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A LEI 10.

639/03 E OS LIVROS DIDÁTICOS: POSSIBILIDADES E DESAFIOS NO


COMBATE AO RACISMO

Cursista: Diego de Souza1


Orientadora: Nayara Cristina Carneiro de Araújo2
Co-orientadora: Carolina Rodrigues Freitas3

INTRODUÇÃO

A Lei 10.639/03 obriga a inclusão no currículo escolar a temática sobre História e


Cultura Afro-brasileira e Africana. Essa é uma conquista proporcionada pelas reivindicações
de vários setores da sociedade, principalmente do Movimento Social Negro que sempre
buscou e busca por Políticas Afirmativas devido a imensurável necessidade de ser discutido e
explicitado a questão da História da África e a influência da cultura africana na cultura
brasileira. A legislação, indiretamente, atinge também a necessidade de expôr às claras a
condição social do negro na atualidade, intencionando integrá-lo ao meio social comum, já
que esses indivíduos estão inseridos em sua maior parte na marginalização, proporcionado
pelo preconceito cultural e ações negativas ainda não superadas desde o período da
escravização.
Há muito o que se discutir, ajustar, delimitar e priorizar acerca do Ensino de História
e Cultura Afro-brasileira e Africana nas escolas e sociedade em geral. É necessário pensar as
falhas existentes que impedem uma boa execução do ensino nesse contexto e
consequentemente o insucesso e descumprimento da Lei 10.639/03, tendo em vista que a
necessidade de se criar uma Lei para tal fim mostra que a tarefa não é nada fácil de ser
concretizada em sua totalidade.

1 Pós-graduando na Especialização em História e Cultura Afro-Brasileira e Africana pela


Universidade Federal de Goiás, Licenciado em História pela União Pioneira de Integração Social –
UPIS e Docente na Rede Pública Municipal em Águas Lindas-GO.
2 Doutoranda em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Mestre em
Educação pela Universidade Federal de Goiás, Especialista em Educação de Jovens e Adultos pelas
Faculdades Integradas de Jacarepaguá e Licenciada em História pela Universidade Federal de Goiás.
3 Mestre em Comunicação, Cultura e Cidadania pela Universidade Federal de Goiás. Graduada
em Comunicação, com habilitação em Jornalismo, pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás.
Sobre o continente africano, as questões referentes às belezas naturais, a cultura dos
povos, suas lutas, sua religiosidade são totalmente desconhecidas ou ignoradas. A nossa
pesquisa tem o propósito de empreender um estudo sobre a execução da Lei 10.639/03 por
meio da análise do livro didático. Analisaremos especificamente o livro didático de História
(2013-2015) adotado para o 5º ano do Ensino Fundamental no município de Águas Lindas, no
Estado de Goiás. Através do conhecimento sobre o que esse livro reproduz sobre a História da
África e da Cultura Afro-brasileira poderemos identificar as barreiras do combate ao
preconceito e a discriminação, ainda vigente em nossa sociedade e o cumprimento da Lei
10.639/03. A hipótese é que o livro adotado pelo município, mesmo sendo de edição
elaborada após a Lei, continua contendo abordagens estereotipadas e eurocentristas sobre a
História e Cultura Afro-brasileira e Africana.
Para analisar esses pontos, primeiro discutiremos os livros didáticos em dimensões
materiais e simbólicas, identificando a possibilidade de reminiscências do livro didático e os
papéis sociais, educacionais e culturais que o livro didático alcança na formação de gerações
ou em localidades. Após, buscaremos compreender o Programa Nacional do Livro Didático
como um programa de governo no interior da política educacional que muito pode contribuir
para o cumprimento da Lei 10.639/03, além da educação enquanto ferramenta fundamental no
combate ao racismo e a trajetória da educação dos negros no Brasil. Após esses estudos,
teremos subsídios necessários para analisar o livro didático e, assim, refletir sobre a
contribuição do livro didático com o objetivo de corrigir injustiças, eliminar discriminações e
promover a inclusão social e a cidadania para todos no sistema educacional brasileiro.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A lei 10.639 promulgada no ano de 2003, prevê que todas as escolas de Ensino
Fundamental e Ensino Médio estudem História da África e Cultura afro-brasileira, o negro na
formação da sociedade nacional e sua contribuição nas áreas sociais, econômicas e políticas.
A lei surgiu, pois há muita discriminação à cultura africana e afro-brasileira em geral,
e isso ocorre porque a maior parte da população desconhece sobre essas culturas, um
exemplo, a macumba é um instrumento musical de percussão utilizado em certos rituais do
candomblé, mas que é conhecido popularmente como mau agouro, ou forma de generalizar as
religiões africanas e afro-brasileiras de modo pejorativo.
Aleatoriamente, pergunte a algum estudante do Ensino Fundamental ou Ensino
Médio: o que você sabe sobre o Continente Africano? A essa indagação, geralmente, por
observação no senso crítico comum, a resposta acerca dos povos e territórios é que na África
tem fome, miséria, doenças, satanismo, desastres naturais por não cuidarem devidamente da
natureza, castigos de Deus e de deuses, pecadores, desalmados, incrédulos, sofrimento por
serem pagãos, pessoas que mutilam umas às outras, ações de entidades religiosas cristãs,
escravidão, tribos, guerras tribais, entre outros estereótipos.
As belezas naturais, a cultura social dos povos, os modos de se relacionarem, os
cultos e credos, o Ser humano, são quase totalmente ignorados. Tudo que deles é mais belo
foram ao longo dos anos, desconstruídos, desmerecidos, tornado ruim, imprestável,
insignificante. Assim, o racismo continua forte em nosso país, e o pior de tudo isso: velado.
Pereira (2013) em entrevista cedida ao Instituto Humanitas Unisino, afirma que “não
basta promulgar uma lei; precisa mudar a mente das pessoas e seus posicionamentos. Não se
trata apenas de incluir conteúdos na sala de aula, mas também de pensar o fazer individual, o
fazer de cada pessoa no dia a dia”. Gutto Tcc Bantu, compositor da música intitulada de Ser
Negro, relata em sua obra, um pouco sobre algumas experiências acerca de ser negro:

Pra quem não sabia e pretende saber ser negro não é ser bom no futebol nem
saber correr . Não é cantar no coro e gostar de qualquer mulher, não é ser
preguiçoso e só querer beber. São séculos de luta contra a mentalização,
lavagens cerebrais e constantes exploração. É nascer em África e África não
conhecer. É desde novo ouvir que africanos estão a morrer. É crescer mal
vestido e mal alimentado. É ouvir histórias do passado e sentir-se revoltado.
É o seu melhor amigo ser branco e os pais não concordarem. É ver os seus
pais chorarem por não aguentarem a frustração de não conseguirem um
emprego melhor. A ilusão de ver o seu filho formar-se e ser doutor. É não ter
para a comida quanto mais para as propinas. É fazer grandes festas de natal
com prendas pequeninas. Pra quem não sabia e pretende perceber, deixa
fazê-los entender que ser negro é ser assim. É esforçar-se o dobro para ter a
mesmas oportunidades. É ver a vida da rua como uma necessidade. É não ter
dinheiro para ir para a faculdade. É ser ensinado que não se tem capacidade.
Ser negro é ser esperto mas não ser inteligente. É levar de todos os lados,
mas mesmo assim seguir em frente. É trocar o seu orgulho pela
sobrevivência para não ter o destino dos índios à beira da inexistência. É ter
trabalho nas obras McDonald's e pouco mais. No fundo é sermos homens,
mas tratados como animais. É ser o boto expiatório de todas a frustrações. É
ser o mau da fita em todas as televisões. É ser o contrário de puro e de bom
ou de imaculado. É sermos livres sem nunca ser alforriados. É ter a casa de
madeira em vez de ser de palha. É chegar a conclusão que o gueto e só mais
uma sanzala. Ser negro é ser o bandido, coitado, esfomeado. É ser
importado, explorado e depois extraditado. É fugir da sua pátria porque esta
está em guerra. É todos os dias ouvir „preto vai pra tua terra‟. É ter o
diploma, mas não ter o perfil adequado. É ir a entrevista de emprego, mas, o
lugar já esta ocupado. É entrar numa loja e ser olhado de lado. É ser
catalogado e estereotipado, mas apesar de tudo isto, Ser negro é ser
sobrevivente. Saber viver a vida, saber ser diferente. É ter música no corpo e
alegria na alma. Voltar as suas raízes quando a natureza chama. Ser ou não
ser eis a questão. Ser negro é ser no corpo mas também no coração. É ser
contente e sofredor sempre até ao fim e para quem não sabia ser negro é ser
assim. Não é ser perfeito, não é ser mau ou leviano. A verdade é que ser
negro é ser apenas um ser humano. Se não sabias ficas a saber Ser negro é
ser assim. Sol brilha pra toda gente. Tu sabes muito bem que ser negro é ser
assim.

A citação da letra acima, relata de maneira objetiva e sistemática sobre o que é ser
negro – aqui podemos denominar os que têm pele escura. Bantu revela o preconceito sofrido e
praticado de maneira velada por muitos. Ele destaca que o negro deve ser lembrado por seus
feitos, por suas boas ações no tempo histórico. De tal maneira, expõe a necessidade de ser
vista a história do negro sobre a perspectiva do próprio negro.
De acordo com o Parecer do Conselho Nacional de Ensino/ Conselho Pleno -
003/2004 (CNE/CP) que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a educação das
Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana
todos os dispositivos legais demonstram a “necessidade de diretrizes que orientem a
formulação de projetos empenhados na valorização da história e cultura dos afro-brasileiros e
dos africanos.” Nesse sentido, há a necessidade de reconstrução da identidade étnico-racial do
ponto de vista positivo por usufruto de políticas afirmativas, onde todas as questões acerca do
negro possam ser discutidas por toda a sociedade. Assim sendo, o Parecer citado acima,
afirma que o

Reconhecimento implica justiça e iguais direitos sociais, civis, culturais e


econômicos, bem como valorização da diversidade daquilo que distingue os
negros dos outros grupos que compõem a população brasileira. E isto requer
mudança nos discursos, raciocínios, lógicas, gestos, posturas, modo de tratar
as pessoas negras. Requer também que se conheça a sua história e cultura
apresentadas, explicadas, buscando-se especificamente desconstruir o mito
da democracia racial na sociedade brasileira; mito este que difunde a crença
de que, se os negros não atingem os mesmos patamares que os não negros, é
por falta de competência ou de interesse, desconsiderando as desigualdades
seculares que a estrutura social hierárquica cria com prejuízos para os
negros. Reconhecimento requer a adoção de políticas educacionais e de
estratégias pedagógicas de valorização da diversidade, a fim de superar a
desigualdade étnico-racial presente na educação escolar brasileira, nos
diferentes níveis de ensino. Reconhecer exige que se questionem relações
étnico-raciais baseadas em preconceitos que desqualificam os negros e
salientam estereótipos depreciativos, palavras e atitudes que, velada ou
explicitamente violentas, expressam sentimentos de superioridade em
relação aos negros, próprios de uma sociedade hierárquica e desigual.
Assim sendo, os meios de veiculação midiáticos, inclusive os governamentais, têm
suma importância para que a Lei 10.639/03 seja conhecida e praticada. A exposição de
conceitos, propostas, debates na grande mídia, proporcionam o conhecimento direto, sucinto e
objetivo no senso comum, acerca do negro, talvez, desmistificando, desconstruindo
estereótipos e quebrando paradigmas, por exemplo, nas questões dos cultos afrodescendentes.
De acordo com Pereira (2014), por meio do conhecimento sobre as culturas africanas
e afro-brasileiras o combate ao racismo pode e deve ser promovido pelo ato de educar, mas,
para isso deve-se “conhecer e ensinar as histórias e culturas africanas e afro-brasileiras”,
tendo em mente que não se pode “abrir mão dos conteúdos curriculares”, pois

combater o racismo e promover a igualdade por meio da educação, sem


perder de vista as relações étnico-racias nas escolas do nosso país, ao mesmo
tempo tão plural e tão desigual, constituem alguns dos maiores desafios com
os quais nos deparamos atualmente, como educadores e como cidadãos.

Souza (2014, p.11) afirma que “os continentes estão intimamente ligados e devem
serem estudados conjuntamente”.

Não são unicamente os aspectos legais que colocam as pessoas frente à


história da África. Muito antes e além deles, sabia-se não ser possível
entender a história do Brasil sem compreender suas relações com o
continente africano. A África está nos brasileiros, em sua cultura e em sua
vida, independentemente da origem familiar pessoal. Sendo brasileiros,
carrega-se dentro de si muito da África. Portanto, conhecer a história da
África é um caminho para se entender melhor a si próprio.

A História do Brasil e da África se confundem em muitos pontos, por exemplo, na


culinária, dança, também os processos de colonização, os países que os colonizaram e as
formas de colonização sofridas pelo país americano e o continente africano são muito
parecidas; inclusive, por exemplo, na língua falada no Brasil e em Moçambique – a Língua
Portuguesa.
A valorização e o reconhecimento da diversidade étnico-racial brasileira deve ser
posto em prática nas escolas pelo ato de educar os novos discentes desde as suas bases
educacionais, promovendo nesses uma formação identitária (independentemente de raça/cor).
A promoção da formação identitária, poderá ocorrer, principalmente pelo educar dos próprios
docentes por buscas pessoais e formações acadêmicas. O conhecimento desses acerca dos
estudos sobre a História da África, somadas ao conhecimento das legislações, tornará-o
(possivelmente), melhor preparado para ver, perceber e agir a favor da desconstrução dos
estereótipos, quebras de paradigmas acerca das questões sociais quais os negros estão
alicerçados. O docente tem que primeiramente quebrar em si próprio tais estereótipos,
paradigmas; formar em si essa questão identitária, é possível; após, praticar suas
aprendizagens por meio do transmitir o conhecimento adquirido. O discente negro,
reconhecendo-se no docente (independente de cor, raça ou gênero), tendo em vista as
exposições positivas do docente acerca dos conteúdos curriculares, poderá identificar-se-á
com o docente. Com os conhecimentos adquiridos, o docente, consequentemente começará a
formação identitária no discente acerca de ser negro ou de respeitar o ser negro (discentes que
não se vejam como tal, devido a cor da pele) e não se ver como tal (no sentido estereotipado –
inferior, pobre, feio etc), mas sim, como Ser humano.
Acerca da Identidade racial, ressalta-se a concepção e conceito do antropólogo
Kabengele Munanga (1994, p.177 apud Gomes, 2005, p.40):

A identidade é uma realidade sempre presente em todas as sociedades


humanas. Qualquer grupo humano, através do seu sistema axiológico sempre
selecionou alguns aspectos pertinentes de sua cultura para definir-se em
contraposição ao alheio. A definição de si (autodefinição) e a definição dos
outros ( identidade atribuída) têm funções conhecidas: a defesa da unidade
do grupo, a proteção do território contra inimigos externos, as manipulações
ideológicas por interesses econômicos, políticos, psicológicos, etc.

Ter identidade própria, ver-se, perceber-se como agente de um determinado contexto


cultural religioso, político, econômico, entre outros, torna o agente social um ser humano,
independente de raça, cor ou gênero.
De acordo com Oliva (2009, p.144)), há uma grande lacuna entre o ensinado na
escola acerca dos temas africanos e a legislação educacional brasileira, apesar disso,
ocorreram e ocorrem alguns avanços nos conteúdos curriculares dos livros didáticos.

Se a presença da História da África nos Currículos e nos livros escolares


brasileiros, até meados dos anos 1990, pode ser considerada insignificante, já
que o continente africano aparecia sempre retratado de forma secundária,
associado ao périplo marítimo dos séculos XV e XVI, ao tráfico de escravos
e aos processos históricos do Imperialismo, Colonialismo e das
Independências na África, esse quadro passou a sofrer uma evidente
modificação a partir de 1996. A entrada em vigor da nova Lei de Diretrizes e
Bases da Educação (LDB), de 1996 (lei 9.394/1996), seguida pelos
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), da área de História, em 1998,
sinalizavam para uma possível, mesmo que frágil, aproximação com os
estudos africanos. Em um claro reflexo desses sinais podemos encontrar, a
partir de 1999, livros didáticos de História, utilizados entre a 5ª e 8ª série do
Ensino Fundamental, que incluíam em seus volumes pelo menos um (1)
capítulo sobre a história africana, quase sempre vinculada ao período que se
estende do século VII ao XVIII. Antes daquele ano não localizamos
nenhuma coleção de livros didáticos com essa característica.
É de suma e relevante importância a participação de todos os grupos sociais,
principalmente os de veiculações midiáticas, governamentais, educacionais (os três grupos
sem ordem de importância por terem papéis indispensáveis e de mesmo valor) na
reconstrução da História e Cultura Afro-brasileira e Africana sob a perspectiva dos negros,
assim sendo, possivelmente, a quebra de preconceitos e discriminações ocorrerá.

A EDUCAÇÃO DOS NEGROS E OS LIVROS DIDÁTICOS NO BRASIL

O debate sobre o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana e as


barreiras do combate ao preconceito e discriminação ainda vigentes em nossa sociedade,
principalmente no ambiente escolar, nos traz a necessidade de discutir os livros didáticos em
dimensões materiais e simbólicas, identificando a possibilidade de reminiscências do livro
didático e os papéis sociais, educacionais e culturais que esses objetos pedagógicos alcançam
na formação de gerações ou em localidades. Para tanto, iniciaremos ressaltando os negros na
educação brasileira.
Alguns dicionários definem o sujeito negro como sendo o indivíduo de cor negra ou
indivíduo de pele muito escura. Faz-se necessário indagar: o que é ser negro? Para responder
a essa indagação há inúmeras possibilidades, por exemplo, ser negro é ter pele escura com
excesso de melanina; ser negro é Ser o que Deus quis ou ser negro é Ser o construtor desse
país porque negro sendo nasci para tal fim e se negro não fosse não seria feliz, entre outras.
Porém, a questão está muito além dessas simples respostas prontas e pouco pensadas. Ser
negro é uma questão de identidade, sentindo-se como tal, não apenas devido a cor, mas
também, devido a várias questões culturais. A escola, tendo docentes cientes do seu papel em
ajudar na formação identitária dos discentes negros e os livros didáticos apresentando essas
temáticas, têm também, papel fundamental na formação dessa identidade.
Jesus (2012) afirma que é necessário ter “novos parâmetros sociais baseados em
valores democráticos tais como a diversidade cultural, as relações étnico-raciais no Brasil”,
mas, para que isso ocorra, toda a sociedade brasileira deve aderir ao movimento. Pessoas de
todas as crenças, classes econômicas, formação política, gênero sexual, modelo familiar, entre
outros, devem ser os agentes dessa propagação. A escola, sendo o começo capaz de formar
opiniões, indicar caminhos a serem seguidos, dar voz ao indivíduo, é o ponto de partida para
essa adesão. Ainda sobre a questão, Jesus (2012, p.02 ) afirma que
Conhecer o processo histórico em que políticas públicas impediam o negro
de ter acesso à educação certamente fará com que o professor tenha uma
visão critica sobre os livros didáticos e concepções que difundem o
preconceito no espaço escolar, faremos que mude a maneira de ver e
desperte a consciência sobre a educação do negro no Brasil.

O professor ter visão crítica sobre o livro didático (tendo em mente as questões acerca
da diversidade cultural e relações étnico-raciais) é uma questão de não apenas ver e perceber,
mas, saber o que se tem que ser visto e percebido. O professor dificilmente terá tal percepção
se não for instruído em sua formação acadêmica ou em cursos de formação continuada,
principalmente, professores que ministram aulas para o nível da Educação Infantil ou Ensino
Fundamental I.
Fernandes (2004, p.533), destaca o valor que deve ser dado ao livro didático, porém,
chama a atenção para a questão do entendimento que docentes e alunos têm sobre.

Dada a sua importância, o livro didático é um amplo campo de pesquisa.


Para entendê-lo, na sua função educacional, sua história e sua presença
entrelaçada na vida social brasileira, é necessário considerar diferentes
campos de estudo e privilegiar uma diversidade de fontes. Entre as
produções existentes, a maioria tem como base a análise do próprio livro e
de seus conteúdos. Os estudos analisam, fundamentalmente, seus discursos
textuais e iconográficos, e de que forma difundem conhecimentos científicos
atualizados ou ultrapassados. Produções recentes, porém, têm diversificado
temas e documentos, dando conta desde sua concepção, produção, difusão e
uso, quanto de suas relações com as políticas públicas, os currículos
escolares e a indústria editorial. Nessa linha, pesquisas a partir de fontes
orais começam a contribuir também para ampliar a compreensão do papel
histórico e social dos manuais escolares.

Ressalta ainda, que o livro didático, após o uso, torna-se objeto sem valor. Tal
afirmação está embasada em sua pesquisa por usufruto da História Oral. Vejamos:

depois que deixa de ser utilizado como material na sala de aula, o livro
didático, só em casos específicos, foi guardado, revisitado ou reencontrado
com o passar do tempo. E, nessas situações, também cabe questionar sua
mudança de valor com o tempo (Fernandes, 2004, p.idem).

Esse fato ocorre, provavelmente, devido ao livro didático ser utilizado como uma
espécie de manual de instruções com data preestabelecida de fabricação e vencimento.
Docentes, adotam porque o período de adquirição está referente ao ano vigente e após o
período de 03 (três) anos de utilização máxima, simplesmente, substituem os livros didáticos
por outros e o ciclo vicioso se mantém.
A crítica não é em relação ao livro didático ter prazo de validade ou adotá-lo, mas sim,
à questão de ser utilizado como um manual indiscutível, incontestável, certo e preciso, isento
de qualquer equívoco. Ocorre também, pois, do livro didático se é desconhecido pela maioria
de seus usuários, inclusive os docentes que “a escolha e a utilização dele precisam ser
fundamentadas na competência dos professores que, junto com os alunos, vão fazer dele
(livro) instrumento de aprendizagem” (Lajolo, 1996, p.04), assim sendo, não é apenas um
instrumento ou ferramenta pedagógica que é obrigatório o uso.

Para ser considerado didático, um livro precisa ser usado, de forma


sistemática, no ensino-aprendizagem de um determinado objeto do
conhecimento humano, geralmente já consolidado como disciplina escolar.
Além disso, o livro didático caracteriza-se ainda por ser passível de uso na
situação específica da escola, isto é, de aprendizado coletivo e orientado por
um professor (Lajolo, 1996, p.04-05).

Cerqueira e Martins (2010, p.159-170), destacam que o livro didático por ser uma
“ferramenta educativa faz parte da construção do currículo e, como tal, deve ser entendida
como uma construção sócio-histórica formada por intenções, realidades e decisões
provenientes de diferentes indivíduos e contextos”, portanto, não é, tampouco, pode ser
utilizado como se fosse um compêndio de receitas culinárias. É um instrumento de formação
social por ser pensando para educar, além, chamam a atenção para o fato de que questões
culturais, poderão dar novos sentidos para o docente e o discente do que está escrito.

o livro didático dialoga também com os contextos específicos advindos dos


participantes que constroem essa ferramenta, pois estes indivíduos são
integrantes de outros contextos e seus textos são produzidos em determinado
espaço e transitam por outros, adquirindo novos sentidos e interpretações.

Há dinâmica e interação entre o docente, o discente e o livro didático (no sentido de


agente e propagador de conhecimento e cultura). Essa dinâmica, torna o processo de ensino-
aprendizagem mais democrático (pois, há a possibilidade de debates) e proveitoso. Lajolo
(1996, p.06), afirma que significados contidos nos livros podem manter-se, serem
questionados ou até mesmo ressignificados.

Os significados que, em torno do livro didático, o aluno vai construir ou


alterar, precisam, por um lado, corresponder aos padrões de conhecimento da
sociedade em nome da qual a escola estabelece seu projeto de educação. Por
outro, os significados que o livro veicula podem também questionar o
conhecimento até então aceito como legítimo.
Essa liberdade em questionar ou ressignificar significados de acordo com as diferentes
realidades culturais quais o livro didático vai ser inserido, torna a propagação e adquirição de
conhecimento, algo com valoração positiva (no sentido da percepção acerca dos
conhecimentos adquiridos), o discente sente-se e percebe-se como parte da construção desse
conhecimento e significado.
Devido as possibilidades de trazer novas discussões, perspectivas, formações
intelectuais, seres sociais, cidadãos conscientes, apresentação de Leis para serem cumpridas,
entre outras, o livro didático está além da relação entre o docente e o discente no processo
ensino-aprendizagem. O livro didático forma pensamentos, dá entendimento a algo que era
pouco entendido, sentido a questões ora sem sentido. Essa ferramente deve ser usada por
docentes conscientes na luta contra preconceitos e racismo.
Nessa direção, exalta-se a necessidade de compreender o Programa Nacional do
Livro Didático como um programa de governo no interior da política educacional que muito
pode contribuir para o cumprimento da Lei 10.639/03, pensando a educação enquanto
ferramenta fundamental no combate ao racismo e a trajetória da educação dos negros no
Brasil.
O Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) foi instituído no dia 19 de agosto
de 1985, por meio do Decreto nº 91.542. À época, o Presidente da República era José
Ribamar Ferreira de Araújo Costa (adotou o nome de José Sarney em homenagem a seu pai,
Sarney de Araújo Costa. José Sarney foi eleito pelo voto indireto, escolhido pelos
parlamentares, após a morte de Tancredo Neves) e o Ministro da Educação, Marco Maciel (
foi vice-presidente da República na gestão de Fernando Henrique Cardoso, entre, 1 de janeiro
de 1995 a 1 de janeiro de 2003). O Decreto entrou em vigor no ano letivo de 1986.
Um dos objetivos do Programa, era tornar democrática a análise e escolha dos Livros
Didáticos pelos professores ( até então, indicavam e tinham critérios próprios para a escolha),
dentre as possíveis e, de também, reduzir os gastos das famílias com a educação referentes à
compra dos livros escolares para o ano letivo. Os livros didáticos indicados pelos docentes,
deveriam atender às peculiaridades (realidades) regionais e permanentemente. Anteriormente
em Programas de adoção/indicação/imposição de Livros Didáticos, o Estado era o total
responsável por todo o processo, por exemplo, o Programa do Livro Didático para o Ensino
Fundamental do Instituto Nacional do Livro (PLIDEF/INL, 1971-1976), os livros eram
escolhidos sem a participação dos docentes ou comunidade efetiva escolar (docentes que
estavam em sala de aula), assim sendo, as questões referentes às peculiaridades regionais, as
ideias, ideais e ideologias necessárias e indispensáveis para que o processo ensino-
aprendizagem fosse mais proveitoso, eram totalmente ignoradas. O ciclo era vicioso e
coercitivo (no sentido de agressão ao cognitivo de quem deveria expôr conhecimento e de
quem deveria adquirir, pois, muitos dos conteúdos não faziam sentido, por exemplo, estudar a
História da Bahia, sendo que o discente estava no Rio Grande do Sul. A intenção maior era
moldar, disciplinar, controlar o discente para ser um „modelo‟ de cidadão).
Com o Decreto de 1985, alguns desses problemas foram sanados. Todos os
estudantes de escolas públicas, devidamente matriculados no 1º grau (atualmente, Ensino
Fundamental I que corresponde do „1º ao 5º ano‟ e Ensino Fundamental II que corresponde do
„6º ao 9º ano‟), deveriam ser beneficiados. Os livros, passaram a serem confeccionados em
materiais com melhor qualidade e durabilidade, já que os mesmos, seriam reutilizados por
outros docentes e discentes, ainda não havia um tempo preestabelecido de utilização. Entre o
final do ano 1993 e início do ano 1994 foram definidos critérios para avaliação dos livros
didáticos, com a publicação “Definição de Critérios para Avaliação dos Livros Didáticos”
MEC/FAE/UNESCO.
Entre outras considerações, o Livro Didático não é apenas um instrumento de uso do
docente para consultar conhecimento quando necessário, um livro de consultas, tirar dúvidas
ou um simples objeto para verificação do que esteja sendo dito pelo docente para o discente.
O Livro Didático é ferramenta ideológica, ferramenta capaz de tornar coercitivo, persuasivo,
conhecedor, aqueles que o leem; é ferramenta de poder (no sentido do conhecimento inserido
dentro dos contextos sociais) para os marginalizados e também os não marginalizados
politicamente, economicamente, socialmente. Essa força que emana, é possibilitada devido à
democratização na escolha do mesmo e definição de critérios para avaliação e elaboração.
Gérard e Roegiers (1998, p.19), definem o livro didático como “um instrumento impresso,
intencionalmente estruturado para se inscrever num processo de aprendizagem, com o fim de
lhe melhorar a eficácia”. Corroboramos com o conceito citado, não em sua totalidade, pois, a
eficácia de um Livro Didático por si só não existe, tendo em vista que para além daqueles que
escreveram-no, existem os que darão sentido ao que está escrito, concordando, discordando
ou complementando.
Lajolo (2006, p.09), explicita que os Livros Didáticos em tempos atuais, deve ser
pensando para interagir com as novas tecnologias existentes com o intuíto maior de tornar o
processo ensino-aprendizagem um pouco mais adequado às diferentes linguagens e formas de
comunicação, quais os discentes estão inseridos. Vejamos:
com a descentralização do processo de escolha pode-se, inclusive, esperar
substancial transformação no livro didático: a partir de uma clientela mais
exigente, ele com certeza será melhor e poderá tornar-se menos monolítico.
O modelo hoje vigente pode coexistir com outros, multiplicados pelo recurso
aos diferentes mídias que favorecem linguagens tão sofisticadas quanto a
escrita. Pode-se pensar, por exemplo, em materiais didáticos compostos a
partir de módulos independentes, dentre os quais o livro seja apenas um
elemento, dialogando com vídeos, bancos de dados, imagens, bibliografias
on line etc. Uma tal estrutura permitirá usos mais interativos do livro,
montado, por assim dizer, a partir de necessidades específicas de certas
classes e turmas, favorecendo mais a teoria ou mais os exercícios, menos
uma linguagem ou mais uma outra, decisões estas que abrem um grande
espaço para a interlocução que o professor estabelece com o material escolar
de que se vale.

Assim sendo, o Livro Didático, continua sendo um Norte em relação a exposição de


conhecimento pelo docente, logicamente, não um manual inquestionável, correto,
indispensável em certas situações. Mais uma vez, ressalta-se a importância do conhecimento
do docente acerca do Livro Didático, qual vai adotar. Conhecimento este, não apenas dos
conteúdos quais detém domínio ou quais devem ser „dominados‟, mas também, dos
implícitos, das políticas, das realidades sociais, das possibilidades de interação com outras
formas de se adquirir conhecimento, por exemplo, as mídias virtuais; do conhecimento da
linguagem dos jovens, entre outras possibilidades.
De tal forma, de acordo com Lajolo (2006, p. 09):

Indiretamente, tais medidas vão qualificar a relação do professor com o livro


e, conseqüentemente, a dos alunos com os professores, os livros e a escola.
Escolha e uso de livro didático precisam resultar do exercício consciente da
liberdade do professor no planejamento cuidadoso das atividades escolares,
o que reforçará a posição de sujeito do professor em todas as práticas que
constituem sua tarefa docente, em cujo dia-a-dia ele reescreve o livro
didático, reafirmando-se, neste gesto, sujeito de sua prática pedagógica e um
quase co-autor do livro.

Portanto, além dos conhecimentos acerca do livro, o docente deve planejar a


exposição desse conhecimento sugerido pelo livro, juntamente com o próprio conhecimento e
considerar no planejamento todas as variáveis, possibilitando interpretações e ressignificações
conceituais, por exemplo, as religiosas praticadas pelas religiões de matrizes africanas.
Amaral (2012, p. 1102), sucinta sobre a questão.

O Programa Nacional do Livro Didático merece uma reflexão, dada sua


proporção tanto no que se refere à Política Pública, ao ideário que
representa, ou ao seu processo e escolha e distribuição, pois se trata também
de uma estratégia de atendimento ao estabelecido nos programas, projetos,
planos e legislação em geral que visam minimizar as desigualdades sociais,
mediante a oferta de educação de qualidade, mantidos mediante ações
suplementares de material didático, transporte, alimentação, e também
assistência à saúde. Deste modo, evidencia-se o caráter de política pública
compensatória assumido pelo livro didático, quando se apresenta enquanto
um instrumento capaz de levar aos filhos das classes populares o saber ao
qual não tem acesso mediante livros paradidáticos, literatura variada,
cinema, teatro, viagens e qualquer outra atividade sócio-cultural.

Mas, qual a relação direta entre o Livro Didático, o docente, o discente e a aplicação
da Lei 10.639/03? A relação direta está no processo de interação que deve ocorrer entre o
Livro Didático (e as intenções daqueles que o elaboraram, tendo em vista os critérios
preestabelcidos pelo Estado), o docente (em primeiro momento, apenas como uma ferramenta
que torna „democrática‟ a escolha do livro), tendo em mente sua formação política-ideológica-
social e as interpretações acerca dos conhecimentos que estão sendo expostos no livro e o
conhecimento da Lei; favorecerá o discente no processo de formação identitária acerca do Ser
negro e de enxergar o negro (nesse caso, os de pele clara), não como um „negro‟ (pobre, sujo,
mal-educado, marginal, macumbeiro, entre outros estereótipos) e sim, verdadeiramente um
ser humano por meio do conhecimento não estereotipado e da representatividade do mesmo
(positivamente) nos livros.

O LIVRO DIDÁTICO E O CUMPRIMENTO DA LEI 10.639/03

Vimos que os livros didáticos têm dimensões materiais e simbólicas e


compreendemos o Programa Nacional do Livro Didático como um programa de governo no
interior da política educacional que muito pode contribuir para o cumprimento da Lei
10.639/03. A partir dessas leituras, considerando o material didático utilizado como apoio para
o professor na sala de aula, compreendemos a educação enquanto ferramenta fundamental no
combate ao racismo e a trajetória da educação dos negros no Brasil. Após esses estudos,
temos subsídios necessários para analisar os livros didáticos e, assim, refletir sobre
contribuição dos livros didáticos com o objetivo de corrigir injustiças, eliminar
discriminações e promover a inclusão social e a cidadania para todos no sistema educacional
brasileiro.
A nossa pesquisa tem o propósito de empreender um estudo sobre a execução da Lei
10.639/03 por meio da análise do livro didático. Analisaremos especificamente o livro
didático de História (2013-2015) adotado para o 5º ano do Ensino Fundamental I no
município de Águas Lindas/GO. Por meio do conhecimento sobre o que esse livro reproduz
sobre a História da África e da Cultura Afro-brasileira, poderemos identificar as barreiras do
combate ao preconceito e discriminação ainda vigentes em nossa sociedade. Antes de
adentrarmos efetivamente na questão da análise do livro didático, discutiremos alguns
conceitos sobre preconceito, discriminação e racismo. A intenção é fundamentar mais ainda
nossa análise para que seja verificável as variáveis ideológicas contidas no livro didático.
Alguns dicionários definem o Preconceito como sendo qualquer opinião ou
sentimento concebido sem exame crítico; sentimento hostil, assumido em consequência da
generalização apressada de uma experiência pessoal ou imposta pelo meio; intolerância. De
acordo com o dicionário Aurélio,

Preconceito é um “conceito ou opinião formados antecipadamente, sem


maior ponderação ou conhecimento dos fatos; idéia preconcebida..
Julgamento ou opinião formada sem se levar em conta o fato que os
conteste; prejuízo. Superstição, crendice; prejuízo. Suspeita, intolerância,
ódio irracional ou aversão a outras raças, credos, religiões, etc”.

O preconceito é adquirido e além disso, é uma forma de conhecer algo, ter opinião. É
partindo desse princípio que o sujeito se relaciona socialmente, porém, esse preconceito não
pode partir apenas de crítica (reprodução da opinião de outrem sem se saber as
fundamentações), mas sim, ser alicerçado pela consciência crítica (embasamentos teóricos
para o pessoal) ou busca de experiências. Varejão; Stange; Bassani, (2004, p.01), nos remete
ao preconceito como sendo algo cultural:

O preconceito está presente nas relações humanas desde a mais remota


história da Humanidade. Durante todo seu processo de experiência de vida o
ser humano vai incorporando valores, sentimentos, idéias, que vão se
perpetuando na mente, muitas vezes em defesa de um modo de pensar e de
viver que não é aceitável por todos. Esta é a base cognitiva do preconceito
que se denomina estereótipo: um padrão mental de avaliação da realidade
que se expressa através de atitudes, no preconceito propriamente dito. O
conceito de determinado objeto não é formado em nossa mente, apenas pelo
seu caráter real, isto é, as impressões sensoriais imediatas, mas também pelas
idéias pré-existentes acumuladas em nossa mente, que formam o estereótipo,
por exemplo: "político", "mulher", "negro", "judeu", muitas vezes trazendo
conotações equivocadas.

A palavra Discriminação é definida como sendo a faculdade (possibilidade, natural


ou adquirida, de fazer algo; capacidade) de discriminar, distinguir, discernir ou a ação ou
efeito de separar, segregar, pôr à parte. De maneira esdrúxula, pode-se afirmar que a
discriminação é fruto do preconceito.
De acordo com Bandeira e Batista (2002, p. 126) “o preconceito, usualmente
incorporado e acreditado, é a mola central e o reprodutor mais eficaz da discriminação e de
exclusão”. A discriminação existe entre „um‟ para com o „outro‟, assim sendo, tem como base
o preconceito e logicamente as experiências vividas pelos indivíduos acerca de seus atos de
discriminação.
O Racismo, segundo alguns dicionários, pode ser definido como o conjunto de
teorias e crenças que estabelecem uma hierarquia entre as raças, entre as etnias ou doutrina ou
sistema político fundado sobre o direito de uma raça (considerada pura e superior) de dominar
outras. Guimarães (1999, p.103), remete-nos a alguns primórdios do racismo, focando na
questão de como o racismo era justificado pelos colonizadores aos colonizados, escravizados.

O racismo, portanto, origina-se da elaboração e da expansão de uma doutrina


que justificava a desigualdade entre os seres humanos (seja em situação de
cativeiro ou de conquista) não pela força ou pelo poder dos conquistadores
(uma justificativa política que acompanhara todas as conquistas anteriores),
mas pela desigualdade imanente entre as raças humanas (a inferioridade
intelectual, moral, cultural e psíquica dos conquistados ou
escravizados). Esta doutrina justificava pelas diferenças raciais a
desigualdade de posição social e de tratamento, a separação espacial e a
desigualdade de direitos entre colonizadores e colonizados, entre
conquistadores e conquistados, entre senhores e escravos e, mais tarde, entre
os descendentes destes grupos incorporados num mesmo Estado nacional.
Trata-se da doutrina racista que se expressou na biologia e no direito.

De certa forma, ideias como a citada acima, ainda existem e, justificam, reafirmam e
propagam o racismo no Brasil. Guimarães (1999, p. 115), ainda, afirma que

pode-se precisar melhor o racismo, tal como se manifesta, por suas


conseqüências e dizer que a manutenção e reprodução de desigualdades
sociais e econômicas, por meio dos mais diferentes mecanismos, entre
grupos de pessoas identificadas como de diferentes raças, etnias ou cores
constituem racismo desde que operem mecanismos de discriminação que
possam ser retraçados à idéia de raça. Tal refinamento torna-se necessário
toda vez que as discriminações que atingem um determinado grupo humano,
seja ou não uma etnia, não são explicitamente racialistas (usam, por
exemplo, a idéia de cor ou de cultura), mas motivadas ou justificadas por
critérios a-históricos e a-sociais, tais como a idéia de raça, de modo que
possam ser ou retraçados ou reduzidos a esta idéia. Neste sentido, o racismo
pode prescindir da noção de raça, transmudando-se perfeitamente para
operar através de tropos desta noção. Neste caso, mesmo deixando de ser
uma doutrina, pode continuar informando atitudes e preferências
Assim sendo, o racismo é uma manutenção que nos parece proposital e não apenas
uma questão cultural. Observa-se isso na falta de representatividade do negro nas revistas de
modas, mídias que fazem novelas, propagandas, entre outras. O negro aparece,
corriqueiramente nas páginas policiais dos jornais e quando nas novelas – sempre em papéis
de marginalizados, exceto, algumas exceções. Em suma, o racismo está impregnado no
consciente de muitas pessoas e é propagado e praticado por elas.
Analisando os conceitos apresentados acima, percebemos que o cenário social atual
acerca dos negros no Brasil jogados em sua maior parte às margens da sociedade que „fazem
parte‟, mas „não são partes‟; são „peças‟, mas „não as fundamentais‟ do sistema social. A
palavra racismo significa também a superiodade de uma raça sobre a outra e nesse sentido é
quase um sinônimo de „negros‟, pois, quando se fala em racismo, rapidamente pensa-se em
negros/pretos. Poucas são as Leis que julgam e condenam os racistas e defendem os que são
vítimas do racismo, assim sendo, a prática é comum, principalmente devido não a questão do
„racismo cultural‟ (também uma forma de se justificar a prática), mas sim da impunidade. O
preconceito gera a discriminação que provoca o racismo. Isso ocorre, ainda, atualmente, pois,
historicamente, o negro sempre esteve como „alvo‟ (vítima) do conjunto de ações negativas
para com outro ser humano.
Mas, como superar o racismo nas sociedades atuais, quando já não se reconhece
facilmente um racista? Não deixar que o racismo se propague, evitando que o indivíduo
pratique o racismo ou torne-se racista. Aqui, quando afirmamos o indivíduo, pensamos
naqueles que ainda estão menos providos dos estereótipos acerca dos negros, nesse caso, as
crianças. As ações educativas na própria escola são fundamentais para a concretização do
almejado.
Como já havíamos citado anteriormente, é necessário pensar as falhas existentes que
impedem uma boa execução do ensino nesse contexto e, consequentemente o insucesso e
descumprimento da Lei 10.639/03, tendo em vista que a necessidade de se criar uma Lei para
tal fim, mostra que a tarefa não é nada fácil de ser concretizada em sua totalidade, mas, não
impossível.
Não existe uma receita pronta para o sucesso, mas, existem caminhos a serem
seguidos que proporcionarão alguns êxitos por usufruto da boa execução de educação. Entre
os caminhos, destacam-se a Formação Identitária dos docentes, a exposição da Lei no senso
comum por meio das mídias de grande circulação e expressão (televisão, rádio e jornal) e a
quebra de paradigmas e propagação de conhecimentos estereotipados acerca da História do
negro por usufruto da representatividade positiva desses nos livros didáticos.
Se colocarmos em ordem de importância os caminhos a serem seguidos, a Formação
Identitária do docente e a representatividade positiva dos negros no livro didático – estariam
em primeira ação. Não almejamos, intencionamos ou estamos reponsabilizando os docentes
por essa tarefa, mas, percebemos que os docentes têm papel primordial nesse contexto por
serem formadores de opiniões, consciência crítica, propagadores de conhecimento, os
primeiros a terem contato com o discente em início de formação de identidades, sedentos por
conhecimentos e dispostos a adquirí-los, tendo em vista, que as responsabilidades,
logicamente, são de toda a sociedade em geral. Reafirmamos que a valorização e o
reconhecimento da diversidade étnico-racial brasileira deve ser posto em prática nas escolas
pelo ato de educar os novos discentes desde as suas bases educacionais e também pelo educar
dos próprios docentes, por buscas pessoais e formações acadêmicas.
De acordo com a Lei 10.639/03 todas as escolas de Ensino Fundamental e Ensino
Médio devem estudar História da África e Cultura afro-brasileira, o negro na formação da
sociedade nacional e sua contribuição nas áreas sociais, econômicas e políticas. Nesse
contexto, o livro didático de História deve corresponder a essas expectativas, além do fato de
não trazer apenas as visões, análises, propagação de conhecimentos estereotipados, já citados
e discutidos nesse trabalho.
O município de Águas Lindas-GO, adotou dois livros de História. Um retrata a
História de Goiás e o outro a História do Brasil, desde as hipóteses da chegada dos índios até
o início da República. Analisando os livros didáticos, percebemos que os prescritos na Lei
10.639/03 e o que está sendo representado e discutido no livro, são díspares. Observa-se que o
número de páginas sobre a História dos Afrodescentes e Africanos, aumentaram, se
comparados à edições anteriores a Lei, porém, as representações dos negros continuam sendo
as estereotipadas (escravizado, castigado, a vida nas senzalas e nos quilombos) e
eurocentristas ( por exemplo, dizer que os europeus que chegaram pelo mar, conquistaram as
novas terras, quando na verdade – invadiram-na), propaga ao docente (aquele que desconhece
a História) e ao discente, ideologias com indagações que velam os verdadeiros contextos das
condições coercitivas que trouxeram os escravizados para nosso país, “ como os africanos
chegaram à colônia portuguesa na América? E com que objetivo vieram para cá?” (Vesentini;
Martins; Pécora, 2011, p.69). A indagação propõe uma ideologia de que o negro escravizado
veio morar na América como se tivessem em busca de novas oportunidades e chegando aqui,
tudo deu errado. A quem interessa essa história? O preconceito de certa forma é reafirmado e
justificado. O negro continua sendo sinônimo de escravidão e o continente africano de
pobreza, doenças, satanismo, entre outros. Quando se fala sobre os negros em ambos os livros
citados, deixa-se de lado ou não é comentado o fato desses terem sido os grandes construtores
dessa nação.
Em relação à visão não estereotipada e de construção positiva sobre o negro,
elaborou-se um tópico falando sobre A origem do preconceito, evidenciando que este ficou
mais aparente, após, a Abolição da Escravatura (Lei Áurea), assinada pela princesa Isabel no
dia 13 de maio de 1888.

Apesar de se livrarem dos castigos e de ganharem a liberdade, os


afrodescendentes se viram sem nenhuma perspectiva de trabalho para
sobreviver. Ganhar a liberdade não era suficiente. Eles precisavam de
trabalho, e nas cidades não havia empregos para eles. (Vesentini; Martins;
Pécora, 2011, p.88)

Em relação a contribuição dos negros para a cultura no Brasil, um tópico


nomenclaturado de A construção da cultura, apenas cita quais são, mas, não explica ou
discute algumas delas. Afirma apenas que “quando os negros chegaram ao Brasil, trouxeram
consigo seus hábitos alimentares, sua religião, sua música, sua dança, suas tradições”
(Vesentini; Martins; Pécora, 2011, p.89).
Em relação aos Direitos Legais, afirma que o

racismo, o preconceito, a discriminação provocam consequências graves


para a sociedade e para as pessoas que sofrem esse tipo de violência. Em
razão da forma pela qual ocorreu a dominação do europeu sobre os povos
indígenas e africanos trazidos para cá, os descendentes desses grupos sociais
passaram a ser discriminados, não tendo as mesmas condições de acesso dos
outros grupos aos serviços de saúde e à educação, por exemplo, e,
consequentemente, ao trabalho e às formas de melhoria financeira e social.
(Idem, p. 90-91)

Os livros didáticos, acerca do cumprimento da Lei 10.639/03, deveriam objetivar a


correção de injustiças, eliminar discriminações, propagar políticas afirmativas, promover a
inclusão social e a cidadania para todos no sistema educacional brasileiro. O livro didático
tem poder ideológico, mas, acerca do cumprimento da Lei, acreditamos que há muito o que
ser feito para ser possível, por meio deste, combater o racismo e formar boas ideologias
acerca dos temas sobre a História e Cultura Afro-brasileira e Africana, principalmente, em
relação a formação daqueles que os elaboram e daqueles que os escolhem.
Esse trabalho é desprovido de afirmações sem embasamento e de forma alguma
queremos deixar implícito que o livro didático por não estar de acordo com a Lei 10.639/03
foi elaborado por pessoas racistas ou que intencionalmente é pensado para manter-se e
propagar-se os estereótipos negativos acerca do negro.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

O ensino de História da África e Cultura Afro-brasileira, o negro na formação da


sociedade nacional e sua contribuição nas áreas sociais, econômicas e políticas, são alguns
dos ensinos obrigatórios nas escolas brasileiras. Tal ensino é imposto por meio da Lei
10.639/03. A Lei não especifica como deve ser feito, mas, existem critérios para a elaboração
desses em relação aos conteúdos dos livros didáticos que darão êxito ao cumprimento da Lei,
ao menos, enquanto propagação de ideologias positivas acerca do negro. Apesar de existir
critérios claros e objetivos acerca do tema, a Lei, nos livros didáticos analisados, em hipótese
alguma está sendo cumprida. O que se percebe é um total desconhecimento da Lei por aqueles
que elaboram os conteúdos e um total desconhecimento da Lei por aqueles que os aprovam e
os escolhem (o docente) para serem utilizados na escola como apoio ao docente ou até mesmo
uma negativa de inserir os conteúdos positivos, reescrevendo a história tendo em mente a
visão do negro, autores africanistas e africanos.
Por meio do conhecimento sobre o que esses livros reproduzem sobre a História da
África e da Cultura Afro-brasileira, poderemos identificar as barreiras do combate ao
preconceito e a discriminação, ainda vigente em nossa sociedade e o cumprimento da Lei
10.639/03. Os livros analisados, mesmo sendo de edição elaborada após a Lei, continua
contendo abordagens estereotipadas e eurocentristas sobre a História e Cultura Afro-brasileira
e Africana. O negro continua com os estereótipos da cor de pele inferior; os negros continuam
sendo apresentados como escravos, mal educados, fujões, agressivos porque sabiam capoeira,
entre outros, assim sendo, os livros didáticos analisados, continuam propagando o preconceito
e a discriminação racial.
Sabemos que o Livro Didático não é apenas um instrumento de uso do docente para
consultar conhecimento quando necessário, um livro de consultas, tirar dúvidas ou um
simples objeto para verificação do que esteja sendo dito pelo docente para o discente. O Livro
Didático é ferramenta ideológica, ferramenta capaz de tornar coercitivo, persuasivo,
conhecedor, aqueles que o leem; é ferramenta de poder (no sentido do conhecimento inserido
dentro dos contextos sociais) para os marginalizados e também os não marginalizados
politicamente, economicamente, socialmente. Essa força que emana, é possibilitada devido à
democratização na escolha do mesmo e definição de critérios para avaliação e elaboração.
Docentes conscientes da Lei por meio de formação acadêmica ou cursos de extensão,
principalmente os docentes que atuam na Educação Infantil e no Ensino Fundamental, a
propagação da Lei na grande mídia e mais Políticas Públicas Afirmativas nas escolas,
possibilitariam melhor êxito da aplicabilidade da Lei, primeiramente pelo conhecimento da
mesma.

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