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ALEXANDRE HERCULANO
Em 1832, chega à ilha Terceira, nos Açores, integrado na expedição liberal liderada por D. Pedro e
responsável pelo cerco do Porto. Nesta cidade, e depois da vitória liberal, é nomeado, em 1833, segundo
bibliotecário da Biblioteca Pública e procede à sua organização.
Colabora no Repositório Literário (1834-1835) com vários artigos, dos quais se destacam dois que podem ser
vistos como uma primeira teorização portuguesa do Romantismo. O primeiro, “Qual é o estado da nossa
literatura? Qual o trilho que ela hoje deve seguir?”, apresenta um diagnóstico da literatura portuguesa e
avança uma solução para o seu estado de decadência: o conhecimento das literaturas estrangeiras,
principalmente da alemã, uma das primeiras em que o Romantismo se implantou. No outro texto, “Poesia
– Imitação – Belo - Unidade”, Herculano sublinha a necessidade de a literatura portuguesa se voltar para as
suas origens e traduz uma consciência nacional e moral que limita a visão da estética romântica europeia,
condenando a “imoralidade” e a “irreligião” que, em sua opinião, Byron representava. Esta consciência
nacional e moral está presente desde o início da sua poesia, através de um paralelismo estabelecido entre
religião e pátria, espécie de profissão de fé do poeta romântico, que Herculano integrou numa visão liberal
da sociedade, visível, por exemplo, em “A Semana Santa” (1829).
Em 1836, vem a público a primeira série de A Voz do Profeta (2ª série, 1837), folheto de caráter panfletário
contra a Revolução de setembro, escrito no estilo grandiloquente de Paroles d’un Croyant de Lamennais. No
ano seguinte, funda e dirige O Panorama, revista literária responsável pela divulgação da estética
romântica, na qual Herculano publica estudos eruditos e as suas primeiras narrativas históricas.
Em 1838, publica A Harpa do Crente, coleção das poesias mais importantes, reeditada em 1850 com
traduções/versões de Béranger (“O Canto do Cossaco”), Bürger (“O Caçador Feroz”, “Leonor”), Delavigne
(“O Cão do Louvre”), Lamartine (“A Costureira e o Pintassilgo Morto”) e uma balada fantasmagórica ao
gosto inglês (“A Noiva do Sepulcro”). As poesias desta coletânea apresentam reflexões sobre a morte,
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Deus,
20/05/2019 a liberdade, o contraste entre o inexorável
Alexandre fluirXIX
Herculano - Século da- Centro
vida Virtual
humana e -aCamões
Camões permanência
IP do infinito.
Normalmente, estas meditações têm por testemunha uma paisagem, que impõe o sentimento da solidão e
da infinitude, e traduz uma marcada oposição entre a cidade e o campo (por exemplo, “A Arrábida”). Está
também presente um conjunto de poemas que se referem à guerra civil e ao exílio, testemunhos poéticos
da instauração do liberalismo e da saudade do desterrado. Herculano tenta também dar voz à
contemporaneidade através da poesia, à semelhança de Victor Hugo, atribuindo-lhe uma função pública,
doutrinária e intervencionista e tratando temas de interesse político, social e religioso (“A Semana Santa”,
“A Cruz Mutilada”; “O Mosteiro Deserto”; “A Vitória e a Piedade”, por exemplo). A nível formal, a poesia de
Herculano apresenta uma retórica solene, com insistência num vocabulário evocativo do “belo horrível”,
apocalíptico e sepulcral, longos eufemismos e alguns recursos clássicos como o hipérbato. A sua
imaginação manifesta-se em paisagens marcadas por tempestades ou ruínas e na sugestão dos mistérios
da religião e da morte. Estes traços predominantes, com especial relevo para as imagens funéreas de efeito
fácil e sem grande conteúdo conceptual, estarão na base do Ultrarromantismo, e serão também postos em
prática nas narrativas históricas, especialmente em Eurico, o Presbítero.
Em 1839, é nomeado por D. Fernando bibliotecário-mor das Reais Bibliotecas das Necessidades e da Ajuda.
Nesta altura, entrega-se a um sistemático trabalho de pesquisa, influenciado pelos historiadores franceses
Thierry e Guizot, de que resulta a publicação, em 1842, na Revista Universal Lisbonense, das “Cartas sobre a
História de Portugal”. Estas constituem o ponto de partida para a História de Portugal, cujo primeiro volume
sai em 1846 (os três seguintes em 1847, 1849 e 1853) e origina uma acesa polémica com o clero porque
nele é posto em causa o “milagre de Ourique”; os textos desta polémica estão reunidos nos opúsculos Eu e
o Clero e Solemnia Verba, publicados em 1850. É encarregado pela Academia Real das Ciências de recolher
documentos antigos para a coletânea Portugaliae Monumenta Historica e, por isso, percorre várias regiões
do país. Dessas viagens nasce Cenas de um Ano da Minha Vida e Apontamentos de Viagem (1853-1854). O
contacto direto com a realidade nacional reforça a sua convicção de que o país necessitava de reformas a
vários níveis: educativo, administrativo e económico.
Em termos políticos, Herculano identifica-se com a ala esquerda do Partido Cartista. É eleito deputado pelo
Porto em 1840, mas, após ter apresentado um plano de ensino popular que não chega a ser posto em
prática, desilude-se com a atividade parlamentar e abandona o cargo em 1841. Adere, então, à moderada
Constituição de 1838, desaprova a restauração da Carta por Costa Cabral e dedica-se à literatura e à
pesquisa. Mais tarde, depois do golpe da Regeneração, o escritor abandona a neutralidade política e
colabora na formação do novo governo. No entanto, acaba por se opor ao ministério de Rodrigo da
Fonseca Magalhães e Fontes Pereira de Melo. Funda os jornais O País (1851) e O Português (1853), onde põe
em prática uma intensa atividade polémica contra o progresso meramente material preconizado pelo
referido ministério. Entre 1854 e 1859, publica os três volumes de História da Origem e do Estabelecimento da
Inquisição em Portugal. É um dos fundadores do Partido Progressista Histórico, em 1856. No ano seguinte,
ataca vigorosamente a Concordata com a Santa Sé. Participa na redação do primeiro Código Civil
Português (1860-1865), tendo proposto a introdução do casamento civil a par do religioso, o que originou
uma nova polémica com o clero, que se pode ler no volume Estudos sobre o Casamento Civil (1866), logo
colocado no Index romano. Desiludido com a vida política, retira-se para uma quinta em Vale de Lobos,
arredores de Santarém, em 1867, comprada com o dinheiro ganho com a publicação dos seus livros. Aí
dedica-se à vida agrícola e à produção de azeite, juntamente com D. Mariana Hermínia Meira, namorada da
juventude, com quem casara em 1866, e que esperara pela realização da sua carreira literária. Neste seu
exílio voluntário, Herculano continua a trabalhar nos Portugaliae Monumenta Historica, publica o primeiro
volume dos Opúsculos (1872), intervém em polémicas, como a nascida da proibição das Conferências do
Casino (1871) e a respeitante à emigração (1874), reúne os materiais para o quinto volume da História de
Portugal e mantém uma abundante correspondência com personalidades literárias e políticas. Morre de
pneumonia, depois de uma viagem a Lisboa, em 13 de setembro de 1877.
Poeta, jornalista, político, polemista e historiador, é todavia como romancista que Herculano será mais
lembrado pelas gerações vindouras. As suas narrativas históricas assinalam o nascimento de um novo
género na literatura portuguesa " o romance histórico ", no qual o autor pode pôr em prática as
qualidades de investigador do passado, principalmente da Idade Média, e os seus propósitos pedagógicos.
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Em 24
20/05/2019 de março de 1838, publicaAlexandre
n’ O Panorama
Herculano - a primeira
Século narrativa
XIX - Centro histórica,
Virtual Camões O Castelo
- Camões IP de Faria, e em
novembro Mestre Gil. Estas e outras composições, publicadas também n’ A Ilustração, foram reunidas em
dois volumes em 1851, sob o título de Lendas e Narrativas. Os romances O Bobo (vindo a público n’ O
Panorama em 1843 e editado em volume em 1878), Eurico, o Presbítero (1844) e O Monge de Cister (1848),
escritos à semelhança das obras do escocês Walter Scott, considerado por Herculano como “modelo e
desesperação de todos os romancistas”, alcançaram um sucesso imediato e desencadearam uma onda de
imitações que transformou o romance histórico em moda literária nacional em meados de oitocentos.
Nestas obras, o romancista cria cenários lúgubres e de dimensões trágicas, nos quais se movimentam
românticos heróis atormentados por paixões e mulheres-anjo predestinadas para o sofrimento,
sobrepostos a um pano de fundo histórico minuciosamente reconstituído. Eurico, forçado a abdicar de um
amor impossível por Hermengarda, professa e transforma-se num sacerdote solitário, num poeta inspirado
pelo amor e pela religião, e num “cavaleiro negro” misterioso e heroico, tingido por certas cores terríveis
do romance negro. Dá voz à dor em cenários de imensidão e à luz da lua, recitando longos poemas
marcados por uma grandiloquência solene, compondo hinos religiosos que ecoam nos templos da
Espanha visigótica, desafiando a superioridade dos adversários para salvar a donzela amada, e, finalmente,
entregando-se à morte num combate desigual, única solução para o dilema que lhe dilacera a alma: ama
Hermengarda, mas não pode trair os votos que o prendem a Deus. Já Vasco, frade maldito de O Monge de
Cister, cujo sacerdócio não abranda o ódio que o consome, leva o seu desejo de vingança ao extremo de
negar a confissão ao homem que seduzira a irmã inocente. N’ O Bobo, o protagonista, Egas, vê a amada
sacrificar-se para o libertar, mas perde-a para sempre quando assassina o rival com quem ela deveria
casar.
Estes amores desesperados e estas personagens vítimas de uma fatalidade que as ultrapassa, são
colocados em épocas remotas que o autor empreende retratar. Assim, ganha especial relevo a
reconstituição do ambiente, através da acumulação de descrições de edifícios, monumentos, ou
indumentárias, referências a costumes e práticas, a formas de convivência social, e até à linguagem, numa
tentativa de criar a ilusão de total fidelidade a uma realidade pretérita. No entanto, e apesar desta rigorosa
encenação, nem sempre Herculano consegue esconder as suas convicções. Por exemplo, a defesa do
município, apresentada em O Monge de Cister, tem por finalidade convencer os leitores do século XIX das
virtudes desse sistema administrativo, e não pode ser vista apenas como uma referência ao sistema em
uso no fim do século XIV. Neste, como noutros pontos da sua obra, os caminhos do historiador e do
romancista cruzam-se...
Com O Pároco de Aldeia, publicado n’ O Panorama em 1844 e em volume em 1851, Herculano cria o
romance campesino, que servirá de modelo a Júlio Dinis, e apresenta como protagonista a figura do padre
bondoso, protetor dos fracos e amado pelas crianças. Nesta obra, apresenta-se um retrato da vida rural
marcado pela serenidade, e cujo ritmo é estabelecido pelo toque do sino e pelos rituais da igreja. Faz-se,
assim, a apologia da superioridade do Catolicismo face ao Protestantismo, graças aos rituais e símbolos
visíveis que guiam a crença popular e contribuem para a manutenção da moralidade pública.
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O Fronteiro de África
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