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Noções de lógica proposicional clássica

Domingos Faria

A lógica silogística aristotélica apenas permite analisar a validade de argumentos com


proposições universais e particulares que estejam dispostas em forma de silogismo. Mas
isso é muito limitador uma vez que a grande maioria dos argumentos assenta em
operadores proposicionais, como os seguintes: “se… então” (condicional), “se e
somente se” (bicondicional), “ou” (disjunção), “e” (conjunção), “não” (negação). Ora,
para testar a validade de argumentos com este tipo de operadores precisamos da lógica
proposicional clássica. Este tipo de lógica remonta aos estoicos, mas desenvolveu-se
muito no século XX. É designada de “clássica” para se distinguir das restantes lógicas
contemporâneas, como a dos predicados e a modal. Vejamos dois argumentos que
podem ser analisados quanto à sua validade com lógica proposicional mas não com
lógica silogística:

[Argumento 1]
P1 – Se Deus existe, então não pode existir mal no mundo.
P2 – Ora, existe mal no mundo.
C – Logo, Deus não existe.

[Argumento 2]
P1 – Se não houver Deus, a vida deixa de ter sentido.
P2 – Mas, a vida tem sentido.
C – Logo, Deus existe.

É fácil ver o que difere estes dois argumentos: um tenta provar que Deus não existe e o
outro tentar provar o contrário. Mas, o que há de comum nestes dois argumentos? Na
lógica proposicional ignora-se o conteúdo específico e atende-se às operações lógicas
existentes. Cada proposição elementar que constitui os argumentos é representada
pelas letras P, Q, R e sucessivamente que se chamam variáveis proposicionais. Por
exemplo, no argumento 1 o P representa a proposição elementar “Deus existe” e o Q
representa “a não existência de mal no mundo”. Já no argumento 2 o P representa “Deus
não existe” e o Q representa “a vida não tem sentido”. Esta tarefa é designada de
dicionário. Agora tendo em conta o dicionário e se abstrairmos o conteúdo dos
argumentos 1 e 2, constataremos que eles partilham a mesma forma lógica: se P, então
Q; não Q; Logo, não P. Nesta forma argumentativa encontramos dois operadores
verofuncionais ou conectivas proposicionais, que são o “se… então” e o “não”. É
importante saber que na lógica proposicional clássica existem várias conectivas
proposicionais com os seus respetivos símbolos lógicos:
“Não” – negação, símbolo: ¬
“E” – conjunção, símbolo: ∧
“Ou” – disjunção, símbolo: ∨
“Ou…ou” – disjunção exclusiva, símbolo: ⊻
“Se…então” – condicional, símbolo: →
“Se e só se” – bicondicional, símbolo: ↔
Além destes símbolos pode-se utilizar o martelo semântico ╞ ou o símbolo de conclusão
∴ para substituir o “logo” ou o indicador de conclusão; e as várias proposições são
separadas por vírgulas (,). Atendendo a isto, pode-se escrever os argumentos 1 e 2 na
linguagem da lógica proposicional clássica da seguinte forma:
P→Q, ¬Q ╞ ¬P
Mas será esta uma forma lógica válida? Para isso temos primeiro de ver as funções de
verdade expressas por cada conectiva proposicional:
Negação: inverte o valor de verdade.
Conjunção: só é verdadeira se as proposições elementares que a
compõem forem ambas verdadeiras.
Disjunção: só é falsa se as proposições elementares que a compõem
forem ambas falsas.
Disjunção exclusiva: só é verdadeira quando uma proposição
elementar é verdadeira e a outra falsa.
Condicional: só é falsa se a antecedente for verdadeira e a consequente
for falsa.
Bicondicional: só é verdadeira se os seus dois lados tiverem o mesmo
valor de verdade.
Com estes princípios podem-se formar as tabelas de verdade que representam as várias
conectivas proposicionais:
Tendo em conta estas tabelas de verdade já conseguimos examinar a validade dos
argumentos 1 e 2. Para isso construímos um inspetor de circunstâncias, ou seja um
dispositivo gráfico com uma sequência de tabelas de verdade que mostra o valor de
verdade de cada premissa e da conclusão em todas as circunstâncias possíveis. Se existir
pelo menos uma circunstância em que todas as premissas são verdadeiras e a conclusão
é falsa, então o argumento é inválido. Caso contrário, o argumento é válido. Então, serão
válidos ou inválidos os argumentos 1 e 2?

Após a construção do inspetor de circunstâncias é preciso questionar: será que existe


alguma circunstância, ou seja alguma linha, em que todas as premissas sejam
verdadeiras e a conclusão falsa? Se sim, o argumento é inválido. Se não, o argumento é
válido. Nesta forma lógica, na quarta linha constata-se que todas as premissas são
verdadeiras mas a conclusão também é verdadeira, por isso esta forma argumentativa
é válida. Só seria inválido se existisse uma linha em que todas as premissas fossem
verdadeiras e a conclusão falsa. Como não é esse o caso, então podemos dizer que os
argumentos 1 e 2 são válidos. Aliás, estes argumentos têm a forma válida de modus
tollens; ou seja, é a forma da negação da consequente.
Mas, vejamos uma outra forma lógica que, em vez de negar a consequente, afirma a
consequente. Podemos escrever esta forma lógica do seguinte modo: P→Q, Q ╞ P. Será
válido um argumento estruturado deste modo? Para ver isso temos novamente que
recorrer a um inspetor de circunstâncias:
Ao examinar este inspetor de circunstâncias vemos que existe uma situação em que
todas as premissas são verdadeiras e a conclusão é falsa (na terceira linha). Portanto,
esta forma argumentativa é inválida. Aliás, este tipo de forma argumentativa comete a
falácia da afirmação da consequente e qualquer argumento que se faça com esta
estrutura será um mau argumento, pois a conclusão não se segue das premissas.
Consideremos outro argumento, que pode surgir na linguagem natural, para se
determinar a sua validade:
Penso que o ensino da filosofia deve promover uma discussão crítica.
Isto porque o ensino da filosofia ou promove uma discussão crítica, ou
tem horror às discussões. Será um ensino que formará cidadãos
críticos, criativos e autónomos caso se pretenda promover uma
discussão crítica. Será um ensino que formará cidadãos acríticos,
dogmáticos e amorfos se tiver horror às discussões. Porém, é errado
formar cidadãos com estas últimas características.
Primeiro, é necessário representar canonicamente o argumento, deixando claro quais
são as premissas e qual é a conclusão:
P1 – O ensino da filosofia ou promove uma discussão crítica, ou tem
horror às discussões.
P2 – Se pretende promover uma discussão crítica, então será um
ensino que formará cidadãos críticos, criativos e autónomos.
P3 – Se tem horror às discussões, então será um ensino que formará
cidadãos acríticos, dogmáticos e amorfos.
P4 – Mas, é errado formar cidadãos acríticos, dogmáticos e amorfos.
C – Logo, o ensino da filosofia deve promover uma discussão crítica.
Segundo, é preciso fazer a interpretação ou construir o dicionário que capte de modo
adequado as proposições elementares presentes no argumento:
P = O ensino da filosofia promover uma discussão crítica.
Q = O ensino da filosofia ter horror às discussões.
R = Formar cidadãos críticos, criativos e autónomos.
S = Formar cidadãos acríticos, dogmáticos e amorfos.
Terceiro, com este dicionário já é possível formalizar o argumento na linguagem da
lógica proposicional clássica:
P⊻Q
P→R
Q→S
¬S
∴P
Quarto, o passo seguinte é construir um inspetor de circunstâncias. Atenção ao seguinte
pormenor: as linhas dos inspetores de circunstâncias variam consoante o número de
variáveis proposicionais, de acordo com a fórmula 2 (em que “n” representa o número
n

de variáveis). Assim, se “n”=2, ficamos com 4 linhas (2x2); se “n”=3, então ficamos com
8 linhas (2x2x2); se “n”=4, ficamos com 16 linhas (2x2x2x2); se “n”=5, ficamos com 32
linhas (2x2x2x2x2); e assim sucessivamente… Com esta informação já se pode construir
adequadamente o inspetor de circunstâncias:

Quinto, por último resta fazer a análise do inspetor de circunstância para determinar se
o argumento é válido ou inválido. O argumento que se está a examinar é válido, pois
não existe qualquer circunstância (linha) em que todas as premissas sejam verdadeiras
e a conclusão falsa.

Um exercício para o leitor:


Formalize e examine a validade do seguinte argumento:
Temos o dever de promover o bem supremo. Se o bem supremo não
fosse possível, não teríamos o dever de o promover. Se Deus não
existisse, o bem supremo não seria possível. Logo, Deus existe.
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