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TRECHOS – FERNANDO GABEIRA

Carta sobre a Anistia

Hoje transamos melhor o frio da Suécia mas acostumar mesmo a gente não
acostuma. Nos fins de setembro, começo de outuvro, a gente olha pro céu e vê os
bandos de pássaros voando para o Sul e dá vontade de gritar não apenas abaixo a
ditadura mas sim: abaixo a ditadura urgentemente.

A luta é pela anistia ampla, geral e irrestrita mas que puder ir voltando, ir
saindo da cadeia não deve vacilar pois é sempre uma vitória parcial.
Vitória mesmo só haverá quando saírem todos da cadeia e voltarem todos.
Mas nem por isso nimguém deve ficar na cadeia até que se liberte o último.
As pessoas que possam dar testemunhos, fazer palestras sobre a anistia,
depoimentos sobre tortura são importantíssimas do lado de fora da cadia,
do lade de dentro do Brasil.

Muitos elementos dessa estória [que ele acabou de contar] estão no nosso
cotidiano: falta o passaporte, falta a passegem de bolta. Mas quase todos
estamos querendo voltar num carnaval, qe não precisa ser aquele carnaval
de quatro dias, mas o carnaval da democracia. Quase todos estamos
atravessando aquele que pode ser o último inverno europeu de nosso
exílio e quase todos, isto é muito importante, pensamos que a anistia não é
uma concessãoo mas si alfo que depende muito de nossa capacidade de
luta.

Faltava uma palavra que sintetizasse todas as aspirações da luta, num


determinado momento, uma palavra que fosse aquilo que as pessoas
chamam, deuma forma empolada, o centro tático. Aquilo para onde iam
convergir os pedidos e o apoio internacionais.
Não conheço em todo o período de militância na denúncia da ditadura
brasileira no Exterior nenbuma palavra de ordem que tenha nos unido
tanto quanto a anistia. De repente, e pela primeira vez, sentávamos todos
juntos: democratas liberais, cristãos, pessoas com tendências socialistas e
mosmo comunistas. (...) Não sei se vocês perceberam o alcance do que
achamos. Nós achamos muito mais do que uma palavra de ordem.
Achávamos um modo de convivência, de ação comum, enfim a maturidade
política que em certos momentos faltou na nossa história, com aquelas
discussões intermináveis e incompreensíveis que acabavam espantando
todo mundo.

Tínhamos descoberto outra coisa: depois que conseguimos a unidade em


torno da anistia ficou mais fácil falar com as pessoas que ainda não haviam
se comprometido com a luta pela anistia. Elas viam que éraos uma só
vontade em torno daquela luta e viam também que não éramos
monolíticos. Éramos gente com opiniões diferentes que compreendeu que
não se faz nada apenas com as pessoas que pensam de forma idêntica e sim
que é preciso saber organizar as diferenças em torno de uma luta unitária.
Em Paris, onde se fez uma noite pela anistia, mais de cinco mil pessoas
apareceram para ver os filmes, as exposições. Inúmeras personalidades se
comprometeram com a luta pela anistia no Brasil. A própria Amnesty
International passou a encarar a possibilidade de uma ofensiva no caso
específico do Brasil.

Não ´minha intençnao pintar um quadro cor-de-rosa. Há problemas. Eles se


refletiram aqui. O primeiro deles foi aquilo de o General Peri Bevilaqua
propor a anistia recíproca. Foi tudo explicado, entretanto. Os torturadores
não foram julgados ainda, de forma que não se colocava nenhuma anistia
no horizonte. Quem somos nós para dar anistia aos torturadores que
sequer são conhecidos? Nosso objetivo é ampliar a informaçãoo sobre o
problema, denunciar o processo a que foram submetidos milhares de
brasileiros.
(...) Não podemos garantir anistia para ninguém. O que podemos é lutar
para que os torturadres tenham o direito de defesa que nós não tivemos,
tenham um processo regulado por dispositivos legais que não existiram em
nosso caso. Em síntese: que a ditadura que nos julgou violenta e
ilegalmente, seja julgada pacífica e legamente. O que nos marcará enquanto
sociedade democrática não é apenas quem condenarmos ou absolvermos
mas a maneira com que examinamos o problema.. Por que tudo isso, esse
quase discurso? Poruqe um dos grandes problemas do Brasil moderno será
o de identificar quem é realmente democrata. ´E necessário que fiqui muito
claro que a esquerda no Brasil não está apenas finginsdo de democrata,
para ganhar força, para se infiltrar. É necessário que a esquerda seja
reconhecida como a única força capaz de garantir um permanente
aprofundamento da democracia, atingindo o povão, atingindo dimensões
da vida social onde jamais ela entrou. É uma insanidade nos chamar de
revanchistas. A gente tem tanto que construir que o próprio exame do caso
deles a gente só vê pelo lado construtivo: educa-los aos julgamentos
democráticos, abertos, com todo o respeito pelos réus.

Acho, entretanto, que não é bom submete subestimar a inteligência política do


futuro presidente. É muito possível que ao londo do crescimento da luta pela
anistia, ele dê um passo adiante e tente estabelecer uma separaçãoo entre
presos, uma sepração entre exilados. Várias vezes já anunciou esta possibilidade.
Creio que precisamos encarar esta hipótese da mesma forma que encaramos a
viagem daquele refugiado que ia embora da Alemanha e perdeu o avião. Uma
anistia parcial é uma vitória parcial. Não há vitória total sem a ampla, a geral e a
irrestrita. Qualquer separaçãoo é muito perigosa.

É importante que a anistia, creio, não seja apenas uma lei que permita a saída da
cadeia, a volta à terra. É importante também romper esse bloqueio profissional
que se criou no País, somente porque as pessoas discordavam e discordam da
ditadura militar.

Não tenham dúvida que lutando por isso estejam lutando por algo que nos toca
profundamente. E mesmo se equecemos o lado humano, que para quem não é
tecnocrata tem um grande peso, a gente vê logo que está diante de um problema
de interesse nacional. São mais de dez mil pessoas uqe já tinham uma formação
profissional ou se encaminhavam para isso e que dispuseram de uma chance
inédita: a formação quase que maciça nas melhores universidades europeias,
norte e latino-americanas e agora estão ansiosas para voltar ao Brasil e
contribuir com uma futura sociedade democrática.
Conhecemos suecos, alemães, franceses, italianos, hoklandeses, ingleses (...) que
não só se aproximaram de nós como em muitos casos chegaram a estudar a
História do Brasil contemporâneo para melhor fazer campanha da anistia. Houve
alguns que inclusive aprenderam o portuguêsns, trabalhando hoje rapidamente
na traduçãoo para sesu idicomas de nossos comunicados. Que festa não vamos
preparar para eles quando chegar o dia! Mas solhamos um pouco para o futuro
vemos que todo esse trabalho montado aqui não vai se limitar apenas à anistia.
Como nossa vola ao Brasil deixaremos montados inúmeros embriões de
associações culturais , enfim organismos de amizade com o povo daqui, não
apenas co, os governos. E as entidades que se interessarem pelo Brasil no
período que imensas possibilidades não ficarão abertas com nossa presença no
Brasil, estabelecendo vínculos diretos entre nosso País e elas? A luta pela anistia
favoreceu nosso encontro com o mundo. Umas das coisas que mais sonho é ver
uma escola de samba desfilando pelas ruas de Havana. Vai ser incrível a a
quentidade de cubano deixando tudo para trás e caindo no samba. (...) O mundo
inteiro sabe que existe uma esquerda noo Brasil. O mundo inteiro sabe que parte
dessa esquerda está na cadeia e no exílio. O mundo inteiro só vai acreditar que a
democracia começou quando ouvir a notícia da anistia ampla, geral e irrestrita.

Os filhos dos inimigos do governo são considerados inimigos do


governootambém e tratados como tal. Eles acham que passaporte é propriedade
do Governo, o que é incrível. Os suecos por exempo ficam escandalizados.
Perguntam se o Governo nõ estaria louco com aquele Imperador romano que
elegeu o próprio cavalo senador. A respostaque a gente dá é não Tratar o
governo brasileiro com algo exótico talvea não seja a melhor maneira de explicar
tudo. Esse governo nasceu num contexto determinado e sempre evitou a luta
política aberta. Seu espaço de ação desprezava as eleições, contava com uma
imprnssa censurada enfim trabalhava com outras variáveis. A extrema direita
não faz política aberta porque sempre contou com a existência de uma ditadura.
O que parce escandaloso mesmo para um político conservador europeu nõ o é
necessariamente para um grupo que não precisava de voto e impunha a à
impresnsa sua própria versão dos fatos. E prouramos mostrar aos suescoos
como tudo mudou quando a imprensa conquistou um pouco mais de liberdade.
Criou-se uma contradiçãoo tal que ou se acaba com a ditadura ou se acabac com
a liberdade de imprensa. A primeira hipótese está pintando muito mais no
horizonte. Certas pessoas, certas ideias, morrem politicamente sem o perceber.
De repente caem sem choro nem vela, sem um único protesto social.

Aqui em Estocolmo, durante o verão, costumamos jogar futebol nos campos


atrás de nosso prédio estudantil. Os garotos da Embaixada do Brasil
participam também. Ele fazem o time deles,a gente faz o nosso, às vezes
misturamos o time. É sempre um sábado alegre, todo mundo entrando só
na bola, reclamando um pouco porque afinal pelada é pelada e quem
reclama mais sempre leva uma certa vantagem. A sensaçãoo que a gente
tem é de fraternidade. Os suecos vendo de longe pensariam que somos
todos refugiados ou somos todos da embaixada pois nada nos distingue, ali
no meio de campo. Um dia você tem um garoto te marcando como lateral
esquerdo e no outro dia você vai à Embaixaa pedir um passaporte, um
documento vital, e ele está lá te recebendo. Já não é mais o mesmo lateral
esquerdo, de calção e tênis. Está metido no seu terno, sua gravata, dizendo
que não tem a mínima ideia de quando o passaporte chegará, sempre um
pouco nervoso, incomodado na posição. É isso que sinto: o muro das
pessoas que têm vergonha do papel que são obrigadas a fzs por causa das
contingências, pessoas que no fundo estavam querendo mesmo era agir
dentro da lei, dentro do que aprenderam. Creio que por baixo do
nervosismo exista um certo medo de quea gente esteja jugando, os esteja
culpando pela violência que o governo dirige contra nós. E queríamos
encará-lo, sem nenhum rancor. São pessoas que chutam com os dois pés,
cabeceiam bem, e apenas aconteceram de servir à diplomacia brasileira
num momento histórico em quase todos os sectores da política estatal
foram transormaos num apêncice da polícia política.somos uma
comunidade um pouco esquizofrênca aqui na Suécia, se me permitem o
termo assim aplicado sem muito rigor. Diante de uma bola estamos
irmanados, for do campo mal nos olhamos para que ninguém comprometa
ninguém com seu olhar, sem perceber que esse pavor mesmo de ser
comporometido é o pior que poderia nos acontecer.

A anistia, portanto, não é apenas um reencontro de pessoas. É também uma


luta onde trabalhadores, estudantes e intelectuais, profissionais liberais,
bancários, comerciários, todos os que se movem hoje no Brasil, vão se
encontrar para trocar suas ideias, para juntar suas forças. Anistia é a união.
Unir os brasileiros já é um passo na luta contra a ditadura que desde 64
não busca outra coisa a não ser a nossa separaçãoo, seja pela morte, seja
pela cadeia, seja pelo exílio ou mesmo pela desconfiança,o medo e a
delação.

Outro dia uma amigo sueco dizia sobre nós algo que me orgulho muito:
“os brasileiros, em certos momentos, me ensianaram algo que era difícil
compreender com minha formação protestante: a gente pode fazer política e ser
feliz ao mesmo tempo.”
´e isso aí. Abraçø em todos que perguntarem por mim. Como na música, diz que
vou levando e diz mais, repetindo um jornalista amigo meu: aqui a gente vive
muito pior do que merece mas muito melhor do que a ditadutra desejaria que a
gente vivesse.

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