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SEMINÁRIO II

Discente: Almando Storck Junior. Matricula: 17.2.5943


Docente: Nina Caetano.
Disciplina: Arte e Contemporaneidade.

Arte contemporânea e as relações obra/artista/espectador,


instituição artística, mercado e academia:
Manifesto de um corpo-coisa1.

O vazio das relações mediadas pela arte é latente, potente e urgente. Sua latência está
no não-dito e no não-visto, mas no sempre-sentido. O corpo fenomenal na arte contemporânea
é o grande canalizador e roteador de significações, onde tudo conflui e dispersa signos e
sentidos. O vazio latente é o lugar entre, onde as barreiras do inimaginável e da imaginação são
bem quistas, “romper limites é adentrar espaços, possibilitando a troca entre esferas diferentes,
distintas” (BERNSTEIN 2003, p. 379). Potente pois sua força reside exatamente onde a lógica
cartesiana não acede suas significações e reverberações, mesmo que se force a tal. É no encontro
dos corpos como acontecimento que sua vigorosa potência encontra lugar para habitar, mesmo
que temporariamente, significados e rel[ações]. É potente porque a barbárie dos corpos-contra
não acessa o não-lugar da arte hoje, sua potência está no que ainda está-por-vir. Urgente como
um corpo-coisa numa antessala de emergência de um hospital público no Brasil: sirenes, gritos
e socorro... a arte é mais um corpo-coisa agonizando. Aquelas pessoas que deveriam prestar
um atendimento urgente olham de soslaio com medo e desdém. Medo este advindo de um
discurso, e uma práxis, superior sobre a periculosidade deste corpo-coisa: sua existência já é
algo a se temer. A certeza é grande arma contra o corpo-coisa. Interrogações pra quê? Pra
quem? O corpo-coisa se esvai da sua aura monstruosa2: o que antes consideravam seu fluxo
pulsante de existência dá lugar ao vazio. O corpo-coisa não tem mais valor3, tem valores...

1
“1) Coisa pode ser o termo de um ato de pensamento ou de conhecimento, de imaginação ou de vontade, de
construção etc. Pode-se falar de uma coisa que existe na realidade como também de uma coisa que está na
imaginação, no coração, nos sentidos etc. Assim, pode-se dizer que, nesta acepção, coisa significa um termo
qualquer de um ato humano qualquer ou, mais exatamente, qualquer objeto com que, de qualquer modo, se deva
tratar. É o significado contido na palavra grega pragma. 2) No seu significado mais restrito, a coisa é o objeto
natural também chamado de "corpo" ou "substância corpórea"” (ABBAGNANO 2007, p. 149).
2
“Essa aura depende muito mais de uma rede de agentes que dá à obra e ao artista o valor agregado necessário
para despertar o interesse do público consumidor. Isto é, a aura da obra artística não resulta apenas do esforço
estético realizado pelo artista durante a criação. Ela resulta da intervenção de um mercado artístico que se guia não
apenas por fatores estéticos, mas principalmente por motivações de ordem econômico/comercial” (BARRIGA;
GARCEZ 2007).
3
“[...] pode-se considerar valor tudo aquilo que, em qualquer das esferas e em relação com a situação de cada
momento, contribua para o enriquecimento dos componentes essenciais do homem” (HELLER apud BARRIGA;
GARCEZ 2007).
cifrados, morais, estéticos, relacionais. O seu valor como ausência de valores já não vale, é
preciso mais que nada para que se tenha cifra($). O capital quer tudo, todas, todes e todos a sua
servidão. Acontece que parte deste corpo-coisa é composto por uma grande quantidade dos
corpos de todas, todes e todos “cidadãs-cidadãos/artistas em diálogo com o mundo”4 não a
vontade contra essa servidão ao capital. É preciso afirmar com veemência: o capital é um
homem, branco, cis e heterossexual, mesmo que de aparência ou de discurso. O contrato de
servidão do corpo-coisa com o capital se rompe na medida em que ele inclui um terceiro
excluído, “o contrato pressupõe, em princípio, consentimento livre das partes contratantes e
determina entre elas um sistema de direitos e deveres recíprocos; não pode afetar uma terceira
parte/pessoa e é válido por um período limitado”5.
Este não-lugar ocupado pelo corpo-coisa é antes um espaço geográfico dos afetos do
que um local visual-não-visível das ações, “esses espaços não são senão aquele resto,
emudecido, da experiência quotidiana que a instrumentalidade do capital ainda não conseguiu
obliterar de tudo, simplesmente porque a sua singularidade não foi ainda percebida enquanto
tal” (BASULADO 2002, p. 235). O local da antessala do hospital abre espaço para a sala de
emergência: o que fazer com este corpo-coisa que agoniza, onde todas as pessoas veem e ouvem
temerárias e passivas perante tal acontecimento? Sim, a morte do corpo-coisa é um espetáculo,
um acontecimento6. O que as pessoas e instituições estabelecidas não desconfiavam é que do
vazio se nasce o outsider do corpo-coisa: a morte é sempre o início de outra vida, vida não mais
estabelecida, não mais dependente das referências e reverências externas, o corpo-coisa agora
é sua obra-citação-referência-ABNT e (Drag?) Queen reinante. Corpo remendado, costurado e
maltratado, quase a figura de Shelley. (R)existe de sua própria negação como coisa, utilizando
de suas entranhas e ferimentos expostos como material artístico, “a simples participação dos
trabalhos feitos com materiais precários nos círculos fechados de arte, provoca a contestação
desse sistema em função de sua realidade estética atual” (BARRIO 2016, p. 141). O corpo-
coisa agora não quer mais viver como representação de algo ou alguém, ou como um simples
espetáculo. Ele é agora o corpo-vazio, sem órgãos (CsO) e reordenado para seu próprio interesse
e prazer. Sua auto-referencialidade é sua grande chama da qual renasceu, como uma fênix, da
sua falta de atendimento na antessala de emergência de um hospital público no Brasil.

4
(BARRIGA; GARCEZ 2007).
5
“the contract presupposes in principle the free consent of the contracting parties and determines between them a
system of reciprocal rights and duties; it cannot affect a third party and is valid for a limited period.” (DELEUZE
1991, p. 77).
6
“[...] o acontecimento é o que vem de fora, o que surge, o que acontece, o que se produz, o excepcional que se
desconecta da duração” (QUÉRÉ 2012, p. 21).
REFERÊNCIA

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 5ª Ed. São Paulo. Martins Fontes, 2007.
BARRIGA, Merle Ivone; GARCEZ, Rodrigo. O Mercado da Performance. In MEDEIROS, Maria
Beatriz de; MONTEIRO, Marianna Francisca Martins (org.). Espaço e Performance. Brasília/DF.
Universidade de Brasília. 2007.
BARRIO, Artur. Dossiê Artur Barrio Textos, manifestos e um "texto mais recente". Revista Visuais.
Nº 2, V. 2. 2016. Disponível em <
https://www.publionline.iar.unicamp.br/index.php/visuais/article/view/547/pdf>. Acesso no dia 11
de maio de 2019.
BASUALDO, Carlos. Contra a Eloqüencia: Notas Sobre Barrio, 1969-1980. Em: CANONGIA, Ligia
(org.). Artur Barrio. Rio de Janeiro/RJ. Petrobrás. 2002, p. 233-237.
BERNSTEIN, Ana. Marina Abramovic – do corpo do artista ao corpo do público. In SUSSEKIND,
Flora; DIAS, Tânia; AZEVEDO, Carlito. Vozes femininas: gêneros, mediações e práticas da escrita
(org.). Rio de Janeiro/RJ. 7 Letras: Fundação Casa Rui Barbosa. 2003, p. 378-402.
DELLEUZE, Gilles. Coldness and Cruelty, New York. Zone Books. 1991.
QUÉRÉ, Louis. A dupla vida do acontecimento: por um realismo pragmatista. In FRANÇA, Vera
Regina Veiga; OLIVEIRA, Luciana de (orgs.). Acontecimento: Reverberações. Belo Horizonte-MG.
Autentica. 2012, p. 21-38.

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