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Memórias de um Sargento contra as Milícias – 3

Edmar Roberto Prandini


edmarrp@yahoo.com.br
Maio de 2019

Que tipo de criminosos Argento teria afrontado? Argento jamais havia roubado ninguém.
Jamais havia agredido nenhuma pessoa. Sim, estava num escritório de advocacia para abrir
um processo de indenização por danos morais e materiais contra um banco que lhe havia
negativado seu nome no Serasa, como se tivesse deixado de pagar o financiamento de seu
carro, um carro popular, motor 1.0. Mas, dois ou três meses antes, o próprio banco já lhe
havia encaminhado o termo de quitação do financiamento e sequer havia mais gravame com
alienação do veículo.

Por que, então, o banco, meses depois, negativou seu nome? Na verdade, que funcionário
do banco usou dessa artimanha para restringir as ações de Argento ciente de que ele não
tinha mais aquela dívida?

Mas, Argento resolveu abrir um processo pedindo indenização ao banco. Afinal, ele não
podia imaginar que um funcionário bancário pudesse intencionalmente lançar mão de
informações do banco para causar-lhe prejuízo no comércio da cidade. E, pela lei, o banco
era o responsável, ainda que o funcionário agisse de má-fé. Contra Argento e contra o
banco. Mas, naquele momento, Argento não podia imaginar que houvesse um bancário tão
mal intencionado que desprezasse os mínimos procedimentos internos da instituição
bancária apenas para criar impedimentos a que Argento pudesse fazer compras no mercado
local. Então, ele apenas pensava que fosse mesmo um erro do banco.

Não cogitou chamar a polícia para investigar um possível bancário que lhe quisesse causar
danos usando das informações de um financiamento bancário quitado.

Então, foi ao advogado para acionar o banco. Processo simples. As provas eram evidentes.
Havia a carta de quitação do financiamento. O documento de propriedade do veículo sem
nenhuma restrição de posse, sem alienação. E, o documento do Serasa informando a
negativação do seu CPF por uma cobrança de dívida inexistente. Mais, a demonstração de
uma aquisição que ele tentou fazer mediante operação de crédito rejeitada porque seu CPF
estava negativado.

Processo simples, todas as provas, Código do Consumidor. Juizado Especial, Pequenas


Causas.

Argento venceu a causa. O banco indenizou. Mas, foram três anos. Três anos de um
processo no Juizado Especial de Pequenas Causas, que deveria demorar três meses. Ou
quatro. Meses. Não, foram anos. Argento recebeu uma indenização, uma parte para os
honorários dos advogados. Líquido, Argento recebeu uns 12 mil reais, porque em Geodésio,
herdara-se a mesma moeda do Brasil. Na verdade, quase todas as leis também.
Geodésio havia organizado seu movimento separatista, mas não havia tido tempo para criar
um novo ambiente legal ainda. Então, usava parte das leis brasileiras. Mas, apenas parte.
Outra parte, quando estabelecia limites aos poderes dos governantes, ou aos secessionistas
que haviam organizado a rebelião separatista, não. Os governantes de Geodésio não
permitiam nenhum tipo de questionamento ao seu poder. Eles se conheciam muito bem.
Afinal, Geodésio era territorialmente extenso, mas a população pequena. Menos do que São
Paulo capital, Rio de Janeiro, Belo Horizonte. Toda a população de Geodésio era menor do
que aquela das principais cidades brasileiras. Então, nos casamentos dos ricos, todos eles
se viam. Nos noivados, nos aniversários, nas escolas particulares. Seus filhos estavam
sempre juntos. Não importava que tivessem uma ou outra desavença, uma ou outra
divergência: Geodésio tinha uma elite que sabia bem os limites da segregação: quem estava
dentro e quem estava fora do clube. Uma ou outra divergência servia para animar a
discussão nos encontros, festas e passeios. Mas, nenhuma divergência tinha substância.

Argento vinha de fora. Não era do clube. Nem sabia que o clube existia. Mas, defendia
democracia. Direitos Humanos. Justiça Social. Essas utopias e ilusões dos progressistas
políticos. Então, negativaram seu nome. Seu CPF. Ele não podia circular em Geodésio, Não
podia comprar o que quisesse. Quando quisesse. Como não sabia do clube, foi ao
advogado. Achava que Juizado de Pequenas Causas funcinasse como no Brasil. Não era
ideal, mas em alguns meses, uma causa simples estaria concluída. Mas não era o Brasil. E
não que o judiciário brasileiro pudesse ser chamado de veloz. Mas, Geodésio, o que seria
para ter conclusão em três, quatro, seis meses, levou três anos.

Mas, não bastava negativar seu nome e CPF. Não bastava retardar a conclusão do processo
judicial. Como Argento opôs-se e ingressou na justiça, então, enquanto estava no escritório
da advocia, seu carro que estava estacionado na Avenida Geodésio, pouco antes de uma
importante escola dedicada a um presidente ditador do Brasil, invadiram seu carro.
Arrancaram lâmpadas do teto do carro. Quebraram, sairam, deixaram o carro. Não eram
ladrões de carros. Era um aviso: Argento não podia exigir direitos. Argento não era aceito em
Geodésio. Argento teria sua vida financeira atrapalhada. Seu direito postergado. Suas
compras roubadas. Seu carro quebrado. Seu nome negativado.

Argento só podia ser agredido em seus direitos, sem reclamar. Calar-se. Sofrer e subordinar-
se. Mas, Argento tinha dignidade. Então, entrou com o processo na justiça. Invadiram seu
carro mais duas vezes. Quebraram mais peças. Prejuízos financeiros. Nunca roubaram o
carro. Para que iriam querer roubar um carro popular? Um modelo popular, daqueles
básicos, que o Brasil tinha isentado o IPI para os pobres poderem comprar? Não era o carro
que queriam. Argento tinha que entender que o que queriam era sua subordinação, sua
humilhação, era o açoite.

Três vezes invadiram seu carro e quebraram peças. Três vezes, esvaziaram pneus do carro.
Para atrapalhar a vida do Argento.

No regime de segregação de Geodésio, Argento tinha que se comportar como os negros


americanos impedidos de entrar nos restaurantes. Impedidos de sentar-se nos ônibus.
Geodésio se inspirava nos escravocratas dos estados sulistas da “América”.

Argento procurou a polícia. Fez boletins de ocorrência. Sim, no plural. Vários. Por
quebrarem seu carro. Por grampearem seu telefone. Por invadirem sua casa. Por invadirem
a internet. Mas a polícia não queria registrar os fatos que ele narrava. O policial lhe
perguntou:

- o senhor quer me ensinar a fazer meu trabalho?


- o senhor acha que tem o direito de ficar nervoso?
- o senhor vai desrespeitar a autoridade policial?
- o senhor quer ser preso?

Os boletins de ocorrência não serviram para nada. O policial lhe disse: “menor potencial
ofensivo”. Desprezo. Não importava que fosse perseguição. Era perseguição do clube contra
Argento. Melhor subordinar-se. Não reclamar. Que policial iria investigar o clube? Mais tarde,
Argento soube que os coronéis da Polícia Militar tinham uma central de escuta telefônica
clandestina. Ilegal.

Argento acreditava na polícia. Mas a polícia era parte do crime. A elite da polícia era do clube
da elite de Geodésio.

Com quem Argento podia contar?

E o bancário? Que negativou seu CPF? Quem era aquele bancário que queria atrapalhar a
vida de Argento? O que teria contra Argento?

Será que um dia Argento descobriria quem era o tal bancário? E o motivo pelo qual o
bancário queria atrapalhar a vida de Argento?

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