RESUMO
O presente artigo objetiva ressaltar aspectos relacionados ao contexto histórico da origem das pilhas e
baterias, assim como suas aplicações e o impacto que pode ocorrer devido sua utilização e descarte incorreto.
Pretende-se apresentar a toxicidade dos metais pesados e as consequências da exposição do ser humano e do
meio ambiente a estes metais. Foram abordados aspectos da legislação brasileira sobre pilhas e baterias,
medidas de conscientização, e a implementação do sistema de logística reversa de forma integrada e
estratégica. Desta forma, é possível criar um sincronismo entre todos os subsistemas organizacionais
(produtor/consumidor/produtor). Neste sentido, o trabalho mostra a importância dos fabricantes
disponibilizarem locais apropriados para coleta de pilhas e baterias de modo que tenham uma destinação final
adequada. Não se pode isentar os fabricantes da sua responsabilidade pelos procedimentos de reutilização,
reciclagem, tratamento e/ou disposição final ambientalmente adequada tais produtos, conforme definido nas
leis específicas para estes processos.
ABSTRACT
The present article aims at emphasizing aspects related to the historical context of the origin of batteries as
well as its applications and the impact that may occur due to its use and improper disposal. It is intended to
present the toxicity of heavy metals and the consequences of human and environment exposure to these
metals. Issues of Brazilian legislation on batteries, awareness measures and the implementation of reverse
logistic were addressed in an integrated and strategic way. In this way, it is possible to create a synchronism
between all organizational subsystems (producer/consumer/producer). In this sense, the study shows the
importance of manufacturers to provide appropriate locations for collection of batteries so that they have a
better final destination. Manufacturers cannot be exempted from their product liability for reusing procedures,
recycling, treatment and/or final disposal environmentally appropriate for such products, as defined in the
specific laws to these processes.
INTRODUÇÃO
e Galvani notou que, quando tocavam o suporte de ferro, elas se contraíam. Ele atribuiu as
contrações a uma corrente elétrica produzida pela própria rã.
Volta tinha dúvidas quanto a essa explicação. Sua ideia era a de que a corrente
elétrica poderia estar sendo produzida pelo contato entre os líquidos biológicos da rã e dois
metais diferentes. Assim começou a investigar essa possibilidade.
O dispositivo criado por Volta consistia em um pilha de discos de zinco intercalados
com discos de prata e separados por papel umedecido com solução de ácido. Com uma pilha
de 60 discos, uma pessoa poderia sentir um choque elétrico quando tocava as duas
extremidades da pilha. Pela primeira vez, se constatava a produção espontânea de
eletricidade (sem fricção). Volta, porém, não associou a produção de corrente elétrica com a
ocorrência de transformação química. Foi Hamphry Davy (1778-1829) que, ao estudar os
experimentos de Volta, sugeriu que a eletricidade poderia resultar de uma transformação
química.
O primeiro acumulador de todos foi inventado por Gaston Planté em 1860 (Figura 4).
O experimento consistia em duas placas de chumbo, chamadas de eletrodo, mergulhadas
num eletrólito de ácido sulfúrico diluído (curiosamente esta estrutura ainda é utilizada nos
nossos dias). Após alguns anos Thomas Edison inventa o acumulador de niquel-ferro (NiFe) -
os metais dos eletrodos, recorrendo a uma solução de hidróxido de potássio para o
eletrólito. Uma variante deste ultima é o acumulador de niquel-cádmio (NiCad).
Pilhas e baterias possuem categorias úmidas (wet cell battery) e secas (dry cell
battery). As baterias de chumbo-ácido são as baterias úmidas mais comuns e era inicialmente
usado somente em automóveis, nelas o eletrólito é um líquido. As baterias ou pilhas
domésticas, ou não automotivas, são as pilhas e baterias secas. (FISHBEIN,1998; SLABAUGH
& PARSONS, 1983). O eletrólito, nesse tipo de dispositivo, apresenta-se na forma de pasta,
gel ou outra matriz sólida. (LYZNICKI et al., 1990; MENDES & SILVA, 1994).
Nesta última década constatou-se uma proliferação significativa de aparelhos
eletroeletrônicos portáteis, tais como: celulares, câmeras fotográficas, filmadoras,
computadores, barbeadores, lanternas, brinquedos, jogos, relógios, ferramentas elétricas,
agendas eletrônicas, walkie-talkies, aparelhos de som, instrumentos de medição e aferição,
equipamentos médicos, etc.
Em consequência, aumentou consideravelmente a demanda por pilhas e baterias
cada vez mais compactas, mais leves e de melhor desempenho. A compreensão dos
princípios de funcionamento e das composições dessa grande variedade de pilhas e baterias
existentes no mercado legal brasileiro se faz necessário, tendo em vista que tais
componentes podem afetar diretamente a vida da sociedade.
Apresentam-se em diversos tamanhos e formatos: cilíndricas, retangulares e,
principalmente, de botões. Pesam cerca de 2,5g, sendo 30% do seu peso total constituído por
mercúrio inorgânico e, contém alto teor energético por unidade de peso ou volume, devido a
quantidade substancial de oxigênio. Apresentam vantagens como: vida longa, alta
densidade de energia, boa estabilidade e liberação instantânea de grande intensidade de
energia.
Basta a presença de uma única pilha de mercúrio, em seis toneladas de resíduos,
para ultrapassar o limite do teor de mercúrio no resíduo sólido urbano permitido por lei.
Parte desse elemento contido nas baterias apresenta-se sob sua forma mais tóxica, o
metilmercúrio. Por isso, devem ser coletadas, tratadas e dispostas adequadamente.
Com área abrangente de utilização, podem dispor-se por duas classes: (1) baterias
abertas - grandes unidades e (2) baterias de níquel-cádmio recarregáveis, portáteis, lacradas,
de gás comprimido, fabricadas nos formatos de botão e cilíndrico. É importante ressaltar
Caderno Meio Ambiente e Sustentabilidade | vol.2 n.2 | jan/jun 2013
40
O descarte inadequado de pilhas e baterias usadas e os impactos socioambientais
que a porcentagem de cádmio presente nestes tipos de baterias é menor do que a do níquel,
pois representa cerca de 15% do peso total.
Funcionam em condições extremas de temperatura e possuem excelentes
características técnicas. São mais eficientes e seguras, não necessitam de manutenção, são
mais baratas do que as de hidreto metálico/óxido de níquel (Ni-MH) e que as de íons lítio (Li-
íon), mas são afetadas por corrente, tempo de carga, temperatura, tempo de uso e outros
fatores.
Apresentam vantagens como: longa vida útil e são extremamente econômicas.
Porém, podem explodir, se houver aumento de pressão em seu interior, resultando em
sobrecarga, curto-circuito ou carga reversa, devido ao uso inadequado. Quando exauridas,
transformam-se em resíduos perigosos, devendo ser segregadas, armazenadas, tratadas e
dispostas adequadamente, mas apenas parte das baterias de celular é coletada. (REIDLER,
2010; GÜNTHER, 1998).
Apresentam formato cilíndrico e prismático, seus materiais ativos são o chumbo
metálico e o monóxido de chumbo. Têm aplicações semelhantes às de níquel-cádmio e,
apesar de menor eficiência, apresentam a vantagem do baixo custo. Contudo, apesar de seu
baixo custo, o chumbo é tão prejudicial quanto o cádmio, do ponto de vista sanitário e
ambiental. Quando esgotadas, devem ser segregadas, armazenadas, tratadas e dispostas
adequadamente.
No Brasil, os métodos desenvolvidos para a reciclagem das pilhas ainda são
escassos, por isso, em sua maioria, são utilizados os sistemas de coletas e armazenamento
em blocos de concreto fechados.
A definição técnica para metais pesados é a de elementos químicos com densidade
acima de 4 ou 5 g/cm3 e que podem causar danos ao meio ambiente. (ALLOWAY, 1990;
WOLFF & CONCEIÇÃO, 2003). Alguns dos principais metais pesados presentes na
composição de pilhas e baterias estão listados.
Todos os tipos de pilhas e baterias encontrados contêm mercúrio, com exceção das
baterias de Lítio (Li). O mercúrio está presente nelas em quantidades variadas, dependendo
das necessidades do sistema. A função do mercúrio, nas pilhas que não o utilizam como
eletrodo, é de armazenar as impurezas contidas em suas matérias primas, as quais geram
gases que podem prejudicar seu desempenho e segurança.
Este metal funciona como elemento passivo de inibição, controlando reações
indesejáveis e aumentando seu desempenho. Sem o mercúrio, a pilha enche-se de ar,
podendo causar vazamento ou, até mesmo, explosão (ABINEE, 1994; BYD, 2001; NEMA, 1996;
ATSDR, 2002; ENVIRONMENT CANADÁ, 1991; U.S. EPA, 2002; CONAMA, 1999).
8. Níquel (Ni): estável na forma compacta. O metal pulverizado e os fumos de Ni
podem inflamar-se espontaneamente. Incompatível com alumínio, cloreto de alumínio, p-
dioxinas, hidrogênio, metanol, não metais, oxidantes e compostos de enxofre. Reage
violenta ou explosivamente com anilina, sulfeto de hidrogênio, solventes inflamáveis,
hidrazina e pós metálicos (especialmente zinco, alumínio e magnésio). (MERCK, 2002).
9. Prata (Ag): os sais de prata são incompatíveis com ácidos fortes e bases fortes.
(MERCK, 2002).
10. Zinco (Zn): o zinco puro é atóxico, mas os gases liberados pelo aquecimento
do metal, ou por reações químicas, podem irritar as vias respiratórias, se inalados . (MERCK,
2002).
Quando expostos aos metais pesados, encontrados nas pilhas e baterias, o homem e
o meio ambiente sofrem com as consequências. A disponibilidade e a toxicidade de um metal
estão relacionadas com vários fatores como: a forma química em que o metal se apresenta
no ambiente; as vias de introdução do metal no organismo; a sua biotransforma ção em
subprodutos tóxicos; a emissão para o ambiente até o aparecimento dos sintomas da
intoxicação.
Na natureza, uma pilha pode levar séculos para se decompor. Os metais pesados,
porém, podem demorar milhões de anos para perderem suas propriedades tóxica s. Em
contato com a umidade, água, calor ou outras substâncias químicas, os componentes tóxicos
vazam e contaminam tudo por onde passam, podendo provocar impactos irreparáveis no
solo, na água, nas plantas, nos animais e, principalmente, no homem.
Dentre os mais de 118 elementos químicos conhecidos atualmente, 84 são metais.
Enfatiza-se, então, que as possibilidades de contaminação ambiental por metais sejam
numerosas. Sua ocorrência natural, porém, não deve ser considerada como perigosa, pois
faz parte do equilíbrio dos ecossistemas.
Alguns metais, apesar de sua toxicidade, ocorrem na natureza de maneira escassa
ou são insolúveis, não oferecendo ameaça real à saúde pública e ao ambiente. Entretanto,
atualmente, devido a fontes antropogênicas, verifica-se um grande aumento na circulação
de metais no solo, na água e no ar e seu acúmulo na cadeia alimentar. A mobilidade de um
metal varia com o grau de turbulência do meio aéreo e aquático.
Tais metais, quando dispostos no meio ambiente, estão sujeitos a fenômenos de
deposição, ou seja, sedimentação gravitacional, a precipitação, a impactação, a adsorção e
troca química. O comportamento desses elementos em águas naturais é diretamente
influenciado pela quantidade e qualidade do material em suspensão presente. Uma parte
dos metais é adsorvida aos sólidos em suspensão, originando-se uma fase particulada e uma
fase dissolvida do metal.
As reações entre essas duas fases podem ser de natureza iônica, física ou química,
ocorrendo normalmente uma combinação dessas três formas. A relação entre as fases
dissolvida e particulada do sistema é, basicamente, determinada por fatores como: tipo de
partícula, pH, grau de solubilidade da substância química e presença de outros compostos.
Se introduzidos no meio aquático por lixiviação e no meio aéreo por gases de incineração, os
metais pesados são redistribuídos através dos ciclos geológico (ação temporal) e biológico.
O ciclo biológico inclui a bioconcentração em plantas e animais e a incorporação na
cadeia alimentar, principalmente, por meio da água e do solo.
A destruição de espécies naturais do ecossistema pode ser causada por
determinados compostos metálicos, podendo ocorrer uma seleção dos organismos capazes
de sobreviver à ação dessas substâncias. Muitas plantas e animais desenvolvem tolerância
para um particular metal em excesso, que acaba sendo utilizado para seu desenvolvimento
Caderno Meio Ambiente e Sustentabilidade | vol.2 n.2 | jan/jun 2013
44
O descarte inadequado de pilhas e baterias usadas e os impactos socioambientais
Outros fatores como poeiras e fumos contendo metais pesados, podem penetrar o
organismo pelo aparelho respiratório, porém a distribuição, deposição, retenção e absorção
no organismo dependem das propriedades físico-químicas do material inalado. (WOLFF &
CONCEIÇÃO, 2003).
Os metais pesados presentes nesses acumuladores elétricos possuem alto poder de
disseminação e uma capacidade surpreendente de acumular-se no corpo humano e em todos
os organismos vivos, que são incapazes de metabolizá-los ou eliminá-los. Por isso, são tão
perigosos para a saúde dos seres vivos.
O Quadro 1 apresenta os principais efeitos à saúde devido a alguns metais presentes
nas pilhas e baterias estudadas.
Quadro 1: Principais efeitos à saúde devido a alguns metais presentes nas pilhas e baterias estudadas
* Esses metais estão incluídos na Lista “TOP 20” da USEPA, entre as 20 substâncias
mais perigosas à saúde e ao ambiente: Cd, Cr, Hg, Pb (CERCLA 2002).
O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), em 1999, aprovou uma
resolução inédita na América Latina (Resolução CONAMA n°257, de 30.06.99), que aborda os
impactos ambientais negativos devido ao descarte inadequado de pilhas e baterias usadas e
trata de sua disposição final.
A Resolução explica que os fabricantes e importadores devem recolher o material e
promover a destinação final, de forma que seja fiscalizado pelos órgãos públicos ambientais.
Esta ainda estabelece que as pilhas e baterias, quando esgotadas após o uso, devem
ser entregues pelos usuários aos locais que as comercializaram ou então à rede de
assistência técnica autorizada, em seguida devem ser repassadas aos fabricantes e
importadores, para que assim passem por procedimentos de reutilização, reciclagem,
tratamento ou disposição final adequada.
Outras resoluções que dispõe sobre as pilhas e baterias foram aprovadas após a
resolução 257/99 do CONAMA. A atual resolução do CONAMA nº 401/08, entrou em vigor em
2009, e determina as novas reduções nos limites de mercúrio, cádmio e chumbo permitidos
na composição das pilhas e baterias.
Tais reduções implicam até 0,0005% em peso de mercúrio quando for do tipo pilha
ou acumulador portátil, de até 0,002% em peso de cádmio quando for do tipo pilha ou
acumulador portátil, de até 2,0% em peso de mercúrio quando for do tipo pilha-botão,
bateria de pilha botão e pilha miniatura (Resolução CONAMA 263/99) e de até 0,1% em peso
de chumbo em todas. As baterias, com sistema eletroquímico chumbo-ácido, não poderão
possuir teores de metais acima dos seguintes limites: mercúrio 0,005% em peso, e cádmio
0,010% em peso.
Na impossibilidade de reutilização ou reciclagem das pilhas e baterias descritas no
art. 1º da resolução, a destinação final ocorrerá por incineração, conforma as condições
técnicas previstas na NBR – 11175, e os padrões de qualidade do ar estabelecidos pela
Resolução Conama nº 03, de 28 de junho de 1990.
CONCLUSÃO
ampliada sobre as pilhas e baterias, para que a obrigação do fabricante não termine no
momento da venda, do consumo ou da utilização do produto, mas seja responsáv el pela
minimização dos impactos ocasionados ao meio ambiente e as pessoas e/ou animais, através
de investimento em novas tecnologias ou melhorias no sistema de gerenciamento desses
produtos.
Portanto, é de fundamental importância que as organizações produtoras de pilhas e
baterias comecem a considerar os fluxos logísticos reversos no planejamento de seus canais
de distribuição.
REFERÊNCIAS
ATSDR – Agency for Toxic Substances and Disease Registry, 2002. Disponível em:
http://www.astdr.cdc.gov. Acesso em 24 de abril de 2012.
BRASIL. Conselho Nacional de Meio Ambiente. Resolução CONAMA no 257/99: dispõe sobre o
descarte e o gerenciamento ambientalmente adequado de pilhas e baterias usadas, no que
tange à coleta, reutilização reciclagem, tratamento, ou disposição final. Diário Oficial da
União, Brasília, DF, 1999. Acesso em 23 de abril de 2012.
BRASIL. Conselho Nacional de Meio Ambiente. Resolução CONAMA no 263/99: dispõe sobre a
inclusão, na Resolução CONAMA 257/99, das pilhas miniatura e botão, estabelecendo limites
do teor de mercúrio por elemento. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 1999. Acesso em 23
de abril de 2012.
BYD Batteries Co. Ltd. BYD Batteries Technical Handbook. China; 2001. Centro de
Tecnologia Mineral. Reciclagem de Pilhas Secas. Relatório Interno. CETEM. Rio de Janeiro;
1999.
Environment Canada. Environmental Protection Series. Report EPS 4/CE/1; Canadá; 1991.
Federação das Indústrias do Rio de Janeiro. Guia para coleta seletiva de pilhas e baterias.
FIRJAN: Rio de Janeiro; 2000.
GOYER RA –Toxic effects pf metal. In; Klaaser et , Doull J.ed. Casaret and Doulls
Toxicology. 3rd edition. Nee York: MacMillan Publishing Company. 1986.
LYZNICKI, J. M. et al. Automotive and household batteries. In: Handbook of Solid Waste
Management. USA: McGraw-Hill, 1994.
ROA, K.R.V, et al. Pilhas e baterias: usos e descartes x impactos ambientais. Caderno do
professor. GEPEQ- USP: curso de formação continuada de professores, 2009. Disponível
em:
http://www.cienciamao.if.usp.br/dados/aas/_indefinidopilhasebateria.arquivo.pdf.
Acesso em: 09 de janeiro de 2012.