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11 DE NOVEMBRO DE 2013 POR MARIEGOULART

Sobre o conceito de história de Walter Benjamin


As teses Sobre o conceito de história escritas por Walter Benjamin pouco antes de sua tentativa de escapar da
perseguição nazista, têm a força de um manifesto. Mais do que uma proposta epistemológica, através dos 18
fragmentos que compõem o texto, o novo conceito de história cunhado pelo autor tem um sentido
revolucionário. Como uma reflexão dentro da filosofia da história, os curtos e intensos fragmentos permitem
discutir o modo como se trabalha a história dentro da história, como a filosofia pensa a história e ainda a
própria ideia de sentido (que em si contém a noção de linearidade questionada pelo autor).

Repleto de metáforas e ironias, o texto por vezes adquire um aspecto enigmático e que produz estranheza pelas
ideias articulados (como marxismo e teologia). É justamente através da fusão de conceitos e imagens que se
revalida o materialismo histórico – tão referenciado nas teses – e que somos convidados a refletir tanto sobre
conceitos consagrados quanto sobre o próprio modo de pensar, já que as associações pouco usuais rompem
com hábitos mentais nos quais estamos presos.

Dentre as criticas desenvolvidas ao longo do texto Benjamin ataca com veemência a concepção de que a
história se desenvolve através de um movimento mecânico que progride de modo
linear e necessário em apenas um sentido. Como na metáfora do
autômato (fantoche) que abre o conjunto de fragmentos, a história que é criticada opera como uma máquina
maniqueísta que conduz automaticamente à um destino que se apresenta como uma prisão. No lugar dessa
forma positivista de história, Benjamin propõe uma abertura da história, isto é, uma história que não conhece
o futuro e que está aberta às distintas possibilidades. A crítica ao conceito de progresso (que no texto é dirigida
ao progresso do capitalismo predatório e à uma visão evolucionista da história) deve ser pensada com cautela,
afinal, toda luta e militância têm por finalidade promover melhoras, trazendo de antemão embutido em si a
ideia de progresso.
Neste novo conceito, a história deve ser pensada como reminiscência, como um resgate militante que não
recupera um passado qualquer, mas um passado que interessa ao presente. Como o ponto de vista proposto
nesse olhar histórico é o do oprimido, interessa então resgatar aquilo que foi esquecido, que foi deixado de
lado por não fazer parte dos bens culturais que testemunham as vitórias dos opressores.

Com o resgate da história dos vencidos o texto encontra Foucault. O autor francês teorizou e operou esse
resgate, recuperando a figura e a história de sujeitos como loucos e presos que foram silenciados pela produção
científica ligada aos rituais de verdade promovidos pelos que exercem e exerceram o poder. Como numa
denúncia, Foucault resgata essas histórias escondidas por trás da história oficial, lembrando-nos que para
compreender a sociedade é necessário olhar para os modos como o conhecimento é construído e para o que se
esconde nessa construção. Em Benjamin não se trata de uma proposta metodológica ou de denúncia contra os
saberes consagrados; mais do que um novo modo de se escrever a história, encontramos aqui uma ação
militante.

A própria estrutura do texto coloca em prática o que o novo conceito de historia propõe, privilegiando o
fragmento em detrimento da linearidade. Do ponto de vista dos vencidos a história é uma sucessão de
catástrofes. Todavia, na busca pelo contínuo o historicista organiza os fragmentos numa linearidade artificial
que deixa para trás as rupturas que abalariam esse sentido único. O progresso é aqui justamente o movimento
que organiza todos os fragmentos em uma linearidade e que ignorar desvios e rupturas.
Na proposição de Benjamin a recuperação do passado passa por uma imagem – proposta que se espelha na
construção do texto. Atualmente vemos, de um lado, a negação da imagem em favor de outros sentidos e, de
outro, o excesso de imagens que produz uma super-estimulação dos sentidos, compondo a intensificação da
vida nervosa experimentada nas sociedades modernas de que nos fala Simmel. Para além desse excesso e de
sua negação, trabalhar com a imagem nesse resgate do passado é bastante prolífero sendo, no mínimo, coerente
com o caráter imagético da memória. Na reminiscências dos sentidos misturados é a imagem quem tem mais
força.

História e cinema da América Latina


Com essas considerações nos perguntamos: como pensar a história do cinema da América Latina? Que
história contar? Se toda história pressupõe um recorte limitado, que privilegia fragmentos e deixa
outros de lado, o que devemos selecionar? O que é próprio do cinema da América Latina?

Como deixar aparente os fragmentos ocultados e esquecidos pelo historicismo


progressista? Como colocar em prática o que Foucault e Benjamin propõe, isto é como dar voz àquilo que não
se ouviu e fazer ver no presente a irmã que não se conheceu? Não é tarefa simples, ou talvez nem mesmo
viável, dar conta e costurar todos os fragmentos: como nos fala Benjamin o Anjo da história (inspirado no
desenho Angelus Novus de Paul Klee) tenta lidar com os fragmentos mas eles se tornam cada vez mais
numerosos e vão se acumulando sobre nossos pés, formando uma pilha de ruínas que cresce rumo ao céu.
Tal qual operado por Benjamin nas Teses, podemos na busca pela recuperação do não conhecido ou do que é
pouco visível, recorrer a uma imagem aurática, isto é uma imagem que tem a força de resistência e que está a
contrapelo. Mas como fazer isso no cinema da América Latina? Qual seria a imagem aurática que possibilitaria
a construção de uma constelação? Quando falamos do cinema da América Latina estamos insinuando uma
ideia da América Latina que é construída através da seleção e do recorte.
Nesse debate apareceram duas questões para o grupo que se mostram como possibilidades na construção dessa
imagem aurática e em um recorte que pode interessar à essa história do cinema da América Latina: a questão
indígena e a das lutas como resistência ao modelo político-econômico.

Na América Latina apesar da ampla e diversa, pouco conhecemos da produção audiovisual indígena. A figura
do índio atravessa tanto implícita quanto explicitamente diversas produções audiovisuais, mas ele é largamente
ignorado e quando aparece recebe o mesmo tratamento dado ao sertanejo, sendo pensado em oposição ao
urbano e não como um personagem dentro do caldeirão étnico nacional. Assim como o cinema, a história, a
arte e a cultura indígena não são discutidas ou conhecidas fora do campo antropológico. De modo geral, nos
países de língua hispânicas da América Latina o recalque do índio é menor do que no Brasil, mas o racismo e a
segregação entre campo e cidade são maiores, mesmo em nações como a Bolívia que passou por revoluções
marxistas.

Além da questão indígena a luta contra um modelo político econômico passa por diversas obras da América
Latina e também pode ser pensada como uma das múltiplas identidades dessas produções, identidade que
também se constrói a contrapelo e que convém ser pensada nessa reflexão sobre qual história contar do
cinema da América Latina.

Referência bibliográfica do debate:


BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito de História. In: Mágia e Técnica, arte e política: ensaios sobre
literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1996. Disponível aqui
Citações feitas no debate:
BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. In: Mágia e Técnica, arte e
política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1996. Disponivel aqui
FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. Rio de Janeiro: Graal, 2003. Disponivel aqui
SIMMEL, Georg. A metrópole e a vida mental. In: VELHO, Gilherme. O Fenômeno Urbano. Rio de Janeiro:
Zahar, 1973. Disponivel aqui

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