anos. Zacarias Homer - um barbeiro negro do Brooklyn cujo sócio foi recentemente executado por bandidos - é, assim, convocado para um encontro com Nicholas Lovejoy. Lovejoy é tanto um irônico São Nicolau quanto um sinistro Lovejoy, interpretando o corretor / chefe do comércio dos jogos ilegais de azar em Bedford-Stuyvesant. Ele diz a Homer que os números são o mercado de ações do homem pobre, um jogo que transforma sonhos em realidade.
No premiado filme universitário de Spike Lee, Joe’s Bed-Stuy Barber
Shop: We Cut Heads (1983), os números realmente financiaram o diploma de assistente social da esposa de Homer, Ruth, e compraram um novo órgão para a Igreja Betel. A desvantagem, no entanto, foi o jogo que gerou os sonhos e a ganância que trouxeram a execução do sócio de Homer, Joe. Enquanto lemos a placa néon azul e vermelha que inicia o filme, Joe está prestes a desaparecer no Hudson, em uma noite chuvosa no Brooklyn, vestido com o manto de concreto de um assassinato de gangue. Trata-se de um audacioso film noir, como meu colega Manthia Diawara certa vez apontou, criando ansiedades e expectativas que indicam um moralismo Chester Himesiano.
O filme de Lee, no entanto, apesar da moral implícita na morte de
Joe, não é um lamento didático cheio de sobriedade sombria e promessas por melhores dias. O humor desagradável de Joe se manifesta quase que instantaneamente, quando os gângsteres que forçam o barbeiro a entrar no carro sintonizam na estação WBLS de Nova York e enchem o carro com alma. Enquanto se preparam para matá-lo, Joe pede: Não faça isso, cara. Quantas vezes eu te dei um ótimo corte?! A música, o humor e o meio combinam-se para nos colocar no meio de uma história negra e sério-cômica de cultura e comércio. A textura do filme é granulosa, abafada, levemente desfocada, imprimindo um ar de realismo e independência de baixo orçamento no conjunto (joint, como Lee costuma chamar suas produções). Mas qualquer expectativa de tédio ou incompetência técnica ocasionada por essa aparência econômica é derrotada pelo ritmo perfeito do filme e pelas ricas alusões culturais e pelas performances.