A arterite viral dos equinos é uma enfermidade infecciosa causada por um vírus do gênero
Arterivirus, membro da família Arteriviridae (PORTERFIELD et al., 1978; CAVANAGH et al.,
1994; CAVANAGH et al., 1997).
O mecanismo do abortamento causado pela infecção pelo vírus não foi, ainda, esclarecido
de forma definitiva. COIGNOUL & CHEVILLE (1984) e DEL PIERO (2000) sugeriram que a
morte fetal poderia ocorrer “in utero” durante a fase aguda da infecção, e que o
abortamento seria, provavelmente, consequente às lesões no útero determinadas por
diminuição do suprimento sanguíneo destinado à placenta e ao feto, ou pela compressão
mecânica exercida pelo edema no miométrio sobre os vasos sanguíneos, como também
pela distensão tecidual, por perda da tonicidade do miométrio.
Nenhuma lesão macro ou microscópica significante foi descrita na maioria dos fetos
abortados em casos clínicos ou por infecção experimental do vírus (DOLL et al., 1957b;
JONES et al., 1957; COIGNOUL & CHEVILLE, 1984; COLE et al., 1986). No entanto, lesões
vasculares características e evidentes foram observadas na placenta, cérebro, fígado, e
baço, como também alterações anatomo-patológicas de menor extensão nos pulmões de
dois casos clínicos de abortamento determinados pelo referido vírus (CARMAN et al.,
1988; VAALA et al., 1992).
PORTERFIELD et al. (1978), estabeleceu que o diagnóstico virológico deveria ser feito pelo
isolamento do vírus de amostras colhidas, com zaragatoas, na região nasofaringeana ou a
partir de amostras de sangue colhidas com anticoagulante; entretanto, o vírus poderia,
também, ser isolado a partir de fragmentos de tecidos dos fetos abortados, de fluidos
placentários, da urina, do leite, bem como sêmen de garanhões infectados (SWERCZEK &
ROBERTS, 1990), pois esse vírus se replica em culturas de células de rim de coelho ou de
hamster e de outros tecidos de origem equina, principalmente se fossem obtidos de fetos
(McCOLLUM et al., 1961; McCOLLUM et al., 1962a; McCOLLUM et al. , 1962b; WILSON et
al., 1962).
Após o isolamento, o vírus deve ser identificado por microscopia eletrônica, por testes de
vírus neutralização ou de imunofluorescência (CRAWFORD & HENSON, 1973).
Levantamentos epidemiológicos têm demonstrado a ocorrência da infecção de equinos
pelo vírus da arterite em países da América do Norte, Europa, África ou em regiões bem
definidas como na Austrália, Nova Zelândia e Oriente Médio. Descrições de surtos
epizoóticos foram feitas em poucos países, podendo destacar aqueles caracterizados no
Canadá, nos Estados Unidos, na Polônia e na Inglaterra.
O primeiro surto de Arterite Viral dos Equinos ocorreu nos EUA em 1953, em uma
propriedade em Bucyrus, Ohio-EUA, quando se caracterizou um vírus como sendo o
responsável por casos de abortamento e quadro respiratório (DOLL et al., 1957a). No
Brasil, o primeiro surto de Arterite Viral dos Equinos ocorreu no Município de Ibiúna,
Estado de São Paulo, numa propriedade de criação de animais da raça Mangalarga
Paulista, onde foi observado abortamento em uma égua que estava no 5o mês de
gestação.
Outros onze animais apresentaram corrimento nasal e ocular, blefaroedema, alguns deles
com edema de ventre e membros, além de orquite em dois machos que compunham o
grupo (FERNANDES et al., 1999). Várias enquetes sorológicas têm demonstrado a
presença da infecção pelo VAE em várias regiões do mundo, com prevalência bastante
variada. Em alguns países essa prevalência é baixa, como no Japão (FUKUNAGA et al.,
1994), na Inglaterra (CHIRNSIDE, 1992) e no Irã (MAASOMMEH, 1991). Em outros é
bastante alta como no Marrocos (MORAILLON et al., 1978), na Itália (CAVIRANI et al.,
1990), no Canadá (ELAZHARY et al., 1990), na Austrália (HUNTINGTON et al., 1990), na
Áustria (KÖLB et al., 1991) e na Polônia (GOLNIK & PAWESKA, 1991).
Em alguns países onde a criação de equinos e seu trânsito para realização de provas
hípicas é bastante intenso a prevalência da arterite viral dos equinos apresenta números
significativos como nos Estados Unidos, onde McCUE et al. (1991) relataram 2 índice de
13,6%, na França, de 18,5% (MORAILLON & MORAILLON, 1978), na Argentina, 11,9%
(NOSETTO et al., 1984) e na Alemanha de 8,7% (HERBST et al., 1992).
Diagnóstico
Podemos utilizar a técnica de reação em cadeia pela polimerase (PCR) para a detecção do
RNA viral. As técnicas moleculares têm a vantagem de serem mais sensíveis, além do
mais, às vezes a qualidade do material enviado ao isolamento viral é imprópria para o
isolamento viral, principalmente os de feto abortado.
Para detectar anticorpos específicos contra o vírus da arterite equina, utiliza-se a técnica
de soroneutralização em microplacas, que é o teste padrão e o único aceito
internacionalmente para a autorização de comércio de animais (importação e exportação).
O resultado desta prova demora 4 dias e é considerado positivo quando o título for igual
ou superior a 4. No caso de garanhões soropositivos, deve-se determinar se este é
portador ou não do vírus no sêmen (infecção persistente). O vírus pode ser detectado em
amostras de sêmen através do isolamento viral ou da técnica de RT-PCR.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARMAN, S.; RAE, C.; DUBOVI, E. Equine arteritis virus isolated from a Standardbred foal
with pneumonia. Canadian Veterinary Journal, v. 29, n. 11, p. 937, 1988. CAVANAGH,
D. Nidoviridales: a new order comprising Coronaviridae and Arteriviridae. Archives of
Virology, v. 142, p. 627-33, 1997.
CAVANAGH, D.; BRIEN, D. A.; BRINTON, M.; ENJUANES, L.; HOLMES, K. V.; HORZINEK,
M. C.; LAI, M. M. C.; LAUDE, H.; PLAGEMANN, P. G. W.; SIDDELL, S.; SPAAN, W. J. M.;
TAGUCHI, F.; TALBOT, P. J. Revision of the taxonomy of the Coronavirus, Torovirus and
Arterevirus genera. Archives of Virology, v. 135, n. 2, p. 227-37, 1994.
CAVIRANI, S.; ALLEGRI, G.; FLAMMINI, C. F. Anticorpi verso i virus della rinopolmonite
(EHV-1), dell'arterite virale e dell'influenza nel siero di cavalli sportivi e da competizione.
Obiettivi e Documenti Veterinari, v. 11, n. 4, p. 43-6, 1990.
COIGNOUL, F. L.; CHEVILLE, N. F. Pathology of maternal genital tract, placenta, and fetus
in equine viral arteritis. Veterinary Pathology, v. 21, n. 3, p. 333-40, 1984.
COLE, J. R.; HALL, R. F.; GOSSER, H. S.; HENDRICKS, J. B.; PURSELL, A. R.; SENNE, D.
A.; PEARSON, J. E.; GIPSON, C. A. Transmissibility and abortogenic effect of equine viral
arteritis in mares. Journal of the American Veterinary Medicine Association, v. 189,
n. 7, p. 769-71, 1986.
CUNHA, E.M.S.; FERRARI, C.I.L.; LARA, M.C.C.S.H.; SILVA, L.H.Q. Presença de anticorpos
contra o Herpesvírus equino 1 (HVE-1) em equinos do noroeste do Estado de São Paulo.
DEL PIERO, F. Equine viral arteritis. Vet. Pathol., v. 37, p. 287-296, 2000. DIEL, D. G.;
ALMEIDA, S. R.; WEIBLEN, R.; FRANDOLOSO, R.; ANZILIERO, D.; KREUTZ, L. C.; GROFF,
F. H. S.; FLORES, E. F. Prevalência de anticorpos contra os vírus da influenza, da arterite
viral e herpesvírus em eqüinos do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Ciência Rural,
Santa Maria, v.36, n.5, p.1467-1473, 2006.
DOLL, E. R.; BRYANS, J. T.; McCOLLUM, W. H.; CROWE, M. Isolation of a filterable agent
causing arteritis of horses and abortion by mares. Its differentiation from the equine
abortion (influenza) virus. Cornell Veterinarian, v. 47, n. 1, p. 3-41, 1957a.
ELAZHARY, Y.; GOULARD, C.; VRINS, A.; FASSI-FIHRI, O. Artérite virale équine au
Quebec: étude sérologique. Le Médecin Vétérinaire Du Québec, v. 20, n. 1, p. 25-7,
1990.
HEINEMANN, M. B.; CORTEZ, A.; SOUZA, M. C. C.; GOTTI, T.; FERREIRA, F.; HOMEM, V. S.
F.; FERREIRA NETO, J. S.; SOARES, R. M.; SAKAMOTO, S. M.; CUNHA, E.M.S.;
RICHTZENHAIN, L.J. Soroprevalência da anemia infecciosa eqüina, da arterite viral dos
eqüinos e do aborto eqüino a vírus no município de Uruará, PA, Brasil. Brazilian Journal
of Veterinary Research and Animal Science, v.39, n.1, p.50- 53, 2002.
HUNTINGTON, P. J.; FORMAN, A. J.; ELLIS, P. M. The occurrence of equine arteritis virus in
Australia. Australian Veterinary Journal, v. 67, n. 12, p. 432-5, 1990.
JONES, T. C. Clinical and pathologic features of equine viral arteritis. Journal of the
American Veterinary Medicine Association, v. 155, n. 2, p. 315-7, 1969.
JONES, T. C.; DOLL, E. R.; BRYANS, J. T. The lesions of the equine viral arteritis. Cornell
Veterinarian, v. 47, n. 1, p. 52-68, 1957.
LARA, M.C.C.S.H.; BARROS FILHO, I.; VIANA, F.; GREGORY, L.; CUNHA, E.M.S.; NASSAR,
A.F.C.; BIRGEL, E.H.; FERNANDES, W.R. Pesquisa de anticorpos contra o vírus da arterite
dos equinos (VAE) e herpes equino tipo 1 (HVE-1) em cavalos criados em Curitiba, PR.
A Hora Veterinária, v. 23, n.135, p. 51-53, 2003a. LARA, M.C.C.S.H.; CUNHA, E.M.S.;
FERRARI, C.I.L.; GREGORY, L.; NASSAR, A.F.C.; SILVA, L.H.Q.; FERNANDES, W.R.;
BIRGEL, E.H. Ocorrência da infecção pelo vírus da arterite dos equinos em cavalos criados
na região de Araçatuba, SP.
Manual of standards for diagnostic tests and vaccines. World Organisation for
Animal Health. 4th ed. 2000. Disponível em:
<http://www.oie.int/eng/normes/mmanual/A_00077.htm>. Acesso em: 10 set. 2003.
PORTERFIELD, J. S.; CASALS, J.; CHUMAKOV, M. P.; GAIDAMOVICH, S. Y.;HANNOUN, C.;
HOLMES, I. H.; HORZINEK, M. C.; MUSSGAY, M.; OKERBLOM, N.; RUSSELL, P. K.; TRENT,
D. W. Togaviridae.
VAALA, W. E.; HAMIR, A. N.; DUBOVI, E. J.; TIMONEY, P. J.; RUIZ, B. Fatal, congenitally
acquired infection with equine arteritis virus in a neonatal Thoroughbred. Equine
Veterinary Journal, v. 24, n. 2, p. 155-8, 1992. 8