INTRODUÇÃO
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A lei 10.639 promulgada no ano de 2003, prevê que todas as escolas de Ensino
Fundamental e Ensino Médio estudem História da África e Cultura afro-brasileira, o negro na
formação da sociedade nacional e sua contribuição nas áreas sociais, econômicas e políticas.
A lei surgiu, pois há muita discriminação à cultura africana e afro-brasileira em geral,
e isso ocorre porque a maior parte da população desconhece sobre essas culturas, um
exemplo, a macumba é um instrumento musical de percussão utilizado em certos rituais do
candomblé, mas que é conhecido popularmente como mau agouro, ou forma de generalizar as
religiões africanas e afro-brasileiras de modo pejorativo.
Aleatoriamente, pergunte a algum estudante do Ensino Fundamental ou Ensino
Médio: o que você sabe sobre o Continente Africano? A essa indagação, geralmente, por
observação no senso crítico comum, a resposta acerca dos povos e territórios é que na África
tem fome, miséria, doenças, satanismo, desastres naturais por não cuidarem devidamente da
natureza, castigos de Deus e de deuses, pecadores, desalmados, incrédulos, sofrimento por
serem pagãos, pessoas que mutilam umas às outras, ações de entidades religiosas cristãs,
escravidão, tribos, guerras tribais, entre outros estereótipos.
As belezas naturais, a cultura social dos povos, os modos de se relacionarem, os
cultos e credos, o Ser humano, são quase totalmente ignorados. Tudo que deles é mais belo
foram ao longo dos anos, desconstruídos, desmerecidos, tornado ruim, imprestável,
insignificante. Assim, o racismo continua forte em nosso país, e o pior de tudo isso: velado.
Pereira (2013) em entrevista cedida ao Instituto Humanitas Unisino, afirma que “não
basta promulgar uma lei; precisa mudar a mente das pessoas e seus posicionamentos. Não se
trata apenas de incluir conteúdos na sala de aula, mas também de pensar o fazer individual, o
fazer de cada pessoa no dia a dia”. Gutto Tcc Bantu, compositor da música intitulada de Ser
Negro, relata em sua obra, um pouco sobre algumas experiências acerca de ser negro:
Pra quem não sabia e pretende saber ser negro não é ser bom no futebol nem
saber correr . Não é cantar no coro e gostar de qualquer mulher, não é ser
preguiçoso e só querer beber. São séculos de luta contra a mentalização,
lavagens cerebrais e constantes exploração. É nascer em África e África não
conhecer. É desde novo ouvir que africanos estão a morrer. É crescer mal
vestido e mal alimentado. É ouvir histórias do passado e sentir-se revoltado.
É o seu melhor amigo ser branco e os pais não concordarem. É ver os seus
pais chorarem por não aguentarem a frustração de não conseguirem um
emprego melhor. A ilusão de ver o seu filho formar-se e ser doutor. É não ter
para a comida quanto mais para as propinas. É fazer grandes festas de natal
com prendas pequeninas. Pra quem não sabia e pretende perceber, deixa
fazê-los entender que ser negro é ser assim. É esforçar-se o dobro para ter a
mesmas oportunidades. É ver a vida da rua como uma necessidade. É não ter
dinheiro para ir para a faculdade. É ser ensinado que não se tem capacidade.
Ser negro é ser esperto mas não ser inteligente. É levar de todos os lados,
mas mesmo assim seguir em frente. É trocar o seu orgulho pela
sobrevivência para não ter o destino dos índios à beira da inexistência. É ter
trabalho nas obras McDonald's e pouco mais. No fundo é sermos homens,
mas tratados como animais. É ser o boto expiatório de todas a frustrações. É
ser o mau da fita em todas as televisões. É ser o contrário de puro e de bom
ou de imaculado. É sermos livres sem nunca ser alforriados. É ter a casa de
madeira em vez de ser de palha. É chegar a conclusão que o gueto e só mais
uma sanzala. Ser negro é ser o bandido, coitado, esfomeado. É ser
importado, explorado e depois extraditado. É fugir da sua pátria porque esta
está em guerra. É todos os dias ouvir „preto vai pra tua terra‟. É ter o
diploma, mas não ter o perfil adequado. É ir a entrevista de emprego, mas, o
lugar já esta ocupado. É entrar numa loja e ser olhado de lado. É ser
catalogado e estereotipado, mas apesar de tudo isto, Ser negro é ser
sobrevivente. Saber viver a vida, saber ser diferente. É ter música no corpo e
alegria na alma. Voltar as suas raízes quando a natureza chama. Ser ou não
ser eis a questão. Ser negro é ser no corpo mas também no coração. É ser
contente e sofredor sempre até ao fim e para quem não sabia ser negro é ser
assim. Não é ser perfeito, não é ser mau ou leviano. A verdade é que ser
negro é ser apenas um ser humano. Se não sabias ficas a saber Ser negro é
ser assim. Sol brilha pra toda gente. Tu sabes muito bem que ser negro é ser
assim.
A citação da letra acima, relata de maneira objetiva e sistemática sobre o que é ser
negro – aqui podemos denominar os que têm pele escura. Bantu revela o preconceito sofrido e
praticado de maneira velada por muitos. Ele destaca que o negro deve ser lembrado por seus
feitos, por suas boas ações no tempo histórico. De tal maneira, expõe a necessidade de ser
vista a história do negro sobre a perspectiva do próprio negro.
De acordo com o Parecer do Conselho Nacional de Ensino/ Conselho Pleno -
003/2004 (CNE/CP) que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a educação das
Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana
todos os dispositivos legais demonstram a “necessidade de diretrizes que orientem a
formulação de projetos empenhados na valorização da história e cultura dos afro-brasileiros e
dos africanos.” Nesse sentido, há a necessidade de reconstrução da identidade étnico-racial do
ponto de vista positivo por usufruto de políticas afirmativas, onde todas as questões acerca do
negro possam ser discutidas por toda a sociedade. Assim sendo, o Parecer citado acima,
afirma que o
Souza (2014, p.11) afirma que “os continentes estão intimamente ligados e devem
serem estudados conjuntamente”.
O professor ter visão crítica sobre o livro didático (tendo em mente as questões acerca
da diversidade cultural e relações étnico-raciais) é uma questão de não apenas ver e perceber,
mas, saber o que se tem que ser visto e percebido. O professor dificilmente terá tal percepção
se não for instruído em sua formação acadêmica ou em cursos de formação continuada,
principalmente, professores que ministram aulas para o nível da Educação Infantil ou Ensino
Fundamental I.
Fernandes (2004, p.533), destaca o valor que deve ser dado ao livro didático, porém,
chama a atenção para a questão do entendimento que docentes e alunos têm sobre.
Ressalta ainda, que o livro didático, após o uso, torna-se objeto sem valor. Tal
afirmação está embasada em sua pesquisa por usufruto da História Oral. Vejamos:
depois que deixa de ser utilizado como material na sala de aula, o livro
didático, só em casos específicos, foi guardado, revisitado ou reencontrado
com o passar do tempo. E, nessas situações, também cabe questionar sua
mudança de valor com o tempo (Fernandes, 2004, p.idem).
Esse fato ocorre, provavelmente, devido ao livro didático ser utilizado como uma
espécie de manual de instruções com data preestabelecida de fabricação e vencimento.
Docentes, adotam porque o período de adquirição está referente ao ano vigente e após o
período de 03 (três) anos de utilização máxima, simplesmente, substituem os livros didáticos
por outros e o ciclo vicioso se mantém.
A crítica não é em relação ao livro didático ter prazo de validade ou adotá-lo, mas sim,
à questão de ser utilizado como um manual indiscutível, incontestável, certo e preciso, isento
de qualquer equívoco. Ocorre também, pois, do livro didático se é desconhecido pela maioria
de seus usuários, inclusive os docentes que “a escolha e a utilização dele precisam ser
fundamentadas na competência dos professores que, junto com os alunos, vão fazer dele
(livro) instrumento de aprendizagem” (Lajolo, 1996, p.04), assim sendo, não é apenas um
instrumento ou ferramenta pedagógica que é obrigatório o uso.
Cerqueira e Martins (2010, p.159-170), destacam que o livro didático por ser uma
“ferramenta educativa faz parte da construção do currículo e, como tal, deve ser entendida
como uma construção sócio-histórica formada por intenções, realidades e decisões
provenientes de diferentes indivíduos e contextos”, portanto, não é, tampouco, pode ser
utilizado como se fosse um compêndio de receitas culinárias. É um instrumento de formação
social por ser pensando para educar, além, chamam a atenção para o fato de que questões
culturais, poderão dar novos sentidos para o docente e o discente do que está escrito.
Mas, qual a relação direta entre o Livro Didático, o docente, o discente e a aplicação
da Lei 10.639/03? A relação direta está no processo de interação que deve ocorrer entre o
Livro Didático (e as intenções daqueles que o elaboraram, tendo em vista os critérios
preestabelcidos pelo Estado), o docente (em primeiro momento, apenas como uma ferramenta
que torna „democrática‟ a escolha do livro), tendo em mente sua formação política-ideológica-
social e as interpretações acerca dos conhecimentos que estão sendo expostos no livro e o
conhecimento da Lei; favorecerá o discente no processo de formação identitária acerca do Ser
negro e de enxergar o negro (nesse caso, os de pele clara), não como um „negro‟ (pobre, sujo,
mal-educado, marginal, macumbeiro, entre outros estereótipos) e sim, verdadeiramente um
ser humano por meio do conhecimento não estereotipado e da representatividade do mesmo
(positivamente) nos livros.
O preconceito é adquirido e além disso, é uma forma de conhecer algo, ter opinião. É
partindo desse princípio que o sujeito se relaciona socialmente, porém, esse preconceito não
pode partir apenas de crítica (reprodução da opinião de outrem sem se saber as
fundamentações), mas sim, ser alicerçado pela consciência crítica (embasamentos teóricos
para o pessoal) ou busca de experiências. Varejão; Stange; Bassani, (2004, p.01), nos remete
ao preconceito como sendo algo cultural:
De certa forma, ideias como a citada acima, ainda existem e, justificam, reafirmam e
propagam o racismo no Brasil. Guimarães (1999, p. 115), ainda, afirma que
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS