Uma bela jovem que chupa pedras — como se fosse um rosário — para relembrar
acontecimentos e sentimentos, que lê westerns e crê que sua mãe foi substituída pela
Virgem Maria é a neta amorosa que vai transformar uma pequena aldeia alentejana em
Jerusalém para que sua avó moribunda possa visitar a Terra Santa.
Transitam personagens como uma inglesa que dorme dentro de uma baleia, um
ateu convicto, um hindu herege e um pai-de-santo em uma história surreal, irônica e
comovente, sobre a capacidade de transformação do ser humano e sobre coisas
fundamentais da vida (e da morte): o amor, o sacrifício, e a cerveja.
“O pai era um homem baixo e franzino, mas surpreendentemente possante, católico, seco
e capaz de arrancar árvores com uma mão.” (Cap. 03)
Personagem decadente (Uma ilha cercada de ignorantes por todos os lados a espera de
ser descoberta); só adquire um brilho fugaz com a ajuda de Rosa em seus momentos
finais;
• “Amélia explica que aquele senhor será a salvação de ambas, será como Jesus.”
• “O professor Borja olha para a rapariga. Ela tem sobrancelhas espessas como o
calor da tarde e uns lábios grossos. As pernas são perfeitas, apesar dos pelos que
as cobrem.”
• “Rosa tem duas mamas firmes, acabadas de nascer, e um sinal entre elas, colocado
por Deus.”
Capítulo 73
• “Rosa começa a tornar-se muito parecida com a sua mãe, com as mãos frias como
a porcelana das santas. Vai-se esquecendo de tudo o que importa, como a Mãe de
Deus, que esqueceu que veio do céu. Rosa continua a viver mais ou menos morta.”
Capítulo 74
• “Rosa pronuncia, quando expira e por mera coincidência, as mesmas palavras que
Goethe disse ao morrer: Mais luz. A senhoria apressa-se, meio contrariada, a
acender a lâmpada do teto e a do corredor. Rosa repete ainda mais uma vez:
— Mais luz!
— Está acesa! — protesta a senhoria.
No derradeiro momento, Rosa vê o pastor Ari com a sua lanterna e corre para ele
com os braços abertos e um sorriso emoldurado pela sua alma do campo.”
• O final de Rosa: Fecha o ciclo. Seu caminho tende ao fim quando a menina segue
os passos da mãe e torna-se prostituta em Lisboa. Suas mãos tornam-se frias como
porcelana iguais as da progenitora e ela por fim esquece-se de tudo o que
realmente importa, vivendo uma morte em vida. Ao alcançar a morte de fato, pede
por luz e ao transcender a encontra nas mãos de quem sempre, em vida, iluminava
os caminhos como profissão, Ari. Ao jogar-se nos braços dele tem o reencontro
com a simplicidade do campo, um reforço da ideia de que a cidade corrompe o
homem.
Capítulo 5
• “O professor Borja é um homem com mais de setenta anos. O seu passado prova-
o.”
• “Escreveu e publicou, na sua juventude, um grande insucesso de divulgação
científica misturado com tratado político-social e qualquer coisa de
particularmente místico, mas que Borja considera apenas pura ciência.”
• “Além desse livro, publicou também Apologia das minhocas e Jesus Cristo bebia
cerveja.”
• Gosta de música, que é a mesma coisa que ouvir geometria.
Capítulo 9
• Ari é o único amigo de Rosa, uma amizade que vem de criança, da escola primária.
Ari é mais velho seis anos, mas quando Rosa entrou na escola, ele ainda por lá
andava cultivando o seu insucesso escolar.
• Invoca Cristo e todos os santos, a Virgem e os beatos. Que são surdos como a avó
e não comparecem.
Capítulo 11
Capítulo 13
• O padre Teves, ainda adolescente, informou o pai de que queria ser um profeta
como os do Antigo Testamento.
— Serei um profeta para corrigir os povos e os costumes.
Foi imediatamente espancado. O pai, que era um livre-pensador, era capaz de
suportar tudo menos a estupidez:
• Quando conheceu Rosa e as suas nádegas mitológicas, sentiu que havia ali uma
estranha empatia difícil de explicar: aquele aparato traseiro, para ele, não era
somente sexo. Havia ali qualquer coisa de esotérico, com uma bochecha para cada
lado.
Capítulo 26
• O vinho é tão artesanal que as uvas foram pisadas à mão.
• É evidente que olha para a cara, mas os cabelos, jovem, são, como diz o povo (e
esse povo por vezes tem razão, exceto nas urnas, aí nunca acerta), a moldura do
rosto.
Capítulo 34
• — Mas esses lugares, esses strips, isso é bom é para burgueses decadentes. Eu sou
um intelectual do povo, estás a ver? A minha única parte capitalista são os bolsos.
O resto é completamente de esquerda. Não vou.
Mas acabou por ir e, ao ver aquela decadência burguesa de pernas abertas, ficou
fascinado pelo capitalismo.
Capítulo 37
• A natureza não gosta de espaços vazios e preenche-os como um burocrata
preenche requerimentos. [...] Mesmo os lugares mais rarefeitos, como o espaço
sideral e a estupidez humana, são preenchidos por alguma coisa: luz, metais leves,
preconceitos, partículas e subpartículas dos átomos, radiações, chavões e
telenovelas.
• [...] O adágio em latim, natura abhorret vacuum, essa frase que diz que a natureza
não gosta nada do vazio, deveria ser outro: natura latinam linguam non loquitur,
ou seja, a natureza não percebe de nada de latim.
Capítulo 39
• — A sabedoria vem com a idade, com a velhice, e suspeito que nos come os
órgãos, pois quanto mais sabemos das coisas, mais o fígado se queixa, mais os
rins têm insuficiência, mais o coração para. A sabedoria come tudo.
Capítulo 59
• — A inglesa tem uma fortuna enorme, enfim, tem tudo aquilo de que uma pessoa
precisa para ser infeliz.