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22/09/2018 A Inquisição Medieval

Inquisição

A Inquisição Medieval
Esgotados todos os recursos para deter a heresia cátara, a Idade Média
viu surgirem os tribunais da Inquisição. Mas o que foram eles? Quais eram
as bases jurídicas e teológicas a orientar a conduta e os procedimentos
inquisitoriais? Por que a Igreja inclusive canonizou santos que foram
inquisidores?

Nesta aula de nosso curso, saiba por que, olhando para o contexto
histórico em que nasceu, a Inquisição, longe da "lenda negra" construída a
seu respeito, representou um verdadeiro avanço em seu tempo.

Uma Igreja em reascensão. – Quando começou a Idade Média, a Igreja foi a única instituição a
permanecer de pé diante da derrocada do Império Romano e subsequente invasão dos
bárbaros. O renascimento carolíngio tentou trazer de volta a cultura antiga e cristianizar a
Europa, mas a invasão dos vikings, ainda durante o reinado de Carlos Magno, freou todos os
seus esforços civilizatórios. No auge da decadência medieval, o século X, chamado também de
"século de ferro" ou "século obscuro", viu o trono do Apóstolo Pedro ser vendido a homens
luxuriosos e indignos, regentes de um clero laxo e dissoluto.

Na virada do milênio, enfim, a situação eclesiástica começou a mudar de figura. Além da


purificação moral e intelectual no seio da própria Igreja – agraciada com a a fundação das
escolas monásticas e a reforma religiosa de Cluny –, o poder religioso começou a se ver livre das
amarras do braço secular. É emblemático, nesse sentido, o episódio da peregrinação do Rei
Henrique IV a Canossa, para reconciliar-se com o Papa São Gregório VII: apesar de seus pecados
e conflitos posteriores com a Igreja, o monarca germânico se prostrava diante do poder das
chaves (cf. Mt 16, 19) e da supremacia espiritual do sucessor de São Pedro.

Enquanto pelejava com a própria reconstrução, no entanto, a Igreja se deparou com uma nova
ameaça: o crescimento e disseminação da seita albigense (da palavra "Albi", cidade da França na
qual se originou a heresia cátara). Herdeiros dos gnósticos da Antiguidade, os cátaros
começaram a influenciar áreas bem desenvolvidas comercialmente, usando a ignorância do
povo para falsear a fé verdadeira e fazendo ruir o tecido social e político da Europa medieval.

Bernardo e Domingos pregam aos hereges. – Como reação ao crescimento albigense, no fim do
século XI e alvorecer do século XII, a própria população começou a agir contra os hereges, como
foi visto na primeira aula [1].
Na verdade, a expansão dessa heresia pegou toda a cristandade de surpresa. Diz a respeito o
padre Shannon que, "por estranho que possa parecer, a própria Igreja no Ocidente tinha pouca
experiência em tratar com seitas heréticas grandes e organizadas" [2]. Heresias, de fato, sempre

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existiram; mas o catarismo, com sua estrutura bem montada – que se infiltrava na Igreja e
chegava a constituir um "clero" paralelo –, era uma novidade.

Assim, para resolver a questão, a Igreja começou como que às apalpadelas. Iniciou com o que
São João Crisóstomo mais vivamente recomenda em tempos de crise: o "aconselhamento pela
palavra" [3].

Com um clero secular em sua grande parte corrupto e mal formado, os primeiros enviados a
pregar aos hereges foram os monges, muito embora a sua mobilidade fosse limitada por conta
de seu estado de vida. São Bernardo de Claraval († 1153), por exemplo, em muitos dos seus
famosos sermões sobre o Cântico dos Cânticos [4], procurou convencer os cátaros da falsidade
de sua doutrina e da verdade da fé católica. Mesmo a sua grande santidade e eloquência,
porém, não obtiveram êxito para debelar de vez os sectários albigenses.

No condado de Provence, ao sul da França, impressionava não tanto a opulência eclesiástica –


na região, chegava a haver bispos em dificuldades financeiras –, mas a adesão em massa de
senhores feudais à heresia cátara. Foi então que Deus suscitou o grande padre espanhol São
Domingos de Gusmão († 1221), cuja Ordem dos Pregadores, unindo a contemplação da Verdade
à pregação da fé [5], foi muito importante na conversão dos albigenses da região.

Soluções insuficientes. – Só a pregação, porém, não bastava. O Papa Lúcio III († 1185), no Sínodo
de Verona, condenou os cátaros e:

"todos aqueles que, a propósito do sacramento do corpo e do sangue do Senhor, da


confissão dos pecados, do matrimônio ou dos outros sacramentos eclesiásticos não
temem pensar ou ensinar diferentemente daquilo que prega e observa a santa Igreja
Romana; e, de modo geral, todos aqueles que a mesma Igreja romana, ou, nas suas
dioceses, os respectivos bispos com o conselho dos clérigos, ou os próprios clérigos,
em caso de sede vacante, com o conselho, se necessário, dos bispos vizinhos, têm
julgado hereges." [6]

Em um esforço com o monarca germânico Frederico Barba-Roxa († 1190), o mesmo Pontífice


instituiu, por meio de vários decretos, a chamada Inquisição episcopal, que pretendia extirpar as
heresias através da visita dos Ordinários locais às suas dioceses. O plano, infelizmente, não saiu
do papel.

Quando Pierre de Castelnau, um legado pontíficio de Inocêncio III († 1216) – o Papa do IV


Concílio de Latrão [7] –, foi assassinado no dia 14 de janeiro de 1208, a história ganhou um novo

rumo. O suspeito do crime, o conde Raimundo VI, de Toulouse († 1222), era acusado também de
favorecer e acobertar os albigenses – um fenômeno comum na região meridional da França.

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Frente a esse problema, então, o Papa respondeu com uma iniciativa controversa: a Cruzada
Albigense (1209-1229). Impulsionados pela garantia de indulgência plenária, os senhores do
norte da França armaram os seus exércitos e partiram ao sul da França para combater os
cátaros. As boas intenções de Inocêncio, porém, não foram correspondidas pelos cruzados, que
cometeram saques e atrocidades durante uma guerra que se arrastou por anos a fio. Certas
cifras sobre esse episódio histórico são evidentemente exageradas, mas isso não torna a ação
do Papa menos questionável: há quem sustente, de fato, que ele cometeu um erro gravíssimo,
enquanto outros afirmam que ele não tinha outra opção, senão convocar a dita Cruzada.

A Inquisição no seu mundo. – Finalmente, fracassada a Cruzada, instituiu-se a Inquisição. O


Papa Honório III, sucessor de Inocêncio, logo estabeleceu a pena de morte para os hereges e os
tribunais começaram a adotá-la, além do uso da tortura. A pergunta é: como entender que uma
instituição eclesiástica condenasse as pessoas desse modo?

Para compreender isso, é preciso mergulhar fundo no universo medieval e no contexto em que
se deu a Inquisição. No século XII, o direito estava passando por um processo de revitalização,
seja no âmbito civil, seja no âmbito religioso. Vale lembrar que as invasões bárbaras haviam
levado a Europa a uma verdadeira desordem cultural e práticas terríveis de tortura e execução
se difundiram mui rapidamente pelo continente. Era recorrente, por exemplo – ainda que fosse
condenada por vários Papas [8] –, a prática da ordália, pela qual uma pessoa suspeita de
cometer algum crime era submetida a forças da natureza, "obrigando" uma espécie de "juízo de
Deus".

Antes dos tribunais do Santo Ofício, de fato, o processo de investigação dos crimes era muito
rudimentar. Não havendo direito processual, os juízes dos tribunais civis emitiam sentenças
baseadas tão somente em seu arbítrio, sem a necessidade de provas contundentes para
condenar um réu. A tortura e a pena de morte eram largamente utilizadas como métodos de
punição.

Diante desse quadro, a Inquisição, dando às pessoas o direito de defesa e julgando-as com
cautela, respeito e prudência, representou um verdadeiro progresso humano e jurídico em seu
tempo. É claro que, comparados com o direito moderno, os tribunais eclesiásticos da época
eram absurdos. Mas, olhando para o que era o direito antes e examinando com sinceridade o
contexto medieval, a Inquisição significou realmente uma evolução. Não sem motivo vários
homens ligados a essa instituição foram sabiamente canonizados pela Igreja, como o mártir e
taumaturgo São Pedro de Verona († 1252) e o eminente canonista São Raimundo de Peñafort (†
1275).

Perfil e métodos de um inquisidor. – O famoso inquisidor Bernardo Guy (Bernardus Guidonis,


em latim) († 1331) descreve assim o perfil de um bom inquisidor:

"Ele deve ser diligente e fervoroso em seu zelo pela verdade religiosa, pela salvação
das almas e pela extirpação da heresia. Deve portar-se diante de situações difíceis e
desconfortáveis de modo a nunca perder o controle de si com acessos de raiva ou de

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ódio; nem deve, por outro lado, se render à letargia e à languidão, já que tal torpor
exaure a força de um administrador. O inquisidor deve ser constante e perseverante
nos perigos e adversidades, até a morte. Deve estar disposto a sofrer pela causa da
justiça, nem se precipitando imprudentemente, nem se retraindo vergonhosamente
de medo, já que tal covardia debilita a estabilidade moral. Mesmo permanecendo
inflexível às súplicas e lisonjas dos pecadores, não deve endurecer o seu coração a
ponto de repelir apelos de concessão ou mitigar penitências de acordo com as
circunstâncias que sugerirem o lugar e o tempo, já que tal procedimento cheira mais a
crueldade." [9]

Resta claro que um inquisidor deveria ser virtuoso e meticuloso em seu proceder. As palavras
de Bernardo Guy delineiam um belo modelo de justiça também para os juízes e magistrados do
nosso século.

Quais eram, porém, os procedimentos desses homens?

Os inquisidores procediam da seguinte forma: ao chegar a uma região, proclamavam um


"tempo de graça" e ficavam ali por vários dias, expondo às pessoas a fé católica. Importa
recordar que, nessa época, ainda não havia seminários. Sem uma formação teológica profunda,
não era de se duvidar que muitos clérigos estivessem ouvindo a doutrina da Igreja pela
primeira vez. A primeira etapa do processo consistia, portanto, na persuasão. Nesse período,
aconteciam várias conversões, já que muitos dos inquisidores, formados na escola dominicana,
pregavam com sabedoria e eloquência.

Colocado diante da verdadeira fé, um grande número de pessoas se apresentava aos frades,
assumia os seus erros, pedia uma penitência e voltava para o seio da Igreja. Os próprios
membros mais "puros" do clero cátaro confessavam a sua heresia, embora não quisessem
ceder. Também eram recolhidas denúncias e acusações, as quais eram devidamente
averiguadas e julgadas diante de um grupo de testemunhas. Ainda assim, o número de
condenações era muito baixo. Bernardo Guy, por exemplo, dos mil casos que julgou, só proferiu
40 condenações, das quais muitas se reduziam a penitências.

Geralmente, eram entregues ao poder civil e condenados à pena capital somente os reincidentes,
isto é, pessoas que voltavam à heresia, mesmo depois de um tempo de penitência. O
fundamento para essa praxe era retirado das próprias Sagradas Escrituras (cf. Tt 3, 10-11: "Após
advertir um herege pela primeira e segunda vez, evita-o sabendo que é um pervertido"), as
quais Santo Tomás comentava do seguinte modo:

"A respeito dos heréticos, há duas coisas a considerar: uma da parte deles e outra da
parte da Igreja. Da parte deles, há um pecado pelo qual mereceram não somente
serem excluídos da Igreja pela excomunhão, mas também do mundo pela morte. É

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muito mais grave corromper a fé, que é vida da alma, do que falsificar o dinheiro, que
serve à vida temporal. Ora, se os falsificadores de moeda ou outros malfeitores logo
são justamente condenados à morte pelos príncipes seculares, com maior razão os
heréticos desde que sejam convencidos de heresia, podem não só ser excomungados,
mas justamente serem condenados à morte."
"Do lado da Igreja, ao contrário, ela usa de misericórdia em vista da conversão dos que
erram. Por isso, ela não condena imediatamente, mas só 'depois da primeira e
segunda advertência', como ensina o Apóstolo. Se, porém, depois disso, o herege
permanece ainda pertinaz, a Igreja, não esperando mais que ele se converta, provê à
salvação dos outros, separando-o dela por uma sentença de excomunhão; e
ulteriormente ela o abandona ao juízo secular para que seja excluído do mundo pela
morte." [10]

Embora pareça estranho ao homem moderno um discurso desse gênero, os tribunais da Igreja
eram realmente brandos e misericordiosos, se comparados aos excessos da justiça civil. Tanto é
verdade que,

"Lendo os autos dos processos inquisitoriais, mais de uma vez encontramos bandidos
comuns que, surpreendidos pela polícia no ato de violação, de roubo, de assalto à mão
armada, rapidamente inventavam uma motivação religiosa para explicar o seu
procedimento. Por quê? Simplesmente para cair na esfera da justiça da Inquisição e
não da justiça civil ou temporal. Pois a justiça inquisitorial garantia pelo menos uma
investigação, em vez da pena de fogueira imediata, a qual – como a pena de morte ou
o decepamento da mão – não foi absolutamente invenção dos inquisidores." [11]

Olhando para os fatos, pois, a Inquisição medieval foi realmente um grande avanço na sua
época. Certas realidades – como a pena capital e o uso, ainda que mitigado, da tortura –
retratam os limites da época, mas não tiram o mérito da Igreja em conformar o direito barbárico
do primeiro milênio à consciência do Evangelho, ainda que de modo lento e gradual.

Referências

1. Cf. PETERS, Edward. Heresy and Authority in Medieval Europe. Philadelphia:


University of Pennsylvania Press, 1980. p. 74.

2. SHANNON, Albert C.. The Medieval Inquisition. Michael Glazier/Liturgical Press, 1991.
p. 44.

3. De Sacerdotio, IV, 3 (PG 48, 665).

4. Cf. Sermones super Cantica Canticorum (PL 183, 785-1198).

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5. Cf. Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, II-II, q. 188, a. 6: "Assim como é maior
iluminar do que simplesmente brilhar, maior é dar aos outros o que foi contemplado do
que simplesmente contemplar."

6. Denzinger-Hünermann, 761.

7. Cf. Denzinger-Hünnermann, 800-820.

8. Cf., v.g., Denzinger-Hünnermann, 670, 695.

9. SHANNON, Albert C.. The Medieval Inquisition. Michael Glazier/Liturgical Press, 1991.
p. 71.

10. Suma Teológica, II-II, q. 11, a. 3

11. KONIK, Roman. Inquisição: Mito e realidade histórica. [Setembro, 2006]. Catolicismo.

Bibliogra a

BARBER, Malcolm. The Cathars: Dualist Heretics in Languedoc in the High Middle
Ages. New York: Routledge, 2000. 304p.

CARDINI, Franco. L'Inquisizione. Firenze, Giunti, 1999. 62p.

DENZINGER, Heinrich. Compêndio dos símbolos, de nições e declarações de fé e


moral. São Paulo: Paulinas/Edições Loyola, 2007. 1467p.

JARRETT, Bede. Life of St. Dominic. Image, 1995. 160p.

KONIK, Roman. Inquisição: Mito e realidade histórica. [Setembro, 2006]. Catolicismo.

PETERS, Edward. Heresy and Authority in Medieval Europe. Philadelphia: University of


Pennsylvania Press, 1980. 312p.

PETERS, Edward. Torture. Expanded Edition. University of Pennsylvania Press, 1996.


304p.

SHANNON, Albert C.. The Medieval Inquisition. Michael Glazier/Liturgical Press, 1991.
182p.

VIDMAR, John, O.P.. 101 Questions and Answers on the Crusades and the
Inquisition: Disputed Questions. Paulist Press, 2013. 128p.

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