e Patrimoniais
Autor: Prof. Herbert Gonçalves Espuny
Colaboradores: Profa. Solimar Garcia
Prof. André Galhardo Fernandes
Professor conteudista: Herbert Gonçalves Espuny
Administrador registrado no Conselho Regional de Administração de São Paulo (CRA‑SP), é graduado em Direito e foi
aprovado no XXV Exame de Ordem Unificado da OAB. É doutor na área de Engenharia de Produção, área de concentração
em Gestão de Sistemas de Operação e Linha de Pesquisa centrada nas Redes de Empresas e Planejamento da Produção, com
pesquisa específica na área de Produção de Conhecimento Estratégico (Inteligência) pela Universidade Paulista – UNIP. É
também mestre no Programa Interdisciplinar Adolescentes em Conflito com a Lei pela Universidade Bandeirante de São Paulo
e especialista nas áreas de Segurança Empresarial (Universidade Anhembi‑Morumbi), Segurança Pública (Fundação Escola
de Sociologia e Política de São Paulo), Inteligência de Segurança Pública (Universidade Sul de Santa Catarina), Educação a
Distância (Universidade Federal Fluminense) e História das Culturas Afro‑Brasileiras (FTC). Está se especializando em Direito
Constitucional e Administrativo e em Direito Corporativo e Compliance pela Escola Paulista de Direito (EPD).
É membro da Associação Brasileira dos Analistas de Inteligência Competitiva (Abraic) e da Associação Brasileira de
Profissionais de Segurança (ABSEG).
Também é coordenador do curso de pós‑graduação lato sensu em Engenharia de Produção da UNIP campus Paraíso
e do curso de Logística EaD, professor titular no curso de bacharelado em Administração (campus Alphaville) e professor
profissionalizante IV em cursos de graduação tecnológica (campus Alphaville) na Universidade Paulista (UNIP).
CDU 658.7
U501.53 – 19
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto
Revisão:
Lucas Ricardi
Vitor Andrade
Sumário
Recursos Materiais e Patrimoniais
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................7
Unidade I
1 A ÁREA DA ADMINISTRAÇÃO DE MATERIAIS E PATRIMÔNIO...........................................................9
1.1 Conceitos iniciais......................................................................................................................................9
1.2 Noções históricas da administração de materiais................................................................... 13
1.3 Visão sistêmica das organizações................................................................................................... 16
1.3.1 Definições e conceitos........................................................................................................................... 17
1.3.2 Recursos materiais e patrimoniais.................................................................................................... 17
1.3.3 Outros recursos: humano, capital e tecnológico........................................................................ 18
2 ADMINISTRAÇÃO DE MATERIAIS............................................................................................................... 21
2.1 Conceitos gerais..................................................................................................................................... 21
2.2 Aspectos importantes.......................................................................................................................... 23
2.2.1 Responsabilidades éticas e sociais.................................................................................................... 23
2.2.2 Qualidade.................................................................................................................................................... 25
Unidade II
3 GESTÃO DE ESTOQUES................................................................................................................................... 29
3.1 Estoque de segurança ou estoque mínimo................................................................................ 29
3.2 Tipos de estoques.................................................................................................................................. 32
3.3 Aspectos importantes no gerenciamento de estoques......................................................... 34
3.4 Previsão de demanda........................................................................................................................... 38
4 CUSTOS DE ESTOQUES................................................................................................................................... 46
4.1 Custos de capital................................................................................................................................... 46
4.2 Outros custos.......................................................................................................................................... 48
4.2.1 Custo de armazenagem........................................................................................................................ 48
4.2.2 Custos com pessoal................................................................................................................................. 50
4.2.3 Custos com edificação........................................................................................................................... 51
4.2.4 Custos de manutenção.......................................................................................................................... 51
4.3 Ferramentas de otimização............................................................................................................... 51
4.3.1 Just in Time – JIT...................................................................................................................................... 51
4.3.2 Kanban......................................................................................................................................................... 56
Unidade III
5 GESTÃO DE COMPRAS.................................................................................................................................... 62
5.1 Pontos principais da atividade de compras................................................................................ 62
5.2 Objetivos da atividade de compras................................................................................................ 66
5.3 Dicas para uma boa gestão de compras...................................................................................... 68
6 COMPRAS NA ÁREA PÚBLICA..................................................................................................................... 70
6.1 Tipos de licitação................................................................................................................................... 72
6.2 Modalidades de licitação.................................................................................................................... 72
Unidade IV
7 PONTOS COMPLEMENTARES DA GESTÃO DE PATRIMÔNIO............................................................ 78
7.1 Inventário................................................................................................................................................. 79
7.2 Propriedade intelectual....................................................................................................................... 80
7.2.1 Proteção sui generis............................................................................................................................... 85
8 BOAS PRÁTICAS E ÉTICA NOS NEGÓCIOS.............................................................................................. 86
8.1 Governança corporativa..................................................................................................................... 86
8.2 Compliance.............................................................................................................................................. 88
8.3 Ombudsman e outros.......................................................................................................................... 90
APRESENTAÇÃO
O mercado e as organizações passam por transformações profundas: novas técnicas, novas formas
de desenvolvimento das diversas formas de gestão e a busca constante pela qualidade e excelência.
O presente material permite que o aluno aprenda os princípios básicos de cada um desses temas,
além de permitir que se aprofunde – através das diversas referências – na área que desejar e/ou
necessitar. O material traz também uma série de conceitos importantes, que fazem parte da construção
da imagem da organização no mercado, como o respeito estrito à legislação do consumidor e aos
princípios da governança corporativa e do compliance. O aluno fará uma imersão nos temas relevantes
desta disciplina, que vão capacitá‑lo a enfrentar um mercado competitivo e dinâmico.
INTRODUÇÃO
De uma forma geral, todas as áreas de gestão estão vinculadas a algumas atividades básicas. Tais
atividades são documentadas e estudadas pela ciência da administração.
Há várias nomenclaturas, mas a ideia central está baseada nos três passos que todo gestor
precisa dominar:
• Planejar: o planejamento está baseado naquilo que se espera da atividade, no ponto em que se
pretende chegar. O bom planejamento permite chegar ao objetivo de forma mais rápida e efetiva.
• Executar: é o próximo passo. Após planejar, seguindo os caminhos previamente traçados, o gestor
deve dar andamento ao que previamente foi definido.
Enfim, o gestor deve levar em conta que todas as atividades estão relacionadas aos três pilares
mencionados. Neste livro‑texto, o gestor obterá subsídios importantes para planejar, executar e controlar
a importante área de materiais e patrimônio.
Detalhes essenciais: o conhecimento não se esgota. Além das informações obtidas neste material,
lembre‑se de consultar os links! Outro detalhe importante: as coisas mudam! Atualize‑se constantemente!
7
RECURSOS MATERIAIS E PATRIMONIAIS
Unidade I
1 A ÁREA DA ADMINISTRAÇÃO DE MATERIAIS E PATRIMÔNIO
É importante saber que a área da Administração de Materiais e Patrimônio tem relação com alguns
conceitos importantes. A primeira ideia que o nome sugere é a de planejar, executar e controlar a área
de materiais e patrimônio. Substituir a palavra administração pelos verbos planejar, executar e controlar
caracteriza bem esta atividade. Observe estes conceitos:
• Planejar para que o dia a dia da empresa não se ressinta com a falta de materiais, por exemplo,
para a fabricação de seus produtos.
É necessário, também, compreender que a vida da organização depende, em boa parte, de providências
adequadas por parte do gestor nessa área: providências mal tomadas, como estoques desorganizados,
compras fora de prazos adequados e seleção deficiente de fornecedores podem, efetivamente, causar a
perda de clientes e transformar qualquer empreendimento num grande fracasso.
Para evitar isso, esta disciplina proporcionará os conceitos e as ferramentas adequadas para uma
excelente gestão de materiais e patrimônio! Mãos à obra!
A área abordada neste material está vinculada à atividade na “elaboração de um pedido de compras, ou
ainda à determinação assertiva das quantidades adquiridas, evitando‑se perdas por aquisições excessivas ou
por desperdício de oportunidades devido a reposições insuficientes” (HARA, 2012, p. 13). Isso quer dizer que o
gestor precisa saber quantificar adequadamente o que comprar, para usar e estocar de forma racional.
O controle de estoque recebe informações dos diversos setores da organização e, a partir de tais informações,
consegue fazer o planejamento da área. Por exemplo, se a organização for uma indústria, o planejamento da
9
Unidade I
produção é fundamental, pois envolve a compra de insumos, a programação do que será produzido e a própria
comercialização dos produtos.
A área de Planejamento e Controle da Produção (PCP) deve estar constantemente monitorada pelo
gestor de patrimônio e materiais, pois “um planejamento feito sem os devidos cuidados impossibilita a
adequada coordenação das atividades afins” (POZO, 2010, p. 99). Em outras palavras, imagine um gestor
que resolve adquirir um lote maior de insumos para um determinado produto que está sendo fabricado,
apenas porque há uma promoção no preço desse insumo, sem pensar em outros fatores, como:
Analisando apenas esses aspectos, entre outros possíveis, será que foi um bom negócio? Será que a
economia feita no desconto do insumo não seria “perdida” com possíveis problemas ocasionados pelos
outros itens analisados?
Como podemos perceber, a área de Administração de Materiais e Patrimônio exige que o gestor tenha
visão sistêmica, ou seja, que não se concentre apenas em itens isolados. Essa visão sistêmica, ou visão do
todo, permite evitar erros que podem ocasionar perda de faturamento ou gastos excessivos e desnecessários.
• Administrar materiais e patrimônio é uma atividade contínua, que exige conhecimentos específicos.
• O gestor deve utilizar o planejamento como instrumento para minimizar problemas nas áreas que
sustentam a organização, como a de suprimentos e fabricação.
Saiba mais
10
RECURSOS MATERIAIS E PATRIMONIAIS
Observe que se trata de um supermercado. Veja a distribuição das mercadorias, por setores e a
quantidade disponível de cada um dos itens. Essa distribuição e o estoque ali demonstrado não são
aleatórios. O gestor responsável deve estar atento para uma série de detalhes: a quantidade média de
vendas (para que o estoque seja adequado), o prazo de validade de cada mercadoria, a devida exposição
no cenário de vendas, entre outras preocupações. O exemplo dado é apenas para caracterizar o que
ocorre no campo do varejo.
Com as devidas variações e especificidades de cada área, os estudos também são importantes tanto
na indústria como na prestação de serviços.
A figura mostra um exemplo de indústria, no caso, de produtos de alta tecnologia. Observe que, nesse
caso, as preocupações do gestor serão tanto com os estoques dos insumos utilizados na fabricação de
cada produto como com o estoque de cada produto fabricado que será comercializado.
E, a propósito, insumo é todo o produto necessário para a fabricação do produto final. Por exemplo,
determinada fábrica produz refresco de laranja. Quais são os insumos? Provavelmente, laranjas + água
+ açúcar. Pode haver conservantes, também.
De forma geral, no mercado, insumo muitas vezes é o nome que se dá para a matéria‑prima. Há,
entretanto, aqueles que preferem distinguir um do outro: “matéria‑prima é o material base de um
produto. Insumo é o conjunto de todos os ‘fatores’ necessários para a fabricação de um produto” (PAULA,
2013). Em outras palavras, matéria‑prima faz parte do produto: por exemplo, o algodão, em relação ao
tecido, ou a laranja, para o exemplo anterior do suco de laranja. Já o insumo é um componente, como a
água para o refresco de laranja.
Observe aqui as diferenças: para o refresco de laranja (por exemplo, feito de água, laranjas e açúcar),
a água e o açúcar são certamente os insumos. E a laranja? Há autores que entendem tratar‑se de
matéria‑prima. Outros tratam por insumo, também. Portanto, o aluno precisa tomar o cuidado de
identificar o que o autor quer dizer.
12
RECURSOS MATERIAIS E PATRIMONIAIS
Quadro 1 – Definições
Insumo Matéria‑prima
1 Substância bruta principal, insumo básico
Todo tipo de elemento que entra no a partir do qual se fabrica determinado
processo de produção de mercadorias e/ou produto ou bem.
serviços, matérias‑primas, equipamentos, 2 FIG Aquilo a partir do qual se inicia
capital, trabalho humano etc.; input. alguma coisa que ainda se encontra em
estado bruto; base, fundamento.
Esses são apenas alguns conceitos básicos. No transcorrer das unidades que compõem esta disciplina,
o aluno encontrará os principais conceitos de gestão que parametrizam a administração de materiais
e patrimônio, além de ferramentas que possam auxiliar nesse processo, como fórmulas e cálculos que
auxiliam na gestão de estoques, por exemplo.
Lembrete
Administrar materiais e patrimônio não é exatamente uma atividade nova. Desde os tempos mais
antigos há notícias de obras, grandes construções e atividades que necessitavam de princípios logísticos
para serem viabilizadas. Note‑se que para cada ramo de atividade, a administração sempre foi necessária.
13
Unidade I
Os sumérios foram pioneiros por desenvolverem “barragens para impedir o avanço da água dos
rios durante o período de cheia e por construírem reservatórios para armazenamento de água e canais
de irrigação para utilização na agricultura e para o consumo em suas cidades” (SILVA, 2018). Essas
atividades envolviam a administração adequada dos materiais utilizados nesses empreendimentos.
No Antigo Egito, os sacerdotes exerciam a função de administradores das riquezas dos faraós: “Os
sacerdotes tinham enorme prestígio e poder, tanto espiritual como material, pois administravam as
riquezas e os bens dos grandes e ricos templos. Eram também os sábios do Egito” (SILVA, 2009).
Assim, a administração de materiais passou por várias fases na história da humanidade. Três dessas
fases merecem ainda destaque:
Além da Revolução Industrial, as fases da Primeira e Segunda Guerras Mundiais foram particularmente
importantes no tocante aos aspectos logísticos em geral e nos aspectos de administração de materiais
em particular, sejam materiais bélicos, sejam materiais de apoio para as tropas.
14
RECURSOS MATERIAIS E PATRIMONIAIS
• Fase da atividade exercida pelo proprietário: essa fase representa aquele que por conta
própria fazia praticamente tudo; logo, a parte de administração de materiais também era exercida
somente pelo dono. Comprar era a essência do negócio.
• Fase das compras integradas à produção: essa fase representa um período em que as compras
estavam tão somente ligadas à área produtiva.
• Coordenação dos serviços envolvendo materiais: essa fase representa um avanço, pois a área
de compras passa a ter uma visão sistêmica da organização. Ela começa com o planejamento
das matérias‑primas e a entrega dos produtos acabados, em uma organização independente da
área produtiva.
• Fase da agregação à área logística: a área de compras passa a fazer parte das atividades
logísticas, inclusive dando suporte também ao Marketing.
Saiba mais
15
Unidade I
Visão sistêmica tem a ver com a visão geral, a visão do todo. É muito importante que o gestor
aprenda a analisar qualquer problema dentro desse conceito, senão, corre o risco de não adotar a
solução correta. Por exemplo: houve um determinado fato dentro da empresa com a participação de
quatro funcionários. É importante o gestor analisar os relatos dos quatro envolvidos, principalmente
se houver diferentes interesses envolvidos, como uns acusando outros de irregularidades. Se o
gestor ouvir apenas um funcionário, ou uma das partes, pode deixar de tomar as providências
adequadas que o problema requer.
Karl Ludwig von Bertalanffy (1901‑1972) foi o primeiro autor na área da Administração a conceituar
a visão sistêmica, baseado na Teoria dos Sistemas. Bertalanffy foi biólogo e desenvolveu a Teoria Geral
dos Sistemas, que
Derivada das concepções de Bertalanffy, a visão sistêmica busca entender a organização como um
todo. Oderich, Avelino e Queiroz (2015, p. 32) comentam:
O gestor da área de materiais e patrimônio precisa trabalhar com visão sistêmica, pois suas decisões
envolvem uma série de vertentes da organização, que interagem constantemente.
Essa visão sistêmica busca integrar os recursos de várias áreas, tais como os recursos materiais, os
recursos patrimoniais, os recursos humanos e os recursos tecnológicos, entre outros.
A visão sistêmica é importante porque não adiantaria, por exemplo, ter equipamentos com alta
tecnologia e de última geração (recursos materiais) se não houvesse pessoas qualificadas (recursos
humanos) para operá‑los, nem a organização contratar recursos humanos supercompetentes em operar
recursos tecnológicos modernos se a organização não dispõe e não pretender adquirir tais recursos.
16
RECURSOS MATERIAIS E PATRIMONIAIS
Os bens de uma forma geral podem ser divididos em bens tangíveis e bens intangíveis, como pode ser
observado no quadro a seguir. Os bens tangíveis são aqueles que podem ser tocados, ou seja, possuem
materialidade. Já os bens intangíveis são incorpóreos.
Os recursos materiais da organização podem ser definidos como os bens tangíveis que ela possui e
com os quais trabalha para desenvolver a sua produção.
Aqui cabe uma observação: normalmente, o gestor de materiais e patrimônio pode gerir tanto
os bens materiais como imateriais. Isso depende muito do nível em que esteja inserido o gestor no
contexto da organização. Por exemplo, uma editora trabalha com os direitos autorais, tanto dos autores
que fomentam as obras como das edições patrocinadas pela editora. Esses são itens incorpóreos dos
quais, muitas vezes, o gestor de patrimônio é o responsável pela administração. O mesmo ocorre com
indústrias que trabalhem com produtos patenteados ou licenciados.
Mais adiante, serão abordadas essas formas de patrimônio, inclusive a legislação específica com a
qual o gestor deve estar sempre atualizado, pois as leis e os regramentos mudam constantemente.
Ainda a respeito de conceitos iniciais, é importante que o aluno saiba que alguns autores podem
não diferenciar recursos materiais daqueles considerados patrimoniais. Alguns tendem a utilizar o termo
materiais para classificar todos os bens tangíveis de uma organização.
Por exemplo, Brandão (2010) classifica os recursos materiais da seguinte maneira: “são os recursos
físicos, como edifícios, prédios, máquinas, equipamentos, instalações, ferramentas, matérias‑primas etc.”.
Ou seja, é o conjunto do que se possui como propriedade e do que se possui como instrumentos para a
produção (matéria‑prima, equipamentos e máquinas). Assim, para essa autora não há diferença entre o
que se pode classificar como material ou patrimonial.
17
Unidade I
Apesar disso, outros autores preferem a distinção entre materiais e patrimoniais, que permite uma
análise mais diferenciada. Observe o quadro a seguir:
Quadro 3 – Recursos
• Matérias‑primas • Prédios
— Materiais de uso cotidiano • Galpões
— Produtos acabados • Máquinas e equipamentos
— Produtos semiacabados • Veículos
— Materiais auxiliares — Terrenos
Para completar o raciocínio, pode‑se considerar, ainda, que alguns bens que fazem parte do
patrimônio da organização podem não ser exatamente tangíveis (ou materiais), por exemplo,
a marca ou uma patente. Nesse caso, tais bens são intangíveis, mas fazem parte dos recursos
patrimoniais da empresa. Por causa desse exemplo, a utilização da divisão de bens materiais e
patrimoniais pode evitar confusões.
Observação
Além da gestão dos recursos materiais e patrimoniais, há outros recursos que a organização precisa
gerir. Tais recursos estão vinculados a outras gestões e/ou diretorias da organização. São eles:
Recursos Humanos
Área tradicional nas organizações, Recursos Humanos é a que trata de pessoas. Especialistas na área
costumam enfatizar que as pessoas podem ser meramente tratadas como parte da organização ou de
forma mais abrangente, como parceiros:
18
RECURSOS MATERIAIS E PATRIMONIAIS
Observe que apesar do nome “recursos”, quando se trata da área humana, os gestores modernos tendem
a considerar os funcionários como colaboradores que, envolvidos na empresa, conseguem alcançar mais
facilmente os objetivos. Várias são as funções do Departamento de Recursos Humanos (RH) das organizações.
Os mais comuns são: seleção, recrutamento, treinamento e reciclagem, além de tratar da parte documental
dos funcionários (registros e baixas nas carteiras de trabalho, documentos comprobatórios de estado civil,
formação etc.).
Capital
Sinônimo de dinheiro. O recurso de capital é o dinheiro que a organização dispõe para investimentos
e/ou manutenção. Contabilmente, ou seja, pelos princípios utilizados pela Contabilidade, o item que
reúne o capital das empresas é o do ativo circulante (RIBEIRO, 2011, p. 34). O capital pode ser representado
pelo dinheiro físico (o que está em caixa na própria empresa), o que está disponível em contas bancárias
ou o que está em investimentos (aplicações financeiras) com liquidez imediata.
Tecnológico
Os recursos tecnológicos são aqueles com os quais as organizações conseguem desenvolver tanto as
suas atividades‑fim como as atividades‑meio de forma mais eficaz e eficiente.
19
Unidade I
20
RECURSOS MATERIAIS E PATRIMONIAIS
Observação
2 ADMINISTRAÇÃO DE MATERIAIS
Vários são os tipos de materiais que o gestor vai administrar na organização. Um dos mais importantes
é o relacionado à gestão de estoques. O estoque exerce uma importância fundamental na organização,
na medida em que propicia uma segurança no desenvolvimento das atividades.
• Prejuízo por estocar quantidade desnecessária de mercadorias: nesse caso, o excesso de mercadorias
no estoque é capital imobilizado que poderia ser aplicado em outras áreas. Além disso, estoque
envolve despesas, com armazenamento, limpeza e segurança, por exemplo.
• Prejuízo por estocar quantidade que não supra a demanda. Nesse caso, em vez do excesso, o
estoque poderá dar prejuízo pela falta de mercadorias: a organização deixa de vender porque
não dispõe do produto. Isso pode gerar perda definitiva de clientes. Além disso, há questões
relacionadas às demandas sazonais. São aquelas demandas que ocorrem somente em períodos
específicos ao longo do ano. Se o gestor não se preparar para elas, certamente perderá clientes e
poderá perder mercado.
• Além do que já foi citado, em relação ao estoque de produtos a serem comercializados, o gestor
de materiais precisa se preocupar, também, com os estoques de insumos, ou seja, os componentes
que são utilizados para a confecção de seus produtos. Há organizações com um número grande
de insumos. Imagine uma indústria automobilística: quantos insumos, isto é, quantas partes de
um veículo são necessárias para que ele tome a forma final? Milhares de itens.
• Outros itens também podem fazer parte da rotina do gestor de materiais: itens necessários à
manutenção cotidiana da organização, como materiais de limpeza, produtos utilizados para a
manutenção de máquinas e equipamentos, uniformes de determinados funcionários, produtos
alimentícios para os setores de alimentação da empresa, produtos farmacêuticos ou médicos, para
eventuais setores de emergência ou enfermagem, entre outros.
De uma forma geral, as preocupações na área de administração de materiais podem ser resumidas
em quatro itens fundamentais, que estão expressos a seguir:
21
Unidade I
C Compras P Pedidos
Registro do pedido/ordem de compra ou prestação de
Especificação correta dos pedidos de compra. serviço.
Avaliação, seleção e monitoramento dos fornecedores. Verificação da disponibilidade dos produtos requeridos
Definição das condições de compras: momento (quando), no estoque.
quantidade (quanto) e local de entrega (onde). Conferência do produto separado com ordem do
Definição das formas de pagamento. pedido solicitado antes de seu processo de expedição/
distribuição.
Acompanhamento do comportamento da demanda
juntamente com o estoque. Rastreamento e acompanhamento do pedido até o
momento da entrega ao cliente.
M Manutenção estoques D Distribuição
Cálculo dos níveis ideais de estoque.
Definição do modal de transportes em função das
Definição dos parâmetros de ressuprimento do estoque. disponibilidades e custos.
Monitoramento e controle dos níveis de estoques, bem Estudos de viabilidade de transporte intermodal.
como inventário físico‑financeiro.
Definição das melhores rotas e trajetos a partir de
Classificação dos materiais (curva ABC). cálculos de minimização de distância, tempo e custos.
Monitoramento da saída e da entrada de materiais. Cálculo dos custos de frete e tempo de transporte.
Definição de indicadores gerenciais.
A área de Compras é a que alimenta a organização. Os fornecedores devem ser selecionados por
alguns critérios específicos (por exemplo, pelas certificações de qualidade que possui). Além disso, o
gestor de materiais pode fazer visitas técnicas aos fornecedores habituais, com o objetivo de verificar
se eles produzem de forma condizente. Os fornecedores devem ser avaliados constantemente, no
que se refere à qualidade dos produtos que entregam, na pontualidade do atendimento e, também
um item muito importante, nas situações em que há uma necessidade urgente, como uma situação
de demanda inesperada.
Por outro lado, outros aspectos também devem ser avaliados com o devido cuidado: a especificação
correta dos pedidos de compra. O fornecedor deve receber a informação correta, para atender
corretamente o pedido. Outras definições, como as formas de pagamento e os prazos, devem ser
previamente acertados.
Outro aspecto a ser acompanhado pelo gestor de materiais é em relação aos pedidos que a empresa
recebe. Todo e qualquer pedido deve ser devidamente registrado. Antes de aceitar o pedido, a empresa
deve verificar se há disponibilidade do produto solicitado; se não houver disponibilidade imediata,
quando haverá, para que a entrega possa ser marcada com segurança. Além disso, todo pedido deve ser
expedido sob a fiscalização – direta ou indireta – do gestor e rastreado até a entrega ao cliente.
A manutenção dos estoques é fundamental. Há cálculos específicos para que isso possa ser realizado
com segurança, além de outros indicadores que serão abordados mais adiante.
22
RECURSOS MATERIAIS E PATRIMONIAIS
Outros conceitos importantes, como o Just in Time (JIT), o Kanban, entre outros, também
serão abordados na seção de Controle de Estoques, que complementarão alguns dos temas
abordados até aqui.
Completando os quatro itens, a distribuição deve e precisa ser acompanhada. A entrega adequada
do pedido ao cliente muitas vezes está relacionada à utilização correta de um determinado modal.
Via de regra há o transporte rodoviário para cumprir essa missão. Contudo, há regiões nas quais a
utilização de outro modal é necessária, como no interior do estado do Amazonas. Nesses casos, o estudo
antecipado de gastos extras com as entregas precisa ser desenvolvido para que a organização não arque
com eventuais prejuízos.
A seguir serão abordados alguns tópicos que o gestor de materiais e patrimônio deve ficar atento.
A administração moderna trouxe novos enfoques que poderão auxiliar na imagem da empresa no
mercado, além de produzir relações de confiança entre os colaboradores e clientes da empresa.
Um aspecto importante do qual nenhum gestor pode abrir mão é o respeito às responsabilidades
éticas e sociais. Sobre uma organização moderna, Marques (2017) afirma:
No mundo dos negócios cada vez mais está se falando sobre a questão
da ética. As empresas que querem ser bem-sucedidas e ter uma marca
reconhecida como confiável e honesta, estão orientando sua cultura
organizacional para um modelo ético que respeite os padrões morais
da sociedade.
Além das questões éticas, que envolvem negócios corretos, sem negociatas ou corrupção, o gestor
deve se comprometer com as questões da responsabilidade pessoal. Bortotto (2015) lembra:
Observe que a questão do respeito ao meio ambiente, que está embutido nas ideias de reutilizar e
reciclar produtos, ocupa uma área central nas responsabilidades das organizações com a sociedade.
Uma empresa que não se preocupa com esses fatores pode cair no descrédito e sofrer consequências,
como a desvalorização de suas ações no mercado (no caso de empresas com capital aberto).
23
Unidade I
A empresa ambientalmente responsável pode, por exemplo, obter a certificação pela norma
ISO 14000.
Um dos maiores problemas certamente é o da poluição, que exige ações corretivas e preventivas.
Barros (2013, p. 90) observa:
Em outras palavras, as ações precisam ter o viés da prevenção, mas também da correção, quando
necessário. Um gestor que trate de materiais e patrimônio em qualquer organização deve ter em
mente, sempre, que as responsabilidades éticas e sociais são relevantes e determinantes. E, numa ação
conjunta – se for o caso – com os gestores de finanças e da área produtiva, deve estimular as ações de
desenvolvimento sustentável, além daquelas que possam prevenir e, até mesmo, corrigir eventuais danos
ambientais, antes mesmo de provocados por qualquer órgão governamental. Tais ações certamente
valorizam a organização.
Lembrete
Saiba mais
24
RECURSOS MATERIAIS E PATRIMONIAIS
2.2.2 Qualidade
Outro aspecto importante ao qual o gestor de materiais e patrimônio deve estar sempre atento
é a qualidade. A qualidade deve ser observada em todos os aspectos da organização. Há programas
específicos de qualidade, conforme o tipo de organização.
• Indústrias alimentícias: as indústrias no ramo da alimentação podem ter a certificação pela norma
ISO 22000, que trata da gestão da segurança alimentar.
• Indústrias automobilísticas: baseada na norma ISO 9000 há a norma IATF 16949, que foi criada
por fabricantes mundiais de automóveis.
Pode haver, ainda, normas específicas para inúmeros setores. Contudo, há uma norma que trata da
gestão da qualidade como um todo, a ISO 9000, que pode ser desenvolvida em qualquer organização.
Uma das características é a ênfase no processo:
Portanto, a organização da empresa em processos que possam ser rastreados, além de fornecerem
subsídios para treinamento e avaliação de desempenho de pessoal, possibilita que a organização possa
racionalizar as suas atividades, através de um planejamento e de um controle mais eficazes, permitindo
uma certificação pela norma de qualidade ISO 9001.
25
Unidade I
De uma forma geral, e claro, sempre de acordo com as características da organização, o gestor pode
pensar em implantar normas de qualidade e normas ambientais que, em tese, podem ser adequadas a
qualquer tipo de atividade. Já as normas específicas dependem do segmento.
Resumo
Exercícios
Questão 1. O analista de demanda, também chamado de Demand Planning, toma suas decisões a
partir de feedbacks apresentados pelo time comercial de uma empresa. Diretores, gerentes, supervisores
e vendedores montam suas projeções de vendas baseando‑se na expectativa dos números de cada
um dos clientes individualmente, a partir dos quais se permite estimar os insumos, matérias‑primas
e produtos que serão necessários ao atendimento dessa demanda agregada. Além disso, o analista
de demanda também conta com feedbacks dos integrantes da área financeira e logística da empresa.
Os primeiros falarão sobre a capacidade que a empresa tem de adquirir materiais no curto, médio e
longo prazos, enquanto os demais apontarão as próximas chegadas e despachos de materiais. As pessoas
envolvidas no processo de demanda de uma empresa acabam por integrar‑se com muitas outras áreas
da companhia, seja de forma direta indireta. Essa integração também é conhecida por:
26
RECURSOS MATERIAIS E PATRIMONIAIS
A) Visão sistêmica.
B) Visão holística.
C) Visão geral.
D) Visão localizada.
E) Visão generalista.
A) Alternativa correta.
Justificativa: a visão sistêmica permite que diversas áreas possam criar conexões e integrações,
permitindo que, além de eficaz, a gestão de materiais e patrimônio seja eficiente.
B) Alternativa incorreta.
C) Alternativa incorreta.
Justificativa: a visão geral permite que se observe tudo o que se necessita, no entanto, o nome
correto do conceito nem se assemelha à visão geral.
D) Alternativa incorreta.
Justificativa: a visão localizada não está correta, primeiro pelo uso da palavra, o que nos permite
intuir que a questão está errada. Uma visão localizada, sem integração, certamente não seria ideal em
um processo que envolve diversas áreas da companhia.
E) Alternativa incorreta.
Justificativa: o termo “visão generalista” não aparece em nenhum momento dos estudos de gestão
de materiais e patrimônio.
grandes contas, a saber: Conta de Transições Correntes, Conta Capital e Conta Financeira. A Conta de
Transações Correntes é onde é contabilizada, por exemplo, a balança comercial de bens, enquanto a
Conta Capital e a Conta Financeira é onde são alocados, por exemplo, a venda internacional de direitos
autorais e a venda de ações e títulos públicos, respectivamente. Segundo a definição de bens tangíveis
e intangíveis, é correto que se atribua às contas de Transações Correntes (balança comercial), Capital e
Financeira a contabilidade dos seguintes bens:
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