue corria a fluxos. Habilmente manejado,
o chicote enrolarase todo ao longo de seu corpo, como uma serpente, e o rosto não tinha sido poupado.

Os lábios de I se descoloriram e abriram-se para um grito mudo, porém ao mesmo tempo, de sua
carne lacerada despertava de novo o desejo e seu sexo tinha-se reerguido. Foi, portanto, por pura maldade
que Pélagie, tendo lentamente retirado o longo chicote, bateu uma segunda vez, quase fazendo com que o
rapaz perdesse os sentidos.

Ele deslizou sobre os joelhos. As mulheres que aguardavam que sua presa estivesse pronta,
apoderaram-se dele imediatamente, engoliram entre os lábios quentes de seus sexos os dedos, os artelhos,
o nariz e o pênis de I. Em seu estado de sofrimento e de semí-inconsciência, I não via mais as coisas da
mesma maneira.

Ele se sentia intimamente morto, seu espírito flutuava como uma nuvem esgarçada e, ao mesmo
tempo, seu corpo sentia com acuidade o roçar úmido dos lábios vaginais sobre seus membros. Sentia sua
alma toda entorpecida, mas sua pele se eletrizava e se enrijecia. Este estado, segundo ele, permitiu-lhe
reter seu jato e seu esperma até ao orgasmo delirante de suas sublimes algozes.

Ardente, quase esverdeado

Elas não permitiram que ele descansasse um segundo, pois, sem demora, as seis enormes megeras
se abateram sobre ele. Elas haviam esperado tanto tempo sua vez que babavam de desejo e longos fios
corriam sobre seus lábios retorcidos. Instalaram-se como as outras, mas seu peso era tal que fazia estalar
os ossos de I. Suas mamas saltavam e tornavam a cair com estrondo sobre seus grandes ventres gordos. De
suas axilas e de suas virilhas, escapava-se um odor nauseabundo, desencorajador e um pouco de cascão
escuro permanecia nos buracos de seus grandes umbigos, entre os dedos de seus pés e nas inúmeras rugas
de seus pescoços espessos.

Uranie, a atroz negra, tinha-se instalado sobre o nariz de I e suas enormes nádegas, pacotes de
carne, cobertas de crostas com forte odor de urina, se balançavam acima de seus olhos, depois esmagavam

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Históó ria dó I

seu rosto, para se erguer de novo, ainda mais ameaçadoras, em um ritmo cada vez mais acelerado. Ele
tinha a impressão de estar envolvido num desmoronamento de montanha.

As seis bruxas agitavam-se e o sufocavam. A música, que não cessara de bater sua infernal
algazarra, ampliou-se. Gaetane levantara-se e admirava o espetáculo rindo de prazer. Encorajadas, as
matronas se inflamavam, lançavam palavrões que fariam corar um batalhão de guardas e deixavam
escapar, de felicidade, gritos horríveis.

Por três vezes, I sentiu escapar de si um esquálido jato de esperma, que lhe custou mais sofrimento
do que prazer. Por três vezes, as megeras surraram-no brutalmente, cobrindo seu corpo de tapas,
morderam-no, fazendo sangrar suas orelhas e sua glande, torceram seu braço e seu pênis. Por três vezes, I
não soube como elas fizeram reerguer-se seu pobre membro que não era mais do que uma carne esfolada.
Sem dúvida, seu corpo morto apenas obedecia ao poderoso olhar que Gaetane fixava sobre ele. As bugras
não acabavam mais sua dança de elefantes. O olho caolho de Uranie supurava mais do que nunca. Por fim
elas gozaram, terrivelmente, e duas delas urinaram ao mesmo tempo, inundando seu ventre e sua mão com
um líquido ardente, quase esverdeado.

I abateu-se sobre o chão como um farrapo, rolou como uma bola e não se mexeu mais, esgotado.
Elas lhe deram ainda alguns fortes tapas sonoros nas nádegas, à guisa de agradecimento.

Com destreza as nádegas erguidas


Foi então que Gaetane se aproximou do corpo inerte de seu escravo. Ela curvou-se muito perto
dele, cheirando-o quase, aspirando sem dúvida seu perfume de queda e de anulação. Considerou que ele
estava pronto para a suprema humilhação. Ela o fez girar com a ponta de seu fino calçado dourado. Ele
abriu os olhos, de pálpebras intumescidas pelas lágrimas de sofrimento que ele derramara, e olhou aquele
que o tinha entregue à fúria do desejo feminino, e, tão cruelmente, o fizera chicotear. A vergonha, a dor e a
sujeira que sofrera tinham esvaziado tanto o seu ser de toda vontade, de toda força pessoal que ele
pertencia inteiramente à sua senhora.

Ele se ergueu sobre os joelhos. Então Gaetane desabotoou sua roupa dourada e fê-la deslizar ao
longo de seu corpo até que surgiu inteiramente nua. Seu corpo esplendia de graça e de harmonia. De
linhas perfeitas, era uma liana das florestas tropicais. A ponta de seus pequenos seios era escura e ereta.
Sobre sua pele morena brilhavam todas as suas jóias. I descobriu uma nova, que envolvia as suas ancas:
uma guirlanda, em ouro fino, de folhagens e flores de pétalas longas e recurvadas.

I, como em êxtase, balbuciava docemente o nome da mulher, como uma criança em preces e seu
corpo, cansado, não fazia mais do que tremer intensamente. Seu sexo-não podia mais erguer-se para a
patroa que ele venerava. Então Gaetane o cobriu de um fluxo de palavras de tal modo cheias de desprezo
que elas lhe fizeram mais mal do que tudo o que sofrera até então. Cruelmente, ela zombou dele,
insultou-o, fê-lo enrubescer de vergonha. Ela fê-lo sentir quanto, como homem, ele podia ser incapaz e
diminuído, em face do prazer feminino. Ela fez com que ele sentisse violentamente sua fraqueza e sua
impossibilidade de ser dono de si mesmo. Ele se tinha excitado, contra a vontade, para atrozes matronas
que apenas inspiravam desgosto. Não conseguia excitar-se, contra a sua vontade, pela mulher que o fazia
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Históó ria dó I

tremer de desejo. Depois que ela se saciou no prazer de, longamente, enterrá-lo em sua desventura, ela se
aproximou dele.

Ele estava sempre de joelhos, Ela segurou sua correia e, com um puxão seco, esticou-a para baixo,
até que a testa de I tocasse o soalho. Manteve, por um momento, a correia sob seu pequeno pé calçado de
ouro fino, saboreando sua completa vitória e apreciando a atitude prosternada de seu escravo. Depois, ela
passou por trás dele e, curvando-se, ela bateu, com suas longas mãos, com destreza, as nádegas, elevadas
de I. Ela as apalpou longamente, passando e repassando seus dedos no vão das coxas, que ela fez com que
ele as separasse, acariciando as ancas, alisando o ânus rosado e contraído, no côncavo da carne tenra das
nádegas.

Lágrimas de emoção corriam sobre as faces de I. Ele abria-se, oferecia-se. E bruscamente, sem que
nada o fizesse prever, Gaetane enfiou seu longo dedo no estreito orifício. Com um gesto único, ela o
enterrara inteiro, tomando cuidado, no trajeto, de ferir a carne com sua unha pontuda. O sangue correu
num longo filete. I não pôde impedir-se de soltar uma queixa. Mas o gesto tinha sido tão bem realizado
Gaetane devia ter tocado e ferido algum órgão interno de seu corpo - que o sexo de I se intumesceu e se
ergueu em toda potência,

Gaetane retirou seu dedo e contemplou por um momento este quadro esquisito: diante dela
permanecia, a fronte no chão, este rapaz, os cabelos encacheados espalhados em torno dele, prostrado
numa posição humilhante que dava alguma coisa de animalesco a seu sexo endurecido, as nádegas
erguidas entre as quais corria um filete de sangue, e aos pés, seus sapatos prateados que lhe davam uma
aparência artificial e de uma outra época. Ela sorriu suavemente, como para si mesma, olhando a obra viva
que pusera em cena.

Ela ergueu I, puxando-o pela correia, quase com ternura, e deulhe um beijo na testa. I conheceu um
segundo de intensa felicidade e fechou os olhos, enquanto seu pênis tocava o ventre liso e quente de
Gaetane. Com um salto, ela recuou, retomou a correia e prendeu-o à coluna do leito que fora poste de
suplício. Mas o que ele tinha sofrido até ali nada era em comparação com o que o esperava. A mulher
disse algumas palavras ao ouvido de uma de suas companheiras que saiu da sala. Gaetane estendeuse, nua,
sobre o grande leito de pele. I, o sexo erguido, o pescoço amarrado, olhava intensamente o corpo sem véu
e abandonado de sua dona. Alguns instantes mais tarde, uma jovem apareceu segurando por uma correia
semelhante à de I um rapazinho inteiramente nu e cujo pequeno pênis já se levantava. Foi assim que I
compreendeu que ele não era o único prisioneiro.

O rapaz, contente, deslizou rapidamente sobre e assoalho e atirou-se sobre o leito. Gaetane
agarrou-o no vôo e, segurandoo pelas ancas, o enfiou em sua vulva, fazendo-o ir e vir como tini
consolador. O espetáculo foi atroz e intolerável para I. Os olhos arregalados, ele olhava a dupla saltar e
atingir o prazer intenso, com pequenos gritos. Ele suspirava com eles, sufocando de dor. Logo ele
desfaleceu, seus joelhos dobraram-se, depois ele não ouviu mais nada. Sob o peso do corpo, seu pescoço
estrangulava-se em sua coleira e ele perdeu os sentidos.

Quando despertou estava deitado em sua enxerga, os braços em cruz, os punhos presos ao solo.
Suas nádegas feriam-se na palha ao menor movimento, entretanto tão limitados. Seu corpo estava
dolorido, coberto de contusões e de marcas, sujo elas lágrimas e pela urina. Sua alma tinha sido
mortalmente atingida. Sentíu-se perdido e desesperado como nunca nenhum homem o fora. E, fechando

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Históó ria dó I

os olhos, ele via sem cessar a imagem da mulher satânica que o possuía, enlaçada ao débil adolescente.

Rosto de gesso
Sua noite foi horrível, povoada de pesadelos e de monstros, alguns deles bem reais, porque, todas as
noites, I teve de sofrer a mesma cena de atrocidade que voltava com a pontualidade de uma agulha de
máquina de costura recaindo sobre o seu corpo nu.

O despertar foi viscoso e difícil. As quatro garotas da véspera cercavam I alegremente e, como na
véspera, depois de se terem divertido em tocar suas marcas de sofrimento, elas o arrastaram rindo para a
sala do banho. Na água, I sentiu-se aliviado e o relaxamento veio, langoroso. Prestou-se de boa vontade às
brincadeiras das garotas com o seu sexo. Quando elas o estenderam sobre a mesa, depois de tê-lo secado,
ele notou uma espécie de baixo-relevo em estuque ao qual não prestara atenção no dia anterior. Era uma
mistura e um emaranhado de conchas marinhas, de algas movediças, de mariscos rosados, de enormes
flores violáceas e laranjas. No meio dessa confusão de curvas flutuantes aparecia o oval muito puro de um
rosto de mulher, de imensos olhos de cor malva. O estuque imitava tão bem a realidade que I teria
acreditado que esse rosto estava vivo se não estivesse já habituado às estranha decorações mistificadoras
da casa.

Abandonou-se sorrindo aos cuidados atento das jovens. Elas eram realmente maravilhosas, mais
alegres, mais borboleteantes do que nunca e sua mãos eram um sonho de doçura para o corpo esgotado de
I que renascia para a vida por todos os poros de sua pele, Por um momento, elas deixaram de o embelezar
e perfumar, agruparam-se em torno da mais jovem, de belos olhos ingênuos, que segurava o pênis de I
entre seus pequenos dedos e o acariciava ternamente. I deixava-se levar a um infinito apaziguamento de
onde se despertava o prazer. DE quando em quando, ele olhava o rosto de gesso contra a parede e poderia
jurar que os cílios batiam levemente. Ele pensava sonhar e deixava-se embalar pela doçura ambiente.

De repente, I deu um urro que rasgou o espaço silencioso. Com um gesto mais brusco que o golpe
de chicote de um cocheiro batendo o ar, a que acariciava seu pênis tinha-o puxado com um golpe seco e
violento para o ventre, rompendo o freio. Logo, a jovem negra, armada de um par de tesouras que ela
escondera até então, rompeu e cortou a pele em redor da glande. O sangue correu a fluxos espessos e logo
enegrecidos. O corpo de I agitou-se em terríveis sobressaltos de dor. Ele desmaiou.

Mas antes de perder os sentidos, tivera tempo de ver, desta vez distintamente, o rosto de gesso
sorrir e ele reconhecera Gaetane.

O ruído das tesouras

Quando despertou, I sentiu de repente uma dor aguda e levou a mão ao seu sexo. Ele tinha sido
envolvido em espesso curativo de gaze azulada e, I não soube como, a hemorragia tinha estancado
perfeitamente. Ele estava deitado em sua cela, as mãos livres, mas o pescoço preso pela sua coleira. Estava
vestido com um grande roupão em tecido fino azul-pálido que descia até seus tornozelos. Ele tiritava um
pouco e sua cabeça estava ardendo. Sem dúvida a febre. Uma bilha estava colocada ao alcance de sua
mão. Ele a levou aos lábios ressecados e bebeu avidamente uma água com gosto de limão.

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Históó ria dó I

Sentiu-se um pouco melhor e a cena de sua circuncisão voltou-lhe à memória, a acariciante


suavidade que o circundava como uma nuvem, o brutal rasgamento de sua pele, o ruído das tesouras
cortando sem cuidados e escorregando-no sangue. Poderia rebelarse contra este atentado à integridade de
seu corpo. Pelo contrário, ele se alegrava porque vira o sorriso de Gaetane, semelhante ao de uma madona
de gesso. Estava orgulhoso e feliz em pensar que ele levaria doravante e para sempre a marca do desejo de
sua senhora. Lembrava-se dos murmúrios trocados na véspera entre ela e uma de suas companheiras.
Tinham-no achado inestético E ineficaz. Estava orgulhoso e feliz por ter-se tornado um instrumento melhor
entre suas mãos, melhor adaptado às suas sensações.

Entretanto, o ferimento demorou oito dias para sarar completamente. Durante esses oito dias, ele
não viu ninguém a não ser as jovens. Elas cuidavam de sua toalete, mudavam seu curativo, aplicavam-lhe
uma pomada sedativa, traziam suas refeições e o vestiam com uma túnica de cor diferente, a cada dia. Ele
envolveu-se nas sete cores do arco-íris e a última foi negra. E, o que lhe pareceu ao mesmo tempo
grotesco e divino foi que, a cada dia, lhe puseram um curativo de gase da mesma cor de sua roupa. Seu
sexo era assim um boneco de trapo delicado, palhaço vestido de leve beleza que não se mostrava aos olhos
de nenhum público, vestido para uma cerimônia que não se realizava nunca.

Porque nunca uma mulher, nunca especialmente Gaetane, se aproximou, Ele estava inutilizável e
elas o negligenciavam. Ele sofria por não perceber, ao menos por um instante, a cabeleira de fogo ou as
longas mãos de Gaetane. Sofria, tanto mais que, com freqüência, chegavam aos seus ouvidos gemidos de
prazer, fracos, que aumentavam e se ampliavam para acabar, muito depois, em uma cascata de gritos que
faziam seu coração bater violentamente. Eram sempre duas ou diversas mulheres que ele ouvia. Nunca um
gozo de homem. Ele pressentia todo o gozo que sua dona podia sentir sem ele. Mal os sons tinham
cessado alguns minutos, e recomeçavam logo e isso podia durar horas. Horas durante as quais I ficava
tenso, o ouvido atento, o sexo erguido, perturbado, angustiado, humilhado. E, muito depois que as
mulheres tinham deixado de gemer, ele ficava, o coração batendo, fechando os olhos e imaginando os
corpos das mulheres, enlaçados e felizes, sem ele.

A escrita bordada em seu corpo


Na manhã do nono dia ele estava completamente curado, Quando as meninas desfizeram o seu
curativo negro, ele curvou-se para ver seu pênis e viu que estava perfeitamente circuncizado. Ele enrijeceu
sob os toques das garotas e não sentiu nenhuma dor. Após o banho e os perfumes rituais, foi levado de
volta ao seu antro abobadado. Enquanto ele se agitava sobre sua enxerga, clamando por sua dona como
um sedento pela fonte de água, chorando quase pela necessidade de vê-la que o atormentava, ele a sentiu
de súbito ao seu lado. Ela estava ali, bem perto, e ele não a escutara chegar. Nenhum indício lhe tinha
revelado sua aproximação. O coração de I saltou em seu peito, suas têmporas bateram, ele foi invadido de
felicidade.

Gaetane sorria e estava nua. Nua, ou quase. Seus longos cabelos desfeitos, de reflexos de um
vermelho-escuro, espalhavam-se por suas suaves espáduas e calam até ao vão de seus rins. Seu ruivo tosão
resplandecia. Curiosamente, ela trazia a tiracolo uma sacola de pele de alpaca, de grandes pelos fulvos,
que uma longa correia deixava bater sobre sua anca. Suas unhas estavam recobertas de um aço brilhante,
que se prolongava em garras pontudas de cerca de quatro a cinco centímetros. O mesmo aço cruel cobria o

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Históó ria dó I

alto de seus seios e seu clitóris, formando bicos de pássaro. Águia das montanhas, deusa selvagem, ela
avançava com seu passo leve, pronta a agarrar uma presa que já se oferecia, se estendia, esperava o
dilaceramento.

Mas havia uma nota estranha nesta selvageria. Gaetane segurava na mão uma flor, uma grande
rosa vermelha, de belas pétalas. O cabo, espinhoso, levava a flor até sob o rosto de Gaetane, que parecia
aspirá-la.

O fato de estar separado dela por tanto tempo deu a I a audácia de lhe dirigir a palavra. Dísse-lhe
ardentemente que era dela, que se submetia a todos os seus desejos, que era seu escravo e que ele a
venerava. Estava transportado de felicidade por lhe falar, olhando-a, e Gaetane ouvia-o com um longo
sorriso.

Depois I lhe disse quanto estava surpreso e maravilhado: ela, tão dura, conservara a instintiva
delicadeza feminina. Ela segurava uma rosa, que se parece com a mulher, e respirava o seu doce perfume.
A estas palavras, Gaetane explodiu num riso soberbo e louco. Explicou a seu escravo que a flor era de
plástico - I não poderia adivinhá-lo, vendo esse verde vivo e o vermelho sangrante que aquela flor era toda
artificial - e que ela a colhera no estande de tiro de uma festa de subúrbio, com um tiro só de seu fuzil bem
preso à espádua.

Depois Gaetane curvou-se para desamarrar I e, neste movimento, roçou-o com seu corpo altivo.
Ela fez seu escravo erguer-se e passou suas longas mãos em seus cabelos louros. I sentiu as garras contra
seu crânio e fremiu de prazer pensando que ela imprimia em seu espírito sua terrível posse. Depois ela
apalpou todo o seu corpo como para assegurar-se da posse, deixando correr o aço de suas unhas e, por
vezes, enterrando-o levemente. O sexo de I tinha-se levantado e ela apoderou-se dele, verificando sua
nova conformação e seu bom estado.

Gaetane disse que ela estava satisfeita. Depois interrogou I, perguntando-lhe se ele lhe pertencia
sempre, de corpo e alma. Renovou seus protestos veementes e jurou que estava pronto a morrer por sua
deusa. Mas a deusa riu e zombou de seus grandes sentimentos. Não lhe pedia nobreza trágica, mas apenas
sofrer e aceitar, continuamente, com toda a abnegação, I baixou os olhos, em sinal de assentimento e de
muda promessa. Para que ele não o esquecesse nunca, ela disse-lhe que iria marear seu corpo com o seu
sinete. I emudeceu a esta idéia. Imaginou tão intensamente terríveis instrumentos de suplício que isto foi
já como se um ferro vermelho, aquecido ao rubro, fizesse grelhar sua carne e a ferisse para sempre, com
uma gloriosa marca de infâmia. Mas, ainda uma vez, ele ficou inteiramente desnorteado e soube que não
era a ele, a ele e sua imaginação convencional, que cabia conduzir o jogo erótico, encaminhar a invenção
sádica. Mais uma vez, Gaetane o desarmou, com sua arma mais ágil, a mais eficaz, a vergonha.

Sem esperar, ela tomou sua sacola de alpaca que pendia de seu ombro, abriu-a e tirou dela todo o
material necessário à costura: fios de bordar de todas as cores, agulhas de todos os tamanhos, de ponta
dourada, um dedal de ouro, de uma forma particular, um par de tesouras, preparadas e cinzeladas... I
evitou tecer comentários. Não queria, como o fizera em relação à rosa, mostrar-se enternecido a respeito
dos belos trabalhos de agulha que muitas mulheres fazem. Quem sabe esse material de costura fosse
composto de misteriosos instrumentos de tortura? Mas, desta vez, era mesmo um banal instrumental de
trabalho feminino. Somente que em lugar de bordar seu tecido em ponto cruz ou em ponto cadeia,
Gaetane ia bordar o peito de I com esse gracioso desenho que se chama ponto de anelzinho. O corpo de

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seu escravo ia servir-lhe como aparelho de bordar.

Tranqüilamente ela escolheu uma longa agulha, bastante grossa, curvou-se sobre a caixa de fios de
bordar multicores, tirou dali uma agulhada vermelha-escura, passou-lhe o fio, ajustou em seu auricular o
dedal, que era concebido de molde a adaptar-se perfeitamente ao seu dedo, apesar da unha de aço. I
olhava-a fazer, emudecido. Ela o segurou pelos ombros e fê-lo estenderse no chão. Depois ela
encarapitou-se sobre o seu corpo e sentou-se sobre seu abdome. Os lábios da vulva, nus, tocavam o ventre
de I e, quando ela se curvou, o bico de pássaro de seu clitóris enterrou-se em seu umbigo.

Então ela enfiou a ponta da agulha no peito de I, com um gesto firme e rápido, que não evitou o
estalido da pele nem a pressão da carne que ela furava. O sangue que começou a gotejar não a perturbou
também e ela manteve mais solidamente I que a dor tinha feito agitar-se. Auxiliando-se com o seu dedal,
ela puxou a agulha para que a ponta tornasse a sair e entortou o fio como se exige no ponto de anelzinho e
estirou. A comprida agulha atravessou a carne e saiu outra vez, formando um pequeno anel vermelho, que
se destacava ainda mal do sangue que perolava. Depois Gaetane recomeçou sempre e sempre esse mesmo
ponto.

Tranqüilamente, ela aplicava-se ao trabalho, prestando pouca atenção ao rosto de seu escravo que
se contraía de sofrimento. I sufocava e o suor se formava em sua fronte e nas asas do nariz. Sentia-se
literalmente atravessado por essas pequeninas picadas e, de cada vez, tinha a impressão de que o demônio
ia furar até o seu coração. Mas sempre a agulha, puxada por mão ágil, saía e o fio formava, em anéis
minúsculos, as letras do nome de sua dona: G/A/E/T/A/N/E. Após cada letra Gaetane dava um nó e
cortava o fio com os dentes, rente ao corpo de I. Ela roçava-o assim com um suave beijo e seus lábios
umedeciam-se de sangue.

A barra horizontal do A e a primeira barra vertical no N passavam exatamente sobre a ponta de


cada um de seus mamilos. De cada vez, Gaetane picou firmemente com sua agulha a base do mamilo,
transpassou completamente a carne sob a abóbada e saiu do outro lado. Um fluxo de sangue, um tanto
violáceo, jorrou e I deu um longo grito rouco, lancinante, que terminou numa espécie de queixa modulada.
Em sua dor atroz ele tinha, com efeito, sentido um prazer de rara violência, um prazer superagudo, vindo
do próprio sofrimento. E, de cada vez, seu sexo inchado, de pele tensa, deixou correr algumas gotas deste
líquido que se espalha, às vezes, bem antes da ejaculação...

Quando todas as letras do nome de sua dona foram inscritas em sua carne e que Gaetane
acrescentou os dois pontos do trema, I sentiu a inquietação por essa marca estranha. Não ousava respirar,
de medo que erguendo o seu peito, cheio de picada, ele estirasse demais a pele e a rompesse. O sangue,
que começava a coagular, cercava com longos arabescos o nome bordado no corpo.

Lentamente, muito lentamente,


enfiou o cabo da rosa

Gaetane estendeu a mão a seu escravo, marcado com o seu nome e assim o fez erguer-se. Ela
apreciou, como uma conhecedora, o trabalho de decoração que realizara e ordenou a I que ficasse de pé,
imóvel. I manteve-se quieto, o coração batendo, tremendo um pouco. Ela olhou seu corpo, giran do em
volta dele, apossando-se dele com os olhos. Depois ela se colocou por detrás dele e I sentiu seu olhar,

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depois a ponta de seus dedos aflorar levemente sua nuca ardente. A batida de seu coração acelerou-se
ainda mais. Sentiu logo a respiração de Gaetane contra o seu pescoço e os lábios, tão desejados, se
colaram à sua nuca, em um beijo apaixonado. Louco de contentamento sensual, I, esquecendo a ordem
recebida, voltouse de um salto e estendeu os braços para enlaçar a sua senhora.

Contudo, mais rápida que o relâmpago, Gaetane, cujos traços se tinham endurecido e cujos
olhos fulvos tinham assumido a dureza do aço, Gaetane, cuja boca se contraíra maldosamente, esbofeteou
I, à vontade. Suas unhas de garras de aço deixaram cinco ferimentos sobre a têmpora de I que vacilou.

Gaetane não se afastou. Ela lhe prendeu brutalmente as mãos com sua correia, esbofeteou-o de
novo, inúmeras vezes, cada vez mais violentamente, enfiou seus dedos em garra na carne de suas costas,
de suas coxas, de seu rosto, de suas nádegas. Ela trabalhava, ela lacerava profundamente de uma maneira
desordenada, com febre, sem se importar com os gritos e os apelos por piedade de seu escravo. Ela se
colava contra ele, movia-se com ímpeto, apertando contra sua pele seu clitóris e seus mamilos de ferro e
rasgando, rasgando... como uma fúria.

Ela o assaltava de todo lado, atirava-o à. terra, arrancava com os dentes pedaços de pele que ela
desfiava com suas garras e seu bico de pássaro. I rolava e girava sobre si mesmo, chorando e gritando,
suplicando por ela e adorando-a, sem pensar jamais por um instante em se esquivar das suas garras. Ao
contrário, aproveitando-se de um momento de repouso da selvagem, ele se apossou de sua mão e beijou-a
avidamente. Longe de se acalmar com este gesto de devoção, ela chamou-o de cão e de larva,
acompanhando suas injúrias terríveis com golpes de garras no baixo ventre que o deixavam sufocado.Ele
estava agora coberto inteiramente de profundas arranhaduras e de feridas e perdia sangue em abundância.

Foi o momento que ela escolheu para amá-lo. Deixou-se cair brutalmente sobre seu corpo
sangrante e engoliu com a vulva o seu sexo que não cessara de endurecer sob os efeitos da dor.
Terrivelmente excitada por sua própria violência, Gaetane gozou em alguns segundos, sempre ferindo
cruelmente com suas unhas de aço os mamilos vermelhos e tumefatos de seu escravo, Ele sofreu os
sobressaltos do amor e sentiu-os intensamente, mas ela se retirou tão depressa que ele não teve tempo de
atingir o orgasmo.

Ela já o fizera erguer-se, agarrara de novo a rosa, atirada a terra. Avançou para ele, calma, o olho
aceso e, lentamente, muito lentamente, enfiou o cabo da rosa no interior de I. Os espinhos, mesmo de
plástico, feriram atrozmente o seu íntimo, já dilatado e maltratado. Uma dor como a que I sentiu naquele
instante, ninguém poderia suportá-la. I julgou que ia morrer.

Contudo, conheceu ao mesmo tempo um tal prazer, ao sentir-se assim penetrado no mais profundo
de si mesmo que deixou escapar deliciosamente longos jatos de esperma. O líquido, espesso, cremoso,
escorreu, misturou-se ao sangue que corria, manchou abundantemente a rosa que florescia e enlameou o
baixo ventre escuro de Gaetane. Ela ficou feliz, recebeu esse jorro sangrante como uma bênção, deu um
beijo muito suave sobre a fronte de I e foi embora. Ele estendeu-se de comprido sobre o solo, beatificado,
desmaiado.

Enchia de insultos sua montaria

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Ele despertou em plena noite. Como de costume, seus braços e suas pernas estavam presas ao solo
pelas cadeias e as argolas previstas para esse fim. Se foi tirado de seu sono, foi, como todas as noites, pela
mesma cena de atrocidade que se reproduzia com a regularidade de uma agulha de máquina de costurar
caindo sobre o seu corpo.

Todas as noites, Uranie, a medonha negra caolha, penetrava na caverna onde ele dormia. Ela estava
nua, exceto o talhe, apertado num espartilho, de um rosa descolorido e sujo, amarrado nas costas, tão curto
que deixava as dobras gordurosas de seu ventre luzir ao pálido reflexo da lua. Ela se aproximava
pesadamente da enxerga, roçando, a cada passo, suas enormes coxas uma contra a outra. Detinha-se um
momento para contemplar o débil rapaz adormecido e sem defesa, saboreando por antecipação o prazer
que ia tirar deste corpo esgotado, marcado por arranhões sangrentos e traços de sevícias que ele sofrera
durante o dia. A esse espetáculo, o desejo de Uranie se tornava violento: o bico de seus seios se endurecia
e alongava, a baba se acumulava em sua boca e começava a, correr pelo canto de seus lábios, seu buraco
segregava um espesso melaço que se espalhava nos pelos de seu tosão.

Então, ela se acocorava e vinha afastar suas nádegas possantes e peludas acima do rosto de I. Era,
de cada vez, o odor violento, nauseabundo, libertando-se de sua vulva inchada, que despertava I e lhe dava
um sobressalto. Os olhos fixamente abertos, ele olhava com terror o monte de carne imunda
balançando-se exatamente acima dele. De seu traseiro de bruxa, enegrecido, onde ainda permaneciam
grudados alguns pedaços de excremento seco, Uranie deixava às vezes escapar um peido fedorento,
espesso e fétido, que fazia vir o vômito aos lábios de I. Sempre, ela arreganhava com seus grossos dedos
curtos as pequenas dobras dos lábios sujos de sua vulva, abrindo desmesuradamente uma passagem larga
como uma caverna. Depois, de um golpe só, ela enfiava no nariz de I sua vagina úmida e glutona.

Todo o peso das nádegas da negra amassava suas pálpebras e sua fronte doloridas. Sufocado,
asfixiado, ele era obrigado a abrir a boca. Uranie aproveitava-se disso para introduzir nela rapidamente
seu clitóris alongado, pontudo e recuperado como uma agulha de crochê, obrigava I a esticar a língua e a
sugá-lo interminavelmente. I lambia e lambia a ponta de gosto amargo como o fel, girando e apoiando a
língua com uma habilidade aprendida a socos, Ele respirava com dificuldade, sem ar. As veias de seu
pescoço se inchavam a ponto de quase estourar. Seu rosto assumia pouco a pouco a coloração violácea,
Durante este tempo, Uranie agitava-se brutalmente, enchia de injúrias sua cavalgadura e martelava seu
peito com seus punhos de lutadora. Ela tremia e delirava, fazendo estremecer seus quilos de banha, até ao
espasmo vitorioso em que ela se esvaziava com um balido superagudo.

Geralmente, ela estendia-se depois a todo comprimento sobre o corpo de I. A baba que correra em
longos fios de sua boca torcida pelo prazer tinha-se aglomerado sobre as mamas e, neste movimento de
queda, ela se colava à pele de I. O pus, que purgava mais do que nunca do olho vazado de Uranie,
espalhavase nos pelos pubianos de I. O suor, em abundância, inundava os dois corpos. I, amassado como
um bolo pelas carnes de Uranie, como um rolo compressor, no auge do desgosto e do horror, perdia até o
sentimento de sua própria existência e acabava por experimentar um certo sentimento de calma e de
libertação. Depois Uranie se levantava penosamente, despregando longos fios de visgo e de baba. Ela sala
titubeante e praguejando.

I não conseguia nunca voltar a adormecer depois desta atroz visita noturna, tanto mais que, com os
punhos presos dos dois lados de sua enxerga, ele não podia enxugar o licor forte, ácido, que impregnava
sua boca e seu corpo inteiro e cujo odor se tornava rançoso ao secar.

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Todas as noites ela vinha e zombava,

Mas, naquela noite, depois do dia em que ele fora tão insultado e marcado por Gaetane, a visita foi
ainda mais intolerável do que de costume. O buraco da negra estava cheio desse sangue maldito e mensal
que toma, a cada menstruação, tão inquietantes as fêmeas humanas. As coxas gordas de Uranie estavam,
naquela noite, infestadas de sangue espesso, enegrecido e fétido que ela evitava muito bem represar por
meio de um desses tampões quaisquer, toalhas ou a algodão, que controlam e ordenam o fenômeno. Ela
mostrava, ao contrário, grande prazer em ver e sentir seu sangue estragado correr sobre suas virilhas,
sobre suas coxas, como se ele pudesse espalhar-se em largas faixas de esgoto sobre todo o universo e o
enterrar. E ela sentia grande prazer em sujar copiosamente o rosto de I que engolia grande quantidade
desta pasta semilíquida, de odor nauseabundo, que o último dos não teria querido.

Deste acabamento doloroso

I ficou prisioneiro por muito tempo. Prisioneiro de seu próprio desejo. Afundava-se cada dia mais
na decadência e, a cada dia, sentia mais prazer nisso. Amava o seu sofrimento. Amava Gaetane e
condenava-se às penas eternas por ela. Amava o seu sofrimento, amando Gaetane.

Estava completamente transformado. Ele que, em amor, jamais fizera outra coisa senão sacudir-se
um pouco para deixar cair algumas gotas de esperma, ele que jamais conhecera, em matéria de paixão,
senão uma pequena agitação cadenciada que acabava por um cigarro que se acende, satisfeito por ter
expelido o seu excesso, estava metamorfoseado. Descobrindo o gozo, que sacode até à morte incendeia e
aterra, ele compreendia que tinha sido sempre frio. Descobria, com estupor, maravilhando-se, que tinha
um corpo, um corpo cuja menor porção podia ser fonte de prazer. Assim seus mamilos se tornavam tão
sensíveis que podiam ficar eretos ao menor toque e podia ter um orgasmo se eles fossem apertados
fortemente. Deixando o miserável, o minúsculo terreno da descarga de sêmen do macho, ele fora tragado,
no mais profundo de si mesmo, pelo gozo feminino.

Ele se dedicava mesmo a amar seu corpo. Seu corpo novamente revelado, seu corpo achincalhado,
chicoteado, torturado, seu corpo cujas múltiplas cicatrizes se reabriam a cada dia para se transformar em
feridas sangrentas, seu corpo que se tornava belo com esses acabamentos dolorosos.

Ele esperava, agora a cada dia, os golpes e as humilhações: esperava-os com uma impaciência
angustiada, recordava-os depois, com um estupor delicioso. Quando era deixado com os movimentos
livres, ele passava longamente, amorosamente, os dedos sobre suas feridas, como para verificar seu
sofrimento e sua paixão. Ele idolatrava agora Gaetane, tinha chegado a esse ponto de abnegação, que não
ousava sequer desejar morrer por ela. Não desejava nada, não pedia nada, senão aquilo que Gaetane
ordenava. No mesmo instante em que ela expressava sua vontade, vinha-lhe o desejo de cumpri-la.

Contudo, havia uma coisa que ele não conseguia, que jamais conseguiu aceitar, por mais esforços
que fizesse, Era que ela o rejeitasse, com freqüência, com muita freqüência, para se encerrar com outras
mulheres durante horas. Horas durante as quais ele ouvia, prostrado, crispado, mortalmente desesperado,
os urros de prazer dessas tríbades. E quando ela voltava dessas orgias, Gaetane podia passar diante dele
sem o ver, sem mesmo suspeitar de sua presença, nem de ninguém, aliás.

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Ela parecia flutuar, muito distante, em um universo misterioso e loucamente belo, do qual I se
sentia excluído para sempre. O sorriso que ela mostrava, então, encantado, superiormente satisfeito, nunca
ela o tivera com I, mesmo em seus momentos de ruidosa vitória. E I se sentia medonhamente
não-essencial, inútil, incapaz.

Nesses dias, a angústia de I podia chegar até o delírio.

Enrubescia na penumbra

De tempos em tempos, na hora do chá, uma garota vinha buscar I em sua cela para que ele fizesse
companhia às mulheres. Ela passava-lhe um pouco de pintura nos lábios para os tingir levemente,
sublinhava seu olhar azul com um traço de rímel e prendia delicadamente uma faixa de seda verde-pálido
em torno de seu sexo.

Depois ela o levava a um pequeno salão, de teto muito baixo, inteiramente atapetado de tules e
tafetás violetas, rosas e lilás. Ali deitadas, chafurdadas em fofos coxins de tecidos orientais: pássaros de
plumas douradas, grandes flores prateadas sobre fundos vermelhos e púrpuras, quatro ou cinco mulheres
aspiravam deliciosamente, à guisa de infusões ou outras verbenas, grandes copos de bebidas que lhes
queimavam as entranhas. Abajures de pérolas translúcidas deixavam escapar uma luz fraca, levemente
rosada, obscurecida ainda por espessa fumaça. Queimando em defumadores, pesados perfumes enchiam o
ar. No centro, um narguilé, cujo longo tubo flexível passava de boca em boca.

As mulheres tinham os olhos semicerrados e sonhavam docemente. Uma estava vestida apenas
com calcinhas azulpálido, com guirlandas douradas ao logo das coxas. Seus longos cabelos, de um louro
calidamente dourado e bastante frisados, caíam em cachos sobre seus seios redondos e firmes. Uma outra
enrolava-se em uma capa de veludo grená, bordada com lantejoulas multicores.

Gaetane, estendida em coxins dos mais enfeitados, estava vestida com uma longa capa de seda
negra transparente que modelava completamente suas formas soberbas e chanfrava-se nas costas até a
reentrância dos rins. Suas mãos de longas unhas esmaltadas, de um vermelho sangrante, seus braços finos
e nervosos estavam vestidos com longas luvas de renda negra. Pequenas chinelas de salto pontudo,
recobertas pela mesma renda negra, calçavam seus pés arqueados.

I, em sua qualidade de homem de companhia, devia preparar os coquetéis dos quais as mulheres
davam as misturas complexas, servi-Ias humildemente e estar atento para renovar o fumo no narguilé. As
mulheres davam-lhe, algumas vezes de passagem, um pequeno tapa nas suas nádegas bem redondas, gesto
que tinha por efeito imediato fazer erguer-se o sexo enfaixado. Após cada serviço, I ajoelhava-se
discretamente num canto do salão. De tempos a tempos, Gaetane divertia-se em atirar sobre ele um de
seus chinelos. I corria, então, feliz e submisso, a sugar avidamente os artelhos de sua dona.

As mulheres sussurravam entre elas, murmuravam. Elas contavam umas às outras suas aventuras e
I, que não podia deixar de ouvir, não sabia nunca se tudo aquilo era sonho ou realidade. Uma dizia, com
sua pequena boca pintada com um vermelho tão vivo que parecia negro, que um dia ela cortara com as
próprias mãos, partido como uma bisnaga de pão, o sexo de um homem em ereção. E, com um sorriso

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maravilhoso, ela imitava o gesto calmo e seguro, com suas mãos graciosas.

Uma outra, cujos longos cílios recurvados e tingidos de azul batiam loucamente, se lembrava de
ter, uma vez, pendurado um de seus escravos pelo pênis a um gancho de açougueiro. Com detalhes, ela
explicava que o rapaz estava em posição horizontal e que o gancho de açougueiro atravessava seu sexo.
Ela o deixara assim até que o pênis secou e partiu-se, libertando o homem que só deixara de viver ao cair
ao solo.

E todas as mulheres aprovavam, risonhas. I ouvia, aterrorizado, trêmulo, a respiração difícil.

A jovem de calcinhas azuis, mal saída da adolescência, graciosa, deitada sobre o ventre, movia os
pés no ar, de tão alegre que ela estava. A pele branca de suas nádegas roliças movia-se cadenciadamente
acima das guirlandas douradas de suas calcinhas. Vivamente, ela evocava o tempo em que caminhava
sobre um tapete unicamente composto de corpos de homens chumbados ao soalho. Sobre este tapete
humano ela saltava e dançava, instalavase para fumar um cigarro de gosto acre, do qual ela sacudia a cinza
quente à sua volta. Ela coçava o nariz ainda de prazer apenas à lembrança do excelente odor que se
desprendia da carne que se queimava, enrugando-se, logo que ele atirava fora a ponta do cigarro.
Contentes, as outras mulheres sugeriram tomar um dia o chá assim, sobre um tapete de carne de machos.
Quão divertido seria colocar as taças quentes sobre uma costa ou uma bochecha! Escolher-se-ia uma bela
nádega para colocar sobre ela a chaleira fervente que arrancaria com ela a pele quando fosse erguida...

Sonhadoras, elas se calaram um instante, apanhando cada uma por sua vez o tubo de narguilé. Por
momentos, o fumo avermelhava na penumbra; a água gorgolejava no silêncio.

As lágrimas corriam sobre as faces de I, sempre de joelhos em seu canto.

Depois Gaetane contou que ela gostava de puxar uma meia dúzia de homens pelo pênis: ela
puxava um bastão de seis cordinhas que se prendiam em torno de cada sexo. E ela dançava, e ela corria.
Os homens seguiam-na torcendo-se de dor, Falando, Gaetane fazia o gesto de quem puxa, com sua longa
mão enluvada de negro e as pontas de seus seios se erguiam sob a seda de sua roupa. Ela acrescentava
com sua voz espantosamente rouca: Depois, eu fazia os homens se ajoelharem, o rabo para cima. Eu metia
uma longa varinha de salgueiro em seus ânus violáceos. Eu metia, metia. O sangue corria em abundância,
A varinha saía pela boca.

As lágrimas de I corriam agora ao longo de seu peito e começavam a molhar a pequena faixa
verde-pálida. Ele não podia mais fazer um movimento. Ele não podia mais respirar.

A respiração das mulheres, pelo contrário, se tornava mais forte mais rápida. Seus peitos se
enchiam em hausto, porque essas belas histórias despertavam seus desejos de violência. Sentia-se subir na
atmosfera uma golfada de febre, lenta, mas inelutável. As mulheres não falavam mais; seus olhares,
brilhantes, voltavam-se mais e mais para I. Elas se erguiam sobre um cotovelo, imaginando algum
suplício.

De repente, Gaetane fez ruído com os dedos para chamar I. Ele se ergueu em sobressalto e
caminhou, hesitante, entre os corpos das mulheres estendidos. Elas o deixaram um longo momento assim,
de pé, no meio delas. Elas o examinavam, perscrutavam cada parte de seu corpo trêmulo, faziam-no girar,

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de costas, de frente, de perfil, pedindo-lhe que erguesse uma perna ou cruzasse suas mãos atrás da nuca,
que se abaixasse ou se erguesse sobre a ponta dos pés. Cada posição as interessava: elas apreciavam ou
zombavam. Sob o rogo cruzado de todos esses olhares críticos ou cheios de desejo, ele enrubescia e
retesava.

A mulher de capa de veludo grená curvou-se para erguê-la e tirar dela um grande cofre de ébano
incrustado de nácar rosado. Ela lhe tirou a tampa e virou-o. Dezenas de jóias rolaram sobre os coxins,
agarraram-se a eles, misturaram-se com eles. Os metais mais preciosos, as pedras mais raras, brilhantes ou
escuras, espessas ou finas, rolaram pelo solo. A mulher mergulhou suas longas mãos neles e divertiu-se
um momento em fazer correr as jóias entre seus dedos. Suas amigas debruçaramse também e pesquisaram
no amontoado de pedrarias, cada uma escolhendo, recusando, apossando-se do que lhe parecia o melhor.
Depois Gaetane deu o sinal para a decoração sobre a pele: ela fez sinal a I que se aproximasse e se
acocorasse perto dela voltando-lhe as costas; ela escolheu então um broche dourado de folhagem
complicada, enfeitado com três safiras de um azul transparente, enfiou-o na pele de I abaixo da coluna
vertebral, exatamente ali onde se abre a risca das nádegas, Tez a ponta sair alguns centímetros mais à
frente e fechou o broche. Pequenas gotas de sangue perolaram a pele branca de I que sentiu uma dor, fraca
é verdade, mas persistente e aguda. Gaetane sorriu: as safiras faziam uni belo efeito.

A jovem de calcinhas azuis chamou I com um som produzido pela língua e fez com que ele se
ajoelhasse diante dela. Rapidamente, ela escolheu um esplêndido brinco em gota d'água leitosa, que ela
prendia habitualmente em seus lóbulos furados e trouxe o rosto de I para perto do seu. I olhava-a,
subjugado pela cabeleira penteada que ela agitava diante dele. Em alguns segundos, e com uma força que
não se esperaria de uma jovem, ela transpassou uma narina com a ponta afiada do brinco. I gemia de
sofrimento. Grandes gotas de sangue deslizaram ao longo da gota de água presa a seu nariz misturadas às
lágrimas que tinham corrido de seus olhos. A jovem bateu as mãos e seus seios balançavam-se levemente,
cadenciadamente.

Cada uma por sua vez, numerosas vezes, as mulheres incrustaram uma jóia na pele de I; aqui,
apertando sua cintura, até estourar, num colar de coral cujas pontas penetravam em sua carne; aqui,
prendendo um montículo arredondado de seu ventre para ali manter uma argola que encerrava o pequeno
monte assim formado. Uma manopla de dançarina hindu, em prata, paralisando um artelho, cortava a
carne do tornozelo e fazia um ruído encantador de sinos quando ele caminhava.

Dezenas de broches atravessaram assim a sua carne lacerada; dezenas de braceletes torturaram
seus braços e suas pernas; dezenas de brincos se prenderam à sua pele, Logo, seu corpo ficou inteiramente
coberto de jóias; ele desapareceu sob as esmeraldas verde-vivo, as duras ágatas, as ametistas violetas, as
pérolas finas, os diamantes cortantes e brilhantes, envolveu-se em ouro, em cobre vermelho, em vidro
translúcido e em couro espesso.

O sangue que correra em abundância começava a coagular e coloria de vermelho-escuro os raros


interstícios de pele que restavam entre as jóias. I era apenas um soberbo objeto de arte.

Sobre seus cabelos encaracolados, colocou-se um pesado diadema de ouro maciço incrustado de
topázios, coroando assim o ídolo doloroso, que não podia mais fazer o menor gesto sem rasgar atrozmente
a pele, Tantos fechos atravessavam sua carne, tantas garras nela se enfiavam, tantas pontas o picavam que
seu corpo era massacrado, aberto, cavado, e o peso das pesadas jóias era tal que I se sentia desfalecer. Os

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braceletes de metal fechavam-se e apertavam tão fortemente seus braços e suas coxas que o sangue não
circulava por eles senão com dificuldade. E as picadas e as cernelhas estavam em seu pescoço, em suas
nádegas, em suas mãos, em seus mamilos, em suas faces... Era intolerável.

Mas, curiosamente, o sexo parecia ter sido poupado. Nenhuma jóia tinha sido ali maldosa-
mente pregada, A pequena faixa de seda verde pálida estava simplesmente amarrada nele. Foi então que
Gaetane se levantou lentamente, sutil e leve em sua roupa de seda negra transparente. Ela se aproximou de
I, estátua viva recoberta de pedrarias, costurada de cores. Gaetane tinha em sua mão enluvada de renda
negra uma fíbula magnífica, feita de pedra turquesa e rubis luminosos. A jóia vinha do Egito e servira para
prender a grande capa de uma mulher nômade, uma beduína. A ponta que fechava este colchete pouco
comum era extremamente longa, fina e aguçada. Gaetane segurou-a, por um instante, dirigida à altura dos
olhos do rapaz cujas pálpebras bateram de terror. Gaetane segurou, com uma das mãos, o sexo de I e
sacudiu-o um pouco: ao contato dos dedos de sua dona sentidos através das rendas, seu sexo ergueu-se
mais. Então, Gaetane, com uma lentidão atroz, abaixou calmamente a fíbula. Um frêmito doloroso
percorreu a pele do escravo. Com um gesto seguro, com um suspiro de gozo, Gaetane imergiu a ponta da
fíbula muito profundamente, na carne mesmo do sexo de I.

Ele emitiu um urro rouco, corno um animal que se degola. Um fluxo de sangue fluiu de seu sexo.
Gaetane, excitada por sua própria crueldade, ordenou-lhe que se masturbasse. Alucinado gritando ainda,
ele obedeceu como um autômato, sem protestar. Com a mão carregada de pedras e de broches, ele
empunhou seu sexo ferido, seu sexo atingido ao vivo, no mais profundo de sua carne tenra, de sua
intimidade, e sacudiu-o atrozmente. Ele urrava. Seus olhos suplicavam. Gaetane acariciava suavemente,
através da seda de sua roupa, seus seios e seu ventre olhando este infeliz que fazia correr torrentes de
sangue de seu sexo. Quando ele gozou, o jato de esperma saiu vermelho vivo.

I desmaiou.

A jovem de calcinhas azuis tinha erguido a capa de veludo grená de sua amiga e a acariciava
olhando avidamente. A jovem gozou ao mesmo tempo que I.

As axilas peludas
dos atletas

Atormentado por uma espécie de febre, desamparado, sentindose vazio por causa dos excessos e
dos tormentos, I não sabia mais, às vezes, se via ou se sonhava os espetáculos que se apresentavam diante
dele.

Já, atravessando os corredores, com passo rápido que roçava seu sexo contra a calça de couro que
lhe obrigavam a usar grudada à pele, ele percebera, um dia, numa sala sombria, uma cena que o tinha
transtornado. Sentada numa poltrona de cretone amarelado, as pernas abertas, os pés calçados de chinelos
vermelhos de pompom negro repousando em coxins, unia mulher segurava pela cintura um atleta uni tanto
estupefato.

Preso ao teto, um aparelho complicado de correias deslizantes, passando sob as axilas e em torno
das ancas, mantinha o infeliz suspenso. Bastava assim à mulher imprimir um movimento de balanço a este

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Históó ria dó I

tronco humano para que o membro do enfermo fizesse o movimento de entrar e sair em sua vulva cujos
lábios babavam de um prazer agudo e quente.

De tempos a tempos, ela retirava o objeto do interior do seu sexo e, com um gesto hábil e seguro,
fazia brutalmente correr os mecanismos. O consolador girava então completamente, como uma ampulheta
e era sua boca que vinha tocar os lábios abertos da vulva que ele sugava, logo, avidamente. Depois, o
movimento basculante inverso se operava: ele endireitava-se, o rosto em fogo e seu pênis de novo era
abocanhado.

E a mulher, feliz pela astuciosa utilização que fazia do homem, ria rolando a cabeça pela borda da
poltrona. I tinha ficado parado, fascinado pelo espetáculo medonho desse homemconsolador. A garota que
o conduzia pela sua correia de lã não lhe deixara o tempo para ver mais coisas. Porém depois a visão
voltava à sua cabeça, fazia-o tremer e o deixava esgotado.

Deitado em sua enxerga, os olhos semicerrados, ele fremia de espanto. Logo teve outra visão que
acabou de aterrorizá-lo.

Homens musculosos como boxeadores, atarracados como lutadores de feira, passavam diante dele,
carregando acima de suas cabeças, nos braços, enormes grades de dentes de ferro. Estavam quase nus:
apenas um lençol, de uma limpeza duvidosa, se enrodilhava em suas ancas, deslizava pela risca das
nádegas e emalava o volume do sexo, Não eram senão feixes de músculos, brilhando de suor pelo seu
esforço, vermelhos e convulsos. Desfilavam entre duas filas de mulheres vestidas com roupas finas,
trabalhadas, realçadas com fios de prata. Com modos afetados, elas divertiam-se em fazer cócegas nas
axilas peludas dos atletas com longas penas de gansa reluzentes. Eles riam, contra a vontade,
estupidamente, se torciam, cambaleavam, e, um a um, caíam, vitimas de sua própria força, de sua própria
virilidade. A grade abatia-se sobre eles e os esmagava; os dentes de ferro enterravam-se em sua carne
gorda. As mulheres fugiam, dando risadas, contentes pela sua brincadeira, Logo mais, restaram apenas
pedaços de carne sangrenta, agitados por sobressaltos convulsivos.

Depois, como a noite e o horror se faziam mais espessos em torno de I, foram cavaleiros que
desembestaram a toda velocidade. Eles estavam nus e flexíveis. Seus longos cabelos se misturavam à
crina dos animais nervosos. Suas mãos estavam solidamente amarradas ao pescoço, seus pés sob o ventre
dos cavalos. Graciosas mocinhas, vestidas com roupas curtas que modelavam os seus corpos, em pele de
lagarto, de crocodilo ou de serpente, retiravam de seus grandes coques alfinetes dourados e picavam de
passagem os corcéis para que eles, enlouquecidos, tomassem embalo, Ao contato com a crina, sempre
sacudidos, a pele da glande nua e estendida dos jovens se fendia, se abria e o sangue corria em abundância
sobre o flanco das montarias. Às vezes, as mulheres metiam seus alfinetes de cabelos nas ventas dos
animais que rolavam pelo solo, matando ou ferindo seus cavaleiros. I só adormeceu depois que todas as
bestas malditas lhe martelaram o crânio.

A lei do serralho

I vivia numa atmosfera sufocante e perdia pouco a pouco contato com o que havia outrora
chamado de realidade. Desde sua entrada naquela casa infernal, vivia uma vida ao mesmo tempo mais
intensa e completamente passiva. Sempre em suspense, sempre em guarda e perfeitamente indolente.

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Históó ria dó I

Tinha rapidamente travado conhecimento com os seus companheiros de escravidão, mas não gostava
deles. Tinha ciúmes e desconfiava terrivelmente deles. Pensava que somente ele podia ser realmente o cão
que respondesse ao menor estalido do chicote e detestava nos outros homens atitudes semelhantes à sua.
Queria ser o mais baixo, o mais escravizado, o mais rasteiro de todos. Teria desejado perceber este
extremo da submissão nos olhos de sua senhora e de suas sequazes, e não na comparação com os outros
rapazes que ele procurava cuidadosamente evitar.

Contudo, a mesma lei era aplicada para todos e a organização do serralho era a mesma para todos.
A lei - era o capricho das mulheres. Os homens podiam esperar tudo e não importa o que fosse.

Sabiam somente uma coisa: deviam manter-se sempre prontospara que as mulheres pudessem usar
deles quando bem entendessem. Quando lhes enfiavam uma calça de camurça -ou de couro, grudada à
pele, a braguilha devia sempre permanecer aberta. A todo momento, nos corredores, nas salas, uma
mulher, uma jovem que se topasse, apoderava-se do sexo assim descoberto, tomava-o, esticava-o, torcia-o,
divertia-se algum tempo com ele, e o abandonava.

Com freqüência também lhes era ordenado que abaixassem suas calças para que suas nádegas
ficassem à mostra. Eram curvados, a testa até à terra, a parte posterior bem erguida . Suas nádegas eram
então terrivelmente separadas, distendendo quanto necessário suas carnes, com um aparelho de ferro que
passava sob o ventre e incrustava patas com garras de cada lado do ânus, assim desmesuradamente aberto.
Eram então sodomizados com consoladores de todos os tamanhos e feitos de todos os materiais: marfim
liso, ou recoberto de pelos de camelo. Sentiam grande prazer às mulheres, que enfiavam o objeto, segundo
o seu humor, com uma consumada destreza ou uma calculada falta de jeito.

Elas chegavam, às vezes, até a ponto de rasgar a carne, de desarticular o osso. Nunca o sangue
derramado as detinha. Algumas sentiam até um verdadeiro prazer em ver correr em abundância o sangue,
aspergindo com ele as próprias coxas.Qualquer que fosse a dor sentida, I alegrava-se avidamente em ser
assim manipulado nesta postura vergonhosa.

Outras vezes, os homens eram obrigados a se sodomizar uns aos outros. Era a festa mais alegre
para as mulheres, a humilhação mais difícil de suportar para os homens. Era especialmente um
divertimento para as jovens fazer todos esses homens brincar de ((trenzinho)). Elas os encerravam em uma
sala e, loucas de alegria, vinham saltitantes armadas de tubos de vaselina. Elas engraxavam generosamente
os sexos que se erguiam logo, metiam profundamente seus dedos lambuzados nos ânus que elas forçavam.
Depois, elas ligavam os vagões... escolhendo com prazer os sexos mais espessos e mais nodosos para os
introduzir nos ânus mais contraídos e mais frágeis, empurrando os homens com todas as suas forças,
chicoteando se necessário aqueles que mostrassem repugnância em se prestar só jogo. Quando todos
estavam bem enganchados uns dentro dos outros, uma jovem empunhava o sexo da ((locomotiva)) e,
puxandoo, e todos atrás dela, começava uma galopada desenfreada ou uma corrida endiabrada. Todos
deviam segui-Ia. Se, por infelicidade, um desatarraxada, as meninas o faziam passar para o último da fila e
suas nádegas eram cruelmente chicoteadas com urtigas ou finas varas de bétula.

Ou então elas faziam os homens formarem um círculo perfeito e divertiam-se em faze-los correr
assim, sem fim, o mais depressa possível. Eles detestavam essas brincadeiras ridículas, que faziam deles
simples mecanismos, todos semelhantes, simples objetos intercambiáveis. Cada qual detestava mais ainda
o prazer que acabava por sentir em ser assim possuído por um outro homem, quando ele gostaria apenas

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Históó ria dó I

de entregar-se à mulher.

Seu espírito gostaria de ser perfeitamente submisso, seu sexo não obedecia sempre. Quando, por
infelicidade, uma mulher queria usar um pênis e o encontrava flácido, sua cólera explodia e a punição era
sempre terrível.

O menos que ela podia fazer era sem dúvida meter brutalmente um ou vários dedos no ânus do
jovem impotente para o constranger a enrijecer o pênis contra a sua vontade. Ou, mais radicalmente, ela
dava-lhe uma injeção afrodisíaca e o infeliz, sofrendo de priapismo, permanecia em estado de dolorosa
ereção durante horas e até mesmo dias inteiros.

Outras injeções, dadas na base do sexo, e contendo água, faziam engrossar desmesuradamente os
testículos e o rapaz, cruelmente inchado, parecia completamente desumanizado. A menor extravagância, e
mesmo sem outra razão senão o bom prazer de uma mulher, ela fazia seu escravo pôr-se de quatro pés e
ela o vergastava por trás, insistindo entre as nádegas para melhor dilacerar a pele em torno do ânus.

Às vezes, se o homem não tinha realmente conseguido a ereção, apesar dos maus tratos da mulher,
fechava-se o seu sexo, durante semanas, numa espécie de cinto de castidade, fechado por cadeados e do
qual a sua dona guardava a chave. Este cinto comportava um minúsculo estofo peniano, inteiramente
forrado no interior de pequenas pontas. E, durante todo o período em que o sexo estava assim aprisionado,
a mulher deleitava-se em desvestir-se lascivamente e em dançar, voluptuosa e nua, diante de seu escravo
que, assim que entrava em ereção, sentia imediatamente todas as pontas aguçadas penetrar em sua carne.

Uma outra punição consistia em colar o rapaz contra um tabique, com ajuda de uma correia de
couro que se amarrava ao redor de sua cintura e que se prendia tão solidamente ao tabique que ele não
podia afastar dele o seu ventre. Fazia-se passar seu sexo através de um buraco, uma fenda tias tábuas do
tabique, e apoderava-se dele. Ele ficava aterrorizado então porque não podia ver o que lhe era feito. Ora se
torcia o seu sexo, aferventava-se com água quente, aspergia-se nele água-decolônia, friccionava-se com
esponja, mordia-se, bombava-se até o esgotamento. A espera apavorada, a surpresa aumentando a dor
desconhecida e inesperadamente sentida.

Presas ao turbilhão de prazer que lhes provocava o sofrimento de seu escravo, as escravizadoras
podiam chegar até aos castigos mais medonhos, ainda que o pênis castigado ficasse de tal modo
danificado, em conseqüência dos castigos, que não pudesse mais servir. Elas chegavam, assim, a prender,
por meio de uma fina cadeia dourada passada em torno da glande, um pesado peso ao pênis pendente e o
músculo esponjoso alongavase e dilacerava-se atrozmente. Podiam elas também encantoar o sexo culpado
na frincha de uma porta aberta, que elas fechavam com uma lentidão calculada, amassando as carnes que
se espalhavam em filetes sangrentos. .

Os piores sofrimentos infligidos aos homens escravos nada eram em comparação com o medo que
cada um sentia de ser um dia vendido. Eles recebiam os golpes, as humilhações, as injúrias beijando a
mão de sua senhora, pois que elas ainda tinham a bondade de lhes bater e de lhes dirigir a palavra. Mas, o
que não podiam suportar, o que receavam acima de tudo, era que ela se cansasse deles - o que acontecia
em geral bem depressa e que os rejeitasse como um brinquedo que deixou de divertir.

Esta prova cruel lhes era imposta de tempos em tempos, quando da grande feira. O dia desta feira

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Históó ria dó I

era misterioso, mas cuidadosamente escolhido por Gaetane. E quando o dia se aproximava, todo mundo se
preparava febrilmente e sentia-se urna agitação, um remoinho festivo pouco comum naquele antro
infernal. Os homens assistiam a esses preparativos de combate com um nervosismo, uma ansiedade
crescente. Mais do que nunca desconfiados e ciumentos uns dos outros, sentiam seu isolamento e seu
abandono.

Quando chegava a feira, eles eram obrigados a levantar de manhãzinha. Eram lavados mais cuida-
dosamente do que de costume, eram abundantemente perfumados, penteava-se energicamente sua cabe-
leira. Eram enfeitados: a alguns pintavam-se as unhas dos pés ou das mãos de cores brilhantes, a outros
prendia-se uma fita de seda nos cabelos. As partes sexuais eram objeto de atenções especiais: eram
banhadas, sem comedimento, com água-de-colônia e cuidava-se mesmo do interior do ânus os escravos
ficavam inteiramente nus: uma fina malha de couro negro guardava somente suas coxas.

Depois, eram levados para um grande quarto abobadado, que servia, naquele dia, de sala de
exposição. Eram alinhados, dobrados em dois, a cabeça para baixo, eram mantidos por curtas cadeias
douradas que prendiam seus tornozelos e seus punhos. Assim ficavam expostos durante todo o período
deste dia fatal, com a proibição formal de dobrar ou de fechar as pernas. Pélagie vigiava a fim de que elas
ficassem estendidas e abertas. Ela postava-se atrás deles, seu longo chicote na mão, atenta à menor
desobediência. O traseiro levantado, os homens apresentavam assim seus testículos pendentes, de pele
tensa, sob a risca das nádegas. Seu sexo ficava meio oculto.

Após longas horas silenciosas de espera, eles ouviam de súbito, ansiosos, o frufru das roupas de
seda. As mulheres entravam, azafamadas, mundanas. Elas murmuravam, riam, chacoteavam entre eles.
Depois se aproximavam da fila de nádegas abertas e os homens endureciam um pouco mais suas pernas
cujos músculos começavam a ficar doloridos. As discussões, as apostas se elevavam entre as belas
visitantes. Às vezes uma disputa se tornava áspera entre dois demônios que cobiçavam o mesmo objeto. E,
principalmente, elas tateavam. Elas sopesavam os testículos, elas os beliscavam.

Às vezes, um dedo enluvado metia-se dentro de um ânus distendido. Elas se demoravam, em


grupo, nos mais apetitosos, os que representavam melhores ofertas, zombavam, cruelmente, dos menos
graciosos, os que estavam a preços de liquidação. Elas davam tapas em algumas nádegas, de passagem.
De quando em vez pediam a Pélagie, que se babava de alegria, que desse uma chicotada bem forte sobre
uma bunda arredondada, para saber se a marca sangrante produziria um belo efeito sobre a pele frágil e
branca...

Os risos zombadores e os empurrões não impediam que o negócio fosse sério. Tratava-se de saber
exatamente o que se estava comprando. E as longas mãos recomeçavam a apalpar. O peso, a forma, a
consistência, cada pormenor era importante.

Quando uma mulher fazia sua, escolha, ela abria a cadeia do punho de sua nova vítima e,
puxando-a pelo tornozelo, partia imediatamente para experimenta-la...

Quando caía a noite, restavam na grande sala apenas três ou quatro infelizes, enlouquecidos por
não ouvirem mais nenhum ruído atrás deles, não querendo acreditar no horrível destino que os esperava se
nenhuma senhora os tivesse escolhido. Então, Pélagie os desligava, com fortes pontapés de suas botas
ferradas. Às vezes, ela usava um ou dois dentre os rejeitados. Depois, ela ia embora. Sem que fosse

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preciso dizer-lhes, os inúteis sabiam que tinham sido expulsos. Iam procurar algumas roupas suas e
partiam, de tal modo exauridos, de tal modo horrorizados, por ter de viver novamente no mundo exterior e
banal, que alguns preferiam abrir as veias e morrer antes de atravessar a porta do antro.

Esses moluscos
dos mares tropicais

Uma cerimônia temível ocorria uma vez por ano: era o banquete das bruxas. Essas megeras,
sempre servidas por rapazes, comiam, certamente, muito bem durante todo o ano; mas aquele dia era
completamente excepcional quanto à sua alimentação. Elas preparavam o seu festim com um mês de
antecedência.

A sala do banquete, primeiramente, era motivo de atenções particulares. Elas usavam a longa sala
abobadada, porém a transformavam inteiramente. Naquele ano, tiveram a idéia, imediatamente executada
pelos escravos, de reproduzir a fonte e a gruta que tinham decorado o quarto da senhora de Montespan.
Assim é que se viram os homens transportar pesados blocos de rochas, arrumá-los artisticamente de
maneira a formar uma gruta que recobrirem de diferentes mariscos, cuidadosamente escolhidos por
Uranie: conchas, moluscos, conchinhas de Saint Jacques... tudo o que é bivalve e encerra uma suave carne
num recipiente duro e oco. E depois essas conchas tão maravilhosas que parecem reproduzir o barulho do
mar quando são colocadas junto ao ouvido; algumas têm um orifício redondo e nacarado de extrema
delicadeza quando se acariciam com o dedo e outras uma entrada eriçada de pequenos dentes, E também
aqueles moluscos dos mares tropicais cuja casca serve para fazer camafeus, abrindo-se em lábios muito
grandes e ondulantes. Todas essa vaginas, lisas ou dentadas, fechadas ou abertas, valvas e vulvas,
incrustavam-se entre os rochedos, amontoavamse nos ocos, recobriam partes inteiras da gruta. Uma água
clara, azulada, gelada, surgia do cume, caía em cascata de rochedo em rochedo, estrondava sobre a pedra,
infiltrava-se nos interstícios. O gorjeio da água acompanha o barulho dos garfos ao longo do banquete.
Grandes flores de plástico davam a impressão de uma flora aquática multicor.

As estátuas de gesso que decoravam a comprida sala não eram suficientes para os desejos
incessantes de luxúria ornamental das bruxas, Elas lhes ajuntaram montes de guirlandas, arranjos de frutos
e de flores por todos os lados, nas redondezas abundantes, sustentados por anjinhos joelhudos e
nadegudos. Os escravos trouxeram leitos cujos pés arqueados eram semeados de entalhes, essas curvas
serpenteantes que sugerem um prolongamento de cada uma de suas ondulações e arrastam o olhar num
movimento giratório. Os ângulos da compridíssima mesa do banquete se enfeitavam de carmonas bastante
originais: em lugar de serem toucadas com o clássico tricórnio, os bustos de mulher saindo de bainhas
eram coroados por uma grande vulva de gesso de lábios bem desenhados e cujos pelos pubianos eram tão
longos que formavam a cabeleira. As bandejas destinadas a receber os pratos eram cinzeladas com finos
motivos nervados em forma de asas de morcegos. Nenhum ângulo do mobiliário era reto, tudo era em
curva, bojado, furado, torcido, inchado, ondulado, sinuoso, torneado. Os leitos eram recobertos de sedosos
edredons cheios de penas e cobertos de penugem de cisne negro.

Um mês antes do grande dia, podia-se ver os escravos que tinham, para aquela ocasião, aprendido
a costurar em um tempo recorde, puxar pela agulha noites inteiras. Deviam confeccionar com a maior
destreza extravagantes e suntuosos vestidos para as bruxas, delicadas e esquisitas roupas de serviçais para

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eles mesmos. Pélagie, desempenhando o papel de contra-mestre, ficava na oficina de costura e vigiava
todos esses encantadores rapazes, inteiramente, nus, febrilmente debruçados sobre tecidos de seda, seus
forros e seus couros. De quando em quando, ela segurava uma tesoura de costura, precipitava -se sobre
algum escravo que tivera a desgraça de erguer um instante os olhos de sua obra e o picava violentamente
com a ponta da tesoura nas costas. No fim deste mês de trabalho, alguns acabavam tendo as costas
inteiramente cobertas de espessas crostas violáceas. Mas os vestidos confeccionados eram sempre
impecáveis e magníficos.

Quando não eram constrangidos a fazer bainhas e bordados, os escravos estavam ocupados na
confecção de comidas para o banquete. Geralmente, era à noite que eles se faziam de costureiros; o dia era
consagrado ao seu trabalho de cozinheiros. Uranie, nua sob um grosso avental de couro impregnado de
diversas camadas de sangue seco, vinha em pessoa torcer brutalmente o pescoço dos frangos, arrancar
selvagemente o olho dos coelhos, degolar lentamente os leitões, abater o bezerro, estrangular o carneiro.
Tudo isto com grande reforço de marcha dadas inúteis, de sangrias supérfluas, em meio a batidas de asas,
de correrias, de gritos de agonia e de urros de dor dos animais assassinados.

Os escravos encolhiam-se o mais possível num canto das cozinhas, olhando sem dizer palavra à
carnificina. A todos que desmaiavam, tomados de fraqueza (e que Uranie reanimava com terríveis tapas),
aos que vomitavam, tomados de desgosto ou aqueles que, tomados de compaixão, ousavam suplicar que
ela liquidasse os animais dos quais ela fazia durar o suplício durante muito tempo, a todos esses Uranie
ordenava imediatamente que viessem ajudá-la. Eram eles que deviam segurar a cabeça do animal e
reprimir, tanto quanto possível, seus sobressaltos de dor. Acontecia com freqüência que o grande cutelo
que Uranie, ébria de gozo e de sangue, brandia com fúria, derrapava na pele ensangüentada e cortava
profundamente o braço ou o ventre do jovem aprendiz... Ela esbravejava, berrava mais forte do que os
gritos terrificantes do leitão degolado e acabava por gozar: ela se atirava então sobre o primeiro rapaz ao
seu alcance, derrubava-o na lagoa de sangue e tripudiava sobre ele com toda a massa, de seus cento e
sessenta quilos...

Quando ela finalmente partia, espalhando restos sangrentos a cada um de seus passos de
paquiderme, o infeliz amassado se erguia, o corpo e os cabelos gotejantes de sangue. Era preciso então
que todos os rapazes, mais mortos do que vivos, lavassem e limpassem as cozinhas de ponta a ponta,
apesar das náuseas e das vertigens de que eram vítimas. Tinham depois de preparar incontáveis pastas
cozidas, confeitos, geléias, pêras ao vinho, galantinas de legumes, patê e Kugelhopf, brigadeiros... que as
bruxas pediam sem se preocupar com a complexidade das receitas. Da mesma forma que na costura, os
escravos trabalhavam inteiramente nus e eram incessantemente atormentados, angustiados, pelos molhos
ferventes que ameaçavam salpicá-los cruelmente, e, sobretudo pelas numerosas facas e machadinhas que
eles manipulavam desajeitadamente, com risco de se castrar atrozmente. Pélagie, sempre atrás de suas
costas, zombava, estúpida.

Alguns dias antes do festim, ocorreu um drama, que foi uma grande distração para as megeras. Um
escravo muito jovem, (porque Gaetane adorava os jovens), esgotado pela ausência total de sono e pelas
muito fortes emoções, cometeu a falta imperdoável de deixar queimar um assado de peru. Este anjo se
tinha sentado diante da porta do grande forno que ele tinha por missão fiscalizar. Pélagie apanhou-o
adormecido, a cabeça em seu pequeno braço dobrado, seus longos cílios batendo nas faces, enquanto que
espessa fumarada negra saía do forno. Louca de raiva, ela se precipitou, com a mão, dentro do forno
ardente, em lugar do assado e fechou a porta, abafando as queixas do jovem.

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Ela amatilhou então, com grandes gritos que eram quase latidos, todo o regimento de megeras que
acorreram atropelando-se e batendo as mãos nas coxas, praguejando como soldados, Depois de dez longos
minutos de escandalosa hilaridade e depois que os gemidos, cada vez mais fracos, se tinham calado,
Pélagie abriu a porta do forno. Munida de guardanapos dobrados de amianto que serviam comumente para
trazer os pratos quentes, ela retirou o infeliz, sem sentidos, mas ainda vivo.As megeras resmungaram um
pouco, vociferando alguns palavrões na direção de Pélagie que, com sua bela brincadeira, as privava de
um brinquedo ainda agora inutilizado e viraram-se nos calcanhares. Pélagie, furiosa, deu à sua volta três
golpes com o chicote que nunca a deixava, espantando todos os rapazes que tinham também eles se
reunido para olhar, aterrorizados em ver que se podia ir tão longe em matéria de horror.

A preparação de que os homens estavam encarregados nas cozinhas não consistia apenas na
confecção de pratos os mais copiosos e os mais refinados. Deviam também se ocupar das bebidas. Para
dizer a verdade, seu papel na preparação das beberagens era inteiramente passivo. Com efeito, as matronas
vinham todas as manhãs às cozinhas como os fazendeiros vão aos estábulos ordenhar suas vacas. Cada
fêmea escolhia sua presa, fazia-a entrar em ereção contra sua vontade por todos os meios possíveis: brutal
penetração anal, maus tratos diversos que se tinham tornado uma fonte de excitação automática entre
todos esses rapazes acostumados a gozar com o sofrimento. Depois, elas os masturbavam vigorosamente,
acompanhando o firme movimento de seu punho com imprecações e injúrias. No momento em que elas
sentiam que a vítima estava prestes a gozar, elas enfiavam o pênis num frasco de vidro onde se derramava,
o líquido viscoso. E enquanto o rapaz, esvaziado de sua substância e envergonhado por essa ação forçada,
colava sobre o bocal uma etiqueta com o seu nome e a data do levantamento parcial, a megera
experimentava com seu dedo, batia a língua e acrescentava, segundo o caso, algumas gotas de uísque ou
de gim, ou alguns aromatizantes. E os frascos alinhavam-se nas prateleiras dos móveis Renascença...
Poses retorcidas
de estatuas

O dia do banquete chegou. As bruxas pareciam mais gordas que de hábito, de tal modo estavam
inchadas de alegria devoradora e cruel. Os rapazes pareciam mais débeis que de costume, esgotados que
estavam pelo pesado e intenso trabalho desse último mês.

Algumas horas antes do jantar, as megeras conseguiram, contudo encontrar uma quinzena de belos
escravos, que elas escolheram entre os mais vigorosos, os mais harmoniosamente musculosos. Elas os
levaram, em fila indiana, para uma bruxa vestida com uma blusa que devia ter sido branca, mas que estava
marcada por grandes auréolas de suor e manchas de gordura e cujos botões saltavam sob a pressão de seu
peito opulento. Um após outro, ela virou os rapazes sobre o ventre e os, deixou através de suas coxas
inchadas, que tinha o cuidado de separar a fim de deixar escapar o acre odor pestilencial de suas
entrecoxas, Com seus dedos sujos, ela apalpou por algum tempo suas nádegas antes de nelas enfiar sem
parcimônia, uma enorme seringa, cheia de um líquido amarelado. Aqueles que tinham as nádegas mais
magras tiveram direito a quatro ou cinco picadas, porque a enfermeira tinha grande prazer em seus
sobressaltos.

Feitas as injeções, ela dispôs os rapazes, inquietos e com as nádegas inchadas, em diferentes locais
da grande sala: quatro de um porte na outra porta de entrada, um no canto, todos os outros em volta,
porém à distância respeitosa, da mesa do festim. O que lhes pareceu mais estranho foi que ela os obrigou a

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Históó ria dó I

assumir poses contorcidas de estátuas: a mão sobre a anca, a outra erguida acima da cabeça, o braço
formando um gracioso voleio, uma perna levemente dobrada para frente, o rosto meio virado para o lado,
e a boca imperturbavelmente sorridente... Naturalmente, eles tiveram, por vontade ou à força, de entrar em
ereção, as bruxas nada tendo a fazer com objetos que não estivessem em condições. Pélagie, chamada, não
teve trabalho, tanto ela os aterrorizava, em fazer com que se mantivessem em total imobilidade.

Para sua grande surpresa, mal tinham ficado alguns minutos na posição que lhes fora imposta, e
perceberam que não poderiam mais abandoná-la. A estranha injeção percorria seu corpo e operava
completo endurecimento de todos os seus músculos. A incômoda sensação que se tem no maxilar quando
o dentista faz uma anestesia, esta impressão de peso, de frio, a carne que incha e endurece até se tornar
totalmente estranha, eis o que eles sentiam em todo o corpo. Como se fossem subitamente feitos de
chumbo ou de mármore, não poderiam levantar um pé ou mesmo mover uma pálpebra. Estavam
inexoravelmente fixados em sua ereção e seu sorriso forçados. Tornados estátuas, eles mantiveram toda a
noite sua pose contorcida.

Mas não estavam anestesiados. Muito ao contrário. O menor contato em sua carne inchada e Iria
como a de um cadáver era sentido muito dolorosamente. Ora, as megeras não os tinham transformado em
estátuas por simples gosto decorativo. Deviam também servir para a iluminação e animação desse
banquete. Foi assim que elas introduziram neles um longo círio mágico, daqueles que se prendem nos
pinheiros de Natal. A todos os que estavam dispostos em redor da mesa elas fizeram sofrer uma sorte
pouco invejável: fizeram correr a cera de uma vela sobre eles, queimando-os atrozmente e colocaram
assim a vela acesa na ponta do sexo que fazia, portanto, às vezes de candelabro. A última estátua, sozinha
em seu canto, não foi logo utilizada.

Espartilho negro
um terço de salsichas

Terminados os preparativos, uma dezena de gordas mulheres entraram empurrando-se e


praguejando como soldados e atiraram-se sobre os leitos de pés torneados que as esperavam em redor da
mesa. Elas formavam o grosso da tropa e apreciaram com admiração a entrada grandiosa das seis super-
fêmeas, aquelas que tinham violado I quando ele entrara para essa casa. Para sua marcha triunfal,
acenderam-se, na ponta dos pênis eretos, velas mágicas que se puseram a crepitar e a lançar fagulhas de
estrelas, para grande medo dos jovens paralisados. Precedidas de todos os rapazes tocando tambor e
címbalos elas chegaram majestosamente, pesadamente, e cada entrada era saudada por uma tempestade de
aplausos.

A primeira, Léonie, entrou vestida como princesa das mil-e-uma noites: longos véus
verde-repolho, bordados com medonhos dourados e comprados em qualquer liquidação, arredondavam as
ancas já enormes, desciam até a terra e abriam-se a cada passo, deixando aparecer as coxas flácidas e
esbranquiçadas. As manias caídas eram mal sustidas por um sutiã, do mesmo tecido. Um enfeite dourado,
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grande como uma moeda de cinco francos, cobria o umbigo. Berloques agitavam-se e soavam
barulhentamente nos punhos e nos tornozelos. O rosto estava velado, mas por um tecido tão transparente
que apenas ressaltava a boca borrada com batom vermelho agressivo. Uma faixa dourada cingia sua fronte
e prendia alguns raios cabelos imundos. Léonie esboçou alguns passos da dança do ventre que fizeram
estremecer violentamente toda a sua banha. Depois, ela afastou completamente os panos de sua saia,
descobrindo um biquíni costurado com lantejoulas douradas e prateadas, tão estreito que grossos tufos de
pelos negros e sujos se escapavam dele. Ela tentou fazê-lo deslizar com um gesto gracioso, mas,
prendendo-se o biquíni às banhas, ela enervou-se e despedaçou-o gritando ignóbeis palavrões. Depois,
tentando recuperar sua dignidade, ela caminhou a passos largos para o único jovem feito estátua que ainda
não fora utilizado e prendeu os farrapos de seu biquíni ao seu sexo ereto. O rapaz compreendeu então que
ele devia fazer o papel de cabide. O grupo de mulheres aplaudiu e Léonie se abateu sobre o seu leito que
reboou em todas as suas molas.

Depois de Léonie, foi Cunegundes que avançou para o meio dos portadores de círios mágicos. Ela
estava vestida como uma jovem modelo, apertada numa roupa com bordados ingleses, branca e azul, tão
curta que deixava à mostra sua calcinha cor-de-rosa. Um cinto de seda rosa enfaixava sua enorme cintura.
Uma grande faixa do mesmo tecido, passando sob seus longos cabelos vermelho-cenoura que ela penteara
em cachos, terminava por um soberbo nó no alto do crânio, o que lhe dava um ar de um ovo de Páscoa. Os
pequenos botões de nácar que fechavam a roupa tinham saltado à altura de seu gigantesco peito. Ela trazia
meias brancas, uma das quais descaía na barriga da perna, por falta de elástico, e calçados de verniz. Ela
sugava beatificamente um enorme pirulito vermelho, em forma de pênis. Ela deu alguns saltos com a
leveza de um paquiderme e deixou cair, assumindo o ar mais inocente possível, sua calcinha cor-derosa.
Todas as megeras aplaudiram quando ela deixou ver seu enorme traseiro peludo ao abaixar-se para
apanha-la. Por fim, ela a pendurou no original cabide e ganhou o seu lugar.

Veio depois Aglaé, a «vamp»: longa capa em lamê vermelho cereja, aberto até o alto de uma coxa,
largamente decotado sobre suas monstruosas mamas leitosas, moldando estreitamente o traseiro
gigantesco e as múltiplas dobras de banha do ventre; espantosa peruca violeta, verdadeira juba de leoa na
qual estavam pregadas uma estrela e uma lua em «strass» brilhante; calçados de correias prateadas cujas
solas reforçadas a suspendiam pelo menos vinte centímetros; falso boa malva atirado negligentemente
sobre as espáduas; piteira em escama, que Aglaé desdobrou até que atingisse meio metro de comprimento;
ela se aproximou então de um escravo de pêniscandeeiro e acendeu seu cigarro. Com este gesto,
percebeu-se o espesso tufo de pelos de suas axilas, sob seus braços de lutadora, que emergia de uma capa
de lamé. Ela caminhava rebolando o traseiro e sacudindo seus enormes seios. Depois, com um ar
falsamente distinto, ela ergueu sua longa roupa, descobrindo suas pernas de obesa, apertadas em meias de
rede negras, presas por ligas vermelhas, depois uma calcinha em nylon negro transparente, adornada na
frente com uma pequena cabeça de gato e ao longo das riscas das nádegas com uma série de pequenos
botões. Com movimentos que ela pretendia serem lascivos, ela fez escorregar sua calcinha, embaraçou-se
nos pés quando ela chegou aos seus tornozelos e, com um grande gesto, lançou-a habilmente através da
sala até o pênis-cabide onde ela se enfiou. Todas as usas robustas companheiras aplaudiram e ela
caminhou rebolando até o seu leito.

A seguinte, Zulma, estava fantasiada de fada. Adornada com uma roupa de cauda em tafetá
prateado, sobre a qual estavam estampadas palmeiras mostardas e coxins laranjas, ela segurava sua
varinha mágica, que tinha uma estrela na ponta, da mesma maneira que uma jovem apaixonada segura seu
buquê de flores, desajeitada e cheia de si. Sobre seus longos cabelos desfeitos da cor de cauda de vaca, ela

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colocara um chapéu alto e cônico, enfeitado todo ele por uma guirlanda de miosótis de plástico. Um toque
de vermelho carmim. em cada face para parecer mais jovem, um rosa angélico sobre seus lábios para
parecer mais ingênua, ela batia sem cessar as pálpebras, na esperança de parecer mais cândida. Tinha luvas
cor-de-rosa que chegavam até o cotovelo e que pareciam de borracha. Zulma levantou seu vestido
abaixando modestamente os olhos e descobriu uma calça de perneiras, aberta atrás e na fenda e distendida
pelo seu enorme traseiro. Um pequeno babado malva amarrava o alto de suas coxas. Afastando de súbito
as pernas e mostrando seus lábios pendentes e peludos, ela meteu em seu buraco a varinha mágica que
desapareceu até a estrela. Ela a retirou com cacarejos superagudos, tirou com nobreza sua calça fendida e
velo pendura-la no pênis-cabide, antes de espalhar sua banha sobre seu leito de pés torneados.

Benedité fez uma aparição espalhafatosa, vestida apenas com um espartilho. Mas, que espartilho!
Negro, em renda soberbamente trabalhada, semeada de rosas, estava de tal modo apertado que reduzia sua
gigantesca cintura e uma cintura de vespa. Em troca, a carne, contida no centro, transbordava para cima e
para baixo e se esparramava em enormes rolos de banha. As mamas de elefante e as nádegas de mamute
expandiam-se generosamente. Ao espartilho se prendiam ligas que esticavam as meias negras. As gordas
pernas estavam apertadas em elegantes botinas de abotoar, em cujo negro o salto Luis XV media bem
quinze centímetros. Os escravos estremeceram à idéia de que ela poderia perfurá-los literalmente
caminhando sobre eles com todo o seu peso. Os cabelos de Benedité, de um negro azeviche, estavam
levantados sobre a cabeça em uma pilha complicada, presa por alfinetes em forma de serpente. Seus olhos
eram sublinhados por um espesso traço negro que se erguia de cada lado, dando-lhe um ar satânico. Ela
brandia uma esplêndida chibata de couro negro e não tinha calças a tirar, pois sua enorme vulva bordejada
por um negro tosão tão espesso quanto uma floresta estava visível a todos os olhos. Ela se contentou, antes
de ir estender-se, em fazer soar a chibata com um ar feroz.

Por fim entrou Uranie, em todo o seu esplendor. Era realmente a superfêmea, a tarzã, a Vênus de
Willendorf, época paleolítica. Braceletes de força nos punhos. Jóias em aço em forma de cabeça de morto.
Sutiã e calcinhas em leopardo; o sutiã era feito com tal habilidade (toucas em leopardo, sistema complexo
de correias e presilhas em couro) que ele conseguia o milagre de manter erguido perfeitamente o mais
avantajado peito que se possa imaginar; desse modo, os nichos dos seios partiam como obuses e
dardejavam suas pontas fabulosas a cinqüenta centímetros para a frente do corpo; quanto à calcinha,
estava ela reduzida à condição de oculta-sexo (supondo-se que se pudesse conseguir esconder um
monumento tão importante quanto a vulva de Uranie) : uma simples faixa de leopardo enroscava-se em
torno das ancas da negra, metia-se na risca, das nádegas e dissimulava quando muito o buraco e os
pequenos lábios; os grandes lábios sacudiam-se durante a caminhada, o tosão de crina se agitava. Acima
dos joelhos, uma faixa de leopardo à qual estava presa uma coroa de trapos de ráfia rosa. A juba dos
cabelos encarapinhados levantada acima da cabeça. O olho arrombado cheio de pus pingando. A mão,
enormes penas de avestruz com as quais Uranie se abanava selvagemente. E nas costas uma imensa cauda
de leopardo que se arrastava a seis metros atrás dela. As megeras puseram-se todas a berrar e a tripudiar de
alegria. Uranie avançou alguns passos, mas não tirou suas calcinhas como suas companheiras. Ela virou as
costas para o grupo das Bacantes, pôs sua cauda de lado e, abaixando-se, as pernas largamente abertas, ela
afastou a tira de leopardo que tapava seu rabo e deixou escapar um peido barulhento. Foi um delírio. Uma
tempestade de aplausos explodiu A autorização para início do banquete tinha sido dada.

A este sinal, os rapazes acorreram, os braços carregados de vitualhas. Quase nus, eles portavam
apenas um porta-ligas em renda branca que, na frente, formava um anel no qual seu sexo fora introduzido.
Para completar esta vestimenta de pajem, antes fantasista, eles estavam ridiculamente trajados com uma

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pequena viseira em plástico branco como têm as vendedoras de queijo. Chamados por todas as megeras ao
mesmo tempo, puxados e maltratados, tiveram de servir rapidamente os patos selvagens ao estragão
guarnecidos de frutas ao molho branco, ouriços com amêndoas acompanhados de nabos cristalizados e os
pastéis dos mendigos assim como as enguias e os leitõezinhos ao molho Mornay; rabadas de boi
ensopadas guarnecidas de cogumelos , a champanha, os timbales Renascença e os ovos cozidos.

As megeras atiraram-se literalmente sobre estes poucos frios, devorando com notáveis dentadas
sem se preocupar com garfos e facas, babando e estalando a língua. Os molhos gordurosos escorriam ao
longo de seus vestidos grandiosos e depositavam-se sobre os leitos.

Tendo-se entupido em tempo recorde com os primeiros pratos, elas deram um estupendo arroto e
reclamaram aos berros os seguintes arenques salgados e defumados, grelhados, servidos com um corredor
de tomates, orelhas de porco empanadas acompanhadas de lentilhas com mostarda costeletas ao cerefólio
com um prato de abóbora, bacalhaus ao molho Rachel e ovos à czarina, miúdos de frango, carne cheia
guarnecida de alcachofras; depois algumas lampreias ao molho Nantus, pequenos chouriços fritos e
cotovias em um molho diabólico. Tudo copiosamente regado com as melhores bebidas.

Os rapazes corriam em todos os sentidos, não dando conta do serviço, porque eram também
obrigados a ajoelhar-se de tempos em tempos para que as bruxas pudessem enxugar seus dedos
gordurosos em suas finas cabeleiras. Quanto mais comiam, mais ficavam excitadas. Metendo com as duas
mãos a comida em suas bocas, elas deitavam-se de costas e abriam suas grossas coxas. Um escravo devia
então imediatamente vir cobrir a bruxa, que vomitava, gozando, um caldo espesso e fedorento.

Quando chegaram as solhas ao vinho, as lebres guisadas, os patos ao fomo, os melros guisados ao
vinho branco, as línguas na brasa, as açordas de morcela, as delícias feitas com queijo, os ovos à aurora,
os hortulanos, as aves no vinho branco e galantinas em conhaque, a excitação aumentou ainda mais. As
megeras passaram a agarrar seus pratos e a derramar o conteúdo deles na cabeça dos rapazes, que eles
encharcavam assim de molho, amassando nos corpos tenros os pedaços de peixe ou de carne, lambendo
depois a pele suja e mordendo vorazmente na carne dos rapazes ao mesmo tempo em que nos petiscos que
nela se grudavam.

Cunegundes tomara à parte um jovem aloirado e atirava sobre seu corpo cérebros à manteiga
negra, sujando assim sua roupa em bordado inglês. Léonie tinha-se ostensivamente atirado sobre os
salmonetes à oriental e fazia deles caldeirada amassando-os entre seus véus das mil-e-uma noites. A gorda
fada Zulma tinhase outorgado os pombos à rãzinha e, fazendo-os girar presos pelo pescoço, ela batia com
eles o rosto de um débil rapaz ajoelhado na frente dela. Depois de tê-los feito deslizar voluptuosamente ao
longo de suas coxas, Aglaé, a vamp, se deleitava com omeletes regadas com molho ao mestre cozinheiro...
ou fazia-as entrar em sua vulva. Benedité tinha enrolado em volta de seu espartilho negro uma corda de
salsichas de Montbelliard-Morteau molho bastardo e, a golpes de chibata, forçava um pobre adolescente a
engoli-las uma após a outra, empanturrando-o completamente; depois, com outra fieira, ela furava as
salsichas e pisava-as com suas botas de salto.

Quanto a Uranie, tinha-se posto de lado, de sobreaviso, todo um caldeirão de testículos grelhados
lambuzados num espesso molho picante. Ela refocilava literalmente dentro dele, metia esses deliciosos
culhões de carneiro sob suas axilas e entre os dedos do pé, introduzia-os em suas orelhas, e no seu umbigo
e roçava vigorosamente a crina de seu tosão ou servia-se deles como projétil contra os escravos que ela

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visava.

Mas ela teve de súbito um desgosto. Como podia contentar-se com testículos de animais quando
havia ali tão frescos, humanos, ao alcance de sua mão? Lançando um rugido de alegria a esta idéia, a
negra agarrou de chofre o pé do primeiro homem que passava por ali. Aconteceu que era o rapaz que tinha
sido cozido ao forno nos últimos dias. -No ponto! -berrou ela, agarrando-lhe os testículos, e apossou-se de
uma enorme faca de cortar pernil.

O pequeno inutilmente se debateu, chorou e suplicou, ela lhe cortou com um só golpe os testículos,
não lhe deixando mais que seu minúsculo pênis. Em meio de aplausos e de urras delirantes, Uranie
sorveu-os de um só bocado, passou a língua pelos lábios e, de emoção, se pôs a mijar.

Notou-se que Uranie tinha-se tranqüilamente apegado a um caldeirão de lagostins, como para
limpar um pouco os dentes...

Depois desses alimentos escolhidos, embora faltando um pouco de cozidos, as megeras quiseram
terminar seu festim com algumas guloseimas. Trêmulos, batendo os dentes, os escravos lhes serviram um
dilúvio de sobremesas: bolos frios, arroz doce à imperadora, doces de avelãs, ilhas flutuantes, dólares,
cremes diversos, Ruy Blas, palmeiras, sacristães, brigadeiros, negras em camisola, borboletas, bolos de
Rainha de Sabá, empadão recheado, laranjas-surpresa, bananas assadas, pêssegos amassados. Saciada e
distraída Uranie sentou-se sobre esse suculento bolo de chocolate, feito com ovos e leite, que se serve com
biscoitos às colheradas e creme batido e que se chama <<sonho>>.

Pênis murcho

Ninguém se preocupou com a sorte do rapaz do qual não restaram vestígios depois da orgia das
bruxas. As donas dos destinos dos homens não recuavam diante de nada. Iam até o fim de seu prazer, com
fúria, com paixão e pouco lhes importava que os homens morressem por causa delas, por elas.

I sentia que seu fim se aproximava. Sentia-o confusamente, intuitivamente, e seu coração
apertava-se de angústia. Se tudo devia terminar, se ele devia separar-se de Gaetane, a morte não o
amedrontava. Ele a desejava, até. Mas, precisamente, ela não lhe deu a morte e isto foi pior do que a
morte.

Um dos escravos tinha morrido enforcado. As mulheres tinham ouvido dizer que o enforcamento
fazia, automaticamente, com que o homem entrasse em ereção. Certa vez que um pequeno grupo dentre
elas tinha-se divertido durante todo um dia a desfrutar de um jovem por todos os meios e a bombar-lhe de
tal modo o esperma que não havia nada que o fizesse enrijecer de novo, elas fizeram uma corda com suas
calças de seda, passaram-na em torno do seu pescoço e o penduraram no teto da grande sala.
Imediatamente se produziu uma ereção e logo uma jovem mulher saltou para se agarrar ao enforcado e
engolfar seu pênis em sua vulva. As outras o balançaram e o gozo desta mulher com o agonizante foi
sublime. Todas as outras o usaram da mesma forma e não se detiveram senão quando a língua do cadáver,
inchada e azulada, pendeu até o pescoço e que seu pênis ficou inerte.

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Outros rapazes foram castrados. I poderia desejar um tal castigo. Teria de boa vontade oferecido
toda a sua bagagem genital a Gaetane para que ela a esmagasse entre dois tijolos. Ter-se-ia assim libertado
de ser um homem, o que o deixava aterrorizado. Mas Gaetane decidira de modo diferente e o suplício que
ela o fez sofrer foi bem pior.

Houve um que uma mulher fez vir para junto dela. Estava num estado de louca superexcitação. Ela
lhe ordenou que a fizesse gozar e ele se prestou logo ao seu dever de satisfazê-la. Mas, assim que ele
aventurou seu sexo no interior do estreito reduto, sentiu dentes. Bem que ele ouvira falar de <<vagina
dentata>>, mas pensava que fosse lenda. Ficou completamente aterrorizado por ter realmente que
enfrentar uma vagina dentata. Quis retirarse, mas a mulher-demônio, que ria como uma louca, o manteve à
força contra ela. Ele não se moveu mais; isto não perturbou a mulher que se mexia pelos dois. À medida
que -seu gozo se fazia mais forte, a vagina se contraía e o rapaz estremecendo sentia o estojo denteado
apertar-se perigosamente. Quando a mulher teve um espasmo triunfante, uma última convulsão, ela moeu
literalmente o pênis entre os seus maxilares vaginais. O jovem escravo avo libertado tornou a cair sobre o
leito seu membro ficara na vagina. Mas, o que foi ainda mais terrível do que o momento da castração, foi
quando a sua dona mostrou ao eunuco esgotado o vergonhoso artifício que havia usado: uma dentadura
feita no tamanho da vagina e colada às suas paredes...

Uma outra mulher concedeu-se a si mesma um imenso prazer, por muito tempo contido. Ela fez vir
o rapaz que mais lhe agradava naquele antro, fê-lo deitar-se sobre uma mesa onde o amarrou. Com uma
faca de cozinha com o fio estragado, que lhe servira para descascar batatas, ela cortou, em tiras finas, o
pênis do jovem escravo, em rodelas. Aplicadamente, ela fez três cortes na glande e continuou a cortar
assim inteiramente entregue ao seu trabalho que a prendia e apaixonava, ela não prestou atenção aos urros
nem aos rios de sangue. Quando não restou senão um pequeno pedaço de alguns centímetros, ela percebeu
de súbito que sua vitima ia morrer. Ela se lembrou então de costumes bárbaros de tribos africanas que
praticam na puberdade um corte longitudinal do sexo e detêm a hemorragia com cinzas quentes, Ela fez
trazerem cinzas e aplicou-as sobre a ferida. O rapaz foi salvo; ele sobreviveu, acamado, roído pela doença,
a febre, a decomposição. De tempos a tempos, sua dona vinha fazerlhe uma visita em seu leito de dor e,
com um erótico strip-tease, obrigava-o a enrijecer o que lhe restava de pênis, seu minúsculo cabo que se
erguia, fazendo, a cada vez, brotar o sangue de novo.

Uma outra tinha introduzido em sua vagina um tubo ao longo do qual estavam fixadas lâminas de
barbear, inclinadas para o fundo. Quando seu escravo favorito a penetrou, não sentiu no início mais do que
um roçamento esquisito e uma dor aborrecida. Mas quando ele se retirou, seu sexo, raspando contra as
lâminas, foi tão bem recortado e dilacerado que não restou dele mais do que um mingau.

Mas o suplício final que Gaetane reservava a I era bem pior. Ela não lhe fez nenhum mal físico,
sabendo que ele estava pronto para tudo, que tinha por antecipação aceito toda humilhação, toda
mutilação, que fizera dom de seu corpo. Simplesmente, ela o obrigou a vê-la fazer o amor com uma outra
mulher...

Desde que I estava encerrado naquele antro, tinha constantemente ouvido Gaetane gritar de gozo
sem ele, e tinha ficado torturado. Nunca ele a tinha visto nesses momentos. E o espetáculo que foi
finalmente obrigado a ver sem poder agir o paralisou de terror. O gozo de uma mulher com outra mulher
não se pode dizer, não se deve dizer. Ele faria explodir o mundo, ele o reduziria a pó. As duas mulheres
não se preocuparam sequer em cortar o pênis de I. Mas diante desse gozo muito forte para ele, diante

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dessas duas mulheres unidas, ele soube realmente que seu órgão era inútil. Elas não lhe dedicaram um
olhar ao menos. I partiu com o pênis murcho, envergonhado como uma raposa que uma galinha tivesse
agarrado.

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