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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

Instituto de Relações Internacionais

As determinantes locais da paradiplomacia:


O caso dos municípios brasileiros

Carlos Eduardo Higa Matsumoto

Brasília
2011
CARLOS EDUARDO HIGA MATSUMOTO

As determinantes locais da paradiplomacia:


O caso dos municípios brasileiros

Dissertação de mestrado apresentada ao


Instituto de Relações Internacionais da
Universidade de Brasília – IREL/UnB – como
requisito parcial para a obtenção do título de
Mestre em Relações Internacionais, área de
concentração Política Internacional e
Comparada.

Orientadora: Prof. Dra. Maria Helena de


Castro Santos

Brasília
2011
CARLOS EDUARDO HIGA MATSUMOTO

As determinantes locais da paradiplomacia:


O caso dos municípios brasileiros

Dissertação de mestrado apresentada ao


Instituto de Relações Internacionais da
Universidade de Brasília – IREL/UnB – como
requisito parcial para a obtenção do título de
Mestre em Relações Internacionais, área de
concentração Política Internacional e
Comparada.

Orientadora: Professora Doutora Maria Helena


de Castro Santos

BANCA EXAMINADORA:

____________________________________
Professora Doutora. Maria Helena de Castro Santos
Orientadora
Instituto de Relações Internacionais – UnB

____________________________________
Professor Doutor Tullo Vigevani
Universidade Estadual Paulista - UNESP

____________________________________
Professor Doutor Lucio Remuzat Rennó Junior
Instituto de Ciência Política – UnB

____________________________________
Professora Doutora Cristina Yumie Aoki Inoue
Instituto de Relações Internacionais - UnB
(Suplente)

Brasília
2011
Para minha vó Kazuko, que me fez xodó antes
mesmo de eu saber o que isso significava.
AGRADECIMENTOS

Agradeço a todo apoio dos meus pais, Paulo e Hakiko, por sempre acreditarem no meu
potencial e por terem me apoiado na decisão de parar tudo na vida para desenvolver esta
pesquisa. Por todo amor e compreensão que têm comigo e pelo incentivo que sempre me dão,
independentemente se concordam com minhas decisões. Sair de casa tão cedo não foi fácil e
morar, até hoje, longe só é menos doloroso porque sei que sempre serão meu porto seguro.

Às minhas irmãs, Vanessa e Paula, ao meu cunhado, André, e ao meu afilhado, Gianluca, por
torcerem por mim e por estarem sempre presentes, apesar da distância.

À professora Maria Helena, minha orientadora, por ter visto em meu projeto mais
possibilidades do que ele realmente ambicionava, por ter permitido uma aventura que nem eu
mesmo imaginava nas análises quantitativas e por sempre exigir de mim a mais alta
excelência acadêmica.

Aos professores Tullo Vigevani e Lucio Rennó, por terem aceito o convite de participar na
banca e pelos comentários precisos na defesa, e à professora Monica Salomón, por, ainda na
fase do pré-projeto, ter apontado trilhas importantes para o desenvolvimento da pesquisa.

Aos professores do Instituto de Relações Internacionais, mas, em especial, à professora Maria


Izabel, um exemplo acadêmico para mim.

Aos funcionários da Secretaria de Pós-graduação do IREL, Odalva, Anderson e Gustavo, pelo


apoio nos processos administrativos que requer uma pesquisa.

Aos colegas do mestrado, Gustavo, Matias, Ana e Janira, pelas discussões e debates sobre a
Paradiplomacia e as Relações Internacionais.

À Confederação Nacional de Municípios, por me ajudar com a base de dados e por ter
despertado em mim a noção sobre a importância dos municípios na construção do Estado
brasileiro.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, CAPES, pelo suporte


financeiro ao longo desses dois anos de pesquisa.

Aos amigos de Santos, Rodrigo, Orlando, Lucas, Nathan, Leandro, Diego, Pedro, Arnaldo,
Tauá, Breno, Guilherme e Ulisses.

Aos meus primos, primas, tios e tias, que, em se tratando de família japonesa, são mais do que
simplesmente primos, primas, tios e tias.

Aos amigos de Brasília, do qual tenho o privilégio de conviver nesses últimos oito anos,
Sulimara, Adriano, Gus, Mayara, Roberta, Jorlan, Guilherme e Paulinha, e, em especial, Leo e
Vic, tão presentes em meu dia a dia.
À minha família de Brasília, Juliana, Luísa, Marco, e, em especial, à Dona Sueli, que me trata
como um filho, e à dona Katuko, que me trata como um neto. Se viver longe da minha cidade
é difícil, essas pessoas me relembram todos os dias o conforto dos laços familiares.

À Fer, meu amor e minha companheira de hoje e de sempre, por ser minha confidente, minha
apoiadora de todos os momentos, minha melhor amiga. Se Brasília valeu a pena, ela é o
motivo. Desde o primeiro semestre da graduação até o último mês do mestrado, esteve
comigo, lendo meus textos, discutindo todo tipo de assunto, de política à religião, de futebol à
economia, e me aguentando nas piores situações. Todas as palavras ainda serão poucas para
agradecer e reconhecer o que ela foi, é e será para mim.
RESUMO

A presente dissertação tem como objetivo responder por que alguns governos locais
brasileiros atuam transnacionalmente enquanto outros não. Ao procurar essa solução,
concluiu-se que a resposta deve ser buscada, exclusivamente, no nível de análise local, porque
são as características e os contextos locais que diferenciam as unidades subnacionais entre si.
Dessa constatação surgiu uma segunda pergunta de pesquisa: quais são as determinantes
locais da paradiplomacia municipal no Brasil? No âmbito conceitual, a perspectiva que
oferece alicerces para esse tipo de análise é o de Panayotis Soldatos, por formular de modo
mais completo o que ele chamou de Modelo explanatório para o estudo de estados federados
como atores de política externa. Seu desenho apresenta três níveis de análise para o
fenômeno, dos quais dois foram apresentados neste estudo (global e doméstico-federal),
embora não utilizados diretamente e um deles, o nível de análise doméstico-local, foi a base
da explicação. Para testar as hipóteses conceituais de Soldatos, fez-se uso de técnicas
metodológicas quantitativas. O modelo estatístico mais adequado para a ponte entre as
análises teóricas e as empíricas foi o da regressão logística para eventos raros (relogit), dado o
próprio quadro da paradiplomacia no Brasil, que conta com uma quantidade pequena de
municípios com áreas internacionais. As determinantes locais deram origem a variáveis
locais, que, por sua vez, foram traduzidas em indicadores passíveis de mensuração pelos
cálculos matemáticos. Por meio desse processo foi possível identificar como as características
econômicas, políticas, sociais e geográficas locais, bem como outras listadas pelo autor-
referência, relacionam-se, preveem e influenciam a presença de áreas internacionais nos
governos locais brasileiros.

Palavras-chave: Paradiplomacia. Atores transnacionais. Panayotis Soldatos. Municípios


brasileiros. Métodos quantitativos em Relações Internacionais. Eventos Raros.
ABSTRACT

This dissertation aims to answer why some local governments in Brazil operate
transnationally, while others do not. Through the pursuit of the solution, it was concluded that
the answer lies on the local level of analysis, because it is the characteristics and local
contexts that differentiate subnational units from each other. With this finding, it was emerged
a second research question: what are the local determinants of municipal paradiplomacy in
Brazil? In the conceptual scope, the perspective which provides the foundation for this type of
analysis is the Panayotis Soldatos template, since it formulates a more complete explanation
in what he called the Explanatory framework for the study of federated states as foreign
policy actors. His design has three levels of analysis for the phenomenon. Two of them were
presented in this study – the global and domestic in federal level – but they were not used
directly, and one of them – the domestic in local level of analysis – which was the basis of the
explanation. To test the conceptual hypothesis of Soldatos, it was used the quantitative
methodological technique. The statistical model that best fits for “bridging” the theoretical
and empirical analysis was the Rare events logistic regression (relogit), given the idiosyncrasy
of paradiplomacy in Brazil, which presents an infrequently occurrence of international areas
in the municipal administration. The local determinants led to local variables, which, in turn,
were translated into indicators measured by mathematical calculations. Through this process,
it was possible to identify how the economic, political, social and geographical local
characteristics, as well as others listed by the author-reference, relate, predict and influence
the presence of international areas in Brazilian local governments.

Keywords: Paradiplomacy. Transnational actors. Panayotis Soldatos. Brazilian


municipalities. Quantitative Methods in International Relations. Rare Events.
LISTA DE SIGLAS

AFEPA – Assessoria de Assuntos Federativos e Parlamentares

BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento

Bird – Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento/Banco Mundial

BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

C40 – Climate Leadership Group

CAF – Comitê de Articulação Federativa

CCJC – Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania

CEDEC – Centro de Estudos de Cultura Contemporânea

CGLU - Cidades e Governos Locais Unidos

CNM – Confederação Nacional de Municípios

CODESUL – Conselho de Desenvolvimento do Sul

COP – Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas

CPDIFF – Comissão Permanente para o Desenvolvimento e Integração da Faixa de Fronteira

CR – Comitê das Regiões

CRECENEA - Comisión Regional de Comercio Exterior del Noreste Argentino

ETA - Euskadi Ta Askatasuna (Pátria basca e Liberdade)

FCCR – Foro Consultivo de Municípios, Estados Federados, Províncias e Departamentos do


Mercosul

FCI – France Cooperation Internationale

FDI – Foreign Direct Investment

FMI – Fundo Monetário Internacional

FMU – Féderation Mondiale de Cites Unies

FONARI – Fórum Nacional de Secretários de Relações Internacionais

GDP – Gross Domestic Product

GSI – Gabinete de Segurança Institucional

GTZ - Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit (Cooperação Técnica Alemã)


Habitat II – Conferência das Nações Unidas para Assentamentos Humanos II

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia Estatística

IDH – Índice de Desenvolvimento Humano municipal

IED – Investimento Externo Direto

INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

IULA – International Union of Local Authorities

JBIC – Japan Bank for International Cooperation

JICA – Japan International Cooperation Agency

KKV – King, Keohane e Verba

Logit – Logistic regression

MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

Mercosul – Mercado Comum do Sul

MRE – Ministério das Relações Exteriores

MTCR – Missile Technology Control Regime

OCDB Observatório da Cooperação Descentralizada no Brasil

ODM – Objetivos de Desenvolvimento do Milênio

OMC – Organização Mundial do Comércio

ONG – Organizações Não-governamentais

ONU – Organização das Nações Unidas

OR – Odds Ratio

PDFF – Programa de Desenvolvimento da Faixa de Fronteira

PEC – Projeto de Emenda Constitucional

PIB – Produto Interno Bruto

PIB per capita – Produto Interno Bruto per capita

PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

PSDB – Partido da Social Democracia Brasileira

PT – Partido dos Trabalhadores


Relogit – Rare events logistic regression

RR – Risk Ratio

SAF – Subchefia de Assuntos Federativos

SAS – Statistical Analysis System

SPSS – Statistic Package for Social Science

SRI – Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República.

TNP – Tratado de Não-proliferação Nuclear

UTO – United Towns Organization

VD – variável dependente

VI – Variável Independente
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figuras

Figura 1 – Como os governos subnacionais se posicionam em termos de soberania ...............41

Figura 2 – Determinantes da paradiplomacia ...........................................................................61

Figura 3 – Difusão do Poder para fora do governo central .......................................................75

Figura 4 – Cadeia Causal ........................................................................................................134

Figura 5 – Exemplo de gráfico de distribuição normal ..........................................................154

Figura 6 – Exemplo de gráfico de distribuição com assimetria positiva e negativa ...............155

Figura 7 – Exemplo de gráfico de distribuição com curtose positiva e negativa ...................155

Figura 8 – Gráfico: Resíduos de Pearson x Probabilidade .....................................................216

Figura 9 – Gráfico Resíduos de Pearson x Id .........................................................................216

Figura 10 – Gráfico: Resíduos de Desviância x Probabilidade ..............................................216

Figura 11 – Gráfico: Resíduos de Desviância x Id .................................................................216

Figura 12 – Gráfico: Leverage x Probabilidade......................................................................217

Figura 13 – Gráfico: Leverage x Id ........................................................................................217

Figura 14 – Gráfico: Probabilidade de presença de áreas internacionais ...............................227

Tabelas

Tabela 1 - Determinantes, variáveis e indicadores locais .......................................................135

Tabela 2 - Variável dependente e indicador ...........................................................................143

Tabela 3 – Nomes e legendas das variáveis do modelo ..........................................................200

Tabela 4 – Tabulações descritivas ..........................................................................................200

Tabela 5 – Sumário dos dados das variáveis contínuas ..........................................................202

Tabela 6 - Municípios com área internacional ........................................................................203

Tabela 7 - Esboço da Regressão logística: o modelo quando todas as variáveis são incluidas
................................................................................................................................................205
Tabela 8 - Regressão logística para teste de linearidade.........................................................206

Tabela 9 - Regressão logística acusando separação completa ................................................207

Tabela 10 – Tabulações de relações entre frequências da VD e das VI .................................208

Tabela 11 – Tabulações triplas ...............................................................................................209

Tabela 12 – Valores do teste de multicolinearidade quando todas as variáveis são incluídas


(exceto capital - cap) ...............................................................................................................211

Tabela 13 – Valores do teste de multicolinearidade ajustado .................................................213

Tabela 14 - Teste goodness of fit qui-quadrado e de desviância para teste de overdispersion


................................................................................................................................................214

Tabela 15 – Possíveis observações atípicas (outliers) ............................................................218

Tabela 16 – Modelo logístico sem os influential cases ..........................................................219

Tabela 17 – O modelo de regressão logística final .................................................................221

Tabela 18 – O modelo de regressão logística final em razão de chances (odds ratio) ...........225

Tabela 19 – Outliers e probabilidades ....................................................................................228

Tabela 20 – Observações mal classificadas ............................................................................229

Tabela 21 – Regressão Logística para os Eventos Raros (relogit)..........................................232

Tabela 22 – Comparação entre os coeficientes do logit e do relogit ......................................232

Tabela 23 – Exemplo das diferenças entre OR e RR (gênero x sobrevivência) .....................233

Tabela 24 – Exemplo da semelhança entre OR e RR em eventos raros (front x aint)............234

Tabela 25 – Comparação entre os valores de OR do logit e RR do relogit ............................240


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................18

CAPÍTULO 1 – PARA...O QUÊ? CENTRALIZANDO A DISCUSSÃO DA


PARADIPLOMACIA NO CAMPO DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS. ......................30

1.1 A definição do conceito ..................................................................................................32


1.2 Formas de tratar o tema: uma breve explicação sobre classificação, estratégias,
legalidade, soberania e integração regional. .........................................................................33
1.3 As críticas ao conceito e algumas alternativas ................................................................37
1.4 Governos locais vs. Governos regionais .........................................................................40
1.5 Interesses e determinantes na paradiplomacia ................................................................42
1.5.1 Interesses na paradiplomacia ...................................................................................44
1.5.2 Uma introdução para as determinantes ....................................................................53

CAPÍTULO – 02: O MODELO EXPLANATÓRIO DE SOLDATOS E O GLOBAL E O


NACIONAL NAS EXPLICAÇÕES DA PARADIPLOMACIA .............................................54

2.1 De que se trata a paradiplomacia? ..................................................................................55


2.2 O quadro conceitual da paradiplomacia segundo Soldatos ............................................57
2.3 Determinantes da paradiplomacia ...................................................................................59
2.3.1 Causas externas da paradiplomacia .........................................................................62
2.3.2 Causas Domésticas em nível Federal .......................................................................80

CAPÍTULO 03 – É O LOCAL, ESTÚPIDO! ..........................................................................96

3.1 As determinantes domésticas em nível local ..................................................................97


3.1.1 Segmentação Objetiva .............................................................................................99
3.1.2 Segmentação perceptiva ........................................................................................109
3.1.3 Regionalismo/Nacionalismo ..................................................................................114
3.1.4 Assimetria das unidades federadas ........................................................................120
3.1.5 Crescimento das unidades federadas .....................................................................123
3.1.6 “Me-tooism” ..........................................................................................................126
3.2 As variáveis e os indicadores baseados nas determinantes ...........................................134
3.3 A Variável dependente..................................................................................................142
3.3.1 Identificação de uma política exterior subnacional ...............................................143
CAPÍTULO 04 – COMO ESTUDAR AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
QUANTITATIVAMENTE? NOTAS SOBRE A METODOLOGIA ....................................147

4.1 Estatística básica ...........................................................................................................153


4.2 O modelo estatístico mais simples: usando a média como exemplo ............................159
4.3 Pressupostos ..................................................................................................................170
4.4 Correlação .....................................................................................................................173
4.5 Regressão linear simples e múltipla..............................................................................176
4.6 Regressão logística .......................................................................................................186
4.7 Os Eventos Raros em Relações Internacionais .............................................................194

CAPÍTULO 05 – AS DETERMINANTES LOCAIS DA PARADIPLOMACIA MUNICIPAL


NO BRASIL: UMA PERSPECTIVA EMPÍRICA. ...............................................................198

5.1 Estatística descritiva: evidenciando nossa base de dados .............................................199


5.2 Testando pressupostos e problemas da regressão logística: linearidade, separação
completa, informação incompleta dos previsores, multicolinearidade e overdispersion ...204
5.2.1 O modelo original sem análise dos pressupostos...................................................204
5.2.2 Linearidade ............................................................................................................205
5.2.3 Separação completa ...............................................................................................206
5.2.4 Informação incompleta dos previsores ..................................................................208
5.2.5 Não multicolinearidade ..........................................................................................210
5.2.6 Overdispersion .......................................................................................................214
5.3 Observações que influenciam o modelo indevidamente (influential cases) e os casos
atípicos (outliers) ................................................................................................................215
5.4 O método de inclusão ...................................................................................................220
5.5 O Logit ..........................................................................................................................220
5.6 Relogit: corrigindo os coeficientes para os eventos raros .............................................231
5.6.1 Entendendo os riscos .............................................................................................233
5.6.2 As conclusões gerais do modelo de determinantes locais da paradiplomacia no
Brasil baseadas nos resultados do relogit .......................................................................240

CONCLUSÃO ........................................................................................................................248

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................................258


18

INTRODUÇÃO

Às vezes eu penso como alguém pode criar um livro,


uma pintura, uma sinfonia ou uma escultura que
possa competir com uma grande cidade. Não é
possível, porque – olhando ao redor – cada rua,
cada bulevar, tem uma forma de arte em si.

Woody Allen, Meia-noite em Paris.

Uma semana antes dos chefes de Estado e representantes de mais de 190 países
reunirem-se para a 16ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas
(COP-16) em Cancun, em novembro de 2010, um grupo não habitualmente conhecido nas
negociações internacionais fez um apelo público e coordenado pelas ações de mitigação do
aquecimento global. Apesar de ser comum a presença de ativistas e ONGs internacionais de
proteção ao meio ambiente em reuniões desse tipo, o grupo citado não representava,
necessariamente, redes de advocacy.
Ele era composto por prefeitos de 138 cidades – entre elas Buenos Aires, Paris,
Johanesburgo e Los Angeles –, pertencentes a 43 países. Reunidas na capital mexicana, as
autoridades locais firmaram o Pacto da Cidade do México, no qual listaram dez pontos
concretos de como podiam ajudar em âmbito local no combate às mudanças climáticas
extremas.
As ações e metas dos governos locais não se diferenciaram somente pelo conteúdo,
mas pela própria simbologia dos agentes que o lançaram. Desde a COP-15, realizada em
Copenhague no ano anterior, ou até mesmo desde a assinatura do Protocolo de Quioto em
1992, os Estados nacionais têm passado sucessivos constrangimentos perante a opinião
pública por não conseguirem compatibilizar seus interesses às necessidades demandadas pelo
combate ao aquecimento global.
Assim como outros atores que ganharam maior relevância nas relações internacionais
no período do Pós-Guerra Fria, como as já citadas ONGs, empresas transnacionais e
organizações multilaterais, os governos subnacionais – estados, províncias, municípios,
departamentos, länders, regiões autônomas, etc – também se lançaram ao exterior, não
somente para defender causas globais, como na questão climática, mas também oferecer
soluções para esses problemas e, principalmente, defender seus interesses locais na arena
internacional.
19

O foco do presente trabalho, no entanto, não é o da participação dos governos


subnacionais nas negociações do clima, apesar de o tema já ser recorrente, especialmente em
alguns estudos norte-americanos (CHALOUX, 2010, CHATRCHYAN, DOUGHMAN e
ALLRED, 2009). Trata-se de analisar o fenômeno da atuação internacional de governos
subnacionais como um todo. Mais especificamente, a ideia central é entender quais as
determinantes locais que influenciam na decisão de um governo local se lançar ao exterior por
meio de uma estrutura administrativa especializada e, mais ainda, quais características dos
municípios se relacionam com as respectivas atuações internacionais. Neste estudo, será
focalizado o caso do Brasil.
Em termos gerais, traçou-se um diagnóstico da atuação internacional do Brasil sob a
ótica da dimensão local. A partir de um levantamento quantitativo, foram relacionadas
algumas variáveis locais com a presença de estruturas de áreas internacionais formadas nas
administrações públicas municipais. Essa correlação pode fornecer quadro alternativo de
como as relações transnacionais do país são desenvolvidas e como outros atores que não
governo central, portam-se nesse novo contexto.
Como ponto de partida, partilhamos da mesma hipótese do teórico Panayotis
Soldatos (1990), um autor-chave para os estudos do que se convencionou chamar de
paradiplomacia (DUCHACEK, 1990; SOLDATOS, 1990; HOCKING, 1993; ALDECOA e
KEATING, 1999; CORNAGO PRIETO, 2004). Para ele, existem determinantes que podem
explicar a presença de atividades transnacionais em entidades subnacionais. O autor aponta
três níveis de análise em que se inserem as variáveis explicativas para a paradiplomacia:
causas externas, causas domésticas em nível federal e causas domésticas em nível local.
Essa premissa foi assumida e adaptada para o caso brasileiro. De certa forma, a
análise estatística multivariada que será desenvolvida nas próximas páginas visa testar essa
teoria, que é considerada referência na explicação da paradiplomacia. Adicionaram-se
também contribuições de outros autores que podem complementar o quadro explicativo de
Soldatos, tornando-o mais detalhado.
O motivo para o foco nas características locais será apresentado mais a frente; desde
já, no entanto, defende-se a tese de que para entender o porquê alguns municípios brasileiros
atuam internacionalmente deve-se olhar para o local. São as competências, condições e
potencialidades locais que diferenciam as unidades subnacionais entre si. Essa diferença é
fundamental para entender as determinantes da paradiplomacia em um mesmo país. Ao
contrário das visões recorrentes dos estudos das causas da paradiplomacia, que fazem uma
análise no sentido top-down, ou seja, de uma perspectiva globalista ou da simples
20

“localização” da diplomacia (LECOURS, 2008), o que se busca desenvolver é a explicação da


paradiplomacia desde a perspectiva local, em um sentido inverso (bottom-up).
Obviamente que tanto a perspectiva global quanto a nacional são importantes para
elucidar a atuação transnacional dos governos locais. Essas noções completam o enfoque local
deste estudo; no entanto, do ponto de vista da diferenciação das unidades subnacionais em um
mesmo país, que fornece a resposta para a pergunta da pesquisa, as variáveis presentes nesses
níveis serão consideradas constantes, entende-se que a interferência de variáveis nacionais e
internacionais, como as incertezas constitucionais ou a interdependência global, é pouco
relevante para a análise que se pretende desenvolver neste estudo.
Em outras palavras, apesar de as variáveis globais e nacionais impactarem nas
unidades locais, considera-se que a paradiplomacia municipal brasileira, em última instância,
pode ser analisada por meio das características presentes no local. A existência de áreas ou
responsáveis por assuntos internacionais nos municípios, assim, pode ser entendida
genericamente por esses diferentes níveis de análise, mas para distinguir a condição das
diversas unidades subnacionais dentro do mesmo país elas se mostram ineficazes.
É evidente que as relações transnacionais dos entes locais não são mensuradas
somente pela presença de instituições responsáveis por tratar desse tema. Acredita-se,
entretanto, que a existência na administração pública municipal de uma área internacional
formada, bem como a designação de um responsável por assuntos internacionais seja um bom
indício de que alguma atividade internacional ocorre em um determinado território. Isso não
exclui a possibilidade de um município sem área internacional desenvolver atividades dessa
natureza; porém, a escolha de trabalhar com repartições públicas formalizadas fornece dados
concretos sobre a presença da atividade.
O período escolhido para o levantamento foi o do último mandado municipal, de
2005 a 2008. Esse corte temporal possibilitou, ao mesmo tempo, ter uma visão atualizada das
relações transnacionais dos municípios brasileiros e entender a relação entre as características
locais e a presença de áreas internacionais durante um ciclo inteiro da administração. O
adensamento dessa atividade no Brasil vem ocorrendo nas últimas duas décadas de forma
constante e progressiva, por isso entende-se que não faria sentido buscar explicar o fenômeno
num período anterior, porque talvez não captasse a real dimensão que o fenômeno atingiu até
o momento. Os períodos mais próximos são os mais representativos da consistência da
atuação transnacional dos governos locais brasileiros.

Os estudos de paradiplomacia e as correntes teóricas de RI


21

Nos últimos anos, a paradiplomacia intensificou-se não somente na sua prática, por
meio da criação de áreas internacionais ou iniciativas descentralizadas, como também nos
estudos que dela se seguiu. A academia tenta traduzir teoricamente uma nova realidade que,
cada vez mais, foge da tradicional visão do Estado unitário como único player, ou pelo menos
o de proclamada supremacia no Sistema Internacional. Nesse contexto, aponta-se a relevância
que o tema vem sendo tratado por sua relação com o fenômeno da globalização, do
liberalismo econômico e do encadeamento do processo de regionalização (VIGEVANI,
2004).
Os estudos referentes ao tema cresceram desde a década de 1980; foi durante os anos
1990 e 2000, porém, que se pôde identificar seu desenvolvimento de forma mais concreta. Os
campos que mais trataram do tema foram a Política Comparada e as Relações Internacionais.
No primeiro, trabalhou-se, principalmente, em como a paradiplomacia se manifesta nos
diversos países que são organizados em federações. No segundo, a abordagem foi mais teórica
e conceitual, apesar de analisar empiricamente processos como os da regionalização. Na
questão teórica, foi comum relacionar o fenômeno com o segundo debate paradigmático das
Relações Internacionais entre Neorrealismo e Neoliberalismo (HOCKING, 1997).
A relação é ainda mais notável em teses de doutorado ou dissertações de mestrado,
em que é quase obrigatória a presença de um marco teórico mais tradicional desse campo de
estudo. As teses defendidas seguem roteiros semelhantes: mostram a inadequação do
Realismo, ao ignorar outros atores que não o Estado no sistema internacional, e alinham-se
com ideias liberais institucionalistas com sua multiplicidade de atores, canais diversos de
interação e ecletismo de temas na agenda internacional.
As críticas ao realismo, seja a do estruturalismo ou cientificismo de Waltz (1979), ou
a da vertente ofensiva de Mearsheimer (2001), dão-se, entre outros temas, na preponderância
que as questões de high politics (centralidade das questões de segurança e defesa para as
relações internacionais) têm na política mundial e na convicção de que o sistema internacional
é, sobretudo, um ambiente estatal. Os realistas não negam a existência de outros atores, mas
os consideram de pouco ou nenhum poder explicativo nos estudos sobre política
internacional. O Estado é considerado uma unidade coerente, sem controvérsias internas entre
as diversas forças que o influenciam nas tomadas de decisão da política mundial. Os governos
subnacionais, nessa perspectiva, são apenas atores internos, que influenciam nas questões de
política doméstica dos Estados (LECOURS, 2008), porém sem maior importância na
construção do interesse nacional1 que pauta suas ações internacionais.

1
Alguns autores, no entanto, parecem dar excessiva importância ao realismo como corrente teórica responsável
pelo atraso no desenvolvimento da paradiplomacia. Soam exageradas algumas opiniões de que a visão realista
22

Diante dessas constatações, os autores da paradiplomacia tendem a aproximar-se das


concepções institucionalistas. A noção de Keohane e Nye (1989), de que as relações são
caracterizadas pela interdependência complexa entre os diversos atores serve de apoio teórico
para grande parte dos especialistas. A ciência de que há uma variedade de atores relevantes no
Sistema Internacional que atuam por meio de canais múltiplos abarcou bem os anseios dos
estudiosos que identificavam as Relações Internacionais sob uma ótica mais plural; a teoria
neoliberal, no entanto, vai além do pressuposto de agentes variados.
Ela enfatiza os assuntos considerados até então de low politics (clima, direitos
humanos, educação, etc.) e a relevância das instituições internacionais no estabelecimento de
padrões de conduta, que minimizam os impactos da instabilidade do Sistema Internacional e
da lógica do self-help. Apesar da ênfase em outros atores que não o Estado, os autores e seus
seguidores da interdependência não tratam, diretamente ou prioritariamente, dos governos
subnacionais como atores das relações internacionais. As corporações multinacionais e os
movimentos transnacionais da sociedade civil, além das organizações multilaterais, são mais
centrais nos textos institucionalistas. No que pese os avanços dessa nova perspectiva, os seus
autores indicam que o Estado continua sendo o ator mais importante e preponderante no
Sistema Internacional.
A análise da atuação internacional de governos subnacionais ultrapassou o debate
teórico neo-neo. São cada vez mais recorrentes estudos que fazem uso na concepção teórica
outros arcabouços, como o Construtivismo. Exemplo é a utilização dessa base conceitual nos
estudos do regionalismo (STUART, 2004 e SHARAFUTDINOVA, 2003). Com inspiração
em Wendt e Ruggie, esses tipos de análise abordam a atuação de entidades subnacionais sob
um prisma em que as identidades locais, as ideias e as construções sociais têm um peso
explanatório fundamental.
Outra corrente teórica ou parte específica de uma teoria2 que aporta conceitos nos
estudos paradiplomáticos é o neofuncionalismo, de forma específica, a ideia de spill over ou
“transbordamento”. Nela, as funções e responsabilidade dos atores convencionais são
“derramadas” para outros menos tradicionais, devido a novas demandas, problemas e
resultados da política em geral (VIGEVANI, 2006) ou das áreas de cooperação internacional,
por exemplo, no âmbito do regionalismo (MARIANO, 2002, OLIVEIRA; ONUKI,2007).

teria por si só a competência de retardar determinado fenômeno da realidade. Como se as ferramentas analíticas
tivessem conseqüência imediata na nossa realidade (por exemplo, os municípios não atuarem internacionalmente
porque o realismo os impede parece uma visão deturpada sobre como se dão os eventos nas relações
internacionais, mesmo com as perspectivas construtivistas já demonstrando o poder das idéias e das construções
sociais no nosso campo de estudo).
2
O funcionalismo é reconhecido por muitos autores como uma vertente dos estudos liberais. De fato, Haas
assume princípios liberais quando trata do processo de regionalização da Europa Ocidental, com a queda das
barreiras tarifárias e o papel que as instituições supranacionais teriam na contraposição aos nacionalismos.
23

Elas passam, assim, a serem exercidas por novos agentes disponíveis ou, muitas vezes, mais
aptos. Com influência de Ernest Haas e sua linha weberiana racional-burocrata (RUGGIE et
al.,2005), o neofuncionalismo aplicado à integração regional apresentou instituições e outros
agentes presentes na sociedade como capazes de ser protagonistas das relações internacionais.
A corrente se aproxima bastante do Construtivismo ao reconhecer fatores ideacionais, além
dos materiais, nas análises, mais especificamente na formação de interesses dos indivíduos
por meio de valores.
A perspectiva de Haas poderia ser nada criativa se não fosse desenvolvida no final da
década de 1950. Nessa época, o autor posicionava-se radicalmente contra a posição realista,
predominante desde o final da Segunda Guerra, com o aporte vigoroso de Carr (2002). O
arcabouço neofuncionalista utilizado pelos estudiosos dos governos subnacionais busca
enfatizar o pragmatismo dessa atuação internacional, pois são suas novas funções (condições)
“pós-transbordamento” as grandes responsáveis por se lançarem ao exterior (MARIANO,
2002).
Em estudos mais recentes, as correntes globalistas foram as que mais preencheram as
páginas teóricas da paradiplomacia. Com o aprofundamento da corrente interdependista, os
teóricos da globalização detalharam as ideias de governança global, transnacionalidade,
tecnologia da informação e, principalmente para o presente estudo, a descentralização do
poder, que nas linhas teóricas predominantes residia no monopólio do Estado e era
diretamente ligado ao uso da força. Esses argumentos elevam a condição da economia global
com fluxos transnacionais densos e com trocas de conhecimento fortalecidas, tanto em termos
tecnológicos quanto culturais. Nessa perspectiva, o mundo atual é caracterizado pela
multipolaridade e o uso da força é um recurso de poder relativamente menos relevante.
Ainda nesse panorama, a lógica do tempo e do espaço é subvertida, as distâncias,
com o avanço dos meios de transportes, ficam menores e a agilidade nos contatos é fornecida
por satélites e cabos de fibra ótica, que possibilitam que as redes sociais, os blogs, a televisão,
o rádio e os celulares sirvam de instrumentos facilitadores do contato entre diferentes
sociedades. Ademais, a preocupação com a segurança, apesar de ainda existente, é
segmentada em outros temas globais de relevância, como comércio, sistema financeiro,
Direitos Humanos e mudanças climáticas. Ganham importância também novas formas de
interações transnacionais em assuntos até então pouco recorrentes, como terrorismo,
epidemias, eventos climáticos extremos e narcotráfico.
Para os globalistas, os atores não-estatais são cada vez mais importantes, tanto do
ponto de vista factual quanto, e obviamente, das análises teóricas. Movimentos sociais,
empresas multinacionais, grupos terroristas, partidos políticos, ONGs, regimes internacionais,
24

organismos multilaterais, blocos econômicos regionais, redes de advocacy, governos locais e


indivíduos são agentes fundamentais na nova lógica da governança global.
Held e McGrew (2007) são expoentes dessa perspectiva. Recorrentemente citados
por autores da paradiplomacia, eles apontam que a globalização simboliza um
redimensionamento na escala, na aceleração e no aprofundamento dos fluxos e padrões
transcontinentais de interação social. Nela, as distinções entre o internacional e o doméstico
são pouco nítidas e os impactos de ações locais são relevantes para o ambiente global, assim
como as ações globais são cruciais para o âmbito local. Essa corrente rompe completamente
com o arcabouço tradicional, que sempre considerou os governos subnacionais como atores
exclusivamente domésticos. Partindo da globalização, Borja e Castells (1998) e Sassen
(2001), compreenderam bem a função das cidades nesse ambiente transformado. Os autores
tratam especificamente de como a globalização se mostra um fator determinante da atuação
internacional das cidades.
Cabe mencionar ainda a influência de James Rosenau em alguns dos principais
textos da subárea. Os estudiosos que o citam fazem uso tanto do tipo de classificação de
atores transnacionais (VIGEVANI; PRADO, 2009), no que ele chama de época de turbulência
da política mundial, quanto o aporte analítico para entender os processos de mudança nas
Relações Internacionais. Rosenau, de forma específica, aponta para novas esferas de
autoridade e governança em que a paradiplomacia também se situa. Quando, por exemplo,
governos centrais e não-centrais coordenam ações para lidar com questões internacionais tem-
se o que ele chama de “Esfera de Autoridade Acomodativa”, expressão utilizada por Onuki e
Oliveira (2007).
Apesar de haver referência teórica da paradiplomacia em sintonia com as teorias das
Relações Internacionais, o trabalho não tratará de nenhum dos marcos teóricos macros do
campo de forma específica e nem contará com um capítulo dedicado a isso. De certo que
alguns aportes apresentados serão fundamentais para detalhar o modelo estatístico, como é o
caso da corrente globalista, e por isso ela será retomada parcialmente nos próximos capítulos.
As discussões amplas das Relações Internacionais e sua contribuição à análise do fenômeno
parecem devidamente exploradas por outras dissertações e teses. Aqui, o foco teórico será na
discussão da paradiplomacia e no modelo de Soldatos (1990).
Desde a compreensão específica da paradiplomacia, a base teórico-conceitual parece
ser a contribuição mais efetiva dos scholars ao redor do mundo depois de um período inicial
marcado pela mera descrição do fenômeno. O surgimento do subcampo demandou meios
conceituais para interpretar a nova realidade política. Termos pedidos emprestados de outras
disciplinas, assim como criações próprias, começaram a aparecer na literatura das Relações
25

Internacionais, mesmo que ainda de forma tímida. Paradiplomacia, subsidiariedade, relações


federativas, irmanamento, governos regionais ou redes de cidades são conceitos que surgiram
para o estudo da atuação transnacional dos agentes públicos locais e que, aos poucos, vão se
somando ao amplo arcabouço das RI.
Do ponto de vista da elucidação de casos, o aumento significativo dos estudos
envolvendo a paradiplomacia, diplomacia constituinte (KINCAID, 1990), ou a política
externa federativa (RODRIGUES, 2004) tem conseguido suscitar o debate de forma mais
consistente ao apresentar a atuação internacional de atores locais europeus, norte-americanos
e, numa realidade mais próxima, da Argentina (SANCHÉZ, 1998; COLACRAI; ZUBELZÚ,
1998). No Brasil, a paradiplomacia vem sendo analisada em grande parte por estudos de caso,
em que se priorizam exemplos exitosos isolados, descrições da atuação de municípios em
redes de cidades ou relações nacionais federativas, seja no aspecto legal, seja na vertente
política. Nelas, é comum a abordagem histórica do processo de internacionalização a partir do
local, que considera aspectos conjunturais do Sistema Internacional em seus processos de
desenvolvimento, como os citados regionalismo e globalização bem como o aparecimento de
redes internacionais de cidades (SALOMÓN, 2007).
Em outras palavras, a dedicação empregada pelos acadêmicos brasileiros se
concentrou na descrição das atividades presente na atuação internacional a partir do local,
focando suas estratégias (instrumentos) e resultados (outputs), ou seja, meios e fins. O
levantamento das variáveis relacionadas à atuação dos governos locais (inputs), por meio da
criação de uma burocracia própria para atingir suas metas no âmbito internacional, foi objeto
de estudo menos frequente na academia nacional especializada. Os poucos estudos que
teorizam e adaptam a análise do fenômeno causal para o caso do Brasil os fazem, muitas
vezes, em nível normativo ou com uma empiria restrita a pouquíssimos casos3.
Isso não se resume ao caso brasileiro. Conforme apontado,

[so] far, this paradiplomacy research agenda has been very constructive in conceptualizing the external
competences and activities of regions and in making descriptive inventories of paradiplomatic activities
and instruments. (…) however, we argue that the paradiplomacy framework does not deliver satisfactory
results regarding the explanation of the development of activities of regional foreign competences.
(BURSENS; DEFORCHE 2010, p. 152)

3
Aqui cabe uma nota de excepcionalidade. Tanto Tullo Vigevanni, quanto Monica Salomón apresentaram de
forma consistente as determinantes das relações internacionais de governos subnacionais. Ambos apresentaram
argumentos importantes para entender as causalidades do fenômeno no Brasil, que foram replicados em diversos
estudos nacionais da área.
26

Pela ótica prática do fenômeno, o que se pode constatar a partir da observação das
máquinas públicas locais e dos estudos já realizados no país é que há uma atuação de relativa
importância dos entes subnacionais nas relações internacionais do Brasil. Ainda que de forma
isolada (a paradiplomacia é restrita a poucas cidades), as secretarias de relações internacionais
existentes vêm desempenhando papel de alto nível e os governadores e prefeitos têm atingido
nível de objetividade nas negociações internacionais que ultrapassam, por vezes, as missões
federais (SARAIVA, 2006).
Talvez o senso comum ou a lógica sobre a participação de cidades como São Paulo
nas relações internacionais tenha impedido que perguntas importantes acerca do conjunto dos
governos locais brasileiros e suas motivações fossem aprofundadas. São questionamentos
como: o nível de comércio exterior de um município interfere na iniciativa de se lançar ao
exterior? Cidades que estão localizadas nas fronteiras do país são mais sensíveis à atuação
internacional? A existência de área internacional em um município pode influenciar na
atividade de seus vizinhos? Essas são algumas das perguntas que se pretende responder nas
próximas páginas.
Atualmente no país existem casos bem sucedidos de atuação transnacional de
governos locais, que primam pelo profissionalismo e pela técnica empregada localmente; no
entanto, no universo dos 5.562 municípios essas experiências são escassas. Em grande parte,
isso ocorre pela falta de aporte informacional sobre as potencialidades presentes no contato
com agentes externos, sejam eles Estados, outros municípios, organizações internacionais ou
organizações transnacionais da sociedade civil.
Há também desinformação sobre os requisitos necessários ou sobre as características
presentes naqueles governos subnacionais que se internacionalizaram pioneiramente. O
levantamento e a correlação entre variáveis locais e existência de áreas internacionais podem
auxiliar nas políticas públicas e nas tomadas de decisão dos governos locais quando tratado o
tema internacional. Ademais, as ações existentes no campo prático têm colhido resultados
positivos, porém ainda podem ser fortalecidas e ampliadas com uma abordagem teórica, que
lhe forneça subsídios científicos e informativos.

Comentários metodológicos

Para atingir o objetivo de trabalhar com a totalidade dos municípios brasileiros a


parte metodológica é crucial. Nesse sentido, a comparação com base quantitativa foi escolhida
por proporcionar a perspectiva ampla e geral que se pretende defender neste estudo. Essa
opção priva a pesquisa de algumas noções fundamentais, como o conhecimento detalhado
27

sobre o contexto em que ocorre a criação da área internacional em municípios específicos.


Um exemplo é a negligência com o processo histórico presente em cada uma das formações
de área internacional no Brasil. Esse tipo de investigação pode fornecer informações
importantes para o entendimento do fenômeno, mas, conforme dito, já existem bons estudos
de casos específicos como os das cidades de São Paulo, Porto Alegre e Salvador ou dos
estados do Ceará, Rio Grande do Sul e Amapá que cobrem essa abordagem.
Fazendo uma reflexão sobre a potencialidade do presente trabalho, entende-se que
valeria correr os riscos da análise quantitativa. Primeiramente, pelo pioneirismo desse tipo de
estudo no Brasil e, em segundo lugar, pela compreensão de que as ferramentas estatísticas
trazem mais benefícios do que limitações na construção teórica que se pretende elaborar.
Nesse sentido, identifica-se esta proposta e os estudos de N reduzido como complementares,
sendo a primeira uma abordagem mais abrangente sobre o fenômeno.
Sabendo da complexidade de se trabalhar com um grande número de observações, é
fundamental desenvolver de forma detalhada o método quantitativo; assim, a apresentação do
modelo estatístico consumirá parte considerável da dissertação. Esse tipo de metodologia não
é comum nos estudos de Relações Internacionais, ainda mais no Brasil. A maioria dos livros
ou artigos que faz uso de técnicas estatísticas se encontra nos Estados Unidos. Quando esses
trabalhos abordam a metodologia, fazem-no de forma breve, pois pressupõem o conhecimento
prévio do leitor sobre esse tipo de análise. Sabendo disso, tomou-se o cuidado de fornecer o
aporte básico para que os leitores entendessem o que as tabelas e os gráficos criados
representam e por quais processos passaram até terem sido publicados. As equações não
foram aprofundadas exaustivamente, entretanto, fez-se questão de mencioná-las. Da mesma
forma ocorreu com os conceitos básicos dos pressupostos quantitativos.
Esse processo considerou tanto a apresentação de princípios da estatística, quanto as
técnicas mais específicas de utilização de modelos. Os passos seguidos foram o da
apresentação das noções estatísticas básicas, da correlação, da regressão linear simples e
múltipla e, finalmente, da regressão logística e da regressão logística para eventos raros,
sendo estas últimas as técnicas específicas do modelo desta pesquisa. A ideia não é apresentar
a fundo cada uma das etapas, mas aproveitar o que cada uma oferece para simplificar a
explicação.
Optou-se por essa apresentação para familiarizar o leitor com o tema e, ao mesmo
tempo, retirar alguns preconceitos dos estudos de ciências humanas com os números. A
apresentação passo a passo de noções de estatística facilita o entendimento dos conceitos que
são importantes para interpretar os resultados. Seria muito difícil, sem essa sequência, tratar
de um valor log-likelihood sem explicar as ideias básicas do R² ou o que significa o teste
28

Wald, sem entender antes o que é um teste-t. O que se quer dizer com isso é que seria uma
tarefa árdua explicar diretamente o que é a Regressão Logística e a Regressão Logística de
Eventos Raros, assim como elas se encaixam nos dados, sem antes apresentar conceitos
análogos de modelos lineares, por exemplo. A apresentação ocorre com a comparação entre as
diferentes técnicas.

Organização da dissertação

De forma geral, a estrutura da dissertação se divide do seguinte modo:


No primeiro capítulo, é apresentada uma discussão mais profunda sobre a
paradiplomacia. Serão identificados os autores que dedicaram boa parte dos seus estudos para
criar e fortalecer o conceito. Mostrar-se-ão também as restrições que o conceito sofre, tanto
em termos etimológicos quanto em ontológicos, as discussões em torno do termo e como
surgiram alguns conceitos distintos com a intenção de melhorá-lo. Ainda nesse segmento, a
diferença de atuação entre os governos subnacionais e outros atores não-governamentais, bem
como entre os governos locais e regionais serão evidenciados. Ao final, haverá uma
diferenciação entre a ideia de interesses e determinantes a paradiplomacia.
A partir do segundo capítulo, o modelo específico escolhido, de Panayotis Soldatos,
será apresentado com maior ênfase nas causas internacionais e causas domésticas em nível
nacional. A ideia é explicar o princípio de segmentação apresentada pelo autor e como ele
baseia as causas da paradiplomacia no modelo de determinantes, bem como complementar as
determinantes presentes no modelo, especialmente quanto às variáveis da globalização e do
federalismo. Pretende-se discutir como esses dois níveis abrigam variáveis explicativas e o
porquê não se adéquam ao nosso modelo.
O terceiro capítulo é composto pelo detalhamento das causas domésticas em nível
local, apresentando com mais profundidade quais são as determinantes locais que o autor
relaciona com o fenômeno da paradiplomacia. Além disso, serão investigadas as variáveis
independentes do modelo estatístico que se relacionam com a teoria, com seus respectivos
indicadores, e por que não utilizamos para o caso brasileiro outras determinantes presentes no
desenho de Soldatos, como a cultura, a religião e a língua. As determinantes locais são
defendidas como únicas explicações para a presença de áreas ou responsáveis internacionais
nos municípios.
No quarto capítulo há uma explicação da metodologia quantitativa, em que os
conceitos e equações que serão utilizadas no modelo serão evidenciados. A ideia, como posto
anteriormente, é introduzir um mínimo de subsídios para que o leitor entenda os gráficos, os
29

coeficientes e as tabelas presentes nos resultados obtidos. Será desenvolvida uma discussão
bem assentada entre métodos qualitativos e quantitativos e por que se optou por este último.
De posse dos conceitos metodológicos, o capítulo cinco revela os dados por meio de
estatística descritiva e os resultados obtidos. A partir daí, com os cálculos feitos, poder-se-á
mostrar quais as variáveis que, ao mesmo tempo, são significantes e contribuem de forma
substantiva para o modelo. Ou seja, serão apresentados quais as determinantes que mais se
relacionam com a presença de áreas ou responsáveis por assuntos internacionais nos
municípios. Além disso, apontar-se-ão alguns outliers, aqueles municípios que possuem
características específicas dos que têm áreas internacionais, mas que não são assim
classificados, e vice-versa.
Por fim, chega-se a algumas conclusões sobre o estudo desenvolvido, tanto pela
perspectiva teórica, quanto metodológica. Serão recapituladas as ideias principais do modelo
explicativo conceitual baseado em Soldatos, a sua interface estatística e os resultados
decorrentes desse processo de transformação dos conceitos em empiria, ou seja, os resultados
finais dos coeficientes e probabilidades encontrados. Há uma breve reflexão sobre o modelo,
tanto em termos de vantagens quando de limitações.
Espera-se que nas próximas páginas sejam respondidas algumas das perguntas
presentes nesta sessão. O desejo, ao final do trabalho, é o de contribuir para o entendimento
do fenômeno da atuação transnacional dos governos locais brasileiros: quais as características
presentes nos municípios que possibilitam sua inserção global e como cada umas delas
impacta na decisão da autoridade local de criar um aparato internacional na sua burocracia.
Respondendo a essas perguntas gerais, será possível também cobrir, mesmo que em parte,
perguntas pontuais como, por exemplo, o porquê de cidades como Belo Horizonte, Porto
Alegre, Diadema e Manaus terem assinado o Pacto da Cidade do México, referido
anteriormente, às vésperas da COP 16, e outras cidades brasileiras não.
30

CAPÍTULO 1 – PARA...O QUÊ? CENTRALIZANDO A DISCUSSÃO DA


PARADIPLOMACIA NO CAMPO DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS.

Matematicamente, duas linhas distintas contidas num mesmo plano sem nunca se
cruzarem são consideradas paralelas. Na língua portuguesa, a não consideração da
similaridade – sintática, morfológica ou semântica – de palavras ou termos na repetição
simétrica de uma frase incorre em falta de paralelismo. Em ambas as expressões há uma
mesma ideia: a de que existem semelhanças ou coordenações que caracterizam um dado
fenômeno. Outra alusão possível é a caracterização de um fenômeno a partir de um
referencial, seja ela a primeira reta do plano ou a primeira palavra do período.
Nos estudos da diplomacia paralela ou paradiplomacia esse referencial é o Estado
nacional. Não que seja impossível interpretar as ações dos governos locais de forma descolada
dos governos centrais, mas inegavelmente os estudos sobre o fenômeno local são fortemente
intrincados e referenciados pela diplomacia “tradicional”. Outro problema é a concepção de
que as ações desses dois níveis de governo se dão lado a lado. Na verdade, as suas relações
internacionais frequentemente geram conflitos, muito diferente da noção de não cruzamento
que a ideia de paralelo pode transmitir. Apesar disso, o termo ganhou popularidade, mesmo
que seja usado mais por estudiosos do que propriamente pelos agentes responsáveis por sua
execução (SALOMÓN, 2011).
As próprias expressões frequentes no estudo do fenômeno revelam o referencial do
Estado nacional, das suas características e das ações políticas. É comum utilizar palavras
como “governo subnacional”, “unidade infra estatal”, “política externa federativa”,
“diplomacia constituinte”, “micro-diplomacia”, “governos não-centrais” ou “atores livre de
soberania” para descrever o tema; no entanto, a nomenclatura não impediu que as explicações
do fenômeno ultrapassassem o referencial estatal nos seus argumentos explanatórios.
Do ponto de vista substantivo, o referencial tem despertado opiniões opostas. Para
Duchacek (1990), se por negociação diplomática entende-se processos pelos quais governos
relacionam seus interesses comuns e conflitantes, não existe, conceitualmente, nenhuma
diferença real entre os objetivos da paradiplomacia e da diplomacia tradicional. Em outras
palavras, a meta é negociar e implantar acordos baseados na mutualidade condicional.
Keating (1999), em opinião diversa, afirma que a paradiplomacia não é a mesma coisa do que
a diplomacia estatal convencional, porque esta se refere à perseguição de um interesse
definido do Estado na arena internacional e aquela é mais específica e focada funcionalmente,
frequentemente oportunística e experimental.
31

Ainda nesse contexto, Salomón (2009) crê que se considerar a diferenciação entre
governo e governança de Rosenau poder-se-ia dizer que a política externa nacional é derivada
das obrigações governamentais, as ações internacionais dos governos subnacionais, no
entanto, surgem das responsabilidades da governança. Os agentes locais têm mais liberdade
sobre suas políticas, na medida em que podem decidir se criam ou não suas estratégias
externas, um corpo paradiplomático próprio e, se sim, qual sua estrutura governamental e
como será sua construção e suas funções.
Uma posição intermediária pode ser fornecida por Lecours e Moreno (2006).
Segundo os autores, a paradiplomacia apresenta características tanto da política externa
tradicional quanto da “transnacionalidade”. Ela seria um tipo distinto de conexão entre o
doméstico e o internacional, em que as unidades envolvidas teriam a fluidez dos movimentos
transnacionais sem perder sua característica de composição do Estado e da sua natureza
territorial-institucional.
Os temas que envolvem outros atores do sistema internacional que não somente
Estados nacionais, conforme ressaltado, suscitam quase que instantaneamente o debate
Neorrealismo vs. Neoliberalismo Institucional, além de outros marcos teóricos das Relações
Internacionais, com destaque para o Neofuncionalismo. Contrariando essa tendência, serão
feitas, neste trabalho, as discussões específicas da atuação internacional dos governos locais.
Crê-se, diferentemente de Seitenfus (2004), que esse fenômeno já conta com um debate
estruturado do ponto de vista teórico. A designação de paradiplomacia para o fenômeno, no
entanto, não é a unânime. Muitos estudiosos propuseram nomes alternativos que,
supostamente, se adequariam melhor aos eventos que analisam, outros também elaboraram
críticas ao termo, mas sem maiores proposições.
Primeiramente, segue-se uma discussão sobre a definição do conceito de
paradiplomacia. Em um segundo momento, são apresentadas as formas como a literatura tem
tratado o tema em seus diversos vieses (de classificação, de estratégias de ação, de abordagem
jurídica, de soberania e de integração regional). Na terceira parte serão levantadas algumas
críticas e alternativas ao conceito. Na sessão seguinte distingue-se o fenômeno baseado em
seus agentes, ou seja, far-se-á uma diferenciação entre a atuação transnacional de governos
locais (no caso brasileiro, os municípios) e de governos regionais (estados). Na quinta e
última parte, algumas discussões específicas sobre interesses na paradiplomacia serão
apresentadas e a ideia de determinantes é introduzida (quais autores se dedicaram a esse
tópico, quais suas linhas de pensamento e por que se optou pelo modelo de Soldatos).
32

1.1 A definição do conceito

A definição do termo mais utilizada é a de Cornago Prieto (2004, p.51),

A paradiplomacia pode ser definida como o envolvimento do governo subnacional nas relações
internacionais, por meio do estabelecimento de contatos formais e informais, permanentes ou provisórios
(ad hoc) com entidades estrangeiras públicas ou privadas, objetivando promover resultados sócio-
econômicos ou políticos, bem como qualquer outra dimensão externa de sua própria competência
constitucional.

Não foram poucos, diferentemente de Cornago Prieto, que fizeram uso do conceito
sem uma definição tão detalhada. Isso pode ser verificado no uso de Duchacek (1990, p.15) –
“a entrada direta ou indireta de governos não centrais no campo das relações internacionais” -,
de Soldatos (1990, p. 37) – “o envolvimento direto e, em muitos casos, autônomo das
unidades federadas em atividades de relações externas” – ou de Lecours (2007, p.114) –
“refere-se a governos regionais desenvolvendo relações internacionais”. Na literatura
brasileira, pode ser citado Lessa (2002, p.8) e sua perspectiva direcionada do nível central
para o local – “política deliberada de delegação de responsabilidades em face da crescente
complexidade dos assuntos que afetam regiões fronteiriças e das especificidades dos
interesses locais”.
Notam-se nas definições que muitas vezes os autores relacionam o ato de atuar
externamente com a própria unidade federada, outras vezes com os governos que respondem
pela administração dessa unidade. É importante deixar claro, nesse sentido, duas
diferenciações, que apesar de óbvias, podem confundir a interpretação do texto.
A primeira refere-se à diferenciação entre internacionalização dos governos locais e
internacionalização dos municípios ou regiões. Enquanto aquela tem relação com as decisões
políticas do poder público institucionalizado, mais especificamente no executivo municipal, e
com os resultados de caráter público que ambiciona, esta remete à separação
governo/sociedade (SALOMÓN, 2007), em que o foco é dado nas forças sociais, quando
influenciam seus representantes ou quando elas atuam autonomamente. Dentro do município,
as atividades realizadas por organizações não-governamentais, empresas multinacionais e
indivíduos trabalham a todo momento para a internacionalização do local, intencionalmente
ou sem cálculo algum. Essas ações autônomas escapam da alçada do poder público municipal
e, para o caso específico desta dissertação, não são alvos de interesse.
A segunda remete à confusão entre as palavras “cidades” ou “municípios” e
“governos locais” e entre “estados” e “governos regionais ou estaduais”. Cidades não
implantam políticas, governos sim (SALOMÓN, 2009). Apesar de utilizar o território para
33

referir-se às instituições que atuam na política real, sabe-se que ele não é dotado de
personalidade. Quando se remete a ações que dependem de agência, a referência, obviamente,
é para aqueles atores dotados dessa condição, ou seja, as elites, os burocratas, os líderes e os
governantes locais. Somente quando as citações se referirem às características do meio
(municípios com PIB alto, ou cidades fronteiriças) elas naturalmente estão sendo utilizadas na
sua acepção literal.

1.2 Formas de tratar o tema: uma breve explicação sobre classificação, estratégias,
legalidade, soberania e integração regional.

A própria definição já apresenta satisfatoriamente o que é o fenômeno, entretanto, os


estudos sobre a paradiplomacia empreenderam esforços em explicar também quais os
atributos e tipologias que a caracteriza. Podem-se citar dois exemplos clássicos dessas
iniciativas. A de Duchacek (1990) classifica o fenômeno em três tipos: regional
transfronteriça, transregional e global. Esses tipos se relacionam com o alcance ou impacto
das ações dos atores subnacionais, ou seja, faz uma relação entre as ações executadas e o nível
de alcance dos resultados que obtém. Ademais, ele aponta a existência da protodiplomacia,
que seria a atuação paradiplomática com fins separatistas.
Soldatos (1990), por sua vez, apresenta classificação com duas categorias principais:
a global – que, diferentemente de Duchacek, não se refere a questões geográficas e sim
funcionais –, em que as unidades federadas lidam com assuntos de todo o sistema
internacional (paz e guerra, liberalização do comércio); e a regional, em que os assuntos
envolvidos são de relevância local para as comunidades que tomam parte das atividades
subnacionais. A paradiplomacia regional é subdividida em macro, quando as regiões
envolvidas não são contíguas (em que as relações tendem a ficar politizadas, mesmo em temas
de low politics), e micro, que se dão entre regiões contíguas (e costumam gerar controvérsias
mínimas). Ele discorre ainda sobre a natureza da ação paradiplomática, que pode ser de
cooperação (apoiadora) e paralela (substitutiva).
Quanto à característica da paradiplomacia pelas estratégias e formas de atuação, cabe
remeter aos primórdios das relações dos governos subnacionais, que ocorriam por meio
bilateral, com irmanamentos ou visitas recíprocas, ou por meio multilateral, com participação
em redes de cidades ou em cúpulas mundiais. Os governos regionais fortaleceram mais a
primeira modalidade com abertura de embaixadas ou escritórios de representação de estados
em outros países, a exemplo de Quebec na França, Pernambuco em Portugal ou os 50 estados
34

americanos que em 1990 possuíam 110 escritórios de representação internacional em mais de


24 países (FRY, 1990).
Além desse tipo de atuação, é comum a participação de prefeitos e governadores em
feiras internacionais, missões de negócios e em redes de advocacy. Estas funcionam com
temas que geralmente são de responsabilidade exclusiva dos municípios ou compartilhada
com o governo central, como transporte, educação, saúde, meio ambiente, habitação e
infraestrutura. As autoridades locais se reúnem e debatem temas globais, apresentando
demandas, propondo soluções, aceitando as responsabilidades locais e atuando frente aos
problemas existentes.
Segundo Keating (1998) e Vigevani (2006), a lógica por trás da atuação dos
governos locais está presente no que se convencionou chamar de estratégia stop and go, ou
seja, o ativismo em temas globais, mas com prática vinculada ao local, ligada a objetivos
específicos. A ideia dessa perspectiva é a de que não há estratégia macro definida ou
concepção de longo prazo adotada pelos governos locais, mas ações pontuais sucessivas com
forte componente pragmático e com inconstâncias e descontinuidades. Nesse sentido,

a diplomacia regional não busca representar interesses gerais nem realizar uma cobertura completa de
temas, na medida em que ‘las regiones no tienen gobiernos soberanos capaces de imponer su definición
de interés nacional y perseguirlo de una forma coherente y unificada. Las regiones son entidades
complejas que contienen una multiplicidad de grupos, que pueden compartir intereses comunes en
algunas áreas pero estar abruptamente divididas en otras’ (KEATING apud VIGEVANI; PRADO, 2009,
p. 7).

Para Duchacek (1990), a paradiplomacia acontece por meio de um fenômeno


denominado percolated sovereign boundaries. Ele representa uma “filtração” de “peneiras”
entre soberanias que ocorre em duas direções; tanto de dentro pra fora, quando autoridades
subnacionais iniciam processos trans-soberanos para proteger ou promover seus interesses
domésticos, quanto de fora pra dentro, quando governos subnacionais viram alvos desses
contatos e decidem responder, por eles mesmos, os atrativos das oportunidades externas ou as
ameaças de danos.
O fenômeno também foi explorado pela ótica jurídica, em que se aborda o status dos
governos subnacionais, se são ou não atores legítimos e legais para atuarem
internacionalmente, quais os arcabouços do direito doméstico e internacional que viabilizam
ou limitam suas ações e qual a validade dos acordos internacionais que assinam. Nesse
contexto, as constituições de países como Alemanha, Áustria, Bélgica, Argentina e Suíça são
frequentemente estudadas porque propuseram no ordenamento jurídico máximo dessas
sociedades a possibilidade da atuação transnacional de governos subnacionais.
35

No Brasil também há um debate relevante sobre o tema. Tanto autores da


paradiplomacia (nas Relações Internacionais e no Direito), quanto gestores locais e
congressistas discutem a legalidade do fenômeno. Essa discussão será aprofundada no
próximo capítulo, porque Soldatos aponta como uma das determinantes em nível federal da
paradiplomacia as incertezas constitucionais presentes nos dos países que não se
manifestaram legalmente sobre esse tipo de atividade.
Desde a perspectiva do poder político, alguns estudos foram aprofundados,
principalmente, na questão da soberania. Seria a paradiplomacia uma ameaça para o uso da
força que o Estado nacional monopoliza? A atuação transnacional dos governos locais
representa necessariamente um declínio do poder estatal? A paradiplomacia remete
diretamente à vontade separatista das unidades federadas? As respostas a esses tipos de
questões esclareceram uma série de dúvidas presentes no surgimento do fenômeno. A
compreensão das lutas das elites locais e nacionais (KINCAID, 1990) pela representatividade
de seus territórios em instâncias distintas das domésticas auxiliou no entendimento do tema e
apresentou uma noção da política do poder para o desenvolvimento da atividade.
Para Kincaid (1990), uma política federal é construída por um Estado nação aos
olhos do mundo, mas por uma “nação de estados” aos olhos dos cidadãos dos países. Há
ambiguidade nas políticas federais sobre o status dos governos constituintes (estaduais e
municipais). Em democracias federalistas são comuns a competição, o conflito e a
cooperação. Por que, então, excluir as relações exteriores dessa dinâmica? Conflito e
competição nem sempre são danosos, pelo contrário, podem ser benéficos, desde que não
violentos. O que existe é um mundo interdependente, em que as relações são cunhadas de
“intermésticas” ou ocorrem entre “estados perfurados”, em que as fronteiras nacionais
perderam seu limite de proteção.
Ainda segundo o autor, há um mito da soberania hermética que serve para
deslegitimar a competição política (em relações exteriores e também domésticas).
Contrariamente a essa ideia, a preocupação que deve existir não é como a diplomacia
constituinte pode prejudicar o Estado nação, senão como a supressão da diplomacia
constituinte (paradiplomacia) pode prejudicar a vitalidade cultural, política, econômica e
democrática de um país.
As relações internacionais são tratadas como high politics e comandadas por uma
elite. Os ministros de Estado têm alto status na administração pública e as relações
internacionais são consideradas muito complexas, sensíveis e importantes para serem
deixadas para os locais. Nesse contexto, há uma competição entre elites nacionais, que
defendem que a nação deve ser falada em uma única voz, e elites locais, que buscam novas
36

esferas de poder e ascensão e mais responsabilidades e autonomia na sua atuação. Nesse jogo,
existe a proteção mútua dos Estados nacionais com o fim de evitar novos players (num
formato típico de cartel).
Inclusive o Direito Internacional serve como mecanismo de manutenção do status
quo (algo como “não interfira nos meus negócios internos que eu não interferirei nos seus”).
As elites nacionais sustentam a ideia de que o Estado federalista democrático deve agir como
unitário. O que acaba ocorrendo é uma situação contraditória em que na política doméstica há
interesse em racionalizar o processo político, buscando maior eficiência de políticas e menos
gastos públicos, mas em relação à política externa, são enfatizados a coordenação e a
regulação, porque essas atividades seriam muito novas, inovadoras, diversas e dinâmicas. Para
Kincaid (1990), essa concepção é perigosa, antidemocrática e requereria uma burocracia
federal muito grande.
A relação entre a paradiplomacia e processos de integração regional4 também foi
coberta pelos estudiosos (VIGEVANI et al., 2004, HOCKING, 1997, KEATING, 1998). A
ideia, por exemplo, da “Europa das Regiões”, cunhada por autoridades locais europeias
(LOUGHLIN, 1996, HOCKING, 2004) ou do “terceiro nível europeu” (CHRISTIANSEN,
1996) no processo de formação da União Europeia se aprofundou nas últimas décadas. Isso se
deve, em grande parte, pela relevância que os atores subnacionais alcançaram em termos
práticos durante a relação transfronteiriça desenvolvida por governos locais e regionais
europeus ao longo da história, que culminou no processo de integração. Em termos político-
institucionais, os governos subnacionais jogaram sua força política e tiveram participação
importante na formação do Comitê das Regiões, CR, pertencente hoje ao organograma da
Comissão Europeia. O CR é objeto de estudo de algumas dezenas de artigos, capítulos e livros
da paradiplomacia.
Nos estudos nacionais, a análise das práticas regionais ganhou relevância,
principalmente no nível mercosulino com a rede Mercocidades e com o consequente Foro
Consultivo de Municípios, Estados Federados, Províncias e Departamentos do Mercosul. As
iniciativas analíticas sul-americanas apresentam a atuação em rede das entidades subnacionais
na nova instância política surgida em nível regional.
Dessas perspectivas possíveis com o tema da paradiplomacia, remanesce a mesma
ideia central do fenômeno que se quer analisar nesta dissertação: os estudos das atuações

4
Ao longo do texto, será utilizado o termo regional em dois sentidos, a primeira quando trabalha com a temática
da integração supranacional e a formação de blocos econômicos. A segunda forma refere-se aos governos
regionais que remetem aos estados, províncias, länders ou regiões autônomas, ou seja, atores infranacionais.
Apesar de ter a mesma designação, sempre se deixará claro sobre qual sentido está sendo empregado. Para a
literatura de língua portuguesa essa coincidência já é comum cabendo sempre uma nota explicativa.
37

transnacionais dos governos subnacionais são cada vez mais numerosos e eles se diferenciam
na mesma proporção das facetas possíveis do fenômeno, seja economicamente, juridicamente,
politicamente ou operacionalmente; porém, o conceito utilizado permanece apenas mais ou
menos compreendido. Nem sempre os estudos problematizam a definição conceitual do
fenômeno, mas as características e nuances presentes nessas diversas análises de integração,
de soberania ou de legalidade, sem dúvida, contribuem para entendê-lo.

1.3 As críticas ao conceito e algumas alternativas

É importante voltar ao plano conceitual, porque nem nesse pequeno contexto há


unanimidade. Alguns autores propuseram-se a discutir o que a paradiplomacia implicava em
termos de definição e o porquê ela seria inadequada para representar o fenômeno da atuação
transnacional dos governos subnacionais. Alguns fizeram ponderações sem maiores
propostas, outros cunharam novos conceitos que imaginavam mais adequados.
Para Mônica Salomón (2007), o termo sofre, por um lado, com sua amplitude e, por
outro, com sua restrição. No primeiro caso, o fato de abarcar todo tipo de contato,
institucionalizado ou ad hoc, faz com que reflita a ideia de qualquer ação exterior
empreendida pelos governos subnacionais. Ou seja, muitas vezes, uma ação pontual e sem
continuidade, como uma simples visita de um prefeito ou de um governador a outros países,
acaba sendo tratada como paradiplomacia, o que pode enfraquecer a relevância do fenômeno.
Já no segundo, por ser a diplomacia (e, por consequência, a paradiplomacia) somente uma das
formas de exercer-se a política exterior, não se depreende a real dimensão que essa palavra
exprime. Em outras palavras, a política exterior “é” a atuação internacional, enquanto que
diplomacia é o “como” exercê-la. Seguindo essa lógica, quando se utiliza o termo
paradiplomacia para a atuação dos governos locais, dever-se-ia referir à implementação da
política internacional do governo local e não a política em si. Essa confusão ocorre, em
grande parte, devido à língua inglesa, que frequentemente trata a foreign policy como
sinônimo de diplomacy.
Outra crítica cabível é a que Hocking (2004) faz à expressão. Para ele, a atuação dos
governos nacionais não é diretamente depreendida das ações dos governos centrais. Nesse
sentido, tampouco o termo que a expressa deveria fazer referência à palavra diplomacia, que
foi cunhada dentro do contexto estatocêntrico unitário. O paralelismo que vincula essas duas
atividades não cabe ao escopo dos governos subnacionais. A diplomacia multicamada
(multilayered diplomacy) seria o termo alternativo de Hocking (1993) para um ambiente em
que cada vez mais as interações políticas com elementos domésticos e internacionais são
38

processadas de forma conjunta, em uma arena composta pelos níveis subnacional, nacional e
internacional. As relações ocorreriam num continuum em que os estratos se confundem
constantemente e os limites ficam cada vez menos nítidos.
Segundo Kincaid (1990), termos como microdiplomacia ou paradiplomacia, que
implicam na inferioridade da atuação local à diplomacia do Estado nação, exibem
enviesamento, ao assumir, necessariamente, que as elites nacionais são sempre representantes
legítimos e competentes dos interesses das populações locais que habitam seus territórios.
Nesse sentido, foi ele um dos primeiros a discordar da conotação negativa que a
paradiplomacia poderia pressupor. Em vez dela, utiliza o termo “diplomacia constituinte”, que
pretende ser descrição neutra, uma vez que evita a implicação de que as atividades dos
governos constituintes são, necessariamente, subordinadas ou suplementares ao high politics
da diplomacia do Estado nação. Para ele, o que é “high” ou “low” depende da perspectiva
adotada, ou seja, uma província que entra na arena global para assegurar investimentos de
capital e infraestrutura industrial que possa resgatá-la do esquecimento econômico é, na
perspectiva da província, um agente engajado na high politics.
Bogéa (2001) faz uso do termo “diplomacia federativa” e o define como a

proposta política do poder central de incentivar, coordenar e apoiar as ações externas dos entes
federativos no intuito de ajudá-los a identificar oportunidades internacionais de cooperação, de comércio,
de atração de financiamentos e de inovações tecnológicas (BOGÉA apud MIKLOS, 2010, p. 47 ).

A nomenclatura “federativa”, nesse sentido, substituiria, muitas vezes, a


“constituinte” de Kincaid em países que têm a federação como organização política.
Similarmente, define Rodrigues (2004, p. 40) sua “política externa federativa”. Ela
seria “a estratégia própria de um estado ou município, desenvolvida no âmbito de sua
autonomia, visando a sua inserção internacional, de forma individual ou coletiva.” O autor
ainda discorre sobre as definições dadas pelos órgãos governamentais brasileiros. A
Diplomacia federativa é a expressão criada pelo Ministério das Relações Exteriores para
identificar as ações internacionais de estados e municípios brasileiros no âmbito da política
externa; já a cooperação internacional descentralizada ou federativa é uma expressão da
literatura especializada que identifica as ações internacionais locais em processos de
cooperação internacional, via princípio de subsdiariedade. É utilizada pela Subchefia de
Assuntos Federativos da Presidência da República (RODRIGUES, 2009).
Para Seitenfus (2004, p. 78), a denominação de paradiplomacia é controversa.
Pergunta ele,
39

trata-se de uma diplomacia paralela ou uma diplomacia com vários níveis, ou ainda, uma pós-diplomacia?
Por outro lado, não seria mais apropriado designar essas ações com um ativismo público transnacional, já
que, tanto sob o ângulo jurídico como do conteúdo, a ação dos atores infraestatais encontra sustentação
preferencialmente em propósitos concretos?

Seus questionamentos são conhecidos por boa parte da literatura, mas as respostas
não fundamentaram conceituações maiores.
Mesmo utilizando o conceito paradiplomacia, Duchacek não deixou de criticá-lo.
Para ele, a noção de diplomacia paralela ou paradiplomacia alinha-se muito mais com razões
teóricas, por criar a imagem de uma rota central da diplomacia, em que governos nacionais
atuam, e uma rota periférica separada, em que os governos locais são os protagonistas
(DUCHACEK et al., 1988). Na realidade essas relações são muito mais complexas.
Ainda poder-se-ia citar uma série de outros conceitos criados para denominar a atuação
transnacional dos governos locais. Zubelzú (2008), a esse respeito, aponta para essa variedade de
nomes ligados às diversas correntes das Relações Internacionais e as diferenças de enfoque que
cada nome acaba induzindo. Para ela, seria pertinente perguntar:

Quais são os aportes que ajudam a interpretar o fenômeno ou a tendência? E nesta multiplicidade, quais
conceitos dão conta de mudanças gerais – mais ou menos consolidado – e quais caracterizam as ações
mais cotadas? A ênfase na relevância, extensão e profundidade que adquire essa coexistência varia
segundo a visão das diferentes escolas ou correntes teóricas. (ZUBELZÚ, 2008, p.22 –tradução livre)

É necessário, nesse sentido, realizar uma observação sobre alguns termos


relacionados que estudaram o fenômeno (ou fenômeno da coexistência de diversos níveis de
autoridade) com referência à temática do ator subnacional.
Continua Zubelzú,

conceitos como Estado-oco, Glocalização, Estado-região e Governança Multinível se enquadram em


diversos enfoques teóricos e podem compartilhar somente de modo muito geral um ponto de partida
comum: a deterioração da soberania do Estado-nação em relação a – e em competição com – poderes
políticos, econômicos, legais e ilegais que o transpassam e o atravessam. Ainda que a partida seja a
mesma – a soberania perfurada que falava Duchacek – as variações em calibrar a intensidade do
fenômeno e as matizes nos focos de atenção conduzem a visões diferentes (ZUBELZÚ, 2008, p. 23 –
tradução livre).

Apesar de muitos autores fortalecerem a discussão sobre o conceito da


paradiplomacia, outros reconhecem sua importância, mas preferem tê-lo como dado. Para essa
perspectiva, a paradiplomacia deveria ser tratada mais como um campo de estudo do que
como um conceito em si. Isso quer dizer que, independentemente da problemática da
definição, os estudos paradiplomáticos devem avançar, por meio da sua vertente jurídica,
40

globalizante, de soberania, regionalista ou econômica, conforme exposto anteriormente. As


discussões conceituais, entretanto, são fundamentais para desenvolver uma das possíveis
formas de tratar o tema. Neste trabalho, para fins operacionais, será adotada a definição de
paradiplomacia de Cornago, apresentada anteriormente.

1.4 Governos locais vs. Governos regionais

Nas discussões conceituais sobre o que é o fenômeno da paradiplomacia também


surgiram noções específicas do que significa o termo em decorrência dos atores subnacionais
a que referem. Lecours (2008), por exemplo, encara a paradiplomacia por uma ótica regional
(estadual), em que tem centralidade as regiões autônomas espanholas e de forma mais
específica o País Basco. Já Melissen (2007) se apoia sobre a city diplomacy, em que são os
governos locais os estudados como atores diferenciados, por sua natureza, forma de atuação e
representatividade na paradiplomacia.
Por esse motivo, cabe ressaltar a diferença existente entre governos locais
(municípios) e governos regionais (estados, províncias, länders, regiões autônomas, oblasts,
etc.). Apesar de serem tratados pela literatura muitas vezes apenas como atores subnacionais5,
há características que os diferenciam não somente pelas condições intrínsecas a cada um,
estas de percepção óbvia, como também, e principalmente, pela sua forma de atuação.
A atuação dos municípios, na perspectiva de Rodrigues (2004), diferencia-se por ter
duas dimensões fortes: uma bilateral, presente no irmanamento6 e outra multilateral, presente
nas redes internacionais de cidades (BORJA e CASTELLS, 1997). Para Salomón (2007),
citando Dorsey, a maior proximidade dos governos locais aos movimentos sociais, ao
contrário de outros níveis de governo, explica a vertente por vezes contestatória de suas ações
externas.
Já os governos regionais ou estaduais tendem a seguir uma política exterior
tradicional, mais próxima da empregada pelo governo central, com a abertura de escritórios de
representação em outros países ou missões e rodadas de negociações internacionais. Nesse
sentido, desenvolve um modo de atuação mais estático e de institucionalização mais formal. O
grau de recursos presentes em um estado federado também possibilita esses contatos

5
Rosenau faz uma distinção interessante entre atores “livres de soberania” (sovereignty-free) e atores
“condicionados pela soberania” (sovereignty-bound). Os primeiros incluem ONGs, Empresas multinacionais e
inclusive os atores subnacionais, já o segundo se refere especificamente aos Estados nacionias. Baseado nessa
tipologia, Hocking apresentou uma categoria intermediária em que os atores subnacionais se encaixariam ora em
uma categoria, ora em outra.
6
Referente a cidades-irmãs. . Os irmanamentos são relações bilaterais desenvolvidas entre municípios com fins
predominantemente culturais, mas também com interesses econômicos e políticos.
41

contínuos. Um bom exemplo para isso é a existência do escritório de representação de


comércio já citado, de Pernambuco em Lisboa, ou a representação da província argentina de
Entre Ríos em Porto Alegre (VIGEVANI, 2006).
Em artigo recente, Salomón (2011, p.-) é precisa nessa distinção. Para ela,

em termos gerais, os governos municipais por um lado e os governos intermédios (regionais, provinciais,
etc.) são dois tipos diferentes de atores mistos. Ambos combinam características de atores livres de
soberania e limitados pela soberania, mas em proporções diferentes. Os governos municipais são mais
livres de soberania que condicionados por ela, e o contrario acontece com os governos estaduais. Se os
diferentes atores de política externa são imaginados como organizados num continuum, com os governos
centrais em um extremo (completamente condicionados pela soberania) e os atores não estatais
(completamente livres de soberania) no outro extremo, então os governos subnacionais estariam no meio,
com os governos regionais mais próximos aos governos centrais e os municipais mais próximos aos
atores não estatais.

Ela acredita que há uma semelhança entre os movimentos sociais transnacionais e a


forma de atuação internacional dos governos locais e isso corrobora a ideia de que os
municípios são menos condicionados pela soberania. Isso se reflete na maior facilidade com
que eles podem criar redes transnacionais políticas e técnicas entre eles e o maior grau de
politização das ações das administrações municipais no exterior (SALOMÓN e NUNES,
2007).

Figura 1 – Como os governos subnacionais se posicionam em termos de soberania

Fonte: Criado pelo autor, baseado nas ideias de Salomón (2011).

Ao seu ver,

within this great variability, the paradiplomacy of local (municipal) governments seems to follow patterns
more defined than those of intermediate governments (Argentinian or Canadian provinces, American or
Brazilian states…). This is due to the more homogenous nature of municipal governments in comparison
to intermediate governments (much more heterogeneous in their competences, responsibilities and
resources), which makes the agglutination of interests and the forming of structures of cooperation much
easier. In its turn, the participation in the many mechanisms of transnational cooperation – as well as the
interaction with classic international organizations – contributes to unite those responsible for local
42

foreign policy around a common cause and to forming a degree of consensus (which varies, however,
depending on the region and countries) on what practices can be part of a local foreign policy.
(SALOMÓN,2009, p. 3)

Apesar de focar neste trabalho as questões que envolvem os governos locais, parte
expressiva dos estudos da paradiplomacia tem como unidade de análise os governos
regionais; no entanto, o fato de a literatura tratar muitas vezes essas duas tipologias de atores
de forma única (baixo a um conceito subnacional), possibilita que algumas comparações e
associações possam ser feitas. Isso significa que quando se estudam as determinantes locais
da atuação transnacional de governos locais as referências podem ser específicas desses
atores, mas também podem vir de forma genérica ou até se apropriando de características dos
governos regionais.

1.5 Interesses e determinantes na paradiplomacia

Entre as diversas formas de tratar o tema, muitas delas apresentadas anteriormente,


uma parece fundamental: entender quais as determinantes da paradiplomacia. Nos estudos da
área muitas confusões são feitas quando se trabalha com determinantes, principalmente em
relação à ideia de interesses. Mesmo que a noção de cada uma seja clara, muitas vezes elas
são tratadas como sinônimos. Isso é até certo ponto compreensivo, já que ambas são tentativas
de explicação causal do fenômeno; entretanto, elas funcionam de forma analítica diferente na
atuação internacional de governos locais.
Segundo Soldatos (1990, p. 50-51), é importante também não confundir o conceito
de determinantes com o de condições da paradiplomacia. Assim,

favorable conditions may include personality of the leaders, historical and cultural ingredients, socio-
political climate, important geographic position and resources, supportive paradiplomacy of the federated
unit’s cities, and legislation promoting, for example, foreign investment.

Quanto aos interesses, o pressuposto para se lançar ao exterior está obviamente


relacionado ao fato de o gestor subnacional decidir, baseado em preferências, que sua
máquina administrativa deve atuar internacionalmente; nem sempre, porém, o interesse por si
só faz com que haja uma atuação externa. Em pesquisa recente, a Confederação Nacional de
Municípios mapeou a atuação transnacional dos governos locais brasileiros. Quando
perguntados se os gestores tinham interesses por assuntos internacionais, mais de 60% das
autoridades locais responderam afirmativamente, apesar de menos de 3% possuírem esse tipo
43

de atuação (OBSERVATÓRIO DA COOPERAÇÃO DESCENTRALIZADA NO BRASIL,


2009).
Nesse sentido, é possível analisar as causas da paradiplomacia por duas óticas: uma
pelo lado do interesse das elites locais (econômicas, políticas, culturais, etc.) e outra pela
visão das determinantes (interdependência global, domesticação da política externa,
assimetria das unidades federadas, etc.). Essas formas de análise são complementares e de
igual importância. Somente as determinantes presentes não implicam necessariamente numa
atuação internacional (ou a falta de determinantes pode concorrer com a existência da
atividade paradiplomática em determinada cidade, tratar-se-á disso ao final da dissertação),
apesar de a probabilidade de acontecer seja remota. Da mesma forma, os interesses isolados
não perpetuam uma atuação internacional, apesar de empreendimentos como esses serem
possíveis.
Pode-se entender também que as determinantes influenciam os interesses e vice-
versa, o que torna ainda mais difícil a tentativa de trabalhar esses dois componentes de forma
separada. De modo geral, compreende-se os interesses como variáveis intervenientes e as
determinantes como variáveis explicativas da paradiplomacia, a relação entre essas variáveis
ocorrem mais ou menos nos termos do que Soldatos convencionou chamar de segmentação
perceptiva e objetiva. De forma mais genérica, essa relação poderia ser identificada como a
responsividade dos governos locais aos cidadãos e às condições (geográficas, econômicas,
políticas, culturais) presentes, que fazem parte da sua tomada de decisão.
As condições favoráveis (outra possível forma de análise considerada, mas não
aprofundada por Soldatos) são muito situacionais e oportunísticas, além disso possuem um
nível de verificação baixo se comparado aos interesses e baixíssimo em relação às
determinantes. Talvez os estudos de caso etnográficos consigam perceber como a
personalidade ou o sistema de crença de uma autoridade local, por exemplo, influencia na sua
decisão de atuar internacionalmente; mesmo assim, essas causas nem sempre podem ser
generalizadas e variam muito entre os casos. As condições podem surgir como um impeditivo
para estudos quantitativos como este, ou para ciência como um todo, tendo como base a noção
de que a inferência é o objetivo último da ciência (KING, KEOHANE e VERBA, 1994). Essa
possível explicação sobre a paradiplomacia não foi descartada do modelo. Será possível, mais
a frente, entender como as condições favoráveis se encaixam no modelo.
Em resumo, neste trabalho, serão consideradas as determinantes como forma de
analisar a existência de áreas internacionais nos governos locais. Apesar disso, as discussões
acerca dos interesses são bastante desenvolvidas na literatura e serão apresentados alguns de
44

seus argumentos na próxima sessão. Depois dela, só serão tratadas, de forma específica, as
determinantes da paradiplomacia.

1.5.1 Interesses na paradiplomacia

Alguns dos autores mais reconhecidos na paradiplomacia estudam os interesses dos


governos subnacionais nas suas decisões de se lançarem ao exterior. As motivações
econômicas são unanimidade nas análises7, mas os estudiosos apontaram outros tipos de
interesses envolvidos. Em artigo inaugural sobre o tema, Hans Michelmann (1990) identifica
alguns dos possíveis motivos da paradiplomacia. Ele se baseia nos estudos de caso de sete
países que compõem a obra organizada por ele próprio e por Panayotis Soldatos.
Nesse texto, motivações econômicas, políticas, culturais e de meio-ambiente para a
paradiplomacia são definidas. Na dimensão econômica, ele lista os interesses de exportação,
de atração de investimento externo, de destino turístico internacional, de defesa de pequenas e
médias empresas e de estrutura econômica do país. Na dimensão política, são assinalados os
interesses de prestígio dos governantes, político-partidários, de posicionamento político, de
separatismo (protodiplomacia), de afirmação de identidade com fins políticos e de pressão
política interna. Na questão cultural, são levantadas as motivações para recuperar laços
históricos, para compartilhamento étnico de regiões transfronteiriças e nas questões de
cooperação internacionais nas áreas de educação e cultura. Por fim, ele aponta a motivação
ambiental, caracterizada pelo interesse das unidades subnacionais em se defenderem de
desastres naturais quando ocorrem em regiões de fronteira ou o desafio global de solução de
problemas ecológicos. Esses interesses são elaborados nas próximas linhas.
As razões econômicas têm sua origem no fato de a maioria dos eleitores ainda
apontarem os governos como responsáveis pelo desempenho econômico quando chegam as
eleições. Esses governos estão envolvidos externamente em um grande número de atividades
desenhadas para promover o comércio, investimento e turismo, além de buscar oportunidades
comerciais e de investimentos de fundos de organismos internacionais.
Outra razão econômica para a atuação transnacional das unidades subnacionais é a
familiaridade que apresentam, se comparados aos governos nacionais, com seu próprio
território. Nesse sentido, eles sentem que estão mais próximos e cientes dos problemas de
7
Podemos citar, por exemplo, as visões de Fry (1990) e Hocking (1999), o primeiro relaciona a paradiplomacia a
três razões principais, a salva-guarda dos interesses locais e regionais na economia global, o drástico corte dos
repasses orçamentários federais aos estados e cidades e a constante busca por novas fontes de renda. Já o
segundo argumenta que nos últimos vinte anos é inegável que um duplo objetivo foi responsável pelo
aparecimento dos governos não-centrais nas relações internacionais: a promoção do comércio e a atração de
investimentos.
45

firmas presentes na sua jurisdição, particularmente, sobre empresas de médio e pequeno porte,
que são também as mais propensas a pedirem ajuda para lidarem com os mercados externos.
Segundo Michelmann, é improvável que departamentos econômicos nas embaixadas do
governo central em outros países sejam capazes ou estejam inclinados a lidarem com
demandas específicas de uma multidão de microempresas nacionais. Tampouco, comerciantes
e investidores estrangeiros lotados na capital do país terão incentivos para ajudar uma firma
local em dificuldades, como fariam estados e municípios, cujos representantes políticos são
mais suscetíveis ao lobby dos pequenos empreendedores (que talvez criem apenas 50 novos
empregos pelo aumento nos seus níveis de exportação). As elites locais também são reticentes
sobre os esforços dos governos centrais e sentem que eles mesmos devem estar no exterior
para representar seus próprios interesses, para que estes não estejam subordinados a de outras
regiões que possuam maior peso eleitoral ou afinidade partidária com o governo nacional.
Uma fonte de variação de intensidade da atividade internacional é, com certeza, a
própria estrutura econômica. Se um país tem estrutura desenvolvida de comércio
internacional, é de se esperar que as unidades subnacionais sigam o mesmo caminho, já que
podem utilizar da mesma estrutura para atingirem seus objetivos; entretanto, adverte
Michelmann, nem sempre isso é verdade. A realidade mostra que muitas vezes o
desenvolvimento do setor econômico serve como desestímulo para que os governos
subnacionais criem estruturas econômicas próprias de atuação externa8.
No campo das razões políticas, existem componentes que se relacionam em parte
com questões econômicas, mas a elas não ficam restritas. Algumas formas desvinculadas da
econômica podem até mesmo ser a razão principal para a atuação paradiplomática. É senso
comum, mas nem por isso menos verdadeiro, que a participação das elites locais em ações
externas, seja por meio de visitas a outros países, seja por meio da recepção de delegações
internacionais, rende-lhes ganhos políticos, principalmente em termos de prestígio. Ela atrai o
tipo de atenção positiva da mídia, do qual os políticos se orgulham e que lhes dão aura de
estadista cosmopolita, experiente e sofisticado. Esse fator glamour, somado à atração que
possuem as viagens ao exterior à custa do erário público, é, indubitavelmente, a motivação em
ao menos algumas das missões internacionais das elites políticas subnacionais, quaisquer que
sejam suas razões.
As considerações político-partidárias também motivam ou pelo menos incidem sobre
a paradiplomacia em outras instâncias. Michelmann cita o exemplo da Áustria, em que
governos subnacionais de tendência conservadora buscaram relação direta com seus vizinhos

8
O autor cita especificamente o caso da Alemanha, em que há variação da atividade econômica entre os diversos
länders, mesmo com uma estrutura nacional desenvolvida.
46

transfronteiriços de mesma orientação política, quando o governo central era liderado pelo
partido socialista. Da mesma forma, acontecera com a Alemanha Ocidental durante a Guerra
Fria, em que os länders dominados pelos democratas-cristãos iniciaram contatos
internacionais, até então pouco comuns, para se manterem em evidência enquanto estavam
afastados do poder da capital Bonn.
Outro desdobramento político também vem do exemplo alemão. Durante esse
mesmo período, os länders buscavam parceiros internacionais que dividiam a mesma
inclinação política. Foi o caso dos sociais-democratas, que quando estavam longe do poder
central se aproximavam mais de países governados pela esquerda. Essas redes de contato
inspiradas pela afinidade adicionaram riqueza e requinte às relações externas da Alemanha
Ocidental, que não existiria sem a paradiplomacia, e possibilitou que países aproveitassem
melhores relações com Estados que talvez achassem estranho os laços de amizade com os
partidos governantes ou as personalidades presentes em Bonn no momento, ou com o qual
Bonn achasse que teria dificuldade numa relação franca. Essa é uma situação nem sempre
encontrada em outros países e foi possível na Alemanha pela influência que as autoridades
locais possuem sobre os seus partidos nacionalmente e pelo fato de a federação alemã
possibilitar poucas diferenças entre os partidos nacionais e locais, coisa inexistente, por
exemplo, no Canadá.
Como se pode ver, as ações das unidades subnacionais no plano doméstico têm
implicações para as relações internacionais. Michelmann cita o exemplo de políticos estaduais
e municipais nos Estados Unidos que fizeram capital político dos constituintes do
antiapartheid ou do sentimento católico pró-Ulster quando eles empenharam seus poderes de
tomada de decisão para direcionar os investimentos dos fundos de pensão dos seus servidores
para longe de firmas que investiam na África do Sul segregacionista ou nas empresas que não
seguiam certas práticas empregatícias na Irlanda do Norte.
Políticas protecionistas de províncias e estados que servem para prover vantagem a
produtores locais e evitar produtos importados e empresas estrangeiras foram efetivas nos
Estados Unidos e no Canadá. Por outro lado, os governos subnacionais também proveram
incentivos fiscais e subsídios de infraestrutura e energia a fim de atrair investimentos externos
e os empregos decorrentes dele, bem como os votos dos eleitores que se pode conseguir com
os sinais de avanços econômicos na própria região.
A mais dramática forma de motivação política para a paradiplomacia, segundo
Michelmann, é o que Duchacek (1990) se referiu como protodiplomacia, ou seja, laços
internacionais das unidades subnacionais forjados para atingir sua independência. Não há
dúvida de que, apesar de a maioria de seus componentes individualmente tenha uma rationale
47

pragmática, o impulso integral de cada construção elaborada das relações internacionais


estabelecidas pelo governo de Quebec foram dedicados a esse fim, principalmente na cabeça
do partido quebecois nos primeiros anos de sua existência, antes do resultado do referendo da
“associação soberana” atenuar o sentimento separatista.
A mais calada, porém ainda elaborada, paradiplomacia do Quebec, que se
compromete a manter a província ligada ao Canadá, é ainda marcada pelas controvérsias com
o governo central, por exemplo, pelos respectivos status do governo nacional e do provincial
nos eventos esportivos internacionais ou em encontros, como o da francofonia. Nessas
questões, o governo de Quebec assumiu um papel assertivo em resposta aos sentimentos
nacionalistas e às reclamações da província em ser uma sociedade distinta como berço dos
franco-canadenses; assim, ela se considera intitulada de condições especiais, até mesmo no
contexto das relações internacionais. A paradiplomacia do Quebec é levada por mais do que
considerações culturais, como aspirações separatistas, pelo menos até a década de 1980; casos
como esse do Quebec, no entanto, são minoria.
As unidades que compõem a federação geralmente utilizam a paradiplomacia para
afirmar sua identidade política. As elites locais, mesmo em unidades subnacionais bem
estabelecidas, podem utilizar a paradiplomacia para levantar suas bandeiras perante os olhos
do resto do mundo, seja pela vontade de distinguir sua condição na federação, seja na busca
de enfatizar formas diferenciadas de um determinado partido de governar.
É claro que a paradiplomacia de praticamente qualquer tipo pode ser vista como uma
forma de desafiar os governos centrais. É em parte por isso que algumas unidades
subnacionais ao se lançarem ao exterior querem evitar essa impressão generalista. Elas tentam
se apresentar como parte constituinte de um país, sem rivalizar com o governo central. Isso
não quer dizer que a condição atingida pela sua atuação transnacional não possa servir como
um fator de pressão ou mostra de descontentamento que ultrapassa a dimensão doméstica
quando há controvérsias entre a unidade central e as subnacionais. O temor que a
paradiplomacia se transforme em protodiplomacia é presente para o governo central,
geralmente em casos que há um histórico de movimentos separatistas, mesmo não envolvendo
particularmente um estado ou província específica e sim seus vizinhos.
Os esforços do Quebec em firmar-se politicamente levou-o a uma época de política
exterior concertada objetivando esculpir uma identidade internacional em separado. A
distinção étnica e cultural normalmente não leva a manifestações extremas de paradiplomacia
desse tipo, mas ela é a base para uma boa negociação de atividades internacionais menos
dramáticas entre unidades componentes de Estados multiétnicos. A exemplo disso, relações
como as dos governos locais belgas, com seus respectivos grupos étnicos localizados na
48

França e na Holanda, são aprofundadas, bem como os contatos entre os cantões fronteiriços
suíços que compartilham da mesma língua e costumes com os vizinhos länders alemães, as
províncias italianas, os departamentos franceses e o bundeländers austríacos. Nem sempre
essas relações étnicas e culturais visam fortalecer a identidade das regiões perante o governo
central, mas podem buscar recuperar laços com comunidades comuns que, por fatores
históricos (como guerras), foram separadas.
A paradiplomacia com motivações culturais não se restringe aos casos de
compartilhamento étnico tranfronteiriço. Prosaicamente, governos subnacionais também se
envolvem em compromissos internacionais devido às suas competências constitucionais com
educação e cultura. Eles se envolvem, por exemplo, em estabelecimento de intercâmbios de
estudantes, elaboração de regulamentos de assistência a estudantes estrangeiros em suas
universidades estaduais, financiamentos estudantis para estrangeiros e organização de visitas
de companhias artísticas de outras regiões do mundo.
Essas atividades, muitas delas fomentadas no contexto de acordos internacionais
assinados diretamente entre os governos subnacionais ou em complementaridade aos laços
econômicos desenvolvidos pelas regiões, levam a contatos internacionais de iniciativas mais
ou menos próprias dos governos subnacionais e que não despertam muita atenção dos
governos nacionais. Apesar de a educação fazer parte da política de assistência internacional
das relações exteriores do país, as unidades subnacionais, frequentemente, engajam-se nesses
tipos de projeto, mesmo que em uma escala menor.
Finalmente, Michelmann refere-se às preocupações com o meio ambiente, que
também têm um papel nas motivações da paradiplomacia, uma função que, cada dia mais,
vem ganhando relevância. As ações relacionam-se desde a desastres ambientais pontuais, com
escopo limitado a regiões transfronteiriças (casos de deslizamento, instalação de fábricas
poluentes próximos a rios de fronteira ou áreas constantemente atingidas por chuvas ácidas),
mas que necessitam da cooperação entre as unidades subnacionais, até a problemas globais,
como é o caso das mudanças climáticas citadas na introdução.
Outro texto-referência e mais recente a tratar da relação entre possíveis motivos e
processos de internacionalização buscados pelos atores subnacionais é o de Michael Keating
(2004). Ele retrata três dimensões comuns ao texto de Michelmann, porém com novas
perspectivas, para explicar por que as regiões se lançam ao exterior: econômicas, culturais e
políticas.
Segundo ele, economicamente, as localidades procuram investimentos, mercado para
seus produtos, tecnologia para sua modernização e visibilidade para promoverem-se como
destino turístico. Os investimentos diretos visam à criação de empregos, ao crescimento
49

econômico e ao aparecimento de novos setores produtivos locais, mas trazem consigo riscos,
porque esses recursos podem fugir rapidamente, da mesma forma como chegaram.
Uma maneira de contrabalancear isso seria por meio de uma política voltada para
pequenas e médias empresas locais. Elas necessitam de conexões com o exterior e de
conhecimento necessário para se estabelecerem, pois a promoção das exportações é uma
solução possível para o aumento de suas vendas. As trocas de tecnologia teriam a mesma
função, porque os recursos para investir em pesquisa são poucos ou inexistentes. As regiões
buscam, por meio da parceria com pequenas e médias empresas, uma sinergia típica dos
distritos indústrias e suas grandes empresas, só que em escala menor.
Diferentemente de anos anteriores, em que o desenvolvimento econômico local se
ligava quase que instantaneamente ao protecionismo, as relações locais entre governos e
empresas surgem, atualmente, de um novo modelo. Essa nova ideia também pressupõe
reconhecimentos de interesses territoriais mútuos, mas dessa vez com vistas uma melhor
inserção da região na econômica global. Isso é construído por meio de uma coesão entre
governo, empresas e sociedade local, que resulta em políticas desenvolvidas pela
administração pública, funcionando como verdadeiro pacto para fortalecer vantagens
regionais frente a mercados competitivos.
Na dimensão cultural, há o componente de compartilhamento entre regiões de raízes
identitárias comuns ou de mesmo idioma como motivador para os locais se lançarem ao
exterior. Isso ocorre principalmente quando os entes subnacionais possuem tendências
separatistas9, porém não se esgota necessariamente aí. Nesses casos em que a cultura é fator
relevante, busca-se um canal de interlocução paralela que extrapola o simples viés de contato
institucional, seja pela necessidade de reconhecimento político (e não necessariamente de
independência), seja pela existência de relação privilegiada. Há ainda casos em que a cultura
ultrapassa a necessidade de exclusividade. Nesses casos, ela funciona como fator iniciador e
impulsionador dos contatos históricos entre dois povos que não necessariamente refletiam
essa condição no campo político.
Na dimensão política, Keating apresenta alguns motivos possíveis para que as
regiões, dependendo de sua condição, entrem no cenário internacional. Para as de aspirações
nacionalistas, há a busca de reconhecimento e legitimação como algo que vai além da mera
região em que está inserida. Essa estratégia se assemelha bastante aos processos de
independência que ocorreram e ainda ocorrem entre Estados nação, ou seja, o reconhecimento
da comunidade internacional é o primeiro passo para suas aspirações de soberania. Esse

9
O autor cita para esses casos a busca do apoio francês às reformas de cunhos sociais implementadas no Québec,
ou da promoção da região da Catalunha na Inglaterra durante os Jogos Olímpicos de Barcelona em1992.
50

processo pode ser uma via de duas mãos, já que o contexto internacional pode vir a mostrar a
importância de a região estar inserida em seu território nacional para determinados fins. O
cenário internacional pode ainda servir como plataforma de construção política interna ou de
projeção externa dos políticos e líderes locais.
Lecours (2004) corrobora os argumentos de Michelmann e Keating. As vertentes
econômica, política e cultural estão presentes, mas não se mostram de forma pura. O autor faz
uma classificação dos tipos de paradiplomacia baseada nos interesses das unidades
subnacionais, em que eles se misturam como, por exemplo, na vertente econômico-política ou
na político-cultural. Apesar de não haver purismo nas classificações, Lecours encaixa os casos
da paradiplomacia de modo mais simplista. Não existe paradiplomacia única para
determinada região. Elas se sobrepõem, ou seja, apesar de haver forte componente cultural em
unidades com viés separatista, elas não deixam de buscar o aumento de seus níveis de
comércio ou de seus investimentos externos. Mesmo assim, é interessante identificar o que a
perspectiva de Lecours acrescenta aos outros anteriores.
O primeiro tipo de paradiplomacia foca os governos regionais em assuntos
econômicos: os anteriormente mencionados objetivos de desenvolver a presença internacional
com o propósito de atrair investimentos externos, empresas multinacionais e focar novos
mercados para exportação. Esse tipo de paradiplomacia normalmente não tem dimensão
política explícita, tampouco está preocupado com assuntos culturais. Ele é, primariamente,
função da economia global competitiva. Regiões com esse tipo de paradiplomacia geralmente
criam unidades administrativas internacionais vinculadas ao departamento ou secretaria de
negócios e comércio e sua representação exterior consiste quase que exclusivamente em
escritórios de representação econômica.
Um exemplo é os estados americanos, cujas atividades internacionais consistem
essencialmente em perseguir interesses econômicos. Os estados australianos também se
encaixam nessa categoria, apesar de suas presenças internacionais serem menores do que dos
governos regionais americanos. As províncias canadenses, excetuando-se o Quebec, como
Ontário e Alberta, podem, similarmente, caracterizar-se por esse interesse.
O segundo tipo de paradiplomacia justapõe as dimensões econômica, política e, às
vezes, cultural. Nesses casos, a paradiplomacia é mais extensiva e mais multidimensional.
Institucionalmente, ela tende a ser apoiada por unidades burocráticas devotadas às relações
internacionais, ao contrário de uma simples repartição de comércio exterior. Alguns länders
alemães situam-se nessa categoria, mais notavelmente a de Baden-Württemberg, que liderou a
criação dos “Quatro motores da Europa” e do Comitê das Regiões Europeias.
51

Essa região também encabeçou uma série de iniciativas tranfronteiriças e se envolveu


na cooperação Norte-Sul e na assistência para o desenvolvimento. Pelo menos uma região
francesa, Rhône-Alpes, também apresenta um desenvolvimento razoável e uma
paradiplomacia multidimensional. Além de ser um dos membros dos “Quatro motores” e de
diversas outras associações transfronteiriças, a região tem desenvolvido relações bilaterais
com unidades subnacionais em países da África, Ásia e Europa Central. Essas relações,
conceituadas como “cooperação descentralizada”, assumem a forma de assistência para o
desenvolvimento, intercâmbios culturais e educacionais, assim como cooperação técnica e
científica.
Existe um terceiro tipo de paradiplomacia que é motivada primariamente por
considerações políticas e culturais, apesar de a dimensão econômica não estar totalmente
ausente. Essa paradiplomacia realça, principalmente, a expressão internacional de uma
identidade distinta da projetada pelo Estado central. Ela tende a ser muito ambiciosa, só que
isto não é manifestado no âmbito de suas participações em redes (algumas delas têm uma
temática muito específica, como a mobilidade urbana ou a educação), mas na lógica geral de
condução dos seus empreendimentos internacionais. Os governos regionais buscam
desenvolver relações internacionais que irão afirmar a distinção cultural, a autonomia política
e o caráter nacional da comunidade que representam. Nesse contexto, a paradiplomacia pode
se tornar altamente conflituosa. Não existem muitos casos de paradiplomacia que se encaixam
nessa categoria, mas o País Basco, estudado especificamente por Lecours, é um deles.
A motivação econômica tem influência nas ações externas desenvolvidas pelos
governos subnacionais brasileiros, o que se pode perceber analisando as atividades
desenvolvidas pelo município de São Paulo, por exemplo. Essas motivações existem, mas
nem sempre são as centrais. No Brasil, a motivação econômica tem intensidade variável,
sendo, muitas vezes, instável, pois se vincula à vontade política do governante. As motivações
não se esgotam nessa vertente, podendo-se citar outras: a cooperação voltada para o
desenvolvimento social, a questão ambiental e, ainda, as ações voltadas para o fortalecimento
político de municípios e estados, inclusive o aumento da capacidade de influir em decisões de
caráter internacional.
Nem sempre existe consenso sobre quais as motivações dos governos subnacionais
ao se lançar ao exterior ou se ao menos esses interesses podem ser verificados. Para Keating
(1999), por exemplo, existe certamente uma forte lógica funcional para a atividade e tem-se
notado o quanto ela expandiu-se com a globalização e com a necessidade das regiões
operarem no mercado global. Ainda assim, esse tipo de atuação não é funcionalmente
52

determinado. Considerações políticas (que não necessariamente são interesses políticos)


atuam no papel maior das decisões e das estratégias.
Há estudos brasileiros que tratam especificamente o caso do país. Para Vigevani
(2006), dimensão fundamental para entender os interesses das entidades subnacionais no
Brasil é a do desenvolvimento. A preocupação das cidades e estados com o mundo exterior
ocorreu a partir do momento em que eles passaram a ser vistos como agentes do
desenvolvimento econômico. A preocupação pelo welfare também despertou maior atenção a
políticas voltadas ao exterior. O interesse pelo desenvolvimento repercutiu nas áreas em que
as entidades locais atuam. Nesse sentido, segundo Duchacek (1990), os temas mais
recorrentes na atuação de estados e municípios são: comércio, investimento, tecnologia,
energia, meio ambiente, turismo, itens sociais, intercâmbios culturais, políticas migratórias,
tráfico de drogas, epidemias e políticas sanitárias. De acordo com Vigevani, esses parecem ser
também os interesses da agenda brasileira.
Conforme dito, as causas da paradiplomacia são constantemente identificadas por
duas óticas: dos interesses e das determinantes. Nos parágrafos anteriores notaram-se algumas
das contribuições quanto à primeira. Apesar do forte componente normativo, a preocupação
com os interesses tentou elucidar casos empíricos que corroborassem as classificações,
mesmo que de forma pouco rigorosa. Isso é compreensivo até da perspectiva do modelo
explicativo mais amplo das Ciências Sociais. Os modelos racionais, por exemplo, têm sérias
falhas de análise sobre as escolhas, ao não problematizarem interesses e preferências do
tomador de decisão.
Na literatura da análise de política externa (foreign policy analisis) o debate é
recorrente e envolve pesadas críticas ao racionalismo (especificamente quanto à formação de
interesses), desde posições mais brandas advindas do modelo cognitivo (ROSATI, 2000 e
STEIN, 2000) até mais duras originadas no Construtivismo, tanto na vertente estruturalista
(KATZENSTEIN, 1996), quanto na pós-positivista (CHECKEL, 2008 e RISSE, 2000). O que
se deseja dizer com isso é que nem para as Ciências Sociais a discussão sobre interesses está
assentada [apesar de exemplos magistrais da lógica racional como a de Allison (1999) e
Putnan (1988)], e por isso é que é comum existirem na paradiplomacia argumentos baseados
em interesses com uma perspectiva superficial (claro que nem todos, haja vista os modelos
acima descritos, que dão um panorama preciso do ponto de vista de interesses). As análises da
paradiplomacia, com decisões das elites locais em atuar internacionalmente tem exemplos
53

modelares no Brasil10. Voltar-se-á nessa discussão sobre formação de interesses e a sua


relação com as decisões e ações empreendidas nos capítulos seguintes.

1.5.2 Uma introdução para as determinantes

Ao contrário dos interesses, que têm alta complexidade de análise empírica, as


determinantes revelam muito da atividade paradiplomática, porque relacionam, diretamente e
empiricamente, a atuação transnacional dos governos subnacionais com as características
presentes na realidade, seja o fenômeno da globalização ou a forma do federalismo em um
determinado país, seja nas condições econômicas, geográficas e políticas presentes no local.
As determinantes, em seu aspecto conceitual, serão objeto dos próximos dois
capítulos. Alguns dos argumentos presentes na discussão de interesses reaparecerão. Como foi
dito, às vezes as ideias de interesse e determinantes se confundem; no entanto, toda análise
proposta por esta dissertação visa entender o fator das determinantes na atuação transnacional
dos governos locais brasileiros. Nesse sentido, foi desenvolvido o modelo que se considera
mais completo, o de Panayotis Soldatos. Em seu modelo de determinantes da paradiplomacia
de unidades federadas, ele apresenta três níveis distintos de explicação para o fenômeno:
internacional, doméstico-nacional e doméstico-local. A base de seu estudo concentra-se na
ideia de segmentação.

10
Para ver uma discussão mais aprofundada sobre a paradiplomacia desde um enfoque da análise de política
externa ver Salomón (2010). Nesse artigo, ela utiliza a metodologia do subcampo para entender tanto interesses
como condicionantes para a paradiplomacia no Brasil.
54

CAPÍTULO – 02: O MODELO EXPLANATÓRIO DE SOLDATOS E O


GLOBAL E O NACIONAL NAS EXPLICAÇÕES DA PARADIPLOMACIA

Alguns autores tentaram identificar um momento da história que inauguraria o início


da paradiplomacia, um mito fundacional. É comum ver na literatura paralelo entre a atual
atuação internacional de governos subnacionais e o início da diplomacia moderna, lançada
pelas cidades mediterrâneas de Veneza e Gênova, ainda no início do mercantilismo
(COLACRAI, 2005). Datam daí as primeiras missões e criações de embaixadas em terras
estrangeiras com intuito comercial, mas também de reconhecimento cultural dos povos com
que mantinham contatos econômicos. Essas iniciativas não eram completamente novas e
foram precedidas pela política da Igreja Católica, no período feudal; entretanto, foi das
cidades italianas que surgiu inspiração para iniciativas dos Estados nação recém-formados,
quando do advento do absolutismo.
Existem comparações que vão ainda mais longe. Segundo elas, desde a Antiguidade
as cidades já possuíam atuação internacional (RODRIGUES, 2004, PLUIJM e MELISSEN,
2007). Isso ocorreria nas relações de Atenas, Esparta, Corinto e outras cidades-estados gregas
com a Pérsia. As relações construídas durante a criação das Ligas de Delos e Peloponeso, por
exemplo, seriam resultado de agenda internacional comum entre governos locais, seja para
aproximações amistosas, seja para fortalecimento das coalizões durante guerras.
Essas versões tentam demonstrar que a paradiplomacia não é um fato novo na
história da política mundial, tentando, por vezes, diminuir fragilidades que um recente objeto
de estudo possa conter. Existiria não um fenômeno novo, mas versão atualizada (a
paradiplomacia “moderna”) de algo que já foi fundamental para a história da civilização.
Parece que essa referência do passado é cercada de exageros. Tanto as cidades italianas
quanto as gregas, apesar de designadas desse modo, eram de fato Estados quase soberanos
com poucos laços de pertencimento. As relações dessas cidades reproduzem na verdade
relações que atualmente ocorrem entre países, nada que se assemelhe à paradiplomacia.
Ao contrário desse conceptual stretching (SARTORI, 1984, COLLIER, 1993),
Panayotis Soldatos, que, coincidentemente, era grego e ateniense de nascimento, concordou
que o fenômeno não é novo, mas não o remeteu até o Renascimento ou a Antiguidade. Ele
identificou que, desde 1882, o Quebec designara um representante geral em Paris, buscando
cultivar relações econômicas entre a província e a Europa, principalmente com a França. O
exemplo do Quebec não foi obra de coincidência como a da sua cidade natal. Soldatos
lecionou durante muitos anos na Universidade de Montreal, além de ter sua formação
55

acadêmica na França e na Bélgica. A fixação pelos estudos da paradiplomacia parece ter sido
influenciada pelos países em que o fenômeno surgiu e até hoje se encontra em estágio mais
avançado, tanto em termos da própria atuação internacional dos governos subnacionais quanto
das análises que se seguiram. Essa relação entre polos de surgimento de fenômenos e centros
de estudos correlatos é lógica e tem outros exemplos na paradiplomacia, como o caso de
André Lecours e Noé Cornago Prieto nos estudos do País Basco.
Entre os escritos de Soldatos sobre a paradiplomacia (ele também se notabilizou por
estudar profundamente o processo de regionalização europeia) destaca-se seu An
Exploranatory Framework for the Study of Federated States as Foreign-policy actors
(SOLDATOS, 1990). O estudo é referenciado por quase todos os autores da paradiplomacia
desde o início da década de 1990, tanto pela ideia de racionalização da política externa que
pode ocorrer com a atuação paradiplomática (ao contrário da visão predominante até então,
que enfatizava a ideia de conflito) quanto, e principalmente, pelo modelo das determinantes
desse fenômeno.
Fez-se uso, em parte, de suas explicações no capítulo anterior quando se dissertou
sobre as tipologias de paradiplomacia; mas, cabe avançar um pouco mais nas outras partes do
seu texto. Será apresentada, rapidamente, a ideia de racionalização da política externa, porque
ela dá subsídios para entender o processo que ele chamou de segmentação ou “muitas vozes”
na política externa, e, de forma mais detalhada, o que identifica como determinantes.
Foi explicado anteriormente que ele as divide em três níveis, causas domésticas em
nível local, causas domésticas em nível federal e causas externas, e que neste capítulo as duas
últimas serão focadas. Nesse segmento, será colocada a explicação de Soldatos com algumas
contribuições de outros autores. Poder-se-á discutir com maior profundidade ideias como a
globalização, a interdependência, o federalismo e o pacto federativo no país, que têm peso
explicativo importante para a existência da paradiplomacia, mas que para o caso da
diferenciação das unidades federativas, que compara atores subnacionais em um mesmo país,
mostram-se pouco efetivas.

2.1 De que se trata a paradiplomacia?

Para Soldatos, como resultado da crise de representatividade no nível do processo


sistêmico e do desempenho da política externa do Estado, assim como em um processo de
reação e tentativa de remediar essa crise, o fenômeno de “muitas vozes” na política externa
(chamada por ele de segmentação) surge mais frequentemente, mas não exclusivamente, em
federações industriais avançadas, no qual governos federais individualmente e unidades
56

federadas competem por papéis na política externa. Ele é comumente mais pronunciado em
sociedades como as do Canadá, onde o “processo de formação do Estado” não está concluído
e, de jure e de facto, a descentralização permite um papel provincial, regional e municipal
mais ativo nas relações exteriores.
Cabe ressaltar que ao final dos anos 1980 não estava muito clara a dimensão que o
fenômeno alcançaria. Nesse sentido, é lógico entender porque Soldatos admite que a
paradiplomacia tem preponderância em federações industriais avançadas. Atualmente,
decorridas mais de duas décadas do lançamento de sua tese, pode-se afirmar que a atuação
transnacional de governos locais e regionais não se restringe a federações, muito menos a
países desenvolvidos. Tanto isso é verdade que são comuns estudos que apresentam a
paradiplomacia em países não federados, como França (BALME, 1995, LANGEVIN, 1996,
OBERDOFF, 1996) e Espanha (LECOURS, 2007, CORNAGO, 2000, GARCIA SEGURA,
2004), e em emergentes, como o próprio Brasil (SALOMÓN, 2007, RODRIGUES, 2004,
VIGEVANI, 2006, VIGEVANI et al, 2004, LESSA, 2007, BRIGAGÃO, 2005, BOGEA,
2001), a Argentina (COLACRAI e ZUBELZÚ, 2004, IGLESIAS et al, 2008), a China
(HOOK e NEVES, 2002) e a Rússia (CORNAGO, 2004, SHARAFUTDNIVA, 2003, KIILO,
2006, KUZNETSOV, 2009) . Nesses últimos dois casos, porém, mais no penúltimo do que no
último, é interessante perceber que nem outras características habituais relacionadas à
paradiplomacia estão presentes, como a democracia plena e a representatividade dos agentes
locais.
Nesse sentido, é interessante recorrer à Cornago (2004), que apresenta a atuação
paradiplomática em regiões menos estudadas como as do leste europeu no período pós-
soviético, as da Ásia-Pacífico, com destaque para a paradiplomacia chinesa, australiana, do
sudeste asiático e Índia, e as da região da América Latina. Fica claro nos exemplos que o
fenômeno, atualmente, está longe de ser reduzido às federações industriais avançadas, como
sugere Soldatos.
A recuperação histórica que Soldatos faz com a ação externa no Quebec
anteriormente citada remete ao final do século XIX, mas é durante as décadas de 1960 e 1970,
que, para ele, testemunhou-se um processo mais nítido de erosão das prerrogativas do governo
central nas relações exteriores. O desenvolvimento da Comunidade Europeia como ator
supranacional no campo das relações econômicas internacionais e o envolvimento crescente
das unidades subnacionais (regiões, comunidades urbanas, cidades) e transnacionais
(corporações multinacionais, organizações não-governamentais) trouxeram para o front da
literatura especializada o conceito de novos atores na política externa e o correlato fenômeno
da segmentação.
57

Para o autor, as atividades externas das unidades federadas podem ser caracterizadas
como um fenômeno em si nos seguintes sentidos: primeiro, em termos qualitativos, essas
atividades têm sido diretas e relativamente autônomas, nas quais as unidades federadas
frequentemente têm e implantam canais e mecanismos domésticos e de serviço externo, assim
como empregam quantidade substancial de seus recursos financeiros na busca de objetivos
próprios de política externa; segundo, as atividades externas das unidades federadas, ou pelo
menos das unidades mais dinâmicas, não têm precedentes em termos quantitativos, nos quais
o ritmo tem aumentado signicativamente, tanto em termos de amplitude de escopo (de
matérias sistêmicas cobertas por elas) quanto do número das relações entre atores domésticos
e internacionais (medidas pelo volume de interações e pelo número de parceiros).
Essas atividades externas têm componentes de política externa, nos quais existem
objetivos, estratégias, táticas, instituições, processos de tomada de decisão e manifestações
próprias – por exemplo, visitas e missões externas, acordos com atores estrangeiros,
representação externa direta, etc – que são geralmente similares às atividades de política
externa do Estado nação (SOLDATOS, 1990).

2.2 O quadro conceitual da paradiplomacia segundo Soldatos

Soldatos usa uma série de conceitos para apresentar o objeto de estudos. O principal
deles é a ideia de segmentação. Apesar de ter feito uso em escritos anteriores do termo
“fragmentação” no contexto da política do Canadá e dos Estados Unidos, Soldatos decidiu
adotar o conceito de segmentação, proposto no trabalho de Duchacek (1984). Essa
conceituação pode ser mais apropriada, ao indicar que a segmentação nem sempre é um
fenômeno desintegrador (como o termo fragmentação poderia implicar), mas sim, em muitas
instâncias, fazer parte de um processo de racionalização nas relações exteriores.
O autor diferencia dois tipos de segmentação: a segmentação territorial (também
chamada de vertical, pois se refere a diferentes níveis de governo – apesar dessa verticalidade
não implicar necessariamente relação hierárquica entre eles), onde vários níveis de governo
(federal, regional e municipal) são ativos nas relações exteriores e na execução da política
externa; e a segmentação funcional (horizontal), onde, no mesmo nível de governo (seja no
central ou nos federados), diferentes departamentos e agências governamentais estão
diretamente envolvidos nos negócios externos, devido ao processo de domesticação da
política externa ou no desenvolvimento das atividades políticas em assuntos de low politics,
por exemplo.
58

A segmentação funcional relaciona-se a uma discussão já existente sobre o


monopólio das chancelarias sobre a formulação e execução da política externa e sobre os
conflitos de interesse entre as burocracias no âmbito federal. Essa segmentação não é
importante para a discussão da paradiplomacia. Já a segmentação territorial (vertical) é a base
do modelo explanatório de Soldatos e, consequentemente, o foco de interesse desta
dissertação. Ela compreende quatro diferentes estágios: segmentação objetiva, segmentação
perceptiva, segmentação política e segmentação de atores. As duas primeiras, além de
estágios da paradiplomacia, também são determinantes locais no modelo de Soldatos e por
isso serão vistas, detalhadamente, no próximo capítulo.
A segmentação objetiva (situacional) refere-se às variadas características que
diferenciam as unidades subnacionais e têm impacto nas atividades de política externa. As
diferenças são expressas, por exemplo, em termos de estruturas econômicas, situações
geográficas e características políticas, linguísticas, culturais e religiosas. Essa segmentação é
muito proeminente em alguns Estados federados, mais notavelmente no Canadá.
A segmentação perceptiva (imagética) remete à segmentação de atitudes, percepções,
lealdades e concepções de interesse das elites e da população, que levam às “muitas vozes” na
política externa. A segmentação perceptiva é, obviamente, baseada na realidade da
segmentação objetiva ou na percepção de tal segmentação, que pode ser reforçada por certo
grau de subjetividade.
A segmentação política é o resultado dos dois níveis de segmentação anteriores e
leva a uma variedade de posições na política externa. Por fim, a segmentação de atores refere-
se ao resultado do efeito cascata, no qual os níveis anteriores de segmentação conseguem
induzir os estados federados a se tornarem atores de política externa e, por conseguinte, a usar
a própria máquina institucional para desenvolver atividades de política externa. A
segmentação de atores pode aumentar a segmentação política: o envolvimento direto das
unidades federadas na política externa pode levar à diferenciação (dos governos federal e
federados) nas percepções do interesse doméstico na realidade internacional.
A segmentação política nem sempre leva à segmentação de atores. Unidades
federadas, aproveitando-se da posição dominante ou forte no sistema federal, podem fazer uso
disso para vantagens próprias, acomodando-se na máquina da política externa federal, ao
menos para alguns assuntos. O autor cita o caso do Canadá, em que Ontário, por causa de sua
posição dominante na federação canadense, às vezes, sente menos necessidade de
envolvimento direto na política externa do que o Quebec ou outras províncias do oeste (essa
pode ser uma hipótese possível para o estado de São Paulo, no Brasil). Ademais, a falta de
59

recursos também pode levar à recusa da segmentação de atores. A segmentação política e de


atores são dois elementos constituintes da paradiplomacia.
É evidente que nem toda ação de política externa em nome das unidades federadas
envolve conflitos nessa esfera, apesar de na literatura especializada ser, muitas vezes, dada
ênfase nos aspectos de conflito da segmentação. A segmentação pode representar a
racionalização no processo de política externa e, em alguns casos, é aceita como tal pelo
governo federal.

2.3 Determinantes da paradiplomacia

A segmentação territorial, como fenômeno da segmentação política e de atores, no


nível das unidades federadas, representa, em certo sentido, um fenômeno de crise de
representatividade do Estado nação e do governo federal. Apesar de as considerações
ideológicas não serem excluídas, o desenvolvimento de um perfil internacional no nível das
unidades federadas geralmente tem explanação pragmática. O desencantamento com a política
externa do governo federal, em termos substantivos ou procedimentais, e/ou a preocupação
com a inabilidade do governo central de ser efetivo sozinho na promoção dos interesses
subnacionais, levam ao seu envolvimento direto nas relações internacionais e, mais
especificamente, à segmentação política e de atores, segmentando assim a política externa.
Em resposta, tal envolvimento força o governo federal a procurar por estratégias de
coordenação ou de supervisão com intenção de harmonizar os papéis. Isso pode sobrecarregar
o processo resultante com excessiva burocratização ou reações de conflito que são
adicionadas à crise. Tais atividades subnacionais minam a noção da política externa como um
atributo essencialmente do Estado soberano.
Essa segmentação política e de atores pode ser reduzida, em última instância, à
segmentação de atores, levando a processos de racionalização na execução da política externa
se os dois tipos de governo – federal e federado – puderem harmonizar suas atuações.
A noção de racionalização encontra-se nesse contexto, já que a segmentação de ator
pode referir-se a processos de descentralização coordenada na política externa, onde o
governo federal aceita, junta forças com as unidades federadas, coordena ou monitora a
execução da política externa subnacional e gerencia para monitorar as várias atividades
transgovernamentais com suas próprias políticas.
A descentralização poderia fortalecer a unidade e a eficiência nas relações exteriores
e tornar-se solução para a crise do Estado nação na política externa. Em épocas de
especialização, de necessidade de eficiência de custos, de recursos públicos limitados e de
60

interdependência internacional, os esforços combinados dos dois níveis de governo podem


constituir, sob certas condições, melhorias da política externa da nação.
Em outras palavras, a capacidade das elites de se adaptar e responder à segmentação
de atores com mecanismos de resolução de conflito, máquinas coerentes de articulação e
agregação de interesses e processos de desenvolvimento de complementaridades nas ações
externas pode transformar a crise de representatividade em um processo de racionalização,
onde a segmentação de atores não se torna segmentação política e a paradiplomacia
subnacional ajuda racionalizar todo o processo de política externa.
Há que se admitir que a dimensão da racionalização desse processo nem sempre tem
sido explorado e enfatizado. De acordo com Soldatos, isso acontece por várias razões: porque
o tradicional conceito de Estado soberano implica unidade do desejo do Estado, por causa da
dificuldade do Estado nação em dividir poderes e funções nas relações internacionais, por
causa das dificuldades práticas em harmonizar as “muitas vozes”, por causa da inabilidade do
governo federal em adaptar-se e responder aos imperativos da segmentação e da
descentralização, por causa da implicação ideológica que acompanha, em alguns casos, a
segmentação de atores ou por causa do desenvolvimento de estruturas e espaços econômicos
(zonas de integração regional internacional; economia mundial), que, na perspectiva de
alguns, necessita de resposta uníssona do Estado.
O modelo explanatório de Soldatos apresenta quatro características, que podem ser
considerada de forma cumulativa: (1) Toda seleção de fatores determinantes é ligada ao
processo de crise/racionalização do Estado. (2) Esses fatores são apresentados na forma de
tipologia com causas domésticas e externas, a primeira é devida aos fatores da unidade
subnacional e aos atributos do sistema federado e a segunda tem origens globais-
internacionais e regionais-internacionais. (3) Geralmente, essas determinantes são inter-
relacionadas. (4) Apesar de a lista de causas não ser exaustiva, os fatores enumerados são
expressões cumulativas dos aspectos principais dessa causalidade baseada na perspectiva
comparativa.
Essa tipologia reflete a concepção do autor sobre sua unidade de análise mais
próxima: o Canadá. Apesar de buscar regras gerais para as determinantes, existem
especificidades típicas desse país que acabam sendo transpostas para o seu modelo, como é o
caso da importância dada à língua e à religião. Realmente, o Canadá, e de forma mais direta o
Quebec, é um caso recorrentemente explorado não somente por Soldatos, como por outros
estudiosos da paradiplomacia11. Para o caso brasileiro o item quatro é válido, já que nem todas

11
Outro caso emblemático é o da Espanha. Os movimentos separatistas nesse país, que também ocorrem no
Canadá/ Quebec, variam em intensidade, mas se encontram presentes na região da Catalunha, do país Basco e da
61

as determinantes de Soldatos estarão presentes na paradiplomacia brasileira, e mesmo quando


existem, podem assumir menor relevância. Independentemente disso, o modelo explanatório
de Soldatos será o marco teórico principal para estudar as determinantes da atuação
paradiplomática dos governos locais no Brasil.

Figura 2 – Determinantes da paradiplomacia


Causas domésticas (nível local) Causas domésticas (nível federal)
- Segmentação objetiva - Erros/ineficiências federais
- Segmentação perceptiva (eleitoralismo) - Problemas com “processo de construção da
- Regionalismo/nacionalismo nação”
- Assimetria das unidades federadas - Gaps institucionais
- Crescimento das unidades federadas - Incertezas constitucionais
- “Me-tooism” (imitação) - Domesticação da política externa

PARADIPLOMACIA

Causas Externas
- Interdependência global
- Interdependência macrorregional
- Interdependência microrregional
- Envolvimento de atores externos
Fonte: SOLDATOS, P., 1990, tradução livre do autor.

O autor começa listando as determinantes que resultam na atuação paradiplomática


no nível externo e doméstico-federal. Apesar de serem extremamente importantes para
entender o fenômeno de forma geral, as determinantes que fogem do domínio local não serão
foco do modelo estatístico. Isso porque se parte do pressuposto de que essas outras variáveis
impactam os governos locais de forma semelhante e constante, ou seja, são variáveis de
controle. Elas não explicam satisfatoriamente a diferenciação entre os municípios brasileiros
que possuem área internacional e os demais, ou seja, por não discriminar, elas não explicam.

Galícia. Os primeiros estudos mais contundentes na área, não por acaso, surgiram nessas regiões. A princípio os
estudos focavam a protodiplomacia, um tipo de atuação de governos locais em que há conflito nas relações
federativas entre o governo central e os governos locais, e em que as elites destes buscam reconhecimento
externo às suas causas locais (geralmente independência) e as elites daqueles se preocupam em reprimir estes
tipos de iniciativa (KINCAID,1990). A paradiplomacia, pelo contrário, representa relações harmônicas entre os
estes federados, podendo ser de complementaridade ou até de concorrência, mas sem intenções de
reconhecimento de soberania.
62

De forma geral, entende-se que quando os governos locais em um mesmo país são estudados,
somente é possível identificar suas atuações transnacionais por meio das determinantes
encontradas em nível local.

2.3.1 Causas externas da paradiplomacia

A noção sobre o cenário internacional e o efeito que tem na paradiplomacia, por


vezes, aparece de forma genérica na literatura. Dizer que a interdependência, a globalização, a
revolução da informação ou as novas tecnologias são fatores explicativos da atuação de
governos locais nessa arena parece vago e não esclarece satisfatoriamente o fenômeno. Segue-
se como a literatura entende esses conceitos e sua relação com a paradiplomacia.

A interdependência
No que se refere à interdependência, os especialistas são unanimes em enfatizar os
seus efeitos no surgimento das atividades paradiplomáticas; mesmo entre estes, porém, o
enfoque dado à interdependência é variado. Alguns aprofundam a dimensão econômica
(SASSEN, 1998, 2001), outros, a vertente política (SOLDATOS, 1990, HOCKING, 2004,
ALDECOA; KEATING, 2000, DUCHACEK, 1990, KINCAID, 1990, CORNAGO, 2000) e
até a cultural (LECOURS, 2007). Todas essas perspectivas têm em comum noções similares
sobre o que é o fenômeno da interdependência e da globalização. A nossa abordagem está
longe de ser inovadora nesse aspecto. Pelo contrário, referir-se-á aos estudos de Joseph Nye,
em seu Cooperação e Conflito nas Relações Internacionais (2009) com bastante frequência,
cujo enfoque, como se sabe, se dá nas transformações globais ao longo do último século.
A primeira e fundamental explicação é o que se entende por interdependência. Nas
palavras de Keohane e Nye (2001), a dependência representa o estado em que se está
determinado ou altamente afetado por forças externas. A interdependência representa, de
modo simples, a dependência mútua. Nesse sentido, “interdependence in world politics refers
to situations characterized by reciprocal effects among countries or among actors in different
countries” (KEOHANE e NYE, 2001, p. 7). Os efeitos se dariam por meio das transações
internacionais de pessoas, bens, serviços e finanças entre as fronteiras nacionais.
Os autores evidenciam que há uma questão crucial na interdependência e está
relacionada a seus custos. O que diferencia a interdependência da mera interconectividade são
os custos envolvidos na primeira. Esse assunto será abordado abaixo, mas o importante é
esclarecer que a interdependência envolve custos recíprocos na relação, ou seja, os contatos
são de tal relevância que os atores são mutuamente sensíveis e vulneráveis.
63

A interdependência surge em contextos tanto de competição quanto de cooperação.


Isso significa que ela não representa necessariamente algo bom ou ruim. Ser dependente de
outro (e ter outros como dependentes) pode render ganhos, perdas ou as duas coisas ao
mesmo tempo. Na maioria das vezes o resultado final tende a ser positivo, porém nem sempre
isso é uma verdade. Ser dependente do petróleo do Oriente Médio rende abastecimento
energético, mas também vulnerabilidade econômica em possíveis choques e flutuações do
mercado da commoditie (a não ser que o Oriente Médio seja dependente do país); no entanto,
escapar de situações como essa é praticamente inviável. Na era da globalização, o isolamento
tem se mostrado solução pouco eficaz para reduzir seus impactos negativos, vide o caso da
Coréia do Norte.
O professor de Harvard, Joseph Nye (2009), listou quatro distinções que elucidam
melhor a situação de dependência mútua: origens, benefícios, custos e simetria da
interdependência. As origens podem ocorrer por fenômenos materiais e sociais. O primeiro
envolve fatores naturais, já o segundo relaciona-se a questões econômicas, políticas ou
perceptivas. Elas geralmente aparecem de forma combinada. Nye exemplifica as origens da
interdependência e sua combinação nos vieses militares e econômicos.
Na interdependência militar, existem aspectos materiais da própria capacidade de
desenvolvimento que armas de destruição em massa, como as nucleares, podem atingir e a
destruição mútua presente nessa relação. Há também fatores sociais, na percepção e na
política, que podem minimizar a intensidade dessa interdependência. A posse de armas
nucleares por parte de aliados não necessariamente representa ameaça, porque existe a
percepção de que elas não serão utilizadas contra si. Da mesma forma, atos políticos, como
assinaturas de protocolos internacionais de não-proliferação ou até mesmo de redução de
arsenal, podem diminuir as tensões militares entre os Estados.
Na interdependência econômica, também ocorre uma composição de fenômenos
materiais e sociais de origem, principalmente no segundo, por meio da percepção de valores e
custos das transações. A questão do etanol é um bom exemplo citado pelo autor. Com a maior
utilização de cana-de-açúcar e milho (além de outros vegetais) para produção de
combustíveis, entre outras causas, houve alta nos preços do alimento em escala mundial. A
escolha para novas formas de produção e de comércio depende tanto da escassez de recursos
materiais como das escolhas sociais baseadas na percepção e na econômica.
Quanto aos benefícios da interdependência, Nye identifica o equívoco no debate, ao
analisar seus resultados como sendo apenas de soma zero ou de soma diferente de zero. Para
ele, os dois tipos de situação estão presentes na interdependência. De um lado estão os liberais
que tendem a pensar a interdependência apenas em termos de resultados positivos em que
64

todos se beneficiam. A ideia central nesse pensamento é a de que a globalização, por


aumentar o nível de interdependência e, consequentemente, de benefícios conjuntos, substitui
o conflito pela cooperação como padrão de conduta nas relações internacionais. Isso é
verdade em alguns casos, mas em outros a interdependência pode ser utilizada de forma
conflitiva, como nos casos de sansões econômicas.
Os economistas liberais retiram da discussão o viés político, que é fundamental nas
relações. Isso está relacionado com a distribuição dos ganhos, porque em relações comerciais
os dois países envolvidos podem ganhar, mas quem ganha menos não necessariamente está
satisfeito. Essa distribuição de ganhos representa situações de resultado zero, em que nem
sempre os atores buscam ganhos absolutos. Ademais, eles se importam com o fato de seus
concorrentes terem maiores benefícios comparativamente.
Existem, no outro extremo, perspectivas que baseiam as relações somente em
resultados de soma zero. Elas são influenciadas por noções mais tradicionais e antigas das
Relações Internacionais. Nela, sabendo que em última instância os Estados buscam por
sobrevivência, os ganhos relativos são os que realmente importam. Em outras palavras, se um
ganha, mas os outros ganham mais, na verdade se está em situação de desvantagem. As
questões de segurança são exemplos claros dessa concepção. Como aponta Nye, essa posição
é enganadora, dado que a política internacional tradicional do passado poderia ser de soma
zero ou não, dependendo das intenções dos protagonistas. Por exemplo, se o objetivo for o da
estabilidade, que também garante a sobrevivência, poderia haver um ganho conjunto com o
equilíbrio de poder. A conclusão de ambas a perspectivas é de que tanto a de resultado soma
zero, quanto diferente de zero, coabitam na globalização.
O terceiro fator fundamental para entender a interdependência é a ideia de custos. Os
custos da interdependência envolvem sensibilidades de curto prazo e vulnerabilidades de
longo prazo. Sensibilidade refere-se à quantidade e ao ritmo dos efeitos da interdependência,
ou seja, com que rapidez as mudanças em partes do sistema produzem mudanças nas outras.
Um exemplo disso são as crises econômicas mundiais, como a de 1998 que se iniciou no
Sudeste Asiático e se espalhou por Rússia, Argentina, México e Brasil. A vulnerabilidade
representa custos relativos de mudar estruturas de interdependência, isto é, o custo de escapar
do sistema ou mudar as regras do jogo.
Esses conceitos não são proporcionais, ou seja, nem sempre o mais sensível é o mais
vulnerável, porque, mesmo sentindo grandes efeitos de mudanças ou crises, um Estado pode
ter mais facilidade para revertê-los. A vulnerabilidade envolve não apenas a capacidade
política e financeira de mudar a situação em que se encontra, mas também de até que ponto a
65

sociedade é capaz de reagir a essas mudanças. Depende-se, ainda, da existência de substitutos


para os fatores que geram interdependência.
Nye dá um exemplo claro sobre essas duas condições. Durante a Revolução Iraniana
de 1979 houve uma redução de 5% no fornecimento do petróleo mundial, que fez disparar o
preço dos barris. Diante dessa situação de mercados sensíveis, os americanos passaram a
reduzir seu consumo (em 5%) com medidas básicas de racionamento (menor uso de
aquecimento nas casas e menos consumo de gasolina por meio da diminuição da velocidade
com que os condutores guiavam). Essas atitudes deixaram os Estados Unidos menos
vulneráveis à flutuação dos preços do petróleo. A mesma situação poderia ter se repetido se
fontes alternativas de energia estivessem à disposição da população. O aumento dos preços do
petróleo poderia ser minimizado com a adoção de biocombustíveis, por exemplo. A existência
de produtos alternativos também teria o efeito de diminuição da vulnerabilidade.
A última das características da interdependência é a da simetria. Ela refere-se à
noção conflitante entre dependência relativamente equilibrada e dependência desequilibrada.
O primeiro caso, de dependência mútua e equânime, é bem raro, assim como os casos de
assimetria total, em que um é totalmente dependente e outro é completamente independente.
O principal nessa ideia é a relação entre assimetria e poder nas relações internacionais. Ser
menos dependente pode garantir maior poder de negociação, aumentando a possibilidade de
barganha. A manipulação das assimetrias também pode ser fonte de poder. Nye faz alusão
criativa sobre as diversas relações de interdependência, de assimetrias e de poder nas relações
internacionais.
Imagine que cada tema ou problema de negociação seja considerado uma mesa de
pôquer e, como num cassino, o jogo entre os participantes fosse disputado em diversas delas –
na do comércio, na da segurança, na do meio ambiente, na dos Direitos Humanos, etc. – os
Estados poderiam querer vincular ou desvincular seus problemas. Em algumas mesas, os
Estados poderiam ter mais fichas do que em outras e, dependendo da situação, poderiam
querer jogar em mesas separadamente ou de forma conjunta; assim, Estados com muitas
fichas na mesa militar poderiam utilizá-las nas demais.
Uma forma de se proteger contra esse tipo de ação é possível com a presença de
instituições. Elas estabelecem as regras do jogo que equilibram relações interdependentes. As
instituições impedem migrações de fichas de uma mesa para outra. Nessas situações, elas
podem beneficiar os jogadores tidos como mais fracos no conjunto das mesas, mas que em
uma específica tem força suficiente para jogar de forma mais equilibrada. Apesar disso,
existem Estados suficientemente fortes para virar as mesas e desrespeitar as regras acordadas
previamente.
66

A globalização
Ao longo da explicação foi citada, algumas vezes, a globalização como fenômeno
relacionado à interdependência, no entanto, nem sempre essa definição também é clara. A
globalização é atualmente um daqueles termos que ganham vida própria e são utilizados de
modo indiscriminado sem maiores explicações. Posto de forma simples, a globalização refere-
se às redes mundiais de interdependência (NYE, 2009). Em outras palavras, ela designa a
escala ampliada, a magnitude crescente, a aceleração e o aprofundamento do impacto dos
fluxos e dos padrões transcontinentais de interação social (HELD e MCGREW, 2003). Isso
não quer dizer que ela seja universal, logo não atinge a todas as regiões do mundo de forma
igual. Pelo contrário, em alguns casos a globalização tem aumentado as desigualdades. Nas
próximas linhas, alguns benefícios da globalização serão identificados, mas deve-se
compreender que assim como quase tudo, esse fenômeno tem dois lados.
A globalização conta com algumas dimensões: a econômica, a ambiental, a militar, a
social e a política. Em cada uma delas, uma relação de interdependência e de fluxos é
enfatizada. A economia tem o mercado de ações, o comércio de bens industriais e
commodities, a atividade moderna baseada em serviços, os investimentos de governos,
empresas, fundos de pensões e indivíduos, etc. Apesar de muitos confundirem o termo
globalização com a economia mundial, as outras dimensões complementam a totalidade do
fenômeno.
Quando se fala sobre a globalização ambiental, engloba-se desde os surtos
epidêmicos por meio de pandemias, até os desafios das mudanças climáticas. Alguns
fenômenos recentes, e outros nem tanto, relembram essa dimensão, como o caso da Peste
Negra que surgiu na Ásia, devastou a Europa e chegou às Américas. Os casos da gripe aviária
e da gripe suína repetiram esses fluxos de contágio de forma global. No aspecto do meio
ambiente, a preocupação é relativamente nova, devido também ao conhecimento tardio da
ciência para medir os impactos da poluição e do aquecimento global. Ganharam relevância
diversas rodadas de negociação que envolvem todas as sociedades na busca da mitigação dos
impactos dos gases de efeito estufa. Os efeitos do aquecimento acontecem
indiscriminadamente em todas as regiões do globo: secas severas em alguns pontos, cheias em
outros, desaparecimento de ilhas do Pacífico, aumento dos furacões no golfo do México e
verões cada vez mais quentes na Europa. Outro exemplo recente é a preocupação dos países,
das ONGs e das Nações Unidas com o vazamento de material radioativo das usinas nucleares
de Fukushima, no Japão, e a contaminação que poderia ter atingido a Europa, os Estados
Unidos e a Oceania.
67

A dimensão militar diz respeito a redes de interdependência em que o uso da força ou


a ameaça do uso da força são empregados. Nesse cenário aparecem os arcos de alianças entre
países que compreendem áreas específicas, em conflitos regionais, ou escala maiores, como
no caso da II Guerra Mundial ou da Guerra Fria. A utilização de armas de longo alcance
também representa a interdependência entre as diversas partes do mundo, já que todos estão
vulneráveis a esse tipo de ataque. A globalização militar vem apresentando em anos recentes
uma complexidade ainda maior, porque adiciona ao tabuleiro, em que antes jogavam apenas
governos e seus militares, novos atores, como os movimentos terroristas e os civis a eles
suscetíveis. Essas novas relações de conflito que se convencionou chamar de guerras
assimétricas têm desafiado os sistemas de defesas tradicionais.
Na dimensão social, Nye aponta para a disseminação de pessoas, culturas, imagens e
ideias. O caso mais visível, nesse aspecto, é o da migração ao longo da história. Ele
compreende os êxodos das populações do Oriente Médio em épocas anteriores a Cristo, a
formação da população dos novos continentes descoberto pelas grandes navegações, as
entradas ilegais de pessoas que buscam trabalhos nos países desenvolvidos e o vultoso
número de estudantes de intercâmbio entre universidades em diferentes países. No campo das
ideias, tanto religiões se espalharam por todos os cantos do mundo, quanto visões de mundo
laicas como o Iluminismo, o Liberalismo e o Marxismo impactaram na formação identitária
das sociedades.
A globalização política, como parte da dimensão social, representa ideias e valores
que, utilizando-se das redes de interdependência, influenciam, modelam e determinam
sistemas de governos democráticos ou autocracias ao redor do globo. Elas fortalecem tanto
visões multilaterais de mundo, baseadas em instituições como atores relevantes na diminuição
de incertezas da anarquia internacional, quanto perspectivas unilaterais, em que as tomadas de
decisão consideram atores políticos internacionais distintos.
A discussão sobre globalização e sua fundação ideacional desperta debates entre
teóricos. Alguns compreendem que desde as grandes navegações se pode falar sobre o início
da globalização, outros defendem o fenômeno como fato contemporâneo e resultado da
chamada III Revolução Industrial (em alusão às duas revoluções anteriores: o emprego do
vapor na virada do século XVII para o XVIII e o uso da eletricidade do final do século XIX
para o início do século XX). Controvérsias a parte, o que existe atualmente não se compara
com as redes de interdependência do passado, basicamente porque a “globalização
contemporânea é mais abrangente, mais rápida, mais barata e mais profunda” (FRIEDMAN
apud NYE, 2009).
68

Isso fica claro quando se comparam alguns dos exemplos citados nos parágrafos
anteriores. A Peste Negra ou bubônica demorou cerca de três séculos desde sua passagem da
Ásia para a Europa, chegando a dizimar, posteriormente, 95% das populações indígenas na
América. A pandemia de gripe suína ou influenza H1N1, de 2009, demorou apenas poucos
dias pra se espalhar do México para o resto do globo. Da mesma forma, a “nova” globalização
foi sentida nos conflitos militares. Eles, que envolviam fronts e invasões aos países inimigos
com grandes tropas e efetivos durante a I Guerra Mundial, além de batalhas que duraram
meses, durante a Guerra Fria o temor estava presente nos mísseis que poderiam ser lançados
de grandes distâncias com destruições irreversíveis apenas em um apertar de botão. Existem
ainda, atualmente, novos parâmetros com ameaças cibernéticas que roubam informações
estratégicas de governos e dados particulares de indivíduos, plantam vírus em sistemas
operacionais de outros países e não deixam rastro em termos físicos. O custo de pôr em
prática esse tipo de operação é bem menor, os efeitos são abrangentes e o tempo da operação
é quase nulo.

A revolução da informação
Ao contrário de séculos atrás, em que poucos atores forneciam grande parte da
estrutura política e em que os custos de transporte e de comunicação eram maiores, os fatores,
atualmente, são compartilhados. Consequentemente, há um maior envolvimento de pessoas e
ideias entre as culturas. A inovação na comunicação também ajudou na intensidade e rapidez
da globalização, na medida em que os Efeitos de Rede aumentaram (situações em que o valor
dos bens sobe quando mais pessoas os utilizam, como o caso do telefone). É por isso que a
internet vem causando mudanças tão rápidas.
Além disso,

o que caracteriza a atual revolução tecnológica não é a centralidade de conhecimentos e informação, mas
a aplicação desses conhecimentos e dessa informação para a geração de conhecimentos e de dispositivos
de processamento/comunicação da informação, em um ciclo de realimentação cumulativo entre a
inovação e seu uso (CASTELLS, 1999, p. 69).

Os processos que envolvem introdução de novas tecnologias, seu uso, e seus


desenvolvimentos em novos domínios tornam-se muito mais rápidos. A difusão da tecnologia
amplifica seu poder de forma infinita, na medida em que os próprios usuários se apropriam
delas e as redefinem, numa situação em que os consumidores e os criadores podem ser, e
frequentemente são, as mesmas pessoas. De acordo com Castells (1999), pela primeira vez na
69

história a mente humana é uma força direta da produção e não apenas um elemento decisivo
do sistema produtivo.
Ele afirma,

assim, computadores, sistemas de comunicação decodificação e programação genética são todos


amplificadores e extensões da mente humana. O que pensamos e como pensamos é expresso em bens,
serviços, produção material e intelectual, sejam alimentos, moradia, sistemas de transporte e
comunicação, mísseis, saúde, educação ou imagens (Castells, 1999, p.69).

Nesse contexto, é cada vez mais perceptível que a revolução da informação também
está mudando a política mundial. Ela se baseia nos rápidos avanços tecnológicos em
computadores, programas e comunicações, que levaram a uma redução drástica dos custos de
processamento e transmissão das informações. Citando o exemplo de Nye (2009, p. 278),

a potência dos computadores dobrou a cada dezoito meses em trinta anos, e no início do século XXI eles
custavam um centésimo do que custaram no início da década de 1970. Se o preço dos automóveis tivesse
caído tão rapidamente quanto o dos computadores, atualmente um carro custaria cinco dólares.

Ainda sobre a nova dinâmica de avanço tecnológico, agilidade e custos ele continua,

em 1993, havia cerca de 50 websites no mundo; no fim da década, esse número tinha ultrapassado cinco
milhões(...) Até 1980, as ligações telefônicas através de fiação de cobre só eram capazes de transmitir
uma página de informação por segundo; atualmente um fino cordão de fibra ótica pode transmitir mais de
90 mil volumes em um segundo. (...) Em termos de dólares atuais, o custo de uma ligação telefônica
transatlântica breve caiu de 250 dólares em 1930 para consideravelmente menos de um dólar no início do
novo século. (...) Em 1980, 1 gigabyte de armazenagem ocupava uma sala, atualmente, um Apple Ipod
que cabe no bolso sai com até 160 gigabytes de armazenagem (NYE, 2009, p. 278).

Mesmo com as várias características de Friedman para a nova globalização, a


revolução da informação tem um aspecto principal, que é a redução dos custos da
transmissão. A velocidade das comunicações já era relativamente rápida há algumas décadas,
mas privilegiava a poucos. O que existe de novo é o preço que se paga pelas transferências de
dados, que, do ponto de vista prático, é basicamente gratuito. Isso faz com que a utilização de
artifícios como e-mail, redes sociais, vídeos e podcasts cresça exponencialmente de forma que
as informações disponíveis tendam a ser ilimitadas. A mudança radical nas tecnologias
interligadas da computação e das comunicações está mudando a natureza dos governos e da
soberania, criando uma difusão do poder.
Essa mudança não acontece uniformemente em todos os aspectos. As economias e as
redes de informações tendem a mudar mais rapidamente do que os governos. Nesse sentido,
escalas de soberania e autoridade não cresceram a ritmos semelhantes. Os elementos básicos
da política mundial estão se transformando rapidamente e a visualização dessa dinâmica
70

somente por meio do hard power empregado pelos Estados nação dificulta o entendimento
dessa nova realidade.
Do mesmo modo, transformações tecnológicas são mais rápidas do que mudanças
sociais advindas delas. Isso quer dizer que há um gap entre o surgimento das inovações e a
mudança do comportamento das pessoas (em termos de produção e consumo) decorrente dele.
Isso aconteceu no passado e ainda acontece, mas com diferenças de velocidade. Um exemplo
dado por Nye é a criação do motor elétrico em 1881, que só foi plenamente otimizado
quarenta anos depois, quando Henry Ford descobriu a reorganização das linhas de montagem
para utilizar completamente o potencial daquela inovação.
Esse processo, em contrapartida, tende a se transformar e ficar mais ágil, porque,
conforme visto, a relação de produção e consumo, muitas vezes, confunde-se. Um exemplo é
a criação das redes sociais em tempos presentes, que garantiu maior conectividade entre
amigos, mas rapidamente foi diversificada em usos políticos como nos protestos da
Revolução Verde iraniana contra a reeleição do presidente Ahmadinejad ou na organização de
movimentos que ultrapassavam o espaço físico da Praça Tahir e levaram à queda do
Presidente Mubarak no Egito. Outra forma de utilizar esses meios que não envolvem
atividades políticas são os usos de empresas, em que candidatos a empregos são analisados
previamente nas redes sociais para contratação profissional.
O impacto da tecnologia na sociedade e na política apresenta característica distinta,
que mudou ao longo do tempo e que está relacionada com o controle que os governos
possuem sobre elas. Antes da internet, as mídias prevalentes eram a televisão, o rádio e os
jornais impressos. Em comum entre elas há a forma de poder que os dirigentes políticos têm
sobre a concessão e conteúdo das retransmissoras. É claro que o grau de intervenção varia de
país para país, mas é inegável que há certa forma de controle que centraliza os meios de
transmissão dessas mídias.
A internet, diferentemente, enfatiza a descentralização na forma como as pessoas se
comunicam, sendo sensivelmente menos suscetível ao controle de governos; no entanto, os
movimentos que iniciaram o fim da audiência de massa (CASTELLS, 1999) começaram
antes. A multiplicação de canais na TV, com o sistema à cabo iniciou o processo de
segmentação da audiência, mas também antes disso, em tecnologias como as do agora
longínquo walkman, pôde-se ver que o público tinha possibilidade de isolar programações
própria de músicas que fugiam das redes de rádio convencionais. A rede mundial de
computadores aprofundou essa segmentação e possibilitou que a audiência se tornasse
também produtora de conteúdo, por exemplo, por meio de canais no youtube, onde os
71

programas são gravados por câmeras digitais ou por telefones celulares e transmitidos para o
resto do mundo em apenas um upload ou carregamento do site.
O barateamento dos computadores e sua maior portabilidade, aliados aos custos
baixos já enunciados da internet, faz com que haja menos dependência dos intermediários, as
grandes empresas de televisão, rádios e jornais impressos. As comunicações pela web são
eficientes, eficazes e ilimitadas, de uma pessoa para outra via e-mail, de uma pessoa para
várias outras por meio dos blogs e páginas pessoais e de várias pessoas para uma como é o
caso do twitter. Não que seja impossível o controle sobre essa mídia, mas casos como o da
China e o do Irã mostram que é altamente dispendioso e não completamente eficaz. O ponto
central, nesse aspecto, não é tanto o controle, mas como ocorre a organização social, política e
econômica nesse contexto de rápida inovação tecnológica. Ao contrário da burocratização e
da centralização, ela incentiva a organização em redes, atrai novos tipos de comunidades e
demanda por papéis diferentes dos governos centrais.
Para Nye (2009, p.281), “o que isso significa é que a política mundial não será
apenas um território dos governos” (ele se refere aos centrais).

Tanto as pessoas como as organizações privadas, variando de corporações a ONGs e terroristas, terão o
poder de desempenhar papéis na política mundial. A disseminação das informações significa que o poder
será distribuído mais amplamente e as redes de informações irão minar o monopólio da burocracia
tradicional. A velocidade do tempo na internet significa que todos os governos, em todas as partes, terão
menos controles sobre seus interesses (NYE, 2009, p.281).

Apesar dessa euforia dos efeitos da tecnologia na política mundial, é razoável ser
cauteloso. É verdade que a revolução nas informações está tornando o sistema mais complexo
e elevando novos atores à condição de players internacionais, mas ela também fortalece ainda
mais os Estados poderosos em detrimento dos mais fracos. Os países ricos veem seus
produtos internos aumentarem cada vez mais, enquanto que os pobres vão ficando para trás.
Mesmo que haja países emergentes se beneficiando das novas tecnologias, muitos deles ainda
são compradores e não inovadores nesse sistema. De certo que no longo prazo os países
pobres também se beneficiam dos efeitos da globalização, porque seus baixos custos podem
fazer com que eles pulem algumas etapas no desenvolvimento, mas algumas condições
fundamentais, como infraestruturas de comunicação bem desenvolvidas, mercados de capitais
sólidos e mão-de-obra capacitada não serão rapidamente atingidos.
Existem ainda outros motivos que favorecem nações poderosas mais do que os países
menos desenvolvidos e eles podem ser resumidos no fato de o tamanho da economia ainda
fazer uma diferença (em termos de ganhos de escala), de a produção e coleta de informações
ainda dependerem de altos investimentos (mesmo com a sua transmissão barata, isso quer
72

dizer que mesmo muitos tendo acesso às novas informações, quem as descobrem ou as
adquire antes, têm vantagens competitivas) e de a força militar ser altamente relevante,
mesmo na era da informação; é inegável, entretanto, que passamos por uma época de
mudanças ou turbulência na política mundial (ROSENAU, 1990) ou uma descontinuidade na
história (CASTELLS, 1999).
Alguns autores de vertente construtivista fortalecem os argumentos sobre a
profundidade dessas mudanças. A revolução da informação quebra a organização hierárquica
típica da sociedade industrial. Isso faz com que as jurisdições territoriais sejam cada vez
menos respeitadas com a atuação descentralizada dos atores e com o ambiente virtual em que
ela ocorre. A atuação tradicional é substituída por novos padrões de governança, em que
comunidades e jurisdições são sobrepostas em estruturass de múltiplas camadas de identidade
e lealdade dos indivíduos. Em outras palavras, uma mesma pessoa pode se identificar não só
com estruturas nacionais, senão com entidades subnacionais, redes de advocacy como as
ambientalistas e as humanitárias e comunidades religiosas ou profissionais.
Ainda na perspectiva construtivista, poder-se-ia remeter a períodos pré-Westfalianos,
onde os padrões de comunidade e de governança cruzada eram a regra. Eles só seriam
interrompidos pelo advento dos Estados nacionais soberanos. Essa mesma soberania volta a
ser modificada agora. Apesar de serem comuns os contatos transnacionais nas últimas três
décadas, elas abrangiam pequeno número de elites envolvidas em empresas multinacionais,
comunidades acadêmicas e grupos específicos. Conforme foi dito, atualmente a internet
possibilita a diminuição de custos, que aumenta sua universalidade e proporciona que milhões
de pessoas tenham acesso a contatos mais profundos.

Soberania
Percebe-se, diante do exposto, que na atual política mundial a soberania é seriamente
questionada. Os líderes políticos, por um lado, lutam para manter todas as prerrogativas dos
Estados e temem que a presença dos novos atores (Organismos internacionais, corporações
multinacionais, organizações não-governamentais transnacionais, governos subnacionais)
diminua o poder político sobre seu território; por outro lado, esses mesmos novos atores
questionam a capacidade que os Estados têm para limitar algumas formas de suas atuações.
O Estado estaria sendo desafiado. Os domínios tradicionais de responsabilidade e
atividade estatal (defesa, gestão da economia, lei e ordem, etc.) não conseguem ser garantidos
sem que se institucionalize formas multilaterais de colaboração. Os Estados, com as
crescentes demandas dos anos do pós-guerra, têm enfrentado uma série de problemas de ação
política que não conseguem solucionar sem a cooperação com outros Estados e atores não-
73

estatais (KEOHANE, 1984, McGREW, 1992). Os desafios se encontrariam, tanto no aspecto


da soberania, porque a autoridade política do Estado se vê deslocada e comprometida pelos
sistemas regionais e globais de poder, quanto na legitimidade, porque com maior
interdependência regional e local, não conseguem ofertar bens e serviços fundamentais a seus
cidadãos (HELD e McGREW, 2003).
Para Nye, as discussões acerca do destino do Estado soberano estão sendo pautadas
por visões equivocadas. Para comprovar sua tese, ele cita o cientista político John Ruggie.
Segundo o construtivista: “Existe uma postura mental adotada nesse sentido que é
extraordinariamente pobre, a qual só é capaz de visualizar os desafios a longo prazo ao
sistema de Estados em termos de entidades que sejam institucionalmente substituíveis pelo
Estado” (RUGGIE apud NYE, 2009, p. 287).
Isso significa que novas formas de interação e comunidades transnacionais podem
não substituir os Estados nacionais soberanos, mas modificar a forma como as identidades e
lealdades são formadas com relação ao período anterior ao advento da internet. Assim como
as feiras de comércio medievais não substituíram os feudos, nem as relações de lealdade com
os senhores feudais, mas proporcionou novos padrões de relações comerciais e sociais entre
indivíduos, a internet não substitui os governos centrais soberanos, mas acrescenta uma nova
camada de relações que os Estados não controlam eficazmente.
Diante disso, a questão não é se transformações da revolução da informação irão
solapar os Estados nacionais soberanos, mas como sua centralidade e sua função estão sendo
alteradas na política mundial. Cada vez mais existem problemas que são difíceis de serem
controlados nos limites territoriais em que os governos exercem sua soberania, como as
mudanças climáticas, o terrorismo, as epidemias, os fluxos financeiros, os imigrantes ilegais,
etc. É verdade também que os Estados veem sua soberania diminuir em alguns setores, porém
aumentar em outros, até mesmo em áreas que isto parecia ser menos provável. Exemplos
disso são os problemas com o aquecimento global e com as crises financeiras internacionais
(HELD e McGREW, 2003), especialmente a de 2009. Em ambos, o Estado retomou a
centralidade e a responsabilidade de atuação, no primeiro em propostas como as do Green
New Deal, em que o Estado tem o papel indutor de fortalecer a economia de baixo carbono
(por meio de taxações aos emissores e isenções para as tecnologias limpas) e, no segundo, por
meio de maior regulação dos sistemas financeiros. Os governos acabam cedo ou tarde se
adaptando a novas realidades, mas não há dúvida sobre a mudança que está em curso.
O tema da soberania é ainda controverso do ponto de vista da identidade. A lógica da
sociedade do conhecimento facilita a coordenação e fortalece o poder de ativistas de meio
ambiente ou de Direitos Humanos que se veem como um grupo identitário próprio, no
74

entanto, os líderes políticos, baseados na legitimidade que apresentam como representantes do


povo, abrigam-se sob a soberania que o Direito Internacional lhes confere para evitar qualquer
tipo de intervenção indevida no seu território. Para muitas pessoas, o Estado nacional oferece
uma fonte importante de identidade política que conta para elas, mas, ao mesmo tempo, “as
pessoas podem ter múltiplas identidades cruzadas – família, cidade, grupo étnico, religião,
nacionalidade, cosmopolita -, e qual predomina geralmente depende do contexto” (NYE,
2009, p. 289).
Atualmente, as noções de pertencimento em alguns países podem ocorrer mais
fortemente em nível tribal ou regional (estadual, provincial), assim como em outros a noção
identitária extrapola territorialidades por meio dos auto-intitulados “cidadãos globais” ou
cosmopolitas. Quanto mais as distâncias se aproximam, maior a probabilidade de as pessoas
se confundirem sobre onde repousa sua identidade (ROSENAU, 2004). Ainda é cedo para ver
quais os alcances que a internet e a revolução da informação terão nas sociedades e na política
mundial, assim como se essas mudanças são temporárias ou se vieram pra ficar. O que se
pode dizer é que ela não se parece com a ordem internacional de alguns anos atrás.

Protagonistas transnacionais
Isso pode ser visto não apenas em como os atores se relacionam e em seus meios,
mas pela profusão dos chamados protagonistas transnacionais, ou seja, entidades não estatais
atuando através das fronteiras internacionais (NYE, 2009). A essa altura, cabe diferenciar
conceitualmente as relações internacionais tradicionais das relações transnacionais. A
primeira é discutida em termos de Estado, em que o Chefe de Estado ou uma pequena elite
dirigente fala em nome do país para assuntos externos. A segunda pode ser vista como
“regular interactions across national boundaries when at least one actor is a non-state agent or
does not operate on behalf of a national government or an intergovernmental organization”
(RISSE-KAPPEN, 1999, p.3)
Os protagonistas transnacionais estão diretamente ligados à forma como se
identificam novos padrões de relações no sistema. São eles que caracterizam a existência da
transnacionalidade em um padrão de conduta. De forma qualitativa, esses agentes não são
novidade. Eles desempenham funções importantes há séculos. O que foi modificado em
tempos recentes é a quantidade com que se multiplicaram na última metade do século XX.
“Em um mundo de interdependência global, a agenda política mundial é mais ampla e todo
mundo parece querer participar da ação” (NYE, 2009, p.292).
Cada protagonista transnacional tem interesses próprios e busca satisfazê-los na
arena internacional. Esses interesses não necessariamente se coadunam com o interesse do
75

Estado e, muitas vezes, são conflitivos com os interesses nacionais. Isso ocorre com maior
frequência no âmbito social e econômico, pois questões de segurança geralmente trabalham
com a própria lógica de sobrevivência dos povos e, nesse sentido, tendem a representar
interesses convergentes. Em um mundo em que as relações sociais e econômicas são cada vez
mais complexas, os atores também são mais heterogêneos e pautam seus interesses e
preferências de forma diferente das dos governos centrais.
Não que a existência de múltiplos interesses dentro de um mesmo país seja algo
novo. A política doméstica sempre foi palco de entraves e conflitos entre os diferentes atores
da sociedade. O que acontece na atualidade é que a globalização permite que os interesses
internos tenham capacidade de se comunicarem e de interagirem diretamente com outros
interesses em diferentes países.
Essa descentralização de interesses também se projeta para a desconcentracão de
poderes para fora dos governos centrais. A ideia, já apresentada, é a de que as tecnologias da
informação com sua abrangência, profundidade, velocidade e seus baixos custos fortalecem
atores que não somente os Estados nacionais. O poder não se limita ao uso da força militar e
em outros tabuleiros os jogadores competem com um grau de igualdade maior.
Essa descentralização do poder acontece mais rapidamente em alguns países,
podendo gerar reações contrárias por parte do governo central. “No entanto, a proposição
geral segundo a qual os governos estão perdendo seu monopólio sobre a política externa e que
terão que compartilhar o cenário da política mundial com protagonistas não estatais (...)
parece altamente provável” (NYE, 2009, p. 316).
A figura 3 mostra a difusão de poder para fora do governo central quando as redes
econômicas e de informação mudam algumas funções de governança para níveis inferiores e
superiores de governo, bem como algumas do governo formal para setores privados e do
terceiro setor.

Figura 3 – Difusão do Poder para fora do governo central


76

Privado Público Terceiro Setor

Corporações Organizações Organizações Não-


Transnacionais Intergovernamentais Governamentais (ex.:
Supranacional (ex.: IBM, Shell) (ex.: ONU, OMC) Oxfam, Greenpeace)

Corporações
Empresas Nacionais
Nacionais Governo Central no
Nacional Sem Fins Lucrativos
(ex.: US Airwais) Século XXI
(ex.: Cruz Vermelha)

Governos
Subnacional Empresas Nacionais Grupos Locais
Estadual/Municipal

Fonte: Nye, J. (2009). Cooperação e Conflito nas Relações Internacionais.

Neste trabalho, pretende-se enfatizar a descentralização da coluna do meio da tabela


1, do quadrante Nacional para o Subnacional, mais especificamente, a dos governos
municipais. Tendo como base a discussão conceitual anterior da literatura de globalização e
interdependência pode-se introduzir a análise das causas da paradiplomacia em nível global
que foram elaboradas por Soldatos.
Como se viu, Soldatos lista quatro variáveis externas que influenciam a
paradiplomacia:

- Interdependência global
- Interdependência macrorregional
- Interdependência microrregional
- Envolvimento de atores externos

A Interdependência global significa para Soldatos o aumento da internacionalização


da economia e dos canais de interdependência entre sociedades industriais avançadas, que
causa um impacto duplo nas soberanias do Estado. Ela contribui para a “soberania penetrada”,
na qual as fronteiras nacionais nem sempre conseguem proteger eficazmente as unidades
federadas das influências econômicas, culturais e de low politics externa, como, por exemplo,
o desemprego estrutural.
Nesse sentido, “a literatura mostra que um aspecto que viabilizou inicialmente o
debate a respeito das relações externas dos governos subnacionais foi a existência de
fronteiras porosas entre os países, especificamente o movimento transfronteiriço, denominado
77

perforated sovereignties ou mesmo percolated sovereign boundaries” (VIGEVANI, 2006,


p.128).
Isso leva ao estabelecimento de relações diretas entre unidades federadas e entre tais
atores e corporações multinacionais no cenário internacional. Cada vez mais, a economia
mundial conta com alta mobilidade de capital, com joint ventures, com articulação
interfronteiriça de espaços econômicos e com interações interdependentes que induzem as
unidades federadas a recorrerem à paradiplomacia com objetivos de promover seus interesses
distintos.
A mesma economia mundial e a interdependência podem encorajar os governos
federais a iniciar um processo de centralização da política externa com a intenção de lidar
com o aumento de tamanho dos atores no ambiente internacional, gerando, assim, uma
contrarreação aos desejos das unidades subnacionais de protegerem seus interesses, suas
jurisdições e seus papéis.
Apresentou-se por meio dos conceitos de interdependência, globalização, revolução
da informação e seus impactos na soberania, nas relações transnacionais e na descentralização
do poder no Sistema Internacional, como a interdependência global facilita a atividade
paradiplomática. Diante desse contexto aprofundado pelos estudos liberais-institucionalistas e
globalistas é que se encaixa essa determinante de Soldatos. Os governos locais fazem uso de
uma nova ordem política mundial, que foi possível com as inovações tecnológicas de forma
geral, mas também com a mudança das sociedades, das culturas e das identidades diante desse
novo cenário.
Os fatores de interdependência regional também são importantes determinantes
externas para a atividade paradiplomática. Esses fatores tomam duas formas. Primeiro, na
proximidade geográfica e demográfica, na interdependência ambiental, nas afinidades
culturais e nas complementaridades econômicas, ou seja, nos fatores microrregionais que
levam à cooperação e à paradiplomacia transregional ou transfronteiriça internacional.
Segundo, nas complementaridades e na interdependência mencionadas no formato anterior,
mas que se aplicam às interações macrorregionais, como as que acontecem entre áreas não
contíguas.
As diferenças entre a interdependência micro e macrorregionais têm um referencial
puramente geográfico. As relações paradiplomáticas que envolvem contatos transfronteiriços
ou proximidades entre países, regiões ou municípios recebem o rótulo micro devido às
distâncias em que se contextualizam. Para García Segura (2004), por exemplo, o regionalismo
(na acepção de Soldatos micro-regionalismo) seria, inclusive, um nível de análise distinto
para o caso das Comunidades Autônomas Espanholas (referindo-se, obviamente à integração
78

europeia). As relações paradiplomáticas que percorrem grandes distâncias, mas não abrangem
a totalidade da interdependência como é o caso da global, recebem a alcunha de macro.
No Brasil, esses dois tipos de interdependência estão presentes. Em nível
microrregional pode-se destacar iniciativas como a rede Mercocidades (MERCOCIDADES,
1999, ROMERO, 2004, MARIANO e BARRETO, 2004), o Foro Consultivo de Municípios,
Estados Federados, Províncias e Departamentos do Mercosul (KLEIMAN e RODRIGUES,
2007, SALOMÓN, 2008, KLEIMAN, 2010) e, de forma bilateral, o CRECENEA-CODESUL
(CRESCENEA-CODESUL, 1998, NUNES, 2005, MEDEIROS, 2005, VIGEVANI, 2006,
SALOMÓN, 2011). Independentemente da eficácia dessas iniciativas (muitas funcionam
somente no papel ou em reuniões sem muitos resultados práticos), o fato é que a característica
de regionalidade as inspiraram e as ajudaram a serem criadas.
O regionalismo no Brasil parece ser um fator crucial para a paradiplomacia, como
identifica Salomón,

En el caso específico de Brasil los factores que suelen apuntarse como principales facilitadores o
impulsores de la paradiplomacia son por un lado el factor permisivo, habilitador de la reforma
constitucional de 1988, que diseñó un (nada usual) sistema federal de tres niveles, en el que gobierno
central, estados y municipios son considerados entes federados, y el proceso de integración de Mercosur,
precedido por la aproximación política con Argentina. (SALOMÓN, 2008, p. 3 – grifo nosso).

A relação entre paradiplomacia e regionalismo é bastante aprofundada pela literatura


específica. Vigevani et al (2004) em A Dimensão subnacional e as relações internacionais,
uma obra referência para o Brasil, desenvolvem a atuação transnacional de estados, províncias
e municípios no contexto da integração regional. Além dos casos da América do Sul, os textos
apresentam a participação de governos locais no processo de integração europeia e o próprio
arranjo teórico-conceitual que envolve esses dois fenômenos. Cabe ressaltar também os
estudos de Keating e Jones (1995), onde são aprofundadas as atividades paradiplomáticas
frente ao regionalismo em países já bastante estudados como Espanha, França, Bélgica e
Alemanha, mas também em outros menos tradicionais como Portugal, Grécia, Países Baixos e
Irlanda.
No campo que Soldatos define como macrorregional, podem ser citadas as iniciativas
de governos locais brasileiros no âmbito cultural com cidades portuguesas, japonesas, alemãs
e italianas. Além disso, as cidades e estados brasileiros se aproximaram ou foram alvos de
iniciativas de projetos de cooperação e investimentos por parte de organismos internacionais
(como a Comissão Europeia, o Bird, o BID) e de agências de cooperação de países (como as
japonesas JICA e JBIC, a alemã GTZ e a francesa FCI). É cada vez mais frequente o
79

irmanamento de cidades brasileiras com chinesas, enaltecendo, aparentemente, o novo papel


daquele país na economia mundial.
A última das determinantes externas listadas por Soldatos é o Envolvimento de atores
externos. Nele, a paradiplomacia pode ser resultado da influência e do envolvimento de atores
externos (governos centrais, governos locais e suas redes, organismos internacionais, ONGs
internacionais, empresas transnacionais) em uma unidade federada, por interesses
econômicos, culturais, sociais, religiosos ou políticos. O autor dá o exemplo do
encorajamento de De Gaulle para maior interação entre Quebec e França, assim como dos
países francófonos, que contribuiu, até certo ponto, para o desenvolvimento do perfil
internacional da província. Em casos como esses, os governos locais teriam suas atividades e
políticas como alvos de interesses de outros atores internacionais (HOCKING, 1999).
Para o caso brasileiro, Salomón (2011) crê que esse seria uma das principais
determinantes para a nossa paradiplomacia. O envolvimento é fruto de pressões de fora para
dentro, no qual são os atores externos que tomam as iniciativas.

Na maior parte dos casos a participação brasileira em esquemas de cooperação multilateral ou a firma de
acordos bilaterais com contrapartes estrangeiras resulta de uma iniciativa alheia: rara vez são os governos
brasileiros quem procuram ativamente os vínculos de cooperação ou os potenciais doadores.
(SALOMÓN, 2011, p.-)

Ela cita especificamente três eventos, vindos de fora para dentro, fundamentais
ocorridos nas duas décadas anteriores que influenciaram sobremaneira os governos locais
brasileiros: a celebração em Istambul da Conferência de Nações Unidas “Habitat II”, também
conhecida como “Cúpula das Cidades” em 1996, a criação da organização mundial Cidades e
Governos Locais Unidos (CGLU) a partir da unificação da IULA (International Union of
Local Authorities) e FMU-UTO (Féderation Mondiale de Cites Unies – United Towns
Organization) em 2004, e, finalmente, o programa bi-regional URB-Al lançado pela União
Européia (sob responsabilidade da Comissão Européia), em 1995.
Esse último evento é digno de nota para a autora. Ela cita o grande envolvimento dos
governos locais brasileiros nas redes específicas de política urbana que estão sob o URB-AL.
O programa instrumentaliza a cooperação entre governos locais da União Européia e América
Latina em áreas como mobilidade urbana, democracia local e violência nas cidades.

Os governos municipais brasileiros têm participado em todas as redes temáticas de URB-Al e têm
coordenado numerosos projetos, e também duas redes temáticas: a Rede 9, sobre Financiamento Local e
Orçamento Participativo (a cargo de Porto Alegre) e a Rede 10, sobre a Luta contra à Pobreza Urbana
(sob responsabilidade de São Paulo). (SALOMÓN, 2011, p.-)
80

De certo que essas determinantes externas não só ajudam a entender a


paradiplomacia no país como foram fundamentais para que o fenômeno se desenvolvesse.
Isso é ainda mais importante para países como o Brasil, onde em grande parte de sua atuação
paradiplomática é devida ao fenômeno da “importação” (SALOMÓN, 2011). A
paradiplomacia do sul, como identifica a professora, traz os componentes das atividades
semelhantes dos países desenvolvidos, mas têm características próprias, sendo uma das
principais o maior peso das variáveis externas, ou especificamente a participação de atores
externos, no processo de criação e desenvolvimento das relações transnacionais desses
governos locais.
Ao não utilizar esse nível de análise no modelo explicativo desta dissertação, não se
consideram essas variáveis como não sendo importantes; pelo contrário, tanto o desenho
causal de Soldatos quanto a breve explicação sobre a interdependência só demonstram como
elas corroboram todos os estudos da paradiplomacia. O que essas variáveis não explicam é
por que, diante dessa convulsão e transformação das relações internacionais, determinados
atores (no caso desta dissertação, governos locais) brasileiros atuam internacionalmente e
outros não. Da mesma forma, seria interessante saber por que, mesmo com a influência de
organismos internacionais e de redes de cidades, somente alguns municípios brasileiros
possuem uma atuação transnacional e não a totalidade deles.

Como ficou claro na introdução, defende-se a tese de que, apesar de explicar o


fenômeno da paradiplomacia como um todo, esse nível de análise não dá respostas suficientes
ao caso que se pretende aqui estudar. De forma geral, as variáveis externas, bem como as
domésticas em nível federal, que serão vistas na próxima sessão, impactam com menor
intensidade todos os municípios brasileiros e, nesse sentido, não explicam porque uma
determinada cidade atua internacionalmente e outra não. Mesmo quando os efeitos dessas
determinantes não são uniformes (alguém pode alegar com razão, que a globalização não
impacta de forma igual regiões distintas ou mesmo que atores externos buscam governos
locais específicos para desenvolver relações), a tese defendida é de que são as diferenças
locais que explicam essa distinção de impacto, e não os outros níveis de análise.

2.3.2 Causas Domésticas em nível Federal

A nomenclatura de “federal” dada por Soldatos para esse nível de análise, como se
pôde identificar, está intimamente ligada ao fato de o autor acreditar que são as federações
industriais avançadas os grandes berços do fenômeno. Foi possível notar também que
atualmente isso representa apenas verdade parcial, porque a paradiplomacia, como fenômeno
81

típico da nova ordem política mundial-transnacional, tem ocorrido nos mais diversos cantos
do mundo e nos mais variados regimes e sistemas políticos. Manteve-se a denominação do
autor para o modelo, mas ao invés de olhar as variáveis no nível federal, poder-se-ia substituí-
la por “causas domésticas em nível nacional”12.
Claro que, para o caso brasileiro, a nomenclatura é válida devido à organização
política do país. O federalismo é uma variável importante para estudar a paradiplomacia no
Brasil, principalmente depois da promulgação da Constituição de 1988. Nesse segmento, será
discutida a relação do nível de análise nacional e suas determinantes com a atividade
paradiplomática. De modo geral, apresentam-se alguns fatores nacionais vinculados pelos
especialistas com as causas da atividade transnacional dos governos subnacionais, como o
próprio federalismo, as constituições nacionais, o Estado de Welfare e o princípio da
subsidiariedade. Especificamente, identifica-se a situação do Brasil para cada uma dessas
características. Após essa introdução sobre o ambiente nacional, o modelo de Soldatos
referente às causas domésticas em nível federal será detalhado.
A discussão sobre o surgimento e o desenvolvimento da paradiplomacia em Estados
federados, relaciona-se basicamente ao grau de autonomia e de poder que as unidades
subnacionais disfrutam nesses sistemas. Isso não é uma regra, mas dentro de um arranjo
complexo de funcionamento da atuação transnacional de governos locais, a existência do
federalismo é mais um dos fatores ou determinantes que influenciam a paradiplomacia.
O surgimento das federações como sistemas políticos têm contextos históricos
distintos, geralmente, mas nem sempre, ligados a concertações entre elites regionais e
nacionais após disputas pelo poder político. A inspiração remete à criação dos Estados Unidos
da América como país independente e à densa literatura federalista de Hamilton, Madison e
Jay que influenciaram na Constituição estadunidense.
A perspectiva norte-americana, inicialmente, tinha como noção estratégica a
necessidade dos estados em fortalecer o sistema de defesa, diminuir as desigualdades entre as
unidades federativas e pôr em prática as leis nacionais criadas pelo congresso que não tinham
aplicação devido à responsabilidade primordial dos estados, adquiridos nos artigos da
Confederação (LIMONGI, 2000). A Federação traria mais centralização às ações do novo
Estado criado.
A federação não é uma iniciativa que sempre visa maior autonomia e maior poder
local. O exemplo anterior, inclusive, demonstra como o caminho que se busca atualmente, de

12
Até mesmo o uso da palavra “causa” é problemático, dado que, como será visto mais a frente, os métodos
estatísticos utilizados para testar o modelo das determinantes, nomeadamente a regressão, não pressupõem
causalidade entre as variáveis. Respeitando o modelo de Soldatos, manteve-se também essa denominação.
82

maior poder local, foi baseado em uma posição oposta à adotada pelos Estados Unidos, da
Confederação para a Federação. O que a paradiplomacia discute hodiernamente, em termos de
federação, é a proteção dos atores subnacionais contra a força e o poder da União, tentando
manter e aumentar algumas de suas prerrogativas, inclusive na política externa.
O que diferencia Estados unitários de federações e federações de confederações é o
grau de centralização política, que pode ser representada pelas prerrogativas da ação externa
(KINCAID, 1994).

Nessa linha, vários autores utilizam o monopólio da política externa como um elemento que simboliza
esse grau de concentração de poder e faz que uma federação se aparte de uma confederação. Assim, caso
as unidades inseridas num Estado composto detenham capacidade de atuação externa, integram elas uma
confederação de estados, ao passo que, se não detiverem tais prerrogativas, compõe, então, uma federação
(PRAZERES, 2004, p.287).

Fica evidente que essa discussão ocorre na distinção entre autonomia e soberania dos
entes (con)federados.
Nas federações, mesmo que as unidades subnacionais sejam apenas dotadas de
autonomia e nunca de soberania, a atuação transnacional dos governos locais é facilitada,
porque a autonomia e as responsabilidades que assumem na política doméstica, fruto das
separações de competências federativas, é facilmente extrapolada para o âmbito internacional.
Há um contexto maior nisso, como foi visto no caso da interdependência, que também facilita
esse acesso ao exterior, mas as prerrogativas que as unidades subnacionais possuem na
federação geralmente são fatores que as colocam a frente de outros governos locais de
sistemas unitários (dada a inexistência atual de países confederados).
Argumenta Lecours, nesse sentido,

Why this growth in paradiplomacy? Several factors contributed to it. First, the federalization or
decentralization of several states (Spain, Belgium, South Africa and even France) over the past twenty
years has made paradiplomacy possible. After all, there could be no such phenomenon without regional
governments with genuine political autonomy (LECOURS, 2004, p.117).

Quanto ao contexto brasileiro, a formação do Estado possui algumas idiossincrasias


se comparada ao modelo federativo tradicional. Em efeito, o Brasil não surgiu como Estado
Federado, existindo a forma unitária até a Constituição de 1891 e que, desde então, manteve-
se até os dias atuais com a garantia da última Constituição de 1988. A partir desse concerto
democrático, verifica-se que a federação brasileira não é uma federação típica, já que nos
modelos clássicos só há um poder político central (União) e os centros regionais de poder
(estados).
83

A República brasileira é composta por quatro espécies de entes federados dotados de


autonomia, duas delas de entes típicos (União e estados) e duas de entes atípicos (Distrito
Federal e municípios). É o Estado Federado a República Federativa do Brasil, pessoa jurídica
reconhecida pelo Direito Internacional, o único titular da soberania. Os entes federados
(União, Estados, Distrito Federal e Municípios) são todos autônomos e nunca soberanos, nos
termos da Constituição Federal (PRAZERES, 2004, RODRIGUES, 2009).
Conforme será apresentado a seguir, esse é um dos pontos que especialistas
brasileiros enaltecem como uma das determinantes principais para a paradiplomacia do país
(SALOMÓN, 2011). A ideia é que essa condição de ente federado deu aos municípios
brasileiros um status diferenciado se comparados a suas contrapartes em outros países.
Tendo esse contexto como referência, existe uma discussão sobre até que ponto os
estados e municípios podem utilizar as responsabilidades atribuídas pela Constituição como
meio legitimador da atuação transnacional. Alguns autores e gestores locais defendem que a
cooperação internacional em áreas como educação básica, meio ambiente e saúde, por
exemplo, seria permitida, já que não extrapolam suas competências. De forma distinta,
discute-se a necessidade de a Carta Magna se pronunciar diretamente sobre a atuação
internacional de governos locais e estaduais no Brasil.
Existe uma relação intrínseca entre o federalismo e as organizações normativas
máximas dos países, e não poderia ser diferente. O que garante essa repartição de
competência no Estado Federado é a Constituição. Por isso, outro ponto fundamental na
discussão da paradiplomacia é se, do ponto de vista doméstico, ela legaliza esse tipo de
atividade.
Alguns países tratam a atuação paradiplomática explicitamente, com artigos que
legalizam e legitimam normativamente a sua existência. Esse é o caso da Alemanha, da
Bélgica, da Suíça e da Argentina (RODRIGUES, 2009, BARROS, 2009). Outros países não a
permite de forma direta, mas se regem em princípios nos quais isso fica evidente. Esse é o
caso dos Estados Unidos, em que se faz presente o princípio da subsidiariedade.
No Brasil, não há competência constitucional que garanta a atuação internacional dos
governos locais, segundo a própria Constituição Federal em seus art. 21 e 84. No primeiro é
determinado que “compete à União manter relações com Estados estrangeiros e participar de
Organizações Internacionais”, no segundo, “compete privativamente ao Presidente da
República manter relações com Estados estrangeiros e acreditar seus representantes
estrangeiros; ainda, celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeito a referendo do
Congresso Nacional” (PRAZERES, 2004, p. 295-296).
84

Isso não significa que falte discussão sobre a constitucionalidade das ações
paradiplomáticas e nem que inexistem iniciativas de lei para legalizá-las. No capítulo anterior,
identificou-se que uma das linhas de pesquisa mais desenvolvidas na paradiplomacia reside
no campo jurídico. Na determinante sobre as incertezas constitucionais será apresentado um
pouco mais sobre o caso brasileiro.
Do ponto de vista não normativo, há explicações diferentes para a paradiplomacia
que surgem do nível de análise doméstico federal. A ideia de Estado de bem-estar social
(Welfare) é uma delas. Ela tem consequências diretas sobre a forma como entes federados,
ademais da União, atuam em favor dos cidadãos.
Segundo Duchacek (1990), a preocupação pelo welfare teria estimulado a tendência
à adaptação de estados e municípios para executar políticas públicas transnacionais. Teria
aumentado a percepção de que as questões locais se entrelaçam com o mundo externo,
concepção esta que atinge parte da população, viabilizando o suporte social para ações
governamentais dessa natureza (VIGEVANI, 2006). A nova fronteira da gestão urbana
consiste em situar cada cidade em condições de enfrentar a competição global da qual
depende o bem-estar de seus cidadãos (BORJA e CASTELLS, 1998).
No caso do Brasil, pode-se supor que uma das razões pelas quais cidades e estados
aumentaram sua preocupação com o mundo exterior é o fato de que, em tempos recentes, são
percebidos como agentes de desenvolvimento econômico (VIGEVANI, 2006). Assim como
em outros países, as unidades subnacionais no Brasil atuam externamente na busca de
desenvolvimento econômico e de promoção comercial de suas regiões. Inúmeros
governadores e prefeitos de algumas cidades têm agido nesse sentido (VIGEVANI; PRADO,
2009).
Isso não se refere apenas ao campo da paradiplomacia, mas também às políticas
domésticas.

Os municípios hoje enfrentam um duplo desafio: precisam assumir políticas antes a cargo da União ou,
secundariamente, dos estados, tanto para assegurar condições mínimas de bem-estar social às suas
populações (função de Welfare) como para promover o desenvolvimento econômico com base em ações
de âmbito local, o que envolve o estabelecimento de um novo tipo de relacionamento com o setor privado
(função desenvolvimentista) (ABRÚCIO e COUTO, 1996, p.40).

Abrúcio e Couto (1996, p.41) creem, nesse sentido, que

os municípios, portanto, precisam redesenhar sua atividade estatal. Na área social, ao contrário da
impressão geral presente na opinião pública, estados e, sobretudo, municípios assumiram boa parte da
responsabilidade por estas políticas, que, de maneira geral, antes cabiam à União.
85

Os gastos com saúde e educação nos municípios brasileiros só aumentam, “o que


demonstra o quanto essas unidades têm cada vez mais assumido o papel de welfare”
(ABRÚCIO e COUTO, 1996, p.41). E para assumir essas funções, os municípios têm que
buscar uma transformação na estrutura administrativa e nas formas de financiamento. A
paradiplomacia poderia ser (e pelos casos brasileiros relatados em estudos de caso, já é) um
dos meios para se atingir esses objetivos. São cada vez mais comuns tanto financiamentos de
projetos específicos por agências internacionais, quanto cooperações descentralizadas em
termos de boas práticas na administração pública (HAFTECK, 2003).
Outro princípio que se refere à política nacional como um todo e recorrentemente é
relacionado à paradiplomacia é o da subsidiariedade. Ele se relaciona mais com a própria
lógica da política doméstica de repartição de competências dos entes nacionais do que
propriamente com as questões internacionais. O princípio é apresentado em estudos
internacionais, principalmente naqueles que envolvem formação de blocos regionais
(especificamente, a União Europeia) e a representatividade das comunidades locais.
“O princípio de ‘subsidiariedade’ é muito antigo; está presente no pensamento de
Santo Tomás de Aquino, e, nos séculos XVIII e XIX foi invocado por teóricos de tradições
muito diversas como Locke, Proudhon, Tocqueville, Stuart Mill e Kant”. (STUART, 2004,
p.124). Ele representa na acepção moderna a ideia de que as decisões devem ser tomadas e
executadas sempre que possível mais próximas dos cidadãos. Para os que aplicam o termo nas
relações internacionais, o fortalecimento do local incluiria a atuação no âmbito internacional
como forma de representar mais democraticamente os anseios das comunidades locais e de
atrair maior desenvolvimento a cada uma das regiões.
Conceitualmente,

O termo encerra uma certa contradição. Vindo originariamente do latim subsidium, que significa ‘ajuda’,
foi adquirindo uma conotação diferente mais próxima ao significado comum do termo ‘subsidiariedade’,
centrado na referência a um elemento principal e a um elemento suplementário (subsidiarii, em latim)
(STUART, 2004, p.124-125)

Essa interpretação é que levou o princípio de subsidiariedade ao Tratado da União


Europeia e que leva o Comitê das Regiões a defender sua aplicação não restrita à esfera da
relação dos Estados membros com o bloco, mas também à relação dos Estados com suas
regiões, comunidades e municípios (GRESS, 1996, STUART, 2004).
No âmbito da construção do Bloco e na manutenção das prerrogativas dos países,
“tal como as atuais comunidades, a União Europeia não deve conduzir a um estado
centralizador e, de acordo com o princípio da subsidiariedade, não seriam cometidas à União
86

senão tarefas que os Estados membros não poderiam realizar com eficácia” (PARECER DO
COMITÊ DAS REGIÕES apud STUART, 2004, p.125). Na esfera interna dos Estados, o
princípio também serviu como reivindicação para aumentar o poder das comunidades locais.
A subsidiariedade foi negociada em diversos acordos e tratados da União Europeia, como o
Tratado de Amsterdã de 1999, que tinha como intensão aproximar o poder ainda mais dos
cidadãos e não manter somente as prerrogativas dos Estados nacionais perante o bloco
regional13.
Há um debate acerca da abrangência do princípio na política real. As polêmicas
circunscrevem-se, em grande parte, ao âmbito constitucional, mais especificamente à
legalidade das ações de estados e municípios em suas atuações internacionais. Segundo
Vigevani e Prado (2009), a constituição norte-americana prevê, em seus artigos 1º e 2º, a
responsabilidade do Congresso e do Presidente sobre assuntos externos e militares, mas não
veta explicitamente a atuação dos outros entes federados. Ademais, por meio da décima
emenda, “certamente pode-se afirmar que no caso norte-americano há princípios de
subsidiariedade fortemente enraizados” (VIGEVANI e PRADO, 2009, p.9) porque esse
dispositivo garante aos estados e ao povo qualquer poder que não seja delegado ao governo
central pela constituição ou que por esta não seja proibido aos entes federados.
Para os autores, no Brasil a situação é um pouco distinta. Apesar de a Constituição de
1988 acenar nessa direção, não há clara indicação da validade do princípio de subsidiariedade;
no entanto, é comum identificar, tanto na literatura quanto no discurso político, argumentos
que apelam ao princípio. Essa posição reitera que a atuação de estados e municípios advinda
de suas competências enunciadas na Constituição Federal, como as citadas questões de
educação, saúde, segurança e meio ambiente, pode extrapolar as fronteiras nacionais por meio
de acordos de cooperação, trocas de boas práticas e financiamento externo.
Tendo como contexto as ideias supracitadas de federalismo, constituições, welfare e
subsidiariedade, o ambiente doméstico em nível nacional aparece como fonte de
determinantes fundamentais para a atividade paradiplomática. Soldatos listou alguns pontos
específicos sobre como a política doméstica influencia a atuação transnacional dos governos
subnacionais.

13
Para uma explicação mais detalhada sobre a evolução do uso do princípio nas diversas negociações dos
tratados da União Europeia, ver STUART, Ana Maria. Regionalismo e democracia: o surgimento da dimensão
subnacional da União Europeia. In Vigevani et al, 2004.
87

- Erros/ineficiências federais
- Problemas com “processo de construção da nação”
- Gaps institucionais
- Incertezas constitucionais
- Domesticação da política externa

Por Erros/ineficiências federais na condução das relações exteriores o autor entende


os problemas relativos à burocratização, à insuficiência de expertise, aos recursos limitados, à
segmentação objetiva e perceptiva, etc. As unidades federadas tentam, nesse sentido, por meio
de seu envolvimento internacional, remediar essas situações. A ideia central dessa
determinante é que a falta de capacidades ou a negligência proposital do Estado vai de
encontro a algumas demandas fundamentais dos entes subnacionais, de modo específico, seus
anseios por trazer benefícios presentes no ambiente externo para populações locais.
Para o caso específico do Brasil, existe discussão bastante madura sobre como o
serviço diplomático mantém distância tanto da sociedade quanto do jogo político-partidário. É
ilustrativa a defesa de Lima (1994) sobre as características do Itamaraty. Para ela,

El MRE detenta, sin embargo, algunos recursos que, en las condiciones políticas antes delineadas, hacen
que los factores institucionales pesen en la formalización de la política exterior. Por otro lado esos
mismos recursos organizacionales aportan insumos suplementarios para comprender la relación no
necesariamente lineal entre régimen político y política exterior (LIMA, 1994, p.33).

Ela continua,

el primer de ellos deriva de las características institucionales propias de Itamaraty, que lo aproximan al
modelo clásico de civil service, con patrones regulares de carrera, control sobre el reclutamiento, el
sistema de entrenamiento y la valorización profesional. Como los ministerios militares, que también
detentan el control interno sobre la carrera militar, el MRE se diferencia de las demás agencias del
Estado. Tal recurso institucional dio a sus miembros una fuerte identidad organizacional, alimentada
desde muy temprano por la larga permanencia en el tiempo de esta agencia del Estado, capaz de
desarrollar una perspectiva estratégica, en el sentido de focalizar el largo plazo, sirviendo antes a los
intereses eventuales de gobiernos específicos (LIMA, 1994, p.33).

É a segunda característica que interessa mais, porque o insulamento burocrático


blinda a participação de outros atores na política externa de forma direta, pelo menos do ponto
de vista oficial do Estado brasileiro (defendeu-se anteriormente aqui que os atores atuam
transnacionalmente por vias muitas vezes não-oficiais). Esse seria um exemplo claro do que
Soldatos chama de erros ou ineficiências federais para a presente dissertação. A falta de
canais institucionais que deem acesso a outros atores (não só governos locais, mas
movimentos da sociedade civil organizada, partidos ou até corporações) faz com que o
fenômeno das “muitas vozes” na política externa se intensifique ou fique mais evidente.
88

Nesse sentido, ela explica

La segunda característica de la organización, que es a un tiempo un asset y una fragilidad, es el alto grado
de aislamiento de su burocracia en relación a los influjos provenientes de su ambiente político y social.
Eso es una consecuencia tanto de la institucionalización del servicio diplomático antes mencionada, como
de su misión organizacional principal que no genera vínculos específicos o clientelas particulares en la
sociedad y en la política interna. En tanto recurso, el aislamiento burocrático torna al MRE menos
permeable a las injerencias políticas que se vuelven endémicas en contextos administrativos como el
brasileño, caracterizado por la escaza institucionalización de la administración pública. Además, permite
la formación de una policy community, en el sentido que la literatura especializada da a una “comunidad
orgánica de actores en torno de una política sectorial fuerte y estructurada”, que, en este caso, se confunde
con la propia organización. Pese a todo, el aislamiento fragiliza a la organización, una vez que la menor
inserción en el ambiente interno o la ausencia de “abogados” en la sociedad torna al poder de la
burocracia dependiente de la autorización del Poder Ejecutivo, como se argumentó arriba (LIMA, 1994,
p.33-34).

Uma terceira característica ainda é identificada pela autora. Refere-se à produção de


conteúdos das políticas setoriais mencionadas e à capacidade que o ministério tem para
conseguir respaldo interno (que não de outros atores não-governamentais) para defendê-los.
Isso fortalece ainda mais a homogeneidade da instituição.
Essas características também são defendidas por Castro Neves (2003). Segundo ele,

As discussões sobre os rumos da política externa brasileira raramente ocupam espaço na agenda política
do país. Em princípio, dois fatores se destacam como responsáveis por essa característica da política
brasileira. Em primeiro lugar, a existência de uma burocracia especializada e institucionalizada, o Serviço
Exterior Brasileiro, faz com que a formulação da política externa brasileira seja um processo praticamente
insulado do restante das instituições estatais, ou seja, distante de influência político-partidária. Em
segundo lugar, há o relativo desinteresse dos representantes políticos brasileiros sobre as questões
internacionais, que ainda não repercutem significativamente em debates eleitorais (CASTRO NEVES,
2003, p.1).

Na tese do autor, essa segunda característica é desmitificada, já que defende que o


Legislativo e, consequentemente, o jogo político-partidário nele presente função importante
na política externa, principalmente nos temas de integração, mas muitas vezes ele não é
visível. De qualquer forma a primeira característica continua uma verdade e corrobora os
argumentos de Lima.
Em contrapartida, vê-se uma posição de autocrítica por parte do governo central,
pelo menos nos últimos anos. A esse respeito, é importante considerar as palavras do então
presidente Fernando Henrique Cardoso em entrevista de 1998, bem citado por Rodrigues
(2004):

Tudo o que era relação com o exterior cabia à União. Hoje o número de governadores que anda pela Ásia,
pela Europa, pela América Latina, e pelo Mercosul, é muito grande. Às vezes eles informam a União,
outras você nem fica sabendo. No fundo eles assumem a representação que era da União para as suas
regiões, e alguns têm tido êxito em buscar fontes de comércio e tecnologia (...). O Itamaraty no começo
89

não assimilava essa ideia, porque a relação com o exterior era monopólio da União. Os governadores têm
agora essa função e alguns prefeitos também (CARDOSO apud RODRIGUES, 2004, p.452).

O governo federal sob Lula, apesar das mencionadas especificidades presentes na


burocracia das relações exteriores, não esteve alheio ao adensamento da atuação dos estados e
municípios. Pode-se afirmar que houve, por parte da União, tentativas de remediar esse déficit
institucional. Isso pode ser verificado desde o governo do PSDB, com a criação em 1997 da
Assessoria de Relações Federativas (ARF), mas que se manteve no governo seguinte com
outra nomenclatura, a Assessoria de Assuntos Federativos e Parlamentares no Ministério das
Relações Exteriores (AFEPA/MRE) (NUNES, 2005, RODRIGUES, 2006, SALOMÓN,
2011).
Tanto a ARF coordenou quanto a AFEPA coordena os escritórios regionais do MRE,
em número de oito atualmente (SALOMÓN, 2011). Durante o governo Lula a assessoria
assumiu também a relação com os parlamentares. Apesar disso, a AFEPA tem pouco poder de
controle sobre os atores subnacionais. Isso ocorre, em grande parte, pela falta de recursos de
pessoal e de orçamento para esse tipo de acompanhamento.
Em tempos recentes, e em decorrência do exposto, algumas opiniões vindas do
Itamaraty não defendem o controle das atividades paradiplomáticas por meio de um
argumento de autoridade sobre a política externa, senão pela percepção de que a consulta ou a
prestação de contas à Chancelaria evitaria problemas futuros para os próprios governos
estaduais e municipais. O argumento é o de que o Ministério só é acionado quando surgem
problemas nas atividades paralelas e que isso poderia ser evitado se soubessem de antemão
das iniciativas locais. Essa visão é, no mínimo, curiosa, já que o Itamaraty não tem a mínima
ciência sobre as outras centenas ou milhares de iniciativas que são exitosas e, portanto, não
requerem a intervenção do MRE.
Polêmicas à parte, o que se percebe atualmente no país é uma política deliberada de
delegação de responsabilidades devido à complexidade de temas referentes aos interesses
locais e das regiões fronteiriças. “Os governos centrais têm-se defrontado amiúde com
insuficientes recursos, conhecimentos e flexibilidade para dar conta daquelas realidades”
(LESSA, 2002, p. 26).
Da mesma forma, afirmam Vigevani e Prado (2009, p.3) que “a inserção das
unidades subnacionais no cenário internacional está relacionada à reestruturação dos Estados
nacionais e às dificuldades enfrentadas por eles para responder às demandas das regiões”.
Ademais, “em alguns casos a ineficácia da centralização de parte do governo central
possibilitou a emergência de mecanismos de descentralização que criaram oportunidades para
as instâncias regionais e locais”.
90

A segunda determinante em nível doméstico federal se refere às Incertezas


constitucionais em dividir competências na política externa. Segundo Soldatos, elas podem
encorajar unidades federadas a buscar papéis na política externa. O exemplo dado pelo autor é
novamente o do Canadá, onde o Quebec reconheceu tais incertezas constitucionais e tratou de
desenvolver posição constitucional na busca de um papel na política externa e na invocação
do princípio da “extensão internacional das competências domésticas”. Um caso citado é o da
jurisdição provincial em questões de educação e cultura, que sugeriu os acordos internacionais
do Quebec de 1960. Nesse sentido, cada vez mais em batalhas constitucionais desse tipo, as
unidades federadas tendem a adotar políticas de ocupação de área, exercendo, assim, funções
de facto na política externa, na tentativa de consolidar posições para uma subsequente
confirmação de jure desses papéis.
Em países como o Brasil, em que a condição não é expressa, há discussões em torno
da necessidade de autorização constitucional para a paradiplomacia, pois, na perspectiva de
alguns juristas, os artigos 21 e 84 da Constituição Federal são proibitivos; no entanto,
opiniões distintas foram apresentadas no âmbito legislativo.
Em parecer da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, o
relator do projeto de Emenda Constitucional 475, de 200514, Deputado Ney Lopes, argumenta
no seu arquivamento que “nada há no texto constitucional que impeça Estados, Distrito
Federal e Municípios de celebrar atos internacionais (com pessoas físicas ou jurídicas,
públicas ou privadas, contratos, acordos ou convênios, etc...)” (Parecer CCJC apud BARROS,
2009, p. 121).
Ainda segundo o relator, a liberdade de celebrar atos é decorrente da autonomia
declarada no art. 18 da Constituição Federal e explicitada em outros artigos, como o art. 30.
Sua liberdade é ampla e submissível a apenas dois limites:

a) em casos onde o legislador constituinte deliberou restringi-la (vide artigo 52, inciso V); b) o próprio
conjunto de competências atribuídas aos entes estatais pela Constituição da República. Assim, parcela
componente da autonomia estatal não pode ser diminuída ou extinta, sob pena de avançar sobre a própria
natureza jurídica dos entes estatais. De resto, certamente não caberia aos Estados, ao Distrito Federal ou
aos Municípios celebrar, por exemplo, atos internacionais cujo tema seja nacionalidade ou moeda.
Vemos, portanto, que a esses entes estatais é possível celebrar atos internacionais, sim, mas,
naturalmente, dentro da esfera da respectiva competência (Parecer CCJC apud BARROS, 2009, p.121,
122).

14
A PEC de autoria do Deputado André Costa (PSDB/RJ) dispõe sobre a possibilidade de estados e municípios
agirem internacionalmente ao acrescentar um parágrafo 2° ao art. 23 da Constituição Federal para permitir que
promovam atos e celebrem acordos ou convênios com entes subnacionais estrangeiros. Se a proposta fosse
aprovada ela passaria a viger com a seguinte redação: “§2º Os Estados, Distrito Federal e Municípios, no âmbito
de suas respectivas competências, poderão promover atos e celebrar acordos ou convênios com entes de
subnacionais estrangeiros, mediante prévia autorização da União, observado o artigo 49, e na forma da lei”
(RODRIGUES, 2008, BARROS, 2009).
91

Essas alegações do deputado são discutíveis. Prazeres (2004) recorda que, desde a
década de 1920, o Itamaraty, por meio de pareceres de sua Consultoria Jurídica, reitera o
monopólio da União sobre a política externa (apesar de certa flexibilidade na prática). Ela cita
o exemplo mais recente proferido por Capachuz de Medeiros, sobre a possibilidade dos entes
subnacionais celebrarem tratados e convênios internacionais: “(...) a ordem constitucional
pátria é categórica ao conceder expressamente à União competência para conduzir as relações
exteriores. Não faz nenhuma concessão às unidades federadas, sejam Estados, Municípios ou
o Distrito Federal” (Parecer MRE/CJ n. 13/1999 apud PRAZERES, 2004, p.298).
O debate só comprova o quadro de incerteza constitucional presente no país. Assim
como em grande parte do mundo, o silêncio da Carta Magna possibilita que as vozes dos
diversos atores se multipliquem e soem mais altas. A brecha jurídica verificada é uma
determinante importante para a atuação paradiplomática no país. Não que a letra de lei tenha
capacidade de interferir diretamente no mundo real e “criar” atividade paralela de estados e
municípios, senão que a não proibição explícita motiva aqueles que, por uma série de
determinantes, têm interesse pela atividade. Ademais, as constituições, em grande medida,
exprimem os anseios latentes da sociedade e, muitas vezes, representam consequências da
política real e das dinâmicas sociais, e não o contrário.
Os Problemas com o “processo de construção da nação”, segundo Soldatos,
também poderiam levar à paradiplomacia. A adesão à defesa de um interesse nacional único
por meio de ações de política externa pode ser difícil e sugerir o controle subnacional das
relações exteriores. Ele exemplifica isso com a crise sistêmica canadense nos anos 1960 e
1970, que foi também uma crise na política externa, dado o conflito entre Quebec e Ottawa
sobre os papéis internacionais. Outro caso dado pelo autor é o belga, mas em proporção
menor.
Esse tipo de determinante é muito mais latente em países heterogêneos, inclusive em
termos identitários. As rivalidades entre as regiões extrapolam a política doméstica e a forma
de consenso para ter uma voz externa única é problemática. Geralmente, os que se sentem
pouco ou nada representados têm motivos a mais para se lançarem autonomamente ao
exterior.
No Brasil, apesar da presença marginal dessa determinante no Rio Grande do Sul,
como bem relata Nunes (2005, p.59) (“o último estado brasileiro a entrar na federação”), vê-
se como pouco relevante na paradiplomacia no país. Mesmo no estado gaúcho as razões
apontadas para a forte internacionalização têm mais relação com atributos econômicos,
geográficos e culturais do que, unicamente e principalmente, às questões política específicas
92

da construção da nação. No próximo capítulo, será discutido melhor o caso do Rio Grande do
Sul.
A quarta determinante em nível federal apresentada por Soldatos refere-se aos Gaps
institucionais. A falta de instituições federais centrais representando as unidades federadas,
que possibilitem influências na política externa (mas também na política como um todo), pode
incentivar a atividade paradiplomática. Voltando ao caso do Canadá, Soldatos aponta para a
inexistência de um Senado como o dos Estados Unidos ou da Bundesrat alemã, que possuem
representação dos estados e as prerrogativas na política externa, que é um fator no
desenvolvimento da paradiplomacia provincial.
Isso acontece especialmente no Canadá porque o parlamento tem papel menos
relevante na política externa e os partidos governantes nem sempre (dependendo da situação
nacional do partido governante) são representativos de todas as regiões do país.
Para o caso brasileiro, há uma discussão já introduzida sobre a participação do
Legislativo na política externa. Somam-se a isso discussões mais profundas sobre se o
Congresso e as bancadas estaduais tendem a atuar em prol especificamente de suas regiões.
Esse tema dá margem a longas discussões, que não terão lugar neste estudo, mas é importante
ressaltar que do ponto de vista da atuação do Congresso nos assuntos internacionais do país
compartilha-se das conclusões de Castro Neves (2003). Em outras palavras, acredita-se que o
Executivo possui hegemonia sobre a política externa, embora a participação do Legislativo
não seja irrelevante como o senso comum pode induzir.
Mesmo assim, Rodrigues (2008, p. 1022) afirma que

o Senado Federal – onde os Estados federados estão representados de maneira homogênea e simétrica,
cada qual com três cadeiras – não funciona como espaço de relações intergovernamentais, à maneira, por
exemplo, do Bundesrat alemão. Ou seja, o Senado não atua como uma Casa em que os Estados e os
municípios dialogam e decidem sobre ações coordenadas e cooperativas em temas comuns. O Senado, no
Brasil, é mais fiscalizador e autorizador de políticas públicas. No campo das relações exteriores, a agenda
da Câmara Alta se concentra em aprovar tratados internacionais, autorizar operações de paz da
Organização das Nações Unidas – ONU, avalizar as indicações de chefes de missão diplomática
permanente – registre-se que tudo isso é feito sem nenhuma tradição de debate público sobre o impacto da
agenda internacional no cotidiano dos Estados federados e dos municípios, ou mesmo na vida do país.

É bem verdade que o governo central vem tentando diminuir esses gaps.
Demonstração disso é a criação de áreas dentro dos órgãos públicos federais responsáveis por
tratar do tema. De forma específica, a criação da Assessoria para a Cooperação Internacional
Federativa Subchefia de Assuntos Federativos, dentro da Secretaria de Relações Institucionais
da Presidência da República (SAF/SRI). Essa teria sido a principal inovação institucional do
governo Lula (SALOMÓN, 2011) e não tanto a criação da já referida AFEPA no Ministério
das Relações Exteriores.
93

Para Salomón (2011), foi a SAF quem encampou na administração federal de forma
mais direta os interesses embutidos nas atividades de cooperação internacional dos estados e
municípios em suas diferentes dimensões, com destaque para a cooperação subnacional no
MERCOSUL.
A SAF coordena o Foro Consultivo de Municípios, Estados Federados, Províncias e
Departamentos do Mercosul (FCCR) no Brasil, que tem a participação de estados, municípios
e associações de representação municipalistas em seu organograma. Além das reuniões
oficiais do foro, ela desenvolve e apoia eventos e reuniões que buscam solucionar questões
fronteiriças no nível subnacional (SALOMÓN, 2011).
Ademais, a SAF chefia a delegação brasileira no Fórum de Governança Local Índia-
Brasil-África do Sul e acompanha o protocolo de cooperação entre a presidência da república
e as regiões italianas e cooperação descentralizada e federativa franco-brasileira (KLEIMAN,
2009).
Essas duas últimas iniciativas merecem destaque porque modificam a forma de
atuação paradiplomática no país a partir do momento em que apresentam um canal distinto e
legítimo de atuação dos governos subnacionais brasileiros (pelo menos do ponto de vista do
governo central). A União assinou, nessas oportunidades, dois acordos que preveem a
possibilidade de a cooperação descentralizada ocorrer no âmbito das competências dos
governos subnacionais. Tratam-se de documentos adicionais aos acordos-quadro, existentes
entre Brasil e Itália e Brasil e França.
Houve avanços sobre o arcabouço jurídico e sobre a diminuição dos gaps
institucionais neste âmbito da cooperação. Possibilidade fática seria o estabelecimento de
acordos-quadro de cooperação descentralizada entre o governo brasileiro e de outros Estados.
Existiria amparo institucional do governo federal e respeitar-se-ia a ideia tradicional de que
cabe somente ao Estado nacional traçar as diretrizes da política externa. Pesa contra esta
alternativa o fato de que o governo federal seria responsável, em toda e qualquer hipótese, por
ditar as diretrizes e os limites dos acordos a serem estabelecidos na esfera dos governos não-
centrais; no entanto, não há dúvida que a determinante gaps institucionais tem peso relativo
na paradiplomacia.
Tanto isso é verdade que, no Brasil, o governo central busca diminuir essas brechas
com órgãos específicos que podem, ao mesmo tempo e de forma paradoxal, incentivar
atividades paradiplomáticas (quando as legitimam e as fomentam) e aumentar seu controle ou
sua tutela sobre os entes subnacionais.
Ao contrário de opiniões otimistas quanto a participação de órgãos federais na
paradiplomacia e em seu papel de liderança (caso emblemático é a coordenação do capítulo
94

brasileiro do FCCR, que é da Presidência da República e não de um ente subnacional como


acontece, por exemplo, no Uruguai), vê-se com preocupação que as atividades
paradiplomáticas brasileiras tenham cada vez mais dependência do governo central. Nesse
sentido, a diminuição dos gaps institucionais pode, no curto prazo, catalisar as atividades dos
governos locais, ao abrir uma porta oficial para a paradiplomacia sob o pretexto de falta de
capacidade operacional dos governos subnacionais, mas também representa maior controle no
longo prazo, que pode minar o potencial das atividades descentralizadas.
Soldatos aponta como última determinante em nível doméstico federal a
Domesticação da política externa. Ela representa a ênfase constante e substancial da política
externa em assuntos de low politics, que motiva as unidades federadas com competências
constitucionais e interesses sistêmicos a desempenharem funções na política externa com o
objetivo de proteger seus direitos constitucionais e a ser capazes de responder aos desafios
modernos da vida internacional.
A ilustração do autor é o White Paper’on foreign policy canadense dos anos 1970,
que enfatizava em quatro das seis “metas nacionais básicas” assuntos e objetivos domésticos:
crescimento econômico, meio ambiente harmonioso, qualidade de vida e justiça social. Os
provinciais eram, indiretamente, estimulados a entrar na arena da política internacional e
negociar esses temas de relevância doméstica em nível internacional.
Essa perspectiva é aprofundada pela já citada transformação da política na era da
interdependência. Nela, a separação sobre o que é interno ou externo a um país torna-se
indistinto (NYE, 2009). Ela também é, recorrentemente, traduzida pela expressão relações
“intermésticas”. Isso acontece quando

horizontal and vertical federalism are beginning to overlap and to penetrate each other, resulting in
"perforated sovereignties” that give the constituent entities of a federation access to new functions in the
system and express the tendencies to merge international relations with domestic affairs into "intermestic
affairs”. (GRESS, 1996, p.55)

No caso brasileiro, a ideia de domesticação da política externa para os governos


locais fica visível na mensagem do presidente da Confederação Nacional de Municípios aos
novos prefeitos eleitos em 2008. Ele adverte:

sabe-se que os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), estabelecidos pela Organização das
Nações Unidas (ONU) como metas para a redução da pobreza extrema até 2015, só poderão ser
alcançados se houver de fato um engajamento dos governos locais de todo o mundo. No Brasil, esse
quadro é ainda mais evidente quando compreendemos que as oito Metas do Milênio estão diretamente
associadas às competências municipais (CNM, 2008, prefácio).
95

Assim como nas determinantes do nível externo, as causas domésticas em nível


federal têm parcela fundamental na explicação do fenômeno da paradiplomacia. As incertezas
constitucionais, os erros e as ineficiências federais e os gaps institucionais com certeza são
explicações elucidativas da atividade transnacional dos governos locais.
Não é um engano pensar, por exemplo, sobre o “papel clave que ha tenido el
gobierno federal en la conceptualización de la cooperación descentralizada como estrategia de
desarrollo y como dimensión de la política exterior nacional” (SALOMÓN, 2008, p.3); ou
que “a preocupação pelo welfare teria estimulado a tendência à adaptação de estados e
municípios e sua busca no sentido de fazer política também em direção ao exterior”
(VIGEVANI, 2006, p.129). Pelo contrário, essas são peças fundamentais para resolver o
quebra-cabeça do fenômeno da paradiplomacia; entretanto, da mesma forma que o nível de
análise global, elas não são úteis para o modelo explicativo aqui pretendido.
As variáveis nacionais têm pouco poder para distinguir, por exemplo, por que
cidades, como a de Camaçari na Bahia, apresentam áreas de relações internacionais nas
burocracias municipais e outras, como Niterói, não. As incertezas constitucionais existem
para todas as 5562 cidades brasileiras estudadas nesta dissertação, bem como os gaps
institucionais e os erros e as ineficiências federais atingem todos os municípios de modo
similar.
O que responde à pergunta de pesquisa não se encontra nos níveis de análise global e
doméstico-nacional. Eles são extremamente importantes para entender o que prevê a
paradiplomacia, por isso insistiu-se em apresentá-los de forma até exaustiva, focando,
obviamente no caso brasileiro; no entanto, a solução buscada para o problema de pesquisa, ou
seja, por que alguns governos locais atuam internacionalmente, enquanto outros não, está no
local. Neste nível de análise é possível entender as distinções entre unidades subnacionais
municipais brasileiras e por que apenas alguns apresentam áreas internacionais. Essas
variáveis ou determinantes explicativas são o tema central do próximo capítulo.
96

CAPÍTULO 03 – É O LOCAL, ESTÚPIDO!

Já é bastante conhecida a história da expressão que marcou as eleições de 1992 entre


Bill Clinton e George Bush e que inspira o título desse capítulo. A frase It’s the economy,
stupid!, usada pelo estrategista político da campanha democrata, James Carville, referia-se à
ideia de que, em última instância, os eleitores se preocupam com o seu bem-estar e com a
situação econômica do país na hora de escolher seus representantes. O pleito de 1992 estava
praticamente garantido para os republicanos, já que o governo Bush ia bem em termos
políticos - a queda do Muro de Berlim e, principalmente, a vitoriosa empreitada da Guerra do
Golfo trouxeram grandes dividendos ao então presidente; no entanto, a recessão que dava
indícios de fortalecimento e os índices preocupantes de desemprego foram fundamentais para
que o até então pouco conhecido ex-governador do Arkansas se tornasse o 42º presidente dos
Estados Unidos.
A expressão não muito polida, desde então, teve grande força, tanto no debate
eleitoral presidencial quanto nas discussões políticas americanas em geral. Ela se tornou lugar
comum e foi repetida inúmeras vezes com uma série de versões, que incluíam termos
diferentes entre as palavras “it’s the” e “stupid” – inclusive a inversão it’s the politics, stupid!
para tratar de temas tão diversos como a crise da zona do Euro ou os contenciosos nucleares.
Dizem os manuais de boa redação que se deve, sempre que possível, fugir dos lugares
comuns, mas essa regra não foi respeitada para o título deste capítulo. Faz-se coro às repetidas
paráfrases para imprimir a ideia do possível paradoxo de se encontrar a resposta para um
fenômeno internacional justamente no local.
Entre as muitas possíveis explicações para a atuação transnacional dos governos
locais brasileiros, retiraram-se do modelo aquelas que poderiam caracterizá-la como
fenômeno das Relações Internacionais. De fato, este trabalho poderia muito bem se encaixar
em uma literatura de Ciência Política porque trabalha a princípio com um conteúdo,
essencialmente, doméstico: a presença de determinado tipo de burocracia nas administrações
públicas municipais brasileiras (apesar dessa divisão entre campos de estudo nem sempre ser
clara, e às vezes nem importante). O que faz do presente trabalho, contudo, apto àquele campo
é o objetivo de tal burocracia, responsável pela atuação transnacional do governo local.
Vinculou-se a decisão da administração municipal a um movimento mais amplo, do fenômeno
da paradiplomacia, mas até aí as variáveis externas foram desprezadas. A peculiaridade do
estudo está justamente nessa nova abordagem, dado que os estudos até então existentes
tentavam trabalhar a atuação paradiplomática unicamente por meio de fatores globais ou da
política nacional comparada (LECOURS, 2008).
97

A perspectiva das Relações Internacionais sobre a paradiplomacia carecia de


abordagem explicativa que analisasse os fenômenos pela vertente doméstica-local. Sabendo
disso e dispostos a modestamente preencher parte dessa lacuna foi possível chegar à outra
conclusão ainda mais importante: de que só é possível entender os fatores que levam governos
locais de um mesmo país a atuar transnacionalmente por meio da ótica local. A resposta já
estava, de certa forma, embutida no modelo de Soldatos, porém sem o devido recorte por
textos subsequentes.

3.1 As determinantes domésticas em nível local

Foi possível identificar no capítulo anterior como as determinantes no nível de


análise externo e doméstico-federal influenciam na paradiplomacia. Mostrou-se como, por
exemplo, a interdependência, a globalização, a revolução da informação, a desconcentração
de poder, os novos protagonistas transnacionais e as mudanças da concepção de soberania
incorrem, desde uma perspectiva global, no funcionamento da atividade transnacional dos
governos locais.
Do ponto de vista nacional, apresentaram-se conceitos importantes, como o
federalismo, a constituição, a subsidiariedade e a noção de welfare, que se relacionam com as
determinantes domésticas em nível federal listadas por Soldatos. Essa ótica identificou como
as especificidades presentes na formação do Estado têm relação direta com as atividades
paradiplomáticas.
Tentou-se evidenciar também porque esses fatores causais, apesar de serem
importantes para explicar o fenômeno em geral, não fornecem a resposta fundamental
perseguida por esta dissertação. Nesse sentido, é importante repetir a dificuldade ou a
impossibilidade dessas variáveis em distinguir os municípios brasileiros entre os que possuem
uma área internacional e os que não a têm. Além disso, havendo essas duas classificações,
quais são os fatores que influenciam nessa distinção.
Defende-se que as repostas buscadas se encontram no nível de análise local; é tarefa,
portanto, deste capítulo apresentar: o que Soldatos entende por esse nível de análise, a própria
compreensão deste estudo sobre as variáveis domésticas em nível local, como elas são
aprofundadas de acordo com outras teorias e casos existentes, como são adaptadas para o caso
brasileiro e como são traduzidas em indicadores possíveis de serem trabalhados no método
estatístico.
As informações presentes no modelo de Soldatos embasarão o modelo estatístico,
entretanto, buscar-se-á ir além da explicação teórica apresentada pelo autor. Serão utilizadas
98

como fundamento inicial muitas das informações presentes em seu modelo, mas a intenção
principal é desenvolver uma explicação das determinantes locais para a atuação internacional
dos governos subnacionais por meio de estudo empírico compatível com a realidade
brasileira.
Ademais dos ensinamentos de Soldatos, foi agregado o aporte de outros autores que
não trabalham especificamente com modelos explicativos gerais, mas acabam desenvolvendo
em estudos específicos, matérias compatíveis com aquilo que se pretende fazer uso nesta
dissertação, como é o caso dos estudos quantitativos sobre o México (SCHIAVON e
FARFÁN, 2005) e os EUA (McMILLAN, 2008) e também os qualitativos sobre Brasil,
Argentina, Espanha, Alemanha, França, Canadá, Bélgica, Rússia, etc.
Os estudos de caso apresentam evidências importantes sobre variáveis locais, porque
são poucos os estudos teóricos da paradiplomacia que focam nas causas desse nível de
análise. As práticas de estados, municípios, províncias, cantões, etc. ou o contexto local em
que eles estão contidos podem evidenciar que as características próprias dos governos
subnacionais contribuem de forma crucial para suas atividades transnacionais.
Conforme exposto no capítulo anterior, Soldatos faz uso do conceito de segmentação
para explicar o fenômeno no qual os governos locais e regionais assumem certo protagonismo
no processo de racionalização da política externa (SOLDATOS, 1990). Foi dito também que
ele aplica esse novo conceito, introduzido por Duchacek, em contraposição à ideia de
fragmentação, que costumava usar, mas que, a seu ver, se tornou inadequado, dado que nem
sempre a segmentação representa fenômenos desintegradores – o que poderia ser implicado
com o conceito anterior.
A ideia de segmentação é ainda mais importante para as causas domésticas locais,
porque tanto a vertente objetiva quanto a perceptiva vão influenciar os processos seguintes.
As variáveis restantes desse nível de análise - Regionalismo/Nacionalismo, Assimetria das
unidades federadas, Crescimento das unidades federadas e o “Me-tooism” -, ao contrário dos
dois grupos de causas anteriores, serão dependentes diretos das determinantes presentes no
mesmo nível de análise (segmentações objetiva e perceptiva).
Nesse sentido, é importante explicar de forma mais detalhada a segmentação e por
que ela centraliza a grande maioria dos indicadores do modelo estatístico. Para Soldatos, a
segmentação objetiva e perceptiva são as bases da segmentação política e de atores, que
levam à paradiplomacia. Todos esses tipos de segmentação remetem ao que, anteriormente, se
chamou de segmentação territorial ou vertical, em que diversos atores da federação buscam
papéis nas relações exteriores do país. Por trás de todos esses conceitos está a noção de que a
99

diferenciação das unidades federadas se comporta como uma faísca de um processo de


combustão, ou seja, é o ponto inicial do desenvolvimento da paradiplomacia.
Por isso que no caso específico das causas domésticas em nível local, a segmentação
objetiva e a perceptiva darão insumos para o aparecimento das Assimetrias e do Crescimento
das unidades federadas, do processo de Regionalização e Nacionalização e do fenômeno do
“Me-tooism”. Seguem nos próximos parágrafos as definições dessas determinantes e as
explicações sobre as relações entre elas, coisa já advertida por Soldatos, quando afirma que
“usually this determinants are interrelated” (SOLDATOS, 1990, p.43).

- Segmentação objetiva
- Segmentação perceptiva (eleitoralismo)
- Regionalismo/nacionalismo
- Assimetria das unidades federadas
- Crescimento das unidades federadas
- “Me-tooism” (imitação)

3.1.1 Segmentação Objetiva

A Segmentação objetiva para Soldatos refere-se a características que distinguem as


unidades federadas uma das outras e, portanto, do resto do país. Essa segmentação pode, além
de criar conflitos de interesse na perseguição de política externa centralizada do país, induzir
as elites locais, bem como a sua população, a acreditar na necessidade de atividades externas
mais diretas e autônomas. Essa indução permite aos entes federados visualizar suas
especificidades, em termos situacionais e de interesse.
A ideia de indução é fundamental para se entender por que utilizar características
locais como variáveis da paradiplomacia no Brasil. Parte-se do pressuposto que as condições
presentes nos municípios têm relação direta com a decisão dos gestores locais decidirem se
lançar ao exterior. Isso se materializa por meio do processo de segmentação perceptiva que
será detalhado mais adiante, mas que, resumidamente, significa a compreensão das elites
locais de que as características do meio onde governam impulsionam atividades
paradiplomáticas, ou pelo menos dão condições para que a decisão de atuar
transnacionalmente seja levada adiante (tendo como pressuposto também que a ideia de atuar
internacionalmente é opção possível para o município – e acredita-se que dificilmente algum
prefeito acha essa hipótese impossível).
100

As características locais apontadas por Soldatos não são exatas. Ele mesmo as define
de forma superficial como “geographic, cultural, linguistic, religious, political, and other
characteristics” (SOLDATOS, 1990, p. 44). Essa “falha” já foi apontada na literatura:
“Soldatos claims to build an explanatory framework for regional foreign activities. Close
reading of his article can, however, only lead to the conclusion that he does not live up to
those expectations” (BURSENS e DEFORCHE, 2010, p.154). Segundo os autores, isso
ocorre porque

he stops short from building a theoretical framework from which hypotheses can be developed with
respect to the conditions that lead to particular types of paradiplomatic activities. As a result, his
conclusions are limited to claims such as “can be the result of”, “can lead to” or “contributes to”
(BURSENS e DEFORCHE, 2010, p.155).

Em outras palavras, ele não dá detalhes sobre quais são exatamente as características
ou quais indicadores definem as determinantes; no entanto, a intenção do artigo era construir
um modelo explanatório teórico-normativo, assim, a interface empírica é, de fato, pouco
desenvolvida. No capítulo anterior, apresentaram-se, de forma mais profunda, alguns indícios
das determinantes em outros níveis. Neste capítulo ou, de modo mais amplo, nesta
dissertação, tem-se também como desafio a tradução desses possíveis indicadores para cada
uma das determinantes do nível local. Espera-se com isso complementar empiricamente o
modelo de Soldatos ou saná-lo das críticas existentes, de modo que tenha maior aplicabilidade
em casos concretos.
Quando se fala, por exemplo, em características econômicas, listaram-se alguns
indicadores possíveis para definir o que elas significam, como o PIB, o PIB per capita, as
exportações e o comércio corrente dos municípios. Similarmente, apresentaram-se índices
palpáveis para as outras características. Cada um dos indicadores será detalhado mais a frente
com suas respectivas medições, fontes e critérios de escolha.
Na literatura, e especialmente nos estudos de caso, é comum identificar como a
segmentação objetiva, nas suas diversas características, influencia a paradiplomacia. Foi
citado, por exemplo, como o aspecto da identidade é importante nos casos do Quebec
(FELDMAN e FELDMAN, 1990) e do País Basco (LECOURS, 2007). Este último será visto
com mais detalhes adiante quando for discutida a determinante Regionalismo/Nacionalismo.

3.1.1.1 Características Econômicas


101

O viés econômico também é presença quase unânime nas explicações sobre a


paradiplomacia, seja nos países desenvolvidos, como no caso dos estados americanos
(McMILLAN, 2008), seja nos emergentes, como no caso da cidade de São Paulo
(VIGEVANI; PRADO, 2009). A ligação ocorre em dois vieses, o primeiro, apresentado no
primeiro capítulo, está relacionado com o interesse econômico dos governos subnacionais ao
se lançarem ao exterior. A noção principal embutida aí é a de que a busca pelo
desenvolvimento econômico (parceiros comerciais, exportações e atração de investimentos)
motiva os gestores locais a atuar paradiplomaticamente.
O segundo viés remete à concepção de que as características econômicas presentes
nas regiões possibilitam que as atividades transnacionais sejam postas em prática. Os níveis
de renda e o montante do comércio e de investimentos que aumentam os produtos internos
brutos dos locais se tornam determinantes da paradiplomacia. Foca-se nessa segunda
perspectiva para desenvolver o modelo explicativo, dado que os interesses das autoridades
locais nem sempre remetem à atividade paradiplomática15.
Existem alguns estudos quantitativos que corroboram o viés econômico, como o caso
do México. Farfán e Schiavon (2005) desenvolveram um modelo estatístico que considera
determinantes políticas, geográficas e econômicas da atuação dos estados mexicanos. Nesse
último tipo, eles assinalam a hipótese de que “As the income level of the entities is greater, as
measured by their GDP (2002), it can be argued that they will have more economic resources
to invest in public policies, such as, greater international participation”(FARFÁN;
SCHIAVON, 2005, p. 17). Depois de rodado o modelo estatístico, concluem que “with the
exception of the Distrito Federal, that states with higher income will have higher levels of
international participation” (FARFÁN; SCHIAVON, 2005, p. 18).
Da mesma forma, as determinantes econômicas estão presentes no modelo
quantitativo de McMillan para o caso dos estados norte-americanos. A hipótese dele é a de
que “greater economic interdependence of a state should lead to greater foreign policy
activities by that state’s governors” (McMILLAN, 2008, p. 238). Ao contrário do PIB,
medido no modelo mexicano, o autor apresenta os indicadores de investimento externo direto
e de exportação. Ele espera, assim, que “foreign policy activities should rise with an increase
in state FDI” e que “foreign policy activities should rise with an increase in state exports”
(McMILLAN, 2008, p. 238).
Em estudos qualitativos essa variável também foi trabalhada. Elas estão presentes
nos mais variados casos, desde as relações da região do Tartaristão na Rússia com países

15
ver mais sobre essa discussão no capítulo 1.
102

ocidentais para venda de petróleo e com os países mulçumanos para venda de produtos
industrializados (SHARAFUTDINOVA, 2004), até as “quasi-embassies” econômicas de
Flandres, que atuam dentro das embaixadas da Bélgica, cujos representantes possuem status
de “trade commissioners”16 (PAQUIN, 2010). A respeito do último exemplo, é digno de nota
o avanço da Bélgica nas atividades paradiplomáticas. Segundo Paquin, elas são as mais
desenvolvidas do mundo em termos institucionais, ao ponto que “the Belgian ambassador has
no superior hierarchical authority over the representatives of substate actors. As one Flemish
civil servant has observed, with respect to Flemish exclusive matters, ‘there is nothing more
useless than a Belgian ambassador’” (PAQUIN, 2010, p. 18).
Para o Brasil, podem-se apresentar alguns casos que corroboram as características
econômicas da segmentação objetiva. Para Vigevani e Prado (2009, p. 20),

e forma semelhante ao padrão internacional, as unidades subnacionais no Brasil atuam externamente na
busca de desenvolvimento econômico e promoção comercial de suas regiões. Inúmeros governadores e
prefeitos de algumas cidades têm agido nesse sentido.

No caso específico das cidades, há exemplos como o de São Paulo – que tem atuação
mais ativa do que o seu próprio governo estadual (VIGEVANI; PRADO, 2009) – e Porto
Alegre – profissionalizada por meio da criação da Secretaria de Captação de Recursos, que
atua junto a organismos internacionais de financiamento (MARX, 2002). Essas características
econômicas são reiteradas em outras cidades brasileiras como Belo Horizonte, onde a
Secretaria Municipal Adjunta de Relações Internacionais foi criada para tratar, entre outras
coisas, dos financiamentos externos de agências de cooperação internacional e dos
investimentos externos da iniciativa privada no município. Outro exemplo, em porte mais
modesto, ocorre com atuação de Camaçari, em que a Secretaria Extraordinária de Relações
Internacionais foi institucionalizada com o fim de responder às condições de suas
exportações, do seu polo petroquímico e do seu polo industrial.

3.1.1.2 Características geográficas

Outro aspecto bem destacado pela literatura que se encaixa nas características da
segmentação objetiva é o da localização geográfica, de especificamente, das relações
subnacionais tranfronteiriças. Os exemplos são muitos: entre o norte de Portugal e a região

16
Segundo Paquin (2010), das 100 “quasi-embassies” flamengas 90 são direcionadas a assuntos econômicos,
enquanto que 10 são representações políticas, em que os servidores são designados “advisers”, também sem
relação hierárquica com o embaixador. Quando as relações da região se dão com países europeus as
representações tendem a ser separada da embaixada da federação.
103

espanhola da Galícia (GARCIA SEGURA, 2004) e a “Regio Basiliensis, na qual a Basiléia,


isolada do restante da Suíça pelas Montanhas do Jura, divide a fronteira do Vale do Reno com
a Alemanha e a França, gerando envolvimentos específicos quanto à integração econômica
europeia” (HOCKING, 2004, p. 86).
Ainda no âmbito europeu, pode-se citar a Eurorregião Báltica (que envolve governos
locais da Letônia, Lituânia, Polônia, Rússia e Suécia), a região de Rhein-Wall (entre a
Alemanha e os Países Baixos), os Pirineus (entre regiões da Espanha e da França), a Arge-
ALP (região fronteiriça entre Itália, Alemanha, Suíça e Áustria) e a Alpe-Aldri (governos
locais fronteiriços da Itália, Áustria, Eslovênia, Croácia e Hungria) (STUART, 2004).
As relações entre cidades-gêmeas17, no âmbito do Brasil com suas contrapartes na
América do Sul representam bem como a localização geográfica impulsiona as relações
transfronteiriças na região (STEIMAN, 2002, RIBEIRO, 2001). Além disso, a rede
Mercocidades e o próprio Foro Consultivo de Municípios, Estados Federados, Províncias e
Departamentos do Mercosul (FCCR) têm preocupações com o tema fronteiriço no contexto
do bloco regional, traduzidas por meios de grupos de trabalhos específicos (KLEIMAN,
2010).
A concepção do governo federal sobre a relevância desse fenômeno é um
termômetro para se entender como as relações transfronteiriças ocupam a agenda das políticas
públicas nacionais voltadas para a fronteira. Nesse contexto,

O governo federal vem desenvolvendo diversas iniciativas voltadas para o fortalecimento da integração
da faixa de fronteira por meio da coordenação e articulação de diversas ações ministeriais. O Programa de
Desenvolvimento da Faixa de Fronteira, coordenado pelo Ministério da Integração Nacional, contempla
cinco projetos-pilotos de integração econômica e social entre cidades fronteiriças que já possuem algum
tipo de interação: entre o governo estadual do Amazonas e o Departamento do Amazonas da Colômbia
(cidades gêmeas de Tabatinga e Letícia), o governo estadual do Mato Grosso do Sul e o Departamento de
Amambay no Paraguai (cidades gêmeas de Ponta Porá e Pedro Juan Caballero), o governo estadual de
Santa Catarina, do Paraná e da Província de Misiones (cidades gêmeas de Dionísio Cerqueira, Barracão e
Bernardo Irigoyen) e o governo estadual do Rio Grande do Sul e a Província de Corrientes na Argentina
(Uruguaiana e Paso de los Libres, e Santana do Livramento e Rivera). O programa tem como propósito
promover a integração e potencialização de cadeias produtivas regionais, criar ou revitalizar os comitês de
fronteira e mobilizar a sociedade civil da região e promover uma maior coordenação da prestação de
serviços públicos e do planejamento urbano regional (TREVAS, 2006, p. 34).

Fora do âmbito federal, são muitos os casos de cooperação descentralizada presente


na fronteira brasileira18. Tantos os estados quanto os municípios fronteiriços atuam de forma

17
O Ministério da Integração Nacional define cidades-gêmeas como adensamentos populacionais cortados pela
linha de fronteira – seja esta seca ou fluvial, articulada ou não por obra de infraestrutura – que apresentam
grande potencial de integração econômica e cultural, assim como manifestações “condensadas” dos problemas
característicos da fronteira, que aí adquirem maior densidade, com efeitos diretos sobre o desenvolvimento
regional e a cidadania.
18
Para mais informações ver a publicação Fronteiras em Debates, da Confederação Nacional de Municípios
(2008). Nela, estão presentes exemplos de como as interações da fronteira acontecem em nível subnacional.
104

independente da esfera central. As cooperações vão desde coisas pontuais, como o auxílio de
carros de bombeiros quando há focos de incêndio do outro lado da fronteira, até programas de
intercâmbio de professores da rede pública municipal para ensinar línguas (CNM, 2008).
As fronteiras também tiveram espaço central na teoria e nos modelos explicativos.
Segundo Duchacek (1990), os contatos entre regiões nas fronteiras são quase tão velhas
quanto à humanidade. Nesse sentido, o autor denomina um dos seus três tipos de
paradiplomacia de “regional transfronteiriça”. Ele a define como “transborder contacts –
institutional, formal, and, above all, informal – which are predominantly conditioned by
geographic proximity and the resulting similarity in the nature of common problems and their
possible solutions” (DUCHACEK, 1990, p. 17).
Hocking reitera essa visão ao afirmar que “entre os determinantes do envolvimento
internacional de uma região estão, obviamente, as ligações que esta tem com o sistema
internacional, e, nesse caso, uma variável fundamental é, sem dúvida, a geografia”
(HOCKING, 2004, p. 86). Ele conclui: “quando a proximidade territorial estimula o
desenvolvimento de vínculos transnacionais e transgovernamentais entre autoridades
regionais e os países vizinhos (...) intensifica-se o envolvimento internacional” (HOCKING,
2004, p. 86).
Nos modelos quantitativos não acontece de forma diferente. A localização geográfica
das unidades subnacionais é levada em consideração nos modelos estatísticos conhecidos.
Para o caso mexicano tem-se a justificativa que

being in a border situation should push federal units to establish contact and to cooperate with those
territorial units with whom they share a common boundary. Therefore, it can be assumed that border
states should have a higher level of international participation compared to non-border states” (FARFÁN
e SCHIAVON, 2005, p. 22).

Os autores concluem, após execução dos cálculos, que “although the geographical
factor has played an important role in the states’ degree of international activity (especially in
the case of the northern border), some central states (Jalisco, Estado de México, and
Guanajuato) seem to be an exception to this rule” (FARFÁN e SCHIAVON, 2005, p. 25).
No caso dos Estados Unidos essa variável também está presente. No modelo de
McMillan “U.S. states bordering Canada or Mexico are also coded as dichotomous variables”
(McMILLAN, 2008, p. 240) e a conclusão é a de que

Além disso, ela apresenta os problemas que os prefeitos da região da Faixa de Fronteira enfrentam (tanto de
cunho político, quanto legal, econômico e social), e as demandas e soluções para desses problemas.
105

border states’ governors are also much more likely to be involved in foreign policy. This fits with
assumptions in the literature as these governors are more likely to meet with their counterparts in Canada
and Mexico as well as deal with issues such as immigration and border security in a greater degree
(McMILLAN, 2008, p. 244).

3.1.1.3 Características Políticas

Aspecto distinto da segmentação objetiva se relaciona com as características


políticas. Especificamente, o tema político-partidário toma grande parte dos estudos da
paradiplomacia. Ele está presente, basicamente, em dois vieses. O primeiro remete à relação
entre partidos dos governantes locais e do chefe de governo central. O segundo refere-se às
próprias características do partido que assume o cargo executivo das unidades subnacionais
(prefeitos e governadores), ou seja, se são mais abertos, do ponto de vista ideológico, às
relações paradiplomáticas. O primeiro viés será exposto a seguir. A discussão ideológica será
tratada na parte de segmentação perceptiva, mas somente por questões formais, porque se
entende que o partido do prefeito é também um fator objetivo de diferenciação dos
municípios.
Farfán e Schiavón (2005, p. 21) sintetizam bem as relações dos partidos nas diversas
esferas:

It can be assumed that when the state governor belongs to the same political party as the federal
executive, they share a similar political program. Therefore, the foreign policy put into effect by the
Ministry of Foreign Affairs would be a good representation of the interests of these states internationally.
In this way, the states whose governor shares the same political party affiliation with the federal executive
do not have much incentive to participate in the international arena. Hence, low level international
participation in these states should be observed. In contrast, those state governors who do not share the
same political party affiliation with the federal executive should have different interests, and they should
have more incentives to participate in the internationally.

Apesar dessa hipótese, eles concluem que para o caso mexicano, empiricamente, ela
não se verifica. “the fact that a state is governed by a political party different than the party
governing at the federal level, is not a variable which explains the states’ level of international
participation” (FARFÁN e SCHIAVÓN, 2005, p. 22).
No caso norte-americano, novamente pode-se ver a interação da variável com a
paradiplomacia. McMillan faz uso dos argumentos de Kincaid (1984), de que a variável
“partido” pode auxiliar na explicação do porquê os governadores americanos tomam posições
na política externa. Além disso, “as the governors’ party is always included in U.S. state
politics literature and may be an explanatory factor, it is included in analysis. (…) Whether
the governor’s party affiliation matches with that of the president is also coded as a dummy
variable” (McMILLAN, 2008, p. 240).
106

Essa relação entre partidos da esfera central e das esferas locais e intermediárias
seguem a mesma lógica do que se verá mais adiante ser a Assimetria das unidades federadas.
Nela, resumidamente, os governos locais e regionais que se veem prejudicados pelas elites
locais com maior influência sobre o governo central decidem atuar de forma autônoma nos
assuntos internacionais. Aqueles que têm canais de acesso à política externa interrompidos,
em detrimento das regiões mais influentes, possuem incentivos à paradiplomacia. No caso da
Assimetria, as razões referem-se ao poder econômico e político basicamente, entretanto para o
caso da característica político-partidária da segmentação objetiva é dominante o componente
partidário.
Para o caso brasileiro, Vigevani e Prado (2009) apresentam diagnóstico no âmbito
qualitativo. Para eles, assim como no caso mexicano, essa variável não é válida, já que “no
Brasil o fato de governadores e prefeitos de cidades importantes, como São Paulo, integrarem
partidos diferentes e em oposição ao governo central em exercício, não trouxe como
conseqüência ativismo paradiplomático” (VIGEVANI e PRADO, 2009, p. 18). Eles
continuam,

ao contrário, nos últimos anos a coincidência entre o partido político que administra alguns estados e
prefeituras com o governo federal presidido por Luís Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores
(PT), tem tido como resultado maior ativismo paradiplomático de parte dessas administrações
(VIGEVANI e PRADO, 2009, p. 18).

Os autores dão exemplo concreto para chegar a sua conclusão.

No caso de Porto Alegre, o Fórum Social Mundial foi iniciado em 2000 por uma prefeitura liderada pelo
Partido dos Trabalhadores (PT) com um governo nacional dirigido pelo Partido da Social Democracia
Brasileira (PSDB). A ação continuou em 2003, quando o governo nacional foi liderado pelo Partido dos
Trabalhadores (PT). Quando a prefeitura mudou de mãos, esta ação de política internacional recuou. O
mesmo Fórum foi realizado em 2009 em Belém, onde o governo estadual do Pará está dirigido pelo
Partido dos Trabalhadores (PT), o mesmo partido do governo nacional (VIGEVANI e PRADO, 2009, p.
18).

Eles afirmam que para os casos dos estados de São Paulo e do Rio Grande do Sul,
estudados a fundo pelo Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (CEDEC), essa
premissa também não é válida.
No modelo estatístico, será testada a possibilidade descrita na literatura e, de forma
empírico-quantitativa, será identificado se as conclusões de Vigevani e Prado se aplicam
quando a quantidade de observações aumenta. Pelo fato de haver um presidencialismo de
coalizão com a presença de grande número de partidos, seria difícil trabalhar com partidos
isoladamente. Optou-se por fazer uma análise de blocos partidários, tendo em mente a ideia
de base aliada e oposição.
107

3.1.1.4 Características sociais

A última categoria de características da segmentação objetiva listada para o modelo


estatístico é das sociais ou socioeconômicas. Elas são menos comuns, mas foram alvo de
estudos da paradiplomacia em outros escritos, principalmente para o que se convencionou
chamar cooperação descentralizada (HAFTECK, 2003).
Essa literatura é bem vasta e considera projetos internacionais desenvolvidos por
unidades subnacionais, que têm relação com as suas competências locais. Grande parte deles
tem a temática social como objeto. São projetos que envolvem educação, cidadania, saúde,
saneamento e serviços sociais; entretanto, as iniciativas extrapolam a temática social e são
voltadas também para a mobilidade urbana, as ações para a proteção do meio ambiente, as
questões do clima, a democratização e a participação das decisões de políticas públicas por
parte da população etc.
Os fatores sociais como determinantes também estão presentes em estudos
específicos sobre a explicação do fenômeno. As determinantes sociais, assim como as
econômicas, geográficas, políticas e culturais, diferenciam unidades federadas entre si e por
isso estão presentes no modelo estatístico deste estudo. No estudo quantitativo dos estados
norte-americanos, por exemplo, elas são medidas, dado que “socioeconomic variables can
illustrate differences between states so unemployment rates (…) are incorporated (…).
Educational attainment of persons 25 years and over is used as measure of human capital…”
(McMILLAN, 2008, p.239). Elas são incluídas no modelo como variáveis de controle, mas
pressupõe-se que tem capacidade de distinguir um estado dos demais, porque atuam sobre
diversas variáveis, inclusive na dependente.
No caso brasileiro não serão utilizados nem os dados de desemprego, nem o nível de
escolaridade de pessoas com 25 anos ou mais. Serão usados dois indicadores sociais básicos.
O primeiro é o Índice de Desenvolvimento Humano municipal (IDH-M), medido pelo
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Ele fornece um panorama
geral sobre as condições sociais em cada um dos 5562 municípios brasileiro, ao levar em
consideração os dados municipais de PIB per capita, de expectativa de vida e de nível de
escolaridade. Sobre este último fator, acrescenta-se outro indicador, relacionado à educação
superior. A intenção é saber se há relação entre áreas internacionais e presença de instituições
de ensino superior no município.
108

3.1.1.5 Excluindo as características culturais

Cabe ressaltar que na visão de Soldatos há características importantes que para o


caso brasileiro não são relevantes. Isso acontece com a questão da identidade, da língua e da
religião, que não têm relação direta com a atuação paradiplomática dos governos locais
brasileiros.
Países como Canadá, Espanha ou Bélgica tiveram um processo histórico de formação
do Estado que afetou diretamente sua segmentação e, por consequência, as características de
sua paradiplomacia. No Brasil, embora a formação do Estado tenha envolvido diversas
correntes migratórias com povos heterogêneos, não houve processo de segmentação dessa
natureza, muito menos distritos, municípios ou estados onde as minorias em nível nacional
tenham se imposto como hegemônica culturalmente em nível regional.
Apesar de haver resquícios de discurso de identidade, por exemplo, nas motivações
do estado do Rio Grande do Sul para desenvolver atuação paradiplomática, ela é apenas
marginal e está longe de se encaixar nos casos emblemáticos apresentados pela literatura em
que o aspecto identidário é enfatizado. Inexistem no Brasil movimentos que se utilizem dos
argumentos de identidade, muito menos casos em que eventualmente ele estivesse presente
baixo uma região geográfica ou uma unidade federada específica.
Ao contrário dos países supracitados, o Brasil apresenta homogeneidade identitária
(o que não quer dizer que haja homogeneidade racial ou étnica). Não há evidência de que
exista algum processo de segmentação motivado por essa característica; no entanto, decidiu-
se testar essa possibilidade para o caso do Rio Grande do Sul. No modelo estatístico, será
analisado se o fator “município estar no estado do Rio Grande do Sul” influencia na atividade
paradiplomática do país.
Similarmente, podem-se desprezar as características língua e religião. Apesar de a
língua oficial nacional ser o português, segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (IPHAN), existem cerca de 200 línguas faladas no país, 180 somente
indígenas; entretanto, estas atingem apenas 160 mil habitantes, num universo de 190 milhões
de pessoas (0,084% da população). Além de desprezíveis do ponto de vista estatístico, essas
línguas não representam unidades federadas e tampouco relacionam-se com o fenômeno da
paradiplomacia. Não existem cidades ou estados que se caracterizam por uma língua
específica, como é o caso do francês no Quebec, que influenciou nas relações da província
com países francófonos, ou o catalão na Catalunha, que fortaleceu ainda mais o sentimento
nacionalista frente ao governo central espanhol.
109

Quanto à religião, segundo dados do IBGE, o Brasil possui 73,8% de católicos,


15,4% de protestantes, 7,4% sem religião e as outras somam menos do que 3,5%; não há,
entretanto, separação de regiões geográficas baseadas na religião, como é também o caso do
Quebec católico, ou nenhuma evidência de qualquer conflito político baseado nessa
característica, como no caso do estado de Jammu e Caxemira, de maioria muçulmana, na
Índia. O Brasil tem se caracterizado por conviver bem com diversidades religiosas e não faria
sentido, do ponto de vista explicativo, inserir essa variável no modelo. Além disso, a religião
não necessariamente está ligada a situações de conflito. Ela pode muitas vezes facilitar as
relações de regiões específicas com atores externos que compartilham das mesmas crenças.
Esses são os casos, por exemplo, da região russa do Tartaristão de maioria islâmica, que
influencia nas relações com as nações muçulmanas (SHARAFUTDINOVA, 2003) ou da
religião católica, que serve como componente importante nas relações paradiplomáticas sino-
europeias, por meio de Macau (HOOK e NEVES, 2002). Não há, no Brasil, evidência de que
o fator religião esteja presente também nessa versão facilitadora.
A segmentação objetiva no modelo terá como indicadores fatores econômicos,
sociais, geográficos, político-partidários e político-administrativos. Ver-se-á mais a frente
como foram organizadas as variáveis a partir das determinantes do modelo de Soldatos, mas é
importante ressaltar que o viés cultural foi excluído da presente análise.

3.1.2 Segmentação perceptiva

A segunda determinante em nível local listada por Soldatos é a Segmentação


perceptiva (eleitoralismo), que está relacionada à segmentação objetiva, mas pode ser também
produto da percepção das diferenças que não se baseia tanto na realidade. As pressões
políticas do eleitorado são geralmente expressões dessas percepções. Ela refere-se à
segmentação de atitudes, percepções, lealdades e concepções de interesse das elites e da
população, que levam às “muitas vozes” da política externa. Por isso ela é, obviamente,
baseada na realidade da segmentação objetiva ou na percepção de tal segmentação, que pode
ser reforçada por certo grau de subjetividade.
A ideia principal por trás da segmentação perceptiva é a de que as características
presentes no meio influenciam as preferências e as decisões, tanto dos governantes quanto da
população, que nos pleitos eleitorais as levarão em conta na hora do voto. As políticas
públicas seguem uma lógica de responsividade e representatividade (KINGDON, 1995).
Nesse sentido, concorda-se com a noção de que o nível local segue a tendência do nível
intermediário e nacional, onde as políticas respondem à opinião pública (KELLEHER, 2003).
110

Esse ponto é bastante controverso, já que existem defesas bastante contundentes


sobre a pouca (ou falta de) responsividade dos governos locais. Nesses casos, prevalece a
concepção de que os gestores municipais se preocupam mais com políticas de
desenvolvimento que melhorem o bem-estar econômico do município, independentemente se
elas atendem as preferências dos cidadãos – entre outros motivos, pelo fato de os governos
locais não terem primazia por políticas redistributivas (PETERSON, 1981).
Os gestores locais também possuem interpretações próprias da realidade, que se
refletem em sua administração assim que tomam posse. Em outras palavras, a percepção que
surge da segmentação objetiva atinge duplamente os governantes locais, seja por meio direto,
em que eles mesmos olham a realidade local, seja por meio indireto com o eleitorado, que,
diante dessa mesma realidade, busca candidatos que exprimam na administração as suas
preferências.
Conforme apresentado, acredita-se na tese de que os governos locais, assim como
nas outras esferas, seguem ideologias, mesmo que parte da literatura suponha que a natureza
da política local faz dos governos municipais mais pragmáticos e com interesses de curto-
prazo, inclusive na paradiplomacia; no entanto, há pensamentos divergentes. Para Kincaid
(1984, p. 104, grifo nosso), ‘‘individual preferences, partisan affiliations, and constituency
opinion pressure may lead a governor to express opinion on any foreign policy issue.’’ Isso é
ainda mais forte quando existem partidos regionais, como no caso do partido quebecois, que
exprimem os anseios da região na busca de maior autonomia. No estudo quantitativo norte-
americano, a variável “partido do governador” também é levada em consideração. McMillan
(2008) estuda se há relação da atividade paradiplomática dos governos estaduais com o fato
de serem comandados por democratas ou republicanos.
No caso brasileiro, há discussão parecida sobre até que ponto existe influências
ideológicas na atuação paradiplomática dos municípios. Ela se refere basicamente ao Partido
dos Trabalhadores (PT) e a ligação que as cidades e estados que são administrados pela
agremiação tem com a paradiplomacia; a suposição, no entanto, não é unânime.
Segundo Salomón (2011, p.-),

Os prefeitos mais ativos no movimento internacional de cidades (Tarso Genro em Porto Alegre, Marta
Suplicy em São Paulo, posteriormente Eloy Pietà de Guarulhos) têm sido todos eles petistas. Isso não é
casual. O envolvimento dos prefeitos petistas no movimento internacional das cidades pode ser explicado,
por um lado, pela preponderância dos líderes de esquerda nesse movimento, e por conseguinte com a
sintonia política entre ele e o PT. Por outro, a cooperação internacional entre cidades e governos locais e a
difusão de boas práticas urbanas encaixavam bem com os modelos inovadores de governo que o PT
procurava implantar nas cidades sobre seu controle, como laboratório (e ao mesmo tempo plataforma
política) prévio ao acesso ao governo federal. Portanto, identificamos a chegada do Partido dos
Trabalhadores aos governos municipais de várias cidades brasileiras como o segundo fator determinante
do desenvolvimento da paradiplomacia brasileira nos últimos anos.
111

Contrariamente, manifestam-se Vigevani e Prado (2009, p. 27) ao defender que

No caso brasileiro, o partido político do governador ou do prefeito não é determinante para afirmar a
tendência a maior ou menor ativismo internacional. Marta Suplicy, do PT, foi ativa, mas também o foi o
governador do Ceará de 2003 a 2006, Lúcio Alcântara, do PSDB.

A conclusão desses dois últimos autores, entretanto, não parece muito definitiva, já
que no mesmo artigo, tratando especificamente do caso da cidade de São Paulo, apontam

que há uma relação entre as atividades desenvolvidas pelos gestores públicos e a maneira pela qual seu
partido político lida com a questão internacional. Esta perspectiva fica clara, ainda que não tenhamos
elementos que indiquem uma total regularidade, quando analisamos a influência do Partido dos
Trabalhadores (PT) na condução das relações internacionais dos municípios e dos estados em que
governam. Na Prefeitura de São Paulo pudemos verificar que essa ação desenvolveu-se mais nas
administrações Luísa Erundina e Marta Suplicy.” (VIGEVANI e PRADO, 2009, p. 29).

No modelo estatístico, testar-se-á a relação presente na literatura nacional, entre a


existência de áreas internacionais e o fato do partido do prefeito ser o PT. Espera-se com isso
identificar se há, empiricamente e quantitativamente, influência ideológica na paradiplomacia.
Em parte, o partido do prefeito supre a questão ideológica do líder local, mas sabe-se
que nem sempre há relação direta entre sistema de crenças do prefeito e partido pelo qual
escolhe se candidatar à prefeitura. Isso é mais compreensível no sistema partidário brasileiro,
onde as legendas carregam alto grau de fisiologismo e a fidelidade partidária é, de forma
concreta, um problema – mesmo sabendo que, após eleitos, os políticos e, em especial os
parlamentares, tendem a votar as matérias legislativas no Congresso de acordo com o
encaminhamento do líder do partido, o que demonstra a existência de lealdade partidária
(FIGUEIREDO e LIMONGI, 1999).
Nesse sentido, seria difícil precisar quais outros fatores teriam efeito nos casos em
que o partido do governante local não supre o sistema de crenças. A metodologia quantitativa
dificilmente se adequa a esse tipo de condicionalidade, sendo os estudos de caso
(racionalistas, cognitivos ou construtivistas) ou etnográficos os mais adaptados a tratar dessa
classe de variáveis. Em outras palavras, é possível que a decisão do líder de criar área
internacional não tenha relação com as características objetivas do seu meio ou com o partido
a qual se filiou e concorreu ao cargo.
A decisão pode ter sido tomada pelos motivos mais diversos, como uma experiência
internacional que o político tenha tido antes de assumir o governo local (um intercâmbio
quando era estudante, por exemplo), uma formação universitária em Comércio Exterior ou
Relações Internacionais, ou outra hipótese correlata. O fato é que nem sempre as decisões de
112

políticas públicas em nível local seguem uma lógica racional. O personalismo, nesses casos,
pode ter grande influência nas medidas adotadas.
Mesmo acreditando na sua quase impossibilidade – já que iniciativas baseadas
unicamente em sistemas de crença e não respaldadas por outras determinantes ou condições
reais da administração local e do município –, ela pode acontecer. Na literatura, as
determinantes ou os interesses dificilmente focam nesses tipos de possibilidade (talvez pelo
fato de os autores também crerem na pequena chance do fenômeno se desenvolver dessa
forma). Apesar disso, é comum identificar responsáveis pelas áreas internacionais, atribuindo
a existência do órgão, somente devido à personalidade do prefeito. Falta aos gestores locais,
muitas vezes, uma visão mais ampla de causalidade, ou pelo menos de correlação, entre as
variáveis presentes no fenômeno e que são bem descritas pela academia.
Mesmo com a ressalva, incluiu-se a possiblidade do sistema de crenças do prefeito
ser uma determinante, e para o presente estudo ela se traduz na hipótese nula. Ou seja, se
nenhuma das variáveis explicar a existência das áreas internacionais ou as explicarem mal,
atribui-se ao sistema de crenças ou personalidade do prefeito essa decisão.
Há ainda outra hipótese nula no modelo e ela refere-se às questões temporais. Como
se está utilizando um método que não leva em consideração o fator temporal (só foram
coletados dados para um período, o mandato municipal de 2005 a 2008) é possível que a
manifestação da paradiplomacia, concretizada por uma área internacional, não seja uma
resposta instantânea às características locais daquele momento. Nesses casos, pode-se ver
apenas tendências para a criação das áreas baseadas nos dados colhidos no período de estudo.
Em outras palavras, entende-se que a previsibilidade buscada no modelo explicativo
pode não retratar a imagem da época, mas indicar um movimento futuro. Apresentar-se-á
também nos próximos capítulos quais governos locais têm maior probabilidade de criar área
internacional quando observadas as características no período estudado, pressupondo que as
características se mantenham ou se potencializem positivamente no futuro.
A ideia, ao retratar esse tipo de medida, é mostrar que existem casos atípicos
(outliers) que, em termos estatísticos, têm todas as condições de apresentar área internacional,
porque municípios com as mesmas características contam com essas burocracias específicas,
mas que por algum motivo (nossas hipóteses nulas incluídas) não as têm. Da mesma forma,
existem casos em que nenhuma dessas características está presente, porém o município possui
uma área internacional. Nesses casos, é possível também que a hipótese nula da personalidade
do prefeito esteja presente ou a existência da área internacional naquele momento seja
resposta a período anterior, em que as condições presentes poderiam ser distintas e não foram
medidas por este estudo.
113

O método estatístico utilizado representa a tentativa de classificação de grupos


baseado nas variáveis independentes. Os grupos foram divididos de acordo com a presença de
áreas internacionais e traçaram-se quais parâmetros que baseiam cada grupo. É comum a
presença de casos atípicos, que não interferem de forma crucial no cálculo final, mas que
podem ser objetos de estudo interessantes para análises qualitativas futuras (infelizmente, esse
não é o desafio da presente dissertação). Nessa perspectiva, quanto maior a presença de
outliers mais reforçadas são as hipóteses nulas, ou seja, o modelo explicativo baseado nas
variáveis independentes não atingiu o nível de explicação desejado.
No capítulo seguinte, a metodologia será discutida mais a fundo, mas é importante
fazer desde antes a ligação entre hipóteses nulas e variáveis independentes listadas. Da mesma
forma, é fundamental ressaltar que o modelo estatístico não trabalha com explicações
perfeitas da realidade, mas com fórmulas e com equações que conseguem exprimir a realidade
empírica de forma simplificada, considerando que condicionantes externas ao modelo existem
e podem fazer diferença em alguns casos.
Voltando ao caso da personalidade do governante ou do sistema de crenças do
mandatário, que é o tópico da segmentação perceptiva, McMillan (2008) faz uma análise,
mesmo que simplificada, sobre essa possibilidade aplicada aos governadores nos Estados
Unidos. A hipótese é que a personalidade do governador interfere em sua decisão de atuar
externamente, e ele mede essa característica tanto do ponto de vista da vida política pré-
existente do governador como das suas ambições futuras. No primeiro caso, considera-se se o
mandatário tem passagem pelo Congresso americano, como senador ou deputado, ou se já
exerceu a função de embaixador dos Estados Unidos em outros países. No segundo, tenta-se
identificar se o governador tem pretensões de concorrer à presidência dos Estados Unidos ou
ao Senado.
Acredita-se que, para o caso do Brasil, essa tese não pode ser aplicada, ainda mais
para o caso de prefeitos. Em primeiro lugar, tanto políticos do Executivo quanto do
Legislativo, salvo raríssimas exceções (como, por exemplo, o caso do ex-presidente, ex-
governador Itamar Franco, que assumiu o posto de embaixador em Lisboa e em Roma),
assumem cargos diplomáticos. Ao contrário dos Estados Unidos, o corpo diplomático
brasileiro não tem a tradição de abrigar políticos e nem o presidente de apontar politicamente
cargos de representação externa do país. No capítulo anterior foi descrito como o Itamaraty é
distante do jogo político-partidário e isso se reflete também nas nomeações de seus altos
postos.
Em segundo lugar, viu-se também como o Congresso Nacional é distante das
questões de política externa, apesar de, quando tem interesses diretos em jogo, atuar
114

ativamente (mas nem sempre de modo visível). Nesse sentido, já seria arriscado ligar a função
de ex-senadores ou ex-deputados com a atuação paradiplomática de um governo estadual,
quando estes assumem o mandato de governador; tratando-se do caso de prefeitos isso seria
ainda menos provável.
Apesar de ser possível que os governadores tenham interesse em atuar
internacionalmente como forma de se credenciarem ao posto máximo da República ou ao
Senado Federal, acredita-se que essa relação não é direta, devido também à pouca relevância
que os assuntos externos representam nos debates eleitorais. Nessa perspectiva, a busca por
dividendos eleitorais teria relação com a vontade de mostrar para a população que mesmo sem
um corpo diplomático disponível, o governador é dotado de visão cosmopolita ou de
experiência que ultrapassa o âmbito doméstico. No caso dos municípios, mais uma vez essa
hipótese parece improvável, já que os prefeitos, depois de terminarem seus mandatos, têm
como destino político mais provável as Assembleias Legislativas, a Câmara dos Deputados ou
os próprios governos estaduais.

3.1.3 Regionalismo/Nacionalismo

O Regionalismo/Nacionalismo, segundo Soldatos, remete aos movimentos de


agrupamento entre unidades locais. Um tipo de sentimento de pertencimento entre os entes
federados que se choca com os interesses centrais, e de nacionalismo, que acaba resultando na
paradiplomacia. As unidades federadas, devido às segmentações objetivas e perceptivas, nem
sempre se sentem bem representadas pelo governo central. As unidades locais buscam
envolvimento internacional a fim de concretizar melhor seus próprios interesses.
O nacionalismo é apontado como uma das determinantes principais na literatura,
pelo menos em certos casos. Segundo Lachapelle e Paquin (2005, p. 77)

Three variables stand at the forefront of the expansion of the paradiplomacy: the first, and more
significant, is the nation-state crisis and globalization, the second is nationalism, and internationalization
processes constitute the third variable (grifo nosso).

Apresentou-se no primeiro capítulo como Lecours divide os tipos de paradiplomacia,


o primeiro em questões econômicas, o segundo em questões multidimensionais (economia,
política e, às vezes, cultura) e o terceiro baseado no nacionalismo.
Para este último, ele disserta:
115

There is a third type of paradiplomacy that is driven primarily by political and cultural
considerations, although the economic dimension is certainly not absent. This paradiplomacy features
prominently the international expression of an identity distinct from the one projected by the central state.
It tends to be very ambitious; this is not always manifested in the scope of its networks (some are fairly
specifically targeted) but in the logic driving the international ventures. Here, regional governments seek
to develop a set of international relations that will affirm the cultural distinctiveness, political autonomy,
and, indeed, the national character of the community they represent. (LECOURS, 2007, p. 119, 120)

Apesar de esses casos serem minoria no universo das atividades paradiplomáticas,


eles se destacam pelo fato de estarem presentes nos exemplos mais desenvolvidos e bem
sucedidos de relações transnacionais de regiões. Nesse sentido,

Nationalism is no doubt one of the most significant variables, yet it remains one of the most neglected in
relation to the study of paradiplomacy. Minority nations that plan international strategies within
multicultural states are a well-known and quite common phenomenon. The most active sub-state powers
in the field of international relations (Flanders, Walloonie, Quebec, Catalonia, the Basque Homeland) all
share a single attribute: nationalism. (LACHAPELLE e PAQUIN, 2005, p. 82).

Lecours (2008, p. 119) pensa da mesma forma ao apontar que “the Basque Country,
as well as other cases of multidimensional and ambitious paradiplomacy such as in Cataluña,
Quebec, and Flanders, all share one underlying feature: nationalism”. Baseado nos exemplos
de regiões citadas pelos autores pode-se identificar que essa variável, mesmo que restrita a
poucos casos, é fundamental para entender a paradiplomacia das regiões que mais
desenvolveram atividades desse tipo.
Mostrar-se-á em um caso específico, o do País Basco, como essa determinante se
relaciona com a paradiplomacia. A região já foi alvo de alguns estudos e serve de exemplo de
como a identidade e a cultura, que em alguns casos resultam no nacionalismo, levam à
atividade paradiplomática.
Para Lecours,

Basque paradiplomacy is primarily about identity politics. This is not to say that this paradiplomacy is not
concerned with achieving economic gains through, for example, the facilitation of exports, but only that
its scope and intensity are a function of nationalism. The idea of a connection between identity and
paradiplomacy does not mean that distinctive collective identities necessarily lead to cases of
paradiplomacy such as the Basque Country’s. In other words, the (…) argument is not that the Basque
Country conducts international relations because many Basques feel more Basque than Spanish; this
would be an oversimplification. Rather, the idea put forward here is that the development of foreign
affairs by the Autonomous Community of the Basque Country is the consequence of a nationalist
movement.” (LECOURS, 2007, p. 114, 115).

Há um contexto histórico próprio no surgimento e no desenvolvimento da


paradiplomacia basca, assim como nos outros casos supracitados. Esse contexto é
fundamentalmente, mas não unicamente, baseado em uma noção identitária própria e
diferenciada da do governo central. O nacionalismo presente na região possui várias
116

dimensões, que envolvem também a política doméstica, mas a ela não fica restrita. A
paradiplomacia seria a extensão de um processo histórico mais amplo, que tem o
nacionalismo como força motriz da política.
Isso se vê quando

Basque politicians stress the idea of a right to self-determination to argue that the Basque Country should
be able to conduct its own international relations. They invoke the precedent of the Basque government-
in-exile, which, during the Franco dictatorship, acted autonomously in the international arena. The legacy
of the authoritarian state spurs Basque paradiplomacy in other ways. Cultural repression and the ensuing
struggle for cultural and identity preservation have become enduring aspects of Basque politics that are
now seen to have global dimensions. (LECOURS, 2007, p. 115).

O nacionalismo, na visão do autor, envolveria pelo menos dois processos ligados


respectivamente à identidade e à mobilização política, que podem ser relacionados à
paradiplomacia, tanto em termos lógicos quanto teóricos. Essa dupla visão embasa a relação
do nacionalismo com a paradiplomacia de modo geral, mas orienta especificamente o caso do
País Basco.
O primeiro processo, chamado de identitário por Lecours, representa a construção, a
consolidação e a expressão da identidade coletiva. Nele, o nacionalismo é uma forma de
identidade política e envolve a formação de agrupamentos baseados na provisão de marcas
objetivas com um sentido subjetivo, como é o caso da língua. As identidades são formadas
por uma série de mecanismos como a troca cultural, o desenvolvimento institucional, as
transformações socioeconômicas e as competições e os contextos políticos, mas, acima de
todos eles, há um componente discursivo. Ou seja, criar e formar a identidade nacional
relaciona-se com o processo de falar sobre a nação ou promover a ideia de comunidade
nacional.
Nesse contexto,

The development of a region’s international presence constitutes for nationalist leaders an additional
opportunity to build, consolidate, and promote a national identity. (…) From this perspective, the
development of international agency on the part of a regional government is full of symbolic meaning. In
creating networks of paradiplomacy, regions contribute to their own legitimization as international actors.
The relevance for identities of paradiplomacy is not limited to the agreements the regional governments
sign or the forums they attend; as important is the fact that paradiplomatic activities, particularly those
most visible and prestigious, give nationalist leaders the opportunity to play to their domestic audience.
They provide a scene from which nationhood can be proclaimed most forcefully, because foreign,
regional, or even international focus offers legitimacy and discursive/communication opportunities. In
short, through paradiplomacy, regions can both behave as nations and present themselves as such”
(LECOURS, 2007, p. 119, 120).

O segundo processo de nacionalismo descrito por Lecours refere-se à mobilização


político-territorial. Nela, “Nationalism is a form of politics, and therefore is fundamentally
117

about power”. Ou seja, o desenvolvimento de movimentos nacionalistas é produto de


conflitos de poder entre grupos, em que elites locais e centrais buscam ter primazia pelo
direito de falar legitimamente pela comunidade. Nessa competição, o aspecto territorial é
fundamental, dado que “nationalist leaders need to structure mobilization in a way that
transcends social cleavages and emphasizes a commonness linked to territory” (LECOURS,
2007, p. 120).
O poder dos líderes nacionalistas reside no nacionalismo como forma de política,
mas, para isso, precisam de apoio popular. Geralmente ele ocorre com a capacidade dos
líderes de converter em políticas e mudanças institucionais as demandas específicas da região,
que geralmente são o reconhecimento de status diferenciado, a autonomia, a federalização ou
a independência. É nesse aspecto que a mobilização político-territorial se relaciona com o
desenvolvimento da agência externa das regiões.
A tentativa de transpor para fora das fronteiras nacionais a discussão de autonomia
ou independência ameaça a própria existência do Estado (a política externa é entendida como
um dos últimos domínios reservado ao Estado). Nesse sentido, os governos centrais raramente
aceitam essa ideia e tendem a rechaçar qualquer tipo de iniciativa que enverede para situações
de maior poder relativo das regiões externamente e que implique em sua situação doméstica.
Em outras palavras,

paradiplomacy represents, in domestic politics, a statement about power. It can therefore be understood
not only as the emergence of new actors on the international scene, but also as the most recent dimension
of historical territorial conflicts whose most prominent and acute manifestation is nationalism
(LECOURS, 2007, p. 121).

Assim, a paradiplomacia está ligada à mobilização político-territorial não somente


por representar variável adicional no conflito político e na luta pelo poder, que tende a prover
mais artifícios a essa mobilização, mas porque pode servir como meio para se atingir
objetivos domésticos. Assim, “A region that is very active internationally projects the notions
of distinctiveness and autonomy in a way that may lower the degree of contention
surrounding certain regional claims and demands” (LECOURS, 2007, p. 121).
O que se quer apresentar com essa discussão de identidade e de mobilização é a
existência desse tipo especial de paradiplomacia que é calcado especificamente na noção de
nacionalismo. Ela fortalece o argumento de Soldatos quando é apresentado como
determinante local da paradiplomacia em seu modelo explanatório. Pode-se notá-lo no caso
descrito por Lecours do País Basco, mas os mesmos argumentos são verdadeiros para a
118

maioria das experiências mais avançadas ou maduras da paradiplomacia no mundo, como são
as do Quebec, da Catalunha ou de Flandres.
Isso não significa que não haja atividades desenvolvidas sem esse tipo de
determinante. Os länders alemães, os estados norte-americanos, as cidades italianas e
francesas e até os municípios e estados brasileiros, entre outros, são provas disso.
Anteriormente foi dito que essa variável pode ser fundamental em certos casos, mas como o
próprio Lecours (2008, p. 119) afirma “There are not that many instances of paradiplomacy
that fit this category”.
Não se desenvolveu de fato os casos históricos do nacionalismo basco que embasam
o argumento de Lecours. Ele envolve uma série de características que vão desde a formação
da Espanha como Estado, até a atuação violenta do grupo separatista ETA, passando pela
ditadura de Franco e o exílio do governo basco daí decorrente. As explicações conceituais
básicas, no entanto, foram levantadas por esses dois vieses do nacionalismo, que, na visão do
autor, traz como consequência a atuação paradiplomática da região.
Nos estudos quantitativos conhecidos, a variável Regionalismo/Nacionalismo não é
estudada. Os Estados Unidos e o México não têm, assim como o Brasil, problemas relevantes
que envolvam identidade e separatismo; no entanto, para o caso brasileiro resolveu-se testar
uma hipótese marginal que se relaciona com os movimentos históricos de separatismo no Rio
Grande do Sul. Sabe-se que, atualmente, essa discussão perdeu força a ponto de não ser
relevante em termos políticos, mas mesmo assim decidiu-se incluir essa variável no modelo.
As justificativas podem não ser as mais robustas, mas existem na literatura. Citou-se
no capítulo anterior o estudo de Nunes (2005) sobre a paradiplomacia gaúcha. Ela aponta
como aspecto fundamental da criação da Secretaria Extraordinária de Assuntos Internacionais
(SEAI) o processo de integração regional advindo da democratização no Brasil e na
Argentina, com o Rio Grande do Sul apontado como geograficamente privilegiado no novo
bloco que se formava. Há também, mesmo que tangencialmente, argumentos históricos com
relação à formação do federalismo brasileiro, como “a marcada inserção gaúcha no contexto
platino, sendo o último estado brasileiro a fazer parte da Federação” (SCP apud Nunes, 2005).
Existem indícios de que, tanto na realidade quanto nos esforços analíticos essa ideia
de diferenciação entre o estado e o restante do país esteja viva.

Historicamente, um tema recorrente na relação do Rio Grande do Sul com o Brasil é justamente a tensão
entre autonomia e integração. A ênfase nas peculiaridades do estado e a simultânea afirmação do
pertencimento dele ao Brasil se constitui num dos principais suportes da construção social da identidade
gaúcha que é constantemente atualizada, reposta e evocada. (OLIVEN, 2002, p.3)
119

Ademais, estudos sociológicos e antropológicos evidenciam a marca separatista


presente no estado, que não se refere somente a questões econômicas (forte pujança produtiva
com redistribuição para outras regiões), políticas (pouca representatividade na federação) e
geográficas (distanciamento dos grandes centros São Paulo e Rio de Janeiro), mas também ao
que Soldatos aponta como outras causas do Regionalismo/Nacionalismo: os fatores culturais e
identitários.

Existe uma forte identidade entre os gaúchos, uma herança cultural baseada em tradições e costumes que
são transmitidos de forma arraigada de geração para geração. É esse respeito e apego aos aspectos de sua
história, cultura, região que torna o gaúcho singular em relação aos habitantes das demais regiões do País.
(LUVIZOTTO, 2009, p.11-12).

Mesmo quando a questão central não é a identidade, há de certa forma vinculação


dos temas. Assim,

Embora o regionalismo seja um fenômeno essencialmente político em sua definição, caracterizando-se


também por desigualdades sociais, para ser bem sucedido ele precisa articular-se mobilizando
sentimentos coletivos e veiculando identidades e ideologias ligadas a memórias sociais. Entramos assim
no campo do simbólico, onde a eficácia das mensagens é medida pela capacidade que elas têm de
repercutirem no imaginário dos atores sociais (Oliven, 1988). A continuidade e vigência do discurso
regionalista gaúcho indicam que as significações produzidas por ele têm uma forte adequação com as
representações da identidade gaúcha. (OLIVEN, 1989, p. 13).

Essa identidade inspira o processo chamado de separatismo contemporâneo do Rio


Grande do Sul. Ao contrário dos movimentos históricos simbolizados pela Revolução
Farroupilha, que não foi um fato isolado durante a formação do Estado brasileiro (a
Revolução Pernambucana, a Sabinada e a aclamação de Amador Bueno como Rei da
Província de São Paulo são outros exemplos de iniciativas do tipo), os desejos atuais, que são
concretizados em organizações como o Movimento Separatista Sulino, que propõe criar a
República do Pampa (que ampliava o escopo para Santa Catarina e o Paraná a fim de
conquistar um apoio maior), têm como pano de fundo uma visão superficial da federação,
além da utilização de conceitos filonazistas (LUVIZOTTO, 2009). Isso pode ser visto nas
inúmeras publicações do Movimento que reitera a formação social superior gaúcha como em
essência alemã e italiana, sem a miscigenação com índios e negros vista no resto do país
(LUVIZOTTO, 2009).
É importante ressaltar que esse tipo de iniciativa mais radical é extremamente
minoritária no estado e que até aqueles que concordam com a separação do Rio Grande do Sul
do resto do país, não defendem necessariamente essa linha de argumentação; no entanto, o
número de pessoas que apoia a separação não é tão desprezível. De acordo com levantamento
feito pelo Datafolha em 1993, 32% dos porto-alegrenses apoiavam a independência dos
120

estados da região Sul do Brasil. Quando perguntados aos paulistas questão semelhante, apenas
9% apoiavam a independência do estado de São Paulo (LUVIZOTTO, 2009). Essa
comparação é interessante porque São Paulo também contém frequentemente nos discursos de
sua população uma ideia vaga de separação do restante do país. Em 1996 foi a vez da revista
IstoÉ divulgar pesquisa com teor similar. Segundo a reportagem, 47% dos gaúchos se
disseram favoráveis a uma separação dos estados do Sul mais São Paulo, do restante do país
(LUVIZOTTO, 2009).
Considerando o caso mais visível no Brasil de Regionalismo/Nacionalismo, que é o
do Rio Grande do Sul, resolveu-se incluir no modelo estatístico se o pertencimento do
município ao estado trás consequência à paradiplomacia. Essa ligação não é direta, porque
tanto o movimento de separação quanto a ideia de cultura e identidade gaúcha dizem respeito
ao estado como um todo, nunca sendo territorializada em cidades específicas; mas, entende-
se, também por isso, que é possível considerar as características supracitadas de forma
homogênea. Em outras palavras, “apesar do Estado ter uma grande diferenciação interna (do
ponto de vista geográfico, étnico, econômico e de sua colonização), ele é frequentemente
contraposto como um todo ao resto do País.” (OLIVEN, 1989, p. 5).
Similarmente ao caso estudado por Lecours, em que o nacionalismo basco tem
repercussão tanto na política interna da formação do Estado espanhol e das relações
intergovernamentais internas, quanto na paradiplomacia da região autônoma, testar-se-á o
Regionalismo/Nacionalismo gaúcho para sua paradiplomacia. A ideia é fazer uso do caso
mais acentuado (ou extremo) de regionalismo no país (mesmo que longe dos modelos
internacionais mais recorrentes) para testar o peso da variável na criação de áreas
internacionais nos municípios brasileiros.
Cabe lembrar mais uma vez que, tanto essa determinante quanto as próximas que se
seguem surgem em função da segmentação objetiva. Os argumentos do caso gaúcho, apesar
de focar nas questões identitárias, repercutem também pelas características sociais,
econômicas, geográficas e políticas.

3.1.4 Assimetria das unidades federadas

Para Soldatos, a Assimetria das unidades federadas pode aumentar a segmentação. A


assimetria ocorre, muitas vezes, quando há a percepção de que a política externa central serve
a interesses de algumas elites econômicas e políticas localizadas em determinados estados da
federação. A busca pela atuação paradiplomática, nesse sentido, seria uma resposta a essas
relações privilegiadas.
121

No Canadá, por exemplo, o ressentimento de algumas das províncias do oeste com as


iniciativas externas de cunhos econômicos e políticos do país pode ser explicado,
parcialmente, pela percepção de que tais políticas são feitas por e para as elites de Ontário e
Quebec. Elas atuariam no (e com o) governo federal para conseguir que seus interesses
fossem atendidos em detrimento do restante do país.
A Assimetria fortalece o argumento da paradiplomacia, porque são as unidades
subnacionais que discordam da política externa oficial ou não são atendidas por ela que
buscam uma atuação paralela na política mundial. O que há de novo nessa determinante é a
demonstração de que nem sempre aqueles que possuem mais poder dentro de uma federação
(as elites que têm mais acesso ao governo central) são os que, necessariamente, têm mais
capacidade ou disposição de atuar transnacionalmente.
Geralmente, essas unidades subnacionais apresentam desvantagens não somente na
área internacional, senão no próprio jogo político doméstico, onde o arranjo federativo não
lhes é favorável. Essa falta de prioridade normalmente surge por fatores políticos,
econômicos, geográficos e sociais. É comum, por exemplo, ver estados com desempenho
econômico mais débil expressarem suas insatisfações com o Planalto em temas que vão desde
repasses orçamentários da saúde e de obras, até pouco acesso a audiências com o presidente.
Com os prefeitos não é diferente, é necessário uma marcha anual de prefeitos (que reúnem
mais de três mil deles) para que tenham suas reivindicações ouvidas pelo presidente, ao passo
que uma audiência com os ministros de Estado para o prefeito de São Paulo ou Rio de Janeiro
é facilmente agendada. Apesar de a personalidade dos governadores ou dos prefeitos ajudar
(além do seu partido político), o peso que terão na federação será proporcional ao grau de
importância econômica, geográfica, social e política que seu estado ou município representa
ao país.
O caso ilustrado por Soldatos é mais uma vez o do Canadá, entretanto no Brasil
pode-se identificar alguns traços da Assimetria. Já foi visto no segmento anterior o caso do
Rio Grande do Sul, onde a questão identitária tem certa relevância, mas que também é
presente um discurso formado sobre a distância e a menor influência política que apresenta se
comparado a estados como São Paulo e Rio de Janeiro. Prova disso é que

além dos motivadores externos para a atuação internacional dos GNC [governos não centrais], tem
grande relevância a compreensão que possuem de seu papel na Federação. No Rio Grande do Sul, as
percepções de seu afastamento geográfico dos centros nacionais de decisão e as inquietações sobre os
resultados que teria o aprofundamento da integração no Cone Sul tiveram um peso importante na
institucionalização das ações paradiplomáticas (NUNES, 2005, p. 59).
122

O caso de São Paulo é curioso, nesse sentido, porque o estado não possui área
internacional formada, podendo ser a causa para isso o fato de se sentirem contemplados pela
burocracia federal na política externa. Ou seja, uma das hipóteses é de que o governo estadual
tem influência direta na execução e elaboração de políticas junto ao Itamaraty e, portanto, não
cria estruturas subnacionais próprias para tratar do tema (BARRETO, 2001). Essa visão
corrobora a Assimetria das unidades federadas como determinante local, já que há a
percepção dos próprios atores privilegiados de sua condição e, consequentemente, reforça a
ideia de desvantagem nos restantes.
Além do caso gaúcho, pode-se citar no Brasil a experiência do Ceará. Em análises
específicas sobre a paradiplomacia do estado é reforçada a ideia de atraso do estado durante as
décadas de 1970 e 1980 como um dos incentivos para a reforma administrativa da década
seguinte, que, entre outras coisas, fomentou a paradiplomacia para aumentar os investimentos
e o comércio exterior (MAIA, 2005).
De forma mais ampla, os casos nordestinos têm com frequência revelado a
Assimetria como determinante da paradiplomacia. Em estudo feito sobre a participação dessa
região (especificamente os casos da Bahia e de Pernambuco) no processo de integração
regional, Medeiro (2005, p. 1) aponta que

As articulações entre atores políticos e agentes econômicos se dão, no mais das vezes, em função de seus
respectivos interesses, mas também em conseqüência de arranjos que se constituem em relação a
hierarquias de poder. O lugar do Nordeste na Federação Brasileira repercute direta ou indiretamente em
sua capacidade de influenciar o processo integracionista do Mercado Comum do Sul (Mercosul). A
definição da matriz de desenvolvimento nacional estando calcada precipuamente em função da
centralidade político-econômica do eixo sudeste-sul marginaliza a ação dos entes federativos
sententrionais.

A diferenciação apontada no âmbito das regiões geográficas brasileiras para esse


caso dá-se em grande medida na esfera econômica. O discurso sobre a distinção da evolução
econômica permeia a discussão da “paradiplomacia nordestina”. Exemplos disso são
argumentações como:

pode-se afirmar que houve no território brasileiro, com a estabilização da industrialização, a geração de
pólos distintos: um deles calcado na transformação de bens com alto valor agregado – principalmente o
estado de São Paulo e regiões adjacentes, configurando estas as regiões Sudeste e Sul – e outro, que
permanece voltado para a produção de bens com baixo valor, as chamadas commodities – encontrando-se
neste grupo, as regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste. (MEDEIROS, 2005, p. 6)

No campo social há também uma série de argumentos que corrobora a ideia da


Assimetria que extrapola a visão doméstica.
123

Socialmente, o Nordeste traz consigo os maiores problemas nacionais; com uma população maior que o
somatório das populações dos parceiros do MERCOSUL, essa região serve de residência para 30% da
população brasileira, abrigando cerca de 50% dos pobres do país, produzindo, contudo, apenas 17% do
PIB nacional. Essa desigualdade no comportamento dos negócios do Nordeste se deve a histórica
heterogeneidade de participação das Regiões no PIB brasileiro iniciada na troca de eixo econômico
(monocultura da cana-de-açúcar nordestina para a mineração no centro-sul) e consolidada durante todo o
período subseqüente da história da nação (a lavoura cafeeira e a insuficiente industrialização). Dessa
dessemelhança emana, como conseqüência, o retrocesso de toda uma região, fazendo com que os estados
nordestinos ocupem os nove últimos lugares no ranking do IDH brasileiro. (MEDEIROS 2005, p.6).

Essa noção de assimetria presente na região faz com que a atividade paradiplomática
dos seus entes subnacionais tragam também característica próprias, com pauta contestatória,
muitas vezes, mais visível. Há a percepção de que questões relativas à paradiplomacia podem
e devem ser um mecanismo não só de desenvolvimento regional, mas também de maior
equilíbrio interno. Isso ocorre, por exemplo, quando os líderes nordestinos se posicionam de
forma contrária aos financiamentos do BNDES em projetos de outros países. Na visão deles,
o Brasil, e especialmente o Nordeste, ainda é carente de recursos financeiros para seus
próprios projetos e deveriam ter prioridade sobre outros atores internacionais (MEDEIROS,
2005).
Para essa determinante, testou-se no modelo estatístico algumas possibilidades,
principalmente levando-se em consideração as citações recorrentes da supremacia das elites
paulistas, cariocas, do sudeste ou do centro-sul na federação brasileira. A primeira é a da
paradiplomacia ter relação com o município estar presente em todas as regiões brasileiras
excetuando-se o estado de São Paulo. Na segunda hipótese, aumenta-se o escopo da exclusão
para São Paulo e Rio de Janeiro. Na terceira, para a Região Sudeste e na quarta para as
regiões Sudeste e Sul. Nesse sentido, a assimetria será testada para os casos da região
Nordeste, Norte e Centro-oeste em todas as hipóteses. Em algumas delas foram acrescentadas
a Região Sul e os estados de Minas Gerais e Espírito Santo, e apenas uma vez, para o estado
do Rio de Janeiro. Na sessão sobre os indicadores das variáveis explicativas do modelo
estatístico, as categorias ficarão mais claras.

3.1.5 Crescimento das unidades federadas

Outra determinante apontada pelo autor em nível local é a do Crescimento das


unidades federadas. Nela, as instituições, orçamentos e funções de algumas unidades
federadas fazem com que suas elites busquem novos papéis e espaços, inclusive na esfera
internacional. Surge, assim, um quadro de competição entre elites locais e nacionais para
ocupar espaços no campo da política externa. Nesse ambiente competitivo, as elites locais
contribuem para a internacionalização dos entes federados.
124

Essa determinante é mais intuitiva do que Assimetria, apresentada no segmento


anterior, já que parece lógico imaginar que elites locais de unidades mais desenvolvidas
busquem materializar essa supremacia para todos os espaços políticos possíveis, inclusive o
das relações exteriores. O fator do crescimento acompanha as expectativas das elites locais
em suas ambições, buscando, cada vez mais, maiores benefícios em todas as arenas em que
elas estão disponíveis.
Pode-se pensar de forma lógica que são as unidades subnacionais que contam com
mais recursos econômicos, políticos, sociais, culturais e geográficos, aqueles mais propensos
a desenvolver atividades paradiplomáticas. Isso tende a ser verdade já que os casos de cidade
e estados (e congêneres) conhecidos pelo mundo se encaixam perfeitamente nessa categoria
de recursos. Um exemplo claro disso foi a reunião do C40, ocorrida no mês de junho desse
ano em São Paulo, que contou com a participação das 40 maiores cidades do mundo. Os
prefeitos traçam estratégias transnacionais conjuntas para a mitigação dos efeitos do
aquecimento global. Se forem citados alguns de seus representantes, como Pequim, Chicago
ou Madri, não representa nenhuma surpresa a existência de atividades paradiplomáticas
nessas cidades.
A lógica por trás do crescimento das unidades federadas é bem simples e tem outras
correspondências na literatura. Uma das ideias mais difundidas na paradiplomacia é a noção
das cidades globais, que Sassen (1998) aponta como locus da atual globalização econômica.
As grandes cidades seriam, na nova geografia do poder, não só o espaço onde a
atividade econômica moderna se manifesta e se especializa (especificamente em serviços e
finanças, mas também no comércio por meio de filiais), como o lugar em que há maior
representatividade dos setores mais frágeis da sociedade (mulheres, negros, homossexuais,
etc.).
As grandes cidades surgem como novo ambiente de interação, quebrando a
tradicional dicotomia exclusivista global-nacional, na qual estão inseridas as discussões
recorrentes sobre a globalização. Ademais, a autora supera o debate já bem arraigado nessa
literatura que tenta apresentar a economia transnacional, baseada na informação e no
conhecimento, como puramente virtual, sem um espaço físico que lhe dê concretude
(SASSEN, 1998).
Esses novos atores transnacionais têm características próprias que dão a eles as
condições de protagonismo das relações políticas atuais e futuras. É isso que interessa para
este estudo das ideias de Sassen: as características das unidades que assumem a liderança no
processo global. As cidades globais conseguem reunir em um território relativamente
compacto grande população (que em parte se relaciona com a questão do emprego e com
125

mão-de-obra altamente qualificada), desenvolvimento econômico, alto padrão de


conectividade com o mundo, diversidade entre seus habitantes, cultura cosmopolita, sistema
jurídico que garanta o espírito empreendedor ou que, pelo menos, não atravanque negócios e
qualidade de infraestrutura. São essas características que lhes atribuem uma condição única e
representação de local diferenciado de inovação.
Isso não significa que elas se concentram somente no hemisfério norte. Apesar de as
matrizes das corporações transnacionais (que se localizam majoritariamente acima do
Equador) estarem cada vez mais poderosas no mundo, há um processo de descentralização
econômica e política que ocorre por meio de suas filiais, localizadas em grande parte no sul
(SASSEN, 2004). Além disso, é cada vez mais constante identificar grandes conglomerados
que atuam mundialmente, mas que têm suas bases nacionais, em países emergentes, em
cidades específicas de seu território. O Brasil, a China e a Índia são exemplos disso.
O salto da visão de Sassen sobre as cidades globais para o modelo de Soldatos ocorre
com as necessidades políticas que os governos locais assumem após se encontrarem como
locus da economia globalizada. As unidades subnacionais dotadas de centralidade nos novos
processos globais buscam maior papel político para suas elites, tanto na política doméstica
como no âmbito internacional. Surge um processo de competição entre elas, sendo a
paradiplomacia um dos meios dessa manifestação.
Do ponto de vista do modelo estatístico, as características da segmentação objetiva já
evidenciam quase que completamente o Crescimento das unidades federadas como
determinante. Em outras palavras, as condições econômicas, políticas, administrativas e
sociais já representam bem essas diferenças entre as unidades subnacionais e podem revelar se
as cidades com melhores indicadores são mais propensas ou têm área internacional formada
na sua administração pública.
Adicionaram-se, além desses, mais alguns indicadores específicos para essa
determinante. Elas referem-se ao pertencimento dos municípios às regiões que apresentam ou
são percebidas como mais desenvolvidas na federação. Para isso, testaram-se quatro
hipóteses: a de o município estar localizado no estado de São Paulo, no estado de São Paulo
ou Rio de Janeiro, na região Sudeste e na região Sudeste ou Sul.
As hipóteses presentes nessa sessão são as mesmas das da Assimetria das unidades
federadas, só que num sentido inverso. Na verdade, as hipóteses são as mesmas, já que
estatisticamente testar se o município está em São Paulo ou testar se está em qualquer outro
estado à exceção de São Paulo incorre no mesmo procedimento.
Além dessa constatação estatística, com as definições das determinantes até então
apresentadas, é fácil de entender por que as assimetrias ou o crescimento das unidades
126

federadas são determinantes opostas para o mesmo fenômeno. Pode-se verificar como
Soldatos faz uso da ideia de diferença entre as unidades subnacionais tanto pelo viés positivo,
quanto negativo (GARCIA SEGURA, 1996). Quando determinadas unidades subnacionais
estão em desvantagem na federação, se comparado com suas contrapartes, elas são
incentivadas à atuação paradiplomática no processo de Assimetria das unidades federadas.
Caso ocorra o contrário, ou seja, quando as unidades federadas apresentam características
consideradas vantajosas, elas atuam internacionalmente devido ao fator do Crescimento das
unidades federadas.
Essas determinantes não são necessariamente excludentes. Pode haver casos em que
a determinante de assimetria pode ser mais fundamental do que o de crescimento; entretanto,
para a explicação do fenômeno do país como um todo, baixo um modelo explicativo
estatístico, essas duas determinantes tendem a se anularem, com a supremacia de apenas um
dos fatores. Quando apresentados os resultados, poder-se-á dar mais detalhes sobre essa
dualidade.

3.1.6 “Me-tooism”

O autor considera também como determinante local o “Me-tooism” ou o que se


chamou de imitação. Há, nesses casos, estímulo à paradiplomacia quando alguns governos
locais seguem os passos das unidades subnacionais com atuação transnacional já estruturada e
bem sucedida. Por meio de um processo dinâmico de aprendizagem, a paradiplomacia é
adotada pelos atores subnacionais. A ideia embutida nessa determinante remete à criação de
áreas internacionais por meio do compartilhamento, voluntário ou não, das experiências
existentes. Soldatos exemplifica esse processo com as províncias canadenses e norte-
americanas que, provavelmente, seguiram o modelo pioneiro do Quebec dos anos 1960 e
1970 na América do Norte.
Essa cópia ou adoção de políticas já existentes estão presentes em todos os setores da
política doméstica, principalmente quando as medidas adotadas por um governo trazem bons
resultados. Na atividade paradiplomática, a imitação também é incentivada pelo
desconhecimento ou novidade do fenômeno. A partir do momento em que há experiências
exitosas e os resultados são colhidos e divulgados pelos atores participantes, a tendência é que
outras unidades federadas, assim que entram em contato com elas, copiem-nas e sigam seus
passos.
Apesar de ser um processo lógico, são poucos os casos em que a cópia é admitida
pelos gestores locais. Muitos, embora não todos, apontam que a ideia surgiu de situações
127

específicas (desejo de integração regional, atuação fronteiriça, aumentar exportações, etc.) ou


da decisão política isolada da liderança local.
Um grande desafio, nesse sentido, é tentar captar os indicadores dessa determinante,
ou seja, quais as situações que apontam à existência de uma cópia de política pública ou de
decisão administrativa. Sabe-se que o fenômeno da paradiplomacia é perceptível quando se
materializa em políticas públicas que envolvem uma série de atores em espaços naturais de
contatos. Afora o contato direto, as informações sobre esses tipos de atividades são acessíveis
pelas mídias tradicionais e pela internet. Os contatos podem ainda ocorrer por meios poucos
convencionais como reuniões de lideranças partidárias, leitura de um artigo ou divulgação por
meio de entidades representativas dos municípios.
Como, então, identificar o me-tooism? A literatura da paradiplomacia pesquisa pouco
esse aspecto. Buscaram-se, nesse contexto, em subcampos congêneres pistas sobre como essa
determinante se manifesta em situações distintas. Uma das áreas mais substanciais é o do
estudo da difusão de políticas (policy diffusion), em especial, àquela referente a estados e
municípios. Esse subcampo de estudo tem dado sua maior contribuição na área de políticas
públicas dos Estados Unidos (principalmente no federalismo), mas também já é desenvolvida
na Política Comparada e nas Relações Internacionais.
Nesse sentido, pode-se afirmar que

Comparative politics and IR scholars separately study the spread of the exact same policies, despite
different emphases on internal politics or international actors. And qualitative and quantitative advances
in policy diffusion scholarship are relevant across fields of study and approaches, even if scholarship has
not fully recognized these mutually beneficial advancements.” (GRAHAM, SHIPAN e VOLDEN, 2008,
p. 2).

Da mesma forma, acredita-se que a difusão de políticas pode indicar possíveis


formas de como tratar o processo de cópia também na paradiplomacia. Como o tipo de mescla
entre essas áreas é pouco usual, é extremamente delicado dar esse salto conceitual, porque
pode incorrer em pequenas falhas, também pelas especificidades do objeto estudado. Tentou-
se, sabendo dessas dificuldades, tratar a paradiplomacia como uma política pública (como, de
fato, é) e desenvolver essa linha de argumentação.
Em termos conceituais, pode-se afirmar que a difusão de políticas ocorre quando

one government’s decision about whether to adopt a policy innovation is influenced by previous choices
by other governments. Put another way, policy adoptions can be interdependent, where a country or state
observes what other countries or states have done and conditions its own policy decisions on these
observations”. (GRAHAM, SHIPAN, VOLDEN, 2008, p. 3).
128

Os autores referem-se a estados e países, mas também é recorrente nessa literatura


casos envolvendo cidades (BAYBECK, BERRY e SIEGEL, 2009). Os estudos sobre a
difusão de políticas são numerosos e se espalham por diversas áreas de atuação. Como bem
apontam Shipan e Volden (2008, p. 841),

The literature on policy diffusion is vast and expanding rapidly. Building on a series of classic early
studies (e.g., Crain 1966; Gray 1973; Walker 1969), as well as more recent significant theoretical and
methodological advances (e.g., Berry and Berry 1990; Berry and Baybeck 2005), scholars have conducted
a number of studies of diffusion during the past decade. These studies have focused on the diffusion of a
range of policies, including same-sex marriage bans (Haider-Markel, 2001), education reform (Mintrom,
1997a), abortion (Mooney and Lee, 1995), the death penalty (Mooney and Lee, 1999), and HMO reforms
(Balla 2001), among many others. In addition, these and other studies have shed light on the processes by
which diffusion takes place, focusing on factors that enable or hinder diffusion, including the policy’s
success (Volden 2006), policy entrepreneurs (Balla 2001;Mintrom1997a, 1997b), and the initiative
process (Boehmke 2005).

A difusão de políticas surge como parte de um processo mais amplo identificado na


literatura como inovações governamentais (entendidas como programas ou políticas que são
novos para os estados que as adotam). Nelas, há dois tipos de causalidades envolvidas, uma
referente às características econômicas, sociais e políticas internas dos atores que praticam a
inovação (BERRY, 1987), e outra, relativa às difusões regionais (regional diffusion), que
enfatizam a influência de atores próximos, assumindo que os governos imitam seus vizinhos
quando são confrontados com problemas políticos (BERRY e BERRY, 1990).
Para estudar a determinante do me-tooism, considera-se este segundo processo. O
fator de regional diffusion está relacionado à policy diffusion, só que com o elemento espacial
ressaltado, especificamente para as relações entre estados (regiões). De fato, como se verá
mais a frente, a difusão de políticas, em sua forma mais tradicional, relaciona-se com as
questões geográficas, que envolvem principalmente a noção de proximidade (nearby) e de
vizinhança (neighboring ou vicinity).
Em estudo seminal sobre o tema, Berry e Berry (1990), ao estudar a política de
adoção de loterias estaduais nos Estados Unidos, apresentam as abordagens que tentaram
testar os modelos de difusão regional. Três tipos de testes foram feitos, que, apesar de ter
estatísticas específicas embutidas em cada uma delas, podem ser explicadas conceitualmente.
O primeiro utiliza a análise fatorial para descobrir grupos de estados que possuem
ordens similares de adoção de uma série de políticas e, a partir daí, consideram se os estados
no mesmo grupo estão na mesma região do país (WALKER, 1969, CANON e BAUM, 1981).
O ponto negativo dessa estratégia é a grande quantidade de políticas que devem ser coletadas
para se chegar a uma conclusão robusta.
129

O segundo teste calcula a relação entre as adoções de políticas dos estados e as


adoções prévias de seus vizinhos, assim, há uma comparação delas nos estados limítrofes com
os mais distantes (CRAIN 1966, LUTZ, 1986). A fraqueza desse modelo pode ser a de
assumir que o surgimento de políticas parecidas em estados vizinhos num mesmo período são
eventos necessariamente interligados, não tendo nenhuma relação, por exemplo, com
características econômicas ou políticas internas que se manifestam em tempos semelhantes
em dois estados.
O terceiro teste envolve a aplicação de entrevistas a burocratas estaduais. A eles são
perguntados quais estados são líderes em uma área de políticas particular ou quais burocratas
em outros estados foram consultados para prestar um conselho. Assim, os padrões de difusão
são inferidos de suas respostas (FREEMAN, 1985, GRUPP e RICHARDS, 1975, LIGHT
1978, MENZEL e FELLER, 1977). As desvantagens presentes nesse modelo surgem quando
as adoções de políticas acontecem num espaço temporal muito grande e fica inviável
entrevistar os gestores locais responsáveis pela adoção. Além disso, é difícil conseguir
entrevistar todos os burocratas no período em que os estudos são feitos, assim como é
bastante possível que os responsáveis pela política nos estados que foram copiados muitas
vezes já terem saído do governo ou estarem em outras áreas da burocracia, ou, ainda,
possuírem uma memória pouco confiável.
Existem estudos que vão além da simples consideração da existência de efeitos de
vizinhança. Shipan e Volden (2008) consideram que, sendo as tomadas de decisão no âmbito
local um laboratório para a democracia numa federação (por causa do processo de inovação e
aprendizado existente entre as unidades subnacionais), os mecanismos de difusão de política
deveriam ser mais aprofundados. Em outras palavras, é necessário ultrapassar a simples
análise da sua existência e entender como esses processos ocorrem. Eles apontam quatro
instrumentos principais, que, apesar de, normativamente, serem considerados de forma
separada, atuam muitas vezes em conjunto. São eles: aprendizagem (learning), competição
econômica (economic competition), imitação (imitation) e coerção (coercion).
O primeiro mecanismo descrito é o do aprendizado. Eles lançam mão de definições
recorrentes na literatura para apresentá-lo: “as Berry and Baybeck note, for example, ‘when
confronted with a problem, decision makers simplify the task of finding a solution by
choosing an alternative that has proven successful elsewhere’” (SHIPAN e VOLDEN, 2008,
p.841). A questão do êxito da política é fundamental no aprendizado, já que quanto mais
resultados positivos uma política traz, maior a possibilidade de ser adotada por outros.
Um grande problema dá-se quando o sucesso não é tão evidente ou sua mensuração é
difícil. Nesses casos, a visão do gestor tende a ser voltada para o fato de a política não ter se
130

extinguido ou de ter constantemente apoio, como sinônimo de sucesso. Para o caso dos
pesquisadores, é mais prudente que substituam a noção de aprendizado pela de “oportunidade
de aprendizado”. Não se entra no julgamento normativo se uma política é exitosa ou não, mas
busca-se ver se ela foi amplamente copiada e qual o impacto nos segmentos sociais.
O segundo mecanismo é o da competição econômica. Ela remete basicamente à ideia
de transbordamento econômico (economic spillover) entre jurisdições. A noção é
relativamente simples: quando um governo adota uma política, ele leva em consideração as
consequências econômicas de seus vizinhos também adotá-las ou deixar de adotá-las. Em
outras palavras, eles se preocupam com os benefícios ou malefícios da difusão da política em
termos orçamentários. Quando há um transbordamento negativo de determinada política, ou
seja, quando os governos se prejudicam caso os vizinhos não compartilhem das mesmas
medidas, eles são incentivados a evitá-las. Um exemplo disso é o medo das unidades
subnacionais de se tornarem um “ímã de bem-estar”. Nesses casos, há uma corrida entre os
governos próximos para cortar ou reduzir benefícios da sua população. Por outro lado, quando
há um transbordamento positivo, eles tendem a optar pelas mesmas medidas. Exemplos disso
são as políticas de integração de infraestrutura.
O terceiro mecanismo de difusão apresentado pelos autores é o da imitação
(imitation - não confundir com o me-tooism). A natureza da imitação pode ser entendida como
o do contraste do aprendizado, ou seja, enquanto neste o tomador de decisão foca
especificamente nas políticas, naquele ele tem como alvo o outro ator. Na imitação o agente
(ou governo) busca apenas se parecer com o outro, sem preocupação com as consequências da
política adotada – “what did that government do and how can we appear to be the same”
(SHIPAN e VOLDEN, 2008, p. 843).
Apesar de a imitação ter sido ignorada ou subestimada na literatura de difusão
política, ela é consistente com os estudos de adoção de políticas estaduais e municipais. Esses
estudos focam na separação entre estados ou cidades “líderes” e “seguidoras”. As primeiras
tendem a ser maiores, mais ricas e mais cosmopolitas, enquanto as segundas são menores e
buscam ser iguais àquelas por meio da adoção de políticas parecidas, sem pensar
necessariamente nas consequências de suas decisões. Os tomadores de decisão das cidades
seguidoras podem aprender com as cidades maiores, assim como podem temer a competição
na sua região (por exemplo, com o êxodo populacional para as cidades líderes), mas um fator
fundamental para a imitação é o desejo dos gestores locais quererem que seus cidadãos sejam
favoravelmente vistos, tanto quanto os das cidades maiores. Eles esperam que com a imitação
eles possam melhorar seu perfil e transformar seu ambiente em um lugar mais atrativo para
morar, como seu vizinho maior, mais rico e mais cosmopolita.
131

O quarto mecanismo de difusão é a coerção. Ao contrário dos anteriores, ela é mais


comum em estudos de Política Comparada e Relações Internacionais, do que em estudos
federativos. Isso porque nesses campos de estudo o processo de coerção horizontal é um
artifício recorrente, senão primordial, quando, por exemplo, um Estado prevalece sobre outro
com medidas como sansões econômicas ou práticas comerciais. As coerções podem ocorrer
por meio direto, como nos casos anteriores, ou por meio de instituições como os organismos
internacionais (ONU, FMI, OMC) ou regimes internacionais (COP, TNP, MTCR).
Quanto aos estados e municípios no federalismo, é possível que haja coerção, mas no
sentido vertical (geralmente top-down). É comum notar como decisões políticas do governo
central afetam os estados e municípios na adoção de políticas, especialmente quando elas
envolvem restrição ou aumento de repasses governamentais para áreas específicas, como, por
exemplo, educação, infraestrutura ou saúde, ou em leis de alcance geral para todos os entes
governamentais. As cidades são ainda mais coagidas, por terem, na prática, duas esferas de
governo acima (mesmo que a Constituição garanta autonomia e não hierarquização dos entes
federados).
A apresentação de arquétipos de difusão de políticas não ficou apenas no plano
conceitual. Alguns estudos seguiram a tipologia e trabalharam em modelos estatísticos a
influência de tais mecanismos nos processo de adoção. Baybeck, Berry e Siegel (2009)
desenvolveram uma versão que trabalha separadamente com cada um dos elementos,
assumindo a relação de custos e benefícios de cada um dos modelos.
O que importa para esta dissertação não é tanto como ocorreu a utilização empírica
de cada um dos mecanismos, mas verificar um fator presente em todos os elementos
elencados por Shipan e Volden (2008), que depois repercutiriam em uma série de estudos
dessa área. O que há de comum nesses quatro mecanismos é a presença de fatores
geográficos, especialmente o fator de proximidade ou de vizinhança no processo de difusão
de políticas.
De fato,

The idea of regional diffusion or the influence of geographic neighbors has long been considered part of
the learning process (Walker 1969). Ready access to information about the policies (and their
implications) in neighboring states makes geographic learning an easy point of external policy focus.
Indeed, following the seminar work of Berry and Berry (1990), geographic neighbor adoption was
practically synonymous with policy diffusion.” (SHIPAN e VOLDEN, 2007, p. 7).

Por trás dessa perspectiva se encontra um princípio já bem difundido na geografia


quando se consideram as questões de espaço na difusão de políticas. Como bem argumenta
132

Buckley (2002, p.17), “Tobler's (1979) First Law of Geography holds that ‘everything is
related to everything else, but near things are more related than distant things’.”
Em termos práticos, a noção de proximidade pode ser interpretada de várias formas.
Para Berry e Berry (1990, p. 403, 404), por exemplo, “The conception of regional influence
(…) defines "nearby" states as immediate neighbors (i.e., states that share a boundary). The
advantage of this definition is that we are not required to assign states to predesignated
regions arbitrarily”. Para o indicador do “me-tooism”, considera-se proximidade além da
noção de limites, mas com critérios pré-estabelecidos, como os de microrregião e região
metropolitana, definidos pelo IBGE.
Evidentemente que a difusão de políticas não se resume à proximidade geográfica,
porém, tradicionalmente, esse tem sido o foco principal dos estudos. Além da vizinhança,
Glick (2011, p. 4) aponta critérios distintos em que os mecanismos de difusão se pautaram,
como “learning from effective policies (Volden, 2006), learning from ideologically similar
states (Grossback, Nicholson-Crotty, and Peterson, 2004), and learning from more observable
policies (Volden and Makse, 2011).” Ele ainda acrescenta:

Relatedly, empirical and theoretical work has focused on different ways of learning including emulating
successful policies (Volden, 2006), imitating policies irrespective of quality (Karch, 2007; Shipan and
Volden, 2008), Bayesian learning based on observing all others’ experiences (Meseguer, 2004), heuristic
learning in which actors rely on shortcuts such as availability (Weyland, 2005), and learning in
information cascades (Bikhchandani, Hirshleifer, and Welch, 1992, 1998) (GLICK, 2011,p.5).

Na verdade, a declaração de Shipan e Volden (2007) supracitada, de que a


proximidade geográfica praticamente foi sinônimo da difusão de política, não foi relatada
inteiramente. O trecho original com o período completo é

Indeed, following the seminar work of Berry and Berry (1990), geographic neighbor adoption was
practically synonymous with policy diffusion. However, more recently, scholars have explored whether
ideological, demographic, or other similarities have contributed to the spread of policies (Case, Hines,
and Rosen 1993; Grossback, Nicholson-Crotty, and Peterson 2004; Volden 2006). While some of the
adoption of similar policies by similar states may be independent of policy diffusion (Volden, Ting, and
Carpenter 2007), or may be due to other mechanisms of diffusion such as economic competition (Berry
and Baybeck, 2005), similar state adoption is at least consistent with learning-based diffusion.” (SHIPAN
e VOLDEN, 2007, p. 7 – grifo nosso).

Mesmo ciente das formas distintas de análise e concordando com os novos fatores de
difusão política, ainda mais no período atual de interdependência, em que as informações são
abundantes e acessíveis e o conhecimento altamente compartilhado, decidiu-se por não
aprofundar o modelo estatísico desta pesquisa a esse nível de complexidade.
133

Em outras palavras, sabe-se dos modelos quantitativos de policy diffusion que


conseguem alto nível de indícios, mediante modelos complexos. Como esse não é o foco do
trabalho – e sim uma das determinantes –, não se chegou ao nível de rigor presente nos
modelos de difusão. Fez-se uso somente de alguns conceitos como inspiração e artifício de
corroboração para as escolhas feitas, mas não seus métodos e mecanismos em si.
O importante é a noção de que a proximidade é um fator central nos processos de
difusão política e por isso foi aplicada como indicador da determinante me-tooism do modelo
de Soldatos. Testar-se-á, no modelo estatístico, se há relação entre existência de áreas
internacionais e aparato semelhante em outro município geograficamente próximo.
Não se considerou efeito temporal, tamanho das cidades líderes e seguidoras, nem
outros aspectos presentes na literatura de difusão de políticas. Pela importância do fator
geográfico, pode-se testar somente com ela a determinante do me-tooism para o caso
brasileiro, ou seja, se a determinante não for verdadeira para o indício mais forte de sua
existência, provavelmente, os demais não corroborarão com essa premissa de Soldatos.

Cadeia Causal
De posse das informações sobre as determinantes locais é possível desenhar uma
cadeia causal que represente o modelo de Soldatos. O que é importante salientar é que a
segmentação objetiva e, por consequência, a perceptiva trazem o fator de diferenciação das
unidades federadas, que possibilita a existência das outras determinantes em nível local. No
desenho da cadeia causal específica para o modelo (figura 3), notam-se como essas variáveis
interagem, tendo a segmentação objetiva como variável independente principal, as demais
determinantes como variáveis independentes intervenientes e a paradiplomacia como variável
dependente.
134

Figura 4 – Cadeia Causal

Fonte: Elaborado pelo autor

3.2 As variáveis e os indicadores baseados nas determinantes

De posse das definições sobre as determinantes locais, é importante verificar o que se


afirmou anteriormente: a segmentação
segmentação objetiva e a perceptiva são centrais para entender as
explicações no nível de análise local. É a partir das características econômicas, políticas,
polític
sociais e geográficas que aparecem as especificidades de cada município e, por consequência,
o que diferencia
erencia essas unidades subnacionais do restante do país.
Isso significa que, independentemente do contexto enfrentado pelas unidades
subnacionais, são as características específicas ou segmentação objetiva e perceptiva de cada
unidade que, em última instância,
instância explicam a atuação paradiplomática pela ótica local. Nesse
sentido, apesar de serem apresentados
apresent indicadores para outras determinantes de Soldatos no
nível local, é a segmentação objetiva que é condição primordial para o nosso modelo
explicativo.
Conforme foi dito,, as determinantes de Soldatos servem como guias para o modelo
estatístico, mas faltam
ltam detalhes para que se possa testá-lo
lo empiricamente. No segmento
anterior, dedicaram-se algumas linhas para aprofundar, por meio da bibliografia e da literatura
existente, um pouco mais cada uma das determinantes
det apontadas
adas pelo autor-referência.
autor Nesta
sessão, apresentam-se
se e definem-se
definem os indicadores para as variáveis independentes retiradas
das determinantes,
rminantes, suas fontes e como foram trabalhados no modelo estatístico.
135

Tabela 1 - Determinantes, variáveis e indicadores locais


Determinantes de Soldatos Nossas variáveis independentes Indicadores
Pertence à faixa de fronteira
Geográficas
Tamanho da população
Número de funcionários na
Político-administrativas administração municipal
Segmentação objetiva Capital estadual
IDH municipal
Sociais Presença de Instituição de ensino
superior
Administração do PT
Partido de oposição ao governo
Político-partidárias federal
Segmentação perceptiva Partido da base aliada ao governo
(eleitoralismo) federal
PIB
PIB per capita
Econômicas Exportações
Comércio corrente
Investimento Externo Direto
Assimetria das unidades Pertence às regiões Norte, Nordeste
Localização nas Regiões Geográficas
federadas ou Centro Oeste
Pertence ao estado de SP
Crescimento das unidades Localização nas Unidades Federadas ou Pertence aos estados de SP ou RJ
federadas Regiões Geográficas Pertence à região Sudeste
Pertence às regiões Sudeste ou Sul
Relações históricas conflituosas com a
Regionalismo/nacionalismo Pertence ao estado do RS
União
Possui município próximo com área
“Me-tooism” (imitação) Contato com áreas internacionais
internacional
Fonte: elaborado pelo autor

Pertence à faixa de fronteira


As justificativas para fazer uso do critério de fronteira como indicador da
paradiplomacia já foram apresentadas. A Faixa de Fronteira é, de acordo com o artigo 20 da
Constituição Federal, a área que adentra em 150 quilômetros o território nacional a partir da
linha de fronteira. Aqueles municípios que possuem qualquer porção de seu território nessa
faixa são considerados municípios de fronteira. Eles se diferenciam dos demais por possuírem
uma série de restrições econômicas (por exemplo, a dificuldade de instalação de empresas
multinacionais na região), além, obviamente, de sua condição geográfica (distanciamento dos
grande centros urbanos e interação diária com outros países). No modelo essa é uma variável
dicotômica (dummy), em que os municípios de fronteira foram codificados como 1 e os
municípios restantes como 0. No Brasil existem 588 municípios nessa condição.
Hipótese: o fato de o município estar na faixa de fronteira possui relação com a
existência de áreas internacionais na administrações públicas locais.
136

Tamanho da população
As cidades globais, conforme visto, têm características próprias que as fazem
protagonistas da nova ordem globalizada. Testa-se essa hipótese por meio da relação entre
paradiplomacia e tamanho da população. Busca-se identificar se a criação de áreas
internacionais é um privilégio das grandes cidades e como o tamanho delas se relaciona com a
paradiplomacia. Na literatura nacional, esse argumento é recorrente, implicando essa relação,
por exemplo, quando cita que “alguns poucos municípios, os de grande porte, conseguiam
recursos de agências de financiamento de programas na área social e cabia ao assessor de
Relações Internacionais articular o envolvimento do poder local nesses projetos” (ONUKI e
OLIVEIRA, 2007, p.17 – grifo nosso) ou que, “José Serra, do Partido Social Democrático
Brasileiro (PSDB), quando Prefeito de São Paulo, afirmou que ‘uma relação mais direta com
organismos multilaterais se faz necessária por conta do tamanho de cidades como São
Paulo’.” (VIGEVANI e PRADO, 2009, p. 19). Essa é uma variável contínua e os dados, do
ano-referência de 2008, foram extraídos do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística
(IBGE).
Hipótese: o tamanho da população influencia a existência de áreas internacionais nas
administrações públicas municipais.

Número de funcionários na administração municipal


Esse indicador político refere-se à relação entre capacidade administrativa de um
município e atividade paradiplomática. É lógico pensar que os municípios que criarão áreas
internacionais são aqueles que possuem um contingente burocrático minimamente
estruturado. A noção de estrutura não entra no mérito de sua eficiência, mas nos recursos
humanos disponíveis. Na literatura essa tendência é aventada, por exemplo, quando se conclui
que,

o grau e a natureza da descentralização dentro do sistema político, o padrão das ligações das regiões
centrais e os recursos que as autoridades regionais têm condições de alocar na busca dos objetivos de
sua política ajudarão a determinar o caráter da região como um ator internacional (HOCKING, 2004, p.
86 – grifo nosso).

Essa é uma variável contínua e os dados foram fornecidos pela Confederação


Nacional de Municípios. O número computado foi o total de funcionários ativos da
administração direta (soma dos estatutários, celetistas, comissionados, estagiários e sem
vínculo permanente) do ano-base 2008.
137

Hipótese: há relação entre a quantidade de funcionários na administração pública


municipal e o desenvolvimento de uma estrutura paradiplomática.

Capital estadual
Esse indicador relaciona-se ao grau de importância política que uma cidade possui. A
noção é de que o fato de a cidade ser capital estadual explica em parte a atividade
paradiplomática. O contato com a burocracia estadual (que possui aparato paradiplomático em
quase todas as unidades federadas) teria repercussão na criação de uma área congênere no
município. Além disso, no âmbito de capitais nacionais

Las ‘jurisdicciones’ en competencia [global] en este caso han sido típicamente las ciudades capitales, en
tanto que éstas concentran los sectores de banca, finanzas y servicios especializados del más alto nivel.
(Hay excepciones: si bien São Paulo en Brasil y Bombay en India son los principales centros financieros
del país, no son las capitales).” (SASSEN, 2004, p. 387).

O fator capital tem a ver com o grau de importância que a cidade assume em termos
nacionais, mas se olharmos para o âmbito interno, as capitais estaduais assumem, nas suas
devidas proporções esse tipo de importância. Essa é uma variável dicotômica, em que as
cidades capitais são classificadas como 1 e as restantes como 0.
Hipótese: o fato de um município ser uma capital estadual tem relação com a
existência de uma área internacional na sua administração.

IDH municipal
Apresentaram-se anteriormente os aspectos relacionados às características
socioeconômicas, especificamente no caso dos estados norte-americanos. Para o presente
estudo, relaciona-se esse fator ao Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M),
do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). O índice é resultado do
cálculo que envolve nível de escolaridade, expectativa de vida e produto interno bruto per
capita. A ideia é testar a relação entre desenvolvimento e paradiplomacia que não se restrinja
apenas aos fatores econômicos. Esse é um indicador contínuo que apresenta resultados de 0 a
1, em ordem crescente de desenvolvimento, ou seja, quanto maior o IDH, melhores as
condições locais. O ano-base dos dados é o de 2000.
Hipótese: o valor do IDH municipal influencia na probabilidade de se encontrar áreas
internacionais em seu governo local.

Presença de Instituição de ensino superior


138

Em estudo quantitativo, McMillan (2008) faz uso do critério de escolaridade da


população acima de 25 anos, para testar a existência de atividade internacional dos governos
estaduais dos Estados Unidos. Ele tenta fazer relação entre paradiplomacia e qualidade dos
recursos humanos disponível no estado. Para o modelo, aplicou-se essa noção à presença de
instituições de ensino superior nos municípios. Elas incluem universidades, centros
universitários, faculdades integradas, faculdades, escolas superiores, institutos superiores e
centros de educação tecnológica. Os dados são do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais (INEP), com o ano-base de 2004. Essa é uma variável dicotômica, em que os
municípios com instituição de ensino superior são categorizados como 1 e os sem instituições
como 0. Esse foi um critério mínimo para incluir a educação superior como indicador, já que
a esmagadora maioria das cidades brasileiras não tem sequer instituição desse tipo.
Hipótese: a presença de instituições de ensino superior nos municípios se relaciona
com a atuação paradiplomática de seu governo local.

Administração do PT
A discussão na literatura nacional que relaciona a paradiplomacia brasileira com o
fato de o governo local ser do Partido dos Trabalhadores já foi apresentada. Existem
argumentos pró e contra essa visão. Testar-se-á se existe, de fato, essa relação quando são
estudados todos os municípios brasileiros. Os dados apresentados são do Tribunal Superior
Eleitoral, da data da posse do prefeito. O período de 2005 a 2008 é anterior à decisão do
Supremo Tribunal Federal que garante o cargo ao partido e não ao político. Por isso a noção
de fidelidade partidária era mais flexível e as trocas de partidos mais constantes. O critério é o
do prefeito que foi eleito pelo PT, não importando se depois de eleito ele migrou de partido ou
se filiou à agremiação após a eleição. Essa é uma variável dummy dicotômica, em que os
municípios administrados pelo PT são classificados como 1 e os restantes como 0.
Hipótese: o fato de o município ser administrado pelo Partido dos Trabalhadores tem
relação com a presença de áreas internacionais nas administrações publicas locais.

Partido de oposição ao governo federal/Partido da base aliada ao governo federal


Da mesma forma, os casos em que o partido do governo municipal diverge ou
converge com o governo federal foram apresentados em segmento anterior. O teste estatístico
é o mesmo (porque se considera que os partidos que não são da base aliada automaticamente
são de oposição), mas com conclusões opostas. Se os partidos forem alternos, comprova-se a
ideia de que os governos locais de oposição buscam a paradiplomacia por discordarem
ideologicamente do governo central. Do contrário, ou seja, se os partidos forem do mesmo
139

campo político, há alguns indícios de que o governo federal é catalizador da atividade


paradiplomática no Brasil. Em outras palavras, há incentivo por parte do governo central em
incentivar e coordenar esse tipo de atividade, porque a preferência política tende a ser pelos
governos locais do mesmo partido ou de aliados. O critério utilizado para oposição/situação
foi o existente no Congresso Nacional. O fator da reeleição do presidente Lula em 2006
simplificou essa generalização. A questão dos partidos da base e oposição é bastante fluida e
sem aspecto oficiais de fato, mas foram considerados os partidos que votam majoritariamente
com o governo federal, ou seja, a base aliada contou com o PT, PMDB, PR (PL + Prona), PP
(PPB), PTB, PDT, PSB, PCdoB, PSC, PHS, PV, PRB, PMN, PHS, PT do B, PTC e PRTB, já
os partidos de oposição foram PSDB, DEM (PFL), PPS e PSOL. Essa é uma variável
dicotômica, em que os municípios da oposição são classificados como 1 e os da base aliada
como 0.
Hipótese: o fato de o partido do prefeito ser da oposição ou da base aliada do
governo federal está relacionado com a presença de áreas internacionais nos município
brasileiros.

PIB municipal
As variáveis econômicas foram bem discutidas na sessão de determinantes. Elas são,
para grande parte dos estudiosos da paradiplomacia, o fator dominante na atividade. O PIB
local já foi abordado como variável explicativa nos estudos de Schiavón (2009) e Farfán e
Schiavón (2005) e também faz parte do modelo estatístico deste estudo. O PIB é uma variável
contínua e os dados coletados são do IBGE, tendo como referência o ano de 2005. A relação
entre indicador e paradiplomacia tenta apresentar se os municípios com maior potencial
econômico são os mesmos que criam uma área internacional.
Hipótese: o PIB municipal é um fator que se relaciona com a existência de áreas
internacionais nos governos locais brasileiros.

PIB per capita


A noção apresentada nessa variável é a mesma que a do PIB, só que considera
simultaneamente o tamanho da população. Esse indicador muitas vezes é mais utilizado do
que o PIB, porque dá noção mais real sobre o nível de riqueza da população. Os dados
também são do IBGE, e o ano-base é o mesmo 2005.
Hipótese: Há relação entre o PIB per capita e a presença de áreas internacionais nos
municípios brasileiros.
140

Exportações
A variável econômica de exportação é adotada no modelo de McMillan (2008), bem
como levantado por vários estudos de caso, inclusive os brasileiros. Segundo um deles, “No
caso brasileiro, do mesmo modo que a literatura indica para os governos subnacionais na
maioria dos países, (...) a questão econômica, a promoção do comércio exterior e a busca de
investimentos foram os fatores principais para o ativismo paradiplomático” (VIGEVANI e
PRADO, 2009, p.28). A variável é contínua e os dados de exportação por município são do
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), com o ano-base de
2008.
Hipótese: o nível de exportação em um município se relaciona com a probabilidade
de encontrarmos área internacional nos governos locais.

Comércio corrente
Os números de comércio corrente pode apresentar um cenário mais amplo sobre o
viés econômico comercial porque soma, em módulo, a quantidade de exportações e a de
importações. O nível de importações jamais foi levado em consideração como determinante
da paradiplomacia (seria, no mínimo, estranho ver um governo local criando área
internacional como resposta ao alto contingente de importações de sua região), mas talvez o
somatório possa dar pistas de quão integrado comercialmente um município brasileiro seja
com o resto do mundo. Essa é uma variável contínua e os dados também são do MDIC com o
mesmo ano-base de 2008.
Hipótese: a quantidade de comércio corrente de um município se relaciona com a
presença nos governos locais de um aparato paradiplomático.

Investimento Externo Direto


A atração de investimento é a outra face econômica da paradiplomacia. Foram
citados anteriormente argumentos atestando que as unidades subnacionais criam áreas
internacionais a fim de responder demandas econômicas, tanto de comércio, como do
investimento. Essa variável é contínua e os dados por município são do MDIC, com o ano-
referência também de 2008.
Hipótese: a quantidade de investimento externo direto em um município está
relacionada com a probabilidade de seu governo local criar aparato paradiplomático.

Pertence às regiões Norte, Nordeste ou Centro Oeste/ Pertence às regiões Sudeste ou Sul
141

Essas variáveis já foram bem explicadas, respectivamente, na determinante


Assimetria das unidades federadas e Crescimento das unidades federadas. Para o mesmo
modelo elas pertencem à mesma hipótese, só com assunções opostas. Testar-se-á
separadamente cada uma delas. Essa é uma variável dicotômica, em que no primeiro caso os
municípios das regiões norte, nordeste e centro-oeste são classificadas como 1 e os do sul e
sudeste como 0, e no segundo caso os números são invertidos. No modelo, as hipóteses são
opostas, no sentido de que se existe relação direta entre pertencer às regiões sudeste-sul e
presença de área internacional, então há relação inversa na mesma proporção entre pertencer
às regiões nordeste-norte-centro-oeste e presença de área internacional. Talvez a explicação
não esteja tão clara a essa altura, mas na apresentação dos resultados ela ficará mais evidente.
Hipótese: a localização do município nas regiões sudeste-sul ou nordeste-centro-
oeste-norte está relacionada com a existência de áreas internacionais em municípios
brasileiros.

Pertence ao estado de SP
Testar-se-á nessa variável a determinante de Crescimento das unidades federadas.
Assim como no indicador anterior, podem-se considerar os pressupostos de contraposição. A
variável é dicotômica e considera apenas as posições geográficas de pertencimento à unidade
federada. Os municípios paulistas são codificados como 1 e os restantes como 0.
Hipótese: Há relação entre o município estar localizado no estado de São Paulo e a
presença de áreas internacionais no Brasil.

Pertence aos estados de SP ou RJ


Da mesma forma que o indicador anterior, testar-se-á a ideia de que as elites
paulistas e cariocas buscam maior espaço político em todas as esferas, inclusive na
internacional, por meio da paradiplomacia. Essa variável amplia o teste de Crescimento das
unidades federadas para esses dois estados. Os municípios de SP e RJ são classificados como
1, e os restantes como 0.
Hipótese: O fato de o município estar localizado nos estados de São Paulo ou Rio de
Janeiro tem relação com a presença de áreas internacionais em seus municípios.

Pertence à região Sudeste


Nesse indicador, a mesma premissa dos testes de Crescimento das unidades
federadas está presente, apenas com mudança do seu escopo, acrescentando os estados de
142

Minas Gerais e Espírito Santo. Os municípios localizados no Sudeste são categorizados como
1, e o das regiões restantes como 0.
Hipótese: O fato de o município estar localizado na região Sudeste se relaciona com
a atividade paradiplomática.

Pertence ao estado do RS
Esse indicador testa o Regionalismo/Nacionalismo. Essa noção já foi aprofundada e
relaciona-se com um critério mínimo para a verificação da determinante, ou seja, com o caso
mais extremo de regionalismo no país (mesmo que insuficiente se comparado aos padrões
internacionais de casos análogos) será identificado se ele se manifesta na paradiplomacia
brasileira. A ideia é que se a determinante não estiver presente no Rio Grande do Sul,
dificilmente aparecerá em outros casos de regionalismo no país, se o ocorrer o inverso, cabem
estudos futuros sobre a determinante no país. Essa é uma variável dummy, em que os
municípios gaúchos são classificados como 1 e os restantes como 0.
Hipótese: O fato de o município estar localizado no estado do Rio Grande do Sul tem
relação com a probabilidade dele possuir área internacional.

Possui município próximo com área internacional


Esse indicador tenta corroborar a determinante do “Me-tooism”. Ao contrário da
definição de proximidade de Berry e Berry (1990), que leva em consideração apenas o critério
de vizinhança (compartilhamento de limites) fez-se uso de noção um pouco mais ampla. A
concepção de proximidade considera, ademais da vizinhança, os municípios que pertencem à
mesma microrregião e, quando existente, à mesma região metropolitana, aglomeração urbana
ou rede integrada de desenvolvimento. Os dados foram retirados do IBGE. Essa é uma
variável dicotômica, em que os municípios que possuem municípios próximos com áreas
internacionais são classificados como 1 e os que não, como 0.
Hipótese: a presença de áreas internacionais em municípios se relaciona com a
existência de outras áreas internacionais em municípios próximos.

3.3 A Variável dependente

O foco deste extenso capítulo foi o das determinantes locais da paradiplomacia.


Apresentaram-se o modelo de Soldatos e as respectivas adaptações, tanto para o modelo
estatístico (com a adesão de alguns indicadores) quanto para o caso brasileiro (com a exclusão
de outros). Similarmente, o primeiro capítulo foi dedicado inteiramente à variável dependente,
143

só que desde a perspectiva conceitual. Entenderam-se quais são suas definições, suas críticas,
seus mecanismos e como vem sendo tratadas pela literatura.
Esta sessão busca contextualizar a paradiplomacia no modelo estatístico,
introduzindo algumas noções básicas, principalmente, no que concerne à sua identificação e à
sua transformação em indicadores (com respectivos dados, fontes e critérios de escolha).

Tabela 2 - Variável dependente e indicador


Variável dependente (Soldatos) Nossa variável dependente Indicador
Paradiplomacia Atividade paradiplomática Presença de áreas internacionais

3.3.1 Identificação de uma política exterior subnacional

Segundo Salomón (2007, p.11), questão metodológica fundamental para analistas


reconhecerem uma política exterior subnacional quando a veem é “¿Cuáles son los
indicadores que se tienen em cuenta?” A existência de instâncias institucionais encarregadas
de desenvolver ou coordenar políticas externas, em sua perspectiva, parece razoável.
Essa noção traz um tipo de concretude que dificilmente pode ser alcançada quando a
áreas internacionais não estão presentes. A própria definição de paradiplomacia é controversa
na literatura e adotar um de seus conceitos não garante maior simplicidade de mensuração.
Isso quer dizer que o objeto de estudo tem uma série de característica, sendo uma das mais
marcantes sua fluidez. Diante desse cenário, é crucial definir-se um tipo de indicador que dê
segurança cabal para o estudo.
Com isso, podem-se desconsiderar iniciativas que seriam classificadas como
paradiplomáticas, mas que por não partirem de um tipo de burocracia específica não serão
consideradas. Essa possibilidade é assumida, porém também defende-se que aquelas
atividades mais bem estruturadas e pensadas estrategicamente atingirão nível de maturidade
que requererão, necessariamente, áreas internacionais nas administrações municipais. Nesse
sentido, concorda-se com Salomón e Nunes (2007, p.105) quando defendem que “a criação de
uma estrutura institucional específica de relações internacionais no aparato administrativo de
um governo subnacional denota não o começo de uma atuação internacional, mas sua
intensificação e a vontade de agir mais organizadamente do que até então.”
Além disso, é cada vez mais constante contatos diretos entre burocracias de temas
específicos de governos centrais (entre ministérios da saúde de países, por exemplo). No
âmbito local isso não é diferente; no entanto, a
144

existência de uma instância não monopolizadora, porém coordenadora da ação exterior do governo, é uma
das principais ferramentas paradiplomáticas com que se conta. Todos os governos centrais e regionais
com atividade internacional significativa dispõem de uma estrutura institucional que coordena ou trata de
coordenar as relações exteriores. Para avaliar a ação exterior dos atores que consideramos, portanto, é
fundamental levar em conta o processo de construção e evolução das respectivas estruturas institucionais
paradiplomáticas. (SALOMÓN e NUNES, 2007, p.105)

Essa noção não torna a tarefa de identificação menos complexa. A própria Salomón
(2007) adverte para os perigos de adotar esse indicador. Segundo ela, há alguns obstáculos
para identificá-la porque, muitas vezes, as competências dessas estruturas não coincidem com
o que realmente fazem ou há mais de uma unidade administrativa responsável por ações
semelhantes de planejamento internacional. Ademais, uma “estrutura institucional
paradiplomática” não representa necessariamente ações concretas, tanto pela falta de controle
em desenvolver os interesses do local internacionalmente, quanto no desenvolvimento de
ações por outros órgãos dentro da administração, a exemplo das secretarias específicas (saúde,
educação, cultura, turismo, etc.) ou do próprio gabinete do prefeito.
Essas condicionalidades não desqualificam o indicador utilizado, já que mesmo no
âmbito central é recorrente a presença de obstáculos semelhantes. Imaginar o contrário seria
admitir que as ações externas do governo central sempre são originadas ou passam
necessariamente por sua chancelaria.
Essa tarefa de identificar os governos locais brasileiros que possuem estrutura
internacional é complexa. Os dados nem sempre são confiáveis e, às vezes, confiar na auto
indicação dos gestores locais como possuidores de atividade paradiplomática pode ser mais
objeto de retórica do que factual. Essa dificuldade já foi identificada por outros autores:
“Elaborar uma lista dos governos municipais e estaduais mais ativos no campo da
paradiplomacia é uma tarefa difícil, principalmente pela falta de continuidade ao longo de
tempo das atividades externas de estados e municípios.” (SALOMÓN, 2011, p-). Além disso,
“Podemos afirmar que no Brasil há ainda uma baixa institucionalidade da paradiplomacia. A
questão coloca-se em dois níveis, tanto na falta de reconhecimento destas ações na esfera
jurídica, quanto na formalização no plano subnacional de estruturas que garantam
continuidade.” (VIGEVANI e PRADO, 2009, p.7).
Mesmo com esses obstáculos, empreenderam-se esforços para encontrar um grupo de
municípios que representasse o mais fielmente possível atividades paradiplomáticas do país.
Para isso, foram cruzadas algumas listas tanto presentes na literatura quanto de instituições
que tratam do tema. Obviamente foram levantadas as áreas internacionais no período
estudado, de 2005 a 2008.
145

Os dados utilizados estão presentes no estudo de Ribeiro (2008), no Observatório da


Cooperação Descentralizada no Brasil da Confederação Nacional de Municípios
(OCDB/CNM) e nas listas de contatos de áreas internacionais da Assessoria de Assuntos
Federativos e Parlamentares do Ministério das Relações Exteriores (AFEPA/MRE) e do
Fórum Nacional de Secretários de Relações Internacionais (FONARI).
A base de dados mais completa foi a da CNM, porque ela entrou em contato
telefônico com todos os 5562 municípios brasileiros à época. No Observatório, foram listados
dois tipos de grupos de municípios, os que possuíam área internacional (grupo 1) e os que
possuíam apenas um assessor para tratar do tema (grupo 2). O primeiro contém 30 municípios
e o segundo 116, num total de 146 municípios com alguma atividade paradiplomática.
Resolveu-se utilizar os dados das duas categorias somadas, mas a base, apesar de abrangente,
apresentou alguns dados inconsistentes. Os 30 municípios do grupo 1 foram checados e
entrevistados, já nos do grupo 2 isso não ocorreu, e justamente aí residiam algumas
informações menos rigorosas. Nesse grupo foram apontados como responsáveis para assuntos
internacionais, por exemplo, o prefeito (não que não possa sê-lo, mas é pouco provável).
Apesar de pontuais (apenas dois em 116), esses casos deveriam ser revistos (no mais, a
esmagadora maioria apontava assessores de relações internacionais ou de áreas coligadas –
desenvolvimento econômico, por exemplo,– como responsáveis).
O estudo de Ribeiro (2008) listou 29 municípios com áreas internacionais e 22 que
têm atuação paradiplomática sem uma área específica. A partir daí ela traça,
quantitativamente por meio de pesquisa de campo, uma tipologia para essas atuações. A
tentativa é válida, e assim como no Observatório, traz um perfil das áreas presentes no país. A
análise quantitativa, no entanto, não passa da estatística descritiva. Além disso, há viés de
seleção (selection bias) na amostra dos casos com apenas 72 e na escolha dos critérios, porque
trabalha com classificações como “população igual ou acima de 500 mil habitantes”, ou
noções vagas de “relevância política, econômica ou cultural em regiões metropolitanas”. Em
outras palavras, ela tende a apresentar casos que de antemão já foram enviesados para mostrar
algumas características (usando os critérios anteriores como exemplo, pode-se identificar no
estudo apenas a paradiplomacia das cidades grandes, com relevância econômica, política ou
social e que estejam em regiões metropolitanas, e não a paradiplomacia do Brasil como um
todo).
As listas de municípios internacionais da AFEPA e do FONARI também apresentam
alguns problemas, sendo o maior deles o fato de considerar apenas os governos locais que em
algum momento tiveram algum contato com essas organizações. Conforme visto
anteriormente, muitas vezes a atuação paradiplomática acontece sem o conhecimento do
146

governo federal, e mesmo no caso do Fórum de Secretários de Relações Internacionais, não


são todas as áreas internacionais dos municípios que têm contato com essa rede, e tampouco
possuem interesse de interagir com ela.
Pode-se compreender das apresentações dos bancos de dados que a identificação dos
municípios com áreas internacionais é realmente uma tarefa complexa. Não existem listas que
retratem perfeitamente a situação encontrada no país, entretanto um retrato relativamente
próximo é possível. Para tanto, considerou-se a presença de áreas internacionais como a
existência de departamentos ou de pelo menos um responsável por assuntos internacionais na
administração pública local. A partir daí, cruzaram-se os dados dessas quatro fontes
supracitadas e se um município aparece em pelo menos duas delas, ele foi incluído como
variável dependente, ou seja, como evento. Esse cruzamento identificou 87 municípios com
áreas internacionais e é com esse número que se trabalha no modelo estatístico.

Presença de Área Internacional


O indicador da variável dependente é dicotômica (dummy), em que os municípios
com área internacional foram codificados como 1 e os municípios sem área como 0.

É devido a essa classificação que se faz uso da técnica estatística da regressão


logística e da regressão logística para eventos raros. Isso será explicado no próximo capítulo,
no qual se apresentam também algumas noções básicas sobre a metodologia utilizada e os
conceitos que serão úteis na apresentação dos resultados.
147

CAPÍTULO 04 – COMO ESTUDAR AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS


QUANTITATIVAMENTE? NOTAS SOBRE A METODOLOGIA

Durante a evolução das Ciências Sociais e, especificamente, da Ciência Política e das


Relações Internacionais, alguns grandes debates de cunho teórico, epistemológico e
metodológico foram centrais. Uns persistem até hoje, como o Liberalismo versus Marxismo, o
Positivismo versus Pós-positivismo, as discussões envolvendo o racionalismo e a empiria, etc.
Na metodologia, eles ocorreram, em grande parte, entre análises quantitativas e qualitativas.
Existem muitas diferenças de estilo entre essas duas vertentes metodológicas. De
forma geral, King, Keohane e Verba (1994) (KKV), analisam essas tradições. A pesquisa
quantitativa usa números e métodos estatísticos. Ela tende a ser baseada em medidas
numéricas de aspectos específicos de um fenômeno, abstraindo-se de casos específicos para
buscar descrições gerais ou testar hipóteses causais. Ainda, ela busca mensuração e análises
que são mais fáceis de serem replicadas por outros pesquisadores.
A pesquisa qualitativa, ao contrário, cobre um grande número de abordagens, mas
por definição, nenhuma dessas perspectivas se apoia em mensuração numérica. Tais trabalhos
tenderam a focar em um ou pequeno número de casos, a usar intensivamente entrevistas ou
análises profundas de materiais históricos, a ser discursivos no método e a se preocupar com
uma explanação mais completa de algum evento ou unidade. Apesar de terem um pequeno
número de casos, os pesquisadores qualitativos geralmente levantam uma enorme quantidade
de informação sobre seus estudos.
Esse tipo de abordagem nas Ciências Sociais é, às vezes, ligado a estudos de caso,
onde o foco é um evento, uma instituição, uma decisão, um local, uma questão ou um pedaço
de legislação em particular. Em outras ocasiões, esse tipo de estudo é ligado a estudos de área,
abrangendo a história e a cultura de uma parte específica do mundo, onde o lugar ou evento
específico é analisado de perto e com detalhes minuciosos. Como nos estudos quantitativos,
os casos podem ser importantes por si só: uma grande mudança na nação, uma eleição, uma
grande decisão política ou uma crise mundial. Outras vezes, mas certamente nem sempre, o
evento pode ser escolhido como exemplar de tipo particular de evento, como revoluções
políticas ou decisões de uma comunidade específica em rejeitar um aterro sanitário.
De forma específica, podem-se citar as diferenças entre pesquisas qualitativas e
quantitativas presentes em Brady e Collier (2004), Brady, Collier e Seawright (2003) e Collier
e Elman (2008), baseadas em quatro argumentos básicos, que apesar de terem suas limitações,
dão uma boa perspectiva sobre o que significa cada uma das tradições. Segundo os autores, as
148

distinções ocorrem nos campos do nível de mensuração (level of measurement), do tamanho


do N (size of the N), dos testes estatísticos (statistical tests) e das análises detalhadas vs. rasas
(thick vs. thin analysis).
O nível de mensuração refere-se às características dos dados, se são nominais ou
numéricos, por exemplo. É muito comum ver nessa abordagem certa ambiguidade em
estabelecer os limites entre estudos quantitativos e qualitativos, bem como o poder explicativo
alcançado pelos vários níveis de mensuração. Os estudos qualitativos podem ser organizados
pelo nível de mensuração nominal, enquanto os quantitativos pelos ordinais, de intervalo, de
razão e outros níveis de mensuração “superiores”. Outros tipos de organização ligam os dados
ordinais à análise qualitativa, por exemplo.
Independentemente do ponto de corte, a pesquisa quantitativa é frequentemente
associada a níveis superiores de mensuração, que por sua vez, são vistos como portadores de
maior poder analítico, pois proveem diferenciações descritivas mais refinadas entre os casos.
Eles, em contrapartida, geralmente vêm acompanhados de pressupostos complexos sobre
relações lógicas, que podem apresentar dificuldades de serem respeitados. Quando isso
ocorre, as diferenciações se tornam ilusórias e, talvez, as categorizações qualitativas baseadas
em um conhecimento mais profundo dos casos e dos contextos sejam alternativas com poder
analítico maior. Apesar desses conflitos, é cada vez mais comum a utilização de variáveis
nominais em estudos quantitativos, principalmente com a popularização de técnicas como o
logit, o probit ou do uso das variáveis dummy em regressões.
A segunda abordagem remete ao número de casos observados (N). Nesse sentido,
uma comparação entre dois países, por exemplo, seria encaixado como um estudo qualitativo,
enquanto que um N envolvendo centenas ou milhares de casos se identificaria com um estudo
quantitativo. Nessa perspectiva tampouco há um ponto de corte preciso para saber a
classificação de cada pesquisa, mas supõe-se que ele ficaria entre 10 e 20 casos. Mesmo sendo
um bom critério de diferenciação, existem casos em que estudos qualitativos (por exemplo, na
área de análises históricas comparativas) focam um N relativamente grande, enquanto estudos
quantitativos na política comparada (que estudam países industriais avançados, por exemplo)
trabalham com um N reduzido.
O terceiro critério é o dos testes estatísticos. Quando uma análise emprega testes
estatísticos para enriquecer sua descrição e explicar suas conclusões, ela tende a ser
considerada quantitativa. As análises qualitativas não costumam empregá-las explicitamente
ou diretamente. Apesar de o uso de testes estatísticos estar relacionado com níveis de
mensuração superiores, eles não necessariamente caminham juntos. As pesquisas
quantitativas frequentemente aplicam testes estatísticos para variáveis nominais, bem como as
149

qualitativas analisam dados numéricos sem o uso de testes estatísticos. Os testes estatísticos
são instrumentos analíticos poderosos para avaliar o grau de força de correlação e de
importantes aspectos de incertezas, melhor do que os encontrados nas pesquisas qualitativas.
Ainda assim elas só são atingidas se respeitados os pressupostos complexos (e difíceis de
serem alcançados). Para casos não enquadrados nos pressupostos, a pesquisa qualitativa pode
fornecer maior poder analítico.
A última abordagem refere-se à contraposição de análises detalhadas a análises rasas.
As pesquisas qualitativas frequentemente utilizam análises mais profundas, no sentido de que
seus pesquisadores se atêm a conhecimentos mais detalhados. De fato, a thick analysis
[definida como “interpretive work that focuses on the meaning of human behavior to the
actors involved” (GEERTZ apud BRADY; COLLIER; SEAWRIGHT, 2003)] é considerada
pelos especialistas a ferramenta mais importante da tradição qualitativa, e, se somada a outras
técnicas de conhecimento detalhado e se de fato utilizada, pode fortalecer sobremaneira o seu
valor descritivo e causal. Em contraste, as pesquisas quantitativas tendem a se apoiar em
análises mais rasas, no sentido de que seus conhecimentos sobre os casos são bem menos
completos; entretanto, na medida em que essas análises permitem o foco em um N muito
maior, elas se beneficiam de uma perspectiva comparativa muito mais ampla, assim como da
possibilidade de utilizar testes estatísticos.
Apesar dessas quatro diferenciações, que não excluem uma tradição em detrimento
da outra, nos debates entre acadêmicos partidários de cada lado há um discurso muito mais
duro e áspero, que alimenta rivalidades. Pelo lado do mainstream quantitativo, existe a
percepção de que há um “template quantitativo”, que deve ser seguido pelos demais
estudiosos do campo das Ciências Sociais. Existe, nessa perspectiva, uma relação hierárquica,
em que todos os outros métodos, entre eles os estudos qualitativos, estão subordinados a esse
template (Brady, Collier e Seawright, 2006). Os argumentos estão vinculados basicamente à
noção de maior rigor e precisão com que colhem e manipulam seus dados e concluem e
apresentam seus resultados. Do lado qualitativo, alguns podem identificar uma postura mais
defensiva, que resiste ativamente às imposições do modelo quantitativo. Os “qualitativistas”
estão convencidos de que suas técnicas e abordagens são muitas vezes mais robustas do que
as pesquisas quantitativas, tendo estas muito a aprender com a tradição qualitativa.
Polêmicas a parte, boa parte dos scholars tem tentado construir pontes entre as duas
tradições que fogem da visão dualista dos extremos. Exemplos disso são das pesquisas
parcialmente metodológicas e parcialmente substantivas de causas necessárias e suficientes.
Nesses casos, tanto as explanações quanto os resultados são dados nominais, mas as seleções
de casos e os testes de hipóteses são estatísticos. Outro exemplo ocorre nos casos
150

anteriormente citados, em que estudos qualitativos usam um grande N e pesquisas


quantitativas com um N pequeno.
KKV (1994) levaram essa ideia de ponte ao centro das discussões de desenho de
pesquisa científica, quando identificam que os dois estilos de pesquisa compartilham apenas
uma lógica de inferência. As duas tradições parecem bem diferentes, mas na visão dos autores
essas diferenças são mais estilísticas e, metodologicamente e substantivamente, não
importantes. Uma mesma lógica de inferência oferece os modelos para cada uma das
perspectivas de pesquisa. Ela tende a ser explicada e formalizada mais claramente em
discussões sobre o método de pesquisa quantitativo, mas também está presente nas melhores
pesquisas qualitativas.
Os autores reafirmam a tese de que por muitas décadas os cientistas políticos vêm
debatendo os méritos do estudo de caso vs. os estudos estatísticos, estudos de área vs. estudos
comparativos e estudos “científicos” de política que usam métodos quantitativos vs.
investigações “históricas” baseadas em entendimentos textuais e contextuais ricos. Conforme
visto, alguns pesquisadores quantitativos acreditam que análise estatística sistemática é o
único caminho para a verdade na ciência social. Os defensores da pesquisa qualitativa
discordam veementemente.
Essas diferenças de opinião levam a um debate vivo, mas infelizmente, ela bifurca as
Ciências Sociais entre uma vertente quantitativa-sistemática-generalizante e uma vertente
qualitativa-humanística-discursiva. Enquanto a primeira se torna mais e mais sofisticada na
análise de dados estatísticos (e seus trabalhos se tornam menos compreensíveis para aqueles
que não tenham estudado suas técnicas), a segunda se torna cada vez mais convencida da
irrelevância de tais análises para os eventos aparentemente não replicáveis e não
generalizantes nos quais os profissionais estão interessados.
A maioria dos pesquisadores não se encaixa claramente em uma ou outra categoria.
Os melhores combinam recursos de cada uma. No mesmo projeto de pesquisa alguns dados
coletados são passíveis de análise estatística, ao mesmo tempo em que outras informações
igualmente importantes não são. Padrões e tendências no comportamento político, social e
econômico são mais rapidamente sujeitos a análises quantitativas do que o fluxo de ideias
entre pessoas ou a diferença feita por uma excepcional liderança individual. Se deseja-se,
advertem KKV, entender as mudanças rápidas do mundo, é precisaro incluir informações que
não podem ser facilmente quantificáveis, assim como as que podem.
Os autores apresentam dois casos que exemplificam essa ideia de mescla entre as
duas tradições. Primeiro citam o estudo de Lisa Martin referente ao grau de cooperação
internacional presente nas sanções econômicas. O livro Coercitive Cooperation (MARTIN,
151

1992) foi baseado em 99 casos de sanções econômicas no pós-Guerra Fria. Mesmo tendo essa
análise mais geral com informações valiosas, a autora aprofundou seis estudos de casos
específicos para fortalecer sua tese, já que algumas inferências causais sugeridas pelos dados
eram um pouco ambíguos.
Da mesma forma se procedeu no conhecido estudo de Robert Putnan, Making
Democracy Work (PUTNAN, 1993), que teve como unidade de análise as cidades italianas.
Os autores lembram que mesmo com 112 entrevistas a conselheiros regionais italianos em
1970, 194 em 1976, 243 entre 1981 e 1982, 115 entrevistas a líderes comunitários em 1976 e
118 em 1981-1982, além de 500 questionários enviados a líderes comunitários em 1983,
Putnam e seus colaboradores ainda detalharam estudos de caso sobre a política em seis
regiões italianas para entender melhor nuances que somente os números não poderiam lhes
dar.
Não obstante, o trabalho de KKV despertou críticas na academia. As mais extremas
acusaram os autores de quererem moldar as análises qualitativas a um parâmetro
essencialmente quantitativo. Segundo Collier (1995), Designing Social Inquiry é uma
tentativa ambiciosa de traduzir para a pesquisa qualitativa uma série de insights derivados dos
estudos quantitativos (principalmente da regressão) com o objetivo de fornecer maior rigor
para a área; no entanto, ele questiona quão inovadora é essa abordagem. Para Collier, a
maioria das preocupações listadas e supostamente sanadas já estava presente na literatura
qualitativa com rótulos próprios (sem os termos da estatística).
As críticas mais duras vieram em textos subsequentes, em Brady e Collier (2010) e
Brady, Collier e Seawright (2011). Valendo-se de argumentos de Schrodt (2006) e Mahoney
(2010), eles apontam para o perigo de se criar uma forma de legitimação única das Ciências
Sociais por meio de metodologias estatísticas idiossincráticas e contra intuitivas para resolver
problemas que estão longe dos encontrados por cientistas políticos na realidade. Além disso,
apontam que KKV dificultam o progresso da Ciência Política ao promoverem,
controversamente e improdutivamente, uma abordagem única e com total ancoragem
quantitativa, reafirmando a ideia da superioridade desse método por sobre o método
qualitativo “sem rigor e sem precisão”.
Essa discussão, apesar de evidenciar pontos importantes na área metodológica, é
mais restrita aos Estados Unidos e atinge apenas de forma marginal os debates das Ciências
Sociais na Europa ou na América Latina, por exemplo. Mesmo assim, ela revela muito sobre
como produzir conhecimento e por que justificar as escolhas feitas.
Nem as pesquisas quantitativas, nem a qualitativas são superiores umas às outras,
independentemente do problema estudado. Compartilha-se das compreensões que enfatizam a
152

existência de estudos bons e ruins, mas que a tradição da pesquisa nunca é um critério de
distinção. Partindo dessa perspectiva, identifica-se a presente dissertação como também um
caso de “bridging” entre as duas tradições. Apesar de não serem aprofundados casos
específicos como em Martin ou Putnan, apresentou-se todo o modelo em bases qualitativas,
com o aprofundamento teórico, conceitual e empírico dos indicadores presentes em estudos de
caso ou estudos comparativos qualitativos. Além disso, a maioria das variáveis é categórica. É
verdade que são utilizadas técnicas de regressão para atingir o objetivo de entender, no
universo dos 5562 municípios, a paradiplomacia no Brasil por meio das variáveis locais, mas
em hipótese alguma elas excluem as noções mais profundas dos estudos qualitativos.
Consequentemente, esta pesquisa não se enquadraria perfeitamente nem na vertente
quantitativa, nem na qualitativa. Como os próprios King, Keohane e Verba enfatizam, poucos
trabalhos se encaixam totalmente em uma ou outra categoria. De fato, combinaram-se
recursos de ambas as tradições e é diante dessa constatação que esforços foram feitos para
justificar, por meio de uma discussão já madura sobre as análises quantitativa e qualitativa, as
escolhas metodológicas aplicadas.
Os mesmos argumentos desse debate mais amplo são possíveis de se repetirem
quando discutida a melhor forma de estudar a paradiplomacia. Muitos autores podem
discordar da utilização do método estatístico para entender um fenômeno complexo e cheio de
detalhes relevantes. A contribuição de estudar um ou poucos casos poderia ser mais bem vista
por entender de forma mais completa o processo de criação de uma área internacional ou da
atividade paradiplomática em si (apresentando os processos históricos da autoridade local, os
contextos idiossincráticos em que as elites atuam politicamente e até os sistemas de crença
dos governantes locais). Como se pôde constatar nos capítulos anteriores, os estudos de caso
da paradiplomacia são abundantes na literatura e eles apresentam bem não só a descrição de
casos, mas inferências causais sobre os processos de atuação transnacional de estados e
municípios.
A opção deste estudo, nesse sentido, está longe de ambicionar substituir os
arcabouços explicativos qualitativos; pelo contrário, são eles que subsidiam as hipóteses do
estudo. O que se buscou oferecer foi uma abordagem diferenciada, mais ampla e inédita para
o estudo do fenômeno no país. O olhar abrangente sobre um grande número de observações,
com dados abundantes, pode trazer novas perspectivas para o fenômeno ou pelo menos
corroborar casos que, apesar de trazerem repercussões amplas, estavam vinculados a um
grupo seleto de municípios. A concepção presente não é, inclusive, totalizante para a
paradiplomacia brasileira, já que a pergunta acaba tratando se refere apenas das diferenças
153

locais entre os municípios. As determinantes externas e domésticas em nível federal,


conforme dito reiteradamente, foram excluídas da análise.
Nas próximas páginas, serão apresentados alguns dos conceitos e mecanismos úteis
para a compreensão dos resultados apresentados no capítulo 5. Aqueles familiarizados com os
instrumentos estatísticos podem pular a próxima sessão e seguir para o capítulo subsequente.
As noções apresentadas a seguir servem apenas como subsídios analíticos, sendo restritas às
ferramentas utilizadas para desenvolver os cálculos específicos.
Optou-se por escrevê-las pelo déficit em muitos cursos de Relações Internacionais,
que investem pouco no ensino desse tipo metodológico. Diante desse quadro, é comum
encontrar-se na situação de “vítima” de artigos norte-americanos do campo, que apenas
disponibilizam os resultados finais de regressões ou outras técnicas de pesquisa quantitativas
sem maiores explicações. A verdade é que esses textos, muitas vezes, têm a capacidade de
frustrar seus leitores não familiarizados com as noções estatísticas, mas com sede por mais
informações em áreas de estudos específicos. Espera-se conseguir sanar nas linhas abaixo,
mesmo que minimamente, essa sensação de vagueza e tornar inteligível o capítulo
subsequente.
As noções apresentadas a seguir já são consolidadas na literatura de estatística, como
os intervalos de confiança ou os resíduos, outras são simplesmente definições de
procedimentos básicos de matemática, como a média ou a variância, por isso que as citações
bibliográficas serão menos recorrentes, mas os termos, conceitos e ideias apresentados podem
ser verificados em qualquer manual de estatística. Utilizaram-se como base para esta
dissertação os textos de Barbetta (2002) e Levin (1987) para a estatística básica, Tabachnik e
Fidel (1996), Field (2009), Corrar, Paulo e Dias Filho (2007), Hosmer e Lemeshow (2000),
Hamilton (2006) e Rabe-Hesketh e Everitt (2005), além dos ótimos tutoriais em textos e em
vídeos disponíveis do site da Universidade da Califórnia19, para a análise multivariada, e
basicamente King e Zeng (2001a, 2001b) para a regressão logística em eventos raros, já que
são eles os criadores dessa técnica.

4.1 Estatística básica

Existem algumas noções básicas de estatísticas que devem ser apresentadas.


Algumas são de simples compreensão ou já de prévio conhecimento, outras são um pouco

19
Para mais informações ver http://www.ats.ucla.edu/stat/, nele há diversas informações sobre como trabalhar no
STATA, mas também tutoriais para o SPSS e SAS e análise básica de dados estatísticos, em diversos softwares
quantitativos para as ciências sociais, ciências médicas e econometria.
154

mais complexas. Os modelos estatísticos são, na verdade, a instrumentalização dessas noções


básicas para fins objetivos, e por isso é necessário tê-las em mente.
A primeira apresentada aqui é a de distribuição de frequências. Assim que os dados
quantitativos da pesquisa são coletados (respeitando algumas regras que não serão tratadas
neste estudo) é útil que sejam organizados, levando em consideração quantas vezes cada um
dos resultados apareceu. Graficamente, ela é representada por um eixo horizontal, com os
valores da observação, e, por um vertical, com a frequência de aparições dos resultados.
A distribuição de frequência tem várias formas e tamanhos, mas existem alguns tipos
específicos que são importantes de identificar, porque apresentam implicações mais a frente.
Em um mundo ideal, todas as distribuições deveriam ser do tipo normal, ou seja, os dados
deveriam ser simetricamente distribuídos em torno do centro de todos os scores. Quando
representados no gráfico, a curva tem um formato de sino. Isso quer dizer que os scores mais
frequentes se colocam no meio, e, afastando-se dele, a tendência é que diminuam
harmonicamente, ou seja, os scores muito altos e baixos vão se tornando menos frequentes.
Muitas das coisas encontradas na natureza seguem essa lógica, por exemplo, na altura de
homens numa sociedade, em que a tendência é que tenham uma altura média por volta de
1,75m e quanto mais afastado dessa medida (1,50m ou 2m) seja menos visível a ocorrência.

Figura 5 – Exemplo de gráfico de distribuição normal

Fonte: Field (2005)

Outros dois tipos de distribuição importantes são a de assimetria e a de curtose. A


primeira acontece quando as maiores frequências se encontram em uma das extremidades da
curva. Isso significa que os resultados mais frequentes são os mais baixos ou os mais altos.
Elas podem ser positivamente assimétricas ou negativamente assimétricas. No primeiro caso,
elas se concentram à esquerda da curva e, na segunda, à direita.
155

Figura 6 – Exemplo de gráfico de distribuição com assimetria positiva e negativa

Fonte: Field (2005)

Na curtose, o problema ocorre com o grau de agrupamento dos scores nos finais das
distribuições, conhecidas como caudas (tails), e com quão pontiaguda a distribuição é. No
caso da curtose positiva existem bastante scores nas caudas e a ponta da curva é bem
acentuada, nos casos negativos as caudas são relativamente finas e a curva tende a ser mais
achatada que o normal20.

Figura 7 – Exemplo de gráfico de distribuição com curtose positiva e negativa

Fonte: Field (2005)

Existem outras formas de calcular o centro da distribuição de frequência (tendência


central) que não apenas pela visualização do gráfico. As três medidas mais utilizadas são a
média, a moda e a mediana. Esses conceitos já são bem conhecidos por todos. A moda se
refere simplesmente ao score que aparece com maior frequência. A mediana é produto da

20
Cabe lembrar que na distribuição normal os valores de curtose e assimetria são 0.
156

retirada do score central, quando eles são organizados em ordem de magnitude. A média, por
fim, é a medida de tendência central mais comum (e também um modelo estatístico em si,
como veremos mais a frente), ela é calculada pela soma dos resultados, dividido pelo número
de casos. Se houvesse uma série de resultados, por exemplo, da idade de pessoas em um
determinado grupo: 91, 57, 27, 27, 30, 31, 25, 27 e 45. A moda seria 27 (aparece três vezes), a
mediana seria 30 (25, 27, 27, 27, 30, 31, 45, 57, 91) e a média seria de 40
 

 
.

Nesse último caso, se fosse calculada a média sem a pessoa mais velha, a média do
grupo cairia de 40 para aproximadamente 33 anos, uma diferença considerável. Uma
desvantagem da média, nesse sentido, é que ela pode ser influenciada por resultados extremos
(no caso visto, uma pessoa elevou a média do grupo em sete anos). Se esse procedimento
tivesse sido feito para a mediana, o valor mudaria pouco, de 30 para 28,5 (nesses casos a
mediana é a média dos dois valores mais próximos ao centro). Isso demonstra que a mediana
como medida de tendência central é bem menos influenciada por resultados extremos. Além
disso, a média tem outras desvantagens como o fato de ser afetada por distribuições
assimétricas e poder ser usada apenas com dados de intervalo ou de razão.
A média, no entanto, possui vantagens que superam suas deficiências. Como se pôde
perceber, a mediana e a moda ignoram a maioria dos scores da base de dados, já a média leva
em consideração todos os dados existentes. Além disso, a média tende a ser mais estável
quando se trabalha em amostras distintas.
Outra coisa que pode ser interessante de posse dos dados é saber a sua abrangência,
ou seja, a dispersão de seus scores. A dispersão é simplesmente o resultado da subtração do
maior valor pelo do menor e é conhecida como amplitude dos scores. No exemplo anterior
ele seria de 66 (91-25), mas, assim como a média, essa medida é afetada pelos scores
extremos (sem a pessoa mais velha, por exemplo, a amplitude cairia para 32, ou seja, menos
da metade da anterior).
Uma forma de contornar esse problema é ignorar os valores extremos, tal qual foi
feito no exemplo anterior. Na estatística, por convenção, há um padrão de como fazer isso,
que implica em descartar os resultados 25% mais baixos e os 25% mais altos, calculando
apenas a amplitude interquartil, ou seja, os 50% dos scores que se encontram no meio. O
quartil é um valor que divide os dados em quatro partes. Para se ter quatro partes, são
necessárias três divisórias, e os quartis são essas divisórias.
Os quartis são definidos pela mediana central dos dados (que divide os casos em
duas partes iguais) e pelas medianas dessa mediana (que, por sua vez, dividem cada uma das
157

partes em duas partes). O primeiro quartil (mais a esquerda) é chamado de inferior, o do meio
é chamado segundo quartil e o último, de quartil superior. Usando novamente os dados
anteriores como exemplo, os segundo quartil seria a mediana calculada anteriormente, 30, o
quartil inferior seria 27 e o superior seria 51 (novamente nesses casos a mediana é a média
dos dois números mais próximos do centro). De posse desses dados poderíamos calcular a
amplitude interquartil que seria de 24 (51-27). Esse procedimento tem vantagens e
desvantagens. Ao mesmo tempo em que se afastam os casos extremos, perdem-se muitos
dados (50% deles, na verdade).
Outra forma de ver a distribuição de frequências pode não ser tanto em termos de
quantas vezes, de fato, os scores aparecem, e sim pela probabilidade de algum vir a ocorrer.
Essa é uma forma de utilizar a distribuição de frequências para se inferir coisas que vão além
dos dados coletados. Os próprios gráficos já apresentam os dados que se está estudando e a
partir deles pode-se chegar a padrões de comportamentos futuros. Se, ao invés de buscar saber
se um intervalo de resultados ocorreu muitas ou poucas vezes, pretende-se saber a
probabilidade dele ocorrer no futuro, pode-se mensurar essa chance. Esse cálculo varia de 0
(nenhuma possibilidade de acontecer) a 1 (evento ocorrido).
Na teoria, a probabilidade de obter um score de qualquer tamanho pode ser levantada
em todos os tipos de distribuição de frequência, só que isso seria altamente complexo (já que
a distribuição pode assumir qualquer forma). Os estatísticos, para solucionar esse problema,
criaram uma forma de simplificar essa busca por meio da identificação de distribuições mais
comuns. Para cada uma delas, eles criaram fórmulas matemáticas que especificam versões
idealizadas dessas distribuições (chamadas de distribuições de probabilidade). A partir delas
é possível calcular a probabilidade de encontrar scores particulares baseados na frequência
com que um score específico ocorreu numa distribuição com esses formatos comuns.
Um desses formatos é a distribuição normal vista anteriormente. Os estatísticos
calcularam a probabilidade de determinado score ocorrer em uma distribuição normal, em que
a média é 0 e o desvio padrão é 1. Se essas regras forem respeitadas, poder-se-ia usar a tabela
de probabilidades para a distribuição normal e notar qual a probabilidade de ocorrer
determinado score nos dados; no entanto, nem todos os dados coletados apresentam média 0 e
desvio padrão 1.
Para casos assim (a maioria), há solução. Qualquer dado pode ser convertido para ter
essas características. O processo é bem simples, para centralizar os dados em torno do 0,
pega-se cada score e subtrai-se a média geral. A partir daí, divide-se essa operação pelo
desvio padrão, a fim de garantir que ele seja 1. O score resultante é conhecido como valor z.
Assim,
158

  



De posse do valor z, e com o auxílio da tabela de probabilidade criada pelos


estatísticos (não será mostrada, mas ela faz referência ao que já foi dito: valores z e
correspondência de probabilidades de determinado score ocorrer) fica mais fácil calcular
probabilidades. O mais relevante para este estudo não é calcular qualquer probabilidade, mas
perceber alguns valores z específicos que aparecerão mais a frente, porque seus valores
cortam porcentagens relevantes da distribuição. São eles: 1,96 e -1,96, (que cortam os 2,5%
scores superiores e inferiores, ou seja, trabalham com 95% dos scores), ±2,58 (cortam 1% dos
scores e, portanto trabalham com 99% dos casos) e ± 3,29 (que cortam 0,1% dos scores e,
assim, trabalha com 99,9% dos casos).
Outro ponto fundamental para entender, depois de organizados os dados, é a forma
de analisá-los por meio de hipóteses alternativas e nulas (estas últimas, no sentido estatístico,
e não no que foi chamado de hipótese nula no capítulo anterior ao tratar do sistema de crenças
do tomador de decisão ou do aspecto temporal, que se referiam à noção qualitativa ou
conceitual da construção do modelo).
Quando uma teoria ou um modelo explicativo são criados apresentam-se hipóteses
ou predições, que geralmente dizem que um efeito estará presente (neste estudo, os
indicadores derivados das determinantes locais de Soldatos apresentam os efeitos). Essa
hipótese é chamada de alternativa ( ). Há outro tipo de hipótese que é oposto à hipótese
alternativa e, consequentemente, nega suas afirmações. Ela é denominada hipótese nula ( 
e, se fosse utilizado um exemplo parecido com o do capítulo anterior, ter-se-ia as seguintes
afirmações:

 : os municípios administrados pelo PT apresentarão proporcionalmente mais


áreas internacionais que os administrados por outros partidos.
 : os municípios administrados pelo PT não apresentarão proporcionalmente mais
áreas internacionais que os administrados por outros partidos.

A hipótese nula é importante porque não se podem provar hipóteses alternativas por
meio da estatística, mas pode-se rejeitar a hipótese nula. Se os dados dão segurança para
rejeitar a hipótese nula, então a hipótese alternativa ganha força.
159

As hipóteses também podem ser direcionais ou não-direcionais. Ambas apresentam


relações entre as variáveis, mas as do primeiro tipo também afirmam a direção dos efeitos.
Em outras palavras, ao invés de atestar somente que deve haver relação entre A e B, elas
afirmam, por exemplo, que um aumento em A, implica em aumento em B. Essa noção será
importante mais a frente. O exemplo anterior é uma hipótese direcionada: a administração do
PT implica em mais áreas internacionais.
Para testar hipóteses, criam-se modelos explicativos. Quando os dados são em grande
parte numéricos, a tendência é desenvolver um modelo estatístico. A ideia de criar modelos se
relaciona com a representação da realidade de uma forma simplificada, de modo que essa
representação possa explicar fenômenos importantes da realidade sem necessariamente
estudar todos os casos existentes e, a partir daí, dar informações preditivas da realidade. Uma
condição fundamental para o modelo é quão bem ele representa a realidade, ou seja, se ele se
encaixa bem nos dados coletados (fit). Os modelos podem representar bem a realidade (good
fit), de forma apenas satisfatória (moderate fit) ou trazer uma má representação (poor fit).
A verdade é que muitas vezes o grau de representação pode ser ruim pelas técnicas
utilizadas pelo pesquisador. É comum ver, por exemplo, dados que, quando colocados em
gráficos, não representam uma reta, mas mesmo assim o pesquisador utiliza relações lineares
para interpretá-los. Isso não quer dizer que a representação é errada, mas que ela representa
menos a realidade (dados observáveis) do que outro modelo baseado numa curva, por
exemplo. Existem infinidades de modelos à disposição, escolher qual se enquadra melhor nos
dados é um pré-requisito fundamental para desenvolver uma pesquisa.

4.2 O modelo estatístico mais simples: usando a média como exemplo

A preocupação sobre o encaixe ou o enquadramento do modelo com relação aos


dados vem de uma percepção anterior, ao da qualidade de representação. Essa noção é
importante porque dificilmente pesquisadores têm acesso a todos os casos disponíveis para
determinado fenômeno. Em outras palavras, poucas pesquisas trabalham com a população,
apesar de terem como objetivo predições sobre a realidade como um todo. A população pode
ser um conceito muito geral (toda a humanidade) ou restrito (pessoas de doze anos
pertencentes à escola Pingo de Gente), mas é muito melhor trabalhar com conceitos mais
amplos, porque eles facilitam a generalização. Conforme foi dito, acessar todos os casos é
quase impossível e para contornar esse problema o pesquisador utiliza subpartes da
população, ou seja, amostras, que fornecem dados de onde é possível inferir coisas da
realidade.
160

Uma das formas mais simples de atingir essa inferência é por meio da média. Viu-se
anteriormente que ela é uma boa medida de tendência central, apesar de alguns problemas,
como a suscetibilidade a valores extremos; algumas qualidades, no entanto, favorecem a sua
utilização como modelo estatístico, a exemplo de sua estabilidade ao longo de diversas
amostras. Esses aspectos serão aprofundados a seguir.
A média é um valor hipotético que representa dados que são, de fato, observados.
Usando mais uma vez o exemplo da sessão anterior, dizer que a média do grupo é de 40 anos,
esclarece bastante, ao permitir que não se analisem todas as pessoas com as respectivas
idades. A ideia de hipotético é justamente mostrar que esse valor não necessariamente existe
na base de dados (na verdade, ninguém do grupo tinha 40 anos), mas que é uma representação
do grupo (dos dados) como um todo.
Como na maioria dos testes estatísticos, pode-se determinar se o modelo é acurado
olhando quão diferente os dados reais são do modelo criado. Uma forma de fazer isso no
modelo de médias é calcular o desvio (distância) entre os scores dos dados e da média. Esse
desvio pode ser pensado como erro entre os dados observados e os previstos. Pode-se medir a
magnitude dos desvios pela subtração da média (valor hipotético) pelos valores reais. Cabe
notar que como alguns dados estarão subestimados e outros superestimados, há valores
positivos e negativos decorrente dessas operações.
De posse de cada desvio, testa-se a acurácia do modelo por meio de sua soma,
chegando ao erro total do modelo. O problema dessa operação é que seu resultado final é zero
(em decorrência dos sinais trocados dos desvios). Deve-se evitar a anulação da soma e,
matematicamente, isso é feito pela elevação de cada um dos desvios antes da soma, buscando
obter somente números positivos.
A soma dos desvios quadráticos (SS) é o resultado dessa transformação e uma boa
medida de acurácia do modelo. Ela pode ser expressa por:

       

Um problema é que ela é dependente do número de observações, porque quanto


maior a quantidade de casos, maior será o valor da soma. Para evitar essa distorção, divide-se
o valor da soma pelo número de observações (N), conseguindo a média dos erros. Se o
interesse é apenas a média de erros da amostra a divisão pelo N é suficiente, mas geralmente o
que se busca é a media de erros para a população. Para esses casos, divide-se a soma pelos
graus de liberdade.
161

Esse conceito é um pouco difícil de ser explicado, mas, em suma, remete ao número
de observações que são livres para variar. Um exemplo facilita a explicação.
Retirando de uma população uma amostra de 6 observações quaisquer, seus scores são livres
para variar de qualquer forma (podem assumir qualquer valor). Se o interesse é fazer uso da
amostra de 6 observações para calcular o desvio padrão da população, e não da amostra, é
necessário calcular a média da amostra para estimar a média da população. Nesse caso,
mantem-se um parâmetro constante. Supondo que a média da amostra é 12, então assume-se
que a média da população também é 12 e mantem-se esse valor constante. Com o parâmetro
fixado, nem todos os seis scores da observação podem variar, porque como o valor da média
está fixado, apenas cinco scores terão essa liberdade. Por exemplo, se os valores da amostra
fossem 9, 10, 11, 13, 14 e 15 (com média de 12) e fossem mudados cinco desses scores para
5, 6, 8, 20 e 21, o último número teria que ser, necessariamente, 12, para a média permanecer
a mesma. Caso seja mantido um parâmetro constante, o grau de liberdade deve ser o número
da amostra menos 1 (N – 1) .
A medida que divide a soma dos desvios quadráticos pelo graus de liberdade é
chamada de variância ( . Ela é a média dos desvios entre as médias e as observações feitas,
e por isso, também é uma medida de quão bem o modelo se encaixa nos dados. Sua
representação matemática é dada por:

    



 

Existe um problema com essa medida, que é o fato de fornecer valores elevados ao
quadrado e não nas unidades da observação. Para sanar esse problema, tira-se a raiz quadrada
da variância. Essa medida é chamada de desvio padrão (s). E pode ser expressa por:

   
 


A soma dos desvios quadráticos, a variância e o desvio padrão são, portanto, medidas
de “fit” (no caso específico, quão bem a média representa os scores). Pequenos desvios
padrão significam que os valores dos dados estão próximos da média (e, portanto, representa
bem os dados), já os grandes representam o oposto (poor fit). Quando o desvio padrão é zero
todos os valores são iguais.
162

O modelo estatístico da média é importante de ser apresentado, porque de forma


simples ele apresenta procedimentos utilizados em modelos mais complexos. O modelo da
média pode ser representado simplificadamente como:

!"#$%&' ()&*% + ! '

Substituindo a palavra média por regressão linear, análise fatorial ou regressão


logística obter-se-iam os resultados desejados aplicando as técnicas mais apropriadas. O que
se quer dizer é que por trás de todos os modelos existe uma ideia simples, que é a evidência
do resultado baseado na aplicação de um modelo específico mais a consideração de erros.
Da mesma forma, a variância e o desvio padrão no modelo de média ilustram outro
conceito fundamental para os modelos em geral: como a goodness of fit de um modelo pode
ser medido. Se o objetivo é buscar quão bem o modelo se encaixa nos dados, pode-se olhar,
genericamente, para os desvios do modelo, ou seja, para soma dos erros quadráticos,
expressos dessa forma:

&!,*'  '-! ,%&'  ('&!#'

Até agora se focou em como explicar se o modelo desenhado se encaixa bem nos
dados da amostra; no entanto, o que se busca geralmente em um modelo estatístico é como é
possível generalizar as conclusões da amostra para a população. Como visto anteriormente, a
intenção é ir além do que os dados observados fornecem, prevendo efeitos para os casos não
visíveis, ou seja, procura-se por inferências.
Para tentar entender como fazer isso, pode-se não olhar se o modelo se encaixa bem
nos dados dessa amostra, mas se ele se encaixa na população de onde essa amostra foi
retirada. Uma das formas de relacionar a amostra à população é pela identificação do erro
padrão. Muitas vezes esse conceito se confunde com o de desvio padrão, mas eles
representam coisas diferentes. Foi visto acima que para identificar se o modelo encaixa-se
bem nos dados de uma amostra é necessário saber o desvio padrão presente nele.
Pode-se fazer uso de mais do que uma amostra para tentar representar a população.
Quando se coletam dados dessas amostras distintas, uma média para cada uma delas será
encontrada e elas, possivelmente, serão distintas. Isso acontece porque cada amostra comporta
membros (casos) diferentes de uma população (então existe a possibilidade de, por acaso,
163

encontrar amostras com scores mais altos ou mais baixos), há, nesses casos, o que se chamam
de variação amostral.
Essas médias distintas são coletadas e é possível executar o mesmo procedimento
que foi feito anteriormente com os scores de uma só amostra, ou seja, pode-se identificar uma
distribuição de frequências para elas, encontrando, assim, a distribuição amostral. Ela
informa o comportamento das amostras da população, sendo que a tendência da distribuição
se localiza em torno do centro da média da população. Consegue-se a média da população
com as médias das médias das amostras. Nesse sentido, se for identificada a acurácia dessas
médias, ter-se-á alguma ideia sobre quão representativa uma dada amostra é da população.
A acurácia das médias é dada pelo mesmo processo feito com os scores, ou seja, com
o desvio padrão. Quando se calcula o desvio padrão entre as médias das amostras descobre-se
a medida de variabilidade entre as diversas médias das amostras. O resultado desse
procedimento é chamado de erro padrão das médias. Dessa forma pode-se calcular as
diferenças entre as médias de cada amostra e a média total, elevando essas diferenças ao
quadrado, somando-as, e as dividindo pelo número de amostras. Finalmente, tira-se a raiz
quadrada desse valor para conseguir os desvios padrões das amostras, ou seja, o erro padrão.
Na prática, é muito difícil conseguir centenas de amostras e o que se faz é apenas
aproximar-se o erro padrão. Felizmente, alguns estatísticos cientes desse problema,
demonstraram que quando as amostras são grandes (para esse caso, geralmente definidas
como acima de 30) elas tendem a ter uma distribuição normal com a média igual à média da
população e um desvio padrão de:


./ 
0

Isso é chamado de teorema do limite central e é útil nesse contexto porque quer
dizer que se a amostra é grande pode-se utilizar essa equação para aproximar o erro padrão
(quando a amostra é pequena – menor que 30 – a distribuição amostral tem outro formato,
conhecida como distribuição-t, mas não será aprofundada aqui).
Uma abordagem diferente para conseguir o nível de acurácia da média de amostra
como estimativa para a média da população é calcular limites nos quais se acredita que o
valor da média cairá e não um ponto específico. Tais limites são chamados de intervalo de
confiança. A ideia por trás dele é construir uma amplitude de valores no qual se imagina que
os valores da população irão cair (no caso do modelo das médias, o valor seria a média
verdadeira).
164

É necessário criar um intervalo de confiança de forma a retirar dele informações


úteis. Para isso, ele precisa de algumas propriedades que informem a probabilidade de conter
o verdadeiro valor do que se está tentando estimar (no caso específico, a média).
Geralmente, buscam-se intervalos de 95% de confiança, outras, de 99%, mas todas
têm a mesma interpretação, ou seja, são limites construídos de tal forma que em certa
porcentagem das vezes (95% ou 99%), o valor verdadeiro da média da população cairá.
Quando se usa um intervalo de 95%, por exemplo, na verdade o que se está implicando é que
em uma coleta de 100 amostras, calculadas as médias e seus intervalos de confiança, em 95
delas os intervalos de confiança conterão o valor verdadeiro da média da população.
Para calcular esse intervalo, é necessário saber os limites nos quais 95% das médias
irá cair. Anteriormente foi dito que 95% dos valores z caem entre -1,96 e 1,96. E que os
valores z são válidos em uma distribuição normal, em que a média é 0 e o desvio padrão é 1.
Isso quer dizer que se as médias das amostras tiverem essas características, elas cairão entre -
1,96 e 1,96. Viu-se também pela teoria do limite central que amostras grandes tendem a ter
uma distribuição normal. Para conseguirmos, entretanto, os valores correspondentes nos
nossos dados brutos seriam necessários uma média 0 e um desvio padrão 1 para as médias das
amostras. Faz-se isso pelo mesmo processo dos scores em uma amostra, ou seja, convertendo
os scores em valores z. Foi apresentado anteriormente que a equação de conversão é
representada por:

  



Como se sabe que os limites são -1,96 e 1,96 em valores z, então para achar os
valores correspondentes substitui-se o z na equação:

/4/ /4/
123  123 
5 5

Rearranjando as equações tem-se que:

123 6      123 6     
123 6  +    123 6  +   
165

Podem-se identificar os limites inferiores e superiores do intervalo de confiança caso


se saiba os valores do desvio padrão (s) e da média (), entretanto, usa-se o erro padrão (SE)
e não o desvio padrão, já que se quer saber a variabilidade entre as médias das amostras e não
a variabilidade dos scores de uma amostra. Os limites inferior e superior são representados,
portanto, por:

7898:;8<=;>8?>@?8<:;>ABC?@;D?<E8B<FB    123 6 G


7898:;HIJ;>8?>@?8<:;>ABC?@;D?<E8B<FB   + 123 6 G

A média está sempre no centro do intervalo de confiança. Isso significa que se a


média representa bem a média verdadeira, o intervalo de confiança deve ser pequeno. Sabe-se
no caso apresentado que 95% dos intervalos de confiança contêm a média verdadeira, se os
intervalos são pequenos, portanto, a média da amostra deve estar bem próxima à média da
população. Se o intervalo de confiança é grande, as médias devem estar distantes, mostrando
que é uma má representação da população. Esse caso apresentado foi para o intervalo com
95% de certeza, mas pode ser substituído por 99% ou 90% da mesma forma.
Viu-se, até agora, como um modelo se encaixa bem nos dados coletados e se esses
dados da amostra representam bem a população; é importante, no entanto, dar um passo
adiante e entender como esses modelos que se encaixam nos dados podem ajudar a testar as
predições das pesquisas, ou seja, como testam as hipóteses apresentadas. A maioria das
pesquisas envolvem estatísticas inferenciais, que dizem se as hipóteses alternativas dos
modelos são prováveis de serem verdadeiras. Em outras palavras, se ajudam a recusar ou
confirmar as previsões.
A ideia seria encaixar um modelo estatístico nos dados que representam a hipótese
alternativa e ver quão bem ele se encaixa, em termos da variância que ele explica. Se o
modelo se encaixa bem nos dados (explica muito das variâncias nos scores) então assume-se
que a previsão inicial é verdadeira, ou seja, ganha-se confiança na hipótese alternativa. Não se
pode ter total certeza (100% de garantia) de qual hipótese é a correta, então é calculada a
probabilidade do modelo ser adequado quando não há efeito na população (ou seja, quando a
hipótese nula é verdadeira). Quanto mais essa probabilidade diminui, se ganha mais confiança
que a hipótese alternativa é, de fato, correta e que a hipótese nula pode ser rejeitada.
Para explicar o que há por trás dessa ideia, pode-se fazer uso de um exemplo. O caso,
testado por Fisher e descrito por Salsburg (2002), conta a história de uma senhora que diz
poder determinar se, em uma xícara, o chá é colocado antes do leite ou se o leite é adicionado
depois do chá, apenas experimentando a mistura. São dadas a ela algumas xícaras com os dois
166

tipos de ordem de mistura para ver sua capacidade preditiva. Ela saberia que existe um
número igual de xícaras em que o leite é adicionado antes e depois, mas não teria informação
sobre como essas xícaras seriam ordenadas.
Se a situação mais simples fosse apresentada, na qual existem apenas duas xícaras, a
senhora teria 50% de chance de adivinhar corretamente. Se ela, de fato, acertasse, ter-se-ía
pouca confiança de que ela realmente consegue determinar a ordem de adesão de leite e chá,
porque os 50% de chance são possíveis de atingir mesmo ao acaso. Imagine o caso em que, ao
invés de colocar apenas duas xícaras, fossem dispostas seis delas. Seria possível, nessa
situação, ordenar as xícaras em 20 diferentes formas e a senhora poderia adivinhar a ordem
correta em apenas 1 entre 20 vezes (ou 5%). Se ela acertasse mesmo assim, ter-se-ia muito
mais confiança de que ela genuinamente tem a capacidade de diferenciar a ordem das
misturas. Somente quando existe uma pequena probabilidade dela acertar por sorte é que se
acredita que ela tem uma habilidade genuína.
A escolha de seis xícaras tem um propósito (5% de chance de acerto), porque Fisher
sugere que 95% é um bom limite para a confiança. Apenas quando se tem 95% de certeza que
um resultado é genuíno (não encontrado por acaso) é que se deve aceitá-lo como verdadeiro.
Forma distinta de ver isso é dizer que somente quando o resultado tem 5% de probabilidade
(p<0,05) de ocorrer por acaso é que o efeito é genuíno. O achado, nesse caso, é
estatisticamente significante.
De posse dessa ideia de encaixar o modelo estatístico nas hipóteses que se quer testar
e da possibilidade de ver a probabilidade de os scores acontecerem por acaso, pode-se testar
se o modelo estatístico é significantemente adequado para os dados. Para fazer isso é
importante também ter em mente a diferença entre variação sistemática e não-sistemática. A
primeira refere-se à variação explicada pelos efeitos do modelo que foram encaixados nos
dados. A segunda remete às variações que não podem ser explicadas pelo modelo, ou seja, os
erros ou as variações não atribuídas ao efeito que se está estudando.
A forma mais simples de testar se o modelo se encaixa nos dados ou se a hipótese é
uma boa explicação dos dados que se observa é comparar a variação sistemática à não-
sistemática. Com isso, poder-se-á comparar quão bom o modelo/hipótese é em explicar os
dados a quão ruim ele é (o erro). A razão entre essas variações é conhecida como teste de
significância e pode ser representada por:

PQRSOTUSQVWXYSUQZQXVY[\[ZVY[ V^VS_[
$!$!&!*KL*M*NOLN*%  PQRSOTUSQT][VXYSUQZQXVY[\[ZVY[ VRR[
167

Existem muitos tipos de testes, como o t, F e   , por exemplo. Alguns têm formatos
diferentes, mas a ideia é sempre a mesma: a quantidade de variância que o modelo encaixado
nos dados pode explicar com relação à quantidade que não pode. Essa noção é bastante
intuitiva, porque se o modelo é bom, espera-se que seja capaz de explicar mais a variância do
que não explicá-la. Nesses casos, o teste de significância será maior que 1 (mas não
necessariamente significante).
O teste de significância possui algumas propriedades conhecidas. Especificamente,
sabe-se quão frequentemente diferentes valores dessa estatística ocorrem. De posse dessa
informação, é possível calcular a probabilidade de obter valores particulares (assim como foi
feito anteriormente com a probabilidade de conseguir tamanhos de score específicos de uma
distribuição de frequência). Isso permite estabelecer quão provável seria obter um teste de
significância de certo tamanho se não houvesse efeito (a hipótese nula fosse verdadeira).
Pode-se, por exemplo, identificar a probabilidade de achar um valor tão grande quanto o do
próprio teste de significância que se possui.
Quanto mais variação o modelo explicar, comparado ao que não pode explicar, maior
o teste de significância será e mais improvável de a variação ocorrer por acaso. Em suma,
quanto maior o teste de significância, a probabilidade de a variação ocorrer acidentalmente é
menor. Quando essa probabilidade cai para baixo de 0,05 (critério de Fisher), aceita-se como
fornecedor de confiança suficiente para assumir que o teste de significância é tão grande
porque o modelo explica uma quantidade suficiente de variação para refletir o que
genuinamente está acontecendo no mundo real, ou seja, na população. O teste de significância
é chamado, então, de significante.
Dado que o modelo estatístico que se encaixou nos dados reflete a hipótese que foi
testada, um teste de significância significante revela que o modelo não representaria tão bem
os dados quando o efeito na população é inexistente (ou seja, quando a hipótese nula é
verdadeira). É possível rejeitar a hipótese nula e ganhar confiança que a hipótese alternativa é
verdadeira. Na verdade, como foi visto, não acontece dessa forma, já que se não pode falar em
hipótese verdadeira ou falsa, e sim em termos de probabilidade dela ocorrer.
Apresentou-se no segmento anterior que as hipóteses podem ser direcionais (ex.:
quanto maior A, maior B) ou não-direcionais (ex.: quanto maior A, maior ou menor B). Um
modelo estatístico que testa uma hipótese direcional é chamado de teste unilateral ou uni-
caudal (one-tailed test), já o que testa hipótese não-direcional é conhecido como bilateral ou
bi-caudal (two-tailed test).
Quando não há indicação de que as hipóteses são direcionais, as relações podem
assumir três possibilidades: a positiva, por exemplo, quando indivíduos com determinado
168

atributo impactam mais num resultado do que os indivíduos sem o atributo, ou seja, a
diferença das médias dos dois grupos é positiva (média do grupo com atributo é maior que a
média dos sem); a negativa, quando indivíduos com determinado atributo impactam menos
em um resultado do que os indivíduos sem o atributo, ou seja, a diferença das médias dos
grupos é negativa (média com atributo é menor que a média dos sem); e inexistente, quando a
diferença dos grupos é zero (as médias dos com atributos e sem são iguais). Essa última
possibilidade é a hipótese nula.
A direção do teste de significância depende da diferença entre as médias, se é
positiva ou negativa. Caso se opte pela diferença positiva há que se ter em mente que a média
dos com atributo é maior do que a dos sem atributo e daí aplicar o teste de significância. Se
tiver previsto de forma errada e a relação for contrária, então o teste de significância será
negativo.
Isso é importante porque se se for necessário fazer, a um nível de 0,05, um teste de
significância e espera-se um resultado, por exemplo, maior do que +5 e na verdade obtemos -
8, é possível que tenhamos que rejeitar a hipótese (ou seja, a explicação do fenômeno) mesmo
que a diferença entre as médias exista, havendo, portanto, uma relação entre as variáveis. Para
evitar esse tipo de problema, pode-se olhar para as duas caudas da distribuição de possíveis
testes de significância, ou seja, buscar-se-á resultados positivos e negativos. Fazer isso tem
um preço, porque para manter o critério de 0,05, é necessário dividir a probabilidade em dois,
de 0,025.
Se for feita uma previsão direcional, colocam-se “todos os ovos numa só cesta”, e
focar-se-á apenas no fim da distribuição (seja positivo ou negativo, dependendo da direção da
previsão feita). Ao invés de ter duas áreas pequenas em cada uma das caudas, tem-se uma
área grande no final de apenas uma delas que mostra valores significantes.
Consequentemente, é possível olhar apenas para os valores do teste significativo que ocorreria
por acaso com a probabilidade de 0,05. Em um gráfico, o valor que começa a área de nível de
0,05 de confiança é menor do que o valor que começa a área de nível de 0,025 de confiança.
Isso significa que se for feita uma previsão específica, precisa-se de um teste de significância
menor para achar o resultado significante (porque se está olhando para apenas um dos lados
da distribuição), mas para o caso da previsão estar na direção errada, falhar-se-á em detectar
um efeito que, de fato, existe.
Falou-se anteriormente que testes de significância são usados para saber algo sobre o
estado real do mundo (com certo nível de certeza). Especificamente, tenta-se identificar se
existe um efeito na população. Existem duas possibilidades no mundo real: que exista, de fato,
um efeito na população ou que não exista efeito algum. Não há nenhuma forma de saber qual
169

dessas possibilidades é verdadeira, entretanto, pode-se olhar os testes de significância e sua


probabilidade associada para dizer qual das duas é mais provável. Obviamente que é
importante que se tenha um mínimo de acurácia, e, tendo isso em vista, Fisher sugeriu que se
fosse muito conservador, acreditando que um resultado é genuíno apenas quando se tivesse
95% de confiança, ou seja, que exista apenas 5% de probabilidade dele ocorrer se não existir
um efeito (hipótese nula verdadeira).
Mesmo que se tenha 95% de confiança, ainda existe uma pequena chance de se estar
errado. Na verdade, existem dois tipos e erros que se pode cometer, o erro do tipo 1 e o erro
do tipo 2. O erro do tipo 1 ocorre quando se acredita que existe efeito genuíno na população,
quando, de fato, não há. Usando o critério de Fisher, então, há a probabilidade de 0,05 de erro,
quando não existe efeito na população. Esse valor é chamado de nível de significância α. Em
outras palavras, assumindo que não existe nenhum efeito na população, se replicados os dados
coletados 100 vezes, poder-se-ia esperar que em cinco ocasiões se obtém um teste de
significância grande o suficiente para pensar que houve um efeito genuíno na população,
quando na verdade não houve.
O oposto é o erro tipo 2, que ocorre quando se acredita que não há um efeito na
população, quando, de fato, há. Isso acontece quando se obtém um teste de significância
pequeno (talvez porque exista uma série de variações naturais entre as amostras). Idealmente,
seria bom que a probabilidade desse erro fosse bem baixa (se existe um efeito na população,
seria importante que se pudesse detectá-lo). Convencionalmente, diz-se que o aceitável para o
erro do tipo 2 é de 0,2 (20%), e é chamado de nível de significância β. Isso quer dizer que se
há 100 amostras de dados da população em que há um efeito, em 20 deles se falharia em
detectá-lo.
O cenário apresentado para testar se um efeito é genuíno possui alguns problemas. O
primeiro deles é saber quão importante são eles. O fato de um teste de significância ser
significante não garante que o efeito que mede seja relevante ou importante. A solução para
esse problema é medir o tamanho do efeito que se está testando, de uma forma padronizada.
O tamanho do efeito é apenas uma forma simples e objetiva de padronizar a medida da
magnitude dos efeitos observados. A padronização ajuda na comparação dos efeitos em
estudos distintos, porque não se prende a variáveis nem unidades específicas ou mesmo como
elas foram medidas.
Muitas medidas de efeito foram propostas por estatísticos, as mais famosas são a d de
Cohen, o coeficiente de correlação r de Pearson e a razão de chances (odds ratio). O
coeficiente r é o mais usado por apresentar medidas que variam de 0 (sem efeito) a 1 (efeito
perfeito). O r não é medido de forma linear, então um efeito de 0,2 não representa a metade de
170

0,4. Além, disso é importante compreender que, assim como no caso das médias, busca-se o
efeito para a população como todo, mas como não se tem acesso a esse número, faz-se uso do
tamanho do efeito da amostra como aproximação.
Os tamanhos do efeito em uma população são intrinsicamente ligados a três outras
propriedades estatísticas: o tamanho da amostra no qual os tamanhos do efeito de uma
amostra são baseados, o nível de probabilidade no qual aceita-se um efeito como sendo
estatisticamente significante (o nível α) e a habilidade de um teste em detectar um efeito desse
tamanho (chamado de poder estatístico).
Quando se sabe sobre três dessas quatro propriedades pode-se identificar a última
delas. Geralmente utiliza-se o nível α de 0,05 então esse valor já é conhecido. O poder de um
teste é a probabilidade de um dado teste encontrar um efeito pressupondo que exista um na
população. Foi visto há pouco que o erro do tipo 2 mede a probabilidade de não encontrar um
efeito quando ele, de fato, existe. O poder de um teste é, portanto, o contrário do erro do tipo
2, que é medido pelo nível de significância β. Tem-se que o nível de poder é igual a   `
  a1b a1c; portanto, deve-se buscar um poder de 0,8, ou seja, de 80% de chance de
encontrar um efeito, caso ele exista. O tamanho do efeito em uma população pode ser
estimado pelo tamanho do efeito na amostra e o tamanho da amostra é definido pelo
experimento, então é fácil de ser calculado.
Existem dois elementos úteis para se encontrar de posse dos dados dessas quatro
propriedades. A primeira é o cálculo do poder de teste (chamado apenas de β). Pressupondo
que o experimento já foi conduzido, então, já se tem selecionado um valor para o α, podendo
estimar o tamanho do efeito baseado na amostra e sabendo quantos casos foram estudados. É
possível usar esses valores para calcular β. Se esse valor acabar sendo 0,8 ou mais, fica-se
confiante que se atingiu poder suficiente para detectar qualquer efeito que possa existir, mas
se o valor for menor, talvez se queira replicar o experimento usando mais casos para aumentar
o poder.
O segundo elemento é o cálculo do tamanho da amostra necessária para atingir um
determinado nível de poder. Dado que se sabem os valores de α e β, é possível usar pesquisas
anteriores (ou similares) para estimar o tamanho do efeito que se espera detectar em um
experimento. Podem-se calcular quantos casos são necessários para detectar um efeito.

4.3 Pressupostos
171

Nos parágrafos anteriores foram identificados alguns procedimentos e noções básicas


da estatística que são aplicadas na construção de um modelo. Apesar de ter tomado um espaço
excessivo, as noções são importantes para entender como se desenham os modelos estatísticos
e por que cada um deles trabalha de formas diferentes os dados coletados. A média serviu
como modelo exemplificativo por ser uma forma simples de a amostra representar os dados e
a população. Nos próximos segmentos serão apresentados os modelos de correlação e
regressão linear até se chegar ao que de fato interessa para este estudo: a regressão logística e
a regressão logística para os eventos raros.
Um ponto importante antes de desenvolver modelos mais complexos é entender os
pressupostos presentes na análise estatística. Não se entrará a fundo nesse tema porque a
literatura geralmente se empenha em mostrar como respeitar os pressupostos e isso não é o
objetivo deste trabalho. Pretende-se apresentar apenas o mínimo para que se entenda a
apresentação dos resultados do próximo capítulo. Ao invés de detalhar cada pressuposto, será
apresentado rapidamente o que cada um implica. Nas respectivas explicações dos modelos,
aparecerão outros pressupostos específicos.
Os pressupostos são importantes porque quando não são respeitados perde-se a
capacidade de formular conclusões acuradas sobre a realidade. Há uma diferença entre
pressupostos de dados paramétricos de dados não-paramétricos. Os dados paramétricos estão
contidos nos grandes catálogos de distribuição que foram desenvolvidos pelos estatísticos e
para serem considerados como tais devem respeitar uma série de pressupostos. Dados não
paramétricos tendem a ser mais livres de pressupostos, mas também podem fornecer testes
com menos poder.
Existem alguns pressupostos mais comuns que aparecem para a distribuição normal e
esses que serão rapidamente identificados. O primeiro deles é a distribuição normal dos
dados. A ideia desse pressuposto já foi vista anteriormente, mas é importante repassá-la. Ela
pode ser um pouco confusa e mal-entendida porque significa coisas diferentes em contextos
distintos. Às vezes a distribuição normal se refere à distribuição amostral (nos testes t, por
exemplo), outras aos erros dos modelos (por exemplo, nos casos de regressão).
A normalidade poder ser identificada por uma série de testes, que vão desde a
visualização quando os dados são colocados no gráfico (buscar o formato de sino) até testes
como o Kolmogorov-Smirnov e o Shapiro-Wilk, que comparam a distribuição dos dados com
uma distribuição normal, passando pela análise de assimetria e curtose.
Outras noções já apresentadas também são importantes para trabalhar com a
distribuição normal. A teoria dos limites centrais identifica que quando os dados de uma
amostra possuem distribuição próxima da normal a tendência é que a distribuição amostral
172

também seja. A mesma teoria também afirma que em amostras grandes (30 ou mais) a
distribuição amostral tende a ser normal, independentemente da forma dos dados coletados.
Quanto mais a amostra cresce, maior será a confiança de que a distribuição amostral é normal.
Outro pressuposto importante é a homogeneidade da variância. Isso quer dizer que a
variância deve ser a mesma no decorrer dos dados. Em desenhos de pesquisa nos quais se
testam vários grupos de participantes esse pressuposto significa que cada uma dessas amostras
vem de populações com a mesma variância, ou seja, que sua variável dependente deve ser
estável entre os grupos. Em pesquisas correlativas, esse pressuposto representa que a
variância deve ser estável em todos os níveis de outras variáveis, ou seja, quando se passa
pelos níveis de uma variável, as outras não devem mudar (muito).
Existem testes para analisar se esse pressuposto é respeitado. Um dos mais populares
é o teste de Levene, que simplesmente compara a hipótese nula das variâncias nos diversos
grupos serem iguais. Se o teste for significante a d e a1af então se pode concluir que a
hipótese nula é incorreta e a variância é significativamente diferente (o pressuposto de
homogeneidade é violado). Do contrário, quando o teste é não significante ad g a1af, então a
variância é bem parecida (a homogeneidade é respeitada).
O terceiro pressuposto é o de dados de intervalo. Ele significa que os dados devem
ser medidos pelo menos no nível de intervalos, ou seja, devem apresentar ordenação entre as
categorias, que se organizam em faixas de intervalos iguais. O valor da categoria seguinte
equivale ao mesmo da anterior e assim por diante. Em pesquisas comportamentais esses dados
são muito usados, principalmente quando são apresentados questionários para ranquear algo,
uma escala de satisfação, por exemplo, de 0 a 5. Sabe-se nesses casos que de a diferença de 1
para 2 é a mesma de 2 para 3 e assim por diante, ou seja, os intervalos são iguais. Esse
pressuposto é identificado pela simples observação dos dados.
O último pressuposto importante é o da independência. Como nos caso da
normalidade, ele pode representar coisas diferentes dependendo da pesquisa desenvolvida.
Para casos experimentais, por exemplo, isso quer dizer que os dados de participantes distintos
não são dependentes, ou seja, o comportamento de um não pode influenciar no de outro. Na
regressão esse pressuposto também relaciona os erros do modelo como sendo não
correlacionados.
Existem formas de sanar alguns problemas envolvendo pressupostos, os mais
elaborados se referem aos de normalidade e homogeneidade de variância, em que os dados
atípicos (outliers) são tratados. Os outliers geralmente distorcem a distribuição dificultando
os cálculos e as inferências deles decorrentes. Eles não serão tratados especificamente, mas é
importante saber que existem. Algumas opções são mais recorrentes: remover os casos
173

atípicos da amostra, transformar os dados (por meio do log, raiz quadrada, etc.) e mudar os
scores (para o próximo score mais alto somado a 1 unidade, por exemplo). Cada uma desses
procedimentos tem que ser avaliado, porque trazem consequências perigosas aos dados e aos
modelos, muitas vezes inclusive podem trazer mais defeitos do que benefícios.
Esse assunto parece um pouco abstrato, mas se pode dar um exemplo. Pressuponha
que em uma amostra existem scores de 25, 49, 100, 144, 400 e 9604. Quando analisados,
provavelmente o valor atípico de 9604 tende a distorcer a análise e não respeitar alguns
pressupostos. Para esses casos, pode-se remover o dado (mas só em caso de ter certeza que
esse valor não pertence à população de onde veio a amostra), transformá-lo (pode-se tirar a
raiz quadrada de todos eles, já que números grandes são mais suscetíveis à operação do que o
pequenos, ficando com os valores de 5, 7, 10, 12, 20 e 98, a diferença entre 20 e 98 é
sensivelmente menor do que entre 400 e 9604) ou, quando a transformação não for
satisfatória, é possível mudar os scores por processos padronizados (só em casos extremos,
porque o processo não é simples e envolve muitos erros; esse procedimento pode, muitas
vezes, ser considerado uma forma de trapaça).
Sanar os dados para respeitar os pressupostos nem sempre é uma boa ideia e os
procedimentos são complexos; entretanto, nem todos os dados precisam desse rearranjo. No
próximo capítulo, quando serão analisados os dados, apresentar-se-á novamente alguns dos
pressupostos. De forma prática, será mais fácil compreender os procedimentos.

4.4 Correlação

Identificou-se anteriormente como a média pode ser um modelo estatístico;


entretanto, os exemplos consideraram apenas uma variável. A representação de dados
apresentada foi de apenas uma determinada característica e, a partir daí, relacionaram-se seus
scores com a média. A correlação refere-se, basicamente, à associação entre duas variáveis.
Há duas medidas principais para identificar essa relação: a covariância e o coeficiente de
correlação.
A forma mais simples de ver uma associação entre duas variáveis é observar se elas
“covariam”. Para entender o que a covariância significa se deve olhar novamente o que foi
apresentado como variância:

          





 
174

Em que  é a média da amostra,  é o ponto em questão e o  é tamanho da amostra.


Se o interesse é perceber se duas variáveis são relacionadas, então se busca saber se mudanças
em uma variável representam mudanças em outra. Em outras palavras, se uma variável desvia
de sua média, esperar-se-ia que a outra variável desvie de sua média de forma semelhante ou
de forma proporcionalmente oposta.
Pode-se calcular a covariância da mesma forma que se calcula a variância,
analisando a quantidade total dos desvios. Se forem somados, encontra-se também o valor
zero, por causa do problema dos sinais trocados já citados. Além disso, apenas somando os
desvios haverá pouca informação sobre a relação entre as variáveis, que é o objetivo. No caso
em que se analisa apenas uma variável, elevam-se os desvios ao quadrado para eliminar o
problema do seu cancelamento. Quando se analisam duas variáveis, ao invés de se elevar ao
quadrado, podem-se multiplicar os desvios de uma variável pelos desvios respectivos da
outra. Se ambos os desvios são positivos ou negativos, obtém-se um valor positivo,
representando que estão indo na mesma direção. Se um for positivo e outro negativo, obtém-
se um valor negativo, ou seja, os desvios estão em direção opostas. Quando os desvios
correspondentes em duas variáveis distintas são multiplicados, obtêm-se os desvios cross-
product.
Assim como na variância, caso se busque um valor médio dos desvios entre as
variáveis, deve-se dividir a soma das multiplicações pelo número de observações (na verdade,
pelos graus de liberdade, pelo mesmo motivo visto anteriormente). Esta média da soma das
combinações dos desvios é chamada de covariância e pode ser representado por uma equação
bastante similar à da variância:

   h  h
N',1 h


Calcular a covariância é uma boa forma de saber se duas variáveis se relacionam


uma com a outra. Uma covariância positiva indica que se uma variável desvia de sua média,
então a outra variável desviará na mesma direção, já quando a variável é negativa o desvio de
uma variável de sua média implica em um desvio na direção oposta da outra variável. Existe
um problema da covariância como medida de correlação entre variáveis e isso se refere ao
fato dela não ser uma medida padronizada, ou seja, ela depende da unidade da observação.
Isso quer dizer que a comparação entre as diversas covariâncias encontradas não são objetivas
(só se pode dizer se uma covariância é maior que outra quando elas estão na mesma unidade
de medida).
175

Há formas de padronizar a unidade de medida de covariância. Ela ocorre pelo


processo de padronização (standardization). Uma forma de padronizar poderia ser a
obrigatoriedade de todas as covariâncias serem medidas na mesma unidade. Isso, entretanto,
não faz sentido algum, porque as medidas podem ser muito diferentes (distâncias,
temperatura, humor, taxa glicêmica, etc.). A estatística utiliza uma medida que possa ser
facilmente convertida para todo tipo de mensuração. Essa medida é o desvio padrão. Ele foi
apresentado anteriormente esse tipo de unidade, e, como a variância, ele representa a média
dos desvios entre os scores e a média da amostra. Caso se divida qualquer distância para a
média (desvio) por desvios padrões, obtêm-se resultados em unidades de desvio padrão.
Pela lógica, se há interesse em expressar a covariância em unidades de medida
padronizada deve-se dividi-la pelo desvio padrão. Existem duas variáveis e, portanto, dois
desvios padrões. Quando calculada a covariância, encontram-se dois desvios, um para cada
variável, e os multiplicamos. Para os desvios padrão faz-se o mesmo, multiplica-se e divide-se
a covariância pelo produto dessa multiplicação. A equação é representada, portanto, por:

N',Wi    h  h



W i   W i

Em que W é o desvio padrão da primeira variável e i é o desvio padrão da segunda


variável. Essa covariância padronizada é chamada de coeficiente de correlação, que também
pode ser conhecida por coeficiente correlação product-moment de Pearson ou coeficiente de
correlação de Pearson (r).
Os valores do coeficiente variam de -1 a +1, em que o primeiro representa uma
relação perfeitamente negativa e o segundo, perfeitamente positiva, no sentido que variam
exatamente na mesma proporção. Quando o coeficiente é zero não houve nenhuma relação
entre as variáveis, ou seja, se uma variável mudar a outra permanece inalterada. Esse
coeficiente foi citado anteriormente porque ele também é uma boa medida de efeito.
Existem formas de calcular também se o coeficiente de correlação é significante
(testando a hipótese nula de a correlação ser diferente de zero, se o coeficiente observado for
pouco possível de acontecer se não houver efeito na população, então se pode ganhar
confiança de que a relação observada é estatisticamente relevante) e do intervalo de confiança
para o r (utilizando as técnicas do valor z já apresentadas).
É importante ressaltar um aspecto fundamental da correlação que muitos ignoram e
acabam concluindo mais do que o modelo estatístico permite. O coeficiente de correlação não
fornece indicação sobre a direção de causalidade! Isso acontece por dois motivos. O primeiro
176

refere-se ao problema da terceira variável. Em toda correlação não se pode pressupor


causalidade, porque pode haver outras variáveis medidas e não medidas que afetam o
resultado, por exemplo, nas situações em que as duas variáveis são afetadas por uma terceira e
por isso se correlacionam. O segundo tem a ver com a direção da causalidade. Os
coeficientes de correlação não dizem nada sobre qual a variável que causa mudança na outra.
Mesmo se fosse possível ignorar o problema da terceira variável e assumir que somente as
duas variáveis estudadas são correlatas, o coeficiente não diz nada sobre a direção entre elas.
Apesar de não ser possível fazer conclusões diretas sobre a causalidade de uma
relação, pode-se dar um passo adiante com o coeficiente de correlação e elevá-lo ao quadrado.
O coeficiente de correlação elevado ao quadrado é conhecido como coeficiente de
determinação (R²) e mede a quantidade de variabilidade em uma variável que é
compartilhada por outra. Supondo que há duas variáveis (A e B) e o coeficiente de correlação
entre elas é de r = 0,46, pode-se inferir, portanto, que a variabilidade compartilhada entre A e
B é de R² = 0,21.
Se multiplicar esse número por 100 e transformá-lo em valores percentuais, é
possível dizer que A compartilha 21% de sua variabilidade com B. Apesar de A ter um alto
grau de correlação com B, ele responde por 21% da sua variabilidade. Outra forma de ver isso
é dizer que 79% da variabilidade de B são explicados por outras variáveis que não A. Apesar
do R² ser uma medida extremamente útil da importância subjetiva do efeito, ele tampouco
pode identificar uma inferência causal, mesmo que se usem palavras fortes para falar de suas
atribuições, como “responde por” ou “explica a variabilidade”.
Existem ainda outros tipos de coeficientes de correlação. Os mais famosos são o
coeficiente de correlação de Spearman e o tau de Kendall. Ambas são estatísticas não
paramétricas e como tais, podem ser usadas quando os dados infringem pressupostos como os
da normalidade.
Um último ponto importante da correlação é mostrar que ela assume dois tipos de
forma. A correlação bivariada é a correlação entre duas variáveis já apresentadas até o
momento. A correlação parcial, por outro lado, estuda a correlação entre duas variáveis
enquanto controla o efeito de uma ou mais variáveis adicionais. Essa diferença implica em
procedimentos distintos de cálculo, mas que não serão detalhadas neste capítulo.

4.5 Regressão linear simples e múltipla

No segmento anterior, apresentou-se como mensurar relações entre variáveis. Essas


correlações são muito úteis, porém é possível levar essa discussão um pouco mais a frente e,
177

ao invés de somente analisar a variabilidade, tenta-se prever uma variável com base em outra.
A essência do modelo é encaixá-lo aos dados e usá-lo para prever os valores da variável
dependente (VD) a partir de uma (regressão linear simples) ou mais variáveis
independentes (VI) (regressão linear múltipla). Outra característica é que a variável
dependente numa regressão linear é quantitativa.
No começo da explicação estatística foi dito que todos os modelos possuem uma
ideia básica representada por:

!"#$%&' ('&!#' + ! '

Na regressão, o modelo é linear, ou seja, ele pode ser substituído por uma linha reta.
Toda reta pode ser definida por duas características, a primeira é o coeficiente angular (- ,
que representa o seu grau de inclinação, e a segunda é o ponto em que a reta cruza com o eixo
das ordenadas (eixo vertical do gráfico), chamado de intercepto - . O modelo acima,
quando trabalha com apenas uma variável preditiva (VI), é chamado de regressão linear
simples e pode ser representado por:

!"#$%&' !j"%F]'&% !$% + ! '

k - + -  + l

Em que k é o resultado que se quer prever e o  é o score do participante da


variável preditiva. O - e o - são chamados de coeficientes de regressão e o l é o termo
residual que representa o score previsto pela reta para o participante n e o score que o
participante n, de fato, obteve (às vezes esse termo é suprimido da equação). Cabe lembrar
que o coeficiente angular define se a relação é positiva (reta ascendente) ou negativa (reta
decadente). Em suma, sabendo os valores dos coeficientes de regressão e do score é possível
prever o valor da variável dependente.
Quando se tem uma série de dados, é possível obter várias retas distintas que podem
representar os resultados existentes. Nesse sentido, é necessária uma forma para escolher,
entre todas as retas, àquela que melhor descreve os dados. A forma mais simples de fazer isso
seria olhar todas as retas possíveis e visualmente escolher uma, mas esse método é pouco, ou
nada, efetivo. O que se podem fazer, em vez disso, é utilizar uma técnica matemática chamada
de método dos mínimos quadrados. Anteriormente foi visto no modelo das médias que se
poderia acessar a adequação do modelo pelo desvio entre o modelo (a média em si, naquele
178

caso) e os dados coletados. Para a regressão, é possível fazer exatamente o mesmo


procedimento para encaixar a linha nos dados. O interesse, nesse caso, é nos desvios entre os
dados e a linha, já que na regressão a reta é o modelo. Só que na regressão, os desvios são
chamados de resíduos, apesar de significarem a mesma coisa.
Assim como nas médias, as distâncias ou resíduos podem ser positivos ou negativos
e se somar todos, os valores serão calculados, encontrando o resultado 0. Da mesma forma
dos modelos anteriores, podem-se elevar os resultados ao quadrado antes de somá-los. Esse
resultado dará uma noção se a linha particular se encaixa bem nos dados. Se os resultados
forem grandes, a linha não representa bem os dados, se forem pequenos, a linha é
representativa.
Poder-se-ia então calcular as somas dos quadrados de todas as linhas e comparar qual
delas tem o menor resultado, sendo esta a reta que melhor representa os dados. O problema é
que é impraticável fazer isso (as retas são infinitas). Por sorte, a própria técnica da soma dos
mínimos quadrados seleciona a linha com menor resultado.
A partir do momento que a linha que melhor se encaixa é identificada, pode-se
analisar quão bem ela faz isso. Esse procedimento de goodness of fit é importante porque
mesmo que essa linha seja a que melhor se encaixa, ela ainda pode ser uma má representante
dos dados. Foi visto anteriormente que a medida de adequação de um modelo pode ser dada
genericamente pela equação:

&!,*'  '-! ,%&'  ('&!#'

Se o interesse é buscar a linha que melhor se encaixa, é necessário compará-la com


alguma coisa, e o que se escolhe é o modelo mais básico de todos. Calcula-se com a equação
acima a adequação do modelo mais básico e do modelo que melhor se encaixa (a reta
escolhida) e, se o modelo é pelo menos um pouco bom, ele deve se encaixar significantemente
melhor que o mais básico.
O modelo mais básico em questão é o da média. Ele tem sérios problemas,
especialmente para analisar a relação entre as variáveis. Na verdade, esse é um modelo de não
relação entre as variáveis porque independentemente dos valores que a variável independente
assume, o resultado que fornece é sempre a média da variável dependente; a média,
entretanto, é o modelo mais simples disponível e é o usado para notar quão bem a reta
representa os dados da amostra.
179

Foi dito anteriormente que usando o modelo das médias, pode-se calcular a diferença
entre os dados observados e os valores previstos pela média. Se todas essas diferenças forem
elevadas ao quadrado obtém-se a soma das diferenças quadráticas, que nesse caso se pode
chamar de soma de quadrados totais (SQT), porque é o total das quantidades de diferenças
presentes quando o modelo mais básico é utilizado. Ele significa quão bom o modelo é em
representar os dados. O mesmo pode ser feito para a linha que melhor se encaixa, ou seja, é
possível pegar a diferença entre os dados coletadas e os valores contidos na linha de regressão
(resíduos), elevá-la ao quadrado e somá-la. O resultado também traz o grau de falta de
acurácia presente no modelo mais sofisticado e é chamado de soma dos quadrados residuais
(SQR).
Podem-se usar esses dois valores para obter quão melhor é o modelo da linha de
regressão se comparado com o da média (quão melhor é o melhor modelo possível com
relação ao pior). Se for identificada a diferença entre os dois (SQT e SQR) obtem-se esse
resultado, ou seja, ter-se-á a diminuição da falta de acurácia. Essa melhoria é chamada de
soma dos quadrados do modelo (SQM).
Se o SQM é grande, então o modelo de regressão é muito diferente do modelo da
média, ou seja, o modelo de regressão fez uma grande melhoria em quão bem a variável
dependente pode ser prevista. Se, pelo contrário, o SQM é pequeno, o modelo de regressão
teve poucas melhorias com relação ao modelo da média. Uma medida útil proveniente dessas
somas de quadrado é a proporção de melhoria devida ao modelo. Pode-se dividir a soma dos
quadrados do modelo pela soma dos quadrados totais. O resultado é chamado de R² e se for
multiplicado por 100, obtém o seu valor em termos percentuais. O R² representa a quantidade
de variância da variável dependente (VD) explicada pelo modelo com relação à quantidade de
variação que havia para ser explicado no começo. Pode-se representá-lo dessa forma:

no
m
np

O R² é o mesmo que se viu na correlação e é interpretado da mesma forma. Na


regressão, pode-se tirar a raiz quadrada do R² e obter o coeficiente de correlação r de Pearson.
O coeficiente de correlação fornece com uma boa estimativa a adequação total do modelo de
regressão, enquanto que o R² nos dá uma boa noção da relação do tamanho substantivo da
relação.
Uma segunda forma de usar a soma dos quadrados para acessar o modelo é por meio
do teste F. Apresentou-se anteriormente a ideia por trás dos testes de significância. Eles são a
180

razão entre a quantidade de variância sistemática e não sistemática. O teste F também segue
esse preceito. Ele é construído sobre a razão entre a melhoria do modelo (SQM) e a diferença
entre o modelo e os dados observados (SQR). As somas dos quadrados, nesse caso, são
dependentes dos números de observação (quanto maior o número de observação, maior o
resultado da soma), então deve-se dividi-las pelos números de observações. O resultado é
chamado de média dos quadrados (MQ).
Para trabalhar com a média das somas dos quadrados é necessário dividi-la pelos
graus de liberdade. Para o SQM os graus de liberdade são simplesmente o número de
variáveis no modelo e para o SQR eles são o número de observações menos o número de
parâmetros sendo estimados (número de coeficientes b incluindo a constante). Os resultados
são a média dos quadrados do modelo (MQM) e a média dos quadrados residuais (MQR).
Pela divisão das médias tem-se a razão F, que é uma medida de quanto o modelo melhorou a
previsão do resultado comparado ao nível de falta de acurácia do modelo, e pode ser
visualizado por:

ono
q
onm

Em um modelo bom, espera-se que o MQM seja grande e o MQR seja pequeno, ou
seja, um bom modelo deve ter uma razão F grande (pelo menos maior que 1) porque o
numerador será maior que o denominador.
Viu-se também que a equação da regressão linear tem um coeficiente angular b e ele
representa o grau de angulação da reta que representa os dados. O valor de b representa o
quanto a variável dependente se alterou com uma unidade de mudança na variável
independente (VI). Se o modelo for ruim, o valor do coeficiente tende a 0, ou seja, não há
relação entre a VD e a VI. Esse é o caso, por exemplo, do modelo da média, em que quando a
VI muda a VD permanece inalterada. Tem-se então duas consequências para o b = 0, a
primeira de que não há alteração na VD quando a VI muda, a segunda é que a reta é
horizontal.
Para analisar se uma VI prevê significantemente um resultado (VD), então o valor b
tende a ter uma diferença significante de 0. Essa hipótese é testada pelo teste t. Essa técnica
testa a hipótese nula de que o valor de b é zero, assim, se ele for significante, ganha-se
confiança na hipótese de que o valor b é significantemente diferente de 0 e que a variável
preditiva (VI) contribui significantemente para a habilidade de estimar os valores da variável
dependente.
181

Como o teste F, o teste-t também é baseado na razão entre a variância explicada pelo
modelo e a não explicada; o que se está interessado, no entanto, não é exatamente nisso, mas
se o b obtido é maior se comparado com a quantidade de erros da estimativa. Para identificar
a quantidade de erro que se podería esperar encontrar em b, usa-se o desvio padrão. Ele diz
quão diferente os valores b seriam nas diferentes amostras.
Poder-se-ia fazer uso de várias amostras em que as variáveis se relacionam e
descobrir os vários valores de b em cada uma delas. Depois é possível colocar essa
distribuição de frequência das amostras num gráfico para ver se os valores b estão
relativamente próximos ou não. A partir daí, utiliza-se o desvio padrão pra ver a distribuição
de desvios (na verdade os desvios padrão entre amostras são os erros padrões, conforme visto
anteriormente) como medida de similaridade entre os b ao longo das amostras. Se o erro
padrão é muito pequeno então se sabe que os valores de b nas amostras são próximos ao b da
amostra. O teste-t mostra se o valor de b é diferente de 0 com relação aos valores que
assumem nas amostras distintas.
O teste-t pode ser representado pela seguinte equação:

-[r5VRPQZ[  -V5XVRQZ[ -[r5VRPQZ[


$
Gr Gr

Em que o -V5XVRQZ[ é o valor que se esperaria se a hipótese nula fosse verdadeira.


Conforme apresentado, a hipótese nula é de que b é igual a 0, então é possível substituí-lo por
esse valor. O Gr é o erro padrão com o qual o valor de b observado está relacionado. Os
valores de t tem uma distribuição especial que se diferencia dependendo dos graus de
liberdade do teste. Para a regressão, o grau de liberdade é N – p – 1, em que N é o número de
observações e p é a quantidade de variáveis independentes (no caso da regressão linear
simples o N é 2).
Tendo estabelecido qual distribuição-t deve ser utilizada, os valores observados de t
podem ser comparados aos valores que se esperaria achar se não houvesse nenhum efeito (b =
0). Se t é um valor muito grande então é improvável que ele tenha ocorrido quando o efeito é
inexistente. Os softwares apresentam a exata probabilidade de o valor observado ou maior que
o de t ocorrer se o valor de b fosse 0. Genericamente, pode-se dizer que se a significância
observada for menor que 0,05, então o pesquisador pode considerar que b é significantemente
menor que 0, ou seja, a variável independente faz uma contribuição significante para prever a
variável dependente.
182

Até agora foram apresentados exemplos de regressão linear quando trabalhada


apenas uma variável independente; é possível, entretanto, prever a variável dependente com
mais de uma delas. Nesses casos, utiliza-se a regressão linear múltipla. Este modelo é
apenas um pouco mais complexo do que o anterior, mas a ideia é a mesma, assim como os
pressupostos envolvidos. Pode-se representar a regressão linear múltipla por:

k - + -  + -  +s s s +-T T + l

Cada variável tem um coeficiente angular distinto. Na regressão simples, foi dito que
uma reta representa o modelo e isso é muito fácil de ser visualizado em um gráfico. Na
regressão múltipla, há uma série de variáveis independentes e, portanto, mais de uma
dimensão de explicação. Isso significa que nem sempre a visualização gráfica da regressão
múltipla será fácil, assim como a percepção da forma com que os coeficientes angulares se
manifestam. Em que pese isso, o modelo ainda é bem representado pela equação e os mesmos
princípios da regressão simples são válidos.
Quando há mais do que uma variável independente, a divisão das somas dos
quadrados se mantêm, isso significa que há a mesma noção para o SQT, SQR e SQM. O
coeficiente de correlação simples, entretanto, não é o mesmo. Não faz sentido utilizá-lo
quando há mais do que uma variável preditiva. O que o substitui é uma correlação entre os
valores observados de Y e os valores previstos de Y pelo modelo de regressão linear múltiplo.
Esse é um coeficiente de correlação múltiplo e é chamado de R múltiplo. Quando os valores
do R múltiplo são grandes, tem-se uma alta correlação entre valores previstos e observados
dos resultados (VD) (quando o valor é 1 a correlação é perfeita). O R múltiplo é também uma
medida de quão bem o modelo prevê os dados observados. Da mesma forma, o R² que dele é
retirado pode ser interpretado igualmente como na regressão simples.
Outro ponto importante no modelo múltiplo é que quando se tem muitas variáveis
preditivas é imprescindível selecionar bem quais serão usadas. É importante prestar atenção a
isso, porque os valores que os coeficientes de regressão assumem dependem de quais
variáveis são colocadas no modelo e de como serão adicionadas a ele. A melhor forma de
selecionar as variáveis é por meio de pesquisas anteriores da área de estudo. Se novas
variáveis independentes estão sendo acrescentadas aos modelos existentes, então é importante
selecioná-las em ordem de importância teórica. O que não se deve fazer nunca é selecionar
aleatoriamente centenas de variáveis e acrescentá-las ao mesmo tempo, torcendo para que o
melhor aconteça.
183

Quando as VI não são correlacionadas umas com as outras a ordem de como colocá-
las fará pouca diferença, o problema é que, raramente, elas não são correlacionadas. Existem
algumas formas já padronizadas para acrescentar as variáveis independentes em um modelo.
Elas não serão detalhadas, mas é importante identificá-las porque são válidas também para a
regressão logística.
A primeira forma de inclusão de variáveis no modelo é a da regressão hierárquica
(inclusão blockwise). Nela, as VI são selecionadas com base em estudos anteriores que
estejam relacionados com o objeto de estudo ou com a hipótese que se queira testar, e o
pesquisador decide em que ordem as incluirá. Geralmente, as VI conhecidas (de outras
pesquisas) são incluídas primeiramente, em ordem de importância de prever os resultados.
Depois dessas, as outras VI podem ser acrescentadas de uma só vez ou hierarquicamente
(aquelas que o pesquisador acreditar ser mais importante primeiro).
Outra forma de ordenar as variáveis é a da inclusão forçada (forced entry). Nesse
método, todos as VI são colocadas no modelo simultaneamente. Assim como na forma
hierárquica, a seleção das variáveis é feita em razões teóricas bem embasadas, mas ao
contrário dela, o pesquisador não decide sobre a inclusão das VI. Alguns pesquisadores dizem
que essa é a única forma de inclusão possível quando o objetivo da pesquisa é testar uma
teoria, porque técnicas como a inclusão stepwise são muito influenciadas por variações
aleatórias e por isso raramente proporcionam resultados replicáveis quando os modelos são
testados novamente.
Uma última técnica de inclusão é a da regressão stepwise ou passo a passo. Existem
dois tipos de decisão sobre quais variáveis incluir antes ou depois, recaindo sobre critérios
matemáticos. Ela pode ser do tipo forward, em que o modelo inicial definido é o que contém
apenas a constante (-  e a partir daí o computador busca a VI que melhor prevê a VD,
baseado na correlação simples entre essas variáveis. A partir do momento que a encontra, ele
a retém e passa a buscar a segunda VI com maior correlação (baseada agora na correlação
semi-parcial, ou seja, o que falta ser explicado depois da retirada da VI anterior), e assim
sucessivamente. O outro tipo é a backward, que inclui todas as VI de uma vez e depois se
calcula a contribuição de cada pelo valor de significância do teste-t. Os valores são
comparados ao critério de remoção e se forem classificados como pouco significantes eles são
retirados do modelo. A cada retirada o modelo estima novamente as contribuições e repete o
procedimento.
Esclarecimento distinto sobre o modelo de regressão linear que pode ser dado é
quanto ao seu nível de acurácia. Ele envolve dois aspectos principais, o primeiro é se o
184

modelo utilizado se encaixa bem nos dados ou se é influenciado por pequenos números de
caso e o segundo refere-se à capacidade de generalização do modelo.
Ambas as noções implicam em procedimentos e em cálculos para testar seus
aspectos. Não será desenvolvido esse tipo de explicação, mas será apresentado o que
essencialmente representam. De alguma forma eles estão hierarquicamente conectados, afinal
de contas, não se deseja generalizar um modelo que não se encaixa bem nos dados. A própria
generalização, tem problemas específicos já que se entende que ela não é possível, deve-se
reduzir o escopo de explicação do modelo apenas à amostra com os dados coletados.
A questão da adequação do modelo na regressão refere-se basicamente a dois tipos
de características de alguns poucos casos que podem influenciar mais o resultado (VD) do que
os demais: os outliers e os casos influentes (influencial cases). Ambos enviesam o modelo,
mas suas formas de mensuração se diferem. A primeira se concentra nos resíduos e nos erros
do modelo como um todo, enquanto que a segunda foca nas influências indevidas sobre os
parâmetros dos modelos, e possui uma série de técnicas de mensuração (distância de
Mahalanobis, distância de Cook, eigenvalues, etc.).
Quanto à generalização, viu-se anteriormente que é importante conseguir dizer algo
sobre a amostra que contém os dados, mas é mais interessante poder dizer algo sobre a
população da qual a amostra foi retirada. Essa é a ideia de generalização do modelo e para
conseguir calculá-la na regressão é necessário respeitar alguns pressupostos. Alguns já foram
vistos anteriormente, outros são específicos para esse modelo. Serão citados todos, mas se
deterá a três em especial, porque eles também são pressupostos da regressão logística.
Para a regressão linear as variáveis devem ser contínuas ou categóricas dicotômicas,
sendo que a variável dependente deve necessariamente ser contínua; as VI devem ter
variância diferente de 0; as VI não devem ser correlacionadas a variáveis externas ao modelo;
homoscedasticidade, ou seja, homogeneidade de variância dos resíduos; distribuição normal
dos erros; e independência dos valores da VD.
Além dessas, podem-se explicar melhor três pressupostos. O primeiro é o da
linearidade, representando simplesmente que os valores médios da variável dependente para
cada incremento das variáveis independentes residem sobre uma linha reta. Em outras
palavras, pressupõe-se que há relação linear no modelo, pois caso se encontre uma relação
não-linear usando um modelo linear ele dificilmente poderá ser generalizado.
O segundo pressuposto é o da independência de erros. Isso significa que para duas
observações quaisquer os seus resíduos não podem estar correlacionados. Esse pressuposto
pode ser analisado por testes como o de Durbin-Watson, que analisa uma série de correlações
entre erros. De forma específica, ele testa se resíduos adjacentes se correlacionam.
185

O último pressuposto é o da não perfeita multicolinearidade. De forma simples, isso


significa que não deve existir relação linear perfeita entre duas ou mais VI, ou seja, as VI não
devem ser fortemente correlacionadas. Uma correlação perfeita acontece quando há uma
relação linear perfeita entre duas variáveis preditivas. Quando ela está presente é impossível
obter estimativas únicas dos coeficientes de correlação porque existem infinitos números de
combinação de coeficientes que funcionariam igualmente bem, ou seja, os valores de b são
intercambiáveis.
A boa notícia é que dificilmente existe correlação perfeita entre dados retirados da
realidade. Em compensação, correlações quase perfeitas são praticamente inevitáveis entre
dados. O baixo nível de colinearidade ameaça pouco os modelos, mas se ela aumenta podem-
se ter alguns problemas como a falta de confiança em b, a limitação do tamanho do R e a não
identificação da importância dos previsores.
A falta de confiança acontece porque quando a colinearidade aumenta, o erro padrão
do b também cresce. Grandes erros padrões de b significam que há maior variabilidade de b
entre as amostras, ou seja, o b da amostra tende a representar menos a população. Se os b são
mais instáveis de amostra para amostra, isso implica que as equações do modelo resultante
também o serão.
A limitação do tamanho do R se relaciona à própria definição do que R representa.
Foi visto anteriormente que R é a medida da correlação múltipla entre as VI e a VD e que R²,
por sua vez, indica a variância da VD devida à VI. Suponha que uma variável sozinha prevê
bem a quantidade de variância de um resultado (R=0,750). Uma segunda variável também
com um alto R, então, é adicionada ao modelo, mas a variância por qual ela responde é a
mesma variância da primeira variável. A partir do momento que a variância explicada pela
primeira variável é retirada, a segunda responde por bem pouco da variância restante. A
variância total explicada pelas duas variáveis em conjunto é apenas um pouco maior do que
quando somente existe uma (ela pode ter aumentado, por exemplo, para R=0,780), ou seja, a
colinearidade limita o tamanho do R.
A não identificação da importância dos previsores é o ultimo problema da
multicolinearidade apresentado. Ela é bem simples, representa apenas que a colinearidade
entre duas VI dificulta a tarefa de identificar a importância individual de cada uma. Quando as
duas variáveis são altamente correlacionadas e as variâncias que explicam são similares fica
difícil distinguir qual é a mais importante, porque o modelo pode incluir qualquer uma delas
de forma intercambiável.
Existem algumas formas de identificar a multicolinearidade. Uma das mais populares
é o fator de inflação da variância (VIF, em inglês). Ele indica se uma variável independente
186

(VI) tem alta relação linear com outra VI, de acordo com sua escala, um valor de 10 ou acima
dele é passível de preocupação, e se a média do VIF for maior que 1, a multicolinearidade
pode estar enviesando o modelo de regressão. Relacionada ao VIF está a estatística de

tuv
tolerância, que nada mais é que o , então valores abaixo de 0,1 ou 0,2 já apresentam

grande problemas.
Mesmo que não se consiga ter confiança que o modelo pode ser uma representação
acurada para a população, pode-se identificar como ele se comporta quando aplicado a outras
amostras. Se ele puder ser generalizado, então será possível prever uma VD com o mesmo
grupo de VI em outras amostras. Se o poder de previsão diminuir, isso significa que a
generalização não é possível. Há duas formas de testar o modelo em outras amostras, o
primeiro é o R² ajustado, que mede a perda do poder de previsão do modelo, o segundo é a
divisão dos dados (data split), em que os dados são aleatoriamente separados e as equações
são testadas nas duas metades, a partir dai os resultados (VD) dos modelos são comparados.

4.6 Regressão logística

Muito do que é preciso para entender o próximo capítulo já foi apresentado. As


ideias contidas nos parágrafos anteriores tornam mais fáceis a compreensão do que é
realmente importante para o modelo estatístico deste estudo: a regressão logística e a
regressão logística para eventos raros. Grande parte das explicações da regressão linear serve
para a regressão logística, portanto, não serão repetidos os argumentos comuns aos dois. Em
outras palavras, apresentar-se-ão somente as idiossincrasias da versão logística.
De modo tosco, a regressão logística pode ser vista como uma regressão linear em
que a variável dependente é, necessariamente, categórica e as variáveis independentes podem
ser contínuas ou categóricas. Em sua forma mais simples (regressão logística binária), isso
significa que se pode prever em qual de duas categorias um caso é mais provável de pertencer,
quando se dispõem de algumas informações sobre ele. Para citar o caso desta dissertação,
pode-se prever se um determinado município possui área internacional. Para isso, medem-se
seu PIB, seu IDH, se é governado pelo PT, etc. Usando a regressão logística, é possível
descobrir se todas essas variáveis preveem se o município possui área internacional, mas,
além disso, essa técnica também permite prever se um novo município (caso) estudado é mais
propenso a ter área internacional.
Se fosse selecionado um município de forma aleatória e identificado se possui um
PIB grande, é governado pelo PT, tem IDH alto, então se poderia dizer que é provável que
187

haja uma área internacional nesse município (hipoteticamente). Em termos práticos, isso
poderia informar que municípios com alta propensão para ter áreas internacionais e não as
possuem, poderiam se aventurar a criá-lo, dado que todos os outros municípios que possuem
área internacional se assemelham a ele.
Quando se tenta prever o pertencimento a apenas duas categorias da variável
dependente, faz-se uso de um modelo de regressão logística binomial (conforme o exemplo
acima). Quando são mais de duas categorias, trata-se de uma regressão logística
multinomial. Para os presentes propósitos, pode-se descartar este último tipo.
Para entender a lógica por trás da regressão logística podemos compará-la às
regressões lineares simples e múltiplas. Anteriormente foi visto que elas podem ser
representadas, respectivamente, das seguintes formas:

k - + -  + l
e
k - + -  + -  +s s s +-T T + l

No modelo logístico, apresenta-se a equação de forma bem parecida com a da


regressão linear. Ela traz o resultado em logaritmo de chances (log-odds), mas que não é tão
utilizado porque não fornece valores facilmente compreensíveis. De modo bruto, pode-se
representar a equação da regressão logística por:

d
#'K w x - + -  + -  +s s s +-T T + l
d

X
Em que  são as chances de o evento acontecer e o resto da equação é similar à
4X

sua contraparte linear. Ao invés de ter o resultado em log-odds, calcula-se a probabilidade de


Y acontecer dados os valores de X. Essa equação nada mais é que a equação anterior ajustada
para que se tenha o resultado em termos de probabilidade. Pode-se apresentá-la da seguinte
forma:


yk
+ ! 4rz r{/{ r|/| sssr}/}

Em que yk é a chance de Y ocorrer, e é a base do logaritmo natural (ln) e os outros


coeficientes formam a combinação linear similar à regressão múltipla.
188

Apesar das similaridades entre as regressões lineares e logísticas, há uma boa razão
para não se utilizar a regressão linear diretamente numa situação em que a variável
dependente é categórica. Como foi visto anteriormente, um dos pressupostos (condições de
existência) dela é que haja uma relação linear entre as VD e VI. Quando a variável
dependente é categórica esse pressuposto é desrespeitado.
Uma forma de contornar essa situação é transformar os dados categóricos em
contínuos por meio da transformação logarítmica. Essa é uma boa forma de expressar relações
não-lineares como lineares. A regressão logística representada pela equação é baseada nesse
princípio, ou seja, ela expressa a equação da regressão linear múltipla em termos logarítmicos
(chamado de logit), resolvendo o problema da violação da linearidade.
O valor da equação, sendo uma medida de probabilidade, varia de 0 a 1, em que os
valores próximos a 0 representam a pouca chance do evento ocorrer e os valores próximos a 1
a grande chance de acontecer. Assim como na regressão linear, cada VI tem seu próprio
coeficiente e quando rodada a análise é necessário saber seus valores a fim de resolver a
equação. Esses coeficientes são estimados por modelos de encaixe, baseados nas VI
disponíveis dos dados observados. O modelo escolhido será aquele que, quando os valores das
VI são colocados, resulta em valores de Y mais próximos dos dados observados.
De forma específica, os valores dos coeficientes são previstos por meio da estimação
da máxima verossimilhança (maximum-likelihood), que seleciona os coeficientes que
fazem os valores observados mais prováveis de ocorrer.
Foi apresentado na regressão linear múltipla que se a intenção é acessar a adequação
do modelo aos dados comparam-se os valores das VD observadas e previstas (naquele caso,
foi utilizado o R²). De forma similar, repete-se esse procedimento na regressão logística, mas
com outro medidor, chamado de log-likelihood. Ele é baseado na soma das probabilidades
associadas aos resultados observados e aos previstos e pode ser representado por:
…

C?~ C8;C8€??@ kS C<‚ykS ƒ +   kS  C<‚  ykS ƒ„


S†

O log-likelihood (LL) pode ser interpretado de forma análoga à soma dos quadrados
residuais da regressão linear múltipla, no sentido que também é uma forma de medir quanta
informação sem explicação existe após o modelo ter sido encaixado. Assim, valores grandes
do log-likelihood indicam um poor fitting do modelo, porque quanto maiores eles são, mais
observações sem explicações existem.
189

É possível calcular o log-likelihood para vários modelos e compará-los pelas


diferenças de seus resultados. Isso pode ser utilizado na comparação de um modelo específico
com um modelo-base. O modelo básico geralmente utilizado é aquele que considera apenas a
constante. Fez-se uso até agora das médias (porque era o mais simples existente), entretanto,
seria ilógico usar o modelo da média quando a variável dependente só pode assumir dois
valores (geralmente 0 e 1), porque sua média não representa nada das observações.
Caso se saiba a frequência com que aparecem os 0s e 1s, o melhor modelo seria
aquele que previsse qual dos dois aparece mais. Suponha-se que há uma amostra com 100
cidades e que em 70 delas há área internacional (a presença da área é a variável dependente),
então o melhor modelo seria aquele que prevê que o evento acontece (70 contra 30). Assim
como na regressão múltipla, o modelo base é o que dá uma melhor previsão quando não existe
nenhuma informação disponível além da VD. No caso logístico, ele é aquele que o resultado
ocorre com maior frequência.
Pode-se, portanto, pegar o modelo novo (o que foi escolhido) e subtrair dele o
modelo base (aquele que só inclui a constante ou que ignora as variáveis) para calcular a
melhoria do modelo, a representação numérica desse processo é dada por:

‡  bˆ77<?A?  77‰BH;Š
(&M ‹T[P[  ‹rQ5V )

Percebe-se que a subtração é multiplicada por dois. Isso acontece para conseguir o
resultado numa distribuição qui-quadrado. Não serão explicadas quais as especificidades
dessa distribuição, é suficiente saber que ela facilita a tarefa de calcular a significância do
valor. Também foram apresentados os graus de liberdade (degrees of freedom, df) da
distribuição qui-quadrado.
O log-likelihood tem a capacidade de substituir na regressão logística a função do R²,
e por consequência o R, porque pode comparar os resultados previstos e observados da VD;
existe, entretanto outra forma de representar mais diretamente a ideia dessas duas medidas. Na
regressão logística a versão da correlação múltipla é dada pela estatística-R. Ela é a correlação
parcial entre a variável dependente e cada uma das variáveis independentes e assume valores
que vão de –1 a +1. Um valor positivo significa que quando uma VI aumenta, a chance de o
evento ocorrer também cresce, já um valor negativo quer dizer que quando a VI aumenta, a
chance de o evento ocorrer diminui. Na mesma lógica, se uma VI possui valor pequeno de R,
então ela contribui pouco para o modelo.
Identifica-se a representação de R pela equação:
190

ŽBC@  b 6 &M
m Œ 
b77?>8~8<BC

Em que –2LL é o –2 log-likelihood para o modelo original, a estatística Wald será


apresentada daqui a alguns parágrafos, e os graus de liberdade (df) podem ser retirados de
tabelas para a variáveis da equação. Nota-se que essa equação é dependente da estatística
Wald, que, em certas circunstâncias, pode não ser uma medida acurada (será visto mais a
frente o porquê); assim, o valor do R deve ser tratado com certa precaução. Ademais, não se
pode, no modelo logístico, simplesmente elevar o R ao quadrado para identificar a proporção
da variação total da VD em função das VI, como é feito na versão linear.
Existem algumas controvérsias sobre como fazer uma analogia ao R² na regressão
logística. Comumente, essas tentativas são chamadas de pseudo R-Quadrados, e algumas
são mais utilizadas que outras, porque os softwares geralmente trabalham com algumas
técnicas específicas. Uma das medidas mais simples é o m de Hosmer e Lemeshow, que é
calculado pela divisão do modelo qui-quadrado (baseado no log-likelihood) pelo modelo
original (o valor do log-likelihood antes de incluir as variáveis explicativas) e pode ser
representado por:

b779?@;C?
m
b77?>8~8<BC

O m é a redução proporcional do valor absoluto da medida log-likelihood e,


portanto, é a medida de quanto os defeitos de encaixe melhoram como resultado da inclusão
de variáveis independentes. Ele pode variar de 0 a 1, em que valores baixos indicam que as VI
preveem mal a VD e os valores mais altos indicam o oposto.
Outra forma bastante conhecida de calcular um pseudo R-Quadrado é a medida m‘’


de Cox e Snell, que é baseado no log-likelihood do modelo (LL(new)), no log-likelihood do


modelo original (LL(baseline)) e no tamanho da amostra n. Tem-se, então, a representação:

|
m“” !
 •4 TV–4rQ5VYSTV—
}
191

Essa estatística, entretanto, nunca atinge seu valor teórico máximo de 1. Para
contornar esse problema, Nagelkerke sugeriu uma emenda, deixando a equação da seguinte
forma:

m‘’

m˜ |‚šš›œžŸ }žƒ
™ ¡
! }

Essas equações, apesar de se diferenciarem nas formas de cálculo e nos resultados


(porque medem coisas diferentes), representam conceitualmente a mesma coisa, podendo ser
interpretadas como o R² da regressão linear, ou seja, elas fornecem uma medida da
significância substantiva do modelo. As equações, como se pode ver, possuem certa
complexidade, mas o importante aqui é entender que existem formas alternativas para essa
mensuração e qual a lógica por trás delas. Existe uma série de outras iniciativas para reportar
a analogia do R² como a de McFadden, de Cragg & Uhler ou de Efron. O software mostrará
algumas dessas estatísticas no próximo capítulo então é bom ter um contato prévio com elas.
Em que pese isso, é importante não se prender muito aos resultados do pseudo R-
quadrados, porque eles podem variar de forma tão distinta, que não fornecem segurança plena
de quão bem o modelo prevê os resultados. Como o próprio nome dá a entender os R-
quadrados são falsos e dão apenas uma noção parcial e muitas vezes enganadora do modelo.
A melhor forma de perceber se o modelo se encaixa nos dados é mesmo pela razão log-
likelihood, já explicada anteriormente.
Assim também como na regressão linear, interessa no modelo logístico não só saber
quão bem o modelo se encaixa nos dados, mas qual a contribuição individual das variáveis
independentes. Na versão linear descobriu-se isso por meio do teste-t, em que os coeficientes
de regressão b e seus erros padrões eram computados. Na regressão logística quem faz um
papel análogo é a estatística Wald, que tem distribuição específica e que já foi citada: a qui-
quadrado. Assim como o teste-t, a estatística Wald revela se o coeficiente b da VI é
significantemente diferente de 0. Se é, então se assume que a VI está dando uma contribuição
significante à previsão da VD. Ela é representada da seguinte forma:

-
ŽBC@
¢£r

Se a equação do teste-t for novamente observada, nota-se que elas são basicamente
idênticas, ou seja, é o valor do coeficiente de regressão sobre o erro padrão correspondente. A
192

estatística Wald é, geralmente, usada para afirmar se uma variável é um bom previsor do
resultado, mas, para esses casos, é melhor utilizar as estatísticas de razão de likelihood. Isso
porque quando os coeficientes de regressão b são grandes, o erro padrão tende a ser inflado,
subestimando os valores da estatística Wald. A inflação dos erros padrões aumenta a chance
de se rejeitar uma VI quando ela está fazendo uma contribuição significante ao modelo, ou
seja, é mais provável de se cometer um erro do tipo 2.
Mais importante que a interpretação da regressão logística, por meio dos coeficientes
de relação, é encontrarmos os valores da razão de chances (odds ratio), que é um indicador
das mudanças nas chances resultantes da mudança em uma unidade na variável independente.
Sendo assim, ele é similar ao b da própria regressão logística, mas é mais fácil de ser
entendida porque não requer transformação logarítmica.
Um exemplo para explicar melhor como ela funciona pode ser dado. Suponha que se
está tentando prever se um município possui área internacional em decorrência de ser
administrado pelo PT. A chance de um evento ocorrer é dada pela probabilidade de um evento
ocorrer dividido pela probabilidade dele não ocorrer. As chances de o município possuir área
interacional é a probabilidade de possuir área internacional divida pela probabilidade de não
possuir. Para calcular a mudança nas chances que resulta da mudança de uma unidade na VI é
necessário primeiro calcular as chances de o município possuir área internacional dado que
ele não é administrado pelo PT. Depois, calculam-se as chances de ter área internacional dado
que é administrado pelo PT. Finalmente, calcula-se a mudança proporcional das duas chances.
Sumariza-se isso da seguinte forma:

y;A;<:?
D€B<D;H
yL]'!,!L$'


y;A;<:?k
+ ! 4rz r{ /{ 

y<]?;A;<:?k   y;A;<:?k

Para calcular o primeiro grupo de chances, é necessária a equação da regressão


logística apresentada no começo desse segmento, só que numa versão simples (com apenas
uma variável explicativa, devido ao exemplo), para calcular a probabilidade de ter área
internacional dado que não é administrado pelo PT (se houvesse mais de uma VI seria usada a
mesma equação apresentada anteriormente). Existem três valores não conhecidos nessa
193

equação, o coeficiente da constante (- , o coeficiente da VI (-  e a VI em si  . Será


identificado qual o valor de  pela forma como foi codificado se um município é
administrado pelo PT (0 = município não administrado pelo PT e 1 = município administrado
pelo PT). Os valos de - e - serão estimados; assim, calculam-se as chances na equação
acima.
Pode-se, então, calcular o mesmo procedimento depois da VI ter mudado em uma
unidade. Nesse caso, pelo fato da VI ser dicotômica, é necessário calcular as chances de
possuir área internacional dado que o município é administrado pelo PT. O valor de  é
agora 1 (ao invés de 0). Sabem-se a essa altura as chances antes e depois da mudança de uma
unidade na VI, portanto, calcula-se a mudança proporcional nas chances por meio da divisão
entre as chances antes e depois da mudança de 1 unidade na VI. Tem-se, então:

D€B<D;H@;J?8H@B9I@B<FB@;I9BI<8@B@;<B¥¦
¤D€B<D;H 
D€B<D;H?>8~8<B8H

Essa mudança proporcional é a própria razão de chances, assim, se o valor é maior


que 1, isso significa que, quando o VI aumenta, as chances da VD ocorrer também aumentam.
Quando a razão de chances é menor que 1, então um aumento na VD, diminui as chances da
VD ocorrer diminuem.
Quanto às formas de inclusão dos dados no modelo estatísticos, a regressão logística
também possui diversas formas de fazê-lo. As mais comuns são o método de forced entry e o
stepwise methods e já foram vistos detalhes sobre eles anteriormente. Da mesma forma,
existem alguns pressupostos compartilhados pelos dois tipos de regressão: a independência
dos erros, a não multicolinearidade e a linearidade. Neste último ponto, viu-se que na
regressão linear assume-se que há linearidade entre os resultados (VD) e os previsores (VI).
Identificou-se também que na regressão logística os resultados são variáveis categóricas,
portanto esse pressuposto é violado. O que ele significa para a regressão logística é a
linearidade entre as variáveis independentes contínuas e o logit da variável dependente.
Existem ainda outros problemas na regressão logística similares ao da não
respeitabilidade dos pressupostos, que podem atrapalhar a análise do modelo. São
basicamente três: a informações incompletas das variáveis independentes, a separação
completa e a super-dispersão (overdispertion). O primeiro refere-se à necessidade de
preencher todas as células das tabelas que combinam os valores possíveis para as variáveis. Se
isso for desrespeitado, pode haver grandes desvios padrões. O segundo remete à necessidade
de uma variável ou uma combinação delas não prever perfeitamente a VD. Essa condição
194

pode parecer estranha, mas é crucial que nenhuma, nem um subconjunto de variáveis explique
perfeitamente a VD, já que se isso acontece pressupõe-se que o modelo como um todo é
desnecessário. Esse problema causa grandes desvios padrão. O terceiro significa que a
variância é maior que a esperada pelo modelo, que pode ser causada pela violação do
princípio da independência. Nesses casos, os erros padrão podem ficar muito pequenos.
Voltar-se-á a esses assuntos de pressupostos e problemas do logit no capítulo a seguir, quando
se adequar o modelo estatístico às suas condicionalidades.

4.7 Os Eventos Raros em Relações Internacionais

Surgiram nos últimos anos formas específicas de modelos que tentam trabalhar
condicionalidades das diversas áreas, tanto nas ciências sociais quanto na medicina e na
econometria. Elas se referem, em grande parte, ao suposto problema de estudar casos em que,
nas variáveis dependentes, a quantidade de eventos é massivamente menor do que as do não-
eventos. Na medicina, por exemplo, pode-se imaginar que o número de pessoas com uma
doença rara é infinitamente inferior às saudáveis. Apesar disso, essa enfermidade
possivelmente envolve situações de vida ou de morte para milhares de pessoas e não pode
deixar de ser estudada por sua pequena ocorrência na população.
Na Ciência Política e nas Relações Internacionais existem casos congêneres. São
eventos muito menos recorrentes, mas de impacto tão profundo na vida social e política que
devem necessariamente ser foco de estudos dessas áreas. São fatos como guerras, crises
financeiras e golpes de Estados que, apesar da pouca ocorrência, são cruciais na história da
humanidade. Eles já são muito pesquisados pelos estudos qualitativos, que levantaram à
exaustão detalhes, decisões, mecanismos e contextos que fizeram parte desses eventos
grandiosos; entretanto, esses estudos, por focarem apenas nos eventos e ignorarem os não-
eventos, tendem a se cercar de uma série de vieses que compromete, muitas vezes, suas
conclusões.
Nos estudos quantitativos, a condição de singularidade dos fenômenos faz com que o
modelo explanatório atinja complexidade ainda maior do que os encontrados nos modelos
mais tradicionais (muitos deles já apresentados anteriormente, como o próprio logit). Esse
modelo, denominado de rare events logistic regression (relogit), foi desenvolvido por King e
Zeng (2001a, 2001b). Os autores identificaram justamente algumas imprecisões presentes na
regressão logística ao analisar poucos 1s (eventos) se comparados a 0s (não-eventos).
Eles apontaram dois problemas principais nos métodos tradicionais, o primeiro
baseado na ideia de que o logit subestima a probabilidade de ocorrência dos eventos raros, e o
195

segundo nas falhas de seleção dos pesquisadores ao trabalharem com esse tipo de evento. No
primeiro, são sugeridas correções de cálculos para que os eventos raros não passem
despercebidos. No segundo, são elaborados conselhos para que os pesquisadores coletem
menos casos e melhorem os critérios de escolha das variáveis independentes (com dados mais
robustos).
De forma específica, entendem que sempre há um trade off entre coletar mais
observações e incluir melhores ou mais variáveis independentes. Nos dados de eventos raros,
o temor de coletar bases de dados com não-eventos ou poucos eventos levou os pesquisadores
a coletarem um grande número de casos com poucas variáveis independentes ou com uma
quantidade satisfatória de VI, mas com mensuração pobre. Na verdade, a decisão de se ocupar
com uma grande quantidade de observações, para conseguir alguns 1s a mais, representa
menos tempo para selecionar boas variáveis independentes e, muitas vezes, incorrem em
maiores custos financeiros para a pesquisa. Essas condicionalidades tornam as estratégias de
coleta e seleção ineficientes.
Além disso, segundo os autores, modelos como o logit ou o probit não executam
muito bem a tarefa de prever eventos raros. Muitas vezes, os coeficientes do logit podem ser
enviesados em pequenas amostras (convencionadas como menos de 200 observações).
Mesmo em amostras grandes existe a probabilidade de um evento ser subestimado se ele se
tratar de um evento raro. O relogit tenta corrigir, tanto os vieses dos eventos raros quanto os
de amostras pequenas, já que ambos os problemas são similares, na medida em que exprimem
a falta de informações presentes nos dados.
A conclusão é a de que o logit subestima a probabilidade de um evento e isso se
aprofunda quanto mais raros os eventos se tornam. A noção por trás disso se refere aos erros
de classificação, ou seja, a habilidade de aferir corretamente um ponto de corte para distinguir
1s de 0s. Quando os eventos são raros há uma tendência de favorecer os não-eventos em
detrimento dos eventos. Isso é até intuitivo, porque se dispõem de mais informações sobre os
zeros do que sobre os 1s e, portanto, há maior facilidade para classificá-los.
King e Zeng (2001a, 2001b) apresentam esses vieses de forma gráfica e por meio de
cálculos. Para este estudo, basta detectar a existência desse tipo de viés decorrente dos
problemas de seleção e subestimação. A proposta de modelo dos autores busca ultrapassar
esses obstáculos. Eles propõem que os pesquisadores de eventos raros busquem coletar todos
os 1s possíveis e uma amostra aleatória de 0s. Na econometria, essa técnica é chamada de
choice-based sampling e na bioestatística, de case control studies. A ideia é que de posse da
proporção de 1s na população, possa-se utilizar esse valor para corrigir a equação quando uma
amostra aleatória de 0s é utilizada. A partir daí pode-se, por meio de comparação, ver qual o
196

tamanho necessário da amostra de não-eventos. De forma geral, os autores sugerem começar


em uma proporção de um para um, ou seja, amostras de 1 e 0 iguais e aumentando o tamanho
da segunda na medida em que os erros-padrão e os intervalos de confiança sejam pequenos o
suficiente.
O ideal é que esse número (a proporção entre o tamanho de 1s e 0s) fique entre dois e
cinco, ou seja, que no máximo o número de zeros não seja maior que o quíntuplo de 1s.
Contida nessa ideia está a noção básica de que a partir do momento que o número de zeros
ultrapassa os de 1, o ganho marginal de cada inclusão de um novo 0 vá diminuindo. Em outras
palavras, os ganhos com a adição de não-eventos não compensa os esforços de coletar mais
observações.
Os modelos que selecionam as amostras com a variável dependente como referencial
só são eficientes e consistentes quando envolvem uma correção adequada. O relogit trabalha
com dois tipos de correção: os de weighting e os de prior correction. O primeiro se relaciona
com a atribuição de pesos maiores para os 0s e menores para os 1s, na proporção de suas
frequências na população. O segundo foca a correção dos padrões de estimação de máxima
verossimilhança (maximum likelihood) para o intercepto -§ , dado que na amostragem de case
control, os outros coeficientes são consistentes e apenas a constante é enviesada.
Mesmo com a correção relativa às amostras, os coeficientes - ainda são enviesados
para amostras de eventos raros. Os cálculos da correção do viés nos coeficientes de inclinação
são bastante complexos, mas, de forma geral, pode-se dizer que o relogit estima o mesmo
modelo de logit como no procedimento padrão, usando um estimador que fornece um erro das
médias quadráticas menor na presença de dados com eventos raros para os coeficientes, as
probabilidades e os outros resultados desejados. Não serão demonstradas as equações
envolvidas no estimador que estão presentes nos artigos de King e Zeng, mas o pacote
estatístico fornecido por Tomz, King e Zeng (1999), fornece rapidamente os resultados desses
cálculos. Além disso, a base conceitual desses procedimentos numéricos acabou de ser
coberta pelos parágrafos anteriores.
No próximo capítulo será percebida mais uma diferença entre o modelo logit
tradicional e o relogit. Ela relaciona-se aos tipos de resultados apresentados pelo modelo dos
eventos raros. No relogit, ao invés de reportar os coeficientes logit, apresentam-se os
coeficientes corrigidos, em vez de razões de chance (odds ratio), apresentam-se os resultados
em razão de riscos (risk ratio) ou riscos relativos (relative risks).
As formas de reportar os resultados depois de rodado o modelo serão detalhadas no
próximo capítulo. O que importante notar a essa altura é que o relogit tem interface específica
197

com o logit, apresentado na sessão anterior, mas também está ancorado nos conceitos e ideias
apresentados nos modelos apresentados anteriormente, de correlação e de regressão linear.
A apresentação da metodologia foi importante para contextualizar os procedimentos
que virão a seguir. Poder-se-ia, de fato, simplesmente ignorar toda e qualquer explicação
estatístico-metodológica sobre o modelo, mas, nessa situação, não se atingiria a clareza
preconizada nas explicações dos outputs quantitativos. Não se deseja que o leitor receba as
conclusões como dadas, mas mostrar que há um processo bem embasado de busca dos
coeficientes corretos. A explicação neste capítulo das técnicas empregadas, mesmo que
exaustivas, cumpre a função de esclarecer como e por que se chegaram às conclusões que
serão apresentadas sobre as determinantes locais da paradiplomacia no Brasil.
198

CAPÍTULO 05 – AS DETERMINANTES LOCAIS DA PARADIPLOMACIA MUNICIPAL


NO BRASIL: UMA PERSPECTIVA EMPÍRICA.

No capítulo anterior, foram apresentados alguns princípios básicos da estatística e


modelos utilizados na metodologia quantitativa. Essas considerações não esgotam a discussão
sobre a estatística; pelo contrário, evidenciou-se uma parte mínima dos conteúdos,
ferramentas e técnicas dessa área. Todos os argumentos que foram desenvolvidos tinham
como intensão principal explicar a técnica da regressão logística e da regressão logística dos
eventos raros, que são aplicados neste estudo.
A regressão logística é uma técnica muito utilizada atualmente não só por considerar
a variável dependente como categórica, mas também pela menor quantidade de pressupostos
que requer para rodar seus cálculos. O logit e, consequentemente, o relogit, são mais flexíveis
porque não têm pré-requisitos rígidos para os previsores, como a distribuição normal ou a
homogeneidade de variância. Ainda, a regressão logística aceita, tanto variáveis
independentes categóricas quanto contínuas.
Nesse capítulo serão apresentados os resultados do modelo. Geralmente, os
resultados são dispostos em uma tabela única, que sintetiza as informações mais importantes
encontradas no desenho de pesquisa. A intenção presente não segue essa lógica. A ideia é
fazer com que cada um dos coeficientes e parâmetros sejam explicados mais detalhadamente,
assim como foi realizado com as noções estatísticas do capítulo anterior. Quer-se mostrar, de
forma simples, como os conceitos vistos se aplicam na interpretação dos valores alcançados.
A apresentação ocorrerá em um passo a passo, em que se tentará explicar não só a técnica da
análise multivariada utilizada, que é relativamente simples depois do contato com as noções
das ferramentas estatísticas, mas também o que os resultados exprimem em termos
substantivos para a paradiplomacia brasileira. Os dados foram rodados no pacote estatístico
STATA.
O capítulo foi desenvolvido em sessões que facilitam a compreensão dos resultados.
Em um primeiro momento serão relembradas as variáveis selecionadas no capítulo 3 e como
serão identificadas no modelo estatístico. Além disso, ainda nessa primeira parte, apresenta-se
a base de dados utilizada nos cálculos. Serão noções básicas de estatística descritiva, como as
frequências médias, valores mínimos e máximos. A partir daí, investigam-se os pressupostos e
os problemas que podem inviabilizar a utilização do logit e do relogit, como a não
multicolinearidade, a separação completa, a linearidade, o overdipersion, a informação
incompleta e os outliers ou os influential cases.
199

Na sessão seguinte roda-se a regressão logística já com as adequações demandadas


pelos pressupostos. Aproveitam-se esses resultados parciais para chegar a algumas conclusões
sobre o caso, baseando-se no logit tradicional, mesmo que se tenha escolhido o relogit como
técnica específica. Defende-se que a opção pelo relogit é a mais segura, mas aqueles que
aceitarem os resultados decorrentes do logit podem fazer uso de seus scores para conclusões
próprias, sabendo que essa decisão implica em custos (especificamente sobre a precisão dos
coeficientes e probabilidades). Isso ficará mais claro no decorrer do capítulo.
Roda-se, finalmente, a Regressão Logística para Eventos Raros. Nesse procedimento,
corrigem-se os coeficientes do logit e são apresentados os resultados mais importantes
decorrentes do modelo, de forma específica, os valores dos riscos relativos (risks ratio). De
posse dos resultados, elaboram-se as conclusões sobre as determinantes locais da
paradiplomacia no Brasil. A atuação transnacional dos municípios brasileiros será
caracterizada, ressaltando-se as variáveis estatisticamente significantes e que contribuem de
forma consistente para o modelo preditivo das áreas internacionais, mas também por aquelas
variáveis que estão presentes na literatura brasileira e estrangeira da paradiplomacia e que
foram descartadas pelo desenho de pesquisa.

5.1 Estatística descritiva: evidenciando nossa base de dados

No capítulo 3, montou-se o modelo explicativo baseado principalmente nas


contribuições de Soldatos, mas também nas de outros autores e, a partir daí, concentraram-se
esforços em traduzir essas ideias de explicação do fenômeno da paradiplomacia em
indicadores passíveis de mensuração. A tabela 4 relembra as variáveis do capítulo 3, ao
mostrá-las como foram identificadas no modelo estatístico. As legendas são os próprios
indicadores, enquanto que os nomes das variáveis são suas respectivas nomenclaturas para o
software utilizado.
200

Tabela 3 – Nomes e legendas das variáveis do modelo


storage display value
variable name type format label variable label

munic str35 %35s Nome do município


aint byte %10.0g aint Possui Área Internacional?
regse byte %10.0g regse Município da Região Sudeste
front byte %10.0g front Município pertencente à Faixa de fronteira
cap byte %10.0g cap Capital do estado
metoo byte %10.0g metoo Área Internacional no município vizinho, na mesma Microrregião, RM, AU ou RID
edu byte %10.0g edu Possui Instituto de Ensino superior
idh double %10.3g Índice de Desenvolvimento Humano Municipal 2000
pib double %10.0g Produto Interno Bruto 2005 (em milhões de reais)
pibcap double %10.0g Produto Interno Bruto per capita 2005 (em milhares de reais)
pop double %10.0g População 2008 (em milhares de habitantes)
exp double %10.0g Exportação (em milhões de U$)
com double %10.0g Comércio Corrente (em milhões de U$)
func double %10.0g Total de funcionários ativos da administração direta (em centenas de pessoas)
pt byte %10.0g pt Partido do prefeito PT 2005 - 2008
oposi byte %10.0g oposi Partido do prefeito oposição 2005 - 2008
base byte %10.0g base Partido do prefeito base aliada 2005 - 2008
ied double %10.0g Investimento Externo Direto 2008 (em milhões de U$)
sp byte %10.0g sp Município São Paulo
sprj byte %10.0g sprj Município São Paulo ou Rio de Janeiro
rs byte %10.0g rs Município Rio Grande do Sul
regsesl byte %10.0g regsesl Município SE ou S
regnecono byte %10.0g regnecono
Município NE CO N

Apesar de apresentar outras informações, como o formato e a forma de armazenamento


dos dados no software, a tabela é útil apenas para relacionar os nomes das variáveis a sua
legenda.
Além disso, é importante apresentar os dados brutos. Nas tabulações abaixo, listaram-se
as frequências dos casos com relação a cada uma das variáveis categóricas. Quando foi
testada, por exemplo, a hipótese da relação entre áreas internacionais e o fato de o município
se encontrar na região sudeste, referem-se a 87 casos de áreas internacionais em 5562 (1,56%)
municípios e a 1663 municípios encontrados na região sudeste (30%).

Tabela 4 – Tabulações descritivas

Possui Área Município


Internacion da Região
al? Freq. Percent Cum. Sudeste Freq. Percent Cum.
não 5,475 98.44 98.44 não 3,894 70.01 70.01
sim 87 1.56 100.00 sim 1,668 29.99 100.00

Total 5,562 100.00 Total 5,562 100.00

Município
pertencente Capital do
à Faixa de
fronteira Freq. Percent Cum. estado Freq. Percent Cum.

não 4,980 89.54 89.54 não 5,536 99.53 99.53


sim 582 10.46 100.00 sim 26 0.47 100.00

Total 5,562 100.00 Total 5,562 100.00


201

Área
Internacion
al no
município
vizinho, na
mesma Possui
Microrregiã Instituto
o, RM, AU de Ensino
ou RID Freq. Percent Cum. superior Freq. Percent Cum.

não 4,655 83.69 83.69 não 4,978 89.50 89.50


sim 907 16.31 100.00 sim 584 10.50 100.00

Total 5,562 100.00 Total 5,562 100.00

Partido do
Partido do prefeito
prefeito PT base aliada
2005 - 2008 Freq. Percent Cum. 2005 - 2008 Freq. Percent Cum.
não 5,132 92.95 92.95 não 1,933 35.02 35.02
sim 389 7.05 100.00 sim 3,587 64.98 100.00

Total 5,521 100.00 Total 5,520 100.00

Partido do
prefeito
oposição Município
2005 - 2008 Freq. Percent Cum. São Paulo Freq. Percent Cum.

não 3,587 64.98 64.98 não 4,917 88.40 88.40


sim 1,933 35.02 100.00 sim 645 11.60 100.00

Total 5,520 100.00 Total 5,562 100.00

Município
Município São Paulo
Rio Grande ou Rio de
do Sul Freq. Percent Cum. Janeiro Freq. Percent Cum.

não 5,066 91.08 91.08 não 4,825 86.75 86.75


sim 496 8.92 100.00 sim 737 13.25 100.00

Total 5,562 100.00 Total 5,562 100.00

Município Município
SE ou S Freq. Percent Cum. NE CO N Freq. Percent Cum.

não 2,706 48.65 48.65 não 2,856 51.35 51.35


sim 2,856 51.35 100.00 sim 2,706 48.65 100.00

Total 5,562 100.00 Total 5,562 100.00

É importante ficar atento aos casos que envolvem partidos. Olhando para o total de
municípios nessas tabulações, percebe-se que ele é inferior a 5562. Tratam-se, portanto, de
missing values, ou seja, valores desconhecidos para as variáveis. Como os dados dos partidos
vieram do Tribunal Superior Eleitoral, pode-se afirmar que não se trata de uma falha da
coleta, mas alguns outros problemas envolvendo os casos ou a própria base de dados do
tribunal. Pode-se aventar alguns deles, como problemas na eleição que não permitiram a posse
do prefeito em 2005 ou extinção do partido após a posse. De forma geral, os missing values
representam problemas para a pesquisa não tanto pela exclusão dos casos com falta de
202

informação, mas também pelos motivos envolvidos na falta de informação (pode haver um
porquê relacionado a todos os valores perdidos que tem relação com a análise desenvolvida).
Existem algumas formas de contornar esse problema, como atribuir, por exemplo,
valores da média do conjunto dos casos para as observações sem informações. No caso dos
partidos, por não haver nenhum indício aparente de existência de razão específica para a falta
de informação, e adicionando-se a isso, o fato já citado de representar 0,7% dos casos da
população, resolveu-se excluir as observações quando essas variáveis estão envolvidas em
alguns dos cálculos. Entende-se que essa decisão não incorre em perdas significativas para o
modelo.
Para as variáveis contínuas, são apresentados os dados com informações distintas, já
que evidenciar as frequências de cada score faz pouco sentido. Na tabela 5, mostram-se as
quantidades de observação (reparem que aí também existem alguns missing values), o valor
médio das observações para cada variável, os desvios padrões e os valores mínimos e
máximos. Esses dados, assim como nas tabulações anteriores, ajudam a entender um pouco
mais os indicadores utilizados, por exemplo, na noção de que o IDH no Brasil varia entre
0,467 (da cidade de Manari em Pernambuco) e 0,919 (de São Caetano do Sul/SP), ou que o
número de funcionários médio nas prefeituras brasileiras é de 885 servidores.

Tabela 5 – Sumário dos dados das variáveis contínuas

Variable Obs Mean Std. Dev. Min Max

idh 5505 .6992828 .083449 .467 .919


pib 5562 371.5749 4117.828 3.499177 263177.2
pibcap 5562 7.601093 10.24421 1.20407 289.8383
pop 5562 33.62894 197.6153 .834 10990.25
exp 5562 33.08456 257.3484 0 7597.476

com 5562 61.98423 510.6097 0 17788.84


func 5552 8.855602 27.06577 .56 1392.19
ied 5562 7.831814 309.9135 0 20747.49

Outros dados, ainda, são dignos de observação, como o alto desvio-padrão do PIB
(assim como das outras variáveis econômicas), que, do ponto de vista prático, apresenta as
desigualdades econômicas do país, e, do ponto de vista analítico, pode acarretar problemas
para o modelo estatístico.
No capítulo 3 também foram dados alguns esclarecimentos sobre a variável
dependente, seu indicador e as justificativas teóricas para tê-la escolhido. Faltou apresentar
quais eram os casos considerados como 1s (eventos), ou seja, quais municípios brasileiros são
possuidores de áreas internacionais de acordo com este estudo. Esse dado é fundamental,
203

porque é a partir da classificação dos grupos que se baseia o modelo e muitos autores e
gestores trabalham com bases de dados diferentes.
O que se está tentando dizer é que desde já se esperam algumas críticas sobre a
inclusão ou exclusão de casos que sejam de conhecimento de alguém como possuidores de
áreas internacionais, mas os critérios utilizados já foram expostos anteriormente (subconjunto
da união entre pelo menos dois das quatro listas mais completas disponíveis por autores da
área ou instituições competentes – Ribeiro (2008), Confederação Nacional de Municípios,
Fórum de Secretários Municipais de Relações Internacionais e Assessoria de Assuntos
Federativos e Parlamentares/MRE). A tabela 6 reúne os casos que representam os eventos,
totalizando 87 municípios.

Tabela 6 - Municípios com área internacional


Alvorada/RS, Aracaju/SE, Araraquara/SP, Belém/PA, Belo Horizonte/MG, Boa Vista/RR,
Cachoeirinha/RS, Camaçari/BA, Campinas/SP, Campo Grande/MS, Cascavel/PR, Caxias do
Sul/RS, Coronel Sapucaia/MS, Corumbá/MS, Cubatão/SP, Cuiabá/MT, Curitiba/PR,
Diadema/SP, Feira de Santana/BA, Florianópolis/SC, Fortaleza/CE, Foz do Iguaçu/PR,
Goiânia/GO, Gravataí/RS, Guarulhos/SP, Indaiatuba/SP, Ipatinga/MG, Ipuã/SP, Itanhaém/SP,
Itu/SP, Jacareí/SP, João Pessoa/PB, Joinville/SC, Juiz de Fora/MG, Jundiaí/SP, Lages/SC,
Londrina/PR, Macapá/AP, Maceió/AL, Manaus/AM, Maringá/PR, Mogi-Guaçu/SP,
Mossoró/RN, Natal/RN, Nova Iguaçu/RJ, Nova Prata/RS, Olinda/PE, Osasco/SP, Ouro
Preto/MG, Palmas/TO, Paranhos/MS, Passo Fundo/RS, Pelotas/RS, Piracicaba/SP, Porto
Alegre/RS, Porto Velho/RO, Praia Grande/SP, Recife/PE, Ribeirão Preto/SP, Rio Branco/AC,
Rio Claro/SP, Rio de Janeiro/RJ, Salvador/BA, Santa Bárbara d'Oeste/SP, Santa Maria/RS,
Santana do Livramento/RS, Santo André/SP, Santos/SP, São Bernardo do Campo/SP, São
Borja/RS, São Caetano do Sul/SP, São Carlos/SP, São Francisco de Paula/RS, São Gonçalo/RJ,
São José do Rio Preto/SP, São José dos Campos/SP, São Leopoldo/RS, São Luís/MA, São
Paulo/SP, São Vicente/SP, Sumaré/SP, Suzano/SP, Teresina/PI, Ubatuba/SP, Uberlândia/MG,
Uruguaiana/RS, Vitória/ES

Alguns dos municípios listados já poderiam, por intuição, ser vinculados às relações
transnacionais do país, outros nem tanto. No modelo estatístico, esse “nível de certeza”
também está presente, quando alguns deles são mais facilmente classificados do que outros.
Existem outros casos que podem estar inclusive mal agrupados (os outliers). Trabalhar-se-á
com essas ideias mais a frente, mas é bom considerar que quando se tratam os casos em que
Y=1, estão sendo referidos os governos locais desses municípios.
204

5.2 Testando pressupostos e problemas da regressão logística: linearidade, separação


completa, informação incompleta dos previsores, multicolinearidade e overdispersion

Como será apresentado de forma prática mais a frente, mas também como já visto no
capítulo anterior, o relogit é um modelo de correção do logit para eventos raros, e com ele
compartilha uma série de princípios. Os pressupostos e problemas do logit, nesse sentido, são
os mesmos do relogit. Nas próximas linhas, os dois modelos serão desenvolvidos para a
explicação da paradiplomacia em nível local. A adequação do modelo aos pressupostos e
problemas possíveis servem para as duas técnicas.

5.2.1 O modelo original sem análise dos pressupostos

Antes de apresentar os pressupostos e problemas da regressão logística, rodou-se o


modelo sem respeitar nenhum deles. Na tabela 7, há o primeiro contato com o desenho de
pesquisa, mesmo que seja apenas um esboço que deve ser corrigido para respeitar as noções
básicas do cálculo do logit. Da forma como se encontra, ele não representa nada para o
estudo, já que a simples inclusão das variáveis no modelo não garante previsão mais correta
do resultado (Y=1).
205

Tabela 7 - Esboço da Regressão logística: o modelo quando todas as variáveis são


incluidas
Iteration 0: log likelihood = -334.44023
Iteration 1: log likelihood = -245.89714
Iteration 2: log likelihood = -172.44642
Iteration 3: log likelihood = -141.13221
Iteration 4: log likelihood = -136.172
Iteration 5: log likelihood = -134.96379
Iteration 6: log likelihood = -134.90905
Iteration 7: log likelihood = -134.90743
Iteration 8: log likelihood = -134.90743

Logistic regression Number of obs = 5427


LR chi2(18) = 399.07
Prob > chi2 = 0.0000
Log likelihood = -134.90743 Pseudo R2 = 0.5966

aint Coef. Std. Err. z P>|z| [95% Conf. Interval]

regse -1.077376 1.001021 -1.08 0.282 -3.039341 .8845891


front 1.374505 .549637 2.50 0.012 .2972358 2.451773
metoo .5096162 .406648 1.25 0.210 -.2873993 1.306632
edu .7373683 .4976833 1.48 0.138 -.2380731 1.71281
idh 12.50853 6.111399 2.05 0.041 .5304093 24.48666
pib .0002698 .0001454 1.86 0.064 -.0000152 .0005548
pibcap .0004532 .0150132 0.03 0.976 -.0289721 .0298786
pop .0073682 .0022285 3.31 0.001 .0030005 .011736
exp .0015597 .0007567 2.06 0.039 .0000765 .0030429
com -.000846 .0004589 -1.84 0.065 -.0017454 .0000535
func .0276723 .0123203 2.25 0.025 .003525 .0518197
pt 1.163203 .445333 2.61 0.009 .2903662 2.03604
oposi .2135834 .4543707 0.47 0.638 -.6769668 1.104134
ied -.0200256 .005242 -3.82 0.000 -.0302998 -.0097514
sp 5.122452 1.703363 3.01 0.003 1.783921 8.460983
sprj -2.449472 1.756463 -1.39 0.163 -5.892075 .9931315
rs 1.807075 .6867147 2.63 0.009 .461139 3.153011
regsesl -.3620964 .8654529 -0.42 0.676 -2.058353 1.33416
cap (omitted)
_cons -17.04869 4.421848 -3.86 0.000 -25.71535 -8.382027

Será apresentado mais a frente quando a regressão logística for rodada para o nosso
modelo específico, o que cada um dos scores representa. Não faz sentido explicar os dados a
essa altura, já que não são esses os valores do estudo. Essa foi a primeira tentativa de
representar fielmente o modelo teórico descrito no capítulo 3, porque foram incluídos todos os
indicadores que representam as determinantes locais apontadas por Soldatos e que são
respaldados por outros autores, lembrando que o modelo foi adaptado para o caso brasileiro
com as devidas justificativas.

5.2.2 Linearidade

O primeiro dos pressupostos analisados no nosso modelo é o da linearidade. Pode


parecer estranho pensar em linearidade como uma condição para o modelo logístico, dado que
anteriormente foi dito que a noção básica do logit é a presença de variável dependente
categórica. Conforme se explicou no capítulo 4, esse pressuposto é um pouco distinto do
encontrado na regressão linear. A linearidade para a regressão logística ocorre entre o
logaritmo natural da variável dependente e as variáveis independentes contínuas.
206

Existem algumas formas de verificar se o pressuposto da linearidade é cumprido.


Uma relativamente simples, sugerida por Hosmer e Lemeshow (1989), é rodar a regressão
logística, mas incluindo variáveis independentes que representem a interação entre cada uma
delas e seus respectivos logs. Dessa forma, criam-se novas variáveis com os valores dos logs
das variáveis independentes contínuas, o nome dado para essas variáveis é L + nome da
variável original. Nesse sentido, criaram-se o Lidh, o Lpib e assim por diante. A partir daí,
colocaram-se na regressão logística que testa a linearidade as variáveis originais e a interação
entre as variáveis originais e as variáveis recém-criadas. Na tabela 8 (foram omitidas as
interações do log-likelihood e os outros dados de fit), vê-se essas interações com o idhLidh,
que é a combinação da variável idh e Lidh, e as subsequentes.
Tem-se, para testar se o pressuposto de linearidade foi respeitado, uma regressão
logística, em que a variável dependente é a presença de áreas internacionais, aint, e as
variáveis independentes são as variáveis contínuas e as interações entre elas e seus respectivos
logs.

Tabela 8 - Regressão logística para teste de linearidade

aint Coef. Std. Err. z P>|z| [95% Conf. Interval]

idh 103.4328 116.5089 0.89 0.375 -124.9204 331.7859


pib .0024046 .0029218 0.82 0.411 -.003322 .0081313
pibcap -.0233612 .2044637 -0.11 0.909 -.4241026 .3773803
pop .0164879 .032835 0.50 0.616 -.0478675 .0808432
exp .0094105 .0063788 1.48 0.140 -.0030918 .0219129
com -.0059142 .0043238 -1.37 0.171 -.0143887 .0025603
func .0263709 .1092729 0.24 0.809 -.1878 .2405418
ied -.0383051 .0209341 -1.83 0.067 -.0793352 .002725
idhLidh -116.109 149.7929 -0.78 0.438 -409.6977 177.4797
pibLpib -.0002299 .0002807 -0.82 0.413 -.0007801 .0003204
pibcapLpib~p .0033679 .0373822 0.09 0.928 -.0698998 .0766357
popLpop -.0015999 .0044078 -0.36 0.717 -.0102391 .0070393
expLexp -.0010032 .0007446 -1.35 0.178 -.0024626 .0004561
comLcom .0005987 .0004713 1.27 0.204 -.000325 .0015224
funcLfunc -.0030565 .0210835 -0.14 0.885 -.0443793 .0382663
iedLied .0051364 .003096 1.66 0.097 -.0009315 .0112044
_cons -108.1711 119.8896 -0.90 0.367 -343.1504 126.8083

Olhando para os resultados, interessam apenas se os termos de interação (idhLidh,


pibLpib, pibcapLpibcap, etc) são significantes. Qualquer interação que seja significante a
P<0,05 indica que os efeitos principais violaram o pressuposto de linearidade do logit.
Analisando a tabela, percebe-se que todas as interações acima listadas têm valores de
significância (P>|z|) acima de 0,05 (0,438, 0,413, 0,928, etc), o que representa que a
linearidade entre as variáveis independentes e o log da variável dependente foi respeitada.
Para o pressuposto da linearidade não há necessidade de ajustes.

5.2.3 Separação completa


207

A segunda garantia de validade do logit/relogit não é um pressuposto, mas um


problema possível de ocorrer e que compromete sobremaneira a rodagem do modelo. A
separação completa (complete separation) representa os casos em que uma variável, ou um
grupo de variáveis, consegue prever perfeitamente os resultados desejados (Y=1, ou seja,
presença de área internacional). Isso acontece porque quando se quer prever um resultado e a
explicação converge perfeitamente com ela, não há interações que distinguem a diferença dos
grupos.
A tabela 9 fornece um exemplo mais simples para entender esse problema. Nota-se
que existe um problema com a variável cap (município capital estadual), isso se dá porque
essa variável prevê o sucesso (Y=1) perfeitamente. Como essa variável foi utilizada como
previsora, então sempre que o município for capital estadual (cap=1) ele possuirá área
internacional (aint=1). Diz-se então que está presente uma separação completa.

Tabela 9 - Regressão logística acusando separação completa


note: cap != 0 predicts success perfectly
cap dropped and 26 obs not used

Logistic regression Number of obs = 5427


LR chi2(18) = 399.07
Prob > chi2 = 0.0000
Log likelihood = -134.90743 Pseudo R2 = 0.5966

aint Coef. Std. Err. z P>|z| [95% Conf. Interval]

cap (omitted)
regse -1.077376 1.001021 -1.08 0.282 -3.039341 .8845891
front 1.374505 .549637 2.50 0.012 .2972358 2.451773
metoo .5096162 .406648 1.25 0.210 -.2873993 1.306632
edu .7373683 .4976833 1.48 0.138 -.2380731 1.71281
idh 12.50853 6.111399 2.05 0.041 .5304093 24.48666
pib .0002698 .0001454 1.86 0.064 -.0000152 .0005548
pibcap .0004532 .0150132 0.03 0.976 -.0289721 .0298786
pop .0073682 .0022285 3.31 0.001 .0030005 .011736
exp .0015597 .0007567 2.06 0.039 .0000765 .0030429
com -.000846 .0004589 -1.84 0.065 -.0017454 .0000535
func .0276723 .0123203 2.25 0.025 .003525 .0518197
pt 1.163203 .445333 2.61 0.009 .2903662 2.03604
oposi .2135834 .4543707 0.47 0.638 -.6769668 1.104134
ied -.0200256 .005242 -3.82 0.000 -.0302998 -.0097514
sp 5.122452 1.703363 3.01 0.003 1.783921 8.460983
sprj -2.449472 1.756463 -1.39 0.163 -5.892075 .9931315
rs 1.807075 .6867147 2.63 0.009 .461139 3.153011
regsesl -.3620964 .8654529 -0.42 0.676 -2.058353 1.33416
_cons -17.04869 4.421848 -3.86 0.000 -25.71535 -8.382027

Felizmente, o próprio STATA acusa a existência desse problema. Não é preciso fazer
nenhum reparo, apenas excluir a variável; no entanto, esse passo é fundamental, porque se o
logit do modelo é rodado mantendo a variável que dá margem à separação completa perde-se
grande parte do seu poder preditivo. Isso porque como bem explica a nota acima, ao deixar o
programa retirar a variável em questão, todas as observações com ela envolvida também são
deixadas de lado.
208

Essas observações são fundamentais para o modelo e ignorá-las afetaria crucialmente


sua capacidade preditiva. Em outras palavras, a variável está sendo retirada porque ela é
perfeita para prever os eventos e não porque não contribui para a previsão. Nesses casos, é
melhor retirar a variável para manter as observações a ela relacionada, do que mantê-la e
esperar que a regressão inutilize as observações. Para resolver o problema de separação
completa no modelo pós-adequação, o fator município ser capital de estado foi excluído.

5.2.4 Informação incompleta dos previsores

Outro problema que se deve ficar atento antes de rodar o logit e o relogit é o da
informação incompleta das variáveis independentes. Essa noção é relativamente fácil de ser
entendida e remete à necessidade de obter todas as combinações possíveis entre as variáveis
preditivas (tanto categóricas quanto contínuas, apesar de ser menos problemático neste
segundo caso). Apresentam-se nas tabulações abaixo as relações entre a frequência da VD e
das VI categóricas. A ideia é que nunca haja um espaço em branco nessas combinações de
resultados (na verdade, a sugestão é que a ocorrência seja sempre maior que 5, e menor que 5
em apenas 20% dos casos).

Tabela 10 – Tabulações de relações entre frequências da VD e das VI

Possui
Possui Área Município pertencente
Área Município da Região Internacio à Faixa de fronteira
Internacio Sudeste nal? não sim Total
nal? não sim Total
não 4,905 570 5,475
não 3,846 1,629 5,475 sim 75 12 87
sim 48 39 87
Total 4,980 582 5,562
Total 3,894 1,668 5,562

Área Internacional no
Possui Possui município vizinho, na
Área Possui Instituto de Área mesma Microrregião,
Internacio Ensino superior Internacio RM, AU ou RID
nal? não sim Total nal? não sim Total

não 4,965 510 5,475 não 4,610 865 5,475


sim 13 74 87 sim 45 42 87

Total 4,978 584 5,562 Total 4,655 907 5,562

Possui
Área Partido do prefeito Possui
Internacio oposição 2005 - 2008 Área Partido do prefeito
nal? não sim Total Internacio PT 2005 - 2008
nal? não sim Total
não 3,525 1,908 5,433
sim 62 25 87 não 5,070 364 5,434
sim 62 25 87
Total 3,587 1,933 5,520
Total 5,132 389 5,521
209

Possui
Possui Área
Área Município São Paulo Internacio Município São Paulo
Internacio ou Rio de Janeiro nal? não sim Total
nal? não sim Total
não 4,860 615 5,475
não 4,771 704 5,475 sim 57 30 87
sim 54 33 87
Total 4,917 645 5,562
Total 4,825 737 5,562

Possui Possui
Área Área Município Rio Grande
Internacio Município SE ou S Internacio do Sul
nal? não sim Total nal? não sim Total

não 2,680 2,795 5,475 não 4,993 482 5,475


sim 26 61 87 sim 73 14 87

Total 2,706 2,856 5,562 Total 5,066 496 5,562

Observa-se que as combinações nas tabulações acima nunca estão abaixo de 5 (os
menores valores são 12 e 13, respectivamente na combinação “pertence à faixa de fronteira e
possui área internacional” e na combinação “não possui instituto de ensino superior e possui
área internacional”). O problema é que as combinações referidas não se atêm à relação de
uma variável independente e uma variável independente, senão a interação cumulativa de
todas as variáveis do modelo.
Para dar um exemplo disso, na tabela 11 tabulam-se três variáveis (1 VD e 2 VI) e
encontra-se um valor abaixo de 5 entre o município que pertence à faixa de fronteira, está no
Rio Grande do Sul e possui área internacional, mas, como foi visto, isso é possível em 20%
dos casos (e rodando todas as possibilidades no crosstabulation qui-quadrado não se observa
esse problema). O que potencialmente poderia oferecer riscos são os espaços em branco,
como na última tabulação; esses casos, entretanto, não acontecem por falta de observações
nessa combinação, senão que a combinação aí é impossível. Um município pertencente ao
estado de São Paulo nunca será um município gaúcho, assim como um município da faixa de
fronteira nunca será paulista ou fluminense, simplesmente porque essas variáveis são
excludentes.

Tabela 11 – Tabulações triplas

Município São Paulo ou Rio de


Possui Janeiro and Possui Instituto
Área de Ensino superior
Internaci não sim
onal? não sim não sim

não 4,400 371 565 139


sim 8 46 5 28
210

Município Rio Grande do Sul


Possui Município São Paulo and
Possui and Município pertencente à
Área Faixa de fronteira Área Município Rio Grande do Sul
Internaci não sim Internaci não sim
onal? não sim não sim onal? não sim não sim

não 4,613 380 292 190 não 4,378 482 615


sim 65 8 10 4 sim 43 14 30

O problema central das informações incompletas é que a falta de observações em


algumas das combinações possíveis interfere na qualidade da predição de novos casos que
poderão testar o modelo. Ou seja, se há diversas amostras para um estudo e a amostra
utilizada para criar o modelo não tem observações em todas as combinações possíveis, então,
quando surgirem novas observações com características que o modelo não possuía, ele não
terá capacidade de prevê-lo.
Como se trabalha com a população ao invés de amostra, pode-se ficar seguro de que
não haverá, pelo menos no estudo, casos que fujam dessas especificações. Ou seja, não há
outros casos que possam ser mal classificados, porque estão sendo utilizadas todas as
observações possíveis. Além disso, as variáveis são excludentes não só para a estimação do
modelo e sim para todos os casos possíveis (um município paulista nunca será gaúcho).
Mesmo considerando isso, prestar-se-á bastante atenção nos possíveis erros padrões
exagerados nos coeficientes, porque eles tendem a crescer quando o problema de informação
incompleta é violado. Para o problema de informações incompletas nenhum reparo foi
necessário.

5.2.5 Não multicolinearidade

No capítulo anterior o pressuposto de não multicolinearidade foi apresentado, bem


como quais são suas consequências quando não é respeitado (as mais importantes referem-se
à falta de confiança nos coeficientes b e a subestimação da importância das variáveis
independentes). Observaram-se também alguns critérios para saber se há colinearidade entre
as variáveis do modelo. As mais utilizadas nos modelos estatísticos são o fator de inflação da

variância (VIF em inglês) e a tolerância, que nada mais é que tuv
sVoltando ao capítulo

anterior, pode-se também relembrar que valores de VIF maiores que 10, ou tolerância menor
que 0,1 são motivos para preocupação (alguns são mais severos, argumentando que valores
maiores que 5 e menores que 0,2, respectivamente, já são problemáticos).
Além desses, existem outras formas que aumentam o rigor para evitar a
multicolinearidade, como a média dos VIFs, que não podem ter um resultado muito superior a
211

1, ou o condition index (condition number), que não deve ser maior do que 30. Esse último
critério é mais complexo (envolve a noção dos eigenvectors e eigenvalues da relação entre
variáveis, porque o index é a razão entre o maior e o menor valor dessa última) e não será
explicado aqui. Para o estudo só interessa saber que se deve evitar ultrapassar o valor de 30.
Obtêm-se por uma rotina simples do software as informações desejadas para esse
pressuposto. Já foi retirada da lista a variável independente “capital”, sabendo que ela
desrespeita o pressuposto de separação completa. Os resultados dos testes de
multicolinearidade estão presentes na tabela 12 e o que interessa para o modelo são os valores
de VIF, Tolerance, VIF mean (ao final do primeiro grupo da tabela) e o conditional number
(ao final da segunda parte da tabela):

Tabela 12 – Valores do teste de multicolinearidade quando todas as variáveis são


incluídas (exceto capital - cap)
SQRT R-
Variable VIF VIF Tolerance Squared
----------------------------------------------------
aint 1.79 1.34 0.5581 0.4419
regse 3.33 1.83 0.2999 0.7001
front 1.23 1.11 0.8108 0.1892
metoo 1.12 1.06 0.8925 0.1075
edu 1.45 1.21 0.6877 0.3123
idh 2.70 1.64 0.3705 0.6295
pib 65.37 8.08 0.0153 0.9847
pibcap 1.38 1.17 0.7271 0.2729
pop 23.95 4.89 0.0417 0.9583
exp 6.19 2.49 0.1616 0.8384
com 8.28 2.88 0.1208 0.8792
func 14.10 3.76 0.0709 0.9291
pt 1.07 1.03 0.9361 0.0639
oposi 1.11 1.05 0.9025 0.0975
ied 25.93 5.09 0.0386 0.9614
sp 7.80 2.79 0.1282 0.8718
sprj 8.32 2.88 0.1202 0.8798
rs 1.58 1.26 0.6340 0.3660
regsesl 3.96 1.99 0.2527 0.7473
----------------------------------------------------
Mean VIF 9.51

Cond
Eigenval Index
---------------------------------
1 6.3882 1.0000
2 4.0196 1.2607
3 1.8031 1.8822
4 1.1940 2.3131
5 1.0175 2.5056
6 0.9647 2.5733
7 0.8422 2.7542
8 0.7508 2.9169
9 0.6533 3.1270
10 0.6467 3.1430
11 0.5209 3.5020
12 0.4823 3.6393
13 0.3205 4.4648
14 0.1158 7.4276
15 0.0975 8.0963
16 0.0792 8.9816
17 0.0558 10.7007
18 0.0346 13.5957
19 0.0105 24.6995
20 0.0029 47.1779
---------------------------------
Condition Number 47.1779
Eigenvalues & Cond Index computed from scaled raw sscp (w/ intercept)
Det(correlation matrix) 0.0000

Alguns casos de multicolinearidade são preocupantes, especialmente com relação às


variáveis pib, pop, func e ied, no que se refere aos VIF (acima de 10) e à tolerância (abaixo
212

de 0,1), e às variáveis exp, com, sp, sprj que têm valores respectivamente acima de 5 e
abaixo de 0,2. Além disso, a média do VIF está bem acima de 1, o que também indica a
violação do pressuposto, e o condition number está acima de 30.
Existem algumas formas de lidar com esse problema. Elas envolvem desde ignorar a
violação de não multicolinearidade, rodando o modelo sem nenhum reparo, até a
transformação dos dados para evitar a colinearidade. Optou-se por uma forma mais
conservadora e presente em vários manuais como sugestão mais correta (se é possível de dizer
isso), que é a retirada das variáveis independentes que causam a colinearidade do modelo. Ela
deve ser feita com cuidado, levando em consideração tanto as consequências da retirada,
quanto a teoria que embasa a utilização da respectiva variável.
Rodando uma série de testes e tendo uma noção básica sobre o que cada variável
independente representa, é possível notar quais são as VI colineares. Nesses casos, deve-se
retirar uma das variáveis, ou mais, que apresenta alto índice e que demonstra esse problema
(por exemplo, VIF>5). Automaticamente, a outra variável envolvida terá seu score reduzido,
já que os dados colineares são retirados. Conforme dito, não existe uma regra de como
proceder na retirada de variáveis nessa situação, cabe o bom senso do pesquisador.
No modelo, optou-se por retirar as variáveis pib, func, ied, exp, sprj, regsesl e
regse. Os três primeiros, que violavam VIF>10 e tolerância<0,1, possuíam multicolinearidade
com pop e entre si (nesse caso pesou também o fato de pib não ser significante no modelo de
logit). Já sprj e com violavam VIF>5 e tolerância<0,2. Além disso, sprj media, no modelo
teórico, a mesma determinante que sp, mas como se observa na tabela de logit já apresentada
no capítulo, o coeficiente de sp era maior. A mesma ideia está presente na relação de com e
exe, que são indicadores para a característica econômica da segmentação objetiva do modelo
de Soldatos.
As variáveis regsesl e regse não violavam as condições de VIF e tolerância do
modelo, mas elas contribuíam de forma relevante para o aumento da média da VIF, e como
mediam a mesma determinante do modelo teórico explicativo (crescimento/assimetria das
unidades federadas) que sp, optou-se por retirá-las (pesou o fato de também não serem
significantes na regressão logística rodada).
A retirada de um número expressivo de variáveis já era esperada, porque para
representar cada uma das determinantes de Soldatos, listou-se uma série de indicadores, que
por essa condição de representação, tendiam a medir a mesma coisa. Um exemplo para deixar
mais claro é a existência de cinco variáveis para representar apenas a segmentação objetiva
econômica do modelo teórico. Eventualmente, seria percebido que, por medirem o mesmo
213

fator (as características econômicas locais), os valores das variáveis teriam variâncias
similares, levando ao problema da colinearidade.
Pelos valores que assumem, alguns representam maiores problemas do que outros,
mas era necessário chegar até essa fase de teste do pressuposto, porque se por qualquer
motivo não fosse apontada colinearidade, então o modelo se enriqueceria (por trazer um
conjunto mais robusto de variáveis explicativas). É possível que, por meio da transformação
de dados, se salvassem algumas das variáveis excluídas, mas nem sempre essa opção é bem
aceita, porque de certa forma ela artificializa os resultados. Além disso, pôde-se perceber já
no âmbito conceitual que a colinearidade era esperada.
Restou um modelo mais enxuto, mas que evitaria os problemas relacionados a esse
pressuposto. Ressalta-se ainda que, como foi uma opção retirar essas determinantes e não uma
exigência do modelo estatístico (somente em alguns casos, porque os testes evidenciaram
colinearidades que eram proibitivas), não se pode inferir, peremptoriamente, que elas não
contribuem para a explicação do fenômeno. O que houve foi um tradeoff entre variáveis, que
demandou um educated guess. Poderia haver, por exemplo, outra configuração do modelo,
que também respeitaria a não multicolinearidade (com a VI func, no lugar de pop, ou com, no
lugar de exe, por exemplo), mas dentro da possível discricionariedade, resolveu-se fazer as
mudanças anunciadas.
Após essas decisões, foi possível minimizar o problema de colinearidade, obtendo os
resultados apresentados a seguir na tabela 13.
Tabela 13 – Valores do teste de multicolinearidade ajustado
SQRT R-
Variable VIF VIF Tolerance Squared
----------------------------------------------------
aint 1.34 1.16 0.7489 0.2511
front 1.13 1.06 0.8843 0.1157
metoo 1.11 1.05 0.8989 0.1011
edu 1.28 1.13 0.7838 0.2162
idh 1.74 1.32 0.5752 0.4248
pibcap 1.27 1.13 0.7885 0.2115
pop 1.57 1.25 0.6357 0.3643
exp 1.52 1.23 0.6597 0.3403
pt 1.06 1.03 0.9414 0.0586
oposi 1.10 1.05 0.9111 0.0889
sp 1.27 1.13 0.7869 0.2131
rs 1.28 1.13 0.7799 0.2201
----------------------------------------------------
Mean VIF 1.31

Cond
Eigenval Index
---------------------------------
1 4.0995 1.0000
2 1.8291 1.4971
3 1.2908 1.7821
4 0.9630 2.0632
5 0.8475 2.1993
6 0.7326 2.3656
7 0.6789 2.4574
8 0.6544 2.5029
9 0.6113 2.5897
10 0.5330 2.7733
11 0.4256 3.1037
12 0.3300 3.5245
13 0.0043 30.8862
---------------------------------
Condition Number 30.8862
Eigenvalues & Cond Index computed from scaled raw sscp (w/ intercept)
Det(correlation matrix) 0.1829
214

Logrou-se a adequação ao pressuposto de forma quase perfeita. Tanto o VIF quanto a


tolerância respeitaram completamente os pontos de cortes presentes na literatura, o valor da
média de VIF ficou apenas um pouco acima de 1 (≠0,3) e o conditional number também se
aproximou bastante de 30 (≠0,8).

5.2.6 Overdispersion

Foi apresentado rapidamente no capítulo anterior o que representa o overdispersion.


Para relembrar, ele acontece quando a variância esperada pelo modelo é menor do que a que
realmente se observa (desrespeitando o pressuposto de independência) ou devido à
variabilidade das probabilidades do evento. A consequência negativa da infração do problema
é a presença de erros padrão muito pequenos, comprometendo a estatística Wald
(superestimando-o) e os intervalos de confiança que ficam muito estreitos, assim, crê-se que
há mais impacto da nossa variável no resultado do que realmente existe (erro tipo 1).
Existem diversas formas de captar se existe ou não overdipersion entre os dados.
Fez-se uso de uma que se crê ser mais simples e efetiva, presente em Field (2009). A
princípio, a ideia é de que o goodness of fit qui-quadrado dividido pelos graus de liberdade
(parâmetro de dispersão), dando um resultado maior do que 1 representa overdispersion. Da
mesma forma, quando o deviance goodnesss of fit dividido pelos graus de liberdade é maior
que 1 se observa overdispersion. Se há problemas, é necessário corrigi-los multiplicando os
desvios padrões pela raiz quadrada do parâmetro de dispersão, que pode ser o qui-quadrado de
Pearson ou do deviance. Rodando as rotinas para encontrar os valores, levantaram-se os
seguintes scores, sumarizados na tabela 14.

Tabela 14 - Teste goodness of fit qui-quadrado e de desviância para teste de


overdispersion
Logistic model for aint, goodness-of-fit test

number of observations = 5463


number of covariate patterns = 5463
Pearson chi2(5451) = 2206.77
Prob > chi2 = 1.0000
Logistic model deviance goodness-of-fit test

number of observations = 5463


number of covariate patterns = 5463
deviance goodness-of-fit = 326.76
degrees of freedom = 5451
Prob > chi2 = 1.0000
215

Os testes de goodness of fit de Pearson qui-quadrado e de deviance foram aplicados.


Buscando o parâmetro de dispersão (¨), que pode ser dado pela razão entre o teste qui-
quadrado e os graus de liberdade ou pela razão entre o desvio e os graus de liberdade, são
causas de preocupação os resultados com valores acima de 1, com sérios problemas quando
eles se aproximam de 2. No primeiro caso o qui-quadrado é de 2206,77 e os graus de
liberdade são de 5451 (é o número entre parênteses), o parâmetro de dispersão é de 0,4. No
segundo caso, do deviance, a razão é de 0,05 (326,76/5451). Ambos os resultados dos
parâmetros são inferiores a 1, e não há uma discrepância extrema entre o qui-quadrado e o
deviance que preocupe (0,3), o que também leva a crer que o overdispersion é pouco
provável. Para esse problema não há reparos a serem feitos no modelo.

5.3 Observações que influenciam o modelo indevidamente (influential cases) e os casos


atípicos (outliers)

Até agora, verificaram-se potenciais problemas na construção do modelo, mas há


também observações específicas que podem ter um impacto significante no modelo. O motivo
pelo qual é necessário se preocupar remete à possibilidade de (a) terem sido incluídos valores
equivocados em uma ou mais variáveis para essas observações, (b) esses casos, por suas
peculiaridades, podem ser interessantes por si só(casos que são mal classificados) ou (c) essas
observações podem influenciar negativamente a estimação do logit/relogit.
No caso de sua presença, uma ou mais observações podem ser mal previstos pela
solução encontrada. Um caso que está relamente em uma categoria pode mostrar alta
probabilidade de pertencer à outra. Se existem muitos casos como esses, o modelo é um
previsor de má qualidade. Os casos atípicos e influenciadores são examinados pelos resíduos,
que mostram se uma observação está muito distante do resto e também podem ajudar a
interpretar os resultados do modelo da análise de regressão logística.
Existem três estatísticas básicas para o diagnóstico dos resíduos no logit: os de
Pearson e os de Deviance, já citados anteriormente, além do ponto alavanca de Pregibon (há,
entretanto, outras tantas formas de teste, como os DFBeta e as distâncias de Cook, citados no
capítulo anterior). Os resíduos padronizados (standardized) de Pearson medem as diferenças
entre a frequência observada e a frequência prevista em desvios-padrão, ou seja, o desvio
relativo entre valores observados e encaixados. Os resíduos de desviância medem as
diferenças entre as funções de log likelihood máximas da observação e as encaixadas no
modelo. Como o logit também utiliza o princípio de máxima verossimilhança, o objetivo é
minimizar a soma dos desvios dos resíduos (na verdade, a soma dos quadrados, como dito no
216

capítulo anterior). A última estatística é a de alavanca de Pegribon, também conhecida como


diagonal chapéu ou de projeção. Ela mensura a influência específica de uma dada observação
no modelo.
Uma boa forma de visualizar essas estatísticas é a utilização de gráficos, em que são
plotadas com as probabilidades previstas para Y=1 e com os próprios números de
identificação das observações (as probabilidades já foram baseadas no modelo logit que
consideram as variáveis que não infringem os pressupostos e problemas da regressão logística
– o modelo será apresentado na próxima sessão). Existem outras formas de observar os
influential cases, por exemplo, por meio de tabelas e comparações entre números, mas eles
não dão uma noção tão simples quanto a representação gráfica. Os gráficos de 8 a 13
representam os plots referidos.

Figura 8 – Gráfico: Resíduos de Pearson Figura 9 – Gráfico Resíduos de Pearson


x Probabilidade x Id

3687 3687
3354 3354
standardized Pearson residual

standardized Pearson residual


-4 -2 0 2 4 6 8 10 12 14 16

-4 -2 0 2 4 6 8 10 12 14 16

5020 5020

1630
3046
4989 1630 3046 49895277
5277
4479
1803
3157 1803 4479
3219
5470 3157
3219
3633 3633 5470
3519
5240
5122 3519 5240
5325
3188
5344
3744
3261 3188 5122 5325
5344
3176
3853 3261 3744
3176 3853
3273
5355
5476
5461
3841
3144
5229 3273 3841 5355
5476
5461
3233 5340
3818
3820
32665356
3280
5519 3156 3144
3233
3266
3280 3818
3820 5229
5340
5356
3851
5510
5517
55163281
32153228
3279
5242
3850
5444
5433
3193
3836
5488
5456 3156
3215
3281
3228
3279 3851
3850 5242 5519
5510
5517
5516
5444
9
8
7
6
5
4
3
2
1
12
11
27
26
25
24
23
22
21
20
19
18
17
16
15
14
43
42
41
40
39
38
37
36
35
34
33
32
31
30
29
50
49
48
47
46
45
53
52
55
71
70
69
68
67
66
65
64
63
62
61
60
59
58
57
97
96
95
94
93
92
91
90
89
88
87
86
85
84
83
82
81
80
79
78
77
76
75
74
105
104
103
102
101
100
99
115
114
113
112
111
110
109
108
107
123
122
121
120
119
118
117
131
130
129
128
127
126
125
159
158
157
156
155
154
153
152
151
150
149
148
147
146
145
144
143
142
141
140
139
138
137
135
134
189
188
187
186
185
184
183
182
181
180
179
178
177
176
175
174
173
172
171
170
169
168
167
166
165
164
163
162
161
213
212
211
210
209
208
207
206
205
204
203
202
201
200
199
198
197
196
195
194
193
192
191
218
217
216
228
227
226
225
224
223
222
221
220
238
236
235
234
233
232
231
230
261
260
259
258
257
256
255
254
253
252
251
250
249
248
247
246
245
244
243
242
241
240
272
271
270
269
268
267
266
265
264
263
275
274
282
281
280
279
278
277
314
313
312
311
310
308
307
306
305
304
303
302
301
300
299
298
297
296
295
294
293
292
291
290
289
288
287
286
285
284
324
323
322
321
320
319
318
317
316
331
330
329
328
327
326
368
367
366
365
364
363
362
361
360
359
358
357
355
354
353
352
351
350
349
348
347
346
345
344
343
342
341
340
339
338
337
336
335
334
333
371
370
386
385
384
383
382
381
380
379
378
377
376
375
374
373
392
391
390
389
388
394
445
444
443
442
441
440
439
438
437
436
435
434
433
432
431
430
429
428
427
426
425
424
423
422
421
420
419
418
417
416
415
414
413
412
411
410
409
408
407
406
405
404
403
402
401
400
399
398
397
396
449
508
507
506
505
504
503
502
501
500
499
498
497
496
495
494
493
492
491
490
489
488
487
486
485
484
483
482
481
480
479
478
477
476
475
474
473
472
471
470
469
468
467
466
465
464
463
462
461
460
459
458
457
456
455
454
453
452
451
515
514
513
512
511
510
529
528
527
526
525
524
523
522
521
520
519
518
517
572
571
570
569
568
567
566
565
564
563
562
561
560
559
558
557
556
555
554
553
552
551
550
549
548
547
546
545
544
542
541
540
539
538
537
536
535
534
533
532
531
577
576
575
574
589
587
586
585
584
583
582
581
580
579
598
597
596
595
594
593
592
591
600
626
625
624
623
622
621
620
619
618
617
616
615
614
613
612
611
610
609
608
607
606
605
604
603
602
692
691
690
689
688
687
686
685
684
683
682
681
680
679
678
677
676
675
674
673
672
671
670
669
668
667
666
665
664
663
662
661
660
659
658
657
656
655
654
653
652
651
650
649
648
647
646
645
644
643
642
641
640
639
638
637
636
635
634
633
632
631
630
629
628
697
696
695
694
728
727
726
725
724
723
722
721
720
719
718
717
716
715
714
713
712
711
710
709
708
707
706
705
704
703
702
701
700
733
732
731
730
746
745
744
743
742
741
740
739
738
737
736
763
762
761
760
759
758
757
756
755
754
753
752
751
750
749
767
766
776
775
774
773
772
771
770
769
797
796
795
794
793
792
791
790
789
788
787
786
785
784
783
782
781
780
779
778
808
807
805
804
803
802
801
800
799
812
811
810
853
852
851
849
848
847
846
844
843
842
841
840
839
838
837
836
835
834
833
832
831
830
829
828
827
826
825
824
823
821
820
819
818
817
816
815
878
877
876
875
874
873
872
871
870
869
868
866
865
864
863
862
861
860
859
858
857
856
855
886
885
884
883
882
881
880
950
949
948
947
946
945
944
943
942
941
940
939
938
937
936
935
933
932
930
929
928
927
926
925
924
923
922
921
920
919
918
917
916
915
914
913
912
911
910
909
908
907
906
905
904
903
902
901
900
899
898
897
896
895
894
893
891
890
889
888
972
971
968
966
964
963
962
961
960
959
958
957
956
955
954
953
952
980
979
978
977
976
975
974
991
990
989
988
987
986
985
984
983
982
1013
1012
1011
1010
1009
1008
1007
1006
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5196
5045
5056
5065
5077 5489
5371
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5233
5232
5231
5236
5239
5246
5245
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5085
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5090
5094
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5115
5052
5073
5089 5512
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5377
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5384
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5388
5398
5397
5395
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5253
5252
5256
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5272
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5275
5280
5282
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5293
5292
5291
5295
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5201
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5205
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5194
5199
5200
5206
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5370
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5225
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5381
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5390
5399
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5305
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5485
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5394
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5490
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5351
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5427
5426
5425
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5448
5297
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5313
5318
5329
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5473
5472
5479
5481
5493
5343
5361
5366
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5406
5409
5414
5419
5288
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5430
5436
5438
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5450
5452
5451
5316
5328
5330
5315
5332
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5492
5338
5362
5360
52205415
5421
5432
5429
5437
5441
5453
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5465
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5498
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5454
5455
5457
5298
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5347
5364
5368
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5447
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5508
5514
5417
5420
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5484
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5503
5502
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5505
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5309
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3858
5513
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3129
3859
5474
535954405367
5458
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3183
3236
3128
31293277
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3835
3847
3856
3852
3858
3857
3838
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5353
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5400
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5342
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5294
5309 5520
5434
5300 5505
5496
5513
5474
5359
5440
5367
5458
5466
3137 3137
5499 5499
5497 5497
5459 5459
5308 5308

0 .2 .4 .6 .8 1 0 2000 4000 6000


Pr(aint) id

Figura 10 – Gráfico: Resíduos de Figura 11 – Gráfico: Resíduos de


Desviância x Probabilidade Desviância x Id

1630
1803

9
7
5
4
3
27
19
18
16
39
37
36
31
50
48
47
46
45
71
69
66
60
58
97
96
89
88
87
86
84
79
78
74
101
120
117
129
159
155
154
153
147
145
144
142
141
140
139
137
134
189
186
181
176
175
172
170
164
161
210
207
206
205
204
193
217
223
222
220
235
232
230
260
259
247
245
244
314
313
303
295
293
291
322
316
327
361
360
357
355
354
341
334
333
382
444
442
434
430
428
413
406
403
402
399
449
506
498
493
492
486
479
477
472
469
462
455
451
514
512
567
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551
532
575
589
598
593
592
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617
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606
679
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655
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640
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635
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695
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709
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732
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757
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787
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801
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870
868
866
863
861
860
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884
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941
933
927
923
922
921
918
914
911
909
905
904
901
900
898
896
895
889
968
963
955
953
977
974
990
988
987
986
983
1011
1008
1006
999
998
997
1059
1057
1053
1052
1050
1048
1047
1046
1044
1041
1040
1036
1030
1025
1024
1023
1017
1016
1015
1095
1093
1087
1083
1067
1065
1100
1098
1132
1128
1127
1125
1119
1118
1115
1105
1178
1176
1173
1170
1169
1165
1159
1158
1156
1153
1150
1148
1147
1144
1141
1138
1137
1136
1210
1208
1204
1203
1202
1201
1200
1195
1190
1187
1221
1220
1219
1217
1216
1213
1279
1275
1274
1286
1890
1902
1948
1945
1940
1917
1916
1955
1960
1979
1996
1994
1991
2002
2007
2033
2018
2017
2069
2064
2106
2130
2128
2125
2123
2122
2137
2157
2170
2187
2182
2180
2208
2199
2195
2221
2220
2219
2215
2214
2242
2248
2247
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2273
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2267
2286
2284
2316
2308
2304
2298
2322
2320
2319
2342
2337
2333
2327
8
6
2
1
25
24
20
17
43
42
41
40
38
49
53
55
70
67
65
64
62
59
57
95
94
93
90
85
82
80
77
76
75
105
104
103
100
115
114
113
112
111
110
108
107
123
122
131
128
126
125
158
157
156
150
149
148
146
143
138
188
185
184
182
180
178
177
173
171
169
166
163
212
203
201
199
196
195
192
218
228
227
226
221
234
231
257
254
253
252
251
250
249
248
246
243
240
272
271
269
268
267
266
265
263
275
274
282
281
280
279
278
277
305
304
302
299
298
296
292
290
289
288
287
284
324
321
320
319
318
317
330
329
328
326
368
366
364
363
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351
350
349
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337
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385
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381
380
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378
377
376
373
392
391
390
388
394
445
443
441
440
439
438
436
435
433
432
431
427
424
422
421
418
417
415
412
410
409
405
404
401
400
398
396
508
507
504
503
502
501
500
496
495
494
491
488
487
485
484
483
481
480
478
476
474
473
471
470
468
467
466
465
463
461
459
457
454
453
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515
513
510
529
528
527
524
523
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521
520
518
517
572
571
570
569
568
566
565
563
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559
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554
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552
550
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547
545
544
542
539
538
535
534
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576
574
586
585
584
583
582
581
580
579
597
596
595
594
591
625
624
623
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620
619
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605
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603
602
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689
688
687
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727
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720
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718
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710
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707
706
705
704
703
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745
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789
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782
781
780
778
807
802
800
799
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840
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947
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907
903
902
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890
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966
962
961
960
958
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952
980
979
978
976
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989
985
984
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1010
1009
1007
1005
1003
1002
1001
995
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1054
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1096
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1070
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1130
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1126
1122
1121
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1111
1109
1108
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1102
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1174
1172
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1161
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1154
1152
1149
1146
1143
1140
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1182
1181
1207
1206
1199
1198
1197
1196
1194
1192
1189
1225
1224
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1714
1713
1727
1752
1757
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1362
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1798
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1800
1815
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1722
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1726
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1823
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1293
1824
1835
1834
1808
1774
1784

P
217

Figura 12 – Gráfico: Leverage x Figura 13 – Gráfico: Leverage x Id


Probabilidade
.2

.2
3838 3838
5359 5359

1784 1784
.15

.15
5353 5488 5488
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leverage

leverage
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5356
.1

.1
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3254 3254
3215 3215
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3279
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5229
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3857
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3856
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3858
3847
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3128
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3818
3836
3852 5309
5242 5517
5458

.05
.05

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5496
5440
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3236
3179
3142
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5474
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2947
5222
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3183
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5340
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5513
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5505
5520
5518
4258
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3855
3263
3744
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3144
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3263
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5509
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2170
2187
2182
2180
2176
2208
2199
2198
2221
2220
2219
2216
2215
2214
2242
2234
2248
2247
2274
2273
2270
2267
2286
2284
2316
2308
2304
2298
2322
2320
2319
2342
2337
2333
2327
2371
2366
2365
2388
2402
2401
2456
2448
2445
2429
2422
2483
2471
2469
2467
2463
2513
2505
2495
2562
2558
2553
2527
2577
2572
2592
2586
2598
2604
2625
2623
2620
2616
2615
2629
2628
2627
2656
2653
2651
2650
2647
2645
2662
2673
2675
2682
2688
2687
2686
3860
3865
3878
3874
3882
3881
3885
3893
3913
3919
3926
3925
3930
3934
3942
3958
3979
3982
3993
3991
3995
4014
4017
4023
4022
4040
4033
4031
4030
4057
4056
4066
4076
4073
4078
4081
4084
4110
4104
4103
4101
4099
4097
4093
4092
4127
4124
4121
4116
4132
4129
4147
4154
4159
4167
4177
4186
4184
4183
4195
4193
4204
4206
0 3056
3107
3138
3237
3255
3264
3270
5410
5478
5489
5512

0 .2 .4 .6 .8 1 0 2000 4000 6000


Pr(aint) id

Produziram-se graficamente os dois tipos de plots referenciados anteriormente. À


esquerda têm-se as estatísticas contra as probabilidades de predição e à direita as estatísticas
contra as identificações dos casos (chamado de plot de índice – index plot). Esses dois tipos
de gráfico trazem as mesmas informações e apresentam aquelas observações que se deve ter
mais atenção, porque justamente possuem uma capacidade maior de influenciar o modelo.
As observações 3687, 3354, 5020 estão muito distantes das restantes nos quatro
primeiros gráficos. As observações 5459, 5497, 5499 e 5308 (na parte debaixo desses mesmos
gráficos) também devem ser olhadas com atenção. Nenhum desses casos, em contrapartida,
causou preocupação em termos dos pontos de alavanca (leverage) o que pode indicar que a
influência não é tão preocupante, afinal os gráficos devem ser vistos como complementares.
Nos dois últimos gráficos, é possível haver problemas com os casos 1784, 3838 e 5359, mas,
da mesma forma, essas observações parecem não ser um problema quando se plotam os
resíduos de Pearson e de Desviância.
Existem convenções que tentam limitar até que ponto os influential cases devem ser
tolerados ou se de fato as observações representam influential cases. No gráfico essas
observações são mais óbvias, porque estão visíveis, mas de modo geral assume-se que em
uma amostra é natural ter até 5% dos casos com valor absoluto acima de 2 e até 1% com
valores superiores a 2,5. Valores maiores que 3 são provavelmente outliers. Aplica-se esse
mesmo critério aos resíduos de Desviância. Quanto ao leverage, a ideia é que as observações
fiquem no intervalo entre duas ou três vezes a média dos seus valores. Valores acima disso
podem ser outliers em potencial. Cabe lembrar o que se falou anteriormente sobre a
importância de verificação dos gráficos em conjunto. Algumas observações consideradas
como possíveis outliers em um plot, não têm respaldo em outros critérios. No caso em
218

particular, isso está presente para todas as observações, ou seja, nenhum dos possíveis casos
influenciadores estão presentes em todos os seis gráficos.
Para ter mais cautela, observa-se de forma detida para esses casos. Na tabela 15, são
apresentadas as observações que poderiam merecer a atenção do estudo, com suas respectivas
categorias.

Tabela 15 – Possíveis observações atípicas (outliers)


Observation 1784

munic Triunfo/RS front não metoo sim edu não idh .788
pibcap 193.34679 pop 25.096 aint não exp 1398.606657 pt não
oposi não sp não rs sim

Observation 3354

munic Coronel Sapu.. front sim metoo sim edu não idh .713
pibcap 4.04051 pop 14.416 aint sim exp 0 pt não
oposi não sp não rs não

Observation 3687

munic Paranhos/MS front sim metoo sim edu não idh .676
pibcap 4.09397 pop 11.437 aint sim exp 0 pt não
oposi sim sp não rs não

Observation 3838

munic Rio Grande/R.. front sim metoo sim edu sim idh .793
pibcap 13.52774 pop 195.582 aint não exp 2687.045557 pt não
oposi não sp não rs sim

Observation 5020

munic Ipuã/SP front não metoo não edu não idh .78
pibcap 11.48337 pop 15.522 aint sim exp 8.760863 pt não
oposi sim sp sim rs não

Observation 5308

munic Duque de Cax.. front não metoo sim edu sim idh .753
pibcap 21.72234 pop 864.392 aint não exp 1832.065803 pt não
oposi não sp não rs não

Observation 5359

munic Barueri/SP front não metoo sim edu sim idh .826
pibcap 87.33792 pop 264.619 aint não exp 489.697208 pt não
oposi não sp sim rs não

Observation 5459

munic Sorocaba/SP front não metoo sim edu sim idh .828
pibcap 16.25363 pop 576.312 aint não exp 1681.157438 pt não
oposi sim sp sim rs não

Observation 5497

munic Contagem/MG front não metoo sim edu sim idh .789
pibcap 16.08031 pop 617.749 aint não exp 385.667654 pt sim
oposi não sp não rs não

Observation 5499

munic Niterói/RJ front não metoo sim edu sim idh .886
pibcap 14.52323 pop 477.912 aint não exp 209.175914 pt sim
oposi não sp não rs não

Esses casos são importantes, já que se for considerado o modelo logit para o estudo
da paradiplomacia no Brasil (e será visto mais a frente que isso é possível), eles representam
alvos de estudo em potencial, quando ressaltam a falha de classificação do modelo. Em outras
palavras, são municípios que possuem alta probabilidade de possuir área internacional e não
possuem e municípios que possuem alta probabilidade de não possuir área internacional, mas
219

contam com uma. Esses casos reaparecerão depois do logit rodado e ficará mais claro quais as
probabilidades envolvidas.
Existe ainda uma discussão sobre como tratar os influential cases, já que eles tendem
a enviesar o modelo, ou seja, tendem a diminuir a capacidade preditiva da regressão. Uma das
formas mais utilizada é a exclusão dos casos atípicos; no entanto, essa solução não se justifica
se a intenção é a melhoria per se do modelo. Se eles existirem por apenas um erro de inclusão
de dados, talvez seja o caso de encontrar os dados corretos.
Há também idiossincrasias que podem levar a essa classificação de outliers (por
exemplo, um PIB extremamente elevado em uma cidade devido a royalties de petróleo) e que
não têm relação com erros do pesquisador. Este último motivo, parece ser o caso do presente
estudo e, a princípio, não há motivos embasados para retirá-los do modelo. Soma-se a isso, o
fato apontado anteriormente da falta de consistência da influência dos casos nas diversas
estatísticas (não se repetem em todas as plotagens).
É possível dar uma motivação a mais para manter os possíveis outliers na pesquisa.
Nas regressões logísticas com eventos raros, a retirada de eventos (Y=1) é mais problemática
do que a retirada de não-eventos (Y=0). Isso é até intuitivo, porque a pouca quantidade de
eventos faz com que cada uma de suas contribuições ao modelo (classificação do menor
grupo) seja relativamente mais importante. Em outras palavras, a retirada de uma observação
de evento entre 87, é mais problemática do que a retirada de uma observação entre 5475,
mesmo que algumas de suas informações causem assimetria indevida no modelo.
De qualquer forma, rodou-se o modelo logit sem os influential cases e apontamos as
modificações dos resultados. A tabela 16, apresenta o modelo sem os casos atípicos.

Tabela 16 – Modelo logístico sem os influential cases

Logistic regression Number of obs = 5452


LR chi2(11) = 615.90
Prob > chi2 = 0.0000
Log likelihood = -121.76284 Pseudo R2 = 0.7166

aint Coef. Std. Err. z P>|z| [95% Conf. Interval]

front 1.607676 .5571453 2.89 0.004 .5156908 2.69966


metoo -.151934 .4304464 -0.35 0.724 -.9955934 .6917254
edu .921136 .5072109 1.82 0.069 -.0729791 1.915251
idh 19.00414 6.040493 3.15 0.002 7.164986 30.84329
pibcap .0163786 .0114006 1.44 0.151 -.0059662 .0387234
pop .0148897 .0016564 8.99 0.000 .0116432 .0181363
exp .0005081 .0002863 1.77 0.076 -.000053 .0010691
pt 1.526078 .443006 3.44 0.001 .6578017 2.394353
oposi .1221265 .4700267 0.26 0.795 -.799109 1.043362
sp 1.585457 .5214887 3.04 0.002 .5633575 2.607556
rs 1.708754 .5897236 2.90 0.004 .5529171 2.864591
_cons -22.84282 4.697343 -4.86 0.000 -32.04944 -13.6362

Note: 0 failures and 8 successes completely determined.


220

Comparando esses resultados aos scores da tabela 17, nota-se que houve realmente
uma melhoria da capacidade preditiva. Tanto a razão de verossimilhança (LR), quanto o
pseudo R-quadrado aumentaram. Isso significa que o modelo sem os casos atípicos se
encaixam melhor aos dados e por isso representam melhor a relação entre as variáveis
preditivas e a dependente, melhorando seu poder preditivo. Notem também, que houve
mudança nos coeficientes b (Coef.). Apesar desse ganho metodológico, a decisão de deixar os
casos supostamente atípicos foi mantida pelos argumentos expostos acima.

5.4 O método de inclusão

O método utilizado para a inclusão das variáveis foi o de entrada forçada ou direta
(force entry ou direct entry). Lembrando-se do capítulo anterior, o método tem repercussão
direta nos scores obtidos pelo modelo. No presente estudo, por testar uma teoria (a de
Soldatos), mesmo que ela não seja quantitativa, a entrada de todas as variáveis ao mesmo
tempo pareceu ser a mais adequada. Além disso, não existe na explicação conceitual que
serviu de inspiração para o desenho estatístico nenhuma noção de que algumas das
determinantes são mais importantes do que outras.
O que há na verdade, estudando caso a caso, é a ideia de que em algumas atividades
paradiplomáticas, algumas variáveis são mais importantes do que outras, por exemplo, no
caso do País Basco, descrito por Lecours (2007), em que a paradiplomacia é entendida como
fundamentalmente cultural-identitária. Retornando ao capítulo 3, ver-se-á uma série de
exemplos em que uma ou mais variáveis são ressaltadas para casos específicos, mas quando
vistos em conjunto não há uma ordem de determinantes da paradiplomacia.
Tanto para o modelo inicial, com todas as variáveis, quanto para os modelos de teste
de pressupostos e para o modelo logit final, faz-se uso dessa técnica de inclusão de dados.

5.5 O Logit

Já foram observados nesse capítulo alguns modelos de regressão logística rodados.


Eles variaram de acordo com os previsores e com os casos incluídos; no entanto, a explicação
detalhada de como uma regressão logística funciona e dispõe seus resultados não foi dada.
Pretende-se, nessa sessão, apresentar cada um dos scores produzidos (se necessário, voltem às
tabelas de regressão dispostas anteriormente depois dessa explicação para entender melhor as
interações presentes nela).
221

Apesar de identificar cada uma das siglas e repassar os valores encontrados, os


significados do que será apresentado deve estar claro a essa altura, já que se evidenciou no
capítulo anterior todo o referencial teórico-conceitual. As definições somente serão lembradas
quando forem necessárias para a explicação dos scores.
O modelo final, já respeitados os pressupostos e contornados os problemas, é
apresentado na tabela 17.

Tabela 17 – O modelo de regressão logística final

Iteration 0: log likelihood = -446.47008


Iteration 1: log likelihood = -323.37491
Iteration 2: log likelihood = -284.07193
Iteration 3: log likelihood = -195.95685
Iteration 4: log likelihood = -164.26767
Iteration 5: log likelihood = -163.39723
Iteration 6: log likelihood = -163.38205
Iteration 7: log likelihood = -163.38203
Iteration 8: log likelihood = -163.38203

Logistic regression Number of obs = 5463


LR chi2(11) = 566.18
Prob > chi2 = 0.0000
Log likelihood = -163.38203 Pseudo R2 = 0.6341

aint Coef. Std. Err. z P>|z| [95% Conf. Interval]

front 1.475912 .4692552 3.15 0.002 .556189 2.395635


metoo .0035438 .3684112 0.01 0.992 -.7185289 .7256166
edu 1.023902 .4440317 2.31 0.021 .1536158 1.894188
idh 13.32672 4.79124 2.78 0.005 3.936061 22.71738
pibcap .0087602 .0115876 0.76 0.450 -.0139511 .0314714
pop .0113529 .0012785 8.88 0.000 .008847 .0138588
exp .0003032 .0002859 1.06 0.289 -.0002572 .0008635
pt 1.389355 .4010039 3.46 0.001 .6034019 2.175308
oposi .3486496 .4061325 0.86 0.391 -.4473554 1.144655
sp 1.321575 .4472697 2.95 0.003 .4449425 2.198207
rs 1.374528 .5014879 2.74 0.006 .3916302 2.357427
_cons -17.48683 3.632154 -4.81 0.000 -24.60572 -10.36794

Note: 0 failures and 5 successes completely determined.

Começa-se pela parte superior da tabela. Nela, são disponibilizados os valores dos
logs de verossimilhança (log-likelihood) em cada interação. A primeira interação (a de
número 0) é o log de verossimilhança do modelo nulo ou vazio, ou seja, o modelo sem
nenhuma variável independente. Nas próximas interações, as variáveis vão sendo incluídas.
Em cada interação o valor do log vai aumentando, já que o objetivo do modelo é maximizá-lo.
Quando as diferenças entre as interações sucessivas é muito pequena (não há variação
significante), diz-se que o modelo convergiu, a interação é cessada e os resultados são
disponibilizados.
Abaixo das interações é disponibilizado o log-likelihood, ele é o valor do log do
modelo final (da última interação). Não há um sentido intrínseco nesse valor para se chegar a
qualquer conclusão, mas conforme visto no capítulo anterior, esse valor vai ajudar a estimar
outras informações importantes. Na verdade, foi apresentado também no capítulo 4 que o log-
222

likelihood é uma forma de medir quanta informação sem explicação existe após o modelo ter
sido encaixado. No presente caso, o valor é de -163,38203, mas sua informação isolada não
ajuda compreender a contribuição do modelo.
Na parte superior a direita da tabela é disponibilizado o número de observações, ou
seja, o tamanho da amostra após a exclusão dos missing values. Em outras palavras, nota-se
que o número de observações que, de fato, foi utilizado na análise (5463) é menor do que a
população inicial (5562, que a quantidade de municípios no Brasil).
Logo abaixo, a tabela mostra o valor do teste qui-quadrado de razão de
verossimilhança LR chi2(11). Esse valor pode ser calculado a mão, de acordo com a equação
apresentada no capítulo anterior ‡  bˆ77<?A?  77‰BH;Š (LL é o log-likelihood),
assim, tem-se 2 x (163,38203 – 446,47008) = 566,18. Esse valor mostra o quanto o modelo
melhorou desde o modelo básico, que é o modelo quando só a constante é considerada (sem
nenhuma VI). Pode-se dizer que há uma melhoria considerável no modelo a partir do
momento em que as variáveis preditivas são incluídas. Há, ainda, um número entre parênteses
ao lado do LR, que nada mais é que os graus de liberdade. No presente estudo, como há 11
VI, esse é o número dos graus de liberdade.
Seguindo com as informações na tabela, tem-se a probabilidade de obter o teste qui-
quadrado dado que a hipótese nula é verdadeira, Prob > chi2. Ou seja, a probabilidade de
obter o teste qui-quadrado (566,18) se, de fato, não existir efeito das variáveis independentes
(quando analisadas em conjunto), na variável dependente. Essa é a probabilidade de
significância (p-value) que é comparada a um valor crítico (critical value), que pode ser de
0,05 ou 0,01, para ver se o modelo como um todo é significante. No caso, o modelo é
estatisticamente significante porque o valor-p é de 0,0000 e, portanto, inferior aos valores
críticos. Em outras palavras, o modelo é significantemente melhor do que aquele que não
inclui as variáveis independentes.
O pseudo R-quadrado, Pseudo R2, é apresentado logo abaixo. Viu-se no capítulo
anterior que na regressão logística não há um coeficiente de determinação R² como na versão
linear, ou seja, um número que representasse o quanto da variação da variável dependente
seria atribuído às outras variáveis. Diante disso, alguns estatísticos tentaram apresentar
cálculos que poderiam substituir essa falta. Existe uma gama variada de pseudos R-quadrados
que variam muito em seus valores (no capítulo anterior foram apresentados os de Hosmer e
Lemeshow, Cox e Snell e de Nagelkerke). Para exemplificar essa instabilidade, pode-se citar
que para o modelo o R² de McKelvey e Zavoina foi de 0,746, já o de Cox e Snell, de 0,098.
Confiar nessa medida é extremamente delicado; assim, apesar de a tabela fornecer o valor de
223

0,634 (o STATA disponibiliza o R² de McFadden), que teoricamente pode ser considerado


um bom valor, deve-se ter cuidado com esse indicador.
A partir daí, tem-se as informações da própria tabela. Observam-se na primeira
coluna os nomes das variáveis. Logo em cima aparece aint, que é a variável dependente e nas
linhas subsequentes são listadas as variáveis independentes que foram utilizadas após a
retirada daquelas que desrespeitavam os pressupostos e culminavam em algum problema ao
modelo: front, metoo, edu, idh, pibcap, pop, exp, pt, oposi, sp e rs.
Na coluna ao lado são apresentados os coeficientes b, Coef., que são os valores para
a equação da regressão logística que preveem a variável dependente com base nas variáveis
independentes. Eles estão em unidades de logaritmos de chances (log-odds) e podem ser
representados na equação da seguinte forma

d
#'K w x ©1ªc3c« + 1ª©f2b 6 ¬­®¯° + a1aa«fª«c 6 ±²°®® + 1ab«2ab
d
6 ²³´ + «1«b3©b 6 µ³¶ + a1aac©3ab 6 ·µ¸¹º· + a1«fb2 6 ·®·
+ a1aaa«a«b 6 ²»· + 1«c2«ff 6 ·° + a1«ªc3ª23 6 ®·®¼µ + 1«bf©f
6 ¼· + 1«©ªfbc 6 ­¼

Em que p é a chance da presença de área internacional no município. Esses


coeficientes mostram a relação entre a variável dependente e as variáveis independentes, em
que a VD está num escala logarítmica. Os parâmetros representam a quantidade de aumento
nos logs de chance previstos de aint=1 que deve ser previsto pelo aumento em 1 unidade da
variável independente, mantendo todas as demais constantes. Nota-se que nessa equação
foram acrescentadas todas as variáveis, independentemente se são significantes. Após discutir
os outros dados da tabela, será fornecida uma equação definitiva.
Para entender melhor a equação podem-se explicar detalhadamente alguns casos. O
coeficiente de pop, por exemplo, é de aproximadamente 0,11, o que significa que para o
aumento de cada 1 unidade da população (na verdade, como a variável está em milhares de
pessoas, trata-se de um aumento de mil habitantes), espera-se que os logs de chances da
presença de área internacional aumente em 0,11. Da mesma forma pode-se analisar o
coeficiente de pt, que para cada mudança em 1 unidade da variável (no caso, trata-se de uma
variável dicotômica, então, se está falando da mudança de qualquer outro partido para o
Partido dos Trabalhadores) os logs de chance da presença de área internacional aumenta em
1,32. Essas conclusões não são de fácil entendimento e serão detalhadas novamente quando se
tratar da razão de chances.
224

Continua-se explicando a tabela pelas colunas seguintes a do coeficiente. Primeiro


são apresentados os erros padrão, Std. Err.. Já foi falado conceitualmente o que eles
significam. Do ponto de vista prático, esses são os erros padrão associados aos coeficientes.
Esse indicador é utilizado para testar se o parâmetro é significantemente diferente de 0,
porque dividindo o coeficiente estimado pelo erro tem-se o teste Wald (z), ao qual já se
referiu anteriormente. Os erros padrão também servem para estimar os intervalos de confiança
do parâmetro que são mostrados nas duas últimas colunas da tabela.
As colunas do teste Wald (z) e da probabilidade de confiança do teste Wald (P>|z|)
apresentam os valores usados para testar a hipótese nula de que o coeficiente é igual a 0.
Como se está usando o teste bicaudal (2-tailed), compara-se cada valor-p com o valor de α
pré-selecionado (no presente estudo, é o de 0,05)21; assim, os coeficientes com valores-p
iguais ou inferiores a 0,05 são estatisticamente significantes (é possível rejeitar a hipótese
nula e dizer que o coeficiente é significantemente diferente de 0).
Para o modelo, nota-se (na coluna P>|z|) que front, edu, idh, pop, pt, sp e rs
possuem p<0,05, que significa que se pode rejeitar a hipótese nula de que seus coeficientes
são 0. Em outras palavras, as variáveis e seus coeficientes são estatisticamente significantes.
As variáveis metoo, pibcap, exp e oposi, pelo contrário, não conseguem (a um nível de 95%)
rejeitar a hipótese nula de que seu coeficiente seja 0. Ou seja, seus coeficientes não são
estatisticamente significantes e por isso não contribuem para aumentar a capacidade preditiva
do modelo.
A equação apresentada anteriormente é simplificada da seguinte forma:

d
#'K w x ©1ªc3c« + 1ª©f2b 6 ¬­®¯° + 1ab«2ab 6 ²³´ + «1«b3©b 6 µ³¶
d
+ a1«fb2 6 ·®· + 1«c2«ff 6 ·° + 1«bf©f 6 ¼· + 1«©ªfbc 6 ­¼

A tabela apresenta também o intervalo de confiança a 95% para o coeficiente. Ele é


muito útil, porque ajuda a entender quão alto ou baixo o valor real da população do parâmetro
pode estar. O intervalo de confiança está relacionado com os valores-p e por isso os valores
não serão estatisticamente significantes se o intervalo incluir o 0.
Conforme já enunciado, pelo fato de os resultados serem disponibilizados em
unidades de logs, fica muito difícil interpretar o que realmente representam (o que significa,
afinal, um aumento nas unidades de log das chances da presença de área internacional?).

21
Se fosse utilizado um teste unicaudal, ou seja, se o pressuposto fosse que a relação entre as variáveis são
direcionais, dever-se-ia dividir o valor-p por dois, e aí comparar ao valor alfa.
225

Diante desse problema, apresentam-se os scores em razão de chances (odds ratio), que facilita
a compreensão (já que não requerem transformação logarítmica).

Tabela 18 – O modelo de regressão logística final em razão de chances (odds ratio)

aint Odds Ratio Std. Err. z P>|z| [95% Conf. Interval]

front 4.375025 2.053003 3.15 0.002 1.744013 10.97517


metoo 1.00355 .3697191 0.01 0.992 .4874689 2.066005
edu 2.784037 1.236201 2.31 0.021 1.166043 6.647149
idh 613366.8 2938788 2.78 0.005 51.21647 7.35e+09
pibcap 1.008799 .0116895 0.76 0.450 .9861458 1.031972
pop 1.011418 .0012931 8.88 0.000 1.008886 1.013955
exp 1.000303 .000286 1.06 0.289 .9997429 1.000864
pt 4.012262 1.608933 3.46 0.001 1.828328 8.804899
oposi 1.417153 .5755516 0.86 0.391 .6393167 3.141356
sp 3.749321 1.676958 2.95 0.003 1.5604 9.008849
rs 3.953212 1.982488 2.74 0.006 1.479391 10.56373

Note: 0 failures and 5 successes completely determined.

As demais informações foram omitidas, porque são as mesmas da tabela anterior.


Ademais, nota-se que o valor z e P>|z| também permanecem inalterados (isso é óbvio porque
os demais valores só foram convertidos, mas são os mesmos). Mostrou-se anteriormente o que
é e como é calculada a razão de chances. Ela pode ser interpretada como o fator de mudança
nas chances do resultado ser 1 se comparado às chances de ser 0 para a mudança de uma
unidade na variável independente. Em outras palavras, elas fornecem qual o aumento ou
diminuição de chance de um município ter uma área internacional quando uma das variáveis
de predição aumenta em uma unidade, mantidas as demais constantes. Será analisada cada
variável com coeficiente significante para entender os resultados.
De acordo com a tabela 18, a variável front, apresenta a razão de chances de 4,37, ou
seja, a mudança em uma unidade nessa variável (no caso, a mudança de não pertencer para
pertencer à Faixa de Fronteira) aumenta em 4,37 vezes a chance de aint=1. Isso quer dizer que
os municípios que se localizam na Faixa de Fronteira tem 4,37 mais chances de possuir uma
área internacional do que um município que não está na Faixa de Fronteira, levando em
consideração obviamente que todas as outras variáveis estão constantes.
Sobre a variável edu, infere-se que sua mudança em uma unidade representa um
aumento de chances de aint = 1 de 2,78. Assim, aqueles municípios que possuem pelo menos
uma instituição de ensino superior têm 2,78 mais chances de possuir uma área internacional
na administração pública local do que os municípios que não possuem qualquer instituição.
Outra forma de entender isso é dizendo que o município que ainda não conta com uma
instituição de ensino superior, a partir do momento que a possui, aumenta suas chances de ter
uma área internacional em 2,78. Isso se as outras variáveis forem mantidas constantes.
O IDH municipal, idh, tem interpretação distinta, porque ao mesmo tempo é uma
variável contínua e tem valores que variam entre 0 e 1. Não faz sentido falarmos da mudança
226

em uma unidade de IDH, porque na prática não existem valores 0 e nem 1, e, muito menos,
casos em que seja interessante entender um aumento dessa magnitude. Com a razão de
chances de 613366,8, poder-se-ia pensar que em uma situação hipotética mínima de idh=0
para a máxima idh=1, as chances de possuir área internacional, mantidas as demais variáveis
constantes, aumentam impressionantes 6133.336,8 vezes. Foram refeitos os cálculos para
aumentos de magnitude menor, chegando ao valor de um aumento de chances de 1,013 de
possuir área internacional para cada aumento de 0,001 unidade no IDH-M.
Quanto à variável pop, pode-se dizer que cada 1 unidade a mais, as chances de
possuir área internacional aumentam em 1,011. Esse número parece pequeno, mas se está
trabalhando a população em uma escala de milhares de habitantes, então é possível pensar que
para mil habitantes a mais, as chances aumentam em 1,011. Mil habitantes a mais pode não
ter um impacto importante em um município, mas quando se trata de 10, 100, 200 ou 500 mil
habitantes, tem-se uma noção melhor do impacto da população na presença ou não de áreas
internacionais. A título de exemplo, rodada a nova hipótese, conclui-se que um aumento de
100 mil habitantes em um município aumenta as chances dele possuir área internacional em
3,21. Uma mudança bem mais representativa.
A variável pt apresentou um odds ratio de 4. Em outras palavras, os municípios
governados pelo Partido dos Trabalhadores possuem 4 vezes mais chances de possuir uma
área internacional do que os municípios governados por outros partidos. Esse resultado pode
ser interpretado também pela noção de que quando o prefeito, hipoteticamente, muda de seu
partido para o PT, as chances de possuir área internacional, mantidas as outras variáveis
constantes, aumentam em quatro vezes.
Outra variável significante para o modelo foi o fato de o município ser paulista, sp. A
razão de chances foi 3,75, o que significa que, mantidas as demais variáveis constantes, o fato
de o município pertencer ao estado de São Paulo aumenta suas chances de possuir área
internacional em 3,75 vezes, se comparados aos municípios do restante do país.
Por fim, a tabela apresenta os valores de rs em razão de chances. De acordo com os
valores levantados, os municípios gaúchos possuem 3,95 vezes mais chances do que os
municípios do restante da Federação de contarem com a presença de áreas internacionais em
seus governos locais, mantidas as demais variáveis constantes.
Forma distinta de entender os resultados do logit é por meio de probabilidades.
Existem rotinas específicas no STATA que fornecem dados envolvendo probabilidades. Elas
são ainda mais simples de entender do que a ideia de chances, que podem ser, muitas vezes,
confusas. Se os valores de coeficientes na equação são rearranjados para obter valores
percentuais tem-se a seguinte equação.
227


yB8<: 
+ ! 441
½1
6¬­®¯°1 6²³´1½6µ³¶ 1
6·®·16·°16¼·16­¼

Sumarizando os resultados das médias, chega-se à descrição da tabulação abaixo.

Variable Obs Mean Std. Dev. Min Max

pprob 5463 .0159253 .0928063 .000016 1

Nela, é possível ver que a média das probabilidades previstas é de 1,6% (bem baixa)
já que a maioria dos casos é de fato de não eventos (se está trabalhando com eventos raros
afinal) a probabilidade mínima é 0,0016% e a máxima é de 100% (ou seja, previsão perfeita
do resultado).
Pode-se plotar os resultados das probabilidades num gráfico de densidade e ter uma
noção visual de quantas vezes cada resultado é previsto.

Figura 14 – Gráfico: Probabilidade de presença de áreas internacionais


40
30
Density
2010
0

0 .2 .4 .6 .8 1
Pr(aint)

A primeira conclusão é a mais óbvia. O modelo prevê muito mais casos de aint=0 do
que aint=1, ou seja, a probabilidade de encontrar áreas internacionais é muitíssimo menor do
que a de não encontrar. Se esse gráfico fosse muito distinto ao das observações de fato, poder-
228

se-ia ter problemas, mas se sabe que a presença de áreas internacionais são eventos raros e as
probabilidades seguem essa lógica.
Existe um aplicativo no STATA que lista as probabilidades de predição do evento
Y=1, ou seja, presença de área internacional, que facilita a compreensão dos resultados.
Muitas vezes a ideia de chances (odds) não é muito clara ou intuitiva. Considerando a
probabilidade, notam-se os mesmos outlies apresentados anteriormente, agora com uma
medida mais exata sobre a probabilidade de acerto e de erro da classificação dos grupos. Na
tabela 19, foram disponibilizados os cinco casos mais mal classificados em 0 e os cinco casos
mais mal classificados em 1.

Tabela 19 – Outliers e probabilidades

: 0 (não)

Prob munic aint pprob

.0157546 Duque de Caxias/RJ não .9842454


.1599278 Jaboatão dos Guararapes/PE não .8400722
.0620483 Contagem/MG não .9379517
.0310604 Sorocaba/SP não .9689396
.0867665 Niterói/RJ não .9132335

: 1 (sim)

Prob munic aint pprob

.0058103 Ipuã/SP sim .0058103


.0125539 Nova Prata/RS sim .0125539
.0134476 São Francisco de Paula/RS sim .0134476
.0015251 Paranhos/MS sim .0015251
.0018213 Coronel Sapucaia/MS sim .0018213

Os primeiros cinco casos mostram municípios que não possuem área internacional,
mas que o modelo previu que apresentavam estruturas. O caso mais extremo é o de Duque de
Caxias, no Rio de Janeiro, que tem a probabilidade de 98,42% de apresentar uma área
internacional e não a possui. Seguem ainda nessa lista Sorocaba/SP (96,9%), Contagem/MG
(93,8%), Niterói/RJ (91,3%) e Jaboatão dos Guararapes (84%). Pensando nas hipóteses nulas
apresentadas no capítulo 3, poder-se-ia vislumbrar alguns motivos para esses governos locais
não possuírem áreas internacionais. As defendidas pelo estudo são a questão temporal, ou
seja, a resposta para a criação da área internacional não acontece imediatamente no momento
em que as determinantes se fazem presente, e o sistema de crenças do prefeito, que por uma
série de motivos, pode ser radicalmente contra um tipo de aparato na administração pública
como esse.
Os cinco últimos casos refletem justamente o oposto. São casos em que uma área
internacional está presente, mas a probabilidade de estarem no outro grupo é muito grande. Os
229

casos extremos são os de Paranhos e Coronel Sapucaia, ambos no Mato Grosso do Sul e com
a probabilidade somente de 0,15% e 0,18%, respectivamente, de possuírem área internacional.
Além desses, Ipuã/SP (0,5%), Nova Prata/RS (1,2%) e São Francisco de Paula/RS (1,3%)
completam a lista. Esses casos também podem ser fruto da hipótese conceitual nula, mas no
sentido inverso. Talvez, novamente, o sistema de crenças ou a personalidade do prefeito tenha
feito com que as administrações locais incorporassem uma burocracia específica para tratar
dos assuntos internacionais.
Mesmo que se tenha apontado uma possível explicação para esses outliers (que por
não ser foco desse estudo, é superficial), seria interessante estudar mais afundo essas cidades.
Por meio de pesquisas qualitativas, levantam-se informações preciosas desses casos.
Informações essas que complementariam a noção de determinantes locais da paradiplomacia
no Brasil desenvolvida neste estudo.
O que se faz para resolver, mesmo que minimamente, esse problema é dispor as
informações descritivas dos casos atípicos.

Tabela 20 – Observações mal classificadas

aint munic front metoo edu idh pibcap pop exp pt oposi sp rs

não Duque de Caxias/RJ não sim sim .753 21.72234 864.392 1832.0658 não não não não
não Jaboatão dos Guararapes/PE não sim sim .777 6.34755 678.346 21.429288 não não não não
não Contagem/MG não sim sim .789 16.08031 617.749 385.66765 sim não não não
não Sorocaba/SP não sim sim .828 16.25363 576.312 1681.1574 não sim sim não
não Niterói/RJ não sim sim .886 14.52323 477.912 209.17591 sim não não não

aint munic front metoo edu idh pibcap pop exp pt oposi sp rs

sim Ipuã/SP não não não .78 11.48337 15.522 8.760863 não sim sim não
sim Nova Prata/RS não não não .839 31.37387 23.721 72.403669 não não não sim
sim São Francisco de Paula/RS não sim não .757 9.46614 22.262 0 sim não não sim
sim Paranhos/MS sim sim não .676 4.09397 11.437 0 não sim não não
sim Coronel Sapucaia/MS sim sim não .713 4.04051 14.416 0 não não não não

Algumas informações desses casos podem ser extraídas, por exemplo, na população,
em que todos os municípios que deveriam possuir área internacional e não possuem são
cidades grandes e o contrário também é verdadeiro. A questão da presença de instituição de
ensino superior também parece relevante, já que os que têm área internacional, mas com
pouca probabilidade, não as possuem, enquanto que todas as sem área internacional listadas as
possuem. Na verdade, é o conjunto de valores que caracteriza essa má-classificação do
modelo, mas é interessante notar, de forma simplificada é verdade, quais poderiam ser os
motivos.
230

Analisou-se até o momento a apresentação exaustiva do logit e dos seus resultados.


Alguém poderia perguntar a essa altura por que se perdeu tanto tempo com uma metodologia
que nem é o foco da dissertação.
Essa questão é importante e envolve três respostas básicas, que são relacionadas
entre si: primeiramente, o logit e o relogit compartilham os mesmos pressupostos e
problemas, portanto, ao verificar os dados para o logit, automaticamente se está melhorando o
modelo do relogit; em segundo lugar, o relogit é uma correção dos estimadores do logit, nesse
sentido, saber como o logit funciona e quais os seus coeficientes é fundamental para entender
o quanto as correções para o logit são importantes ou até necessárias; por fim, caso se chegue
à conclusão de que as correções do logit não são relevantes para estimar os eventos raros,
todas as informações apresentadas até aqui podem ser consideradas suficientes e replicadas
para futuras conclusões.
Sobre o último ponto, pode-se deixar mais claro o que envolve o processo de escolha
entre o logit e o relogit. Como os próprios criadores do modelo afirmam, quando o relogit faz
diferença, ele melhora os estimadores, e quando não faz, ele mantém os valores do logit, nesse
sentido, vale a pena testar sua utilidade porque geralmente ele envolve os mesmos
procedimentos do logit e, quando rodado no STATA, eles são praticamente a mesma coisa
(KING;ZENG, 2001a, 2001b).
A escolha envolve duas noções, a primeira, quando os coeficientes mudam
significativamente e a segunda, se não, quando se deve mudar de modelo. Enquanto que
aquela independe da opção do pesquisador, ou seja, se o modelo se diferencia de forma
contundente, então cabe a ele, quase que obrigatoriamente, aplicar o relogit; esta depende do
que o investigador entende por diferença relevante, e aí ele pode optar discricionariamente
pelo logit ou relogit. Os próprios autores não defendem qual seria essa diferença relevante,
mas o bom senso é a arma do pesquisador responsável.
O que se busca inferir com essa discussão é que aqueles que, diferentemente desta
pesquisa, acharem, baseados nos scores, desnecessária a aplicação da regressão logística dos
eventos raros para o caso da paradiplomacia, podem utilizar os dados que foram levantados
até o momento. Eles não podem ser considerados resultados errados ou incorretos, apenas um
pouco menos acurados (e deve-se avisar desde já que a diferença é mínima entre os modelos).
A opção desta pesquisa foi pelo relogit a fim de maximizar todo e qualquer nível de
acurácia possível pela estatística. Foi feito dessa forma com a seleção dos casos, com as
variáveis e com os pressupostos, e assim manteve-se com relação aos resultados. Como
qualquer tipo de opção, existem custos e benefícios. Quem decidir aceitar os valores do logit
terá mais recursos disponíveis (a popularidade do modelo fez com que muitos metodologistas
231

criassem programas de melhoria de apresentação de resultados, como se pôde observar na


sessão anterior), mas ao custo de perda de acurácia (que pode ser grande ou pequena). Os que
optarem pelo relogit terão coeficientes mais robustos e confiáveis, mas menos recursos para
expressá-los.
Na verdade, optando-se pelo relogit foi possível mostrar os dois modelos e seus
resultados. Pôde-se rodar tanto o logit quanto o relogit para o problema de pesquisa e fornecer
respostas distintas para a mesma pergunta (elas na verdade, são mais parecidas do que se
poderia imaginar, apesar de as técnicas não serem as mesmas). Até aqui, mostrou-se a
regressão logística tradicional, a sessão seguinte apresenta a técnica dos eventos raros.

5.6 Relogit: corrigindo os coeficientes para os eventos raros

Já foi dito mais de uma vez ao longo desta dissertação que o relogit não é um modelo
específico de análise de máxima verossimilhança e sim um corretor do enviesamento de
coeficientes quando os eventos são raros ou a amostra é pequena. Sendo assim, ele não
apresenta nem os resultados da razão de verossimilhança (likelihood ratio), nem o pseudo R-
quadrado. Se fossem comparados os valores do LR e do hipotético R-quadrado do logit e do
relogit, provavelmente haveria um melhor fit no primeiro, o problema é que essa medida de
encaixe é baseada em coeficientes (muito ou pouco) enviesados.
Rodou-se o relogit da mesma forma que o logit, com as mesmas variáveis e as
mesmas observações. Além disso, como não foi feita seleção da amostra dos não-eventos com
base nos eventos, ou seja, trabalhou-se com a totalidade dos municípios brasileiros, não foi
necessária a utilização dos recursos de correção para a amostra disponíveis pelo relogit
(weighting e prior correction). A correção da amostra (com o valor da proporção que o evento
possui na realidade, ¾) não teria, inclusive, efeito algum, porque já se sabe que a proporção de
presença de área internacional entre os municípios brasileiros é a própria quantia com a qual
se está trabalhando (87 em 5562, ou 1,564%, que é o proprio¾). Em outras palavras, a
“amostra” não precisa ser corrigida porque está sendo utilizada no estudo a população.
Não alterar a amostra não quer dizer que os coeficientes não devem ser corrigidos. O
relogit trabalha com essas duas operações de forma independente, porque, de fato, elas são
distintas. No capítulo 4, há informações complementares para entender esses dois processos.
O output para a rodagem do relogit é semelhante ao do logit, mas com algumas pequenas
diferenças. A tabela 21 apresenta os scores dos coeficientes corrigidos ao invés dos
232

coeficientes e os erros-padrão robustos em vez dos erros padrões, mas as outras informações
são as mesmas (os tipos, não os valores).

Tabela 21 – Regressão Logística para os Eventos Raros (relogit)

Corrected logit estimates Number of obs = 5463

Robust
aint Coef. Std. Err. z P>|z| [95% Conf. Interval]

front 1.437355 .5222645 2.75 0.006 .4137352 2.460975


metoo .0176071 .4004332 0.04 0.965 -.7672275 .8024417
edu .9989067 .4582551 2.18 0.029 .1007432 1.89707
idh 12.31824 4.910132 2.51 0.012 2.694554 21.94192
pibcap .0141124 .0083763 1.68 0.092 -.0023048 .0305296
pop .0109148 .0015002 7.28 0.000 .0079745 .0138551
exp .0002962 .0003106 0.95 0.340 -.0003127 .000905
pt 1.364146 .4031041 3.38 0.001 .5740769 2.154216
oposi .3493438 .4296933 0.81 0.416 -.4928395 1.191527
sp 1.246133 .4198807 2.97 0.003 .4231823 2.069084
rs 1.335207 .5048227 2.64 0.008 .345773 2.324642
_cons -16.53409 3.685771 -4.49 0.000 -23.75806 -9.310109

A princípio, a tabela parece a mesma da do logit. As funções dos valores são as


mesmas nas equações e as variáveis que não eram significantes continuam dessa forma, mas
podem-se comparar as diferenças dos coeficientes. Os valores em cada um dos modelos se
encontram na tabela 22.

Tabela 22 – Comparação entre os coeficientes do logit e do relogit


b logit b relogit
front 1.475912 1.437355
edu 1.023902 .9989067
idh 13.32672 12.31824
pop .0113529 .0109148
pt 1.389355 1.364146
sp 1.321575 1.246133
rs 1.374528 1.335207
const -17.48683 -16.53409

Como dito anteriormente, as diferenças entre os coeficientes são, aparentemente,


pequenas, mas elas estão presentes em todas as variáveis. Em alguns casos, os coeficientes do
relogit subestimam os coeficientes do logit, em outros ocorre o contrário. Quando observados
apenas os coeficientes não se tem a noção exata da magnitude da relação entre as VI e a VD.
Isso fica ainda mais difícil na comparação, porque o relogit não fornece a informação sobre a
regressão em razão de chances. Essa metodologia trabalha com outro tipo de mensuração, a
de riscos relativos (relative risks), também conhecida como razão de riscos (risks ratio, RR).
233

5.6.1 Entendendo os riscos

Conforme elucidado no capítulo 4, o relogit trabalha com uma lógica de case control
studies (muito comum em estudos epidemiológicos) e choice-based sampling (mais comum
na econometria) em que, pelo fato dos eventos serem raros (por exemplo, a incidência de
doenças na população), as amostras são selecionadas tendo as variáveis dependentes como
referência. Em outras palavras, todos os casos raros disponíveis são incluídos no estudo e, a
partir daí, os casos de não eventos são coletados de forma aleatória para complementar a
amostra na proporção desejada pelo pesquisador [pode ser de 1:1, em que as observações de
eventos e não eventos são as mesmas, mas King e Zeng (2001a, 2001b) sugerem uma
proporção de 1:2 até 1:5]. Esse problema foi discutido no capítulo anterior. Como as situações
são análogas para a epidemiologia e os eventos raros nas Relações Internacionais, a forma de
trabalhar os dados é semelhante (as técnicas empregadas podem ser as mesmas).
Para alguns estatísticos, dispor os resultados em razão de riscos é mais intuitivo do
que trabalhar com odds ratio (OR) (apesar dos case control studies trabalharem com OR), já
que a noção de probabilidade é mais simples do que a de chances. Talvez isso não esteja
muito claro, mas pode-se basear essa afirmação em um exemplo simples presente em Simon
(2001). Suponha que no Titanic havia 462 passageiras mulheres, das quais 308 sobreviveram
e 154 morreram. Havia também 851 passageiros homens, sendo que 142 sobreviveram e 709
morreram. A tabela 23 sintetiza essas informações.

Tabela 23 – Exemplo das diferenças entre OR e RR (gênero x sobrevivência)

Alive Dead Total


Female 308 154 462
Male 142 709 851
Total 450 863 1,313
Fonte: Simon (2001)

Pelos dados, fica claro que um passageiro homem do Titanic tinha uma probabilidade
maior de morrer; interessa saber, entretanto, quão mais provável. Calculam-se a razão de
chances e a razão de riscos para responder essa questão. A razão de chances compara as
chances relativas de morte em cada grupo. Para as mulheres, as chances eram exatamente de 2


para 1 de sobreviver  ½ a1f . Para os homens, as chances eram de quase 5 para 1 de


 
1
morrer  ª122« . A razão de chances, nesse caso, é de 9,986  . Existem, assim,

 1

quase 10 vezes mais chances de morte para homens do que para mulheres.
234

Da mesma forma, analisa-se essa situação pela ótica dos riscos relativos ou razão de
riscos. Ela compara a probabilidade de morte em cada grupo ao invés das chances. Para


mulheres, a probabilidade de morte é de 33%  a1««« . Para homens, a probabilidade é



¿
  1½
de 83% ½ a1c«« . O risco relativo de morte é de 2,5  1 . Existe 2,5 mais

probabilidade de morte de homens do que para mulheres.


Quando se diz que essas noções são distintas é porque também trazem resultados
bastante discrepantes. Ambas as medidas mostram que os homens eram mais prováveis de
morrer, mas as conclusões ou formas de representar destoam (falar em dez vezes mais
chances de homens morrerem no Titanic é bem diferente de dizer que a probabilidade deles
morrerem é duas vezes e meio maior). Por isso, geralmente quando as pessoas pensam em
probabilidade, elas têm em mente a ideia de riscos e não de chances.
Quando, por exemplo, há dois grupos, um com uma mortalidade de 25% e outro com
50%, as pessoas tendem a pensar que o segundo grupo está duas vezes pior que o primeiro,
mas a razão de chances é de 3 (a razão de riscos que é 2). Outros exemplos são possíveis: o
aumento da probabilidade de 25% para 75% pode ser visto como um aumento em 3 vezes
(que é a própria razão de riscos), mas na verdade a razão de chances é de 9.
Apesar de ser importante diferenciar os risks ratio dos odds ratio, já que os
resultados do modelo relogit são disponibilizados daquela forma, quando os riscos de um
evento acontecer são menores do que 10%, os valores da razão de chance e de risco são
praticamente os mesmos (PRASAD et al, 2007). Até por esse motivo, acredita-se que os
criadores do método não se preocuparam em fornecer os dados em razão de chances (o que
seria mais lógico, já que o logit é a base do relogit).
Para comprovar essa afirmação, montou-se um exemplo com os dados do próprio
estudo. Disponibiliza-se o que seriam os cálculos das razões de chance e de risco caso se
estivesse interessado apenas nas probabilidades e não nos resultados do logit e do relogit (os
números encontrados nesse exemplo, portanto, não são os mesmos das tabelas dos modelos,
que envolvem uma série de interação entre as variáveis). Pretende-se mostrar como a
diferença dos valores é mínima quando os eventos são raros. A tabela 24 mostra a tabulação
entre a presença de áreas internacionais e o pertencimento à Faixa de Fronteira.

Tabela 24 – Exemplo da semelhança entre OR e RR em eventos raros (front x aint)

Não Área
Área Internacional Total
Internacional
Fronteira 12 570 582
Não Fronteira 75 4905 4980
235

Total 87 5475 5562

Fazendo o mesmo processo do exemplo anterior, chega-se aos resultados da


probabilidade de os municípios possuírem área internacional e, ao mesmo tempo, estarem
{|
localizados na fronteira. Primeiramente, em razão de chances, tem-se que ÀÁ ÂÃz
ÃÂ
ÄÅzÂ
{|
1  ¿ 1  ¿½¿
1  
1«©3. Calculando a razão de riscos, tem-se ÁÁ {|ÆÂÃz
ÃÂ 1  ¿ 

ÃÂÆÄÅzÂ

1«32. A diferença entre os valores é de apenas 0,007! E é irrisória do ponto de vista


estatístico. Identifica-se que isso acontece particularmente para os eventos raros, porque
quando se somam os valores dos casos de presença internacional nos denominadores da
fração de cima e de baixo na RR (12 e 75), o valor é tão pequeno se comparado com a não
presença que não há influência relevante nem na soma nem na consequente divisão [reparem
que o valor de 570 da OR é bem próximo de 582 (12+570) e 4905 da OR é bem próximo de
4980 (75+4905), proximidade que se dilui ainda mais após a divisão].
Isso significa que quando os eventos são raros podem-se considerar a razão de
chances e a razão de riscos de forma similar. Essa conclusão é importante, porque o relogit só
disponibiliza a segunda forma de mensuração e, além disso, conforme visto, a interpretação é
mais intuitiva quando se faz uso dos riscos relativos. A comparação de OR com RR é possível
de ser feita porque têm praticamente os mesmos valores.
O relogit tem uma rotina simples para descobrir a RR. Além disso, ele possibilita
análises mais específicas com a RR do que é possível com a OR no logit; no entanto, para as
variáveis categóricas a apresentação dos resultados é parecida. Como o relogit não fornece
tabela sobre a razão de riscos, repassa-se cada um dos dados de acordo com as variáveis
independentes. A primeira é a da presença de áreas internacionais pelo fato de o município
pertencer à Faixa de Fronteira.

Relative Risk 1: front 0 1


rr(aint==1) = 4.20301
95% Confidence Interval = 1.42482 to 11.748075

A probabilidade de um município de fronteira possuir área internacional é 4,2 maior


do que a de um município que não se localiza na faixa, mantidas todas as outras variáveis
constantes. Pode-se dizer, portanto, que a probabilidade de encontrar área internacional em
um município de fronteira é 320% maior do que encontrar em outro que não seja de fronteira
quando as outras variáveis estão inalteradas.
236

Quanto à educação, saindo da situação 0 (não existe instituição de ensino superior)


para 1 (existe instituição de ensino superior) a probabilidade da presença de área internacional
aumenta em 2,7 vezes. Isso é a mesma coisa que dizer que, mantidas constantes as demais
variáveis, a criação de uma universidade, faculdade ou escola superior em um município,
aumenta a probabilidade de atuação paradiplomática em 170%.

Relative Risk 1: edu 0 1


rr(aint==1) = 2.69801
95% Confidence Interval = 1.11864 to 6.6060395

Quando analisado o fator partido, observa-se também uma relação positiva. O fato de
um município ser governado pelo Partido dos Trabalhadores aumenta a probabilidade de
possuir área internacional em 3,89 vezes, ceteris paribus. Ou seja, a eventual migração de um
prefeito de outro partido qualquer para o PT, aumentaria a probabilidade de ter estrutura
paradiplomática em 289%, isso, obviamente, sem considerar mudanças nas demais variáveis
independentes.

Relative Risk 1: pt 0 1
rr(aint==1) = 3.89164
95% Confidence Interval = 1.74636 to 8.8917689

O fato de o município ser paulista também é importante para prever a presença de


áreas internacionais nos municípios brasileiros. De acordo com a regressão logística para
eventos raros, a probabilidade de um município do estado de São Paulo possuir área
internacional é 3,49 maior do que os outros municípios da federação, mantidas as demais
variáveis constantes.

Relative Risk 1: sp 0 1
rr(aint==1) = 3.49217
95% Confidence Interval = 1.51086 to 7.7567849

Quanto ao município pertencer ao Rio Grande do sul, observa-se que os governos


locais gaúchos possuem 3,69 vezes mais probabilidade de contar com uma área internacional
do que os municípios brasileiros restantes. Quando consideradas as prefeituras gaúchas para a
presença de áreas internacionais, há um aumento de 269% de probabilidade de encontrar alí
estrutura paradiplomática, se comparado ao resto do país e mantidas as demais variáveis
constantes.
237

Relative Risk 1: rs 0 1
rr(aint==1) = 3.68701
95% Confidence Interval = 1.46292 to 10.623428

As variáveis contínuas podem fornecer alguns resultados mais interessantes do que


as categóricas, porque o relogit permite que se trace cenários distintos para a mudança da
variável indepedente. Os riscos relativos e que podem ser comparados à OR, ou seja, a
variação em uma unidade da variável independente sobre o efeito da variável dependente, faz
pouco sentido para os cados de IDH-municipal. Primeiro porque, conforme dito, não existe
situação real em que essa hipótese seja possível. Não existem no Brasil, e também no mundo,
muinicíos que tenham o IDH de 0 ou 1. Em segundo lugar, mesmo que esses valores fossem
possíveis, dificilmente haveria um caso de tranformação dessa magnitude.
O valor foi calculado mesmo assim e entre as comparações de odds ratio e risks
ratio, foi a única variável que teve uma diferença considerável (a tabela 23 apresenta os
valores comparados de OR e RR).

Relative Risk 1: idh 0 1


rr(aint==1) = 3.2e+05
95% Confidence Interval = 25.25545 to 1.891e+09

Conclui-se que na hipótese de um município ir de um IDH 0 a 1, o aumento da


probabilidade da presença da área internacional seria de 3,2e+05 «1b 6 a «baaaa, ou
impressionantes 32000000%. Esse valor é altíssimo, porque a escala do IDH está em 0,001
unidade e, conforme apresentado, essa mudança de IDH em termos reais é impossível. Seria
mais interessante saber quanto varia a probabilidade quando a mudança é de 0,1, de 0,01 ou
de 0,001.

Relative Risk 1: idh 0 0.1


rr(aint==1) = 3.40282
95% Confidence Interval = 1.31775 to 9.0233798

Relative Risk 1: idh 0 0.01


rr(aint==1) = 1.13354
95% Confidence Interval = 1.02558 to 1.2516522

Relative Risk 1: idh 0 0.001


rr(aint==1) = 1.01248
95% Confidence Interval = 1.00233 to 1.0213164

Sem necessidade de mexer nos dados, é possível calcular diferentes cenários para o
IDH municipal (e nesses valores eles se aproximam da razão de chances). No primeiro,
observa-se que o aumento em 0,1 unidade de IDH aumenta a probabilidade de encontrar área
internacional em 3,4, mantidas as demais variáveis constantes. Além disso, conclui-se que há
238

um aumento de 240% de probabilidade de se encontrar áreas internacionais nos municípios


que melhorarem suas condições sociais calculadas por esse índice, em 0,1, ceteris paribus. Do
mesmo modo, há um aumento de probabilidade de 1,1335 (13,35%) e 1,0124 (1,24%) de
presença de áreas internacionais para municípios que aumentem seu IDH, respectivamente,
em 0,01 e 0,001.
Forma distinta de analisar o aumento de probabilides de presença de áreas
internacionais com relação ao IDH é, ao invés dos aumentos decimais fossem vislumbrados
cenários possíveis, como o do IDH municipal mínimo ao máximo, do mínimo para a média e
da média para o máximo.

Relative Risk 1: idh min max


rr(aint==1) = 2.2e+02
95% Confidence Interval = 3.35992 to 16312.512

Relative Risk 1: idh min mean


rr(aint==1) = 16.96298
95% Confidence Interval = 1.73450 to 148.79248

Relative Risk 1: idh mean max


rr(aint==1) = 13.39232
95% Confidence Interval = 1.63532 to 103.06479

Quando analisada a probabilidade do IDH municipal ir do valor mínimo encontrado


no Brasil, de Manari/PE (0,467), ao do máximo, em São Caetano do Sul/SP (0,919), percebe-
se que, mantidas as demais variáveis constantes, há um aumento de 2,2e+02, ou seja, é 2200
vezes mais provável a presença de área internacional. Se fossem imaginadas situações menos
extremas, como a do município com o IDH mínimo aumentando sua condição sócio-
econômica à média da população, observa-se uma probabilidade 16,96 vezes maior de
encontrar área internacional, mantidas as demais variáveis contantes.
Os dados mostram ainda a probabilidade de encontrar área internacional de um
município que aumenta o valor do seu IDH da média das cidades brasileiras para a o IDH
máximo. Nessa situação e mantido todo o resto inalterado, a probabilidade da presença de
áreas internacionais aumenta em 1239%.
Desenharam-se também alguns cenários similares para a variável população. Do
ponto de vista do aumento em unidades de população, chega-se aos seguintes scores.

Relative Risk 1: pop 0 1


rr(aint==1) = 1.01089
95% Confidence Interval = 1.00774 to 1.0139124
239

Relative Risk 1: pop 0 10


rr(aint==1) = 1.11519
95% Confidence Interval = 1.08374 to 1.1496795

Para o aumento de cada unidade de população (mil habitantes) pode-se ver a


probabilidade de presença de área internacional de 1,01 vez, ou seja, 1%. Em outras palavras,
cada município que aumentar em mil habitantes a sua população é 1% mais provável de
possuir área internacional. Isso parece pouco, mas mil habitantes tampouco é uma quantidade
grande de pessoas. Se fosse aumentado esse valor de 1 para 10 unidades de população (10 mil
habitantes), ver-se-ia um aumento de probabilidade de 1,115 da presença de área
internacional, mantidas as demais variáveis constantes. Isso significa que se uma cidade
lograr aumentar sua população em 10 mil habitantes, a probabilidade de possuir área
internacional aumente em 11,5%.
Assim como com o IDH, projetam-se situações reais de mudança de população, que
por sua vez influenciam na probabilidade de encontrarmos áreas internacionais, já que essa é
uma variável preditiva significante para o modelo. Imaginando que uma cidade média, com
população de 100 mil habitantes, dobra sua população para 200 mil, mantido todo o resto
inalterado, pode-se prever que a probabilidade de possuir área internacional aumenta em 2,93
vezes, ou seja, é 193% maior.

Relative Risk 1: pop 100 200


rr(aint==1) = 2.93695
95% Confidence Interval = 2.21606 to 3.8884381

No caso do aumento da população da mínima para a média, ou seja, considerando


que a cidade com a menor população do país aumenta seus habitantes para a quantidade
média de habitantes dos municípios brasileiros, tem-se um aumento da probabilidade de
possuir área internacional de 1,43 vezes, ou 43%.

Relative Risk 1: pop min mean


rr(aint==1) = 1.43272
95% Confidence Interval = 1.29126 to 1.5859233

Relative Risk 1: pop mean max


rr(aint==1) = 8.3e+02
95% Confidence Interval = 3.4e+02 to 1937.8445

Na hipótese de um município que tem o mesmo número de habitantes da média


nacional, aumentar a sua população para a igual da maior cidade, temos um aumento de
240

8,3e+02 (aproximadamente 830) vezes mais probabilidade de presença de área internacional.


Essa diferença de probabilidade entre o aumento do mínimo para a média e da média para a
máxima revela mais uma vez como a média da população nos municípios brasileiros é baixa
(o Brasil é, em essência, um país de pequenos municípios).
Apresentando os dados dos riscos relativos, obtem-se resultados mais informativos
do que com os coeficientes. Há alguns parágrafos foi visto que, em eventos raros, a
comparação entre OR e RR é possível, porque eles assumem praticamente o mesmo valor.
Depois de rodar o logit e o relogit, é possível comparar não só os coeficientes como as razões
de chance e de risco, o que é muito mais interessante. A tabela 25 apresenta o quadro
comparativo, baseado nos dados levantados anteriormente.

Tabela 25 – Comparação entre os valores de OR do logit e RR do relogit


OR logit RR relogit
front 4,375025 4,20301
edu 2,784037 2,69801
idh 613366,8 3,2 e+05
pop 1,011418 1,01089
pt 4,012262 3,89164
sp 3,749321 3,49217
rs 3,953212 3,68701

O que é perceptível é que não somente em termos de coeficientes, mas também em


razão de chances e de riscos,.os valores são muito parecidos, à exceção do IDH-M. Mais uma
vez, nota-se que os resultados do logit e do relogit não se afastaram muito, mas, ao mesmo
tempo, houve correções de acurácia para os valores em riscos relativos para todas as
variáveis. Em outras palavras, o modelo da regressão logística para eventos raros foi efetivo
em aprimorar os scores da interação entre as variáveis, mas, em termos de resultado a
mudança foi relativamente pequena. Parece mais prudente basear as conclusões nos
coeficientes corrigidos, mesmo que eles sejam praticamente as mesmas do logit.

5.6.2 As conclusões gerais do modelo de determinantes locais da paradiplomacia no


Brasil baseadas nos resultados do relogit

Os resultados levantados pelo modelo estatístico evidenciaram características


importantes da paradiplomacia brasileira, no que concerne ao nível de análise local. Logrou-
se levantar quais são as determinantes locais que influenciam na criação de áreas
241

internacionais dos governos locais. Além disso, foi possível mensurar qual a contribuição de
cada uma dessas variáveis para a explicação do fenômeno. Algumas conclusões baseadas nos
dados já eram esperadas e, nesses casos, a empiria pautada em todos os casos auxiliou na
confirmação do que antes era fundado apenas na teoria ou em poucas observações. Outras
fugiram do senso comum e, nesse sentido, contribuíram para não só desmitificar algumas
teses recorrentes na paradiplomacia, como também abrir um leque explicativo que até então
era bastante reduzido e pouco ressaltado na literatura.
Logo de início, é possível afirmar que no Brasil, ao contrário do que diz a maioria
das explicações qualitativas da paradiplomacia, esse fenômeno no âmbito municipal não tem
relação direta com fatores econômicos. Ou seja, a presença de áreas internacionais não pode
ser explicada pelos indicadores das variáveis econômicas da segmentação objetiva. Na
verdade, conforme se identificou, algumas variáveis não chegaram a ser incluídas no modelo
por violarem os pressupostos da regressão logística e, por consequência, do relogit (por
exemplo, a multicolinearidade). Mesmo quando foram incluídos, como no caso do PIB per
capita e das exportações, os coeficientes não foram significantes a p<0,05. Isso significa, de
forma simples, que essas variáveis independentes são mal previsores da variável dependente,
ou seja, há pouca relação entre os indicadores econômicos e a presença de áreas internacionais
nos municípios brasileiros.
Essa conclusão opõe-se à maioria das teses da paradiplomacia ao redor do mundo,
muitas delas apresentadas no capítulo 3, que colocam os fatores econômicos como
fundamentais para que os governos locais se lancem ao exterior. Isso pode ser uma verdade
em outros países (principalmente os desenvolvidos), mas para o Brasil eles são pouco
importantes. Deve-se ressaltar, no entanto, que pode haver uma relação indireta entre a
economia e a paradiplomacia no Brasil (por exemplo, quanto ao IDH municipal, que tem o
PIB per capita como um dos sub-indicadores, ao fato de os municípios estarem no estado de
São Paulo, que é o estado mais rico da federação, ou ao tamanho da população, sabendo que
as cidades mais populosas também são as mais ricas). Mas nada indica que o PIB municipal, o
PIB per capita municipal, os investimentos externos diretos, o comércio exterior e as
exportações tenham correlação direta com a atuação paradiplomática municipal no país e,
muito menos, capacidade preditiva sobre a presença de áreas internacionais por aqui, mesmo
que no relogit o PIB per capita municipal seja significante a p<0,1 (90% de certeza), ou seja,
em critérios mais flexíveis, possa ser aceito como determinante.
Talvez, essa determinante seja mais importante para a atuação transnacional dos
governos estaduais, como bem documentam alguns estudos de caso específicos desse agente.
No que concerne aos governos municipais, mesmo que haja casos específicos em que
242

supostamente essa variável é relevante, quando analisado o conjunto dos municípios


brasileiros, essa hipótese não é respaldada. Observou-se nos capítulos anteriores que há
diferença de características na atuação de estados e municípios, sendo que as conclusões só se
referem à paradiplomacia do segundo. Os casos dos Estados Unidos e do México, que
trabalham com estados apontam para a contribuição dessa determinante, mesmo com algumas
ressalvas [por exemplo, os estudos de McMillan (2008) mostraram que o IED nos estados
americanos é inversamente relacionado com a atuação dos governadores, ou seja, quanto
menos investimento, mais eles atuam, talvez como resposta a isso – essa noção também foge
do senso comum e dos textos correntes da paradiplomacia].
No Brasil, os estudos que têm os estados como unidade de análise tendem a
confirmar a presença do viés econômico da paradiplomacia estadual. Identificou-se, no
capítulo 3, que na atuação dos municípios existem argumentos que enfatizam o viés
econômico, mas também os que colocam a questão política em primeiro lugar. De acordo com
os resultados obtidos, essa segunda vertente parece mais correta.
Quanto à questão geográfica, especificamente nos dois indicadores que foram
testados, o de pertencer à fronteira e a demografia, há relação com a presença de áreas
internacionais. Nesse sentido, essa determinante tem um peso importante na explicação, já
que o fato do município estar presente na Faixa de Fronteira e o tamanho da sua população
são estatisticamente significantes e contribuem para o entendimento da presença de áreas
internacionais no país.
De acordo com os dados dos riscos relativos, o fato de o município pertencer à Faixa
de Fronteira aumenta a probabilidade de presença internacional em 320% se comparado aos
municípios do restante do país, mantidas as demais variáveis constantes. Esse é um aumento
expressivo e está em concordância com o próprio movimento da paradiplomacia no mundo.
Anteriormente, foi descrito como o desenvolvimento das relações transnacionais dependeu
inicialmente dos contatos transfronteiriços e até hoje é parte importante dessas interações. No
Brasil não parece ser diferente. Além disso, esses números são compatíveis com as
explicações quantitativas de McMillan (2008) e Farfán e Schivón (2005) que apontaram
aumento da atividade paradiplomática quando eram considerados os estados da fronteira nos
Estados Unidos e México, respectivamente.
Essa noção é importante até pelos esforços locais que estão sendo empreendidos na
fronteira brasileira com o intuito de aprofundar as relações com cidades dos países vizinhos.
Muitas vezes, os casos de paradiplomacia transfronteriça são retratados apenas por atividades
exitosas pontuais, que chamam atenção pelas peculiaridades, mas não refletiam a dimensão
que o fenômeno atingia na fronteira como um todo. Conclui-se com os dados que, analisando
243

a totalidade dos municípios brasileiros, o grupo fronteiriço é relevante, no que concerne à


internacionalização dos governos locais, e, por conseguinte, ao processo de integração
regional.
Além disso, os esforços do governo federal e outros atores em nível nacional e
internacional em fomentar ou apoiar a integração no nível local, mostra-se acertada, já que
nessa região, a probabilidade da atuação internacional ocorrer é maior que no restante do país,
mantendo as outras variáveis constantes, obviamente. Fala-se nesse caso específico das
iniciativas da Presidência da República, por meio do capítulo brasileiro do Foro Consultivo do
Mercosul (FCCR), do Ministério da Integração Nacional, por meio do seu Programa de
Desenvolvimento da Faixa de Fronteira (PDFF) e da Comissão Permanente para o
Desenvolvimento e Integração da Faixa de Fronteira (CPDIFF) (essa no âmbito do Comitê de
Articulação Federativa – CAF), e do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que vem
debatendo a questão fronteiriça em reuniões e seminários.
Essas iniciativas têm aumentado cada vez mais as parcerias entre União e governos
locais e regionais. Outro ator envolvido, que trabalha com o tema no âmbito local de forma
acertada, é a Confederação Nacional de Municípios. De forma pioneira, a instituição, por
meio de sua Coordenadoria de Cooperação Internacional, percebeu a necessidade de trabalhar
no âmbito municipal as idiossincrasias, características, problemáticas e potencialidades da
região concernente à integração sul-americana.
Todas essas ações, que já voltavam suas atenções para a integração regional em nível
local com noção parcial de sua importância, podem agora confirmar em números a opção
correta de direcionar políticas públicas para a região. Os resultados respaldam os esforços das
diversas instituições de apoiar, de fomentar e de facilitar a integração regional em nível local,
sabendo que este é um foco de presença da paradiplomacia no Brasil.
No que diz respeito ao tamanho da população, fica claro que há relação relevante
entre a quantidade de habitantes e a presença de áreas internacionais. Percebe-se, nesse
sentido, que existe relação positiva, ou seja, quanto maior a cidade, maior a probabilidade de
atividade paradiplomática. Entre os vários cenários apresentados, observou-se que a cada 10
mil habitantes a mais com que a cidade conta há um aumento de 11,5% de probabilidade de
atuar paradiplomaticamente via estrutura organizada, mantidas as demais variáveis constantes.
O crescimento das cidades aumenta a probabilidade da paradiplomacia no Brasil. É claro que
existem outros fatores indiretos envolvidos quando as cidades aumentam, como a própria
condição econômica, mas, analisando friamente a relação habitante-presença de área
internacional, esses são os resultados encontrados.
244

Em relação às determinantes políticas da segmentação objetiva e perceptiva,


encontra-se relevância parcial. Enquanto que a variável Partido dos Trabalhadores foi
estatisticamente significante para prever a presença de áreas internacionais, a variável
oposição/base aliada não se comportou da mesma forma.
A questão da combinação ou diferenciação do partido do prefeito em relação ao
grupo partidário de sustentação do governo federal não é, de acordo com os dados,
relacionada à paradiplomacia municipal no país. Os números corroboram a tese de Vigevani e
Prado (2009) para o Brasil, alinham-se ao caso mexicano estudado por Farfán e Schiavón
(2005) e vão de encontro à tese de Kincaid (1984), ou seja, ser da oposição ou da base aliada
do governo central não representa um fator relevante para a atividade transnacional dos
governos locais brasileiros.
A questão partidária relacionada ao fato de o município ser governado pelo Partido
dos Trabalhadores, diferentemente, encontrou respaldo no modelo estatístico. A probabilidade
de um município possuir área internacional é 290% maior num município governado pelo PT
do que nos demais, mantidas as outras variáveis inalteradas. Isso corrobora,
quantitativamente, os argumentos já apresentados por Salomón (2011) em casos específicos, e
vai contra a noção de Vigevani e Prado (2009), de que a variável “partido” não se relaciona
diretamente com a paradiplomacia.
No capítulo 3, foram apresentados os argumentos que estes dois últimos autores
utilizam para defender suas teses, mas olhando para todos os municípios brasileiros e todas as
áreas internacionais existentes, é possível traçar a relação entre o PT e a paradiplomacia. Ao
contrário da variável econômica, os fatores político-partidários ou, de forma específica, o
Partido dos Trabalhadores é uma determinante local da paradiplomacia dos governos locais
brasileiros.
Do ponto de vista das características sociais, tanto a presença de instituições de
ensino superior é estatisticamente significante, quanto o IDH se mostrou um bom previsor
para a existência de áreas internacionais nos municípios brasileiros. Projeta-se a ideia que a
paradiplomacia possui relação com o nível de desenvolvimento local, que não
necessariamente representa riqueza ou desenvolvimento puramente econômico (dado que as
variáveis que as medem diretamente foram excluídas do modelo por não serem significantes a
p<0,05, conforme foi dito).
Entende-se que aqueles municípios que possuem maior desenvolvimento
socioeconômico, medidos pelo IDH e pela presença de instituição de ensino superior, são
mais propensos a apresentar áreas internacionais em suas administrações locais. Na verdade,
observou-se que aqueles municípios que possuem instituição de ensino superior possuem
245

170% mais probabilidade de possuírem também área internacional e aqueles que aumentam
seu IDH em 0,01, aumentam a probabilidade de possuir área internacional em 13,35%, se
mantido todo o resto constante.
Quanto às determinantes de Assimetria das unidades federadas e de Crescimento das
unidades federadas, testaram-se os indicadores “pertencente à região Sudeste ou Sul”,
“pertencente à região Sudeste”, “pertencente aos estados do Rio de Janeiro ou São Paulo” e
“pertencente ao estado de São Paulo”. Esses indicadores serviriam diretamente para a
determinante Crescimento e indiretamente para a Assimetria (lembrem-se que testar, por
exemplo, se o município está na região Sudeste ou Sul é a mesma coisa que testar se o
município pertence às regiões Nordeste, Centro-oeste e Norte, já que os coeficientes são os
mesmos, com o sinal invertido). Um problema que surgiu com a montagem do modelo foi o
fato das variáveis serem colineares (é fácil imaginar que a variável “pertence a São Paulo ou
Rio de Janeiro” variasse de forma muito parecida com “pertence a São Paulo”, porque a
parcela dos municípios paulistas é comum aos dois indicadores).
Foi necessário retirar algumas delas devido a essa infração do pressuposto, restando
apenas a variável “município pertence ao estado de São Paulo”. Pode-se interpretar essa
variável de duas formas, uma é a da forma literal, a outra é “município pertence a todos os
estados à exceção de São Paulo”. A variável é estatisticamente significante, o que prova que
ela contribui ao modelo.
Se fosse obtido um valor positivo do coeficiente (ou acima de 1 dos riscos relativos)
poder-se-ia ver que o município ser paulista tem relação positiva com a paradiplomacia dos
municípios, o que corrobora a tese do Crescimento das unidades federadas. Contrariamente,
caso se deparasse com um coeficiente negativo (ou com razão de risco abaixo de 1), seria
interpretado que o fato de o município pertencer ao estado de São Paulo é negativamente
relacionado à presença de áreas internacionais, ou seja, os municípios que não estão no estado
de São Paulo (porque se sentem prejudicados pela política exterior que privilegia as elites
paulistas) possuem maior probabilidade de possuir áreas internacionais, o que fortalece a tese
de Assimetria das unidades federadas.
Conforme se nota nos dados, a primeira opção é a verdadeira (os municípios
paulistas possuem 250% mais probabilidade de contar com áreas internacionais), portanto,
relacionando a teoria com os scores obtidos, encampa-se a ideia de que as elites locais
pertencentes às regiões mais pujantes tendem a buscar mais espaços em todas as esferas,
inclusive na política externa. Em outras palavras, conclui-se que enquanto o crescimento das
unidades federadas é uma determinante da paradiplomacia dos governos locais brasileiros, o
mesmo não pode ser dito sobre a Assimetria das unidades federadas.
246

Outro estado computado na análise foi o do Rio Grande do Sul (na verdade, os
municípios gaúchos). Esse indicador tentava comprovar ou rejeitar a determinante de Soldatos
de Regionalismo/Nacionalismo. Os dados mostraram que a variável tem relação com a
presença de áreas internacionais. Um município gaúcho tem probabilidade 270% maior de
possuir área internacional do que os municípios em outras unidades da federação.
Será que, de posse dos dados, se pode dizer que o Regionalismo/Nacionalismo é uma
determinante relevante na paradiplomacia brasileira? No capítulo 3, alertou-se que essa era
uma afirmação delicada. Foi dito, naquele momento, que fazer uso do caso gaúcho para
analisar o Regionalismo/Nacionalismo não testava per se o envolvimento dessa determinante
de Soldatos com a paradiplomacia municipal brasileira. O que se fez, analisando o caso mais
extremo disponível (que não chega a ser minimamente próximo dos casos do Quebec ou do
País Basco), foi tentar ver se era possível rejeitá-lo como determinante.
Caso ele fosse estatisticamente não significante, poder-se-ia concluir que o
Regionalismo/Nacionalismo não era uma determinante da paradiplomacia no país, mas o fato
de ocorrer o contrário, faz com que se pense em outras hipóteses para o caso gaúcho. Como já
apresentado, alguns estudos de caso analisam bem como o fenômeno da paradiplomacia no
Rio Grande do Sul está relacionado com outros fenômenos importantes (desenvolvimento
econômico, social, localização geográfica privilegiada pelo Mercosul, e distância dos grandes
centros SP e RJ). É difícil concluir que o nacionalismo e o regionalismo são fatores presentes
na paradiplomacia municipal brasileira; ao mesmo tempo, o fato de não ser possível descartá-
los como determinante já é, em si, relevante, porque se supunha, de inicio, justamente o
contrário. O que se conclui, de forma mais restrita, é que o fato de o município ser gaúcho tem
relação com a existência de áreas internacionais nos governos locais do Brasil.
Uma última hipótese testada foi a do me-tooism, ou seja, a imitação como forma de
explicar a presença de áreas internacionais nos municípios brasileiros. Do ponto de vista
quantitativo, essa não foi uma variável significante, ou seja, não há indícios de que os
municípios criem áreas internacionais porque tomaram contato com outra área internacional
em um município próximo. Testou-se, nesse caso, o atributo mínimo encontrado na literatura
que trabalha com a difusão de políticas públicas, que é a proximidade geográfica como forma
de incentivo ou influência para adoção de novas políticas. Como não foram cumpridos os
requisitos mínimos, não se crê que ele esteja presente nas suas manifestações mais avançadas.
As políticas que visam criar áreas internacionais são explicadas por outras variáveis
que não pela cópia. Baseado nos dados, é possível afirmar que a inspiração para a presença de
áreas internacionais não vem de experiências exitosas com que os governos locais têm
contato.
247
248

CONCLUSÃO

Em 1990, Ivo Duchacek, um dos pioneiros dos estudos da paradiplomacia, ressaltou


que raramente as atividades internacionais dos governos não-centrais fazem as manchetes de
primeira página dos jornais. Ele fazia essa referência para mostrar que essas atividades não
são alarmantes nem dramáticas. Elas mal conseguem competir pela atenção pública com as
guerras, os assuntos militares, o terror internacional e as outras formas de conflitos e
cooperações entre nações soberanas. Para o autor, os impactos da paradiplomacia na política
externa nacional, envolvendo relações decisivas centro-a-centro, continuariam, àquela época,
modestos.
Em 2011, o primeiro jornal exclusivo para um tablet foi lançado. O Daily é
distribuído apenas na versão digital e não tem, a rigor, notícias de primeira página, sendo seu
conteúdo passível de alteração ao longo do dia. Discutiu-se durante algumas páginas a fluidez
com que as informações na era do conhecimento são replicadas e disponibilizadas. Nela, os
dados são multidirecionais e a velocidade com que são transferidos é instantânea. Nesse
sentido, uma gama muito maior de notícias pode ser considerada importante e, dependendo do
leitor, elas variam enormemente.
Essa percepção pode ser ainda um pouco exagerada, porém o fato é que se está
presenciando um período de transformação não só de como as notícias são veiculada, mas
também da forma como as agendas são formuladas. A separação entre a high e a low politics é
menos clara e isso tem repercussão sobre como novos temas, novos padrões de conduta e
novos atores se dispõem no tabuleiro do sistema internacional.
A paradiplomacia, assim como outros temas novos nas Relações Internacionais, tem
ganhado espaço nas estantes de livros, teses e dissertações. A atuação transnacional dos
governos locais não é um fenômeno tão recente, mas tem se aprofundado de forma mais
vigorosa nos últimos vinte anos. As análises que delas se seguiram ainda buscam interpretar
as nuances desse complexo emaranhado de informações.
A academia brasileira segue essa tendência e tenta entender o que há por trás da
crescente participação dos atores locais e regionais em temas internacionais. A
paradiplomacia, antes de tudo, é um assunto transversal, que pode ser analisado por diferentes
disciplinas, lentes, níveis de análise e métodos. Entre tamanha possibilidade, a presente
proposta foi desenvolvida nas Relações Internacionais, por meio da lente institucionalista,
voltado para o nível local e com a metodologia quantitativa.
Essas opções tiveram a intenção de responder a pergunta da pesquisa: quais são as
determinantes da atuação paradiplomática dos municípios brasileiros. Para isso, foi necessário
249

repassar algumas ideias básicas, de forma que o modelo conceitual pudesse, sem perdas de
informação, transformar-se em um modelo estatístico.
A primeira delas foi apresentar brevemente a discussão conceitual sobre como a
paradiplomacia se insere nas Relações Internacionais e como pode ser interpretada à luz das
principais teorias desse campo de estudo. Apresentou-se a visão realista, que repele qualquer
tipo de interpretação sobre a atuação de governos locais no sistema internacional, a
contrapartida liberal-institucionalista e suas noções principais de atores múltiplos, agenda
internacional não hierarquizada com fortalecimento de assuntos de low politics e com os
múltiplos canais de interação e, por fim, a contribuição construtivista, especialmente quando o
foco é as questões de cultura, de identidade e de nacionalidade.
A paradiplomacia possui também um arcabouço próprio e rico em conceitos. Para
entender quais fatores levam à atuação internacional dos governos locais no Brasil foi crucial
conhecer a fundo o objeto de estudo e isso pôde ser feito de diversas formas. Citaram-se
algumas delas presentes na literatura, como a jurídica, a da integração regional, a de
classificação, a das estratégias e a da soberania. A escolha para introduzir o que é a
paradiplomacia, no entanto, foi a da apresentação das discussões acerca de seu conceito.
Definiu-se o que se entende por paradiplomacia e foram apresentadas as críticas presentes na
literatura. Algumas apontavam apenas a inadequação do termo, que faziam muitas referências
à atuação dos governos centrais; outras fizeram sugestões de quais termos seriam mais
adequados para exprimir o fenômeno, como política externa federativa, microdiplomacia e
diplomacia multicamada.
Essas sugestões são feitas com o intuito de representar, de forma mais fiel, o
fenômeno, direcionado à atuação de estados, municípios, regiões autônomas, cantões, ou
departamentos, indiscriminadamente. Há também na literatura discussões sobre o perfil que a
paradiplomacia assume quando os atores envolvidos são representantes de níeis distintos de
governo. De forma específica, existe uma distinção entre a atuação de governos locais e
regionais. O primeiro, que foi o foco do estudo, segue uma lógica mais dinâmica e
pragmática, enquanto que a segunda se formaliza em moldes mais próximos do Estado nação,
abrindo escritórios de representação e desenvolvendo relações bilaterais.
A atuação dos governos locais é diferenciada e possui determinantes específicas.
Essas determinantes não podem ser confundidas com interesses, mas de certa forma eles estão
relacionados. Os interesses, muitas vezes, independem das condições políticas, econômicas ou
sociais encontradas nas realidades locais. A decisão de se criar a área internacional baseada
somente em interesses pode não ser sustentável ou nem mesmo vir a ocorrer. Foi citado o
estudo da Confederação Nacional de Municípios, em que, questionados sobre o interesse de
250

atuar internacionalmente, mais de 60% dos prefeitos responderam afirmativamente que sim,
quando se pode ver que, na realidade, menos de 2% atuam de forma estruturada.
Apesar dessa distinção parecer ser clara, muito autores da paradiplomacia trataram
interesses e determinantes como sinônimos ou levaram em consideração somente os primeiros
para analisar o fenômeno. Michelmann (1990), Keating (2004) e Lecours (2004) são
exemplos de autores dessa defesa. Os autores listaram quais os interesses que levam as elites
locais a buscarem espaços na política internacional e concluíram de forma mais ou menos
parecida que se tratavam de razões de ordem econômica, política e cultural.
O que diferencia essa visão da empregada na análise de determinantes é o possível
descolamento entre as motivações e as verdadeiras condições presentes na realidade; existe,
no entanto, relação entre essas duas vertentes. Enquanto alguns interesses dependem
unicamente do sistema de crenças do governante local, outros têm motivações baseadas nas
características objetivas encontradas no local, no nacional e no global.
A noção sobre determinantes vai além dessa discussão de interesses e quem melhor
as retratou no campo teórico-conceitual foi Panayotis Soldatos (1990). Ele baseou seu modelo
na ideia de segmentação da política externa, um processo que pode ser horizontal, quando
envolve departamentos de governo no mesmo nível federativo (os diversos ministérios), ou
vertical, quando estão presentes atores em esferas federativas distintas (União, estados e
municípios).
A paradiplomacia se manifesta nesse segundo tipo de segmentação. O tipo vertical
envolve um processo maior, que está relacionado, nessa ordem, com as segmentações
objetivas, perceptivas, políticas e de atores. De forma simplificada, esse rito contínuo ocorre
com as condições objetivas diferenciadas de uma unidade federada, que são percebidas por
parte dos dirigentes locais e que, por sua vez, resolvem transformar essa percepção em uma
atitude política. A partir daí, se essas políticas se exacerbarem, a ponto de as unidades se
verem como unidades diferenciadas e capazes de atuar internacionalmente, elas dão início ao
processo chamado de “muitas vozes na política externa”.
A disposição das determinantes baseadas na segmentação é, ao mesmo tempo,
bastante complexa, porque trabalha com noções conceituais muito diversas, e completa, por
combinar três níveis de análise explanatórios. Por isso esse foi o marco teórico escolhido por
este estudo das determinantes locais da paradiplomacia no Brasil.
Para responder a pergunta de pesquisa não foi necessário o modelo completo de
Soldatos. A pergunta (quais as determinantes locais da paradiplomacia no Brasil?) implicava,
antes de tudo, em entender quais as variáveis que diferenciaram os municípios brasileiros uns
dos outros, de forma que representassem dois grupos, os com área internacional e os sem área
251

internacional. Diante disso, os níveis de análise global e doméstico em nível nacional não
eram eficientes, porque impactavam nos municípios de forma homogênea, e, quando não
ocorria dessa forma, as respostas também estavam no nível de análise local. Em outras
palavras, as variáveis presentes nesses dois níveis de análise restantes poderiam ser
consideradas constantes.
Isso não significa que elas não são importantes para entender a paradiplomacia como
um todo, muito pelo contrário, é nesse aspecto de complementariedade que o modelo de
Soldatos se diferencia dos demais. O problema é que para a pergunta de pesquisa não
forneciam respostas satisfatórias. Mesmo assim, tentando entender de forma mais profunda
em que contexto se desenvolve o objeto de estudo, listaram-se e explicaram-se as variáveis
globais e nacionais
Do ponto de vista internacional, foram levantados os aspectos da interdependência,
da globalização e da revolução da informação e da tecnologia, e como eles influenciam um
processo maior de descentralização de poder nas Relações Internacionais. Em última
instância, essa discussão mostrou que na atual conjuntura em que a política mundial se insere
as soberanias são enfraquecidas, os assuntos de low politics são enfatizados, as lealdades de
identidade são transformadas e, principalmente para o presente estudo, os atores são
diversificados. Os governos locais, nesse contexto, seguem o fluxo da história, agora como
protagonistas transnacionais.
O modelo de Soldatos aponta a interdependência global como uma determinante da
paradiplomacia. Além disso, ele diferencia dois processos de interdependência baseados na
proximidade geográfica das regiões. A microrregional diz respeito às regiões contíguas, o que,
comumente se conhece como processo de integração regional ou formação de blocos. A
crescente interdependência entre países vizinhos, entretanto, com fronteiras porosas e que não
necessariamente estão encadeados com processos políticos de integração também tem lugar
aí. A macrorregional se relaciona com os fatores globais, mas com os contextos mais amplos
do que o microrregional.
Um último fator global remete à influencia de atores externos como mecanismos de
indução da paradiplomacia. São casos em que outros países, outras cidades, redes de cidade
ou Organizações Internacionais sensibilizam os governos locais e regionais para atuarem
internacionalmente, seja pela defesa de causas globais, de esforços de cooperação conjuntos
ou de ganhos políticos e financeiros disponíveis no ambiente externo.
Pelo âmbito doméstico em nível federal, o modelo enfatiza as características da
organização política do Estado que dão margem para o surgimento de “outras vozes” na
política externa. Nesse contexto, foi importante ressaltar a função das constituições, que
252

podem ser mais ou menos explícitas na permissão ou veto da atividade paradiplomática; do


federalismo, que garante autonomia aos entes federados; da preocupação com o estado de
welfare, que aumenta as responsabilidades e as competências dos governos locais e regionais;
e do princípio de subsidiariedade, que fortalece o argumento de que quão mais próximas do
cidadão são as decisões, melhor são seus resultados.
Esse contexto é similar ao que se encontra no modelo de Soldatos. O autor aponta
como determinantes domésticas em nível nacional os erros ou ineficiências do governo
central, que deixam de atender as demandas das outras esferas de governo (no caso brasileiro
isso remete à própria característica do Itamaraty); os problemas com o processo da criação da
nação, que dificulta a formação de um interesse único para o país; os gaps institucionais,
relacionados à falta de mecanismos de representação das unidades subnacionais para se
expressarem sobre temas internacionais (no legislativo e executivo federal); as incertezas
constitucionais, que no Brasil não proíbe nem autoriza explicitamente a paradiplomacia; e o
processo de domesticação da política externa, que cada vez mais confunde o que é interno e
externo ao Estado.
Apresentar todas as variáveis presentes no modelo de Soldatos foi importante porque
mostrou o quadro explicativo mais amplo em que a paradiplomacia se insere. Não faria
sentido, do ponto de vista explicativo, fazer um simples recorte no modelo, retirando apenas o
que interessa diretamente, e transpô-lo para o desenho estatístico sem maiores justificativas.
As determinantes locais foram, assim, as respostas buscadas por esta pesquisa e por isso
tiveram um detalhamento ainda maior.
Insistiu-se em enfatizar a necessidade de trabalhar apenas com o nível de análise
local e, a partir daí, apresentar as determinantes listadas por Soldatos. Para tanto, ela foram
organizadas em uma cadeia causal, em que a segmentação objetiva é a variável independente
principal, a segmentação perceptiva, o regionalismo/nacionalismo, a assimetria das unidades
federadas, o crescimento das unidades federadas e o “Me-tooism” (imitação) são variáveis
independentes intervenientes e a paradiplomacia, por óbvio, é a variável dependente.
Cada uma das variáveis foi explicada com a complementariedade de estudos escritos
tanto por autores da paradiplomacia (quantitativos e qualitativos), quanto teóricos de outras
áreas. A segmentação objetiva se dividiu em características econômicas, políticas, sociais,
geográficas e culturais, sendo a última justificadamente excluída. A segmentação perceptiva,
por suas características já elencadas, foi relacionada com a segmentação objetiva, mas
possibilitou apresentar as duas hipóteses nulas (a questão temporal e o sistema de crenças do
governante). O Regionalismo/Nacionalismo foi apresentado por meio de critérios mínimos,
253

ou seja, utilizou-se o caso gaúcho para tentar afastar essa hipótese (dependendo da resposta
encontrada) e não necessariamente confirmá-la.
A Assimetria das unidades federadas pressupunha que aquelas regiões que se sentem
mais prejudicadas pelos arranjos federativos, que privilegiam elites mais ricas e politicamente
influentes, lançam-se ao exterior com a intenção de superar essas dificuldades. Uma lógica
inversa é a do Crescimento das unidades federadas, relacionado ao fato de as elites locais de
regiões mais desenvolvidas buscarem maiores espaços em todas as áreas de influência
possíveis, inclusive na arena internacional. Por fim, o “me-tooism” trouxe uma discussão
sobre policy diffusion, para verificar a possibilidade de imitação de políticas públicas em
municípios próximos como determinante na decisão de criar áreas internacionais.
No que concerne à variável dependente, fez-se uso como indicador a presença de
áreas internacionais. Não há dúvida que existem governos locais que atuam na paradiplomacia
sem uma estrutura organizada, mas a presença de uma burocracia específica para isso garante
que essa atuação é, no mínimo, consistente. Além disso, a criação de uma área reflete a
disposição das autoridades locais em desenvolver atividades transnacionais que vão além da
simples retórica ou de ações pontuais. Considerando isso, cruzaram-se quatro bancos de dados
– da CNM, da AFEPA, do FONARI e do estudo de Ribeiro (2008) – e foram identificados
como municípios com áreas internacionais àqueles que estavam presente em pelo menos dois
deles.
Mesmo com as qualidades inquestionáveis, o modelo de Soldatos não é perfeito; suas
falhas, no entanto, não são conceituais. Elas remetem apenas ao problema de não fortalecer o
lado empírico de suas afirmações. Na verdade, essa não era uma intenção do autor e, portanto,
não pode ser considerada realmente uma deficiência. Nesse sentido, grande parte dos esforços
foi concentrada no objetivo de traduzir as determinantes em indicadores mensuráveis para o
modelo estatístico. Encontrou-se formas de transformar o pensamento do autor para
compreender as determinantes locais da paradiplomacia dos municípios no Brasil, algumas
foram mais fiéis às ideias do autor, outras, menos, mas todas com potencial de testar as
hipóteses.
De posse dos indicadores e dos dados, poder-se-ia rodar a metodologia escolhida;
identificou-se, no entanto, a necessidade de apresentar com maior profundidade as técnicas
estatísticas empregadas, bem como a noções estatísticas básicas que as sustentam. Na área de
Relações Internacionais no Brasil, os estudos quantitativos são minoria e há um déficit no
aprendizado dessa metodologia nos cursos de graduação e pós-graduação. Os estudos norte-
americanos, que fazem uso recorrente dos modelos matemáticos, pressupõem que o leitor tem
conhecimento prévio das técnicas e, portanto, só apresentam seus resultados. A intenção de
254

apresentar a metodologia de forma mais detida não foi a de substituir essa defasagem, mas
apenas deixar mais compreensíveis os resultados encontrados.
Apresentaram-se alguns princípios básicos da matemática e da estatística, como a
média, o desvio-padrão, o erro-padrão e os intervalos de confiança, mas também as técnicas
um pouco mais complexas, que seriam a base do desenho, como a correlação, a regressão
linear e a regressão logística. Com sua mínima compreensão, pôde-se empregar a técnica de
correção de coeficientes da regressão logística em eventos raros (relogit). Para o presente
estudo, que conta com 87 municípios com área internacional entre 5562, essa metodologia foi
a mais adequada.
Antes de apresentar os resultados, justificou-se a utilização da metodologia
quantitativa vis-à-vis a metodologia qualitativa. Apesar de perder a profundidade dos casos,
com seus detalhes e nuances, ganhou-se em abrangência, que possibilitou chegar a conclusões
gerais sobre a paradiplomacia brasileira. Na verdade, o que se defendeu é que este estudo é
uma composição de ambas as metodologias, já que além de fazer uso de variáveis dummy (são
a maioria), buscou-se nos estudos de caso e nos estudos comparados qualitativos boa parte
dos argumentos e insumos do desenho estatístico.
Sabendo das vantagens e desvantagens do modelo, foi possível analisar o caso das
determinantes locais da paradiplomacia no Brasil de forma mais cautelosa, o que garantiu
resultados mais refinados. Algumas das informações obtidas já eram esperadas e, nesses
casos, os resultados confirmaram empiricamente o que boa parte da literatura já defendia
conceitualmente ou na observação de pequenos casos. Houve, no entanto, efeitos
surpreendentes, que desmitificaram argumentos (alguns já bastante arraigados) de boa parte
dos autores da paradiplomacia e, ao mesmo tempo, apontaram para determinantes conhecidas,
mas que não tinham a atenção devida pelos escritos da área.
Descobriu-se que a paradiplomacia dos municípios brasileiros não é um fenômeno
diretamente econômico. Nada confirmou que os indicadores desenvolvidos para testar as
características econômicas da segmentação objetiva são estatisticamente significantes, pelo
menos não de forma direta. As outras características foram totalmente ou em parte atendidas
no modelo. A variável político-partidária, no que concerne à relação entre o governo central e
os governos locais, não teve efeito na previsão da presença de áreas internacionais nos
municípios brasileiros. O fato de o município ser administrado pelo Partido dos
Trabalhadores, por sua vez, é relacionado positivamente com a presença de áreas
internacionais.
Nas características geográficas, tanto a localização em áreas de fronteira, quanto o
contingente populacional foram estatisticamente significantes. Identificou-se que os governos
255

locais dos municípios de grande porte e das regiões de fronteira têm maior probabilidade de
atuar internacionalmente. Isso também foi verdade para as características sociais. Quando o
IDH-municipal é maior e quando o município possui instituição de ensino superior, a
probabilidade de possuir área internacional também aumenta.
As Assimetrias das unidades federadas e o Crescimento das unidades federadas
foram testados em cenários distintos e grande parte deles, por testar o mesmo pressuposto,
apresentou multicolinearidade estatística. A consequência disso é que se utilizou somente o
indicador “pertence ao estado de São Paulo”. Essas determinantes eram excludentes, ou seja,
se a Assimetria fosse um fator explicativo, automaticamente o Crescimento não seria.
Observou-se que na teoria as determinantes coabitam, mas para retratar a paradiplomacia
brasileira por meio de apenas uma equação uma delas teria efeito positivo na presença de
áreas internacionais.
Em outras palavras, apesar de as duas hipóteses (baseadas no caso de SP) serem
estatisticamente significantes, apenas a determinante do Crescimento das unidades federadas
foi respaldada pelo modelo. O fato de o município ser paulista aumenta sua probabilidade de
possuir área internacional, ao passo que, o fato de não estar em São Paulo, faz com que essa
probabilidade diminua, o que afasta a hipótese da Assimetria.
Da mesma forma, testou-se a hipótese do Regionalismo/Nacionalismo com o caso do
Rio Grande do Sul. Nessa variável, descobriu-se que o fato de o município ser gaúcho tem
uma relação positiva com a presença de áreas internacionais. Isso fez com que não se pudesse
rechaçar o Regionalismo/Nacionalismo como determinante, mas considerou-se essa conclusão
importante, já que se pressupunha que ela não seria pertinente para o caso brasileiro, mesmo
utilizando critérios mínimos.
Ao contrário do Regionalismo/Nacionalismo, pôde-se rejeitar a determinante do
“me-tooism”. Fez-se uso de um critério mínimo para testá-lo, que foi a proximidade com
outros municípios com áreas internacionais, embora sabendo que a imitação de políticas
públicas pode se dar em contextos mais avançados. A ideia era que se pudesse afastar essa
hipótese quando a forma mais simples descrita na literatura de difusão de políticas não é
cumprida, então, em um estágio mais complexo, ela também não seria significante.
Ao longo de todos esses capítulos tentou-se exprimir o fenômeno não apenas por sua
simples descrição ou pela análise de relações entre as variáveis com um quadro empírico de
observações reduzido. Buscou-se desenhar um modelo explicativo da paradiplomacia
brasileira olhando para todos os casos: o Brasil na sua totalidade. Para tanto, extrapolou-se a
percepção teórico-conceitual, trazendo uma quantidade de casos que permitisse a
generalização das determinantes para todos os governos locais brasileiros.
256

Acredita-se que os ganhos advindos dessa decisão foram mais benéficos do que
desvantajosos. Primeiramente, porque se conseguiu fazer um desenho sobre as relações
internacionais do país que era pouco conhecido em sua abrangência. Em segundo lugar,
encontraram-se algumas características importantes do porquê alguns municípios
desenvolvem atividades transnacionais e outros não. Além disso, logrou-se mensurar o efeito
e o peso explicativo de cada uma dessas características na presença de áreas internacionais.
Por fim, foi possível fortalecer ou enfraquecer alguns argumentos que são recorrentes na
literatura da paradiplomacia, sejam escritos nacionais ou internacionais, para o caso brasileiro.
Ao adaptar o modelo de determinantes de Soldatos e aplicá-lo estatisticamente para o
caso nacional, foi-se além do simples teste de teoria. Pôde-se, com base nos dados, formular
conclusões gerais e entender um pouco melhor a paradiplomacia praticada pelos governos
locais brasileiros. Espera-se que, com isso, o estudo tenha contribuído, mesmo que
minimamente, para o avanço das análises da paradiplomacia no país; no entanto, crê-se que
esse levantamento seja útil não somente para os debates acadêmicos sobre o tema, mas
também para auxiliar os governos locais na identificação de suas circunstâncias políticas e nas
potencialidades que possuem para buscar benefícios para as comunidades locais que estão
além das fronteiras nacionais.
Do mesmo modo, pensa-se que esse levantamento pode ser útil a outros órgãos
públicos e privados que tenham os municípios e suas atividades internacionais como alvo.
Diante dos dados, a tarefa de formular políticas públicas ou atividades voltadas para esses
atores se torna menos árdua e mais precisa. Fazer uso desta obra é uma forma de o governo
central entender, de forma abrangente, esse fenômeno relativamente novo das relações
internacionais do Brasil.
Isso não quer dizer que os números contenham verdades absolutas; pelo contrário,
essa é apenas a primeira tentativa de quantificar a atuação paradiplomática no Brasil. Mais
estudos do tipo podem aperfeiçoar os dados, as formas de mensuração e os modelos de
cálculo. Ademais, existem informações decorrentes do estudo pouco aprofundados, que
podem servir de inspiração para outros pesquisadores. De forma específica, seria interessante
entender os casos dos municípios que têm área internacional quando a probabilidade para a
presença de tal burocracia é mínima, assim como os casos em que a probabilidade de
encontrar área internacional é altíssima e ela não se faz presente. Em outras palavras, estudos
de caso qualitativos que analisassem outras determinantes locais nos municípios de Sorocaba,
Niterói, Duque de Caxias, Paranhos, Ipuã ou Coronel Sapucaia seriam reveladores e, sem
dúvida, complementariam a contribuição dada por este estudo.
257

Outra ideia desafiadora foi a de focar no nível de análise local, principalmente


defendendo essa dissertação em um instituto de Relações Internacionais. Como dito antes, o
desenho de pesquisa desenvolvido para relacionar variáveis locais com a presença de
determinada burocracia em prefeituras poderia, muito bem, ser defendido em outros
departamentos, como o de Ciência Política, mas a lógica por trás do fenômeno é, em essência,
internacional e foi essa a base conceitual utilizada ao longo de toda a pesquisa.
Esse, inclusive, é considerado um ganho, já que cada vez mais o campo de estudo de
Relações Internacionais aponta para a necessidade de abordagem mais holística, que
considere fatores domésticos na análise de fenômenos internacionais. A mais clássica delas, é
a crítica de liberais e de construtivistas à perspectiva realista, que desconsidera o ambiente
doméstico e os atores internos nas análises da política mundial.
Último ponto digno de reflexão é a tentativa de trabalhar no Brasil com a
metodologia quantitativa na área de Relações Internacionais. A pouca ocorrência desses
estudos se dá por uma série de fatores, entre eles a desconfiança de que análises tidas como
superficiais podem trazer resultados contributivos para a área e a prevalência da tradição
qualitativista no país. Existem críticas também do outro lado, mas nesse aspecto, não se
imagina que este estudo acrescente mais do que outros simplesmente por aplicar as técnicas
multivariadas. Ao revés, os estudos qualitativos são, muitas vezes, mais adequados para
estudar determinados tipos de fenômenos. Na paradiplomacia, felizmente, essas duas
abordagens são possíveis e se complementam. É possível dizer até que não se tratam de duas
formas de fazer pesquisa, afinal esta dissertação nada mais é que uma análise baseada no
método comparado.
258

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