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ratura tem que abrir margem para que


essa imperfeição tenha reflexo na litera-
tura. Uma literatura edulcorada é falsa.
A literatura não vai longe se rejeitar a
violência que faz parte da vida. O politi-
camente correto não funciona na litera-
tura, porque se a vida nos for contada
segundo esses termos soa-nos falsa.
O politicamente correto é essa imposi-
ção que pretende polir tudo aquilo que
nos fala da vida em termos crus. A par-
tir do momento em que se corrige o refle- cie de grande besta: compra um carro, E como é que isso afeta a sua maneira de Em tempos foi bastante flagrante na
xo, a arte torna-se estéril. compra uma casa, ganha mais, trabalha se relacionar com os seus filhos? escrita do romance a tentativa de se
A forma como este livro conta a sua mais… E para onde vamos com isto, onde Bem, eles não leram o romance. Andam escrever um livro final, uma poderosa
história pessoal, servindo um reflexo nos leva toda esta compulsão? pelos vinte anos. Mas ainda não o leram. síntese da aprendizagem literária de um
bastante tangível do que é a própria A certa altura diz-nos que o dinheiro Imagino que um dia, mais velhos, o façam. autor, mas hoje parece que os escritores
História da Espanha nos últimos é Deus, que vivemos voltados para E como é que a relação que hoje tem escrevem para continuar. Acabam um e
tempos, foi assinalado pela crítica. Neste o dinheiro, e lhe prestamos culto. com os seus pais leva a que se projete começam a pensar no seguinte. Imagino
momento, Espanha vive um momento Que antídoto é que arranjou para como pai? A certa altura diz que o que a escrita de um livro como “Ordesa”
político bastante conturbado, ameaçada se livrar dessa pressão? maior desejo de um pai é deixar as seja difícil porque, como alguns críticos
de desagregação… Parece a vida de uma O antídoto contra a alienação capitalista coisas limpas, não lhes deixar… notaram, depois de um livro destes,
pessoa, a passar por um divórcio. é o amor do pai e da mãe. Assim, o narra- Preocupações. Não sei. A essa pergun- Manuel Vilas será durante muito tempo
Há certamente, neste livro, uma visão dor vira-se para a infância como o lugar ta não te sei responder. Não faço a o autor de “Ordesa”.
crítica de Espanha. Sobretudo da direita onde o capitalismo não tinha ainda entra- menor ideia de como irão eles relacio- O que acontece é que se a um escritor,
espanhola, e do franquismo, como é óbvio. do. Na relação com o pai e a mãe, quando nar-se um dia com a memória que tive- hoje, lhe retiras a hipótese de escrever o
A visão da monarquia também é bastan- tinha 10 ou 11 anos, foi o seu ponto de anco- rem de mim. Espero que, neste roman- livro seguinte estás a condená-lo. E isto
te crítica, mas acima de tudo há uma rei- ragem. Por isso, o romance é uma busca ce, encontrem amor. O sentimento que decorre da profissionalização do escritor.
vindicação política da classe média. Hoje, dessa idade perdida da inocência, quan- me interessava ao escrever este roman- Essa noção romântica que passava por
estamos a viver uma crise política impor- do era miúdo e os pais protegiam a sua ce era a compreensão, a empatia, o escrever uma obra decisiva e dar-se por
tante, com o independentismo por um vida. Essa pergunta é muito importante, amor. Há já bastantes coisas no mun- contente não faz já parte deste tempo.
lado… Mas, na verdade, tudo são conse- porque, na verdade, todo o romance é a do para torná-lo insuportável. Espero Entendo aquilo de que falas, e percebo que
quências da crise económica. A força do reconstituição dessa inocência, do tempo que o leiam com amor. se possa perguntar se eu deveria escrever
movimento independentista da Catalu- em que, na vida do narrador, não era o Já falámos da questão autobiográfica, outro livro depois deste… O problema é
nha é uma consequência da crise. A apa- mal a força dominante. No reencontro mas a relação entre pai e filhos, como que, como escritor, tu és hoje um traba-
rição de grupos políticos extremistas com o pai e com a mãe é como se o nar- disse numa outra entrevista, tem uma lhador da literatura, que tem que consi-
como o Podemos ou o Vox é também uma rador buscasse um território sagrado, e, longuíssima tradição na literatura… derar as exigências do editor, do jornal
consequência da crise. E o que foi a cri- no fundo, essa busca tem algo de religio- Referiu o “Hamlet”, “Os Irmãos que te paga para escrever crónicas... Tens
se económica? Foi um ataque direto à so. A figura do pai e da mãe assumem uma Karamazov”... também de aceitar as exigências do públi-
prosperidade da classe média. De repen- presença divina, são como deuses... Sim, falaste em Shakespeare e Dostóievski, co, que leu um dos teus romances e ago-
te, a classe média foi proletarizada. Per- mas é um tema universal. Em Espanha, ra fica à espera que lhe sirvas o seguinte.
deu as suas conquistas e voltou a ser o hoje, têm-se publicado inúmeros livros Isso é o capitalismo de que falava…
que foi antes do século XX: trabalhado- que falam sobre a relação entre pais e Sim. Não posso deixar de escrever outro
res, explorados, gente que trabalha 12 filhos. Philip Roth fê-lo em “Patrimó- romance, não só porque ninguém o enten-
horas e não consegue pagar as contas. nio”; o primeiro volume da série de deria, mas porque não teria de que sobre-
É aqui que reside a crise. Knausgård é o da morte do pai… “Hamlet” viver. É uma lógica capitalista, não é lite-
E como pretendeu que isso é tão central no cânone ocidental por- rária. Na literatura mexicana temos o
transparecesse no livro?
i)PKFIÅVNB que é a história de um filho que não acei- exemplo de Juan Rulfo, que escreveu ape-
O narrador deste livro está a pensar como TBDSBMJ[BËÊPEBTWÐUJNBT  ta a morte do pai, e que busca vingan- nas dois livros, “Pedro Páramo” e a “Pla-
superar isto. A certa altura, depois do NBTRVFÌBDPNQBOIBEB ça… Na realidade essa obsessão, essa nície em Chamas”… Dois livros maravi-
divórcio, depois de ter deixado o seu tra- ligação com o pai é fundacional na lite- lhosos. E com trinta e tal anos abandonou
balho, torna-se uma obsessão o esforço EFVNEFTQSF[PÐOUJNP ratura, desde a Bíblia. Jesus Cristo é um a literatura. Não escreveu mais nenhum
para conseguir pagar as contas. Isto é uma QFMBTWÐUJNBTw tipo que passa os dias a falar com o seu livro. É um caso extraordinário. Passou
experiência comum a toda a classe média- pai. Se retirares o aspeto divino, quem quarenta anos da sua vida a explicar por-
baixa hoje. O que o narrador quer não é é Jesus Cristo? Alguém que passa os que é que não iria escrever outro livro
enriquecer mas tão-só livrar-se desta som- i0UFNBDFOUSBMEFTUF dias a falar com um fantasma. E o fan- (risos). Entendo a pergunta, e só te posso
bra, desta ameaça constante de não ter SPNBODFÌPDBQJUBMJTNP tasma quem é? O do seu pai. E se seguir- dizer que isto é o resultado de vermos o
como pagar as contas. O tema fundamen-
tal deste romance é o capitalismo. Esta-
/ÊPTBCFNPTDPNP mos por aí vamos dar a Freud: tentar
saber a importância do pai na vida de
capitalismo metido dentro da literatura.
O normal seria que eu me desse por satis-
mos todos metidos neste regime e não FTDBQBSMIF¯VNB um indivíduo. É qualquer coisa de arque- feito, sentisse que já tinha alcançado aqui-
sabemos como escapar-lhe. É uma espé- FTQÌDJFEFHSBOEFCFTUBw típico e atávico. lo a que me propusera como escritor.

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