1.Introdução
O presente trabalho tem como tema: Evolução Histórica do sistema judicial moçambicano.
1.1.Objectivos
1.1.1.Objectivo geral
1.1.2.Objectivos específicos.
A evolução da organização judiciária desde a independência até aos dias acompanha, em termos
gerais, a evolução do próprio sistema político e da ordem jurídico-constitucional de
Moçambique. É, assim, possível observar quatro períodos, correspondendo cada um deles ao
tempo de vigência das transformações que se fizeram sentir, com incidência sobre a composição,
a organização e o funcionamento dos tribunais e dos outros órgãos de administração da justiça:
– de 1992 a 2004, a criação de uma organização judiciária do Estado de Direito, com a separação
dos tribunais comunitários; – o período que se inicia com a recente revisão constitucional, de
Novembro de 2004, é o do reconhecimento do pluralismo jurídico e da criação de um sistema
integrado de Justiça, com o objectivo de tornar a justiça mais próxima, mais acessível, mais
eficiente, mais transparente e ao serviço da cidadania, da democracia e do desenvolvimento.
3.Tribunais popular
Durante o conflito armado foi desenvolvido pela Frelimo, nas zonas conquistadas nos anos de
guerra colonial, um trabalho que, em 1978, resultou na aprovação da Lei Orgânica dos Tribunais
Populares, que criou os tribunais populares em diferentes escalões territoriais. No topo da
hierarquia estava o Tribunal Popular Supremo, seguindo-se-lhe os Tribunais Populares
Provinciais, Tribunais Populares Distritais enquanto, na base ou 1.ª instância, estariam os
Tribunais Populares de Bairro.
No exercício judicial participavam juízes profissionais e juízes eleitos. Os juízes eleitos são
pessoas idóneas, eleitos pelas assembleias populares e exercendo funções verdadeiramente
jurisdicionais, em processos relativos a litígios penais, em que analisavam tanto a matéria de
facto como a de direito.
Neste sentido, o governo tentou por fim à aplicação do direito consuetudinário, que tinha
ligações estreitas ao direito colonial. Ao abrir a justiça aos cidadãos, o efeito provocado foi
justamente o inverso do pretendido posto que o direito costumeiro subsistiu, visto este interligar-
se com os princípios fundamentais mencionados na Constituição.
3.1.Função
Assim, no que diz respeito à justiça, o papel dos GDs e dos tribunais populares de base tende,
por vezes, a confundir-se, o que permanecerá uma constante, mesmo quando, nos anos 90, os
últimos são substituídos pelos tribunais comunitários (Isaacman e Isaacman, 1982: 300-304;
Araújo e José, 2007). Ora, isto não significa que as autoridades tradicionais tenham
desaparecido, de facto, do mapa da administração e da justiça moçambicano.
4.Extinção
Assim, a Lei dos Tribunais Populares foi substituída pela Lei Orgânica dos Tribunais Judiciais
de 1992.3 Os tribunais de base foram excluídos da organização judiciária e, no mesmo ano,
foram criados, por lei própria, os tribunais comunitários (TCs). Estes, fora da organização
judiciária, deviam continuar a funcionar com juízes eleitos pela comunidade e a desempenhar o
papel que cabia aos tribunais populares de localidade e de bairro.
4.1.Tribunais comunitários
A Lei Orgânica dos Tribunais Judiciais aprovada em 1992 extinguia os Tribunais Populares
(TPs) de base; isto é de localidade ou de bairro e estes foram substituídos pelos Tribunais
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Comunitarios (TCs) criados pela lei 4/92 de 6 de Maio. Porém a lei que criou os TCs não foi até
hoje regulamentada, o que leva reflectir que estes tribunais assumiram a herança dos TPs, ora
extintos.
Os TCs, assumiram a herança dos TPs que foram oficialmente declarados extintos, e não são
nem completamente oficiais e nem completamente não oficias, os TCs são um híbrido jurídico.
Estes tribunais assumiram o legado humano e institucional dos TPs, mas não o legado
organizacional formal, pois ao contrário destes, nem estão integrados na organização judiciária,
nem são apoiados técnica e materialmente pelos tribunais distritais e funcionam com carências
humanas e infra-estruturas.
Os tribunais comunitários constituem hoje, na configuração que lhes é dada pela Lei nº 4/92, de
6 de Maio, uma instância “oficial” (no sentido de ter sido criados por diploma normativo estatal)
de resolução de conflitos, dado que eles representam, até certo ponto, uma continuidade dos
“tribunais populares de base” previstos na anterior organização Judiciária.
4.1.Função
A Constituição da República estabelece no número 2 do artigo 223 que podem ser criados os
tribunais comunitários como uma espécie de tribunais distintos dos demais tribunais, facto que
pressupõe uma orgânica e actuação própria desta instância de resolução de conflitos na nossa
sociedade, (Salimo, 2011:4).
Por outro lado, o nº 5 da Lei nº 24/2007 de 20 de Agosto, Lei de Organização Judiciária define
os Tribunais Comunitários como instâncias não judiciais de resolução de conflitos.
A Procuradoria do Distrito;
Como corolário deste princípio, os tribunais comunitários são consagrados como órgãos de base
do sistema de justiça, deixando de ser jurisdição voluntária e passando a ser jurisdição
obrigatória.
Nos termos do respectivo anteprojecto de Lei Orgânica, estes tribunais tem a competência para
todo o tipo de conflitos, à excepção daqueles em que estejam em causa princípios e normas
constitucionais ou de contencioso administrativo, ou cujo valor da causa seja duas vezes o salário
mínimo nacional, digam respeito à capacidade das pessoas, à validade ou interpretação de
testamento, à adopção e à dissolução de casamento civil ou, ainda, em matéria criminal,
relativamente a crimes de natureza pública ou sempre que o pedido de indemnização cível
exceda duas vezes o salário mínimo nacional, (Trindade, 2010).
Das decisões proferidas pelos tribunais comunitários caberá sempre recurso para o tribunal
judicial de distrito competente, e o recurso poderá ser interposto oralmente ou por escrito pelos
interessados, sem necessidade de patrocínio jurídico. O julgamento destes recursos está sujeito
aos mesmos critérios de equidade, bom senso e justa composição dos litígios, sendo vedado ao
juiz decidir de acordo com critérios de legalidade.
O artigo 29 da Lei Orgânica Judicial descreve a organização judiciária como sendo composta por
quatro graus, como órgão máximo o Supremo Tribunal, os Tribunais Superiores de Recurso, os
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Os Tribunais Superiores de Recurso, os quais têm competência para a resolução de conflitos não
resolvidos na 1ª instância, subdividem-se em 1ª e 2ª instância. Já os Tribunais Judiciais de
Província subdividem-se em 1.ª e 2.ª instância. Por sua vez, os Tribunais Judiciais de Distritais
subdividem-se em 1.ª e 2.ª instância, sendo que cada uma destas instâncias se divide em 1.ª e 2.ª
classe.
Nos quadros de todos os Tribunais supracitados existem juízes profissionais e juízes eleitos. Os
juízes eleitos do Tribunal Superior e dos Tribunais Superiores de Recurso são designados pela
Assembleia da República; para os Tribunais Judiciais de Província e Distritais são designados
pelos órgãos representativos do poder local. Estes juízes são seleccionados entre os cidadãos de
reconhecida idoneidade propostos por associações cívicas, organizações sociais, culturais ou
profissionais.
O controlo da eleição dos juízes eleitos é feito por uma comissão pela Assembleia da República
ou pela Assembleia de Província, conforme art.º 90 da Lei Orgânica Judicial. Para melhor
apreender a estrutura orgânica e funcional dos Tribunais moçambicanos analisamos, em
separado, cada um deles.
Tribunal Supremo
ter exercido pelo menos 10 anos de actividade forense ou de docência de direito, conforme
art.º 227 da Constituição da República ( CRM).
No caso do Tribunal Supremo funcionar como 2ª instância, este é constituído pelo Presidente, o
Vice-Presidente e os Juízes Profissionais, tendo competência para uniformizar a
jurisprudência quando tenham sido proferidas decisões contraditórias nas várias instâncias do
Tribunal Supremo ou nos Tribunais superiores de apelação; decidir de competências cujo
conhecimento não esteja, por lei, reservado a outros tribunais; julgar processos de decisões em
primeira instâncias pelas secções do Tribunal Supremo; e ordenar que qualquer processo seja
julgado em tribunal diverso do legalmente competente, conforme os artigos 44 n.º 1 e 45 da
LOJ.
Por outro lado, o Tribunal Supremo organiza- se, também, secções, de 1.ª e 2.ª instância,
conforme o estipulado no artigo 43 al. b) da Lei Orgânica Judicial. Funcionando em 1.ª
instância, a secção é composta por dois juízes profissionais (um presidente e outro adjunto) e
dois juízes eleitos, com competência para julgar processos crime em que sejam arguidos
nomeadamente deputados da Assembleia da República, membros do Conselho de Ministros,
membros do Conselho de Estado, juízes profissionais dos tribunais superiores de recurso e
magistrados do Ministério Público junto dos mesmos tribunais, julgar processos de extradição,
conforme artigos 48 n.º 1 e 51 da Lei Orgânica Judicial.
No caso de funcionar em 2.ª instância é composto por um mínimo de dois juízes profissionais,
com competência sobretudo para julgar em matéria de direito os recursos das decisões
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O Tribunal Superior de Recurso foi criado pela Lei 24/2007 de 20 de Agosto. Trata-se de
tribunais de recurso, de terceiro nível na hierarquia judiciária. Nascem com o objectivo de
responder à preocupação de tornar a justiça mais célere e eficiente, combatendo assim a
passividade e morosidade dos tribunais de recurso. Têm sede numa das capitais administrativas
incluídas na área da sua administração, neste caso, em Maputo, Nampula e Beira, conforme o
estipulado nos artigos nºs 59 e 60 da LOJ. Estes tribunais organizam-se em secções de
competência genérica ou especializada.
Sempre que funcione como tribunal de segunda instância, o tribunal superior de recurso é
composto por três juízes desembargadores; e por um só juiz desembargador e dois juízes eleitos,
quando opere como tribunal de primeira instância.
Quando funciona como tribunal de primeira instância tem competência para julgar processos
crime nos quais sejam arguidos juízes profissionais dos Tribunais Judiciais de Província e
magistrados do MP junto dos mesmos, e por actos relacionados com o exercício das suas
funções, conhecer e decidir das acções de perdas e danos instauradas contra os mesmos e
conhecer pedidos de Habeas Corpus. Ao passo que, operando como tribunal de segunda instância,
cabe-lhe julgar conflitos de competência entre Tribunais Judiciais de Província, conflitos de
competência entre tribunais judiciais e outras entidades, ou ainda recursos das decisões de
decisões proferidas pelos Tribunais Judiciais de Província.
Poderá, igualmente, funcionar em segunda instância, sendo constituído por três juízes
profissionais com competência para conhecer os recursos interpostos das decisões dos tribunais
distritais; conhecer os conflitos de competência entre os tribunais judiciais de distrito; julgar os
recursos interpostos de decisões emanadas dos tribunais arbitrais e conhecer os pedidos de
habeas corpus, que lhe sejam remetidos.
Ao juiz presidente dos Tribunais Judiciais Distritais compete, para além das demais atribuições
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previstas por lei, dirigir e representar o tribunal, supervisionar a secretaria judicial e os demais
serviços de apoio, presidir e dirigir as secções de distribuição de processos, presidir o acto de
investidura dos juízes eleitos do tribunal, distribuir os juízes eleitos pelas secções, prestar
informação sobre a actividade judicial do tribunal, dar posse, prestar informações de serviço e
proceder disciplinarmente sobre os funcionários do tribunal e controlar a gestão do património
afecto ao tribunal, conforme o estipulado no art.º 87 da Lei Orgânica Judicial.
Julgar acções cuja alçada não exceda cem vezes o salário mínimo nacional, para o
qual não seja competente outro tribunal.
Julgar infracções criminais cujo conhecimento não seja atribuído a outro tribunal.
Julgar acções cíveis cujo valor não exceda cinquenta vezes o salário mínimo que
não sejam competentes outros tribunais.
Julgar as infracções criminais que não corresponda a pena superior a oito anos
de prisão.
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Tribunal Administrativo
data da sua nomeação, terão de ter idade igual ou superior a 35 anos e preencher os demais
requisitos estabelecidos por lei, conforme se encontra previsto no artigo 230 da CRM2004. Os
magistrados do presente Tribunal, quando em exercício, não podem desempenhar outras
funções públicas ou privadas, excepto actividades de docência ou de investigação jurídica, após
autorização do Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrativa.
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5.Conclusão
Feita a analise do trabalho conclui-se que a lei que cria estes tribunais serve para a “promoção do
acesso à justiça e ao direito, a dinamização e consolidação de uma justiça de proximidade, a
prevenção dos conflitos, o reforço da estabilidade social e a valorização, de acordo com a
Constituição, das normas, regras, usos, costumes e demais valores sociais e culturais existentes
na sociedade moçambicana”. Com base no que foi instituído pela lei, entendemos haver motivos
suficientes para o alargamento das competências para conferir mais autoridade a essas instâncias
judiciais.
A evolução da organização judiciária desde a independência até aos dias acompanha, em termos
gerais, a evolução do próprio sistema político e da ordem jurídico-constitucional de
Moçambique.
Os tribunais tem a competência para todo o tipo de conflitos, à excepção daqueles em que
estejam em causa princípios e normas constitucionais ou de contencioso administrativo, ou cujo
valor da causa seja duas vezes o salário mínimo nacional, digam respeito à capacidade das
pessoas, à validade ou interpretação de testamento, à adopção e à dissolução de casamento civil
ou, ainda, em matéria criminal, relativamente a crimes de natureza pública ou sempre que o
pedido de indemnização cível exceda duas vezes o salário mínimo nacional,
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6.Referências Bibliográficas