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O Teste Wisconsin de Classificação de Car- instrumentos cujas produções cientificas têm gerado
tas (WCST) é um instrumento internacionalmente grande impacto na comunidade (Silva-Filho, Pasian
reconhecido para avaliação das funções executivas e & Humberto, 2011). Vários estudos com essa técnica
frequentemente adotado em avaliações neuropsico- têm sido desenvolvidos recentemente no Laborató-
lógicas. O WCST foi considerado o mais proeminente rio de Avaliação Psicológica do Amazonas (FAPSI/
do pequeno grupo dos chamados testes dos lobos UFAM), em trabalhos de pesquisa de iniciação cien-
frontais (Damásio, 2000) e internacionalmente reco- tífica, de conclusão da graduação em psicologia e
nhecido como padrão ouro na avaliação das funções em trabalhos de mestrado em psicologia, com idosos
executivas (Reppold, Pedrom & Trentini, 2010). É saudáveis e com queixas clínicas, tendo já alcançado
um teste com quatro cartas-estímulo expostas sobre um número significativo de observações. Nesses
a mesa diante da pessoa que será avaliada e 128 car- estudos, nos quais em aproximadamente metade
tas-resposta que ficam de posse deste respondente dos casos foram feitos com auxílio experimental do
e que serão manejadas por ele, colocando-as logo acessório de aplicação, observou-se significativo
abaixo das cartas-estímulo, fazendo um pareamento conforto na tarefa tanto para o aplicador quanto para
que busca uma correta classificação mediante feed- o respondente.
back recebido do avaliador de “certo” ou “errado”. A A prática no manejo dessa técnica demons-
padronização do teste exige do avaliador três tarefas tra que, por um lado, mesmo com treinamento do
simultâneas: 1) manter o testando no enquadra- avaliador – e, sobretudo, na ausência de treinamento
mento da tarefa e controlar o ritmo de suas respostas – é muito provável a ocorrência de imprecisões
conforme o ritmo do aplicador para o registro dos importantes na administração do teste em alguma
dados; 2) oferecer um feedback verbal ao respon- das três tarefas do avaliador acima descritas. Dentre
dente de “certo-errado”, uma por uma, após cada essas imprecisões, as mais comuns são: dar feed-
carta classificada; 3) fazer o registro adequadamente back verbal incorreto ou de forma hesitante (fazendo
no protocolo, de cada uma das cartas classificadas retificações), fazer o registro de forma inadequada
pelo respondente, identificando o critério por ele no protocolo e deixar de retomar o enquadramento
adotado para classificação (Cor, Forma, Número). do respondente na tarefa, quando necessário. Esses
Os autores do manual original desse instrumento e erros comprometem imediatamente o protocolo do
das versões brasileiras adaptadas, validadas e padro- teste, inutilizando-o tanto para fazer interpretações
nizadas para crianças e idosos trazem instruções e clínicas do resultado como para o uso em pesquisas.
recomendações cuidadosas para um adequado trei- A reaplicação do WCST pode ser inviável devido à
namento dos avaliadores (Heaton, Chelune, Talley, influência da aprendizagem sobre o desempenho do
& Curtiss, 1993; 2005; Trentini, Argimon, Oliveira, respondente, sobretudo quando ele se recorda de que
& Werlang, 2010). se trata de um teste em que as soluções são mutantes.
Este instrumento tem sido considerado um Por essa razão, para evitar a inutilização dos dados
dos mais relevantes na avaliação neuropsicológica de obtidos com esse instrumento, o treinamento e o cui-
idosos (Silva-Filho, Pasian, & Vale, 2007) e um dos dado do avaliador são fundamentais.
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Endereço para correspondência:
Laboratório de Avaliação Psicológica – FAPSI / Universidade Federal do Amazonas
Av. General Rodrigo Octávio Jordão Ramos, 3000
Campus Universitário, Coroado I - Manaus/Amazonas CEP: 69.000-000. Manaus/AM
Fone: (92) 3305-4117
E-mail: zehumberto@uol.com.br
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Sobre o autor:
José Humberto da Silva Filho, Psicólogo. Doutor em Psicologia pela Universidade de São Paulo. Professor da
Universidade Federal do Amazonas.