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SUFISMO

Arjuna Laerte Willmann

Diz-se que a palavra sufi vem do árabe suff, que quer dizer lã, devido aos mantos de lã
usados pelos antigos dervixes, ascetas que viviam uma vida reclusa e simples,
considerados os precursores dos Sufis. De onde vieram? Ninguém sabe. Eles já estavam
lá quando Mohamed iniciou o Islã. Sua origem se perde no tempo.

OS HOMENS ANTIGOS

Na Pérsia do Século XII em uma língua antiga, tão bela que era conhecida como ‘a língua
dos pássaros’; quando a poesia era cantada, Jelaluddin Rumi disse dos primeiros Sufis:

Antes do corpo, eles viveram vidas inteiras.


Antes que houvesse um oceano,
mergulharam para buscar pérolas.
Antes que existisse a dimensão material,
sabiam como era estar preso dentro da matéria.
Antes que houvesse uma estrela da noite,
viram Saturno.
Antes que o trigo brotasse, provaram o pão
Sem que houvesse mente, pensaram.
Intuição imediata para eles
é o mais simples ato de consciência.
O céu aberto bebe de sua taça rodopiante
e se veste com o ouro de sua generosidade.

De forma semelhante, pintando ideogramas sobre papel de arroz Chuang Tzu disse dos
precursores dos Taoístas chineses:

Os autênticos homens antigos,


escalaram rochedos e não sofreram vertigens.
Mergulharam na água e não se molharam.
Andaram no fogo e não se queimaram.
Os autênticos homens antigos
dormiam sem sonhos,
acordavam sem preocupações.
Sua comida era simples,
respiravam profundo
Os autênticos homens antigos
não tinham luxos na vida.
Nem medo da morte.
Chegavam sem barulho,

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saiam sem resistência.
Aceitavam a vida como é,
felizes.
Aceitavam a morte como se apresenta,
despreocupados.
E partiram para lá,
para lá.

Os homens a que Rumi e Chuang Tzu se referem parecem ser os mesmos. Mas porque
eles falam disso? Será por simples nostalgia? Nem Rumi nem Chuang Tzu eram dados à
nostalgia. Na verdade seu objetivo é outro, eles falam da necessidade de recuperar a
memória desses tempos. Poesia, mitos, cantos e histórias sugerem que há algo que
precisamos nos lembrar...

MEMÓRIA DOS TEMPOS

Os Sufis falam de lembrança: recordação de si, lembrança da essência, da origem...


Recordar que não somos a personalidade, não somos o verniz cultural que recentemente
adquirimos; somos muito antigos, sabemos muito mais do que supomos. Esse saber não
vem apenas de uma vida, está em nós como memória, gravado em nossas células.
Nossos ancestrais estão mais perto de nós do que pensamos. Não os encontramos nos
livros de história, nem no lixo que os arqueólogos desenterram: cacos de potes, pontas
de flechas, pedaços de ossos... Eles estão aqui agora, suas memórias estão em nós,
batem em nossos corações, tecem imagens em nossos sonhos profundos, andam conosco
em nossas pernas, trabalham com nossas mãos. Rumi disse isso assim:

Pergunta agora a cada um dos teus membros;


Esses membros silenciosos têm mil línguas.
Pergunta em detalhes das dádivas do Grande Sustentador,
que estão registradas no livro do Universo.
Dia e noite pedes ansiosamente por notícias,
enquanto cada membro de teu corpo está te contando novidades.

Inscrito em nossas células existe um livro vivo. Em volta de nós, toda a matéria, todos os
seres, são os registros de tudo que já aconteceu desde o início do mundo. Livros feitos
com papel e tinta podem conter apenas pálidos reflexos da glória infinita da Criação. Por
isso Hazrat Inayat Khan disse:

Existe apenas um livro sagrado, o eterno manuscrito da natureza.

A memória que precisamos recuperar é a da nossa espécie. Somos os herdeiros não


apenas daquilo que aconteceu nos últimos séculos ou milênios, ainda que seja importante
saber o que aconteceu nessa época, mas nós temos uma história muito mais antiga; que
não se encontra nos livros. Somos herdeiros de incontáveis gerações de seres humanos
anônimos, que descobriram o fogo, que lascaram a pedra, que se organizaram em grupos
para caçar os primeiros animais, que cantaram e dançaram seus feitos à luz da lua e das
estrelas.

Essas memórias antigas só podem ser alcançadas se soubermos onde procurá-las. E elas
estão escondidas onde menos pensamos. Um dos propósitos dos Sufis é nos lembrar que
elas estão mais próximas de nós do que pensamos. Eles dizem: Allah está mais perto de
nós que nossa veia jugular.

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OS DERVIXES

Os dervixes foram os primeiros Sufis. Eram ascetas que buscavam através do isolamento
um contato com a sabedoria eterna. Procuravam preservar alguma coisa que se perdeu
quando surgiram as primeiras formas da cultural atual. De certa forma eles não previam
um futuro muito glorioso para as novas formas de civilização que viam surgir em seu
tempo, por isso se retiravam do mundo social para viver uma vida mais verdadeira.
Talvez eles estivessem certos, se olharmos hoje para o pesadelo que é nossa atual cultura
urbana tecnológica. Desses dervixes diz Pir Vilayat Inayat Khan:

Nossa civilização de alguma forma toma difícil que possamos alcançar a perfeição
que pode ser encontrada entre pessoas vivendo em cavernas – o que é uma
reflexão terrível para nossa civilização. Pode-se mesmo dizer que o dervixe é o
produto de uma maneira de pensar e viver que está praticamente extinta nos dias
de hoje.

OS POETAS PERSAS

Séculos mais tarde, aquele aspecto ascético dos primitivos Sufis foi substituído por uma
paixão poética, surgida especialmente na antiga Pérsia, com Attar, Rumi, Saadi, Hafiz,
Sanai. As condições culturais dos antigos dervixes já haviam se modificado
completamente. As cidades haviam se tornado os principais centros de irradiação cultural,
os homens e mulheres tinham inúmeras ocupações novas, frutos da vida urbana.
Deixando de lado o ascetismo, esses novos Sufis passaram a exercitar a idéia de ‘estar
no mundo sem ser do mundo’. Surgiram assim Sufis que teciam tapetes, que trabalhavam
o cobre, eram músicos, dançarinos, contavam estórias, faziam poesia. Todos esses foram
importantes para estabelecer um novo tipo de Sufismo, mas foram os poetas que
marcaram surgimento dessa nova era, pois foi através da poesia que o Sufismo se
difundiu naquela época.

Naquele tempo, a poesia era recitada e cantada e esses homens conseguiram fazer algo
extraordinário: expressar o que pensavam de uma forma que ficava velada para as castas
governantes da época, mas que agradava ao homem comum. Era uma poesia muito
profunda e ao mesmo tempo tão bela que o povo gostava de ouvi-la e por isso ela
sobreviveu até hoje.

Um desses poetas, Jelaluddin Rumi, iniciou a Ordem Sufi Mevlevi conhecida como a
Ordem dos ‘dervixes rodopiantes’. Nas palavras de Hazrat Inazrat Inayat Khan, ‘Jelaluddin
Rumi foi o maior poeta que o mundo jamais conheceu, um poeta cuja mensagem, tanto
em seu trabalho quanto em sua vida, marca com uma linha distinta uma nova era, um
novo passo no sufismo’. Nesse tempo, criou-se um costume que existe até hoje na Pérsia
ou na Índia, de se cantar, com música, as palavras desses poetas enquanto as pessoas
sentam e apreciam, alguns se levantam e dançam, e todos se beneficiam dos estados de
consciência a que a poesia os transporta.

Esse estado poderia ser chamado de um ‘estado de lembrança’. Saber evocá-lo nas
pessoas é o feito supremo dos artistas Sufis, para que dessa forma eles possam
compartilhar esses estados de ser tão sutis e possam também lembrar-se. O poema a
seguir é de Rumi, e fala sobre isso. Foi traduzido para o Inglês por Coleman Barks, que o
introduziu assim numa audição de poemas e música Sufi:

A poesia dessa noite será de Jelaluddin Rumi, toda ela brotou espontaneamente
de uma comunidade de homens de conhecimento no século XII, em Konia,

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Turquia. Algumas vezes os dervixes ficavam acordados toda a noite, dizendo as
frases do Zikar, a ‘lembrança de Deus’, cantando, dizendo poemas. E esse poema
é uma descrição do estado de consciência, do estado de presença a que a
comunidade chegava ao alvorecer. Não há evidentemente palavras para dizer isso,
algumas vezes ela chamava de majestade, algumas vezes de grandiosidade, aqui
ele chama de ‘o esplendor do alvorecer’. Há dois nomes que se mencionam nesse
poema; Hussan, que é Hussan Chelebi, que foi o escriba de Rumi pelos últimos
doze anos de sua vida; e Halaj, Al Mansur Halaj, que foi morto no ano 922, em
Bagdá, por afirmar: ‘Eu sou a verdade’.

O poema:

Isso que nós sentimos agora,


não é imaginação.
Não é lamento nem alegria,
nem um estado de julgamento
ou uma escolha, ou tristeza.
Esses estados vem e vão,
Essa é a Presença que permanece.

É alvorada Hussan,
Aqui, no esplendor de coral, dentro do Amigo,
na verdade do que Al Halaj disse.
O que mais podem os seres humanos querer?

Quando as uvas se tornam vinho,


elas estão querendo isso.
Quando o céu noturno se derrama em estrelas
são na verdade um bando de mendigos,
todos querendo um pouco disso.

Isso que nós somos agora,


Criou o corpo, célula por célula.
Como abelhas fazendo uma colméia.
O universo e o corpo humano vieram disso,
e não isso do universo e do corpo humano.

LEMBRANÇAS DO PASSADO NO SÉCULO XX

Hazrat Inayat Khan foi um músico Sufi. Quando, no século XX, trouxe para o Ocidente a
Mensagem Sufi, trouxe não apenas seu aspecto místico, mas também o sabor de sua
arte. Tendo nascido no final do século XIX na Índia, conheceu ainda o mundo da
sabedoria tradicional indiana, de raízes milenares. Suas observações nos transmitem um
pouco desse sabor.

Em tempos antigos em todos os templos e pagodes budistas e hinduístas havia


música, havia poesia, havia escultura e havia pintura. Nesses tempos não havia
imprensa, não podiam ser publicados livros sobre filosofia e religião; mas se
pudermos achar escrituras expressando as antigas religiões e as idéias filosóficas,
será na arte antiga. Por exemplo, o que quer que possa ser encontrado do
misticismo e da religião do Egito não será nos manuscritos, mas em sua arte.

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Também as idéias filosóficas da Era Sânscrita ainda estão por serem descobertas,
gravadas em pedra em seus templos. Viajantes do Ocidente freqüentemente vão
ao Oriente para testemunhar o grau de perfeição atingido pela arte oriental, mas
poucos se dão conta de que a arte, naqueles tempos, não apenas almejava a
perfeição, mas que ela era usada como um meio de comunicação.

Essa citação é importante para o desenvolvimento de nosso estudo. Inayat Khan diz que
a arte dos tempos antigos ‘não almejava apenas a perfeição’, que ela era também um
meio de comunicação. Lembremo-nos dessa distinção, pois estaremos refletindo em torno
dessa idéia e suas implicações. Outra idéia importante é a relação entre todas as formas
de expressão, como se fazia na narração de estórias, uma das artes que os Sufis
haveriam sempre de manter viva como um componente essencial de sua cultura
espiritual.

O antigo teatro era realizado com recitação, canto, jogo, músicas e representação.
Um homem contou uma história e representou ao mesmo tempo, com a
participação dos que estavam a sua volta, e dessa maneira se desenvolveu uma
forma de contar histórias. Com o tempo, o senso artístico do homem foi
aperfeiçoando essa forma, para fazê-la o mais atraente possível aos olhos e aos
ouvidos...

Segundo ele, a cultura tradicional usava a comunicação total de corpo, enquanto a cultura
letrada que estava nascendo separava a palavra de sua matriz total, que são o gesto, o
movimento, o ritmo, o canto:

Quando a arte da palavra e do canto é separada de arte de movimento, isso


certamente retira grande parte da atração e da beleza, porque fala, recitação e
canto vão junto com o movimento.

Essa percepção da dimensão artística da comunicação pode ser observada num nível
ainda mais primário do que a própria arte como tal, ela surge na própria linguagem
humana:

Não se pode ter domínio das línguas antigas, como Sânscrito, Árabe ou Hebraico,
através do simples aprendizado das palavras, pronuncia e gramática, porque uma
expressão tonal e rítmica é necessária. A palavra em si mesma é freqüentemente
insuficiente para expressar o significado claramente. Mesmo as línguas modernas
não são senão uma simplificação da música. Nenhuma palavra, em qualquer
língua, pode ser falada de uma mesma e única maneira sem distinção de tom,
altura, intensidade, ritmo, acento, pausa e silêncio. Uma língua, por mais simples
que seja não pode existir sem sua música que lhe dá expressão concreta. Por essa
razão, uma língua estrangeira raramente é falada com perfeição; as palavras são
aprendidas, mas falta a maestria da música.

Se isso é verdade para a transmissão de qualquer tipo de conhecimento, é mais ainda


para as escrituras sagradas. Mesmo tendo sido registrados em alguma forma de escrita,
os antigos livros sagrados eram escritos para serem lidos em voz alta. E o homem antigo
considerava-os como revelações do Espírito:

Isso mostra que quando a mente divina queria expressar a si mesma, ela não
fazia toscamente; ela sempre se expressa numa forma inteiramente poética,
rítmica e lírica. Freqüentemente encontro pessoas que se orgulham de dizer a
verdade, e não se importam com a forma. Mas eles não sabem o que a verdade

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significa; eles não sabem que a verdade vem em forma de poesia, de música, de
delicadeza e atenção ao detalhe.

Assim, Inayat Khan nos mostra que no passado a arte era usada com um propósito bem
definido, de transmitir conhecimentos, e também de desenvolver nos seres humanos a
atenção à beleza, à delicadeza, ao detalhe. Isso se manteve na Mensagem Sufi trazida
por ele para o Ocidente, onde a arte ainda é um componente essencial na formação dos
mureeds (alunos) Sufis. Inayat Khan via com clareza o papel da arte do desenvolvimento
dos seres humanos.

Quando o espírito da arte se desenvolve, esse desenvolvimento não produz nada


no exterior, mas sim no interior. Num artista de verdade, uma personalidade
distinta se desenvolve, que se expressa em tudo que ele faz. Em outras palavras,
um artista não precisa pintar um quadro para provar que é artista. Quando ele
atingiu um certo estágio na arte, tudo que ele faz se torna arte: seu pensamento,
sua fala, suas palavras, sua voz, seus movimentos, sua ação...

Essa dimensão artística da mensagem Sufi de Hazrat Inayat Khan é essencial. Enquanto
alguns grupos religiosos chegam ao Ocidente para converter os ocidentais a suas
religiões, Inayat Khan traz uma mensagem, nas suas próprias palavras, de ‘liberdade
espiritual’, de ‘paz através da arte’ ou de ‘harmonia, amor e beleza’.

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