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Capítulo 9

O ENFOQUE BEHAVIORISTA

Os enfoques behaviorista, do desenvolvimento organizacional, sistêmico e


estruturalista guardam, entre si, uma acentuada relação teórica e metodológica, de
forma que muitos de seus autores poderiam ser enquadrados em mais de um destes
enfoques. Rigorosamente, seria mais adequado que os mesmos fossem agrupados em
um enfoque dos sistemas sociais, pois é clara, em todos os autores, a influência dos
pressupostos que têm como pólo de referência o funcionalismo de Parsons e/ou a
teoria dos sistemas, de Bertalanffi, ambas, por sua vez, relacionadas aos trabalhos de
Durkheim e Maslmosky. A divisão em enfoques diferentes, neste estudo, visa so-
mente seguir um certo padrão relativamente incorporado no exame da Teoria Geral
da Administração. Este registro é importante, porquanto (i) as causas que geraram
estes enfoques são as mesmas; (ii) é também aqui que a Sociologia das Organizações
- ou, igualmente, a Sociologia da Burocracia - é definitivamente incorporada pêlos
ideólogos da gestão capitalista enquanto disciplina essencial nos seus estudos; (iii)
foi também com estes autores que a Psicologia Aplicada às Organizações - ou,
igualmente, Psicologia Organizacional - foi amplamente introduzida nos estudos
sobre gestão; (iïi) outras disciplinas e áreas do conhecimento são utilizadas para for-
necer suportes conceituais aos estudos das organizações, tais como a Antropologia, a
Ciência Política e mesmo a Filosofia, cujos fundamentos passaram a ser gradativa-
mente utilizados. Daí resulta que, atualmente, existem diversos novos enfoques de-
dicados ao estudo das organizações, como, por exemplo: a psicossociologia, a socío-
análise, a teoria institucional, a análise institucional, a teoria pós-modema, entre
outras.

Isto não significa, entretanto, que se esteja caminhando para uma desejada
teoria da gestão, porquanto ainda não se está isento de uma orientação ideológica e
unilateral, ou seja, de uma concepção capitalista da gestão. Mas, é necessário reco-
nhecer que a inserção de outras disciplinas no estudo das organizações tem gerado
pesquisas e análises mais voltadas à interpretação crítica da natureza das relações
sociais e de produção. E é justamente com o behaviorismo que brota o germe de uma
nova interpretação, na medida em que suas análises abrem o caminho para a incor-
poraçao de outras formas de exame das organizações, as quais apresentam posturas
críticas acerca destas relações sociais e de produção típicas do capitalismo. E com o
behaviorismo, embora não no behaviorismo, que tem início uma tímida, porém fun-
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damental, recusa à ideologia capitalista de gestão, recusa que vem se alastrando em problemas humanos caso se deseje compreender as decisões. Para tanto, Simon en-
todos os continentes, devido aos efeitos do modelo capitalista de gestão sobre a vida tende, em 1954, que a forma correia de estudar a solução de problemas era estimulá-
dos trabalhadores, dos empregados graduados e da sociedade em geral. Para exami- los em computador. Gradualmente, segundo Simon, a simulação computadorizada
nar os pressupostos básicos do enfoque comportamentalista, serão analisados os da cognição humana tomou-se seu interesse central de pesquisa que o acompanhou
textos mais representativos de Simon, March, Agyris, Likert e Blake & Mouton. por quase toda sua vida. Em 1978, Simon foi premiado com o Nobel em economia.
James G. March é professor emérito em ciência política e em sociologia
da Stanford University, na escola de graduação em negócios e na escola de educa-
1 A CONCEPÇÃO DE HERBERT A. SJMON E JAMES G. MARCH cão, desde 1970. March graduou-se em administração pela University ofWisconsin
e obteve seu PhD em Ciência Política em 1953 pela Yale University. Foi pesquisa-
Herbert A. Simon nasceu em MilwaukeeF^Visconsin, em 1916. Por in- dor convidado em administração industrial e psicologia, no Camegie Institute of
fluência da família, especialmente de um irmão de sua mãe que havia estudado Technology entre 1953 e 1964 e, posteriormente, entre 1964 e 1970, foi professor de
economia e psicologia, acaba direcionando seus interesses para esta área. Simon psicologia e sociologia e diretor da escola de ciências sociais da University of Cali-
ingressou em 1933 na UnÍversity of Chicago para estudar ciências sociais, porém fomia, Ïrvine. Marctí obteve diversas premiações e publicou 14 livros. Sua área de
desde o princípio acreditava que esta área de estudos deveria possuir o mesmo rigor pesquisa concentra-se no estudo das organizações, especificamente no comporta-
que a matemática. Simon pretendia ser um cientista social matemático, o que o levou mento, na aprendizagem, na liderança e nos processos decisórios.
a procurar aprofundar-se em economia e ciência política, matemática avançada,
Neste item são examinados basicamente dois textos, que podem ser con-
lógica simbólica e estatística. Em 1936, no seu trabalho relativo à graduação, desen-
siderados fundamentais para compreender as concepções de Herbert Simon e James
volveu um interesse em tornada de decisão em organizações, tema que seguiu em
March no que se refere ao comportamento administrativo (SIMON, 1975) e à teoria
sua ativiáade de pesquisador assistente de 1939 a 1942, período no qual obteve seu
doutorado na University of Califórnia, em Berkeley. Após isto, Simon foi convidado das organizações (MARCH e SIMON, 1979), ambos tratando do comportamento
humano nas organizações sob o prisma do processo decisório. Q estudo do compor-
a assumir a cadeira de ciência política no ÏllinoÍs Institute of Technology. Para
lamento admjnistrativo, de Simpn (1975), pretende expor uma análise, do compor-
Simon, ainda que tenha publicado, em 1943, um trabalho sobre impostos e, em 1947,
tamento]^umaB^.Ï^\im^á^ as ideias de Baraard. A organização é, para Simon,
outro sobre desenvolvimento tecnológico, o projeto de energia atômica foi seu real
umsÏsïema complexo de inter-relações que existe em um gmpamento humano e que
batismo em análise económica, pois foi no mesmo que seu interesse em matemática
proporciona a cada membro tanto parte das condições (informação, pressuposto,
económica pode ser testado e desenvolvido, durante o período entre 1950 e 1955.
atitude e objetivo) que entram em suas decisões, como um conjunto de comporta-
Neste tempo, Simon trabalhou com as relações causais entre ordenamento e iden-
tifícação, descobrindo e provando. Juntamente com David Hawkins, o teorema mentos racionais esperados - em função da racionalidade das condições que geram
as decisões. A organização é, em suma, um sistema de racionaïidades.
Hawkins-Simon sobre as condições de existência de vetares de soluções positivas
em matrizes input-output e, também, desenvolvendo, juntamente com Albert Ando, O conceito de Simon indica, desde logo, as limitações de sua análise, na
teoremas em quase-decomposição e agregação. medida em que as identificações e vinculações dos objetivos dos membros com a
organização obedecem a um esquema formal, no qual as ações são consideradas no
Em 1949, o Camegie Instítute ofTechnology foi autorizado a criar a sua
escola de graduação em administração industrial, tendo convidado Simon para par- âmbito de uma estrutura hierárquica, segundo canais de comunicação e regras de
ticipar em seu desenvolvimento, o que o levou a Pittsburgh com o objetívo de im- comportamento rígidas e explicitamente definidas aprioristícamente. Trata-se, neste
plementar uma formação de administradores baseada em estudos em economia e sentido, de uma retomada dos pressupostos clássicos e dos áe relações humanas, em
ciência do comportamento. Coincidindo com o surgimento de novas técnicas cien- que os fatos adquirem mais importância que as contradições, de tal forma que o
fíficas de gestão, os computadores passaram a fazer parte mais frequente do cotidiano comportamento humano alienado de sua individualidade é condicionado por padrões
da vida nas organizações. Assim, Simon, juntamente com Charles Holt, Franco estabelecidos de forma relativamente maniqueísta . Analisando a racipiÍalidade
Modigliani e John Muth, engajou-se no desenvolvimento de uma programa técnico como um processo e um produto dp pensamento, Simon(1978) 'admite...certa irra-
dinâmico para agregar controle de inventário (estoque) com produção, conhecido ciunãliciãde no comportamento humano nas organizações, mas esta irracionaliâaâe
como regras de decisão linear. Simon e Holt deduziram as regras de um sistema de não faz pâtte da racïònalidade. O homem administrativo, protótipo do indivíduo
decisão otimo sob situações de certeza e provaram o teorema da certeza equivalente organizacional, tem um comportamento em boa parte intencionalmente racional.
que permitiu que as técnicas fossem aplicadas sob condições de incerteza. Os estu-
dos descritivos em tornada de decisão em organizações continuou sendo a principal Uma relação completa pode ser obtida no site www.stanford.edu
preocupação de Simon e, posteriormente, contando com a colaboração de James Simon parece sugerir que a estrutura da organização determina o comportamento dos indivíduos, pois
March e outros, fica evidenciada a necessidade de uma teoria sobre a solução de faz questão de elaborar sua análise a partir da compreensão áe como a posição do indivíduo na organiza-
cão condiciona suas crenças e atitudes. Aparentemente, Simon deriva para uma análise do tipo msütucional
ao considerar que diferentes posições na hierarquia resultam em diferentes esquemas interpretativos da
76 Informações mais completas sobre Herbert A. Simon podem ser obtidas, entre outros, no site realidade. Esta forma de análise, que procura reiacionar as leituras da realidade às crenças e atitudes dos
www.nobel.se/economics/laureates sujeitos, desconsidera os paradoxos e suas consequências.
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Para Simon, é precisamente na área em que o comportamento humano é intencional, coerção, o qual entra em cena se a primeira forma fracassar. Simon refuta a concep-
embora limitadamente racional, que se concentram as maiores possibilidades para cão utilitarista da racionalidade, porém, baseado no positivismo lógico, preocupa-se
o desenvolvimento de uma autêntica teoria de organização e administração. Simon em verificar os limites do caráter fatual e ético do racionalismo no processo decisó-
defende, assim, a ideia de que a principal preocupação da teoria administrativa re- rio. Que limites poderiam ser estes e como poderiam ser definidos senão baseados
side nos limites entre os aspectos racionais e irracionais do comportamento social em um cálculo utilitário de consequências^. Se não se trata de uma racionalidade
Vos seres humanos. Â teoria admimstrativa é, na sua essência, a teoria da raciona- utilitária, também não deveria se tratar de definir limites éticos e fatuais, na medida
'.lidade intencional e limitada do comportamento dos seres humanos que contempori- em que tais limites não poderiam aspirar a nenhuma utilidade, apenas a uma lógica.
: zam, porque não possuem meios de maximizar. Esta divisão entre a racionalidade e a Em essência, a concepção de Simon não consegue resolver os problemas que se co-
irracionalidade, tratadas como dois momentos distintos que podem ser formalmente loca, em primeiro lugar porque não consegue relacionar questões paradoxais e em
separados para a elaboração de uma teoria administrativa, antes de apresentar-se segundo lugar, de maneira a preservar os pressupostos ideológicos, deriva para o uso
como uma facilidade é, de fato, o grande dilema do qual Simon não consegue esca" da autoridade em última instância e para fazer valer o caráter que empresta à racío-
par. (SIMON, 1986) nalidade, considerando que a irracionalidade surge não como um momento da parti-
cularidade mas como uma disfunção prejudicial a eficiência organizativa .
A racionalidade contém, ela mesma, uma irracional idade, uma subjetivi-
'dade, na medida em que é naquela que esta reside. A concepção de organização, que A orgMnzaçao. ..permite. que o indivíduo aproxmie-se,. de fQrm.a .razoável,
gira em tomo da racionalidade, está assentada neste dilema, permitindo a Simon da racionaUdade objetíva, pu ?eja, permite que o indivíduo ajuste seu comporta-
criar um tipo de participante da organização que pode ser descrito como um con- mentô-as malhas do sistema decisório organizacional. Ao fazer isto, a organização
formista, resignado, incapaz de compreender as contradições da estrutura organi" suprime" tóâa ã irraçionatidade desnecessária, já que alguma in-açionaiidade é dese-
zacional e nelas intervir, um indivíduo totalmente submisso às coisas e aos fatos que jâ3a~para"ïïíàhtê-la fimcipnando. Com efeito, a prgaiizaçãp aparece, na concepção de
estão à sua volta. Sem dúvida, o qu& Simonjaropõe é um tipo que pode ser perfeita- Simorï (1975), como uma espécie de centro de dominaçap', pois permite resolver os
mente caracterizado comd^omen? alienado-, que não opõe resistência à heterogestão conflitos, ou seja, as irracionalidades,ÏHtrõ'duzmíÍo,'nas relações, as condições para
do processo de trabalho, que aceita o fato de que o comportamento dos indivíduos o exercício da docilidade e, por conseguinte, da racionalidade na sociedade hu-
nas organizações administrativas é resultado do que foi planejado por outros. Os mana. A influência da organização sobre os indivíduos, no que se refere ao processp
processos administrativos, neste sentido, são, para Simon, processos decisórios decisório, dá-seéïïT vários níveis: (i) na divisão do trabalho, dirigindo e limitando a
baseados na racional! dade, pois a organização refira de seus membros a faculdade atenção dos mdivíduos às suas tarefas; (ii) no estabelecimento de padrões de desem-
de decidir independentemente e a substitui por um processo decisório próprio. A penho; (iii) no estabelecimento de sistemas de autoridade e de comunicações e inter-
organização decide pêlos indivíduos (i) na especificação de suas funções, fixando o nalização do imaginário, através de treinamento e doutrinamento dos indivíduos.
âmbito e a natureza de seus deveres', (ii) na distribuição da autoridade'^ (iii) no esta- Para que decorra a obtenção de melhores resultados, toma-se necessário que cada
belecimenïo de tantos limites à sua faculdade de agir quantos sejam necessários. membro do grupo conheça seu lugar dentro do esquema. Como se pode notar, a
Simon simplifica as relações sociais concretas que ocorrem no interior da organiza- organização é percebida quase como o poço mágico da bondade, no qual os desejos
cão, na medida em que tudo se passa como se não houvesse, na estrutura formal de podem se realizar, pois tudo é possível desde que os indivíduos estejam dispostos a
gestão, nenhum fato capaz de aguçar as contradições que lhe são inerentes. Desta participar, sempre que suas atividades contribuam para seus próprios objetivos pes-
maneira, a concepção de Simon acaba indicando que tudo, porque é racional, é for- soais, em troca de uma necessária quantidade e qualidade de alicientes. Para que o
mal, e sendo formal, tudo é racional. (SIMON, 1975) Rigorosamente, trata-se de um desejo se realize não basta formulá-lo diante do poço. E necessário arremessar a
raciocínio do tipo rosca sem fim. moeda. Simon mergulha direto na questão central: é fundamental envolver o in-
divíduo na organização. Se a bondade não basta, é necessário aliciar e, nada mais
A análise de Simon possui uma conotação bastante simplista, provavel-
èfícaz do que desenvolver, nos empregados, além da lealdade aos objetivos da or-
mente por ser resultado de uma tentativa de reduzir a realidade a uma modelagem
ganizaçâo, outro tipo de lealdade bem diferente: a lealdade apropria organização e
matemática. Isto fica mais claro quando Simon indica dois meios de inftuenciar o
o interesse na sua sobrevivência e desenvolvimento. Esta é a estratégia que permite
comportamento:
que os sujeitos, apesar de todas as demonstrações em contrário, continuem a crer na
(i) formação, no empregado, de atitudes, de hábitos, de um estado de viabilização dos desejos.
espírito que o leve a tomar decisões vantajosas para as organizações
O empregado cumpre um papel central na sobrevivência e no desenvol-
pelo desenvolvimento de lealdades organizativas;
vimento organizacional, na medida em que põe o seu tempo e seus esforços à dispo-
(ií) imposição de decisões, que dependem da autoridade e das funções.
No primeiro caso, a certeza de um processo decisório que pode ser con-
Como foi analisado, a racionalidade possibilita aos indivíduos um certo controle sobre o comporta-
trolaáo depende de um padrão atitudinal e de um compromisso de lealdade, ou seja, mento alheio peia previsão possívej das reações esperadas. Os indivíduos são, assim, vítimas da armadilha
a racionalidade e o formalismo giram em tomo do processo de inculcação âa palavra antiga ao tentarem manter a coerência das posíuras. Simon manipula bem esta questão, quando
ideológica, da formação de um imaginário convencionado, de programas de treina- afirma que cada mdivíduo deve saber quais serão as ações dos demais, afim de determinar de maneira
aàequaâa as consequências de suas próprias ações. Esse é, aliás, um fator de fundamentai importância
mento, entre outras práticas. No segundo caso, a certeza depende de um processo de para o processo decisório na administração.
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sição aos que dirigem a orgamzaçâo, para que o usem como acharem conveniente. da organização): todo o controle ainda é pouco para March e Simon, especialmente
Tal vaior de uso, enquanto uso da mercadoria força de trabalho, é garantido, para tendo-se em conta a minimízaçâo dos conflitos disfuncionais decorrentes não da
Simon, por um contrato que resulta na criação de uma relação de autoridade con- separação fundamental entre os interesses do capital (e de seus representantes) e os
tínua entre a orgamzação e o empregado. Aos gestores, encarregados de realizar o do trabalho, mas, do próprio processo de tornada de decisão. March e Simon não
que for conveniente, a organização oferece também valores não materiais, como tratam desta questão, mas a mesma aparece evidenciada no cerne das suas propostas,
prestígio, progresso funcional, símbolos de síatus etc., que asseguram uma certa quando colocam de um lado quem decide e de outro lado quem executa: separação
Identidade entre os valores dominantes da organização e os destes gerentes. Não é entre a atividade manual e a intelectual. Se tal separação não pode ser ignorada,
sem motivo que os critérios utilizados na tornada de decisões são selecionados, para amda que seja negada pois desmontaria todo o edifício ideológico que a abriga, é
Simon, pelo grupo que detém o seu controle legal . óbvio que precisa ser admitida nesta teoria das organizações. E se é admitida, é por-
que a mesma tem existência real.
O quadro da organização, no qual o lucro e a utilidade são maximizados
tomando-se como referência os valores socialmente desejáveis, é permeado por pa-
drôes morais e éticos derivados da ideologia do capital. A identificação dos valores 2 A CONCEPÇÃO DE RENSIS LIKERT
individuais com os valores da organização, ou seja, o fato de o indivíduo adotar
como sendo seus os objetivos que são da organização, os quais determinam os
RensÍs Likert nasceu em Cheyenne, Wyomimg, em 1903, tendo obtido
valores presentes na tornada de decisão, vai se dar justamente no âmbito destes pa-
sua graduação em sociologia e economia pela University ofMichigan em 1922 e seu
drões éticos e morais. A preocupação de Simon com o comportamento admmistra-
doutorado em psicologia, pela University ofColumbia, em 1932. Likert foi professor
tivo está posta, portanto, em termos de dominação e controle, já que tal comporta-
de psicologia na New Yotk University entre 1930 e 1935, trabalhou em'algumas
mento consiste em processos decisórios que se destinam a influenciar o comporta-
organizações até 1946, quando volta à University ofMichigan e funda o Centro de
mento do pessoal de execução, ou seja, daqueles que realizam realmente o trabalho
Pesquisas, que posteriormente foi ampliado para o Instítute of Social Research, no
físico da organização. Esta concepção está igualmente presente no texto que Símon
qual irão também trabalhar, entre outros, Daniel Katz e Robert Lester Kahn. Likert
escreve juntamente com March. Analisando a teoria das organizações, Simon e
aposenta-se em 1970 e passa a trabalhar como consultor, até 1981, quando vem a
March (1979) partem, desta feita, não das estruturas que determinam objetivamente
falecer em Ann Arbor. Além de suas pesquisas na área de administração, Likert
o comportamento dos indivíduos (as quais não recobrem totalmente o vivido, como
ficou igualmente conhecido por ter criado uma técnica de medida de atitudes que
já se viu), pois é o organismo humano que guia a análise que ambos empreendem procura dar uma consistência quantitativa a fatores originalmente qualitativos,
sobre o comportamento da organização. Esía tentativa de elaborar uma teoria das
conhecida como escala de Likert, que consiste em uma medida de concordân-
organizações a partir do organismo humano que toma decisões, perde de vista a
cia/discordância (LIKERT, 1932), de muita utilidade em estudos sobre relações hu-
perspectiva estrutural mais ampla . Centrando a análise no comportamento sem manas nas organizações.
considerar quais as relações sociais em que se desenvolvem, March e Simon retiram
o organismo humano do âmbito de suas relações concretas, transformando-os em Rensis Likert (1961) preocupa-se, como os demais autores da ideologia
capitalista de gestão, com o aumento da produtividade. A pesquisa, em sua con-
sujeitos passivos, dominados e alienados nas organizações. Tal abordagem compor-
lamentai centra sua atenção nos indivíduos não como sujeitos da organização, mas,
cepçâo, auxilia a formuïaçâo de uma teoria generalizada de organização, desde que
baseada em produtores de máximo rendimento e, sendo assim, a ciência passa a estar
ao contrário, como sujeitados, submissos às premissas efetivas ou axiológicas em
a serviço do capital para acelerar o novo desenvolvimento. A concepção lançada por
que suas decisões se baseiam, manipulados por todas as formas de influência exte-
outros países industrializados, que empregam tecnologia semelhante à dos USA e
rior à disposição dos dirigentes.
que usam recursos mais baratos (mão-de-obra, basicamente), desencadeia a elabora-
Com efeito, o problema da organização. é de equilíbrio e, sendo assim, a cão de teorias que têm como escopo o aumento da produtividade, como forma de
organização deve possuir um repertório de reações padronizadas e um conjunto de garantir parcela dos mercados interno e externo. Para Likert, importante fonte de
normas qve determinem qual a reação apropriada a cada classe de situação. Tudo aumento de produtividade será o pleno desenvolvimento e a aplicação habilidosa
deve ser estruturado e sistematizado, de -forma que não haja surpresa nem quanto às das formas de organização social que os administradores mais prodtttivos estão
comunicações e nem quanto à concepção real do mundo (que é, finalmente, aquela utilizando como maior intensidade. Likert não inova: aumentar a produtividade é
reduzir o tempo de trabalho socialmente necessário ou, por outra forma, aumentar o
su Sem embargo, para Simon uma das funções básicas àe um sistema de registros formais e relatórios soliretraïãlÏïo.
consiste em transferir do subordmado para o chefe a responsabiS idade de decidir qua] será a informação
Ao tratar da meUioria da qualidade da mercadoria força de trabalho, Likert
que deve ser transmitida para o alto.
Kl De outra forma é, por suposto, tarefa impossível. Se cada indivíduo é, como se denomina, um indiví-
mostra o papel que cumprem os aparelhos ideológicos de Estado na formação da
duo, não seria esta teoria da organização uma teoria das idiossincrasias comuns? Talvez uma teoria do mão-de-obra qualificada. Como isto por si só não resolve, LÍkert vai centrar sua
indivíduo organizacional, ele mesmo um indivíduo sintese de todas as contradições? Indivíduo modelo ou atenção na administração de cúpula e nas chefias intermediárias, na tentativa de bus-
modelo áe mdivíduo? Sünon e March resolvem estas questões pela redução das mesmas a um indivíduo car uma forma de organização mais produtiva e mais satisfatória. O segredo está no
satisfatoriamente racional; tomador de decisões; ilustrado, às vezes coincidentemente, por algum Índivi-
que se refere à obtenção de melhor desempenho, nas maneiras de dirigir as pessoas.
duo concreto.
Neste sentido, Likert propõe novos padrões democráticos para dirigir pessoas, or- de decisão, gerando um compromisso ético de grupo: para Likert não é o fundamento
ganizando o comportamento humano de forma que se obtenham melhoramentos em da organização científica do trabalho que deve ser alterado, mas as formas de gerir as
produtividade e redução de custos. Concretamente, o objetivo do sistema adminis- técnicas. Desta maneira, para avaliar o desempenho da organização é necessário
trativo proposto por Likert é unicamente o de aprimorar a heterogestão da força de conhecer os graus de lealdade, os níveis de motivação, a interelação entre metas mdi-
trabalho comprada pelo capital, de modo a manter ou mesmo elevar a taxa de mais- viduais e grupais, o grau de eficácia da comunicação e os níveis de extensão do fluxo
valia. Isto é evidente na medida em que Likert, ao tratar da gestão do trabalho, suge" de infonnação do superior para o subordinado. Tal avaliação deve permitir aos ges-
re inclusive que o salário não é o motivador básico do trabalhador, pois o que conta fores conhecer as forças moüvacionais e a intervir sobre elas.
é a lealdade ao grupo e outros motivos de ego. Esta concepção, semelhante à de Si-
Deste modo, Likert propõe associar o que chama de sistema de motivação
mon e March, vai ser a tecla na qual vão se basear os novos padrões de administra-
cooperativa com o sistema taylorista-fordista de organização de trabalho, potenciali-
cão, cujos fundamentos insistirão na emergência de interessar o trabalhador no seu zando a força de cada um. O trabalho repetitivo e o trabalho variado podem ser
trabalho, em envoÍvê-Ío com a organização, em fazê-los amar o grupo, os amigos
conjugados na medida em que centram-se em operações com alto desempenho e
organizacionais, a família organizacional e toda a retórica sentimentalista que se
baixo custo e que utilizam não só alicientes económicos mas motivos adicionais do
instala na ideologia capitalista de gestão e se toma uma forma de controle exercida
ego para realização das metas da empresa. Tais aliciantes são completados por aíí-
pêlos manipuladores de sentimentos. A organização, para Likert, com efeito, é uma
ïudes favoráveis, ou seja, por atitudes de identificação com a organização e seus
extensão do lar, um clube de campo, onde as pessoas passarão largas horas reali-
objeüvos e um alto senso de engajamento pessoal ao realizá-los. Desta forma, para
zancfo tarefas criativas e interessantes, contribuindo com a riqueza da nação, do
Likert, a organização consiste em um sistema social solidamente constituído eprofi-
empregador e sua mesmo, além, é claro, de ser o local ideal para satisfazer os moti-
cientemente funcionando. Este sistema, social se compõe de grupos de trabalho in-
vos do ego.
íerlígados, com um alto grau de lealdade grupai entre os membros, atitudes fa-
Likert descobre, em suas pesquisas, que a gestão coercitiva afeta negatí- voráveis e confiança entre superiores e subordinados. A essência da proposta é que,
vãmente a produtividade, ou seja, que uma organização que apresenta um baixo ao realizar operações de atividade altamente cooperativa, os gerentes de alta produ-
nível de eficiência tende a ser dirigida por gerentes mais voltados ao modelo taylo- tividade valem-se dos recursos da teoria clássica da administração de forma pelo
rista-fordista. Neste tipo de gestão, os trabalhadores são pressionados a obter resul- menos tão completa quanto os gerentes de baixa produtividade, mas de maneira
tados, o turn-over é alto, os conflitos são frequentes, o desperdício é elevado e as bem diferente. Esta diferença na aplicação decorre da diferença nos motivos que os
reclamações são constantes. Paralelamente, verifica que as organizações que apre- gerentes de alta produtividade, ao contrário dos de baixa produtividade, acreditam
sentam melhor desempenho são geridas segundo um padrão baseado em relações ser importantes para influenciar o comportamento humano. Em Likert, é possível
humanas, em trabalhos em grupo, em valores e aspirações. Deduz daí, com simpli- reencontrar o taylorismo-fordismo pensado em outras bases formais.
cidade, que o conflito entre supervisores e empregados está sempre relacionado a
No esquema de LÍkert as cenas e o imaginário precisam ser bem opera-
uma baixa produtividade. Esta é a razão pela qual Likert vai propor resolver dois
cionalizados. Os trabalhadores precisam crer que suas habilidades estão sendo bem
problemas com uma só medida, que é a democratização da sitpervisão: sobe a pro-
empregadas, pois, de outro modo, será necessário instituir a ilusão^ já que o impor-
dutívídaáe, caem os conflitos. Com efeito, se bem que os empregados possam gos-
tante é como os indivíduos percebem as coisas: o que conta é como ele vê as coisas,
tar do lugar - do mesmo modo que gostam do clube de campo -, a transformação
não a realidade objetiva em si mesma. E preciso que, na constituição do esquema do
de atitudes favoráveis em produtividade depende da habilidade com que os super-
logro institucionalizado proposto por Likert, (Í) seja aplicado o princípio de relações
visores, gerentes e a organização da linha de produção desempenham suas tarefas
soliâarizantes para o sucesso da organização, de forma que esta seja encarada pêlos
de liderança. Este é o fundamento do modelo democrático de gestão na versão de
agentes como autenticamente importante; (ii) os agentes sintam que tanto os ob-
Likert.
jetivos da organização como sua tarefa são indispensáveis para a consecução dos
-^ ,/A ênfase de Likert (1961) é sobre o processo de manipulação dos senti- objetivos da organização; (iii) os agentes percebam que suas tarefas são difíceis,
mentos. 0'õrgülhoë a lealdade nó grupo são desenvolvidos pela utilização construtiva importantes e significativas; (iv) os agentes tenham um sentimento de vaíor e im-
de reuniões e, sendo assim, o importante Já não é mais que a organização informal portância pessoal. Esta integração grupai, no estilo mais tradicional da psicologia
deva ser trabalhada pelo administrador, mas que as técnicas de condução e influencia é organizacional, visa um alto nível de identificação do ego com as metas da empresa
que devem ser apreendidas e aplicadas. O que importa é a habilidade do supervisor em e, desta forma, a luta pelo poder toma-se menos intensa e menos agentes são ne-
criar um alto nível de lealdade entre colegas de grupo, de^ forma a erigir metas relatí- cessarias para cada tarefa, já que cada um opera com cargas máximas de serviço:
vãmente alias de desempenho. As técnicas de influencia a serem utilizadas para tal ilusão e exploração são as chaves do sucesso da empresa. Estes são, enfim, os novos
propósito, pressupõem uma comunicação eficiente e processos envolventes de tornada padrões de administração: máxima exploração; organização portadora de ideal do
ego dos seus agentes; conflitos manipulativamente administrados; harmonia entre
Não obstante sua visão quantitativa de autoridade, Likert, ao contrário de outros teóricos, não confunde objetivos das organizações e desejos individuais.
autoridade com influência. A autoridade é, por definição, descendente e formal; a influência é informal e
O teste da nova teoria revela ainda a alta eficiência dos grupos, apanágio
não é necessariamente descendente na hierarquia formal, chegando mesmo a afetar a quantidade de auto-
da nova técnica de gerir o taylorismo. A questão, entretanto, não é exatamente a de
riáade.
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eficiência do grupo, mas, a de sua formação. O grupo não nasce a partir aos interes- (ií) Sistema 2: autoritário benevolente. Sistema no qual a liderança é
sés objetivos dos seus membros, mas a partir das necessidades operacionais da or- exercida de maneira condescendente na forma de uma confiança en-
ganização e das necessidades funcionais e de resultados da gerência. No grupo não tre o mestre e o servo, em que a motivação é principalmente baseada
se realizam os interesses específicos dos agentes, mas, aqueles inculcados pela or- em recompensas, em que o pessoal de nível de gerência assume res-
ganização. Likert desconsidera, em sua análise, o papel da função ideológica da or~ ponsabilidade mas os de baixo nível não o fazem, em que há peque-
ganização sobre os gmpos que a compõem, na medida em que esta ausência vai lhe na comunicação e relativamente poucas equipes de trabalho;
pemïitir trabalhar sua nova teoria justamente no plano em que a nega: o ideológico. (iii) Sistema 3: participativo consultivo ou deliberativo. Sistema em que a
A ideologia da gestão participativa, ou do sistema participativo, proposta liderança é exercida pêlos superiores que possuem uma substancial
por Likert, é, neste sentido, elaborada visando a gestão dos interesses especifica- mas não completa confiança em seus subordinados, em que a moti-
mente capitalistas, que se manifestam na manipulação dos indivíduos através de uma vação se dá com base em recompensas e algum envolvimento, em
forma de gestão organizacional que busca sofisticar os modos de controle e repressão que uma alta proporção de pessoal (especialmente os de mais alto
no trabalho, segundo as fórmulas da ilusão participativa e do conformismo consím- nível) sente-se responsável pela realização dos objetivos da organi-
tivo. Destarte, o controle e a coerção saem do âmbito da relação superior- --^ zação, em que há alguma comunicação vertical e horizontal e uma
subordinado para cair no sistema de interação grupai. Agora, como propõe Likert, o cp moderada quantidade de equipes de trabalho;
indivíduo, amplamente dominado pêlos valores da organização, que acredita ter aju- fï /, > (iv) Sistema 4: participativo gmpal. Sistema de ótima solução, em que a
dado a definir, vai impor a si mesmo uma pressão tão ou mais nociva e alienante do f -, ^ liderança é exercida pêlos superiores que possuem completa confian-
que aquela resultante do sistema tradicional de organização do trabalho. Likert tem ca em seus subordinados, em que a motivação é por recompensas
razão: há uma ausência de ansiedades associadas com pressão por parte do supe- económicas baseadas em objetivos que foram definidos de forma
rior. A ansiedade está associada, na nova teoria, com a pressão que o indivíduo é participativa, em que o pessoal de todos os níveis sente-se respon-
.levado a exercer sobre si mesmo: é como se fosse uma obrigação moral que precisa sável pêlos objetivos organizacionais, em que existe mais comuni-
ser cumprida a todo custo, pois é o impossível que deve ser feito. A manipulação do cação e uma substancial quantidade de equipes cooperativas de tra-
ego é direta e sistemática. Os novos padrões democráticos de gestão, para LÍkert, balho.
precisam ser validados para que tenham êxito. Como, em sua visão, os subordinados
Não é necessário que se faça uma análise mais profunda para perceber
refletem os princípios e práticas adotados pelo superior^ a aplicação da nova teoria
que as diferenças entre os sistemas, a partir das quarenta e três variáveis listadas
deve começar na cúpula da organização: é aqui que termina toda a panacéia partici-
por Likert, é o nível de controle, por parte da gerência, dos grupos, tendo em vista
pativa.
os incrementos em produtividade do trabalho. Ao propor o Sistema 4 como aquele
Ao refletir sobre a organização humana, Likert (1967) retoma sua nova ideal ou ótimo da nova teoria, Likert afirma que o sistema administrativo de uma
teoria ao fazer o relato da aplicação dos resultados de sua pesquisa quantitativa, no firma éfator básico na determinação da sua produtividade. Assim, para aumentar
qual examina a natureza da administração científica, estudando dados mais precisos a produtividade e, portanto, a produção de valor excedente, o objetivo do Sistema
do que aqueles geralmente empregados na edificação de uma. política global de de- 4 é o de envolver os agentes no espírito da nova empresa, de forma a que estes
cisões. Também neste relato ficam claros, desde o início, os propósitos de Likert acreditem ser ela a portadora de seus ideais: o administrador assume aí o seu papel
quando este afirma que de todas as tarefas administrativas, dirigir o componente na reprodução do capital. O Sistema 4 é a solução para a empresa : (i) melhora o
humano é a mais importante^ sendo essencial, então, que um número cada vez maior relacionamento com os sindicatos, pois novos contratos de trabalho são assinados
de empresas passe a adotar a admimstração científica. O texto consiste na expo- sem greve; (ii) passa a haver boa vontade na solução dos problemas; (iii) a solução
sição sistemática de quatro sistemas de organização: o sistema autoritário, que se pacífica substitui o conflito irreconciliável; (ív) as diferenças não se transformam
subdivide em dois modelos, o rígido e o benevolente; o sistema participativo, que se em ressentimentos formais ou crónicos, pois foram eliminados no nascedouro; (v)
subdivide nos modelos deliberativo e grupai. Estes sistemas são comparados a partir sindicatos e empresas auferem benefícios financeiros; (vi) as empresas e os traba-
de sete variáveis básicas, subdivididas em outras específicas, perfazendo um total de Ihadores lucrarão imensamente se não houver paralisações; (vii) haverá alta pro-
quarenta e três variáveis. Assim, tendo em vista as variáveis motivação, comuníca- dutividade. Em síntese, parece tratar-se de um sistema de maravilhas em que a
cão, interação, tornada de decisões, fixação de metas, controle e desempenho, Likert felicidade bate à porta, e todos, empresários e gerentes, trabalhadores e sindicatos,
apresenta os seus sistemas. se põem a comemorar.
(i) Sistema l: autoritário explorador ou rígido. Sistema no qual as de-
cisões são impostas aos subordinados, em que a motivação é carac- A técnica é bastante conhecida: é necessário que o bolo cresça para depois dividi-io. Com efeito, para
terizada por ameaças, em que as gerências de alto nível têm grande Likert, a empresa, antes de tudo, deve prosperar e chegar a um elevado estágio (fe desenvolvimento; só
responsabilidade enquanto as de baixo nível não possuem virtual" então estará apta a ciar a seus servidores aquilo que eles almejam de um emprego: orgulho da compa-
nhia onde trabalham, da função que executam, segurança no serviço, remuneração adequada e oportnni-
mente nenhuma, em que há uma pequena comunicação e nenhuma àaàe para promoção. No entanto, para o boio crescer é necessário aumentar a taxa de exploração até o
articulação entre os gmpos de trabalho; seu nível máximo. E enquanto o bo!o não cresce?
122 José Henrique de Faria Economia Política do Poder-Voi. 2

No sistema participativo de Likert o supervisor desempenha um papel de- organizacional. Aqui o interesse é verificar até que ponto a razão humana, eH
cisivo. O controle mais rígido encontra-se disseminado em todos os níveis, guiando apenas o comportamento, pode se tomar a base para o diagnóstico e a ação (Theoï^ï
comportamentos: toma-se mais efetívo, já que o padrão de desempenho é mais ele- in Practice, 1974; Orgamzational Learning, 1978; Organizational Learning II,
vado. A questão central não está na preocupação com a participação dos empregados 1996, todos com Donald Schon). Esta concepção também aparece em Overcomíng
ou com suas condições propriamente ditas, mas em como isto tudo pode ser absor- Organizational Defenses (1990) e em Knowledge for Action (1993).
vido pela empresa e em como a empresa poderá tirar o máximo proveito possível Mais que Likert, Chris Argyris (1957; 1964) percebe exatamente que os
destas ilusões. A questão é, como afirma o próprio Líkert (1967), criar e manter problemas da organização se encontram na gerência autoritária, que não é capaz de
uma organização humana altamente eficaz, através da qual se consegue tudo para o perceber as idiossincrasias dos empregados. Uma vez identificado o foco do proble-
progresso da empresa. Dito de outro modo: aprimorar a admmistração com a melho- ma, Argyris vai propor sua superação . Argyris é dos primeiros grandes críticos da
ria dos controles. No entanto, o sistema participativo é, em essência, um sistema teoria administrativa e trabalha com conceitos não muito comuns, como o de aliena-
burocrático funcional aperfeiçoado, já que, para Likert, devido às limitações da ca- cão, por exemplo, retirados de autores cuja concepção não se enquadram na ortodo-
pacidade humana é necessária mais funciorsalizaçào. Mas a füncionalização tem xia que caracteriza a ideologia da gestão do capital. Argyris percebe, com clareza, o
sérias dificuldades e, para tanto, a solução ideal requer uma organização com muita ethos autoritário das propostas administrativas e, o que é mais importante, a mani-
fzmcionalização mas que também consiga resolver as diferenças internas e atingir pulação que se esconde por detrás do humanismo liberal recomendado pêlos ideólo-
eficiente coordenação . gos da gestão das organizações. Compreende que o indivíduo não pode ser encarado
apenas como força de trabalho, já que, além das identificações que possui com os
Assim pensado, o Sistema Participativo Grupai pressupõem um processo
grupos de que participa, possui idiossincrasias moldadas pela sua personalidade e
mais sutil de controle e uma diferente concepção dos empregados, semelhante
sofre influências culturais da sociedade, as quais lhe inculcam valores determinados.
àquela apresentada por McGregor. Como se pode notar, a ofensiva participacionísta
Suas propostas, no entanto, como alternativas às críticas que coerentemente formula,
do capital pretende, ao mesmo tempo em que incrementa a eficiência dos mecanis-
não questionam exatamente os níveis estruturais onde se fundam as ideologias da
mos de controle sobre o processo de trabalho, envolver o trabalhador na ideologia da
gestão. Argyris trabalha com a noção áejob enlargment e dejob enrichment em sua
empresa e retirar dele seu saber, do qual vai se apropriar como contribuição coletiva
análise e seus esforços giram em tomo de como envolver e integrar o indivíduo nas
ou, para usar a expressão de Likert, grupai.
organizações. Esta é, a seu modo, também uma forma de manipulação, com a dife"
rença qualitativa de que Argyris trabalha melhor os conceitos, sofisticando as técni-
3 A CONCEPÇÃO DE CHRIS ARGYRIS cãs de envolvimento dos agentes na organização.
Compreender o porquê de as pessoas conduzirem-se de uma ou de outra
Chris Argyris nasceu em 16.07.1923 e cresceu em Irvington, New Jersey. maneira nas organizações é o fundamento que toma fácil, para Argyris, predizer e
Foi para a universidade em Clark, onde entrou em contato com Kurt Lewin, que havia controlar a conduta humana. Isto deve ser feito através da ciência, que assume assim
iniciado o Centro de Pesquisa para Dinâmica de Grupo no Massachusetts Institute of uma função quase dogmática, na medida em que sobre seus resultados se professa
Technology. Formou-se Psicologia (1947) em Clark, obteve seu mestrado em Psíco- um ato de fé. Se as ciências que tratam da conduta humana pudessem ser reduzidas a
logia e Economia pela Kansas University (1949) e seu Ph.D em Comportamento uma única e defmitiva interpretação, todas as dúvidas seriam sanadas e todas as atÍ-
Organizacional pela Comell University, em 1951. Foi professor na Yale University tudes poderiam ser planejadas, é porque existem diversas teorias que se apoiam em
(1951-1971) em Ciência Administrativa e da Harvard University (desde 1971) em diferentes pólos epistêmicos é que não apenas não oferecem uma única interpreta-
Educação e Comportamento Organizacional. A primeira pesquisa de Argyris explo- cão, como obrigam um exame mais profundo por parte daqueles mesmos que as uti-
rou o impacto das estruturas, sistema de controle e gestão da organização formal lizaiit. Argyris, contudo, não obstante a natureza maniqueísta dos seus argumentos,
sobre os indivíduos, especialmente como estes respondem e se adaptam. Esta pés- ou por isto mesmo, invoca a neutralidade axiológica da ciência, o que, de certa for-
quisa resultou no livro Personality and Organization (l 957) e Integrating the lndi~ ma, justifica o uso da manipulação na gestão das organizações. A coerção, neste
vidual and the Organization (1964). A partir destas pesquisas, Argyris trocou seu perspectiva, passa a ser juízo de valor do pesquisador, na medida em que depende
enfoque para mudança organizacional, em particular explorando o comportamento da ética do indivíduo que a adota. No plano político, por exemplo, não é o Estado
de executivos em organizações (Interpersonal Competence ana Organizaíional que detém o monopólio da coerção, mas os indivíduos que autorizam o seu uso e os
Effectiversess, 1962; Organizafion omd Irifjovaíion, 1965). Posteriormente, passou à que utilizam de fato é que, de acordo com a ética., estarão ou não comprometidos
investigação sobre o papel do cientista social como ao mesmo tempo pesquisador e com a mesma.
ator (Intervention Theory and Method, 1970; Inner Contraâictions ofRigorous Re- Nesta medida, o administrador, especialmente, pode, na realidade, tor-
search, 1980; Acfion Scíence, 1985, com Robert Putnam e Diana McLain Smíth). nar-se céíico; para Argyris, pois, para desenvolver uma filosofia de vida seria ne-
Este enfoque possui uma relação muito forte com sua quarta área de pesquisa, em cessaria conhecer a história, os costumes, as tradições, a ética e os objetivos na-
grande parte empreendida com Donald Schõn, sobre a aprendizagem individual e
Mas aí, de fato, é necessário dizer que outros problemas começam. Ao final, como se verá, a solução
' A solução da nova teoria seria um Fayol participativo, como convém à moda? apresentada é praticamente a mesma.
Economia Política do Poder - Vol. 2 125

cionaís. Não seria, no entanto, o ceticismo o grande temor político aos ideólogos da deve ser diagnosticado pelo diretor executivo (atualmente conhecido por ChÍef
gestão capitalista, na medida em que tal ou qual conhecimento poderia permitir uma Executive Officer - CEO), o qual decide, também, qual o comportamento eficiente
tornada áe contato com a realidade que aliena? Remover o ceticismo não seria re- a ser adotado na situação. Deste modo, a autoconsciência; os diagnósticos; o co-
mover um dos obstáculos à manutenção da reprodução ideológica? O temor se Justi- nhecimento da dinâmica dos indivíduos, dos grupos e da organização; o desenvol-
fica, na medida em que as ideologias de gestão não ofereceram uma resposta con- vimento das aptidões humanas, tudo, se apreendido, contribuirá para reduzir o
vincente. Argyris vai, desta forma, resolver a questão do ceticismo à sua maneira. conflito básico entre o indivíduo e a organização. E a fórmula clássica de Mayo: a
Na medida em que o importante para o gestor é o porquê das condutas individuais, organização informal ajuda a reduzir as causas básicas do conflito, frustração e
Argyris retoma a questão das necessidades, encontrando nesta a fonte da energia maïogro. Deriva, daí, que o comportamento aparentemente incongruente de parte
psicológica. Ele parte do postulado de que personalidade demonstra energia e, como dos empregados coagidos pela organização informal é necessário para que os
ambas são indefinidas, ele se permite fazer conjecturas. Assim, estando a fonte de indivíduos saudáveis mantenham um nível mínimo de saúde e para que a organi-
energia psicológica nas necessidades, pode-se explicar por que um operário resolve zação formal obtenha a expressão máxima de suas exigências. (ARGYRIS, 1957)
fazer greve em lugar de trabalhar. A necessidade de participar de um grupo, sendo A redução dos conflitos é fundamental no esquema de ampliação e enriquecimento
fonte de energia psicológica do indivíduo grevista que entra em ação, é que vai jus- das tarefas proposto por Argyris, na medida em que certo controle é exigido e as
tificar sua postura: Argyris desconsidera, desta forma, toda a problemática aos con- tensões fazem com que o indivíduo tome-se mais dificil de compreender e admi-
flitos de classes ou de grupos sociais. E, novamente, a mesma questão: como reconhe- nistrar. Como o envolvimento do indivíduo nas tarefas requer determinada at-
cer os conflitos de classes e de grupos sociais é admitir o exercício do poder, o mosfera, a proposta parece girar em tomo de uma espécie de ilusão coletiva, que
ideólogo opta por disfarçar o terreno da luta, colocando-a agora em outro lugar: na deve ser percebida pêlos agentes como se fosse sua realidade: é aí que o papel do
personalidade. líder efetivo e democrático ganha realce.

Argyris dirige toda sua crítica contra a burocracia, contra as relações de Para compreender as mudanças que indivíduos e organização devem
autoridade que atravessam a estrutura formal das organizações. As propostas geren- sofrer para alcançar o máximo de energia possível no esforço produtivo, Argyris
ciais, os modismos, a que se refere Argyris, não atacam as causas (a estrutura formal, (1964) apresenta a ideia de integração entre ambos. A linha de argumentos não se
as lideranças autoritárias e os controles), apenas tomam, para o operário, mais altera, ou seja, a ideia central é a de envolver o indivíduo em um empreendimento
agradáveis as atívidades fora de seu ambiente real de trabalho ou amenizam as con- que não the pertence, fazendo com que desenvolva uma relação afetiva com a em-
dições do ambiente de trabalho. Para Argyris, estas propostas liquidam com o con- presa como se ela Uie pertencesse e lhe compensasse com amplas retribuições, sob
ceito de gestão. Já que assinalam que a direção transforma o empregado. Entretanto, um certo clima de mútua confiança. Sob tal clima, Argyris acredita que os emprega-
argumenta Argyris, a felicidade individual está fechada pelo lado de dentro. Uma dos podem ficar mais dispostos a zelar pelas legítimas necessidades âa organização
leitura apressada pode dar a impressão de que se está diante de um crítico interes- em que trabalham. Ao trabalhador direto basta apenas trabalhar, já que isto é tudo
sado no trabalhador. Na verdade, o que Argyris propõe é apreender a energia._psi- quanto deseja, pois, para Argyris, ao empregado de baixo nível hierárquico resta
cológica do trabalhador para transformá-lo em uma espécie de escravo contente, escassa oportunidade de auto-realização. Sob tais condições, pode-se entender que
sujeito a manipulações. Não interessa a Argyris a questão propriamente política da a proposta de Argyris é a de que o empregado suprima seu desejo de auto-expressão
classe trabalhadora. Examinando o sistema formal de administração, a liderança enquanto executa a tarefa que lhe cabe no serviço.
autoritária, e os controles administrativos^ Argyris tem a sensação de que há dois Decorre daí a insistência em conciliar os objetivos dos indivíduos e da or-
mundos: o dos empregados e o da direção. Mais do que mera sensação, deve-se re- ganização: a exploração simplesmente não existe, garante Argyris (1964). Ao con-
conhecer que a questão é real, porquanto Argyris está diante de uma heterogestão. trário, o trabalhador aprende a baixar seu nível de aspiração queira ele ou não,
Sua proposta, baseada nesta sensação, é fazer um wundo só, sem alterar a forma de pois, oriundo de família operária, pobre, sem instrução, apanha o primeiro emprego
gestão e de apropriação do excedente. Argyris, com efeito, explicita sua compreen- que lhe é oferecido: isto passa de geração a geração. Neste prisma, o hiato existente
são deste iTtundo ao afirmar, corretamente, que liderança democrática não significa entre as necessidades individuais e as demandas organizacionais é expressivamente
ausência de liderança, para, em seguida, assumir o papel do ideólogo ao comple- reduzido pelo fato de gzie os membros da classe trabalhadora possuem mais baixos
mentar que uma democracia aura provavelmente será mais, e não menos, demo- níveis de aspirações, não esperam utilizar suas aptidões nem almejam controlar sua
erótica. •vida profissional. Esta situação acaba por fazer parte da cultura da classe operária,
O desenvoivimento individual vai se dar em um contexto orgânico par- ou seja, são valores. Como se percebe, sendo valores e não efeito das estruturas do
ticular, pois os indivíduos maduros e organizações sanâáveis devem fundir-se sistema capitalista, Argyris pode falar em conciliação de objetivos, em integração.
para a consecução de metas orgânicas, na medida em que ambos buscam simuïta- As práticas de classes são, para a ideologia da gestão, mera questão de prática de
neamente a auto-realízaçâo ótïma . O processo de fusão, para ser maximizado, valores.

Convém deixar que Argyris (1957) faie por si: o fracasso, a fhisíraçâo e o conflito não são profwsda- (iü) quando a sobrevivência da organização esteja em jogo; (iv) quando o indmáuo esteja acostumado
mente pertnrbadores (i) nos indivíduos de países cujas necessidades psicológicas e de segurança sejam pelas normas àa cultura que conhece; (v) se, por motivos pessoais psicológicos, ele tenha decidido não
de difícil satisfação; (ii) onde, por motivos sociais ou Segais, o trabaïho deva ser aceito sob esta natureza; aspirar o êxito psicológico; (vi) onde seja hábito social consagrado o aíheamento ao trabalho.
126 José Henrique de Faria Economia Política do Poder-Vol. 2 127

; /:." A satisfação no trabalho, assim, é função da qualificação: quanto mais alternativas para alcançar as metas, as perspectivas e os mecanismos de controle. E
qualificado é o operário, mais satisfeito. Mas aí se coloca um dilema: se os empre- não mais um indivíduo mas um ser organizacional, cujas perspectivas são aquelas
gados de baixo nível, insatisfeitos, aspirassem a auto-realizaçào, a sociedade se oferecidas pela organização: estímulos para comportamento adequado. Saúde men-
veria em dificuldade, pois a frustração se espalharia e esses mesmos empregados tal positiva e modelo composto de organização são, assim, os dois pólos do sucesso:
acabariam decidindo tomar atitudes mais radicais. Mas Argyris tem uma resposta o indivíduo pertence totalmente à organização, a qual exige dele sua produção
para o dilema: operários de baixo nível de qualificação são mais insatisfeitos, mas máxima. A estrutura organizacional do novo sistema de maximizar o compromisso
se acostumam e baixam o nível de aspiração. A proposta de Argyris é, precisamente, do indivíduo, está calcada em um modelo de liberdade estritamente formal e relativa,
envolver e manipular: é preciso (i) melhorar os canais de comunicação; (ii) aumentar o que não lança nada de essencialmente novo no quadro das relações de produção.
a eficiência dosinstrumentos de controle; (iii) implementar uma liderança efetiva; A análise da concepção de Argyris deve igualmente considerar o argu-
(iv) alargar e enriquecer as tarefas tornando os operários mais satisfeito^ (v) integrar mento que desenvolve juntamente com Schõn (ARGYRIS ana SCHON, 1974), se-
antes que tudo se desintegre; (vi) aumentar a eficiência da organização . A situação gundo o qual as pessoas possuem mapas mentais no que se relaciona a como agir nas
toda que Argyris descreve se passa, na verdade, como se a organização não fosse ela situações com que se defrontam . Isto envolve o modo como as pessoas planejam,
mesma inibidora das tentativas realizadas pêlos indivíduos para converter em reali- implementam e revisam suas ações. Além disso, Argyris e Schõn afirmam que são
dade todo o seu potencial. A solução de Argyris é, portanto, aumentar o volume de estes mapas que guiam as ações das pessoas e não outros fatores como explicita-
energia psicológica disponível no trabalho, de forma a incrementar a eficiência, mente expostos em suas teorias anteriores. Mais do que isto, poucas pessoas estão
reduzindo as atividades improdutivas e liberando a energia psicológica para o es- cientes dos mapas ou teorias que eles usam (ARGYR1S, 1980). Isto se deve ao fato
forço produtivo. Este seria, então, o pressuposto sobre o qual se opera a grande mu- de que existe uma divisão entre teoria e ação. Porém, Argyris e Schon sugerem que
dança. Mas o que é mudar, na perspectiva de Argyris? duas teorias de ação estão envolvidas neste processo. Como se viu anteriormente, a
Mudar implica aceiÉar os pressupostos da organização sob o comando do noção de uma teoria de ação não aparece nos primeiros escritos de Argyris, quando
capita!: (i) envolver-se na cultura capitalista; (ii) buscar o êxito psicológico-no inte- examina as relações entre indivíduos e organizações (ARGYRÍS, 1957, 1962, 1964).
rior do processo capitalista de produção; (iii) ter atitudes otimistas; (iv) demonstrar A teoria de ação é primeiramente uma teoria: suas propriedades mais gerais são
entusiasmo. Como pode o trabalhador manter constante o otimismo e o entusiasmo propriedades qzie toda as teorias possuem e os critérios mais gerais que à ela se
se o essencial, que é vender a força de trabalho, não se altera, ou seja, se a perspec- aplicam - como generalidade, centralidade e simplicidade - são critérios aplicados
tiva do trabalhador, sob o capitalismo, é ser explorado? Argyris parece estar em a todas as teorias. (ARGYRIS e SCHON, 1974, p. 4) A distinção feita entre as duas
busca da fantasia do bem-estar social e do êxito psicológico para todos, imprimindo teorias contrastantes de açao está entre as teorias nas quais estão implícitas o que as
uma orientação que se sustenta na dominação ideológica dos controladores da or- pessoas fazem como profissionais e como gestores, e aquelas em que o indivíduo é
ganizaçao sobre os funcionários e trabalhadores. Argyris pretende conferir um chamado a falar de suas ações para outra pessoa. A primeira é descrita como teorias-
caráter de unidade de ação aos agentes, negando ou, como consta em seu discurso, em uso, as quais governam o comportamento real e tendem ser estmturas tácitas. Sua
evitando ao máximo os conflitos de interesse. A ideia de gestão participativa que relação com a ação é como a relação do uso da gramática para a fala; elas contêm
Argyris sugere é ilusória ou, dito de outro modo, é desenvolvida sobre uma con- Suposições sobre si mesmo, sobre outros e sobre o ambiente — estas suposições
cepção que admite identidade de interesses objetivos: as relações de poder, enquanto constituem um microcosmo de ciência na vida diária. (AE.GYRIS e SCHON 1974,
relações de classes e grupos sociais em luta, permanecem convenientemente ausen- 30) As palavras que se usam para estabelecer o que se é, o que se faz ou o que se
tes no seu modelo. No seu mundo real, os conflitos significam que a organização gostaria que os outros pensassem que se faz, podem então ser chamadas de teoria
está afastada do ideal das propriedades essenciais. esposada. De fato, quando alguém é perguntado como ele se comportaria sob certas
A adaptação aos novos arranjos devidos à dinâmica interna do sistema circunstâncias, a resposta que ele normalmente dá é sua teoria defendida de ação
económico está centrada, para Argyris (1964), na preservação das características para aquela situação. E à teoria de ação que ele oferece sua lealdade, a. qual, sob
fundamentais das relações de produção prevalecentes. Ele propõe, para tanto, a estas circunstância, ele comunica para outros. Porém, a teoria que realmente co-
substituição do casuismo gerencial pêlos sistemas de controle e planejamento, no manda suas ações é a teoria-em uso. (ARGYRIS e SCHON, 1974,p.6-7)
intuito de combater os maus estímulos. Com efeito, a troca que a organização faz Esta distinção permite perguntar: até que ponto o comportamento se con-
com o agente (salários por comportamento) possui um ponto de equilíbrio, dado pela juga com a teoria? Todos os sentimentos e emoções ficam expressos em ações? Em
produtividade, lealdade, qualidade do traballw, influência, liderança e desenvolvi- outras palavras, existe congruência entre a duas teorias propostas? O problema desta
mento de normas em todos os níveis da organização. No modelo de Argyris, o indi- formulação de Argyris e Schõn é a suposição da existência de mapas mentais, o que
víduo que conquista maior êxito psicológico define as metas para a organização, as significa que a mente se estrutura de uma forma relativamente estática na apreensão
do real e o interpreta independentemente das manifestações deste. Não há Ínteração,
87 O conceito de eficiência organizacional, de Argyris (1964), não é outro senão o de mais-valia relativa. apenas leitura. Mais problemático ainda é o pressuposto que indica uma diferença
Com efeito: eficiência é produzir mais ntHisando os mesmos insunios de energia (humana ou não), ou
produzir a mesma quanúáade com menor dispêncio de energia, O termo eficiência parece soar melhor
aos ideófogos da gestão do que o de mais-valja. ' Para maiores detalhes, inclusive com a indicação de iinks, consultar Smiíh (2003).
entre pensamento (teoria) e ação, na medida em que (i) se a ação não corresponde ao correção é a aprendizagem single-loop, que funciona como um tennostato que de-
pensamento, o pensamento (teoria) é falso ou serve apenas de máscara. A açao à tecta quando está muito quente ou muito frio e regula a temperatura. O termostato
qual corresponde o pensamento é aquela integrada, de forma que teoria e açao esta- pode realizar esta tarefa porque recebe informações (a temperatura) e toma uma ação
belecem a verdadeira práxis; (ii) a separação entre teoria e ação serve de justificativa corretiva. A aprendizagem double-loop acontece quando o erro é descoberto e cor-
para comportamentos que não podem se manifestar abertamente (não éticos, coerci- rígido em modos que envolvem a modificação de normas subjacentes, políticas e
tivos etc.); (Íii) se todos os sentimentos, as ações, a subjetividade e, principalmente, objetivos da organização. A aprendizagem single-loop parece estar presente quando
o inconsciente ficam expressos na ação (o que não ocorre), isto não significa que metas, valores, padrões e, em muitos casos, estratégias, são supostas. A ênfase está em
sejam totalmente visíveis o tempo todo por todos os indivíduos. Assim, volta-se ao usar técnicas e em envolver técnicas mais eficientes. Qualquer reflexão é conduzida
problema inicial. Como interpretar as ações? A interpretação se fará através dos mapas em direção a fazer a estratégia mais efetiva. A double-loop, em contraste, envolve
mentais do intérprete, que por sua vez contém sua subjetividade, seu inconsciente e questionar o papel dos sistemas de padronização e aprendizagem que dão suporte às
sua forma de pensar decorrente das relações sociais que experienciou. metas e estratégias reais. Como se pode notar, o processo chamado de single ,00/3,
não é senão o conhecido modelo de aprendizagem estímulo-resposta, no qua] o in-
Argyris (1980) afirma que a efetividade resulta de uma congruêncía em
divíduo possui um comportamento condicionado por metas, padrões, normas etc. O
desenvolvimento entre ïeoria-em uso e teoria esposada sugerindo que, ao explicar as
modelo double loop, por sua vez, embora pareça ser mais criativo, no plano da or-
ações para um colega, o indivíduo pode se valer de algum pedaço conveniente de
ganização está condicionado pelas exigências destas, de tal maneira que não será
teoria. Exemplificando, Argyris afirma que pode-se explicar a pressa súbita para qualquer aprendizagem que terá aceitação, mas a que interessa aos objetivos organi-
deixar o focal de trabaiho para outros, ou até para si mesmo em um certo nível, di-
zacionais. Além disto, a distinção no trabalho usada por Argyris e Schõen resgata o
zendo que surgiu um problema urgente para ser resolvido. A teoria-em uso poderia
pensamento aristotélico que separa o pensamento técnico do pensamento prático.
ser bastante diferente. O indivíduo pode ter ficado aborrecido e cansado com seu
trabalho e pode achar que uma folga é necessária para uma situação aparentemente O principal enfoque da pesquisa de intervenção de Argyris tem sido ex-
difícil e que este alívio seria bem-vindo. Este exemplo indica, antes de tudo, uma piorar como as organizações podem aumentar sua capacidade para a aprendizagem
forma de não-dito, que encobre e legitima relações recalcantes ou repressivas e, double-loop. A aprendizagem double-loop é necessária se os profissionais e as orga-
neste sentido, também as reproduz. Assim, uma questão importante que se deve co- nízações estão para tomar decisões rapidamente informadas em contextos de mudan-
locar para reflexão é compreender como Argyris e Schon trabalham a teoria-em uso ca e frequentemente incertos. (ARGYRIS, 1974; 1982; 1990) A teoria subjacente de
e explorar a natureza do ajuste. Muitas das tarefas de supervisão, as quais são basea- Argyris, baseada em suas pesquisas empíricas, é que os processos de raciocínio e
das em requisitos profissionais, sentimentos e ações, dizem respeito à distância entre argumentação empregados por indivíduos em organizações inibem a troca de infor-
teoria esposada e teoria-em uso ou em trazer o mais profundo para a superfície. Esta maçoes relevantes, de forma que a aprendizagem double-loop toma-se difícil, espe-
distância, quando aparece., pode indicar que existe claramente uma dificuldade. Para cialmeníe em situações em que muito está em jogo. O passo próximo que Argyris e
entender a teoria-em uso é necessário um modelo dos processos envolvidos. Para Schõn tomam é implementar dois modelos que descrevem características de teorias-
este fim Argyris e Schõn (1974) inicialmente apresentam três elementos: em uso que inibem ou realçam a aprendizagem double-loop. Argyris e Schõn acre-
ditam que todas as pessoas utilizam uma teoría-em uso comum em situações pro-
(i) variáveis determinantes nas quais os indivíduos estão tentando se
blemáticas, que descrevem como Modelo I, o qual inibe a aprendizagem double-
manter dentro limites aceitáveis. Qualquer ação é provável para pres-
Ïoop. O modelo II é aquele em que os valores determinantes associados com feorias-
sionar tais variáveis. Deste modo, qualquer situação pode ativar uma
em uso realçam a aprendizagem double-loop. Argyris e Schõn não consideram,
troca entre tais variáveis;
como se nota, que na organização se pratica o jogo pelo desejo de reconhecimento,
(ii) estratégias de ação: movimentos e planos usados pelas pessoas para em que cada um, desejando ser reconhecido pelo outro, participa do jogo conforme
manter seus valores administrativos dentro do alcance aceitável; as regras objetivas e as ações subjetivas, manifestas e ocultas. Neste sentido, nem
(iii) consequências: o que acontece como resultado de uma ação, que toda a palavra pode ser explicitamente dita, embora o seja implicitamente quando
pode ser tanto pretendido - aqueles em que o indivíduo acredita que repousa sobre o nao-dito.
resultará - como involuntário, sendo que as consequências podem Argyris afirma que os participantes de seus estudos identificam-se com
ser para o próprio indivíduo e/ou para outros. as bases das teorias-em uso ou possuem valores consistentes com o Modelo I.
Onde as consequências da estratégia usada são as que os indivíduos pre- (ARGYRIS et alii. 1985, p. 89) Com isto, Argyris parece tirar conclusões sobre o
tendiam, a teoria-em uso é confinnada, porque existe uma conexão entre intenção e comportamento dos participantes sem verificar se são válidos, ao mesmo tempo em
resultado ou uma relação casual, ou seja, as consequências coincidem, embora sejam que defende seu próprio ponto de vista abstratamente sem explicar ou ilustrar seu
involuntárias. As consequências também podem não combinar ou serem contrárias raciocínio (EDMONDSON e MOINGEON, 1999, p. 61). As teorias-em uso são
aos valores determinantes do indivíduo. Argyris e Schõn (1978, p. 2) sugerem duas formadas por uma disposição implícita para premiar e evitar embaraço. A estratégia
respostas para esta situação: aprendizagem swgle-loop e double-loop (circuito sim- de ação primária é voltada ao controle unilateral do ambiente e das atividades e à
pies e circuito duplo). O erro descoberto e corrigido permite à organização continuar proteção unilateral de si mesmo e de outros. Como o Modelo I é usado freqüente-
suas políticas ou alcançar seus objetivos atuais. A relação entre erro e processo de mente para aprofundar, para fortificar rotinas defensivas (ARGYRÏS, 1990; 1993),
130 José Henrique de Faria Economia Política do Poder - VoL 2 131

este pode agir sobre indivíduos, grupos e níveis organizacionais. Expor ações, pen- entre advocacia e investigação (ARGYRIS e SCHON, 1996). As características do
samentos e sentimentos pode fazer com que indivíduos tomem-se vulneráveis para a Modelo II são as seguintes:
reação de outros. Porém, a afirmação de que o Modelo I é predominantemente de- (i) valores determinantes: informações válidas; escolha livre e ínfonna-
fensívo tem uma consequência adicional. Como sugere Anderson (1997), agir defen- da; compromisso interno;
sivamente pode ser visto como mudando de direção, usualmente de alguma verdade
(íí) estratégias: controle compartilhado; participação em projeto e im-
sobre si mesmo. Se as ações são dirigidas para mudar de uma situação para outra, é
plementação de ação;
porque são controladas e definidas por quem quer que seja o agente que está provo-
cando a mudança e não pelo sujeito e tampouco para a direção à qual o mesmo (iii) operacionalizado por: atribuição e avaliação ilustradas com dados di-
gostaria de mudar. Desta forma, o potencial para o crescimento e para a aprendi- retamente observáveis; visão exposta dos conflitos; encorajamento
zagem estaria seriamente prejudicado. Se o comportamento é dirigido pela vontade de teste público das avaliações;
do sujeito de não querer ser visto, por exemplo, como incompetente no seu trabalho, (iv) consequências: minimização das relações defensivas; alta liberdade
isto pode Íevá-Io a esconder coisas de si mesmo e dos outros a fim de evitar senti- de escolha; aumento da probabilidade da aprendizagem double loop.
mentos de incompetência. Ë apenas questionando e mudando os valores determi-
Como Edmondson e Moingeon (1999, p. 162) comentam, empregar o
nantes, continua Anderson, que é possível produzir novas estratégias de ação que
Modelo II em interações interpessoais difíceis exige profunda atenção e habilidade
podem tratar circunstâncias de mudança.
para trabalhar com um ser humano socializado em um mundo Modelo I. Ao mesmo
O Modelo I (teoria-em uso) apresentado (ARGYRIS, PUTNAM e tempo em que os dirigentes não estão sendo solicitados a renunciar completamente
MCLAFN SMITH, 1985, p. 89) possui as seguintes características: ao controle, precisam compartilhá-lo.
(i) valores determinantes: alcançar o propósito como definido pelo in- Ao tratar da aprendizagem organizacional, Chris Argyris e Donald Schõn
dÍvíduo; ganhar, não perder; suprimir sentimentos negativos; enfati- (1978, p. 16) sugerem que cada membro de uma organização construa a suaprópría
zar a racional idade; representação ou imagem da teoria-em uso do todo. O retraio da realidade é sem-
(ii) estratégias primárias: ambiente e tarefa controlados unilateralmente; pré incompleto, e as pessoas, deste modo, continuamente estão procurando aâicio-
proteção de si mesmo e dos ouü-os feitas unilateralmente; nar pedaços da mesma para conseguir uma visão do todo. Os indivíduos precisam
(Íii) operacionalizado por: atribuições e avaliações não esclarecedoras; saber seu lugar na organização, argumentam. Uma organização é concebida pêlos
defesa de cursos de ação que desencorajam as análises; considerar autores como um organismo em que cada uma das células contém de si mesma uma
particular, parcial, imagem da mudança em relação ao todo. Como um organismo,
suas próprias visões como obviamente carretas; definição de
atribuições e realização de avaliações executadas de forma a prática da organização origina-se destas mesmas imagens. A organização é um
artefato de modos individuais de representá-la. Conseqüentemente, a investigação
escondida; ïivrar-se a si mesmo das responsabilidades deixando fatos
potencialmente embaraçosos indeterminados; em aprendizagem organizacional deve referir-se

(iv) consequências: relações defensivas; baixa liberdade de escolha; não propriamente a entidades estáticas chamadas organizações, mas a um pro-
reduzida produção de informações válidas; poucas pessoas testando cesso ativo de organizar que é, em essência, um empreendimento cognitivo. Os
novas ideias. membros individuais são coníinvamente engajados em tentar conhecer a organi-
zação e a si mesmos no contexto da organização. Ao mesmo tempo, seus esforços
Chris Argyris está interessado em como mover os indivíduos de uma orien- contínuos para saber e testar seu conhecimento representa o objeto de sua inves-
tação e prática do Modelo I para o Modelo ïí, o qual se vale da aprendizagem double ligação.
loop. Para tanto, sugere que a maioria das pessoas, quando perguntadas, defenderão
o Modelo II. Também neste caso, Argyris não oferece nenhuma razão pela qual a Organização é investigação reflexiva e seus membros exigem referências
maioria das pessoas defende o Modelo II, especialmente considerando o tamanho da externas.
pesquisa em tomo dos modelos que foi empreendida por Argyris e seus associados.
As características significantes de Modelos II incluem a habilidade em levantar bons O que os Índivíditos podem referir devem ser representações públicas de teoria-
dados de qualidade e fazer inferências. Esta habilidade parece incluir as visões e em uso organizacional. Isto é a função dos mapas organizacionais e estas são as
descrições compartilhadas da organização que os inâivíduos constróem e usam
experiências dos participantes em lugar de impor uma visão da situação. No entan-
juntamente para guiar sua própria investigação. A teofia-em uso organizacional
to, é preciso notar que o modelo remete, novamente, ao problema do pressuposto do
continuamente construída por investigação individual é codificada em imagens
mapa mental. No Modelo II, as teorias devem ser explícitas e testadas, as posições privadas e em mapas públicos. Estas são a mídia da aprendizagem orgamzacio-
dos indivíduos devem ser debatidas e abertas à exploração por outros. Em outras pa- ~nal. (ARGYRIS e~SCHÕN, 1978, p. 16-17)
Íavras, Modelo II pode ser visto como sendo mais provável de ser encontrado em
organizações que contam com liderança compartilhada, ou seja, que (i) enfatizem A partir desta exposição pode-se perceber como Argyris e Schon relacio-
metas comuns e influência mútua e (ii) encorajem a comunicação aberta publica- nam o mundo individual do trabalhador e dos profissionais da gerência com o mun-
mente para testar suposições e convicções. Trata-se de uma espécie de combinação do da organização. O enfoque é muito mais fortemente colocado nos indivíduos e
132 José Henrique de Faria Economia Política do Poder - Voi. 2 133

nas interações de grupos e mecanismos de defesa, do que em sistemas e estruturas. (i) Fase l: mapeamento do problema como os clientes o vêem. Isto in-
Considerando o modo como os indivíduos constróem juntamente o mapa, é, então, clui os fatores e relações que definem o problema e a relação com os
possível entender aprendizagem organizacional (envolvendo a descoberta e correção sistemas vivos da organização;
de erro) e teoria-em uso organizacional. Para a aprendizagem organizacional aconte- (ii) Fase 2: internai ização do mapa pêlos clientes. Através da investiga-
cer, agentes aprendizes, descobertas, invenções e avaliações devem ser embutidas cão e confrontação o interveniente trabalha com os clientes para desen-
na memória organizacional. (ARGYRIS e SCHON, 1978, p. 19) Se isto não for volver um mapa em que os clientes possam aceitar responsabilidade,
codificado nas imagens que indivíduos têm e nos mapas que constróem, os individu- mas que também precisa ser compreensivo;
ais terão aprendido mas a organização não.
(iii) Fase 3: teste do modelo. Isto envolve observar que predições testa-
Novamente a proposta de Argyris e Schõn se defronta com a não- veis podem ser derivadas do mapa, tendo como referência as expe-
consideração de todo o aparato simbólico e imaginário que afeta os sujeitos, não riências práticas e históricas para ver se as predições se sustentam.
necessariamente da mesma forma, nas organizações, gerando expectativas, fanta- Se as mesmas não se sustentarem, o mapa tem que ser modificado;
sias e atitudes que podem constituir-se em experiências vividas mas não apreendi-
das. A propostâi baseada em uma apreciação cognitivista, sustenta que o saber
(iv) Fase 4: invenção de soluções para o problema e simulação para ex-
piorar possíveis impactos;
promovido pela aprendizagem é disponível ao sujeito, bastando que se lhe ofereça
de forma adequada. Entretanto, não há qualquer questionamento acerca das condi- (v) Fase 5: produção da intervenção.
coes internas do sujeito sobre sua relação de conhecimento com o objeto. Ao con- (vi) Fase 6: estudo dos impactos. Isto permite a correção de erros como
trário, os autores afirmam que os esforços para obter e testar o conhecimento também a geração de conhecimento para projetos futuros. Se tudo
constituem o próprio objeto da investigação do sujeito. De que forma o sujeito que funciona bem sob estas condições especificadas pelo modelo, o mapa
não tem desenvolvidas as condições de aprendizagem pode avaliar seu desenvol- não é desconfírmado.
vímento neste processo? A fixação de mapas constitui, a bem da verdade, não uma
Este modelo é explicitamente uma descrição de um processo de controle
memória codificada, mas, simplesmente o estabelecimento de uma referência nor-
dos mais clássicos, que podem ser observados Já nos primeiros escritos de Peter
mativa que guiará os sujeitos em sua ação na organização sem que sejam contesta-
Drucker. O que se introduz no mesmo é o conceito de aprendizagem, o qual, rígoro-
dos e questionados quanto a si mesmos e quanto aos seus desejos e fantasias. Tor-
nam-se, assim, um modo de aprendizagem, mas, uma forma de controle ideológico
samente, sobra na teoria. De fato, os conceitos de aprendizagem single e double loop
podem ser substituídos pêlos de gestão formal burocrática e gestão participativa
e psicossocial.
(Sistema 4 de Likert), pois o que se promove aqui não é propriamente uma aprendi-
O passo seguinte, na proposta de Argyris e Schõn, é saber como os ÍndÍ- zagem em si, em que o sujeito detém a centralidade do processo, mas os objetivos da
viduos que usam o Modelo I criam os sistemas de aprendizagem Organizacional I organização, em que o sujeito é um acessório a quem se concede uma certa partici-
(0-1), caracterizados por serem defensivos, autocumpri dores de profecias, auto- pação. O Modelo II, ao qual corresponde uma O-II, é limitado. Os comportamentos
abastecedores de processos e provocadores de erro. (ARGYRIS, 1982, p. 8) Os sis- psicossociais e políticos são minimizados em favor de uma visão estritamente cog-
temas 0-1 envolvem uma realimentação que faz suposições organizacionais e com-
nítivista. As organizações, mesmo que não sejam consideradas como estruturas
portamentais de rotina auto-reforçando e inibindo a descoberta e correção de
complexas de intermediação, mas como coalizões de vários indivíduos e grupos de
erro e ocasionando desconfiança, defensividade e autocumprimento de profecia
interesses, têm suas metas, estrutura e políticas emergindo de um processo contínuo
(EDMONDSON e MOINGEON, 1999, p. 161). Em outras palavras, se os indivíduos de conflito e negociação entre grupos. E preciso, como observa Smith (2003), des-
em uma organização fazem uso do Modelo I de aprendizagem a própria organização confiar de modelos bipolares do tipo Modelo ï e Modelo II, pois os mesmos tendem
pode começar a funcionar de maneira a agir contra seus interesses a longo prazo.
a instalar um "ou isto ou aquilo". Embora possam ser úteis como forma de alertar
Como Argyris e Schõn (1996, p. 28) afirmam, as ações tornadas para promover a
para aspectos diferentes e importantes da vida organizacional, deixam de considerar
aprendizagem organizacional produtiva realmente inibem a aprendizagem mais pro- o que se encontra além deles.
funda. O desafio é, então, criar um fenómeno raro, um sistema de aprendizagem
Organizacional ÏÏ (O-II). Como se pode perceber, é o sujeito o responsável pelo fato
de a organização agir contra seus interesses. Não se trata, portanto, dos interesses 4 A CONCEPÇÃO DE ROBERT BLAKE E JANE S. MOUTON
para os quais a organização foi criada, mas, da ação do sujeito. A constatação de que
este modelo não é suficientemente adequado para as formas de controle mais sofísti- A concepção de Robert Blake e Jane Srygley Mouton_(1964) refere-se
cadas que se requer para o processo de aprendizagem proposto, leva à apresentação aqui mais precisamente a um pacote denominado Grïd Gerência! , no qual se de-
de um novo modelo. fmem cinco estilos gerenciais, dados pela combinação de uma escala de valores
Este modelo 0-ÏI repousa sobre a concepção de esforço organizacional, numéricos em uma matriz quadrática de nove pontos. Os estilos correspondem a
ou seja, da formulação e implementação de uma estratégia de intervenção, a qual, de
acordo com o Argyris e Schõn (1978, p. 220-1), envolve uma ação intervencionista Tal pacote, que fez algum sucesso entre os consultores empresariais e certo tipo de treinadores, tem sua
que se processa em seis fases do trabalho: marca registrada. Isto sugere a dimensão de uma tal ideologia que se trausformou em mercadoria.
cada uma das combinações que se dão nas junções dos lados do quadrado e a uma objetivos organizacionais e pessoais. Há uma integração eficaz das pessoas com a
combinação que se dá no cruzamento dos eixos diagonais. São assim os estilos: produção, pois a orientação é forte tanto para pessoas como para resultados. Neste
"1,1"; "1,9"; "9,1"; "9,9" e "5,5". Nesta matriz está contida toda atearia administra- estilo: (i) existe compreensão e consenso mútuos; (ii) a todos é dado pensar; (iii)
tiva , na visão de Blake e Mouton. Todo o esforço de Blake e Mouton está em todos oferecem o máximo de si, e a díreçao e o controle visam obter compreensão e
chegar ao ponto recomendado da abordagem para o desenvolvimento organi- consenso; (iv) valorizam-se os sentimentos; (v) os erros são encarados como mal-
zacional, que é o 9,9. entendidos; (vi) pessoas e organização complementam-se, fundem-se, de forma que
Neste sentido, argumentam que a hierarquia é condição essencial para a o indivíduo trabalha para si; (vii) os subordinados são tratados em sua capacidade, e
organização atingir seus objetivos, independentemente da forma como é utilizada. A o superior é visto como alguém que deseja apenas contribuir; a moral é elevada, com
estrutura hierarquizada permite que certas pessoas tenham autoridade para planejar, um clima de confiança, apoio e respeito mútuos; (viii) as comunicações são abertas,
controlar e dirigir as atividades de outras. Aliando a hierarquia às pessoas e aos ob" autênticas e sinceras; (ix) o conflito é apenas um desacordo racional, lógico, que se
jetivos, tem-se as três características universais das organizações. As teorias que resolve com a confrontação direta; (x) a criatividade é grande.
tratam do comportamento estão, para Blake e Mouton, baseadas na maneira pela Blake e Mouton têm, ainda, a pretensão de que, com os parâmetros do es-
qual estas características encontram-se combinadas. Daí, resultam a orientação para filo 9.9, os seres humanos dominarão seus destinos, e uma sociedade pensante terá
a produção, a orientação para pessoas e a hierarquia. sido alcançada. Trata-se, em resumo, de um sistema idealizado e elitista, no qual, a
Os estilos são, em síntese, resultantes da combinação das orientações. As- se considerar as questões propostas no questionário, as fórmulas de satisfação pare-
sim, tem-se que cada teoria é um conjunto de pressupostos de como utilizar a hierar- cem estar à disposição para uso, de maneira que qualquer consultor, que siga o ro-
quia para ligar as pessoas à produção, das formas: teiro, pode utilizá-lo para a promoção do bem-estar da organização. Não há nada de
novo nesta proposta em termos de conceücão, senão o lareo uso aue dela se fez
(i) Gerência 1,1: o esforço mínimo necessário para realizar o trabalho i 9I1
quando surgiu"'.
requerido é suficiente para garantir um lugar na organização',
(ÍÍ) Gerência 1,9: a atenção dedicada à necessidade que as pessoas têm
de manter boas relações gera um clima agradável e amistoso na or-
ganização e no andamento do trabalho;
(iií) Gerência 9,1: G eficiência operacional resulta da organização das
condições de trabalho, de tal forma que o elemento humano interfira
em gf'au minimo\
(iv) Gerência 9,9: os resultados provêm do empenho pessoal; a interde-
pendência, através de um interesse comum pêlos objetivos da or-
ganização, proâziz a relação de confiança e respeito',
(v) Gerência 5,5: o desempenho organizacional adequado é possível
mediante o equilíbrio entre a necessidade de alcançar resultados e a
manutenção da satisfação do pessoal em nível aceitável.
O estilo gerencial 9 J baseia-se em uma forte orientação para produção,
combinada com fraca orientação para pessoas. A preocupação central deste estilo é
como organizar o trabalho para que as pessoas trabalhem com máxima produtivi-
dade. A autoridade é plena e pressupõe obediência, O estilo gerência! 1,9 baseia-se
em forte orientação para pessoas e fraca orientação para resultados (produção). A
preocupação centrai é o patemalismo, é ajeitar as condições de trabalho para que
todos sintam-se felizes e sejam leais à chefia. O estilo gerencial 1,1 baseia-se em
fraca orientação tanto para pessoas como para resultados. E um estilo em que cada
um faz o que julga melhor e ninguém altera o que habitualmente é feito. E uma
espécie de comodismo coÏetivo. O estilo gerencial 5,5 baseia-se em uma organização
média ou intennediária, tanto para resultados como para pessoal. O estilo gira em
tomo de ponderação, conciliação e soluções satisfatórias. O estilo gerência! 9,9, que Nos órgãos públicos, tanto na admmistraçâo direta quanto na indireía, especialmente depois que foram
é a grande panacéia, baseia-se najá conhecida inexistência de conflito inerente entre criadas as chamadas secretarias de modernização, o número de treinamentos em APO, DO, Grid Gerencial,
entre outros aumentou consíderaveimente, como o demonstram os diversos folders da época. Os temias
"sistema" e "desenvoivimento organizacional" passaram a fazer parte do cotidiano dos responsáveis pela
Embora sejam evidentes as limitações da matriz, os autores podem estar com a razão. modernização.

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