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Separação de Poderes

De doutrina liberal a princípio constitucional

Fabrício Juliano Mendes Medeiros

Sumário
Introdução. 1. A separação de Poderes
enquanto doutrina liberal. 2. Separação de
Poderes: status de princípio constitucional. 3. O
conteúdo normativo do Princípio da separação
de Poderes na Constituição de 1988 e a sua apli-
cação como limite às emendas constitucionais.
4. Conclusão.

Introdução
O objetivo deste trabalho é, primeira-
mente, estudar como a doutrina da sepa-
ração de Poderes foi alçada à condição de
princípio constitucional, ou seja, analisar
a forma pela qual a separação de Poderes
passou a ser entendida como um princípio
estruturador da ordem política estatal de
berço eminentemente constitucional.
Num segundo momento, e já voltado
para uma análise mais dogmática, busca-
remos identificar o conteúdo normativo
do Princípio da separação dos Poderes na
Constituição de 1988 e investigar a razão
pela qual a Constituição brasileira vigente,
no seu artigo segundo, tratou de estabele-
Fabrício Juliano Mendes Medeiros é especia- cer o Princípio da separação de Poderes
lista em Direito Constitucional Processual pela quando a própria organização positivada
Universidade Federal de Sergipe, Mestrando em já possui o seu perfil.
Direito pelo Centro Universitário de Brasília –
Por derradeiro, será estudado o alcance
UniCEUB, professor de Direito Constitucional
do Centro Universitário de Brasília – UniCEUB
da separação de Poderes enquanto limi-
e Assessor de Ministro do Supremo Tribunal tação material ao Poder Constituinte de
Federal. reforma no Brasil.

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1. A separação de Poderes legislativa e federativa3. De se notar que
enquanto doutrina liberal Locke – como liberal clássico que era –
A doutrina da separação de Poderes temia que até mesmo o corpo legislativo,
tem suas bases históricas na Inglaterra do detentor do poder supremo do Estado, se
século XVII. A partir de então, ela passou tornasse arbitrário, razão por que entendia
a experimentar várias versões ao longo da que mesmo o poder político fundado no
sua existência, daí por que é totalmente consentimento da coletividade necessitava
equivocado tomar como absoluta e definiti- de algum tipo de controle. Dessa forma,
va qualquer das versões apresentadas pelos além de pregar a necessidade de o poder
vários pensadores da Ciência Política. legislativo atuar em consonância com um
Longe de querer investigar a paternidade processo pré-estabelecido, da proibição de
da doutrina da separação de Poderes, no se delegar o seu poder e de governar por
presente tópico serão examinadas, ainda atos improvisados e arbitrários, também
que em breves linhas, as contribuições da- defendia a absoluta impossibilidade de o
das pelos pensadores políticos da doutrina próprio corpo legislativo executar as suas
da separação dos Poderes de maior desta- leis4.
que na consolidação desse postulado. Com efeito, a doutrina da separação dos
Como anteriormente dito, a doutrina da Poderes pressupõe a autonomia material
separação de Poderes remonta à Inglaterra da função legislativa em relação à função
do século XVII. Isso não obstante, é preci- executiva e estabelece a supremacia da
so lembrar que Aristóteles (1995), ainda legislação (rule of law). É a lei – e somente
na Grécia antiga, em sua obra A Política, ela – quem estabelece, genérica e abstrata-
tratou de classificar as funções do Estado mente, os critérios para o equacionamento
como deliberativas, executivas e judiciais dos casos concretos. Assim, o papel do ór-
e, ao fazê-lo, lançou algumas idéias que gão executivo fica adstrito à solução de tais
vieram a encontrar eco no moderno Estado casos, mas sempre mediante a aplicação dos
constitucional1. critérios previamente estabelecidos em lei.
Tempos mais tarde, John Locke escre- Apresentadas, ainda que sucintamen-
veu Two Treatises of Government, obra que te, as colaborações de Aristóteles e John
pode ser considerada como uma expres- Locke, impõe-se, agora, tratar das idéias
são clássica das idéias políticas liberais2. de Montesquieu. Antes, porém, e a título
Entre os vários temas abordados, Locke de ilustração, é de se ler o que escreveu
defendia o governo pelo consentimento, Paul de Visscher (1947, p. 138), narrando a
com finalidade e poder limitados, além de experiência do senhor de La Bredé:
repartir as funções estatais em executiva, “Quando visitou o reino da Inglater-
ra, ao curso do ano de 1729, Montes-
1
“Separation in government was first stated by quieu, passeando uma manhã nas
Aristotle in his Politics to include a tripartite govern-
ment of deliberatons, magistrates, and judicial func- 3
O poder federativo de que tratava Locke referia-
tionaries; but Aristotles’s division did not distinguish se ao direito de fazer a paz e a guerra, o de celebrar
parts by functions or institution” (BRAVEMAN, Dann; tratados e alianças e o de conduzir todas as espécies de
BANKS, William C.; SMOLLA, Rodney A. [19--], p. negócios com pessoas e comunidades estrangeiras.
69-70). 4
Vale ainda mencionar que, ao tratar do poder
2
“Locke parte da existência de um estado de natu- executivo, Jonh Locke asseverava que a ele não cabia
reza em que os homens apenas estavam sujeitos à lei unicamente a aplicação das leis. Para o bem da so-
natural manifestada na consciência e formulada pela ciedade, seria de se exigir que o exercente do poder
razão (...). Mas esse estado de natureza, pela incerteza executivo possuísse uma certa liberdade de decidir
das regras a observar e pela falta de um juiz imparcial, segundo seu critério para suprir as omissões da lei,
não dava segurança suficiente: então os indivíduos temperar a sua rigidez ou adaptá-la às circunstâncias.
formaram, por acordo, várias comunidades ordenadas Essa liberdade de ação inerente ao titular do poder
em sociedades políticas” (CAETANO, 1978, p. 233). executivo foi denominada prerrogativa.

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ruas da velha Londres, notou um e a sua execução ficassem orgânica e pesso-
carpinteiro que, numa pausa de seu almente separadas a fim de evitar o abuso
trabalho, lia a London Gazette. Esta de poder. Mas isso não significa dizer que
constatação lhe inspirou numerosas Montesquieu defendia uma total separação
reflexões sobre a maturidade e a dos órgãos de Poder. Em absoluto! Por mais
liberdade políticas do povo inglês. paradoxal que possa parecer, a essência do
Comparada à França, onde o povo era pensamento de Montesquieu era a criação
mantido em um estado de ignorância de mecanismos de equilíbrio e recíproco
e de semiservidão, onde os súditos do controle entre os Poderes Legislativo, Exe-
Rei não dispunham nem da liberdade cutivo e Judiciário, senão veja-se:
de palavra, nem de imprensa, onde “(...) Eis, assim, a constituição funda-
o fato de desgostar do Monarca ou mental do governo de que falamos. O
de um de seus cortesões fazia um corpo legislativo, sendo composto de
simples cidadão correr o risco de ser duas partes, uma paralisará a outra
ver privado da liberdade, a Inglater- por mútua faculdade de impedir.
ra aparecia a Montesquieu como a Todas as duas serão paralisadas pelo
terra eleita da liberdade, buscando a poder executivo, que o será, por sua
causa desta diferença entre os países, vez, pelo poder legislativo. Esses três
Montesquieu, que havia estudado poderes deveriam formar uma pausa
sumariamente a Constituição inglesa ou uma inação. Mas como, pelo movi-
nos escritos de Locke e de Blakstone, mento necessário das coisas, eles são
constatou que, contrariamente à obrigados a caminhar, serão forçados
França, onde todas as funções, legis- a caminhar de acordo” (MONTES-
lativa, executiva e judiciária, estavam QUIEU, 1995, p. 123).
reunidas nas mãos de um só órgão, o Discorrendo sobre as funções estatais,
monarca absoluto, na Inglaterra, ao Montesquieu (1995) afirmava que o Poder
contrário, essas funções se encontra- legislativo se traduz no poder de fazer as
vam repartidas entre órgãos diferen- leis, por um certo tempo ou para sempre, e
tes, o Parlamento Legiferante, o Rei de corrigir ou ab-rogar as que estão feitas.
Governante e a Corte julgadora das Comentava sobre o poder executivo das
Contestações com base na regra de coisas que dependem do direito internacio-
direito. Foi nessa divisão de funções nal, ou seja, o poder executivo do Estado é o
de poder entre os órgãos diferentes poder de fazer a paz ou a guerra, de enviar
que Montesquieu viu logo a causa da ou receber as embaixadas, de manter a se-
feliz situação do povo inglês porque, gurança e de prevenir as invasões (poder
disse ele, essa separação de funções federativo lockeano). Por último, referia o
traz obstáculo à tendência natural do poder de julgar ou o poder executivo que
homem que o leva instintivamente a depende do direito civil, correspondente
abusar do poder que ele detém: todo ao poder de punir os crimes ou de julgar
homem que tem poder é levado a abu- os litígios entre os particulares (FERREIRA,
sar dele: vai até encontrar limites... 2002, p. 163).
Para que não se possa abusar do po- Relativamente ao poder judicial, defen-
der, é preciso que, pela disposição das dia Montesquieu (1995) que o juiz deveria
coisas, o poder detenha o poder”. ser “a boca que pronuncia as palavras da
Da análise da conhecida obra de Montes- lei, seres inanimados que lhe não podem
quieu (1995) – De l’Esprit des Lois – infere-se moderar nem a força nem o rigor”5. Logo,
que o que realmente importava para o seu 5
O poder judicial idealizado por Montesquieu
escritor era assegurar que a edição das leis (1995) não deveria ser exercido por magistrados

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os juízes não teriam qualquer função juri- ção do poder político foram concebidos,
dicamente constitutiva, realizando apenas e vale dizer, foram idealizadas inúmeras
tão-somente uma operação lógica, automá- formas que buscavam garantir, de um
tica e forçosa de aplicação da lei. Os juízes lado, a afirmação do indivíduo enquanto
seriam autômatos, daí por que a sentença tal (e salvaguarda de seus interesses) e, do
a ser proferida no caso concreto seria uma outro, a liberdade moderna, a representar
fiel reprodução do que já decidido genérica a autonomia individual perante o Estado
e abstratamente na lei. e a sociedade.
A conclusão a que se pode chegar – De todas as fórmulas, salta à evidência
ainda que nos marcos desse resumido apa- o estado de raiz lockeana que, após rece-
nhado histórico – é a de que, em matéria de ber várias contribuições doutrinárias das
separação de Poderes, Montesquieu (1995) Revoluções americana e francesa, ficou
economizou no ineditismo. Mesmo assim, conhecido como o Estado liberal, o qual
é inegável que ele colaborou decisivamen- buscava essencialmente uma ruptura com
te para difundir e transformar a doutrina a ordem político-social medieval.
da separação de Poderes em princípio do Esse modelo de organização do poder
Estado constitucional6. político, que se pretendeu implementar
durante o século XIX e que persistiu até os
2. Separação de Poderes: status de primórdios do século XX, apresentava al-
princípio constitucional gumas variantes de países para países, mas
Como se sabe, o ideário liberal fundava- sempre mantendo um núcleo em comum.
se numa premissa: a antinomia radical entre E, dentro desse mínimo comum entre os
o indivíduo (com a sua liberdade natural) países, sobressaía a separação de Poderes,
e a sociedade que lhe impunha deveres e o ela mesma conhecedora de várias realida-
constrangia com o seu poder7. des, dependendo do Estado a considerar.
Com vistas à solução dessa antinomia, Mesmo com essas alterações, o Princípio
vários modelos de estado e de organiza- da separação dos Poderes assumiu uma
posição de destaque nas constituições
profissionais (de carreira), mas por jurados ou juízes
temporariamente eleitos.
liberais escritas, chegando a ser considera-
6
A primeira constituição a consagrá-la foi a da do condição da própria existência de uma
Virgínia (1776). Assim também ocorreu em 1787, na Constituição, como se infere do artigo 16
Constituição Federal norte-americana. Mas foi em da Declaração dos Direitos do Homem e
1789, pelos braços da Constituição francesa, que a
separação de poderes foi definitivamente consagrada
do Cidadão:
como no espírito e na técnica do direito público. “Qualquer sociedade em que não
7
“Esse ideário, síntese mais ou menos harmo- esteja assegurada a garantia dos direi-
niosa de muitos contributos e influências que, desde tos, nem estabelecida a separação de
a Idade Moderna, se vinham fazendo sentir e que,
nalguns casos, se traduziram no retomar de idéias da poderes, não tem constituição”.
Antiguidade greco-romana, pretendeu-se um ideário Sucede que, para o Estado liberal, o
essencialmente de ruptura com a ordem político-social Princípio da separação de Poderes não
medieval, em que o indivíduo e a sociedade política representava tão-somente um elemento
constituíam uma unidade dialética, um indefectível
continuum. Tal ideário, cuja forma mais acabada lhe foi organizatório8. Mais que isso, e antes de
dada pelo Iluminismo, tem como premissa essencial qualquer coisa, era um princípio a serviço
não essa unidade medieval, mas, muito ao contrário, a
antinomia radical entre o indivíduo, com a sua liberda- 8
“La distinción de poderes contiene el segundo
de natural, considerado em si mesmo e não previamen- principio del elemento de Estado de Derecho própio
te inscrito em ‘ordens naturais’, gozando reflexamente de toda Constitución liberal burguesa. Es el principio
os direitos ou os privilégios que destas fossem atributo, orgánico destinado a asegurar, al ponerse en práctica,
e a sociedade, que lhe impõe obrigações e o coage com la moderación y controlabilidad de todos os órganos
o seu poder” (PIÇARRA, 1989, p. 143). de pode del Estado” (SCHMITT, 1996, p. 186).

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daquilo que, para o Estado liberal, assu- Estado-sociedade e os direitos fundamen-
miu uma importância primordial: a defesa tais de liberdade.
intransigente dos direitos fundamentais de Em que pese a colaboração do pen-
liberdade9. Assim, o Princípio da separação samento jusnaturalista moderno, foi de-
de Poderes consistia num instrumento de cisiva a convergência dos pensamentos
garantia da liberdade dos indivíduos contra de Rosseau e Kant para o entendimento
os abusos de poder. No Estado liberal, pois, moderno-iluminista da lei10. Do ponto de
a liberdade estaria perdida se “o mesmo vista sistemático, pode-se dizer que a lei
homem, ou mesmo corpo dos principais, nada mais significa do que uma norma
ou de nobres, ou do povo, exercesse esses geral e abstrata, fruto da vontade geral do
três poderes: o de fazer as leis, o de execu- povo soberano, a quem deve a sua existên-
tar as resoluções públicas e o de julgar os cia. Mas não é só. É de se dizer que a lei, se
crimes ou divergências dos indivíduos” não imutável, é pelo menos estável, carac-
(MONTESQUIEU, 1995, p. 119). terística que fez com que, em tese, houvesse
Muito bem. Como se viu linhas atrás, o iniciativas pouco freqüentes do legislador.
modelo teórico clássico do Estado liberal Além disso, e dentro dessa visão sistemáti-
pretendia romper o sistema jurídico-polí- ca da lei, é preciso que, em razão da sua na-
tico antecedente, baseado no Estado abso- tureza racional, geral e abstrata, ela assuma
lutista e no sistema feudal. E esse modelo um conceito jurídico, não se transformando
era, de fato, a única solução que poderia ser em instrumento de governo, em mecanismo
qualificada como uma ordem política-social de atuação governamental. Somente pela
suficientemente apta a romper radicalmen- omissão da sua dimensão política pode a
te com o antigo regime. Acresça-se que os lei desempenhar uma função que é política,
teóricos desse novel modelo não tinham é verdade, mas uma função política essen-
compromisso com a história nem com a cialmente negativa que o Estado liberal lhe
realidade empírica. Mas isso por uma razão emprestou: a de instituidora do estatuto
óbvia. É que o novo modelo foi baseado e dos cidadãos juridicamente iguais, estabe-
idealizado no plano do dever-ser, no plano lecendo os respectivos direitos, deveres e
normativo. Daí por que o modelo do Estado responsabilidades.
liberal não pretendia interpretar uma deter- Foi exatamente esse conceito de lei que
minada realidade tomada como base, mas lhe conferiu dois caracteres bem relevantes
sim um modelo normativo da realidade. para a compreensão do Princípio da separa-
Bem vistas as coisas, convém examinar ção de Poderes: o primeiro deles, referente
alguns elementos que determinaram a con- à essência do Estado, evidencia que a única
formação, o sentido e o alcance do Princípio forma de manifestação do poder soberano é
da separação de Poderes nesse modelo de pela produção legislativa (o poder soberano
estado normativo, quais sejam: o conceito advém do poder legislativo, portanto). E o
moderno-iluminista da lei, a separação do segundo caractere diz com as funções do
novo modelo de estado, no qual todas as
9
“Todo prestígio que o princípio da separação de funções são funções meramente jurídicas
poderes auferiu na doutrina constitucional do libera-
lismo decorre da crença no seu emprego como garantia 10
Rosseau trabalhou com a dicotomia vontade de
das liberdades individuais ou mais precisamente como todos e vontade geral, esclarecendo que a vontade de
penhor dos recém-adquiridos direitos políticos da bur- todos pode não coincidir com a vontade geral, da qual
guesia frente ao antigo poder das realezas absolutas. só a lei pode ser expressão. Já Kant, aperfeiçoando as
O princípio se inaugura no moderno Estado de direito idéias iniciais, explicitou que lei é vontade racional.
como técnica predileta dos convergentes esforços Com isso, foram superadas as ambigüidades da tese
de limitação do poder absoluto e onipotente de um de Rosseau quanto à definição da vontade geral, uma
executivo pessoal, que resumia até então toda a forma vez que, segundo Kant, a lei encontra na própria razão
básica de Estado” (BONAVIDES, 2005, p. 142). o seu fundamento e a sua essência.

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e a sua classificação há de ser feita a partir pelo já mencionado artigo 16 da Declaração
da legislação. dos Direitos do Homem e do Cidadão, que
A seu turno, a soberania do parlamento erigiu a separação de Poderes e a defesa
tem importantes conseqüências na con- dos direitos a elemento configurador da
formação do Princípio da separação dos existência de uma constituição11.
Poderes. Uma delas é a de que incumbe Também é clássica a idéia segundo a
exclusivamente ao parlamento o exercício qual as constituições dos estados liberais
da função legislativa, não podendo existir, burgueses reúnem um catálogo de direitos
portanto, qualquer espécie de delegação fundamentais e o Princípio da separação
dessa função a um órgão estatal sem que de Poderes. Este último como elemento
isso se constitua vilipêndio à separação dos organizatório do Estado e garante do pleno
Poderes. De parelha com o que foi dito, e gozo dos direitos fundamentais constitucio-
sob pena de também desrespeitar o aludido nalmente enunciados.
princípio, o parlamento – único exercente Nessa contextura, os direitos fundamen-
da função legislativa – não pode sofrer tais assumem a feição de liberdades clássi-
interferências nem controle por parte de cas, ou direitos de defesa ou de liberdade.
qualquer órgão estatal. De sua parte, o gozo desses direitos depen-
Partindo agora para o exame do se- de da atuação negativa do Estado, depende
gundo elemento que determina a confor- de um não-fazer estatal. E o Princípio da
mação, o sentido e o alcance do Princípio separação dos Poderes, como instrumento
da separação de Poderes, é de se registrar apto a controlar o poder político, favorece a
que o liberalismo preconizava a separação abstenção estatal, garantindo a fruição dos
Estado-sociedade como forma de institucio- direitos de liberdade frente ao Estado12.
nalizar a igualdade jurídica do indivíduo De se ver, portanto, que o conceito
contra os privilégios dos estamentos. E de moderno-iluminista da lei, a divisão do
todos os fatores que ensejaram essa separa- Estado-sociedade e os direitos fundamen-
ção defendida pelo liberalismo, interessam tais conformam um rigoroso Princípio de
a este estudo a teoria do contrato social e o separação de Poderes no Estado liberal,
absolutismo monárquico. no qual a paralisia estatal era algo mais do
Em boa verdade, o monismo produ- que desejado.
zido pelo absolutismo monárquico foi
incentivado pela teoria do contrato social. 3. O conteúdo normativo do Princípio
Teoria, essa, responsável por ligar a idéia de
da separação de Poderes na Constituição
unidade do Estado à liberdade individual
e à igualdade jurídica. Assim, a soberania, de 1988 e a sua aplicação como limite às
que era inicialmente atributo do monarca, emendas constitucionais
passa, com a teoria do contrato social, a Seguindo o rumo traçado no início deste
emanar do povo; e a sociedade passa a se trabalho, cabe-nos, na presente etapa, in-
constituir numa sociedade política e juridi- vestigar o conteúdo normativo do Princípio
camente homogênea, exatamente o oposto da separação de Poderes.
da sociedade estruturada em estamentos. Antes, porém, é mister reconhecer que
Passando ao exame do terceiro e último a revelação do conteúdo normativo desse
elemento conformador do Princípio da
separação de Poderes, é de se dizer que 11
Art. 16. “Toute Société dans laquelle la garantie
não é de hoje que se faz uma automática des Droits n’est pas assurée, ni la séparation des Pou-
voirs déterminée, n’a point de Constitution”.
associação entre a separação de Poderes e 12
Segundo Montesquieu (1995), a lei deve obriga-
os direitos fundamentais. Essa ação aproxi- toriamente advir de um consenso, porquanto é ela – e
mativa entre ambos, aliás, foi estabelecida só ela – quem pode limitar a liberdade do indivíduo.

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postulado constitucional “não pode pres- Exemplos dessa atuação fiscalizatória
cindir da análise da configuração e dos são inúmeros. Veja-se, por ilustração, os
contornos que lhe dá a ordem concreta de incisos IX e X do artigo 49, que atribuem
certo Estado” (HESSE, 1998, p. 368). Dessa ao Congresso Nacional a competência ex-
forma, é mediante a análise dos dispositi- clusiva para “julgar anualmente as contas
vos constitucionais que regulam a relação prestadas pelo Presidente da República
entre os Poderes num determinado Estado e apreciar os relatórios sobre a execução
que podemos extrair o conteúdo normativo dos planos de governo”, bem como para:
do Princípio da separação de Poderes, na “fiscalizar e controlar, diretamente, ou por
linha, aliás, do que decidido pelo Supremo qualquer de suas Casas, os atos do Poder
Tribunal Federal na ADI 183, Rel. Min. Se- Executivo, incluídos os da Administração”.
púlveda Pertence (BRASIL, 1997): Isso sem contar a prerrogativa de que dis-
“(...) põe o Parlamento brasileiro para “convocar
O princípio da separação e indepen- Ministro de Estado ou quaisquer titulares
dência dos Poderes não possui uma de órgãos diretamente subordinados à
fórmula universal e apriorística e Presidência da República para prestarem,
completa: por isso, quando erigido, pessoalmente, informações sobre assunto
no ordenamento brasileiro, em dog- previamente determinado, importando em
ma constitucional de observância crime de responsabilidade a ausência sem
compulsória pelos Estados-membros, justificação adequada” (CF/88, art. 50).
o que a estes se há de impor como Sob outra perspectiva, mas também a
padrão não são concepções abstratas demonstrar a existência de vários mecanis-
ou experiências concretas de outros mos de controle recíproco entre os Poderes,
países, mas sim o modelo brasileiro vi- é de se mencionar a possibilidade de o
gente de separação e independência dos Presidente da República vetar, total ou par-
Poderes, como concebido e desenvolvido cialmente, o projeto de lei que considerar
na Constituição da República”. inconstitucional ou contrário ao interesse
Feito esse breve e necessário registro, é público (CF/88, art. 66).
de se notar que a Constituição Federal de Noutro giro, vale lembrar que o Presi-
1988 tratou de regular as relações entre os dente da República participa do processo
poderes Legislativo, Executivo e Judiciário de nomeação dos magistrados integrantes
no seu Título IV (Da Organização dos Pode- do Supremo Tribunal Federal, do Supe-
res). Ali jazem as normas constitucionais rior Tribunal de Justiça, dos Tribunais
que estruturam cada um dos Poderes, Regionais Federais, do Tribunal Superior
estabelecendo as respectivas atribuições, do Trabalho, dos Tribunais Regionais do
bem como aquelas que regulam o relaciona- Trabalho, do Tribunal Superior Eleitoral,
mento entre os órgãos de Poder, dispondo, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do
ainda, sobre os direitos e obrigações de seus Superior Tribunal Militar (CF/88, arts. 101;
membros. 104, § único; 107; 111-A; 115; 119, inciso II;
Pois bem, da análise desse conjunto 120, § 1o, inciso III e 123).
normativo, pode-se de logo concluir que a Nessa marcha batida, cabe ainda referir
Constituição Federal de 1988 estabeleceu a legitimidade de o Poder Judiciário con-
várias situações que legitimam a atuação de trolar os pressupostos constitucionais que
um Poder sobre o outro, ou seja, hipóteses condicionam a edição das medidas provi-
em que a Constituição conferiu a possibi- sórias, legitimidade essa reafirmada pelo
lidade de um determinado poder exercer Supremo Tribunal Federal no julgamento
um controle sobre a atividade confiada a da ADI 2.213-MC, Rel. Min. Celso de Mello
outro. (BRASIL, 2002):

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“(...) Os pressupostos da urgência e da Acontece que essa conclusão nos remete
relevância, embora conceitos jurídicos a um inevitável questionamento: qual o
relativamente indeterminados e flui- propósito de a Constituição Federal haver
dos, mesmo expondo-se, inicialmente, estabelecido, em seu art. 2o, o Princípio da
à avaliação discricionária do Presiden- separação de Poderes se a própria orga-
te da República, estão sujeitos, ainda nização política positivada já tem o perfil
que excepcionalmente, ao controle do da separação dos Poderes? Seria ele um
Poder Judiciário, porque compõem a dispositivo inócuo, desnecessário?
própria estrutura constitucional que Sem demora, é de se responder nega-
disciplina as medidas provisórias, tivamente ao questionamento formulado.
qualificando-se como requisitos legiti- Isso porque, como visto, a Constituição
madores e juridicamente condicionan- de 1988 institucionalizou um marcante
tes do exercício, pelo Chefe do Poder sistema de controle recíproco, a significar,
Executivo, da competência normativa portanto, que a separação de Poderes, no
primária que lhe foi outorgada, extra- Brasil, apresenta um arranjo entre poderes
ordinariamente, pela Constituição da permeado de contundentes mecanismos de
República. Doutrina. Precedentes. mútua fiscalização13.
(...)” Essa realidade constitucional, contudo,
Não se pode olvidar que o Poder Legis- pode ser modificada pelo Constituinte Re-
lativo também controla a atuação do Poder formador, vale dizer, é possível a alteração
Judiciário e vice-versa. No primeiro caso, das formas originárias de relação entre os
pode-se mencionar a competência privativa Poderes. Mas essa modificação só se mos-
que tem o Senado Federal para processar tra constitucionalmente bem-quista se – e
e julgar os Ministros do Supremo Tribunal somente se – não houver uma diminuição
Federal nos crimes de responsabilidade, da independência dos órgãos de Poder,
bem como a atribuição para aprovar, após independência essa consagrada no art. 2o
argüição pública, a escolha de magistrados da Constituição.
nos casos que a Constituição estabelece De imediato, e em desabono das idéias
(CF/88, art. 52, incisos II e III). Com relação aqui apresentadas, alguém poderia dizer
à segunda hipótese – controle do Judiciário que o inciso III do § 4o do artigo 60 da
sobre o Legislativo –, impende referir a Constituição Federal arrola “a separação
fiscalização da regularidade constitucional de poderes” entre as limitações materiais
das leis de responsabilidade dos órgãos ao poder de reforma constitucional, razão
jurisdicionais. por que não poderia o legislador consti-
Ainda que possa existir alguma dis- tuinte redesenhar o arranjo institucional
cordância quanto ao enquadramento de constante da redação originária da Cons-
algumas dessas hipóteses constitucionais tituição. Acontece que, antes de tudo, é
como mecanismos de controle da atuação preciso saber identificar o significado dessa
de um Poder pelo outro, num ponto, po- limitação constitucional ou, como adverte
rém, haverá consenso: os retromencionados Ana Cândida Cunha Ferraz (1994), saber
dispositivos constitucionais, além de outros 13
Ao discorrer sobre a forma pela qual se relacio-
constantes do pré-falado Título IV, estru- nam os poderes no Estado brasileiro, Ana Cândida da
turam politicamente o Estado brasileiro. Cunha Ferraz (1994, p. 13-59) chega à conclusão de que
Logo, é do cotejo desses comandos norma- a separação de poderes consagrada na Constituição
tivos que se pode identificar qual o arranjo Federal de 1988 é permeada por inúmeros mecanismos
de controle recíprocos. Mecanismos esses que, de tão
institucional entre os Poderes da União, contundentes, revelam, em algumas situações, uma
ou seja, identificar o perfil do Princípio da verdadeira “ingerência constitucional” de um poder
separação de Poderes no Brasil. sobre o outro.

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“qual o alcance dessa intocabilidade? Qual ções materiais especialmente atribuí-
o alcance dessa limitação? Será que mo- das a outro. Quer dizer: o princípio da
dificar a relação entre os poderes, alterar separação exige, a título principal, a
o arranjo institucional entre os poderes, correspondência entre órgão e função
modificar o sistema de freios e contrape- e só admite excepções quando não for
sos, estabelecer novas formas de solução sacrificado o seu núcleo essencial. O
de conflitos políticos, enfim buscar novas alcance do princípio é visível quando
modalidades de equilíbrio entre os pode- com ele se quer traduzir a proibição
res são matérias intocáveis? O que, afinal, do ‘monismo de poder’, como o que
vale como limite: o conceito doutrinário resultaria, por ex., da concentração
impregnado na Constituição ou a aplicação de ‘plenos poderes’ no Presidente
expressa do princípio posta pelo constituin- da República, da concentração de
te originário?”. poderes legislativos no executivo ou
Com efeito, a separação de Poderes não da transformação do legislativo em
deve, de modo algum, ser encarada como órgão soberano executivo e legife-
um dogma estanque e refletor de realida- rante”.
des alienígenas, mas como uma forma de Há que se lembrar, também, do julga-
preservação de uma determinada realidade mento da ADI 3.367 pelo Supremo Tribu-
constitucional. E o fato é que a nossa reali- nal Federal (BRASIL, 2006). Na ocasião,
dade constitucional alberga uma separação reconheceu-se a constitucionalidade do
de Poderes caracterizada por incisivos recém-criado Conselho Nacional de Justiça,
mecanismos de freios e contrapesos. Nesse afastando a alegação de ofensa ao Princípio
pensar, é de se inferir que ela – Constituição da separação de Poderes, porquanto ele in-
– não vede, sempre que for absolutamente tegrava a própria estrutura do Poder Judici-
necessária, a alteração ou a reconfiguração ário. Ainda assim, a Corte Suprema deixou
do arranjo institucional originariamente transparecer que é possível a instituição
concebido. Mas é preciso que essa modificação de novos arranjos institucionais entre os
institucional continue garantindo aos órgãos Poderes, desde que mantidas condições de
do Poder o livre e desembaraçado desempenho atuação imparcial e independente do Poder. É
de suas típicas atribuições constitucionais, o que se pode inferir de uma passagem da
assegurando-se, desse modo, a necessária inde- ementa da precitada ação direta de incons-
pendência entre os Poderes. titucionalidade:
A corroborar esse ponto de vista, vale “(...)
transcrever a opinião de J.J. Gomes Cano- 2. INCONSTITUCIONALIDADE.
tilho (2001, p. 545): Ação direta. Emenda Constitucional
“(...) no 45/2004. Poder Judiciário. Conse-
Embora se defenda a inexistência de lho Nacional de Justiça. Instituição
uma separação absoluta de funções, e disciplina. Natureza meramente
dizendo-se simplesmente que a uma administrativa. Órgão interno de
função corresponde um titular prin- controle administrativo, financeiro e
cipal, sempre se coloca o problema disciplinar da magistratura. Constitu-
de saber se haverá um núcleo essencial cionalidade reconhecida. Separação e
caracterizador do princípio da sepa- independência dos Poderes. História,
ração de poderes e absolutamente significado e alcance concreto do
protegido pela Constituição. Em princípio. Ofensa à cláusula consti-
geral, afirma-se que a nenhum órgão tucional imutável (cláusula pétrea).
podem ser atribuídas funções das Inexistência. Subsistência do núcleo
quais resulte o esvaziamento das fun- político do princípio, mediante preser-

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vação da função jurisdicional, típica do universal e apriorística, a extração do con-
Judiciário, e das condições materiais do teúdo normativo do Princípio da separação
seu exercício imparcial e independente de Poderes somente se mostra possível
BRASIL, 2006). mediante a análise do modelo adotado em
(...)” cada país isoladamente considerado.
Em arremate, portanto: nada impede No Brasil, o exame das normas consti-
que as emendas à Constituição imprimam tucionais que tratam da organização dos
uma nova feição à separação de Poderes, Poderes revela um modelo de separação
reconformando a própria relação entre eles. no qual o respectivo relacionamento é
O que não se pode aceitar é que a modifica- marcado pela existência de contundentes
ção da forma originária de relacionamento mecanismos de mútua fiscalização. Me-
entre os órgãos de Poder provoque alguma canismos que, a depender da situação,
diminuição da sua independência. Desse podem ser modificados pelo Constituinte
modo, a pretexto de reconformar a separa- de Reforma, desde que dessa alteração não
ção de Poderes, não é dado ao Constituinte resulte uma diminuição da independência
Reformador criar empecilhos ao livre e de algum Poder, vale dizer, não sejam
desembaraçado desempenho das funções criados embaraços ao livre desempenho
típicas atribuídas a cada um dos Poderes, das atribuições típicas confiadas a cada um
dado que só assim restarão preservadas a dos Poderes.
necessária independência e harmonia dos Noutro giro, é de se concluir que o Prin-
Poderes (CF/88, art. 2o). cípio da separação de Poderes, com a feição
que lhe deu o liberalismo, já não atende
mais aos anseios de uma sociedade que
4. Conclusão
instituiu um Estado compromissado com a
A doutrina da separação de Poderes, ordem social. Um Estado que assumiu res-
erigida à condição de princípio constitu- ponsabilidades que o Estado liberal jamais
cional no Estado liberal, representou uma pensou em conhecer. Nessa toada, seria por
bem-sucedida fórmula para controlar e demais equivocado enxertar o Princípio da
coibir eventuais abusos de poder. Inspirado separação de Poderes, tal como concebido
em John Locke, Montesquieu (1995) siste- pelo liberalismo, num Estado que, embora
matizou a Teoria da Separação de Poderes, também respeitante dos direitos de liber-
cuja essência revela não exatamente uma dade, faz da prestação dos direitos sociais
“separação” absoluta entre os três Poderes, a própria razão de toda a sua existência.
mas um instrumento de equilíbrio e mútuo Mais que isso: um Estado que alça à con-
controle a presidir o relacionamento entre dição de direito fundamental – assim como
os Poderes. Logo, numa época em que o são as liberdades clássicas – os chamados
fantasma do absolutismo monárquico ainda direitos sociais14.
rondava a grande maioria dos Estados eu- Em verdade, o Princípio da separação de
ropeus, o Princípio da separação de Poderes Poderes, originariamente concebido para
proporcionou a tão desejada inação estatal, catalisar a inação estatal (dado que só assim
a qual, a seu turno, assegurava o pleno gozo estaria garantido o efetivo gozo dos direi-
dos direitos fundamentais de liberdade. 14
“Parece-nos cada vez mais necessária a revisão
Desde a sua concepção, o Princípio da do vetusto dogma da Separação dos poderes em re-
separação de Poderes vem experimentando lação ao controle dos gastos públicos e da prestação
inúmeras realidades nos diversos países dos serviços sociais básicos no Estado Social, visto
que os Poderes Legislativo e Executivo no Brasil se
que o adotam como elemento organizatório
mostram incapazes de garantir um cumprimento
do Estado. Desse modo, e tendo em vista racional dos respectivos preceitos constitucionais”
que esse postulado não possui uma fórmula (KRELL, 2000, p. 29).

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tos de liberdade), hoje também deve bem EISENMANN, Charles. L’Esprit dês lois et la séparation
servir a uma outra categoria de direito fun- dês pouvoirs. Paris: Librairie, 1933.
damental, exigente não de uma abstenção FERRAZ, Anna Cândida Cunha. Conflito entre poderes.
estatal, mas sim de prestações nitidamente São Paulo: Revista dos Tribunais, 1994.
positivas. Em conseqüência, o Princípio da FERREIRA, Luis Pinto. Curso de direito constitucional.
separação de Poderes já não deve mais ser São Paulo: Saraiva, 2002.
interpretado com o rigor de outros tempos, HESSE, Konrad. Elementos de direito constitucional da
cuja inflexibilidade assegura tão-somente a república federal da Alemanha. Tradução de Luís Afonso
fruição das liberdades públicas, frustrando, Heck. Porto Alegre: S. A. Fabris, 1998.
em contrapartida, a concretização de outros KRELL, Andréas. Controle judicial dos serviços públi-
direitos igualmente fundamentais, como é cos básicos na base dos direitos fundamentais sociais: a
o caso dos direitos sociais constituição concretizada construindo pontes com
o público e o privado. Porto Alegre: Livraria do Ad-
vogado, 2000.
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