DE CONCRETO-MADEIRA
RESUMO: O grande potencial das estruturas mistas em concreto-madeira pode ser explorado
de modo a racionalizar a utilização desses materiais, utilizando as vantagens estruturais e
arquitetônicas intrínsecas em diversas modalidades de construção. A transferência dos
esforços de cisalhamento longitudinal entre o concreto e a madeira deve ser assegurado por
um sistema de ligação, no qual a relação força x deslocamento é de fundamental importância
para o estudo do comportamento dos elementos estruturais. Neste sentido, são analisados
resultados experimentais que possibilitam, de uma maneira simples quantificar o valor do
módulo de deslizamento das ligações. Em relação ao comportamento estrutural de vigas,
apresenta-se uma análise experimental de vigas “T” em concreto-madeira submetidas à carga
concentrada, verificando a eficiência do sistema de ligação por pregos. Nessa análise, a
equação diferencial regente não homogênea de quarta ordem tem como variável dependente o
deslocamento vertical.
Palavras-chave: estrutura mista, concreto-madeira, pregos, módulo de deslizamento.
O comportamento de seção mista será assegurado pelo sistema de ligação, cuja finalidade é
fazer com que os dois materiais trabalhem conjuntamente, tornando possível a transferência
de esforços de cisalhamento horizontal, bem como impedir o desprendimento vertical das
duas peças. Como descrevem GIRHAMMAR e GOPU (1993) isso é possível mediante
emprego de adesivo epóxi na superfície de contato dos materiais, caracterizando um sistema
de ligação rígida. Pode-se ainda, optar por um sistema de ligação flexível, através do qual
ocorrerão pequenos deslizamentos horizontais entre os dois materiais, o que é possível
mediante emprego de elementos metálicos tais como: pregos, parafusos, anéis de aço e chapas
dentadas, conforme apresentado em CECCOTTI (1995).
O menor peso próprio requerido para uma laje de piso em concreto-madeira, em relação a
uma laje de concreto armado, ambas solicitadas ao mesmo carregamento, conforme retratam
CAPRETTI e CECCOTTI (1996), tem viabilizado a utilização dessas estruturas mistas. Esse
processo construtivo tem sido possível na reforma de pisos de prédios antigos, onde a
estrutura de madeira é transformada em estrutura mista, com o aproveitamento parcial da
madeira.
Nas pontes, principalmente, aquelas localizadas nas áreas rurais, que geralmente são
construídas em madeira, o sistema em concreto-madeira pode oferecer benefícios no sentido
de aumentar a capacidade de carregamento, bem como prolongar a vida útil daquelas pontes
por propiciar proteção aos efeitos de abrasão e intemperismo SORIANO e MASCIA (1999).
Essa técnica construtiva já tem sido adotada, por exemplo nos EUA descreve
McCULLOUGH (1943). Também, mais recentemente, na Austrália, onde algumas estruturas
de pontes em madeira vêm sendo transformadas em estruturas mistas de concreto-madeira,
conforme descrevem YTTRUP e NOLAN (1999).
2 OBJETIVOS
3 MATERIAIS
3.1 Madeira
Optou-se por utilizar da Cupiúba (Goupia glabra) por ser uma madeira comercializada com
grande freqüência nesta região do Estado de São Paulo. Do lote de madeira, conforme
indicações da NBR 7190/97, foram extraídos 6 corpos-de-prova para a determinação do teor
de umidade, e outras 6 unidades para a determinação da resistência e da rigidez à compressão
paralela às fibras. Os resultados encontram-se na Tabela 1. Nesta Tabela são apresentados os
respectivos valores indicados pela NBR 7190/97.
3.2 Concreto
Empregou-se como armadura difusa para o combate da fissuração do concreto uma tela eletro-
soldada, malha de 50 mm x 150 mm e fios com 3 mm de diâmetro.
3.4 Conectores
Foram ensaiadas 8 vigas “T” medindo 100 cm entre apoio, sendo a mesa em concreto (24 cm
x 4 cm) e alma em madeira (6 cm x 11,7 cm), conforme ilustrado na Figura 2. Para cada viga,
utilizou-se de uma tela eletro-soldada posicionada na altura média da laje de concreto.
P
24
4
11,7
6
10 100 cm 10
Figura 2 - Detalhe das vigas em concreto-madeira
Do conjunto, em três vigas, os pregos foram fixados com pré-furação e alinhados sobre os
eixos longitudinais das peças de madeira e espaçados a cada 5 cm, num total de 22 unidades
por viga. Noutro grupo de três vigas, os pregos foram dispostos em “zig-zag” sobre 2 linhas
eqüidistantes de 1 cm do eixo longitudinal da viga, mantendo-se nessa mesma direção um
espaçamento de 5 cm. Outras duas vigas foram ensaiadas com a finalidade de observar o
comportamento estrutural quando na ausência de um sistema de conexão entre o concreto e a
madeira.
Na primeira sugestão, Figura 3a, o corpo-de-prova não possui simetria, o que certamente
dificulta a realização de ensaios devido a excentricidade. No segundo modelo, a simetria do
corpo-de-prova permite, através de um ensaio de compressão, caracterizar a capacidade dos
conectores em transferir o esforço de cisalhamento na superfície de contato concreto-madeira.
Este último, assemelha-se à modelos vistos na literatura que aborda as estruturas mistas em
concreto-aço.
Uma vez obtida experimentalmente a curva força x deslizamento, CECCOTTI (1995) indica
para o módulo de deslizamento de serviço, Kser, o correpondente módulo de deslizamento
inicial secante ao ponto de 40% da força de ruptura da ligação e sua respectiva deformação. Já
para a verificação do estado limite último, o autor adota a indicação do EUROCODE 5/93,
cujo valor é Ku= (2/3) Kser. O EUROCODE 5/93 que se refere apenas a madeira, também
apresenta uma expressão para se estimar o valor do módulo de serviço, cuja expressão
depende do diâmetro do conector e da densidade das peças a serem ligadas.
Deve-se salientar que no corpo-de-prova Gr2-6 uma das peças de madeira apresentava um nó
de formação, o que pode justificar o seus valores menores em relação aos demais corpos-de-
prova do mesmo grupo. Por esta razão, o mesmo será excluído da análise.
1o trecho:
α 2 Px
w 1iv −α 2
w 1ii = (1)
EII 2
2o trecho:
α 2 P(- x + 1)
w iv2 −α 2
w ii2 = (2)
EII 2
onde:
1 1 r 2
α = K + + (3)
E w A w E c A c EI0
EI0 = E c I c + E w I w (4)
EI0α 2
EII = (5)
2 Kr
α −
EI0
O valor de carregamento de 70 kN, valor esse que representa a carga máxima de ruptura
registrada nos ensaios das vigas ensaiadas. Destaca-se para o estado de último de utilização,
que o valor admissível do deslocamento vertical igual à l/300 = 0,33 cm. A eficiência
esperada com a utilização do sistema de conexão em estudo pode ser vista na forma
percentual na última coluna da Tabela 5.
Nas Figuras 4a), 4b), 4c) e 4d) a seqüência EII representa a flecha teórica supondo uma
ligação perfeitamente rígida; EI0 representa os resultados teóricos para uma viga sem o
sistema de ligação; EIw corresponde à flecha teórica considerando somente a alma em
madeira; EIexp são os valores obtidos experimentalmente; EIth são os valores dos
deslocamentos verticais obtidos através da resolução das equações diferenciais, essas duas
últimas seqüências são apresentadas na Tabela 5.
60 60
50 50
40 40
força (kN)
força (kN)
30 30
20 20
10 10
0 0
0,000 0,200 0,400 0,600 0,800 1,000 0,000 0,200 0,400 0,600 0,800 1,000
deslocamento vertical (cm) deslocamento vertical (cm)
EII EI0 EIw EII EI0 EIw EIexp EIth
EIexp EIth
a) viga vtcm02 b) viga vtcm06
45 80
40 70
35
60
30
50
força (kN)
força (kN)
25
40
20
30
15
20
10
5 10
0 0
0,000 0,200 0,400 0,600 0,800 1,000 0,000 0,200 0,400 0,600 0,800 1,000
deslocamento vertical (cm) deslocamento vertical (cm)
EII EI0 EIw EIexp vtcm02 vtcm06 vtcm11 vth
Observa-se nas Figuras 4a) e 4b) que as curvas experimentais são praticamente coincidentes
com a curva teórica EI0, o que não condiz com os resultados esperados, pois para tanto seria
necessário que as vigas apresentassem para cada estágio de carregamento valores de
deslocamentos menores. Ou ainda, que os vales dos módulos de deslizamento fossem muito
menores, de tal forma que o desenvolvimento da curva teórica (EIth) aproximasse da curva
experimental. Para isso, os módulos de deslizamento deveriam apresentar valores de K ser ≅
1kN/cm2, K u ≅ 0 kN/cm2, respectivamente. Porém, isso implicaria em assumir que os
conectores não exercem efeito sobre o produto de rigidez da estrutura.
Na Figura 4c) os valores teóricos, para o conjunto de vigas analisadas, estão contra a
segurança da estrutura, uma vez que a curva experimental não coincide com a correspondente
curva teórica sem o sistema de ligação (EI0).
Por fim, na Figura 4d) verifica-se que a presença dos pregos nas vigas vtcm02 e vtcm06,
implica em deslocamentos verticais menores que aqueles apresentados pela vtcm11 para os
mesmos estágios de carregamento. Essa eficiência obtida experimentalmente, pode ser vista
também na Tabela 6.
8 CONCLUSÕES
O presente estudo permite concluir que o sistema de conexão com pregos de medida 22 x 48
em vigas de seção “T” em concreto madeira, apresenta uma eficiência de pouca relevância em
relação às vigas de mesmas características quando executadas sem um sistema de ligação
entre os dois materiais.
A substituição por pregos de medida 26 x 72 (7,6 mm x 165 mm) não seria possível se
mantidas as mesmas dimensões das peças de madeira e concreto.
9 AGRADECIMENTOS
10 BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA