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Cleiton Neris. Introdução aos Estudos Literários I. Prof. Markus Lasch.

Noturno

Análise e elucidações acerca do conto 'A ilha ao meio-dia', de Júlio Cortázar

É importante ter em conta que o presente texto de análise sobre o conto “A Ilha ao
meio-dia” apresentará, no mínimo, dois Cortázar's: Um teórico e crítico literário, autor de
Valise de Cronópio (2008), e outro literato, o contista da obra a que são propostas as
anunciadas explanações. O Cortázar da teoria, no ensaio "Alguns aspectos do conto",
elabora definições do conto e trata de elementos constituintes que ele identifica. Nesse
texto, como definição, o escritor argentino não nos apresenta apenas um número reduzido
de enunciados lacônicos e curtos ou diagnósticos e demarcações pontuais, o que poderia ser
relacionável com a própria extensão do conto. O autor vai talhando o conceito sondando a
natureza do gênero com justa intensidade e delonga, de forma contínua e cautelosa,
dissolvendo o objeto da análise que ele observa ser “tão esquivo nos seus múltiplos e
antagônicos aspectos [...] tão secreto e voltado pra si mesmo” (p.149). O conto para Júlio
Cortázar é marcado pela tensão, é um "caracol da linguagem": o tempo e espaço do conto
condiciona sua forma técnica de constituição, submetida a uma alta pressão de espírito e em
que a pequeneza de extensão exige a abertura para além do próprio texto. Cabe ao conto ser
uma fotografia, ao passo que caberia ao romance ser um filme. O conto recorta de modo
que atire o leitor numa imensidade de sugestões existentes no que é tematizado, ou seja,
parte do limite físico, e é determinado pela forma estética como é utilizada essa limitação.

É deste pressuposto que surge a questão da significação dentro deste gênero


literário, que para o autor é o sentido maior que transcende a miudeza e a vulgaridade do
evento ou cena exposta. Além disso, é importante perceber que a significação não está no
tema adotado em si mesmo. O recorte feito pelo contista de um sono vespertino no ônibus
ao voltar do trabalho, a depender de sua habilidade, pode sugerir profundas reflexões sobre
a sociedade, sobre as organizações de classe ou da própria condição humana. Ou seja, o que
confere ao conto grandiosidade significativa é o sucesso com que se rompem os seus
próprios limites e a torna grande por um esse processo de tensão. É o que ocorre com
Marini no conto mencionado, um comissário de bordo que se dá conta de uma pequena ilha
que ele sobrevoa com frequência em sua rotina de trabalho e que deseja ir conhecê-la. A
estes fatos em si mesmos, possívelmente os sentidos seriam facilmente esgotados, pois não
há nada de excepcional ou significativo. No entanto, no modo como é feito o recorte por
Cortázar no conto, tem-se um personagem de nome que remete ao mar, mas que sempre
está no céu, e que cria um vínculo extremamente intenso e metafísico com a dita ilha em
que se sugere o desejo de isolamento, o domínio de um universo novo, ou a própria
transcendência do céu pro mar.
No conto, o personagem central faz o trajeto Teerã-Roma três vezes por semana e
avista a ilha, sempre ao meio-dia. Marini sente-se fascinado pela sua forma de tartaruga e
pelas suas singularidades de universo pequeno e solitário. A ilha chama-se Xiros,
informação que consegue depois de algumas tentativas, consutando colegas e conhecedores
das ilhas gregas. Com a intensificação do encanto de Marini por Xiros o comissário então,
com toda a dificuldade de acesso, invade o mundo isolado da ilha. A narrativa relata a
explosão de desfrute e libertação em um lugar que o persongem jamais abandonaria, como
se a ilha não sairia dele.

No entanto, a reconciliação entre céu e mar no personagem é ofuscada por um


acidente aéreo envolvendo possívelmente o seu próprio avião. Na narrativa é descrito que a
nave cai no mar quase que verticalmente. Marini mergulha e ainda resgata um homem que
estava no avião, mas ele morre em seguida. A ilha, em que só havia doçura, silêncio e
reencontro é atingida pelo mundo mortal e catastrófico. Marini aparentemente se vê ligado
a ambos, com os pés na areia da praia, no mar e com os olhos no céu, com uma força
metafísica que o projeta pra ilha e com o universo civilizado e urbano que não o deixa.

Contudo, nos momentos finais do conto, após a descrição do resgate do homem que
estava no avião, feito por Marini, se instaura um paradoxo que recai também sobre a
questão do gênero de produção literária com o qual Júlio Cortázar declara trabalhar
predominantemnte, isto é, o realismo fantástico. Klaios, o patriarca e mais velho da ilha de
Xiros, ao ver o corpo do homem na praia, se pergunta como o homem completamente
dilacerado e insanguentado pôde nadar e se arrastar até a ilha. A presença de Marini diante
desse questionamento é posto em xeque. Nesse momento, muda-se o plano da narrativa do
conto, e nesse, Marini não está na ilha. Essa informação é ratificada nas palavras que
encerram o texto, em que o patriarca olha fixamente para o mar procurando novas pessoas
envolvidas no acidente, mas como é de costume, estavam eles, moradores da ilha, sozinhos,
e o que havia de novo entre eles e o mar era exclusivamente o corpo de um sujeito
desconhecido.

Ricardo Píglia em Teses sobre o conto (2004), afirma ter o conto um caráter duplo.
No que é posto como conto clássico, existiria uma estrutura em que é narrada uma história
em primeiro plano, e uma história secreta no segundo plano, esta última sendo elíptica e
somente desvendada no lumiar do final do texto. Nesse sentido, o conto consistiria sempre
na coexistência de duas narrativas. O conto como ambivalência, antagonismo,
bifacetariedade. Em A ilha ao meio-dia de Cortázar temos o rompimento com a história
contada no primeiro plano nos trechos finais apontados. Com a apresentação de uma
dimensão da história de Marini e a ilha de Xiros em que ele não estava na ilha, e que não
abandonou seu mundo para o exílio de gozo e conciliação, temos sugestões que apontam
para a história não contada e misteriosa. Como parece razoável, o homem que estava no
avião, que caiu no mar e se arrastou até a praia, poderia ser o próprio Marini, e não alguém
que estaria o substituindo.
Na Poética do Aristóteles, o filósofo ao tratar da verossimilhança e distinguir o
discurso poético do historiográfico diz ter na poiesis aquilo que poderia ser, enquanto que a
historiografia trata do que de fato é. No texto do Cortázar, têm-se dois planos de narrativa
em que o segundo é revelador e transformador em relação ao primeiro, e ao dialogar os dois
planos é possível recolocar a primeira narrativa dentro da realidade do personagem central
como aquilo que poderia ser, e isso dentro do literário. A obsessão pela ilha, a dimensão do
desejo, da necessidade de reecontro, de negação da sua realidade produz a transcendência
das próprias dimensões narrativas. A fusão do que é e do que poderia ser, da realidade e do
sonho, da consciência e inconsciência.

Cortázar ao tratar das razões do gênero realismo mágico cita crer, como Alfred Jarry
que o verdadeiro estudo da realidade não está nas leis físicas, químicas ou geográficas que
inspiraram o positivismo e a revolução científica do século XVIII, e sim nas excessões. O
escritor argentino converte as formas tidas como irreais, fantásticas para tornar o
inexprimível e indível do real, expressáveis. O conto A ilha ao meio-dia reúne elementos
acerca da condição da existência humana que evidentementemente emergem ao que é
comunicável graças à força da ruptura que se faz do mundo regular e regido por constantes.

Bibliografia

CORTÁZAR, Julio: <<Alguns aspectos do conto>>, in: Valise de cronópio. Tradução de


Davi Arigucci Jr.e João Alexandre Barbosa. São Paulo: Perspectiva, 2008.

CORTÁZAR, Julio: <<A ilha ao meio-dia>>, in: Todos os fogos o fogo. Tradução de
Glória Rodrigues. Rio de Janeiro, 2009.

PIGLIA, Ricardo: <<Teses sobre o conto>>, in: Formas breves. São Paulo: Companhia das
Letras, 2004.

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