(53) A Maria estava preocupada com o facto de os seus filhos – a Ana, de sete
anos, e o Karl, de cinco – estarem sempre a bulhar por quererem os brinquedos um do
outro. O seu objectivo era reduzir as bulhas e estimular a partilha e a capacidade de os
irmãos brincarem sossegados. Para alcançar este objectivo, planeou com as duas
crianças um programa de recompensas concretas especialmente pensado para estimular
a capacidade de partilha e de brincar sem brigas. A Maria apresentou o programa
dizendo-lhes: “Nós vamos fazer um gráfico de autocolantes para vos ajudar a partilhar
os brinquedos. Vocês não gostam de partilhar e fartam-se de bulhar quando estão a
brincar juntos – e eu acabo por ficar zangada. Ora, nenhum de nós fica contente quando
isso acontece, não é? O que vai acontecer, de agora em diante, é que, desde que vocês
chegam da escola até à hora do jantar, eu vou estar a ver como é que vocês estão a
brincar. Vamos marcar 15 minutos no minuteiro da cozinha e de cada vez que tocar, se
vocês se portaram bem, se foram amigos e partilharam os brinquedos, recebem um
autocolante; depois do jantar, podem trocar os autocolantes por um prémio. Agora
vamos fazer uma lista das coisas que vocês querem ganhar.”
Para as crianças mais velhas, de 6 a 8 anos, é uma boa ideia elaborar uma lista
relativamente longa com itens pequenos e baratos, bem como outros um pouco mais
significativos. Na lista da Anna e do Karl, uma história de dormir suplementar poderá
valer cinco autocolantes, ir ao cinema, trinta autocolantes. A lista pode ser alterada à
medida que as crianças forem fazendo novas sugestões. As crianças não são todas iguais
no que diz respeito ao tempo que são capazes de esperar pelas recompensas. É possível
que, para as de cinco a seis anos, seja necessário efectuar diariamente a troca dos seus
autocolantes por recompensas, enquanto as mais velhas poderão provavelmente esperar
alguns dias para trocar os autocolantes ou pontos por uma recompensa. No entanto, há
variações quanto ao desenvolvimento da sua maturidade e capacidade para esperar.
Algumas com cinco anos são capazes de protelar a recompensa por uns dias, enquanto
uma de oito anos, mas mais impulsiva, vai precisar de receber o prémio diariamente. As
crianças entre os três e os quatro anos sentem-se confusas perante um sistema complexo
de troca de autocolantes por prémios. Nestas idades, um autocolante especial, uma
tatuagem ou pequeno prémio – uma história de dormir extra, um prémio do saco das
surpresas – será uma recompensa mais do que suficiente.
NOTA: Não se esqueça de envolver os seus filhos na escolha dos prémios. Um truque é
seleccionar coisas que eles peçam muitas vezes para fazer, já que constituirão
certamente um bom reforço.
O estabelecimento de objectivos
De um modo geral é boa ideia limitar o custo de todo e qualquer item da lista a
menos de um euro, consoante os rendimentos da sua família. As crianças podem ser
informadas logo de início. Elas vão pedir coisas mais caras e tentar forçar as regras
relativamente a isto, mas em geral coisas de pouco valor funcionam melhor como
reforço. Normalmente, as crianças mais pequenas apreciam ganhar mais tempo com os
pais, como por exemplo mais uns minutos de histórias, ir passear ao parque ou jogar à
bola. Pequenos gostos no campo da alimentação, como por exemplo passas, chocolate,
escolher os cereais de pequeno-almoço preferidos, ou escolher a sobremesa para o jantar
também são apelativas. Os mais velhos preferem dinheiro e privilégios especiais como
mais tempo para ver televisão, convidar um amigo para passar a noite, usar o telefone,
plantar flores, etc. Lembre-se que num programa deste tipo é mais fácil aumentar as
recompensas do que diminui-las.
Por vezes os pais optam por recompensas concretas mais estimulantes para eles
próprios do que para os filhos – coisas como ir comer uma piza ou ir a um concerto, que
são actividades que eles querem fazer. Um outro problema resulta de os pais exercerem
um controlo exagerado sobre o programa. Nós tivemos ocasião de ver gráficos
elaboradíssimos com fotografias e autocolantes muito bonitos escolhidos pelos pais, não
pelas crianças. Se não se lhes dá algum controlo, o programa vai provavelmente falhar.
O objectivo de um programa de recompensas concretas deveria ser ensinar os seus
filhos a assumir maior responsabilidade pelo seu próprio comportamento. Se eles
pressentirem que da sua parte não há intenção de delegar algum controlo, é muito
possível que se preparem para um confronto, e nesse caso o interesse deles deixa de ser
o prazer de cooperar e de se portarem bem e passa a ser a satisfação de ganhar uma luta
de poder, numa escalada de atenção negativa.
Procure determinar o que é mais compensador para cada um dos seus filhos. Pode
fazer isto enchendo-se de sugestões para recompensas, só para o caso de eles não terem
nenhuma sugestão inicial. Procure, no entanto, que eles avancem com as suas próprias
propostas. Poderá dizer a uma criança mais relutante, por exemplo, “Tu gostas muito de
convidar a Julia para vir brincar. Que tal se puséssemos isso na tua lista?” E não se
esqueça (63) que uma lista de reforços não tem de ficar pronta numa só conversa;
poderão continuá-la aos poucos, sempre que os seus filhos se lembrem de outras coisas
que os motivam. Se utilizar autocolantes, deixe-os ir comprá-los, e envolva-os na
realização do gráfico e na decisão relativamente ao valor em autocolantes de cada item.
Procure que as crianças tenham gosto e prazer no processo e se entusiasmem com a
perspectiva de ganhar os prémios.
A recompensa premeia o comportamento correcto
Alguns pais optam por reservar as recompensas concretas para os êxitos especiais
dos seus filhos, tais como um 5 na escola, limpar a casa toda ou fazer uma viagem de
dois dias de carro sem protestar. Este é precisamente um exemplo de como tornar
demasiado exigentes as etapas para o objectivo final. Não só esperam demasiado tempo
para conceder as recompensas, desta forma os pais estão a reservar as recompensas para
o comportamento perfeito, o que vai transmitir aos filhos a mensagem de que os
comportamentos do quotidiano – como fazer o que lhes pedem, partilhar as coisas ou
acabar as suas tarefas – não contam.
2ª 3ª 4ª 5ª 6ª Sab Dom
4.30-4.45
4.45-5.00
5.00-5.15
5.15-5.30
Total
_____________________
Nome do pai ou da mãe
______________
Nome da criança
Este gráfico assemelha-se a um contrato. Com crianças um pouco mais velhas, talvez
valha a pena incluir a assinatura dos dois, para atestar que todos o percebem. Também é
boa ideia informá-los de que o programa será revisto após uma semana de
funcionamento, para ver se são necessárias revisões, alterações ou acrescentar novos
itens.
Para crianças dos 3 aos 5 aos, faça programas de incentivos claros, simples e
divertidos. As crianças desta idade gostam muito de coleccionar diferentes tipos de
cromos e autocolantes, ou até talvez tirar um pequeno prémio surpresa do saco. Com
crianças pequenas, não é preciso complicar as coisas, com elencos de recompensas e
sistemas de trocas para alcançar prémios mais substanciais. Receber o autocolante e o
estímulo dos pais e ver o caderno cada vez mais cheio de autocolantes é recompensa
mais do que suficiente.
Em resumo...
Defina claramente o comportamento apropriado da criança.
Defina etapas curtas.
Vá aumentando o desafio gradualmente.
Não se lance em programas muito complexos – seleccione um ou dois
comportamentos, para começar.
Opte por recompensas pouco onerosas.
Proponha recompensas diárias.
Envolva a criança na escolha das recompensas.
Espero pelo comportamento correcto para dar a recompensa.
Recompense os êxitos alcançados no dia-a-dia.
Gradualmente, vá substituindo as recompensas por aprovação social.
Exponha as recompensas em linguagem clara e específica.
Proponha um elenco variado.
Mostre aos seus filhos as expectativas que deposita neles.
Não misture recompensas com punições.
Monitorize consistentemente o programa de recompensas.
Coordene o seu programa com a professora do seu filho.