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Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

GÊNERO E
DIFERENÇA
Curso de Pós-Graduação em relações étnico-raciais, gênero e
diferenças no contexto do ensino de história e cultura brasileira.

Prof. Dr. Miguel Rodrigues de Sousa Neto


web-aula 1

COMPREENDER O
GÊNERO
a construção dos sujeitos generificados e sexualizados

Miguel Rodrigues de Sousa Neto


Objetivo compreender os papéis do gênero
e da sexualidade na construção dos
sujeitos e no embate social que travam,
considerando o papel da academia (ou dos
discursos cientificizados) neste processo.
Para tanto, buscarei historicizar o
tema, fazendo um retorno temporal ao
final do século XIX, momento em que a
ciência dele se apropria, passando
pelas transformações no século XX e
chegando aos contundentes
questionamentos queer e decoloniais
do século XXI.
Eu parto de algumas
questões:
A sociedade brasileira foi
construída por práticas
classistas, patriarcais e
racistas.

Debret, Um funcionário passeia com sua família, 182?.


O que advém
destas práticas,
é uma pirâmide
social, cujo topo
é ocupado pelo
homem branco
e rico.
O que foi
garantido por
práticas de
violência e
sujeição impostas
aos demais
habitantes da
colônia.
A partir de uma matriz
religiosa (abraâmica), à qual
foi superposta uma matriz
científica (médico-legal),
algumas práticas foram
solidificadas:
Heterossexualidade compulsória

vagina = feminino
masculino = pênis
Febrônio
Índio
do
Brasil
Carlos Kroeber, o Timóteo de A casa assassinada (Paulo Cesar Saraceni, 1971)
Madame Satã
João Francisco dos Santos Sant´Anna , o Madame Satã (1900-1976)
a discussão médico-científica em torno desta
questão [a homossexualidade] trazia em seu bojo
uma discussão mais ampla em torno das
categorias masculino/feminino – isto é, em torno
da questão do gênero. (...) um aspecto central de
todo o debate em torno da “inversão sexual” (ou
mesmo da “missexualidade” – outra categoria da
época), ao longo dos anos 30, é aquele da
“mistura” – vista como negativa sob diferentes
aspectos – de características “masculinas” e
“femininas” e, consequentemente, da
necessidade de “ordenar” pedagogicamente este
campo do comportamento.
(PEREIRA, Carlos Alberto Messeder. O direito de curar:
homossexualidade e medicina legal no Brasil dos anos 30. In: ___ &
HERSCHMANN, Micael M. (orgs.). A invenção do Brasil moderno:
medicina, educação e engenharia nos anos 20-30. Rio de Janeiro:
Rocco, 1994, p. 88.)
Vale a pena fazer uma interrupção neste ponto para
falar sobre a identidade de “gênero” porque se
trata de um conceito-chave na personificação
sexual. O termo “gênero” conota aspectos
psicológicos de comportamento relacionados com a
masculinidade e a feminilidade. Não tem o mesmo
significado de “sexo”. O sexo de uma pessoa é o
resultado de um certo número de fatores:
cromossomos, órgãos genitais externos, internos,
condição hormonal, características sexuais
secundárias produzidas pelos estrógenos e pela
testosterona, e também nas gônodas. São atributos
biológicos de ambos os sexos em todos, mas a
soma desses atributos na maioria das pessoas
inclina-se decididamente para um ou outro dos
pólos da série das combinações existentes entre o
macho e a fêmea.
O “sexo” é biológico; o “gênero”, social. (...)
O “gênero” tem conotações de um
comportamento aprendido de um imenso
fundo comum de sugestões presentes em
todas as culturas e de um sistema
compacto, intrincado, embora
habitualmente sutil, de recompensas e
punições, nos quais toda pessoa vive, a
partir do nascimento.

(MARMOR, Judd. A inversão sexual – as múltiplas raízes da


homossexualidade. Rio de Janeiro: Imago, 1973, do original Sexual
inversion – the multiple roots of homosexuality. New York: Basic Books,
1965, p. 165-166)
Isso não impediu (de todo)
outras experiências:
Práticas de subversão do controle
masculino;

Encontros eróticos;

Surgimento de uma ‘cena’ lgbtqi+, etc.


Que tem
histórico...
Na academia, o mesmo se dá:

“Existe alguma forma de vincular a


materialidade do corpo com a
performatividade do gênero? E como
a categoria do “sexo” figura no
interior de uma tal relação.”
(BUTLER, Judith. Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do
“sexo”. In: LOURO, Guacira Lopes (org). O Corpo Educado: pedagogias
da sexualidade. Belo Horizonte, Autêntica, 2001, p. 153)
As reflexões sobre gênero e sexualidade
estiveram ligadas historicamente à
binariedade heterossexual X homossexual.

Mesmo aqueles sujeitos que se travestiram


ou que de alguma maneira inverteram a
“citação” hegemônica dos gêneros, foram
vistos, via de regra, como homossexuais.

Dito de outra maneira, a orientação do


desejo erótico esteve vinculada
compulsoriamente à construção do gênero
pelos sujeitos.
“A epistemologia do armário não é um tema datado
nem um regime superado de conhecimento.” (p. 21)
“Mesmo num nível individual, até entre as pessoas
mais assumidamente gays há pouquíssimas que não
estejam no armário com alguém que seja pessoal,
econômica ou institucionalmente importante para
elas” (p. 22)
“(...) a epistemologia do armário deu uma
consistência abrangente à cultura e à identidade
gays, ao longo do século XX (...)” (p. 22)

SEDGWICK, Eve Kosofsky. A epistemologia do armário. Cadernos Pagu, n.º 28,


2007, p. 19-54. Disponível em <http://www.scielo.br/pdf/cpa/n28/03.pdf>.
Acessado em 13 jun. 2018.
Sair do armário, ou seja, assumir-se socialmente
diferente da norma hegemonicamente instalada, não
garantiu que o armário deixasse de ser um elemento
estruturante para a vida de muitos sujeitos. Sobre a
saída, escreveu Jonhathan Ned Katz:
“No início dos anos 1970, muitos homossexuais
começaram a tornar públicas as suas até então
secretas vidas. Criando um modo novo e patente de
viver as nossas paixões e os nossos amores,
passamos de uma norma histórica de
homossexualidade para outra. (...)
Naquele tempo muitos de nós passamos do
vergonhoso homossexual para o assertivo gay e
lésbica, tornando o poder dessas palavras o centro
de nosso movimento político.”
KATZ, Jonathan Ned. A genealogia de um conceito sexual. In: ___. A
invenção da heterossexualidade. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996, p. 13.
E desnaturalizando o olhar sobre a
heterossexualidade, escreveu:

“A existência de uma história da


heterossexualidade, bem como de uma
história da homossexualidade, em geral
ainda não tinha sido reconhecida, e
tampouco suas implicações foram
analisadas. Chamá-la de história
heterossexual afirmava a existência de tal
coisa, um passo necessário para analisá-la.”

KATZ, Jonathan Ned. A genealogia de um conceito sexual. In: ___. A


invenção da heterossexualidade. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996, p. 14.
Retomando proposições dos/das
autores/as, é possível considerar
algumas questões:

1) O corpo é partícipe do processo de


construção do gênero em/por cada
indivíduo, ou seja, gênero e
sexualidade são expressos/vividos no
corpo.
2) Os sujeitos são atores históricos. Estão,
portanto, inseridos em uma determinada
conjuntura histórica. Nela, são interpelados
todo o tempo. A construção dos sujeitos se dá
nesse processo continuado de interpelação.
Os sujeitos são, assim, tão históricos quanto
as noções de corpo, sexualidade e gênero que
lhes são disponibilizadas/ impostas e das
quais eles se apropriam/ recriam/ rechaçam.
3) A heterossexualidade, sendo hegemônica,
foi construída discursivamente após o
aparecimento da homossexualidade como
categoria no século XIX (FOUCAULT, Michel. História
da Sexualidade: a vontade de saber. Rio de janeiro: Graal,
v.1, 11 ed. 1993).
A produção acadêmica recente
tem apontado que:
É possível perceber a performatividade do gênero,
considerando o que nomeamos masculino,
feminino e o que há entre um e outro e além dos
mesmos;

Os movimentos sociais tradicionais continuam


conseguindo responder a uma série de questões
contemporaneamente, mas outras coletividades
têm colocado para si outras questões e buscado
outras experiências – o que aponta para a
construção gradativa de um repositório de
imagens, práticas, discursos lgbt;
A cultura de violência que tem marcado nosso país
precisa ser refutada e isso tem sido feito pelos
meios institucionais, pelos movimentos sociais
organizados e pela produção político-cultural;

Uma cultura de convívio com a diferença, ou seja,


uma cultura na qual a diferença não seja utilizada
como fator de exclusão, desigualdade e violência
tem sido vivida por diversas coletividades. O que se
propõe é o transbordamento contínuo disso frente à
violência hegemonicamente aqui instalada;
As eróticas são também transgressoras e é
preciso observá-las com mais atenção. Isso já
foi apontado anteriormente, na primeira
versão do movimento homossexual brasileiro
(esse era seu nome), por figuras como João
Silvério Trevisan, e tem sido retomado por um
transfeminismo radical, como o proposto por
Paul B. Preciado.
Coloco a necessidade de construir um
repositório de narrativas, imagens,
experiências que possam ser apropriadas
pelos integrantes dos grupos historicamente
subalternizados nessa sociedade.
adeus, boa noite
e boa sorte.

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