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A segunda realidade de Martim Vasques

Por mais que me cause espanto, tenho de reconhecer que algumas pessoas
pelas quais tenho admiração acreditaram ver no ensaio do Martim Vasques
da Cunha sobre Olavo de carvalho, publicado na Gazeta do Povo, um trabalho
sério, merecedor da devida consideração intelectual. Martim tem seu mérito:
escreveu bastante (o que lhe é natural), colocou muitas citações (bem ao
estilo acadêmico), costurou assuntos desconexos (exalando erudição)... Tudo
isso, contudo, não teria qualquer efeito se separado do arremate perfeito, a
longa reiteração do chavão preferido dos anti-olavistas e isentões que até
admiram o professor, são gratos por ensinamentos, pelo surgimento da
“direita”, etc, mas não perdem a chance de ressaltar sua independência, de
deixar claro que possuem divergências, inclusive vindas direta e
exclusivamente da própria cabeça.

Foi sem dúvida a “conclusão” do ensaio que intrigou meia dúzia de pessoas
sensatas e levou ao delírio os idiotas de sempre: segundo seu texto, o Curso
Online de Filosofia funciona como uma “teia hierárquica” pela qual o
professor Olavo mantém o controle sobre os alunos, submetidos, pobre de
nós, ao seu guiamento na tarefa de tomada do poder...

Essa conclusão é, obviamente, uma questão de fato: há ou não tal controle?


São milhares de alunos no COF. Quantos já relataram algo parecido com isso?
Para não falar só de mim, esclareço que convivo com alunos do Olavo, em
geral acompanhando suas mensagens virtuais, mas também pessoalmente
com grandes amizades, desde o primeiro dia, há mais de 10 anos. Conheci o
professor pessoalmente em um dos seus maravilhosos Cursos Avulsos, no qual
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convivi alguns dias com novos colegas antes completamente desconhecidos,


cada um mais diferente do outro (só para exemplificar, por profissão:
Psiquiatra, Promotor de Justiça, Bióloga, Comerciante, Músico). Mais
recentemente, com o surgimento do WhatsApp, a rede de contato se
expandiu e intensificou. Ajudei a organizar o I Seminário Capixaba de Filosofia
em 2017, sucesso de público, cujo tema, como não poderia deixar de ser, foi
“Olavo de Carvalho e o Resgate da Inteligência” (em 2018 os estudos foram
sobre nosso Mário Ferreira dos Santos). Enfim, sou um olavete no meio de
olavetes há muito.

Pois bem. Nunca vi qualquer relato de qualquer tipo de controle exercido pelo
professor sobre seus alunos. Nunca. Nenhum. Recentemente, inclusive, a
revista Época teve de buscar pessoas que confessadamente não se
reconheciam como alunos do COF para forjar testemunhos contra o método
ali praticado. O que ocorre, bem ao contrário do que supõem essas fantasias,
é que o professor costuma ter muito mais flexibilidade aos questionamentos
e oposições do que os próprios alunos. Muitas vezes torcemos para o
professor excluir esse ou aqueloutro aluno que nos parece muito chato, com
perguntas despropositadas e insistentes, frequentemente atrapalhando a
dinâmica das explicações. Infelizmente, Olavo de Carvalho possui uma
paciência sem limites com seus alunos, independentemente do QI. Acolhe,
ouve e atende todos que pode. Alguns ficarão surpreso com essa afirmação
ante as tempestades que o professor costuma criar na mídia, mas é a mais
pura verdade.

Adendo: a chave que liga ou desliga a bondade e paciência do professor é, na


verdade, muito simples: sinceridade. Ele possui um sensor aprimorado (não
digo que seja infalível, claro) para captar afetação e pose em seus alunos e
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críticos. Enquanto a dúvida ou crítica provém de uma alma sincera, sua


habitual solicitude estará inteiramente presente. Quando, porém, percebe
um arrivista intelectual, um interlocutor palpitando sobre aquilo que não
sabe, sobretudo quando nem se esforçou para saber, ou dizendo que não sabe
aquilo que evidentemente sabe, as coisas mudam. Não é uma mudança de
personagem, mas de foco. O professor já não se interessa mais no assunto até
então em discussão; o que se mostra urgente, nessa situação, é demonstrar a
falsidade existencial daquele indivíduo, para que o público, e o próprio
embusteiro, percebam a diferença essencial entre um intelectual e sua
caricatura. Todas as “tretas” do professor podem ser compreendidas com essa
chave, e quase sempre concluímos que ele tinha razão: a estrelinha era
mesmo uma grande farsante.

Retornando, não possuo nenhum indício factual da afirmação do Martim de


que o professor exerce algum tipo de controle sobre seus alunos. Some-se a
isso o fato (sempre os fatos!) de que o próprio professor ressalta
repetidamente que a educação é um processo absolutamente aberto: você
não sabe o que uma pessoa vai fazer com aquilo que aprende. O educador
tem o dever de despertar a inteligência do aluno, trazer-lhe a informação mais
precisa e fidedigna – mas isso não vai garantir o caminho que cada um irá
seguir. A Verdade, claro, tende a fazer convergir os diversos caminhos. Mesmo
assim, é uma convergência sinuosa, com imensos desfiladeiros a centímetros
de cada passo. Ainda mais incisivas e constantes, de 2009 até hoje, são as
admoestações do professor Olavo para que seus alunos tomem muito cuidado
em qualquer empreendimento público, que evitem ao máximo esses
engajamentos passageiros, pois essas atividades fatalmente prejudicam o
mais árduo – demorado, porém urgente -, trabalho de recuperação cultural
do país, que só pode ser feito por pessoas que já se educaram minimamente
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antes. E no Brasil, sabem como é, nada é fácil, mesmo já velhos precisamos


reaprender tudo, da gramática elementar ao controle das nossas alucinações.

Algum escândalo de dominação até aqui? Acrescento então as consequências


do descumprimento daquelas orientações pedagógicas pelos alunos que
insistiram em escrever livros, criar sites, promover eventos, dar aulas, fundar
editoras e até mesmo organizar partidos políticos: nada, zero, nenhum mísero
castigozinho para alegrar a massa. Muitos, pelo contrário, ganharam públicas
– e, para eles, rentáveis – palavras de incentivo do professor.

Martim Vasques sabe disso tudo. Não há fatos em que embasar seu desejo de
quebrar o prestígio do filósofo. Apenas dizer que Olavo de Carvalho dedica sua
vida a educar novas gerações de intelectuais completamente
compromissados com a verdade, conscientes de sua imensa responsabilidade
na sociedade, e dedicados à promoção da alta cultura não é lá das coisas mais
assustadoras - talvez assim, falando a realidade claramente, até o
promovesse... Como, então, conseguir uma manchete chocante, capaz de lhe
garantir espaço cativo na grande mídia? Desesperado, lembra do irrelevante
detalhe de que o COF não possui um prazo fixo de duração como dado que
corroboraria sua tese, bem como levanta suspeitas macabras sobre o exercício
do necrológio – absolutamente sem sentido. Daí o lastimável plano traçado
(ou a precipitação do autoengano?), a essência mesma do seu ensaio: a
tentativa de substituir as provas do fato alegado (o controle dos alunos por
meio da “teia hierárquica”) por uma longa e intrincada exegese de alguns
textos antigos do professor, combinada com amontoados de referências
bibliográficas completamente alheias à realidade da questão posta (as
citações do professor Henrique Elfes – cujo conteúdo, em si, é excelente -
ilustram com perfeição a brutal distorção realizada por Martim Vasques).
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Esse expediente é exatamente o que Eric Voegelin chama de feitiçaria, algo


ainda mais grave, por envolver uma consciente desonestidade, do que o
fenômeno da “segunda realidade” descrito em “Hitler e os Alemães” – por
incrível que pareça, Martim adora usar o próprio Voegelin como tempero de
suas poções. E o melhor: nosso xamã se livra de qualquer respeito aos fatos
(aulas disponíveis e testemunhos diretos) por meio de sua peculiar dislexia e
ainda tem a cara de pau de sentenciar o professor Olavo como vítima do
“mundo como ideia”. Feitiçaria, segunda realidade ou uma permanente
sessão 3D de incubus e succubus? Não tenho condições nem interesse em
desbravar a interioridade do Martim Vasques, seu exterior já é por demais
confuso e sombrio para mim.

Ao ler e reler o maldito ensaio, meu ímpeto inicial era de contestá-lo ponto
por ponto, mostrando, em sequência, como Martim Vasques vai
concatenando insinuações maledicentes e desconversas para ao final sacar de
forma completamente arbitrária sua denúncia contra o projeto do COF. É algo,
entretanto, que nunca farei – falta-me paciência e estômago para isso.
Registro aqui esse meu primeiro e frustrado intento na torcida de assim
estimular melhores estudiosos a realizar essa indigesta tarefa o quanto antes,
desincumbindo minha consciência do dever de debelar uma grave injustiça
contra um gênio e herói nacional. Contento-me, pois, em assinalar os
disparates mais grotescos do Martim para ao menos evitar que,
completamente incontestes, saiam por aí sendo repetidos como idôneos.

Porém, ah!, porém! Pelo menos dois outros pontos não posso deixar de tratar
agora. A bola está quicando, impossível me conter.

Primeiramente, uma maledicência. No último parágrafo do tópico


“Julgamento e a verdadeira inteligência”, Martins sibila:
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"Logo depois da declaração explícita desta missão, Olavo toma muito


cuidado de ressaltar que “com relação à formação de uma elite
intelectual, não é preciso dizer que não é absolutamente necessário que
os membros de uma elite deste tipo tenham opiniões concordantes, aliás
se tiveram opiniões discordantes talvez até seja melhor em determinadas
circunstâncias”. Reparem neste detalhe: “determinadas circunstâncias”.
E quais seriam elas? Quem as determina? Aquele que ensina ou aquele
que recebe o ensinamento? Seriam os membros do Seminário de Filosofia
– ou, atualmente, os membros do Curso Online de Filosofia? E qual seria
o filtro da inteligência que faria a distinção essencial entre o que é
verdadeiramente importante e o que são essas “determinadas
circunstâncias”? "

Da forma mais direta e simples possível: essas “circunstâncias” são ao menos


o domínio da linguagem, da técnica da demonstração (o que está
subentendido no conceito de elite intelectual, mas na prática não se verifica
com tanta facilidade) e, principalmente, dos fatos envolvidos. Muitas vezes
debates transcorrem em função dos valores que cada parte procura defender,
sem se atentarem previamente para o minucioso levantamento das
evidências fáticas disponíveis. As discussões sobre o “golpe de 1964”
exemplificam bem isso. Essas circunstâncias – listadas inabalavelmente, desde
Aristóteles, como basilares para qualquer discussão que se pretenda frutífera
-, integradas às ainda mais essenciais precauções inerentes à técnica filosófica
(conforme explicitadas no livro “A filosofia e seu inverso” e magistralmente
desenvolvidas em aulas do COF), compõem os tópicos principais de atenção
do professor Olavo de Carvalho – que horror, não? -, sendo incansável em
trazer exemplos de sua aplicação nas mais diversas esferas: nas confusões
políticas do dia a dia, em estudos históricos e científicos, na compreensão de
grandes filósofos, etc (a propósito, vale a pena procurar na internet uma lista
- bastante improvisada, mas ainda assim útil - dos temas tratados nas aulas do
COF, elaborada por algum aluno: qualquer pessoa de boa-fé ficará
impressionado com a riqueza do conteúdo).
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Ver naquela singela expressão - “determinadas circunstâncias” - um ato falho


das intenções subliminares e secretíssimas do professor em controlar seus
alunos para uma futura ação concatenada é um delírio completamente
gratuito – para não dizer, provavelmente com mais precisão, um ato de
maldade puro e simples.

Agora, a apoteose da inconsciência existencial. Martim Vaques ao longo de


seu texto faz várias alusões ao esoterismo, assinalando a sua presença, ou
mesmo influência, no pensamento do professor Olavo. Ao final,
abruptamente, reúne tudo para pontificar:

"Ora, o Curso Online de Filosofia, a grande obra de Olavo de Carvalho –


originada em 2009, depois que o filósofo se mudou definitivamente para
o seu auto-exílio nos Estados Unidos, cinco anos antes – é nada mais,
nada menos que a culminação de todo esse processo de “salvação pela
filosofia” – e é também a prova derradeira daquele famoso princípio
existencial que foi articulado uma vez pelo historiador americano Daniel
J. Boorstin: “O maior inimigo do conhecimento não é a ignorância, mas a
ilusão do conhecimento”. " [...]

"A “ilusão do conhecimento” para quem pratica todos os requisitos


exigidos pelo COF surge de dois pontos. O primeiro – e o mais óbvio, após
analisarmos a obra de Olavo de Carvalho – é que o Curso Online de
Filosofia é nada mais, nada menos que uma grande manipulação da
consciência dos seus alunos, com o uso deformado e instrumentalizado
da “imaginação mediadora”, de acordo com o método da analogia
apresentado em “A Dialética Simbólica”. E o segundo – que cria enfim as
condições para a existência do primeiro ponto – é que a verdadeira
unidade na filosofia de Olavo não é a da unidade do conhecimento na
unidade da consciência (e vice-versa), como o próprio alega de forma
obsessiva, mas sim a unidade do controle. "

Não é realmente formidável essa performance? Milhares de alunos do


professor Olavo nunca reclamaram de terem sofrido qualquer tipo de controle
intelectual, muito menos de conduta, e também conhecem perfeitamente as
numerosas e importantíssimas aulas em que o filósofo explica com toda a
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ênfase e clareza possíveis a diferença abissal entre o processo de formação e


exercício intelectual que é a filosofia e os ritos religiosos em geral,
diferenciando ambos, ademais e sobretudo, da via de salvação cristã. O
exorcismo analítico das tentações gnósticas é realizado numa aula sim, na
outra também, invariavelmente. Além disso, o conceito mesmo de
“esoterismo” e as influências que outrora recebeu dessa, vamos dizer,
corrente de pensamento, são objeto de fartas explicações do professor
(inclusive, é o tema de todo um Curso Avulso). Quem acompanhou o COF sabe
disso tudo. Pode, no mérito, não concordar, óbvio!, mas sabe muito bem que
está tudo lá.

Nada obstante, Martim – ao tempo em que acusa o professor de


propagandear um conhecimento esotérico salvífico, acessível apenas por seus
alunos - acredita ter ele próprio captado em algumas entrelinhas (contra
todos aqueles fatos e testemunhos, em sentido diametralmente contrário a
tudo o que expressa e tão incisivamente o professor ensina de fato) uma
intenção sorrateiramente escondida nas lições e métodos do professor – tão
bem escondida, por décadas, que nem Bruno Tolentino ou Ângelo Monteiro
anteviram! É realmente inacreditável que um autor venha a público cometer
tal ato de completa inconsciência e não possua um único amigo para lhe dar
uma sacudida, lhe trazer de volta à sanidade, principalmente quando
considerado que diversos amigos do Martim são ou já foram alunos do COF –
fato público e notório. Seus amigos (juntos com milhares de outros pobres
coitados) foram incapazes de conhecer toda a pleonexia no filosofema do
professor, completamente impotentes para se libertarem das teias que os
manipulavam. Porém, a revelação concedida somente a Martim Vasques da
Cunha será, agora, para o bem e felicidade geral, trazida a público – se há algo
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mais esotérico, ou perfeitamente qualificável como uma “salvação pela


filosofia”, não consigo imaginar.

Certamente Martim Vaquez dirá que nunca negou existirem bons alunos no
COF, independentes como ele (grande honra!) e integralmente admiradores
do professor Olavo. Porém, irá tentar tapar o sol com a peneira contrapondo
a isso a ideia de que a maioria dos alunos são apenas baderneiros de redes
sociais, e não estudantes preocupados com a ordem de sua alma. Se um dia
ele recuperar o contato com a realidade, Martim perceberá que o que ele
chama de maioria é quantitativamente minoria absoluta comparada aos
milhares de alunos do professor Olavo, assim como a maioria dos
“baderneiros” não são alunos do COF, nem mesmo leitores dos livros do
filósofo, mas quando muito seguidores de Facebook ou meros ouvintes do
saudoso “True Outspeak”. E a existência de confusões virtuais causadas por
alunos e simpatizantes do professor, que ademais vivem permanentemente
em discussões entre si - algumas toscas, outras interessantes -, prova mais
uma vez justamente o contrário do que Martim afirma – prova que não há
qualquer mínima tentativa de controle do professor sobre o que os seus
alunos fazem, pensam ou deixam de pensar.

Preciso parar, tenho muito a fazer, porém, depois de ver meu caro Francisco
Escorsim, também na Gazeta do Povo, afagar as conclusões do Martim
Vasques, não consegui mais sossegar. Precisava comentar, ou melhor,
evidenciar – no intuito de facilitar a visão dos leitores no meio daquela
maçaroca de ensaio – o estranho processo verborrágico que imagina,
simulando uma análise intelectual, diagnosticar pleonexia (o desejo
incoercível de controle mental sobre a complexidade da realidade) na vida e
obra do filósofo Olavo de Carvalho.
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Então, direto e reto, com replay acelerado, aos pontos relevantes (tendo
como referência as “seções” do ensaio):

1) Nas quatro primeiras partes (introdução; “A construção da teoria”;


“Julgamento e a verdadeira inteligência”; “À beira do abismo”) não há
nenhuma crítica ao conteúdo das vastas citações às antigas apostilas do
professor Olavo de Carvalho, apenas duas pequeninas diatribes: a primeira, já
assinalada acima, sobre a tempestade em copo d’água criada em torno de
“determinadas circunstâncias”; a segunda, na afirmação de que aquilo que o
professor corretamente aponta como, vamos dizer, função instrumental da
razão conceitual é uma tentativa dele de se “se apropriar – ou melhor,
controlar – a grande descoberta que o autor de ‘A Imitação do Amanhecer’ fez
para os outros, sempre em detrimento de si mesmo”. Deus me livre de perder
tempo nessa encenação “Olavo x Bruno” que se passa obsessivamente na
cabeça do Martim, só vou registrar uma coisa: se um dia o professor Olavo
declarar-se “descobridor” da verdadeira função, limites e perigos existenciais
do conceito, não só abandonarei o COF como ingressarei na justiça por
propaganda enganosa. Não há um único aluno do professor Olavo de Carvalho
que falaria uma bobagem tão estrondosa! A compreensão da razão é inerente
à filosofia há milênios, variando em termos de diferenciação – está lá
explicadinho no nosso querido Eric Voegelin, Martim! O que ocorre -
infelizmente com bastante frequência, como tudo que é humano - é a sua
degeneração, sua corrupção pelos vícios da alma e do mundo, quando então
se faz necessário grandes gênios para se reestabelecer publicamente a
sanidade da inteligência.

2) Em “Drama da razão” acontece algo fabuloso! Martim reconhece que


“Espectro da Heresia” (1995) foi escrito sem considerar a constituição final do
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livro “O mundo como ideia” (2001), e que o próprio Bruno Tolentino teve
“deferência” pelas considerações do filósofo na revisão final do poema
“Espectro”, porém, faz questão de listar os equívocos de Olavo de Carvalho na
compreensão do significado integral de “O mundo como ideia”. Esse
certamente não é um procedimento muito habitual de crítica – condenar a
interpretação da parte existente pelo todo que ainda viria a existir:
"Contrapondo o resultado final de ‘O Mundo Como Ideia’ com a sua análise
provisória a respeito de um único poema do tomo, é percebe-se que Olavo não
preservou esse “equilíbrio” na sua interpretação de “O Espectro”".

Mas ainda que a interpretação de Olavo de Carvalho fosse tão equivocada


(vale lembrar: o poeta teve “deferência”), parece minimamente razoável
qualifica-la de refúgio no engano e sentenciar como “só” existindo “uma
opção” para a explicar? Para mim é aberrante tal pretensão, em especial para
quem gastará tantas linhas denunciando o desejo ardente de controle - dos
outros, claro. Seria pedir muito um pouquinho de flexibilidade, uma
pequenina margem de discordância na interpretação de um poema, ademais
sobre assunto tão intrincado?

Adendo: alguém consegue imaginar os motivos que levaram Martim Vasques


preferir ficar 20 anos remoendo as interpretações do Olavo sobre um poema
do Tolentino - constantes num ensaio que o próprio autor nunca publicou
(nem mesmo no seu site) e que, pelo que parece, sequer abalou a amizade e
admiração do poeta pelo filósofo? Ao invés, pois, de insistir nessas
evanescentes e solitárias elucubrações mentais entre a parte e o todo, não
teria sido tão simples e digno sentar-se e pedir com sinceridade e gentileza
que o professor lhe explicasse as circunstâncias envolvidas, os fundamentos
subentendidos, que considerasse suas dúvidas e divergências, etc?
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3) Em “Tirania da Intelligentsia” e “Homem singular” Martim Vasques discute


o ensaio “Christopher Lasch, a Nova Elite e as Velhas Massas” de Olavo de
Carvalho. De tudo aí constante, para quem, como eu mesmo, não leu os livros
discutidos, atenho-me a registrar que o pensamento de Olavo foi analisado
muito indiretamente, de forma completamente inconclusiva para as
asserções fulminantes que estão por vir.

Por oportuno, recomendo o Curso Avulso “As Raízes da Modernidade” do


professor, no qual a descrição do processo de individualização na sociedade
Ocidental – tema objeto das interessante citações de Michael Oakshott – é
detalhado com imensa riqueza e claridade.

4) Em “Poder Espiritual”, “Instabilidade do Conhecimento” e boa parte de


“Símbolo”, percebe-se duas características intrigantes: i) todos os textos do
professor Olavo de Carvalho analisados são da década de 80 – nem mesmo
uma citaçãozinha sequer dos livros, aulas e cursos surgidos nos últimos 20
anos, que trataram pormenorizadamente dos temas ranhetados pelo Martim
Vasques; ii) mesmo fazendo pouco e com forçado tom de desdém, Martim
não analisa, não discute, nem muito menos refuta um único excerto do Olavo
citado, apenas prepara o caminho ao insistir - por conta própria e contra
centenas de páginas e aulas detalhadas mais recentes - em buscar o
posicionamento definitivo do professor sobre toda a complexa temática
envolvendo as “religiões comparadas” nas modestas 24 laudas escritas em
1983, sob o título de “Dialética Simbólica”.

Após forçar uma disputa religiosa estereotipada entre Olavo de Carvalho e


Henrique Elfes e declarar (alcançando o cume de seu poder argumentativo)
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que "é justamente esse último grupo [religiões da analogia] do qual faz parte,
direta ou indiretamente, queira ou não queira, a dialética simbólica de Olavo
de Carvalho", Martim reconhece que não há nada de propriamente errado
naquele texto do filósofo, mas apenas que "a dialética simbólica – o método
fundamental da filosofia de Olavo de Carvalho – pode cair no mesmo perigo
de se exceder tanto nos seus “prodígios” como nas suas “vertigens”, em
especial quando ela é aplicada na leitura objetiva do mundo."

Nossa!, será que agora Martim aproveitará para falar objetivamente sobre a
filosofia de Olavo de Carvalho?

5) Chegamos, então, no ponto central de toda obscenidade – chamada, por


alguma insondável razão, de produção intelectual - de Martim Vasques.
Graças ao acompanhamento da evolução do ensaio, sem dúvida maçante,
conseguimos aqui ver nitidamente, em câmera lenta, o momento da abrupta
possessão. Na seção seguinte, “Reforma do ser humano”, mais uma vez sem
nenhuma crítica, nenhum esboço de explicação, zero demonstração, apenas
colacionando mais um punhado de citações, simplesmente rotula a “dialética
simbólica” de “racionalismo perenialista”, que ademais corresponderia
perfeitamente à noção da busca de “salvação pela filosofia” (referida nas
citações do professor Henrique Elfes) e ao “mundo como ideia”. Vale a
transcrição do momento exato em que o véu se abriu para Martim Vasques:

"O Olavo de “O Valor do Intelecto” será rastreado em trilhas futuras,


como já percebemos nas análises de sua autoria sobre as obras de Bruno
Tolentino e de Christopher Lasch. Mas aqui já o encontramos cristalizado
quando ele afirma que uma verdadeira “via espiritual” jamais acontecerá
de fato se o sujeito que evitar de praticá-la restringir ou desestimule “a
ação do intelecto”, excitando assim a “imaginação (mediante histórias,
mediante situações incongruentes, mediante uma sucessão de estímulos
desencontrados)”.Ao mesmo tempo, se continuar nesse rumo, “ele dará
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livre curso aos desejos e [abolirá] qualquer regra moral explícita”,


concorrendo “unicamente para a sujeição do intelecto às paixões, e
portanto para a eclosão da ‘rebelião’ que fará do intelecto doente e
mundanizado um tirano a serviço do ego subjetivo”, no rebaixamento do
“homem a um nível inferior ao do animal, ao mesmo tempo que lhe dá a
trágica ilusão de estar ‘evoluindo espiritualmente’”. O que Olavo de
Carvalho propõe neste trecho, in nuce, é um programa de reforma
intelectual, moral e espiritual do ser humano que, se não é a reforma
racionalista moderna elaborada pelos “mestres da suspeita” (como são
conhecidos Descartes, Spinoza, Marx, Freud ou até mesmo Foucault),
trata-se também de um racionalismo perenialista, cuja simbólica
religiosa transforma o homem em algo abstrato, análogo ao
macrocosmo, sem qualquer espécie de “nervo vital” que faça a conexão
imprescindível entre o que percebermos ser o “mundo como ele é” e o que
pensamos ser “o mundo como ideia”.

Onde está o mínimo esforço de fundamentar a atribuição de uma coisa a


outra? Onde, como dizem os juristas, a subsunção das ideias aos fatos?

Após isso, Martim Vasques se considera livre, leve e solto para a difamação
pura e simples do Curso Online de Filosofia e, no pacote, do restante da obra
filósofica de Olavo de Carvalho, dedicando-se com afinco a demonstrar que
não conhece nada de seu conteúdo e que por isso mesmo se julga habilitado
a, pela extração de três ou quatro parágrafos dum universo de 400 aulas com
horas de duração cada, inscrever tudo exatamente dentro do infantil rótulo
que criara anteriormente – ah, sim, Bruno Tolentino!, meu mais sincero
sentimento de pesar, pois é esse o infeliz que avocou para si, usando teu
nome!, a missão de levar adiante tua luta contra o “mundo como ideia”...

De fato, tudo que se segue são transcrições cujo conteúdo ninguém com
maturidade intelectual - talvez nem o próprio Martim Vasques - teria algo
significativo a opor se já não fosse lido à luz daquelas arbitrárias, falsas e
maquiavélicas atribuições de “racionalismo perenialista”. Mesmo a lista
indicando estudos específicos do professor, tidos erradamente como
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sequência do COF (infelizmente, apenas cerca de 10% das aulas são sobre
aqueles estudos, sendo a grande maioria composta, como dito anteriormente,
por exercícios de aplicação concreta do método filosófico), não mereceu a
mais mínima atenção crítica do Martim – irrelevantes quaisquer exigências de
idoneidade intelectual quando se trata de denegrir Olavo de Carvalho, basta
jogar a pedra (ou a merda) e ir para os braços da galera...

Como deve ser óbvio, não pretendi defender o conteúdo da genial obra
filosófica de Olavo de Carvalho, nem os admiráveis métodos pedagógicos
aplicados no COF, muito menos sua influência nas questões políticas mais
recentes (caso em que, aliás, seria uma ótima oportunidade para ostentar
toda minha vaidosa lista de divergências pessoais) – demonstrei apenas a
absoluta nulidade daquelas escandalosas conclusões de Martim Vasques.

Faço aqui, contudo, uma rápida consideração de mérito: faz algum sentido
atribuir um “racionalismo perenialista”, “esotérico”, a Olavo de Carvalho
quando nenhum intelectual nas últimas décadas se dedicou com tanta
coragem e acurácia analítica a recolocar o milagre, a vida dos santos e a
Eucaristia espiritualmente acima de todos os tipos de especulações
metafísicas e místicas? Do mesmo modo, não conheço nenhum filósofo que
tenha ressaltado tanto o papel determinante do desconhecido e da
imprevisibilidade no conhecimento e na ação humanos – isso está presente
em todos seus estudos: na metafísica claramente, na gnosiologia é
fundamental e na sua filosofia política (incluída sua original Ciência Política –
a análise empírica das condições e meios da luta pelo poder) constitui a lição
primeira.

Ou seja, os desenvolvimentos mais pessoais da obra de Olavo de Carvalho –


detalhados, expressos e reiterados com toda clareza - são um arsenal precioso
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(e, no meu entender, verdadeiro) para a desarticulação da revolta gnóstica


contra a civilização Cristã (o livro “EUA e a Nova Ordem Mundial”, na minha
humilde opinião, consegue dar essa visão geral de sua filosofia, certamente
de forma bastante sintética).

Assim, após atentar para as barbaridades aqui destacadas, parece-me


objetivamente impossível que se considere o ensaio de Martim Vasques uma
análise crítica real do pensamento de Olavo de Carvalho. Há apenas projeções
em cima de pedantismo, nada mais. Que tanto nossa velha como a pretensa
emergente “elite intelectual” – expressão que, fora dos terrores induzidos por
Martim, significa um ideal bastante singelo, embora de máxima importância,
que é a formação de pessoas capacitadas a compreender a realidade da sua
experiência para além dos jargões e estereótipos despersonalizados,
sobretudo os sedimentados (ou produzidos) na mídia, sem qualquer relação
com profissões, classes ou distinções oficiais –, enfim, que nossos atuais
pensadores recebam com normalidade (e até mesmo algum encanto)
trabalhos como os de Martim Vasques demonstra tão somente como estamos
distantes de alcançar os nobres e caridosos objetivos educacionais do
professor Olavo de Carvalho.

25 de março de 2019.

Leandro Mello Ferreira – aluno do Curso Online de Filosofia do professor


Olavo de Carvalho desde 2009 e Procurador do Estado do Espírito Santo.

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