A corrente filosófico-religiosa dita “Nova Era” está sempre em foco, suscitando novas e
novas interrogações. Em 1993, foi publicado em português o volume “Compreendendo a Nova
Era”, da autoria de Russell Chandler, escritor-jornalista do Los Angeles Times.¹ Impressionado
pelo movimento religioso norte-americano, R. Chandler resolveu pedir oito meses de licença ao
seu jornal para estudar a fundo o fenômeno “Nova Era”. Aproveitou então esse tempo para
fazer uma pesquisa extensa e profunda, entrevistando pessoas, lendo obras, assistindo a
palestras …, que lhe permitiram escrever o volume em pauta. – Realmente, a obra de R. Chandler
fornece informações múltiplas e preciosas sobre a Nova Era. Eis a razão pela qual a utilizaremos
nas páginas subsequentes para abordar o assunto já considerado em PR 379/1993, 554-572.
Dada a atualidade do tema e o interesse dos leitores por claras notícias a respeito, pode-se Ter
como oportuna mais uma apresentação do assunto enriquecida por dados novos.
Quando, no verão de 1987, planejei escrever um livro que fizesse sentido acerca do
amorfo movimento da Nova Era, isso também pareceu-me uma tarefa desencorajadora. Havia
tantas peças e pedacinhos. Havia fronteiras incertas. Havia sempre novas esferas de atividade.
Havia um elenco giratório de personagens (…)
Apesar de estar tão em moda, é muito difícil definir a Nova Era, pois suas fronteiras são
imprecisas. Trata-se de um caleidoscópio sempre em mutação de “crenças, hábitos adquiridos
e rituais”, conforme a revista Time observou com razão em seu artigo de fundo da edição de 7
de dezembro de 1987, New Age Harmonies” (pp. 15-17).
O autor assim esboça o que seja Nova Era: é um amálgama ou uma confluência de várias
correntes de pensamento heterogêneas, que têm ao menos um fio condutor comum: a recusa,
um tanto confusa e irracional, do pensamento e dos valores convencionais, em favor de certas
posturas teóricas e práticas novas (novas, porque “provenientes do além” ou do
aprofundamento de elementos misteriosos). Daí a expressão “Nova Era”. Mais precisamente:
estaríamos na transição da Era de Peixes (era colocado sob o signo de peixes) para a Era de
Aquário ou Aguadeiro (jovem que traz um cântaro de água que ele vai derramar em sinal de
bênção, conforme o Zodíaco e a Astrologia).
E quais seriam os elementos que confluem na Nova Era? – Podemos recensear sete
deles.
O Pensamento Hindu
Predomina nas expressões da Nova Era o hinduísmo, muito voltado para a mística e o
invisível – o que corresponde a um anseio do homem ocidental; vários mestres budistas têm
feito escola no Ocidente, como também muitos cidadãos ocidentais têm ido procurar na Índia
alguma resposta para as suas aspirações.
“O antigo paradigma que divide, separa e analisa, precisa de ser descartado – até mesmo
apagado de forma terminante – para que seja aberto espaço para a nossa suposta unidade entre
a realidade e o divino. Tudo é Uno; Deus é Tudo, e Tudo é Deus. A humanidade é endeusada, a
morte é negada, e a ignorância – e não o mal – passa a ser o inimigo” (p. 37).
Nossa Senhora do Rosário estaria falando através de Verônica Leuken, uma católica
ultra-tradicionalista. A Virgem SS. Teria revelado que o Pe. Teilhard de Chardin S. J. (+ 1955) se
acha no inferno e que o presidente John Kennedy está no purgatório “por não Ter manuseado
direito a crise dos mísseis em Cuba” (p. 102).
“Os prostantes conservadores geralmente identificam as entidades canalizadas com
maus espíritos ou demônios. De acordo com este ponto de vista, as entidades são reais, mas
mentem para as pessoas” (p. 105).
Há, porém, quem julgue que “os médiuns estão ludibriando propositalmente os seus
clientes, a fim de obterem fama ou lucro ou ambas as coisas”” (p. 106).
Um médium da Nova Era, Darryl Anka, “afirma que foi o primeiro a detectar Bashar, um
ser extra-terrestre proveniente da constelação de Órion, quando ele (Anka) e alguns amigos
puderam ser fisicamente, em plena luz do dia, de perto, a nave de Bashar sobre Los Angeles” (p.
111).
“Ruth Norman, de oitenta e seis anos de idade, a quem o People’s Weekly chamou “a
grande dama dos espíritos da Nova Era”, é proprietária de sessenta e sete acres nas imediações
de San Diego da Califórnia, onde, no ano de 1002, ela espera que aterrissem trinta e três
espaçonaves interligadas, cada qual trazendo mil habitantes de outros planetas, inaugurando
assim a era de UNARIUS (Universal Articulate Interdimensional understanding of Science)”
(People Weekly, 26/01/1987, p. 31).
“No livro Out on a Limb, Shirley MacLaine “vê” veículos cheios de seres extraterrestres.
Esses estariam mencionados no livro do Êxodo, quando “o povo hebreu saiu do Egito e
atravessou o Mar Vermelho” (14,19-22); e também percebe uma espaçonave na visão das rodas
do profeta Ezequiel (Ez 1-10)” (p. 111).
“Uma pesquisa da Gallup, feita em 1987, mostrou que 50% dos americanos acreditam
na existência de discos voadores – a mesma proporção dos que crêem que os seres
extraterrestres são reais – e uma em cada dez pessoas disseram que já tinham visto algo que
pensavam ser algum OVNI” (p. 112).
Mas os relatos de seres malévolos também têm aparecido aos montões. O livro Communion, do
escritor de fantasias Whitley Strieber, esteve entre os títulos mais vendidos no verão de 1987.
A sinistra estória, que Strieber insiste ser veraz, é seu relato de Ter sido sequestrado para o
interior de uma espaçonave por uma horda de alienígenas com 90 cm de altura” (p. 112).
George King, o inglês que é a luz orientadora da Sociedade Aetherius, sediada em Los
Angeles, afirma ter entrado em contato com o “Mestre Jesus” e com uma multidão de
inteligências espaciais. E prediz que um “Novo Mestre” virá “em breve e publicamente em um
disco voador” (p. 115).
“Também há o culto Bo and peep, algumas vezes chamados de “Os Dois”. Em meados
da década de 1970, essa misteriosa dupla proclamou que, para escaparem da vindoura
catástrofe, os crentes precisavam vender tudo, abandonar seus familiares e amigos e não se
desgrudar de Bo and Peep, até que espaçonaves, descendo à Terra, sugassem-nos todos para a
segurança em um redemoinho astral” (p. 115).
Medicina Alternativa
A Nova Era fala de “saúde holística”, ou seja, a saúde que envolve todo o homem em
seus aspectos físico e espiritual. O pressuposto aquariano do holismo aplica-se também a este
setor, e leva a crer as doenças têm fundo psíquico, devendo-se a falso acúmulo de energias;
consequentemente, podem ser curadas pela sugestão, por placebos e pela emissão de energias
saudáveis.
“De acordo com a medicina oriental, a dor é entendida não como um sintoma, mas como
um acúmulo de energia em algum local do corpo, energia essa que, se for corretamente
redistribuída, poderá restaurar a saúde e equilibrar harmonicamente o corpo. A energia –
energia psíquica – corrige ou equilibra as incorreções orgânicas” (p. 206s).
Além disso, várias outras táticas são aplicadas pela medicina holística:
– a reflexoterapia, que, efetuando massagens sobre pontos precisos dos pés, produz
rápido alívio nas partes do corpo em que isto se faça necessário;
“O Dr. Wayne Oates, professor e autor, publicou os resultados de treze estudos sobre
pacientes onde um grupo de pacientes com dores crônicas recebeu apenas pílulas açucaradas,
enquanto outro grupo recebia medicação para aliviar as dores. Trinta e cinco por cento dos
pacientes que não tomaram remédios, tiveram um alívio de, pelo menos, metade da dor,
porquanto tinham acreditado que estavam recebendo os medicamentos certos” (p. 212).
“O psicólogo de Nova Iorque, Larry LeShan, conta acerca de uma mulher que lhe
telefonou pedindo que realizasse uma cura a longa distância naquela noite. No dia seguinte, ela
tornou a telefonar e disse que seu alívio havia sido imediato. Mas LeShan esquecera-se de
efetuar a cura!” (p. 212).
“Esforce-se por retratar mentalmente o câncer”, diz a voz do doutor em uma figura
gravada usada para instruir os pacientes. “Imagine as células brancas do sangue de seu corpo –
um vasto exército que foi posto ali para eliminar as células anormais (…). Veja esses fagócitos
atacando as células cancerosas e levando-as para fora (…). Veja como o câncer está encolhendo
… Veja como você está cada vez mais bem sintonizado com a vida” (Jonathan Kirsch, Can Your
Mind Cure Cancer? em New West Magazine, 3/01/1977, p. 40).
Gnosticismo
Gnosticismo é uma corrente filosófico-religiosa que data dos séculos III/IV d.C. e que se
vem propagando, sob modalidades diversas, até nossos dias. Tem por base a convicção de que
o conhecimento (gnosis) salva o homem; trata-se, porém, de um conhecimento oculto,
reservado aos iniciados; quem o consegue, faz parte de uma elite, que é muito superior ao
comum dos homens:
Cristianismo
Este caráter eclético da Nova Era explica que tal corrente não tenha uma chefia única,
uma organização central e uma sede de governo permanente.
“Ninguém fala pela inteira comunidade da Nova Era, disse Jeremy P. Tarcher, porta-voz
de uma firma de Los Angeles que publica livros da Nova Era. “Dentro do movimento não há
unanimidade sobre que defini-lo, nem há uma coesão significativa que nos permita chamá-lo de
movimento” (New Age as Perennial Philosophy, em Los Angeles Times Book Review, 7/02;1988,
p. 15)” (p. 31(.
Concepções Políticas
A Nova Era, segundo a sua visão holística do mundo, quer unificar politicamente os
povos da terra; consoante esse modo de ser, “tornar-se-iam obsoletas as fronteiras nacionais.
Assim, a agenda da Nova Era requer uma emergente civilização mundial e um único governo
central, incluindo impostos planetários e as Nações Unidas como a única agência central de
governo” (p. 38).
Essa unificação é baseada no pressuposto de que “os seres humanos estão ficando cada
vez melhores, numa ordem bem mais elevada e interligada” (p. 242).
“Satin propõe um sistema de orientação planetária tão completo que inclui até mesmo
um serviço de taxação para ajudar a redistribuir riquezas às nações mais pobres. Em seu modelo
político, não há lugar nem para o socialismo nem para o capitalismo – esse tipo de questões
deveria ser decidido pelas comunidades locais -mas antes uma economia orientada para a vida,
composta principalmente de empreendimentos de escala humana” (p. 249).
São estes os principais traços de pensamento e ação que convergem para formar o
amálgama da Nova Era. Vê-se que está longe de ser uma mensagem unitária; por ter muitas
facetas (nem sempre compatíveis entre si), pode recrutar adeptos dos mais diversos tipos.
“A Nova Era realmente tem influenciado cada faceta da vida contemporânea. Seus
propagandistas e suas crenças geralmente são visíveis em nossos aparelhos de televisão, no
cinema, em horóscopos impressos ou em lojas locais de alimentos naturais. Até mesmo
programas esportivos e de ginástica, de treinamento, de motivação, de aconselhamento
psicológico e de aulas religiosas servem de canais frequentes para as noções da Nova Era (…)
Uma pesquisa da Nothern Illinois University também anunciou que mais da metade dos
americanos pensa que seres extraterrestres têm visitado a Terra, uma crença corrente em
muitos círculos da Nova Era” (p. 23).
Examinemos agora
O surto da corrente eclética dita “Nova Era” foi preparado de perto pela teosofia, escola
de pensamento hindu fundada pela Sra. Helena Blavatsky (+ 1891) e desenvolvida por Annie
Besant (+ 1933). A Sra. Alice Bailey (+ 1945) pôs a mão final nessa herança oriental.
“Parece que quem cunhou o nome “Nova Era” foi Alice Bailey, o qual é usado
reiteradamente em seus escritos. Mas a grande popularidade da expressão aconteceu somente
depois que a “Nova Era” foi associada à música título do musical de 1960, Hair, designada “Age
of Aquarius” (p. 57).
1. Embora conste de correntes de pensamento variadas, a Nova Era, âmago vem a ser a
rejeição do pensar filosófico e religioso tradicional para dar lugar a concepções e práticas novas,
um tanto misteriosas e irracionais; daí o adjetivo Nova que qualifica a fase de tempo (Era)
aguardada para breve ou para a época subsequente ao signo de Peixes no Zodíaco. A resposta
de Nova Era aos anseios do homem tem um quê de fantasioso e mágico, pois se deriva de forças
ocultas e de comunicações do além.
Este fato leva a refletir seriamente. O senso religioso dos homens ocidentais não se
extinguiu, como proclamava a Teologia da morte de Deus na década de 1960, mas vai procurar
em fontes novas, pouco lógicas, a sua mensagem.
2. Que terá acontecido nos países ocidentais, geralmente berçados pelo Cristianismo? –
Sejam ponderados os seguintes fatos:
a) O século XX foi certamente uma era convulsionada; marcada por duas guerras
mundiais (1914-18 e 1939-1945, respectivamente), das quais a segunda causou 55 milhões de
mortes; até hoje sentem-se as conseqüências da grande desordem assim acarretada (tenham-
se em vista as lutas na ex-Iugoslávia e na ex-URSS). Seguiu-se a descolonização na África e na
Ásia, com os conflitos daí decorrentes a repercutir também no Ocidente (migração de africanos
e asiáticos para a Europa e a América). Muitas esperanças desfizeram-se, muitos valores
desmoronaram, muitas pessoas foram, e estão sendo, deslocadas.
e) Verifica-se que até mesmo o Cristianismo clássico foi afetado pelas ondas do
pensamento moderno no que este tem de negativo: o secularismo ou uma predominante
preocupação com as estruturas temporais (sociais, econômicas e políticas) deste mundo
contribui para esvaziar o Cristianismo dos seus valores mais típicos ou dos seus aspectos
transcendentais. A “teologia da morte de Deus”, também dita “Cristianismo sem Deus” ou
“Cristianismo arreligioso”, proposta por autores das décadas de1940-1960 (Dietrich Bonhoeffer,
Harvey Cox, John Robinson, Altizer, van Buren…), embora já tenha feito sua onda, deixou
marcas; estas se refletem ainda nas modalidades extremadas da Teologia da Libertação, que
persiste até nossos dias, colocando em eclipse a autêntica mística cristã, para enfatizar
proposições e realizações de ordem material.
Pode-se notar, outrossim, que, por vezes, o senso religioso se transfere para o culto de
valores meramente humanos tidos como sagrados ou quase sagrados: os direitos do homem
(em lugar dos direitos de Deus), a conservação da natureza ou a ecologia (com a veneração da
Mãe-Terra), as reivindicações da Amnesty Internacional e o culto à raça (…)
É interessante o comentário que Jean Vernette faz ao popular religioso de nossos dias:
“O atrativo das novas gnoses me o fascínio do maravilhoso revelam o pânico de uma sociedade
altamente industrializada que se tornou incapaz de oferecer um sentido da existência apto a
convencer os homens.
Todavia, essas modalidades de crer não têm a firmeza de uma fé consistente. Por exemplo, a
astrologia liberta da angústia existencial porque parece oferecer certo domínio sobre o futuro.
Mas, dado que as previsões não são sempre garantidas com certeza, as pessoas acreditam e não
acreditam nelas. Um traço de flou ou vago caracteriza esse tipo de religiosidade” (art. Citado,
Esprit et Vie, 13/03/86, p. 150). ¹
Pergunta-se agora:
O Papa Paulo VI afirmou que o Espírito Santo fala, às vezes, pelos ateus. Por que não estaria
falando através do vasto surto religioso, um tanto emotivo e ilógico, de nossos dias?
Na base desta premissa, podemos dizer que a religiosidade ardente de nosso tempos não deve
ser menosprezada, como se fosse uma onda vazia, mas há de ser tida como um apelo da
sociedade contemporânea aos fiéis católicos. O Evangelho conserva hoje a força e a capacidade
de atrair que tinha nos primeiros séculos: perseguido pelo Império Romano, conseguiu vencer
as pressões sem ter dinheiro nem armas, mas unicamente pelo poder de convicção da verdade;
a beleza da mensagem cristã calou fundo no coração dos homens pagãos, a tal ponto que
Tertuliano (+ 220) escrevia: “A alma humana é naturalmente cristã”.
Em nossos dias, portanto, o Evangelho, vivido durante quase vinte séculos pela Igreja de Cristo,
há de poder responder aos anseios do homem moderno. Pergunta-se, porém: será que os
cristãos creem no valor e na “loucura” do Evangelho, como as primeiras gerações acreditavam?
Não faltará aos fiéis católicos a têmpera convicta e corajosa que animava os antigos cristãos? O
fenômeno religioso fervilhante e desorientado de nossos tempos não será o indício de que existe
uma lacuna no coração dos homens, que somente a Igreja pode preencher? O homem de hoje
é sequioso do Transcendental, como os pagãos eram sequiosos; não estará faltando quem
comunique a esses irmãos a Palavra que Deus revelou precisamente para atender aos anseios
de todo homem?
Impõem-se, a quanto parece, a resposta positiva a estas perguntas; é forçoso reconhecer que
os fiéis católicos poderiam ser mais ardorosos na transmissão da mensagem que eles receberam
de graça para comunicar de graça … Donde deduzimos as seguintes conclusões:
1) Faz-se mister anunciar o Evangelho – o que, aliás, sempre foi um dever dos fiéis católicos. Eis,
porém, que as circunstâncias atuais o exigem com três modalidades importantes:
– com segurança e firmeza (o que não quer dizer em atitude polêmica ou agressiva). O homem
moderno estima convicções sólidas e corajosas. Não basta falar, mas é preciso falar com
persuasão. São Paulo não recorria aos artifícios da retórica quando pregava e escrevia, mas
exprimia-se com o calor de quem sabe o que diz e ama a verdade proferida; isto o tornou o
grande arauto da mensagem cristã;
– de maneira que toque não só a inteligência, mas também os afetos e os anseios do ser
humano. É preciso saber falar ao coração do homem, já que hoje as emoções e os sentimentos
desempenham importante papel na vivência religiosa.
2) Faz-se necessário cultivar e expor também o aspecto místico da vida cristã. A experiência de
Deus se faz na oração e pela oração. O mundo de hoje procura lugar de silêncio e retiro, onde a
pessoa se recomponha da vida dilacerada e agitada que leva. O catolicismo tem bela tradição
mística, codificada nas obras de mestres famosos: carmelitas, inacianos, beneditinos… É para
desejar, porém, que não se confundam estados psíquicos paranormais ou anormais com dons
místicos ou graças de oração; em vista disso, é preciso que se enfatize o papel da inteligência e
do raciocínio no progresso espiritual; a fé não é sentimento cego, mas é um ato da inteligência
movida por credenciais ou por motivos que justifiquem logicamente o ato de fé.
3) Espera-se dos fiéis católicos um testemunho não só de palavras, mas também de vida. Uma
conduta indefinida ou incoerente anula os efeitos da pregação. O secularismo é morte para o
Cristianismo; Deus há de ser manifestado com toda a lucidez por quem nele crê.
O fiel católico que se dispuser a tal testemunho, entregará a Deus a frutificação dos seus
esforços, de acordo com a Palavra do Apóstolo: “Eu plantei, Apolo regou, Deus deu o
crescimento” (1Cor 3,6). De resto, a experiência ensina que, onde há vivência plena do
Catolicismo a se irradiar em zelo pastoral assíduo, as pessoas deixam de ser atraídas por seitas
e novos movimentos religiosos, pois a sua sede de Deus e do Absoluto lhes é adequadamente
saciada.
À guisa de complemento, vai aqui publicado um trecho de carta escrita por São Francisco Xavier
(1506-1552), missionário na Índia, a S. Inácio de Loyola:
Desde que aqui cheguei, não parei um instante: visitando com freqüência as aldeias, lavando na
água sagrada os meninos ainda não batizados. Purifiquei, assim, grandíssimo número de
crianças que, como se diz, não sabem absolutamente distinguir entre a esquerda e a direita.
Estas crianças não me permitiam recitar o Ofício Divino nem comer nem dormir, enquanto não
lhes ensinasse alguma oração; foi assim que comecei a perceber que destes é o reino dos céus.
À vista disso, como não podia, sem culpa, recusar pedido tão santo, começando pelo
testemunho do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinava-lhes o Símbolo dos Apóstolos, o Pai-
nosso e Ave-Maria. Observei que são muito inteligentes, e, se houvesse quem os instruísse nos
preceitos cristãos, não duvido de que seriam excelentes cristãos.
Nestas paragens, são muitíssimos aqueles que não se tornam cristãos, simplesmente por faltar
quem os faça tais. Veio-me muitas vezes ao pensamento ir pelas Academias da Europa,
particularmente à de Paris, e por toda parte gritar como louco e sacudir aqueles que têm mais
ciência do que caridade, clamando: “Oh! Como é enorme o número dos que, excluídos do céu,
por vossa culpa se precipitam nos infernos!”.¹
Quem dera que se dedicassem a esta obra com o mesmo interesse que às letras, para
que pudessem prestar contas a Deus da ciência e dos talentos recebidos!
Esta carta bem ilustra o senso religioso inato do ser humano e o zelo apostólico do
missionário. Conserva sua atualidade.
____________________
¹ Tradução do inglês por João Marques Bentes. – Ed. Bompastor, Rua Pedro Vicente, 90 – 01109-
010 São Paulo (SP), 160 x 230 mm, 421 pp.
¹ Citado por Jean Vernette, no artigo “Sectes et Gnose Néo-paganisme et Nouvelle Religiosité.
Le déplacemente actuel des phénomènes religieux, question posée aux Eglises”, na revista
“Esprit et Vie”, 63/1986, p. 130.
¹ A Teologia, em nossos dias, reconhece que as pessoas que de boa fé professam uma crença
não católica (até mesmo pagã) são julgadas por Deus segundo a fidelidade à sua consciência
cândida, reta e sincera, e não segundo os parâmetros do Evangelho, que não lhes foi dado ouvir.
Cf. Constituição do Vaticano II “Lumen Gentium”, nº. 16. (Nota do Editor)
O que o Papa João Paulo II falou sobre a Nova Era?
Segundo o Papa João Paulo II, agora proclamado santo da nossa Igreja, a Nova Era é
“incompatível com a fé da Igreja”.
No discurso que fez aos Bispos Norte-americanos no dia 28 de maio de 1993, afirmou:
“As ideias do movimento ‘Nova Era’ (New Age) conseguem, às vezes, insinuar-se na
pregação, na catequese, nas obras e nos retiros, e deste modo influenciam até mesmo católicos
praticantes que, talvez, não tenham consciência da incompatibilidade entre aquelas ideias e a
fé da Igreja.
É preciso “abrir os olhos” para o alerta que o Papa João Paulo II já fazia acerca das ideias
da Nova Era, que “insinuam-se na pregação, na catequese, nas obras e nos retiros” e influenciam
até mesmo “católicos praticantes”. É um alerta sério!
Por outro lado não é preciso temer. Graças a Deus, ainda é minoria a influência da Nova
Era dentro da Igreja. É claro que nem tudo está ligado à Nova Era, mas temos que nos informar
sempre e fazer um bom discernimento, pois é algo real.
1. É SINCRETISTA: quer dizer, faz uma mistura de inúmeras religiões, como se fossem
verdadeiras e boas. Adota o esoterismo (ocultismo).
2. É PANTEÍSTA e IMANENTE: quer dizer, não crê em um Deus que seja “Pessoa”, vivo,
que tem um coração que sente. Deus é apenas uma “energia” cósmica, um fluído indefinido, ou
um campo magnético de forças. Panteísta (pan = tudo, Teos = Deus); tudo é Deus, e Deus é tudo.
Não existe de fato Deus para a Nova Era. O Papa mostra que, na Nova Era, “Deus é o próprio
Cosmos”.
Sem dúvida este é o erro mais grave da Nova Era, como de todas as falsas religiões: nega
a necessidade da Salvação, ou a quer buscar fora de Jesus Cristo e da Igreja. O homem não pode
salvar-se a si mesmo: “Mas nenhum homem a si mesmo pode salvar-se, nem pagar a Deus o seu
resgate” (Sl 48,8).
O nosso Catecismo nos faz entender bem as palavras do Papa quando fala sobre “a
derradeira provação da Igreja” (§675-676):
“Antes do advento de Cristo, a Igreja deve passar por uma provação final que abalar a
fé de muitos crentes. A perseguição que acompanha a peregrinação dela na terra” desvendará
o “mistério de iniquidade” sob a forma de uma impostura religiosa que há de trazer aos homens
uma solução aparente a seus problemas, à custa da apostasia da verdade. A impostura religiosa
suprema é a do Anticristo, isto é, a de um pseudo-messianismo em que o homem glorifica a si
mesmo em lugar de Deus e de seu Messias que veio na carne.
Esta impostura anticrística já se esboça no mundo toda vez que se pretende realizar na
história a esperança messiânica que só pode realiza-se para além dela, por meio do juízo
escatológico: mesmo em sua forma mitigada, a Igreja rejeitou esta falsificação do Reino
vindouro sob o nome de milenarismo, sobretudo sob a forma política de um messianismo
secularizado, “intrinsecamente perverso”.