e seu
contexto
Módulo 04 – O Novo Testamento e seu
contexto sociohistórico político e religioso
MÓDULO 04
O NOVO TESTAMENTO, SEU CONTEXTO
SOCIOHISTÓRICO, POLÍTICO E RELIGIOSO.
1.1 Introdução
1.2 Roma e os demais povos
1.3 Os amigos de Roma: a cidadania
1.4 O sistema romano de dominação: a pax romana
1.5 O sistema tributário
1.6 A religião no Império
1.7 Conclusão
2.1 Introdução
2.2 A situação da Galileia e da Judéia no século I EC
2.3 Os tributos na terra de Israel
2.4 A reação dos judeus à dominação
2.5 Instituições religiosas na terra de Israel
2.6 O imaginário popular
2.7 Movimentos religiosos
2.8 Movimentos políticos e de resistência
2.9 Conclusão
UNIDADE 1
O IMPÉRIO ROMANO NO SÉCULO I EC
1.1 Introdução
Para os romanos todos os povos eram “primitivos”, inclusive os gregos, por isso
gostavam de listar os povos dominados como se fossem exemplares de culturas
inferiores a serem domesticadas e civilizadas. Dentre esses grupos considerados
estranhos estavam os judeus, tanto os da diáspora quanto os da Palestina. A
economia romana dependia do trabalho escravo para sua produção, por isso é
compreendida como uma sociedade escravista.
utilizar sua própria moeda e seu sistema religioso e cultural, desde que pagas-
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A cidadania romana era um conceito mais amplo do que em outras cidades. Ro-
ma era mais que uma cidade. Para os romanos, era o centro do mundo para on-
de convergiam todos os povos, e de onde irradiava a liberdade e a lei, segundo
seus conceitos e debaixo de seu domínio. Assim, ter a cidadania romana signifi-
cava ser parte da cidade, mesmo estando a milhares de quilômetros dela, em
qualquer parte do Império.
Esta cidadania era concedida a escravos libertos, mas que não tinham plenos
direitos políticos, como votar ou ser votados. Seus filhos, no entanto, tinham di-
reito total. Também era concedida a pessoas e povos aliados; muitos reis de ci-
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dades helenísticas procuravam este status, e para fortalecer esses laços recorri-
am inclusive a casamentos entre a nobreza romana e as elites locais. Esses eram
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A Bíblia e seu contexto
MÓDULO INTRODUTÓRIO – ESPECIALIZAÇÃO EM EXEGESE BÍBLICA
Em termos gerais a pax romana caracterizava-se por uma série de ações que
levassem uma nação a considerar o César como senhor absoluto. No II século EC
o Império Romano estava alcançando seu maior limite, e tanto a Ásia, quanto o
Oriente Médio
e a Germânia
estavam sob
seus domínios.
A “paz” que
Roma trazia
aos territórios
conquistados
na verdade era
um método de
pacificação ex-
tremamente
violento: qual-
quer resistên-
cia era respon-
dida com bru-
1
De acordo com LAWRENCE, Paul. Atlas histórico e geográfico da Bíblia. Barueri: SBB, 2008, p.
150: “Quando Jesus nasceu, em 5 AEC, quase toda a costa do Mediterrâneo estava sob o domí-
nio de Roma, desfrutando prosperidade e paz sem precedentes: a Pax Romana (paz Romana).
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ferente de Horsley, diversos pesquisadores não assumem o locus hermenêutico do oprimido pe-
lo Império, o que faz o posicionamento de Horsley parecer exagerado frente outras leituras so-
bre a Pax Romana.
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Isso seria um controle indireto, com os reis e os homens fortes nativos, mesmo
que tivessem que manter forças militares para o caso de revoltas. É por isso que
o Sumo Sacerdote de Jerusalém continuou com status e poder, apesar da domi-
nação
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9
Página
1.7 Conclusão
Algumas contradições marcam esse Império: (i) tinha uma diplomacia em con-
traste à violência na dominação; (ii) admitia a cidadania aos povos dominados,
apesar de desconfiar dos “bárbaros” (os diferentes); (iii) preconizava a tolerância
religiosa em geral, mas perseguiu a judeus e cristãos; (iv) respeitava os costu-
mes locais dos povos dominados, mas impunha o culto ao Imperador.
Nesse domínio, cujo controle central está na cidade de Roma e na figura emble-
mática (simbólica, diferenciada) do César e Kyrios (Senhor), é que os judeus
estão presentes, e de onde emergem os cristãos com sua nova mensagem. Um
cenário explosivo e irrequieto para todos.
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UNIDADE 2
A DOMINAÇÃO ROMANA NA PALESTINA NO SÉCULO I EC
2.1 Introdução
sos mais radicais, como os fariseus. Mas de fato eles se mantinham fiéis à Torá2.
Ao sistema econômico, devemos também somar os saques dos exércitos roma-
nos, permitidos pelas autoridades. Caso uma tropa estivesse passando em um
local com plantações ou animais, tinha o direito de requerer a produção para
alimentar os soldados. Em geral nada deixavam para os agricultores e fazendei-
ros, que se vendo sem meio de subsistência, abandonavam o campo para tentar
sobreviver nas cidades maiores. Só em Jerusalém, o contingente de pessoas nas
ruas era bastante grande. Além disso, não era raro que os soldados praticassem
estupros em mulheres vivendo no campo, situação que causava vergonha e ódio
por parte dos judeus.
Horsley aponta que no caso dos camponeses judeus e galileus. Eles viviam em
pequenas comunidades semi-independentes, e eram a base econômica produtiva
do Templo de Jerusalém e seu sacerdócio. Eles representavam também a base
das cidades-capitais herodianas de Séforis e Tiberíades, na Galileia. Nestes luga-
res, o papel dos camponeses era entregar o produto em dízimos, impostos e tri-
butos para o sustento dos governantes: “Além disso, camponeses judeus e gali-
leus praticavam e desenvolviam a sua versão popular da tradição israelita que,
muito mais, do que a versão aceita em Jerusalém destacava histórias de liberta-
ção de dominações opressoras, de líderes populares como Elias e de ideais de
justiça da aliança” (HORSLEY, Richard. Jesus e o Império, p.45).
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2
Segundo Jurgen Roloff, “Em torno da virada do século II para o I foi promovida a rejudaização
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sistemática mediante a imigração de judeus fiéis à Lei. O objetivo era recuperar o território ori-
ginal da terra de Israel para o povo de Israel”. ROLOFF, Jurgen. A Igreja no Novo Testamento,
p.19.
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máticos e que aguardavam a chegada do Messias num nível mais político do que
religioso.
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O Templo: não era apenas o lugar determinado para o culto sacrificial, mas era
considerado na época o centro vital do povo em todos os âmbitos da vida, tanto
no âmbito político-habitacional como do religioso-social. Apenas para ilustrar, na
festa da Páscoa a população da cidade se multiplicava de 30.000 para 180.000,
por conta dos peregrinos que afluíam de toda a Palestina e da Diáspora. É im-
possível pensar a religiosidade judaica antes do ano 70 EC sem associá-la ao
Templo. Mas outras instituições concorriam paralelas:
O Apocalipsismo surgiu no
século II AEC como fenômeno
de dissidência, como salvação
que acontece além da história, por causa da impotência dos oprimidos diante de
uma situação de crise social, daí eles projetarem para o futuro (num sentido es-
catológico) a salvação plena, enquanto no presente acontecem terríveis catástro-
fes. Fala-se então de uma mudança radical das coisas.
De forma resumida, foi esse imaginário que possibilitou a forte resistência dos
judeus e dos galileus contra os romanos e os colaboracionistas, até porque esta-
15
A comunidade de
Qumran entende-se
como completamente
separada no mundo,
“os filhos da Luz”, que
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lançando as bases para a luta contra o Império Romano. Para eles a salvação se
dava mediante a filiação ao grupo, aos banhos batismais semanais, e ao segui-
mento do Mestre da Justiça, o líder do grupo.
Por isso mesmo logo se mostraram inimigos dos fariseus e porque não dizer dos
essênios, apesar de pouco sabermos deles teologicamente. A informação sobre
eles é de fonte indireta e por isso mesmo marcada por preconceito e um olhar
“de fora”. No entanto, é notório que era um grupo conservador e ortodoxo em
suas crenças e posturas. Acreditavam acima de tudo na unidade de culto, nação,
terra e história.
Sua doutrina baseava-se na crença de que o ser humano faz o seu destino; a
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negação do além, bem como da ressurreição dos mortos e prêmio após morte;
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atentavam apenas para a Torá escrita, rejeitando toda a Torá Oral; estavam li-
b. O grupo dos zelotes: Eles são mencionados pela primeira vez no ano de 66 EC
como escolta armada do sicário Menaquém, quando este retornava de forma
triunfal para Jerusalém reinvidicando sua realeza. Seu nome se deve ao fato de
se considerarem zelosos da lei de Deus, como também da revolta dos macabeus.
Mas não se pode afirmar seguramente se eles existiam como grupo antes de 66
EC.
Eram considerados a parte mais radical da revolta judaica, pois lutavam aberta-
mente com os romanos, e foram decisivos na guerra judaica de 66-70 EC, pois
se aquartelaram no Templo e lá ficaram muito tempo protegidos dos soldados. A
única indicação de zelote anterior a 66 EC é o nome do discípulo de Jesus: Simão
Zelote (Lc 6.15; At 1.13), que viajou da Galileia com o mestre. Possivelmente
isso indicaria a pré-história dos zelotes na Galileia.
2.9 Conclusão
18
A dominação romana na região da Síria e Palestina, onde está hoje Israel e seus
vizinhos, foi marcada pela exploração, conflitos e desigualdades sociais. Dentro
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UNIDADE 3
OS JUDAÍSMOS APÓS 70 EC
um cerco que durou dois anos. Durante esse tempo, ele foi chamado a Roma,
onde tornou-se Imperador, e deixou seu filho Tito comandando as tropas de cer-
co. Ao fim de um período de grande morticínio e desespero, acabou por entrar na
cidade, e destruiu o templo completamente, como demonstração de força.
Do ponto de vista político, a partir daí a vida para os judeus na Palestina tornou-
se pior do que para os que viviam na Diáspora. Foram exigidos impostos novos e
mais severos, e com a 10ª Legião estabelecida em Jerusalém, mais recursos
eram necessários. Tanto as classes superiores quanto as inferiores foram afeta-
das, o que aproximou os grupos sociais, mantendo, no entanto, as diferenças
ideológicas e de crenças.
Motivados pela crise perpretada pelos romanos e o mundo helênico, por um lado,
e pelo conflito com os cristãos, por outro, os sábios judeus reuniram-se no norte
da Palestina, na cidade de Jâmnia (alguns falam em Jabne) e concluíram o câ-
non, pelos idos dos anos 90 EC. O critério fundamental estabelecido por eles foi:
língua sagrada, terra sagrada, doutrina sagrada.
Assim nasceu, no fim do século I EC, o cânon judaico que persiste até hoje, e
que depois foi adotado pelos protestantes a partir da proposta de Lutero, com
algumas diferenças na organização. Essa definição por parte dos sábios judeus
consolidou o processo de diferenciação entre eles e os cristãos, principalmente, a
ponto de decidirem excluir os
cristãos de sua convivência,
através da bênção do Birkat
ha-minim, que faz parte da
Oração das Dezoito Bênçãos,
sendo esta a 12ª.
Os pesquisadores Ekkehard e
Wolfgang Stegemann mostram
que essa oração, associada ao
grupo de Jâmnia pelos anos 90
EC, foram uma forma de sele-
ção dentre os frequentadores
das sinagogas. Ela não foi ne-
cessariamente dirigida para os
cristãos como tais, mas para
praticantes judaicos que agiam
de forma considerada indevida
(dentre eles os seguidores de Jesus). O Talmude Babilônico tem a seguinte ver-
são:
e não sejam relacionados juntamente com os justos. Louvado sejas tu, Se-
nhor, que humilhas os insolentes.
O texto evidencia que os judeus nesse período queriam a pureza, ou pelo menos,
uma definição de grupo mais homogênea. Essa oração forçava as pessoas que
pensavam diferente a se autoexcluir da sinagoga. Diversos segmentos, dentre
eles os cristãos, devem ter deixado de frequentar os cultos sinagogais (o número
de sinagogas na Palestina cresceu muito depois da destruição do templo e aca-
bou se tornando o locus primordial da ação cúltica). Concretamente, ela impedia
que os “hereges” atuassem como liturgos na sinagoga, mas não impedia nin-
guém de ser judeu, até porque a identidade judaica dependia de outros fatores,
definidos pela halaká (STEGEMANN e EKKEHARD. História social do protocristia-
nismo, p.267-269).
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Página
UNIDADE 4
AS COMUNIDADES CRISTÃS NA PALESTINA
A maneira como Jesus reuniu seu grupo de seguidores foi uma novidade em re-
lação aos outros mestres de seu tempo. (i) O chamado foi uma iniciativa de
Jesus para com os discípulos, sendo ele quem tomava a iniciativa, enquanto os
rabinos agiam de forma oposta: os discípulos escolhiam seu mestre. Ele mesmo
saiu conclamando pessoas para o seguirem, o que explica a reação de Jesus
àquelas pessoas que desejam segui-lo, colocando uma série de obstáculos ao
seguimento (Lc 9, 57-62). A tradição evangélica exemplifica alguns desses cha-
mados, mas certamente não o esgota. Acredita-se que os primeiros discípulos de
Jesus tenham saído do círculo de João Batista, aos quais com o tempo outros
foram se integrando. Na verdade o círculo de discípulos de Jesus foi bastante
grande, reunindo homens, mulheres e crianças (Lc 8.1).
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Página
Por que Jesus chamou pessoas para o seguirem? A tradição dos evangelhos
aponta para o desejo de formar o novo povo de Deus, que iria continuar e ampli-
ar o projeto de Israel. Stegemann comenta: “fica claro que se trata aí da incum-
bência da participação na atuação de Jesus em favor do reinado iminente de
Deus e, assim, do ingresso numa comunhão de vida e de destino com Jesus,
marcada pelo reinado de Deus.” Em termos negativos, esse chamamento exigia
o abandono das famílias – em eventualmente, o abandono temporário também
das esposas – e a renúncia total aos vínculos socioeconômicos (Mc 1.16-20,
10.25, Lc 9.57-62, Mt 8.19-22, Lc 14.26, Mt 10.37). Positivamente, significava o
próprio chamado a fazer parte do círculo dos doze, ao “seguimento”, pela eleição
para “estar com” Jesus e também pela participação na sua forma de vida “vaga-
bundante”. Com isso, participavam também da missão de Jesus, podendo inclu-
sive serem enviados para cumprir missões ainda durante o ministério de Jesus
na Galileia e arredores (Mc 6,7-13). (STEGEMANN e EKKEHARD. História social
do protocristianismo, p.228).
Do grupo maior foram selecionados doze para estar mais próximo deles, que ao
serem enviados, passaram a ser conhecidos como (iii) apóstolos (por causa do
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Página
3
Esse texto não faz parte dos manuscritos mais antigos do evangelho de João, mas muito cedo foi
considerado coerente com a tradição oral a respeito de Jesus, por isso foi incorporado à redação
final do evangelho.
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A Bíblia e seu contexto
MÓDULO INTRODUTÓRIO – ESPECIALIZAÇÃO EM EXEGESE BÍBLICA
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(v) A ceia está vinculada aos primeiros discípulos de Jesus e era a marca de seu
Página
dush (ações de graças, gr. eucharistía) sobre o último cálice, de modo ritual e
piedoso. Desse modo, o que a comunidade cristã faz é dar uma ressignificação
aos costumes religiosos judaicos praticados nas refeições, e não criar um novo
culto. Posteriormente, a igreja passou a assinalar este momento como um marco
de fé, especialmente a partir da última ceia e de seu significado teológico. Uma
expectativa escatológica passou a ser incorporada a ela (cf. Lc 22.14-23) e a
igreja confirma essa expectativa até aos dias de hoje (e em acordo com a tradi-
ção paulina de 1 Co 11).
Há uma tendência de quem lê Atos dos Apóstolos em achar que a Igreja de Jeru-
salém era uma estrutura bem organizada, em que tudo funcionava perfeitamente
e que só teve alguns problemas que conseguiu solucioná-los. Isso se deve, em
especial, pelo texto de At 2.42-47, um dos mais populares em estudos bíblicos
quando se pretende tratar da essência da Igreja. Problemas exegéticos à parte, o
fato é que a memória registrada por Lucas em Atos foi escrita anos depois do fim
dessa comunidade, que deixou de existir durante a guerra judaico-romana.
chegada do reino
de Deus e do juí-
Página
As evidências nos evangelhos apontam que João também era líder por lá, mas
que aos poucos ele deslocou-se com seus discípulos para a transjordânia, num
projeto de comunidade mais específico. Dessa comunidade nasceu o Evangelho
de João, e que se deslocou para o norte por força da situação na guerra judaico-
romana, até chegar a Éfeso, já no fim do século I EC.
A cidade de Antioquia era uma das grandes cidades do Império Romano, só per-
dendo em tamanho para Roma e Alexandria, e capital da província da Síria. Pon-
to de convergência para várias rotas comerciais, sua localização privilegiada for-
talecia sua importância. A população girava em torno de 150 a 200 mil pessoas,
mas a área da cidade era de apenas 3km2, o que fazia que a densidade popula-
cional fosse muito alta (205 pessoas por acre. Bombaim tem 183 e Calcutá 122).
Essa falta de espaço levava as pessoas a conflitos regularmente, pois o melhor
espaço (no centro) era da elite, junto dos muitos edifícios públicos que caracteri-
zavam uma cidade romana, como biblioteca, anfiteatro, banhos, circo, e vários
templos. Socialmente a cidade era dividida entre a elite, que correspondia a 5 a
10% da população, e a não-elite, e era dirigida por um legado romano.
Sua origem é modesta, fruto de uma expansão do cristianismo nascente por toda
a Síria, Fenícia e Chipre (At 11.19). Aliás, o relato de Atos dos Apóstolos aponta
para uma grande importância missionária da comunidade cristã desta cidade. Os
indícios do livro apontam para Antioquia como sede missionária das viagens de
Paulo e Barnabé (At 13), e pode ser inclusive a sede da comunidade que originou
a obra Lucas-Atos.
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Página
UNIDADE 5
AS COMUNIDADES CRISTÃS NA DIÁSPORA
a) Expansão rápida pelas rotas comerciais: o fato dos romanos dominarem todo
o Mediterrâneo e as nações ao seu redor foi um aliado para o rápido e constante
crescimento e divulgação do cristianismo. Os militares combatiam tanto os salte-
adores de estrada quanto os piratas marítimos, e a administração romana era
responsável por cuidar das estradas, facilitando o deslocamento de pessoas e
grupos.
d) Conflito com Jerusalém: o cristianismo defendido por Paulo foi muito combati-
do pelos cristãos palestinenses, especialmente aqueles sediados em Jerusalém.
Os principais pontos de contenda parecem ser aqueles que envolviam a obser-
32
Uma síntese da formação de Paulo é feita por ele mesmo em Fp 3.5-6 (e reafir-
mado em 2 Co 11.22; Gl 1.14; 2.15). De acordo com essas fontes, Paulo era
descendente de uma família israelita da tribo de Benjamim, foi circuncidado ao
oitavo dia, teve uma rigorosa educação judaica, sendo depois membro do grupo
dos fariseus. Nesse caso, fica evidente que recebeu larga instrução na Torá e nas
Escrituras hebraicas. Mas como cresceu na diáspora, também se conclui que ele
tinha fluência no grego, e até deve ter tomado conhecimento das escolas filosófi-
cas e religiosas vigentes no seu tempo. Atos dos Apóstolos contém outras infor-
mações a respeito de Paulo, mas que dificilmente tem cunho histórico preciso,
sendo mais uma construção lendária da imagem e do perfil do apóstolo Paulo
pelo autor do livro.
Além disso, as cartas de Paulo demonstram que ele tinha formação na cultura
helenística, não só por escrever fluentemente em grego (ainda que de forma li-
mitada), como por demonstrar conhecimento de estruturas filosóficas e certa
habilidade retórica, especialmente na diatribe estóico-cínica.
4
Conferir a associação do discípulo Tomé com sua proeminência no ambiente gnóstico. Verifique
Página
ALTANER, Bethold; STUIBER, Alfred. Patrologia: vida, obras e doutrina dos pa-
dres da Igreja. São Paulo: Paulinas, 1972.