CEARÁ. CEARÁ *
RESUMO
A cobertura vegetal tem um papel imprescindível na proteção e conservaçãodosrecursosnaturais,
principalmente no que diz respeito aossolos.O presenteestudoobjetiva analisaro uso dasterrasem áreado
município de Viçosa do Ceará-CE,entreos anosde 1958e 1988,utilizando técnicasde sensoriamentoremoto
e geoprocessamento,para avaliar a degradaçãoda cobertura vegetal dasunidadesfitoecológicas: Floresta
SubperenifóliaTropical Pluvio-Nebular (mataúmida), FlorestaCaducifólia Espinhosa(caatinga)e o carrasco.
A cobertura vegetal foi fotointerpretada a partir de padrõesfotográficos adaptados,utilizando técnicas de
sensoriamentoremoto aéreoe geoprocessamento,estabelecendo-se
regrasde cruzamentodos dadosobtidos.
Priorizou-seasunidadesfitoecológicasem relaçãoàsdemaisclassesde uso (áreacom cultura,capoeirae solo
exposto), obtendo-se,assim,o mapa de degradaçãoda cobertura vegetal na áreaestudada.Comprovou-se,
com astécnicasutilizadas,a degradaçãoda coberturavegetalda áreaestudadaem funçãodo usointensivo das
terras(elevadaconcentraçãominifundiária) de solos. A vegetaçãodo tipo mataúmida foi a mais degradadano
período estudado,por estar associadaa solos férteis e disponibilidade de água,seguido do carrascoe, por
último, a caatinga.A presençade espéciesvegetaisde ambientesxerófilos em áreasquepredominavammata
úmida é um dos indicadoresdascondiçõesdegradadasdo ambiente.
SUMMARY
The coverage has a very important role in tenns of protection and conservation of the natural resources,
mainly with respect to the soils. The present investigations, thus, had the objective both to map and to analyze
theland use stages (from 1958 to 1988) ofsites locatedatthe Viçosa do Cearácounty, State ofCeará, Brazil,
in arder to evaluate the degradation of the forest coverage corresponding to main phytoecological units of the
area.Those units were: subperenifolium tropical forest pluvio nebular (humid forest), prickly caducifolium forest
Key Words: Ceará, forest coverage, Land uses, remote sensor, semi -arid, Viçosa do Ceará
à noroestedo estadodo Ceará,Microrregião Ibiapaba tando com um corte abrupto ou íngreme no "front"
Ceará,o qual limita-se ao norte com o município de (SOUZA 19). Conforme SOUZA 18, o sopé do
Granja, ao sul e lestecom o município de Tianguáe a escarpamento é considerado uma depressão erosiva
do tipo periférico, com gênese condicionada aos pro-
oestecom o Estado do Piauí, fazendo parte de duas
cessos de circundesnudação. Essa depressão perifé-
grandesbaciashidrográficas:Rio Parnalôae Coreaú.
O mesmo ocupa uma áreade 1.283km2,cujo acesso rica, unidade de relevo que compreende a outra parte
inserida no mapeamento, está relacionada com a uni-
se faz pela BR-222, distante 344 km da cidade de
dade geológica do embasamento cristalino.
Fortaleza, capital do Estadodo Ceará (SOUZA 9).
A área específica do estudo possui 292,62 As condições de clima e cobertura vegetal da
área em estudo estão relacionados aos demais com-
km2, ou seja, 22,81% da áreado município, e seen-
contrainclusa entreasseguintescoordenadasgeográ- ponentes do quadro natural, apresentando caracterís-
ticas mais ou menos diversificadas. SOUZA 18 propõe
ficas: 3029' 07" e 3042' 19" latitude S e 4102' 26" e
4109' 53" longitude W. Abrange parte da depressão zoneamentocom basena classificação de Gaussen,
periférica atingindo a menor altitude de 130m e parte citadapor BRASil.. 2.Tal métodorelacionao ritmo das
do relevo mais elevado(topo da "cuesta"daIbiapaba) temperaturase precipitaçõesduranteo ano,utilizando
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base de dados com o uso do sistema de informação rasco. Isso foi necessáriopara comprovar ou não as
geográfica (SOl), programa SOI/lNPE, versão 2.3, afirmações de COIMBRA FILHO e CÂMARA 4. O
instalado em um computador PC-486-33C e periféri- referido cruzamentogerouentãoum novo PI obtendo
cos, mesa digitalizadora e plotter, seguindo as seguin- a cartadefInitiva, ou seja,o mapade alteração(Figura
tes etapas: inicialmente foi feita a criação do projeto, 3) do uso com suasclassese respectivaslegendas.
ou seja, definiu-se a área de estudo em escala de A última etapaconsistiunaediçãoda áreasen-
1:50.000, projeção UTM CÓRREOO e unidade de do mensuradasas áreasdos mapasno computador e
medida em metros; em seguida criou-se os planos de editado o relatório das mesmasem km2, sendocon-
informação (PI) referentes ao uso 1 e uso 2 (referen- vertida parahectaree percentual.
tes aos "overlays" dos anos de 1958 e 1988). Com o
uso da mesa digitalizadora fez-se a calibração da car-
ta base e dos "overlays" para a entrada de dados. RESULTADOS E DISCUSSÃO
trada) e o uso na época 1 (1958) e época 2 (1988). que os númerosreferentesao ano de 1988diferem do
Fez-se o ajuste de linhas, identificação dos polígonos Tabela 3, isso porque determinadas classesforam
com a devida colocação dos centróides. fotointerpretadas, como capoeira, áreacom cultura,
A conversão dos dados foi feita pela transfor- por exemplo,enquantono [mal do períodoconsidera-
mação (rasterização) dos polígonos em imagem e do, apresentaram elementos que permitiram
(1958) (Figura 2) e de uso 2 (1988) (Figura 3) foi período estudado,a caatingaaumentouem 3,8 %, e o
citar as regras utilizadas para fazer o cruzamento dos É importante salientarque o Tabela2 tem sua
dois planos de informação referentes ao uso 1 (1958) importância, enquantoque, no processodo resultado
e uso 2 (1988). final, esterecai ao cruzamento(Tabela3, Figura 1).
de regras criado, em que foram cruzadas as classes de município. Porém, a área do cruzamento referiu-se
interesse (mata úmida, carrasco e caatinga) do mapa apenas a 52,87 % dessa área, ou seja, 154,70 km2
de uso 1 com as demais classes (capoeira, área com (Tabela 3, Figura 2).
cultura, solo exposto) do mapa de uso 2. O cruza- Com relaçãoa áreatotal do cruzamento,ape-
fitoecológicas do mapa de uso 1 com as do mapa de rações, sendo que 7,45 km2 (25,17 %) de sua área
uso 2, isto é, mata úmida com mata úmida, caatinga não foi alterada,ou seja,continua mata.A maior ex-
mata úmida foi a única unidade fitoecológica a ser cru- ras perfazendoum total de 13,26km2 (44,81 %), en-
zada com as outras duas unidades: caatinga e o car- quanto 6,06 km2 (20,48 %) estáocupadapor capoei-
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ra. É importante salientarque nessaáreaé onde ocor- afirmou FERREIRA 7 e detectadonasfotografias aé-
re uma maior concentraçãode minifúndios, conforme reas dos anos de 1958 e 1988. Isso se deve ao
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41'112'
Figura 3 - Uso da terra em área do município de Viçosa do Ceará, CE, no ano de 1988
Figure 3 - Land uses in part of Viçosa do Ceará county, CE, in the year of 1988.
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Mata úmida -7 mataúmida 7,45 744,70 25,17
Forest humid -7 Forest humid
Mata úmida -7 Área c/ cultura 13,26 1326,00 44,81
Forest humid -7 Cultivatedarea
Mata úmida -7capoeira 6,06 606,00 20,48
Forest humid -7 Second growth
vegetation
Mata úmida -7 carrasco 1,27 126,90 4,29
Forest humid -7 Scrubland
Mata úmida -7 caatinga 1,08 108,40 3,66
Forest humid -7 Caatinga
Mata úmida -7so10exposto 0,47 46,90 1,59
~o:est ~umid -7 Exposedsoil
Subtotal 29,59 2.958,90 100,00
Subtotal
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+ 3°42'
41'b2'
te aostécnicos da áreade Pedologia, pelo apoio téc- de biodiversidade. Fortaleza, Projeto Áridas;
61p.
17. SOUZA, M. J. N. (Coord.) Meio ambiente:
diagnóstico e zoneamento geoambiental. In:
Projeto Áridas; Grupo de trabalho 1, recursos
naturais e meio ambiente. Fortaleza:
FUNCEME, 1994. V.2, p.187-203.
18. SOUZA, M. J. N. A Ibiapaba e a depressão
periférica ocidental do Ceará. Fortaleza: UFC,
1981. 38p.
19. SOUZA, M. J. N. Contribuição ao estudo das
unidades morfo-estruturais do Estado do
Ceará. Revista de Geologia, 1:73-91, 1988.
20. SOUZA, M. J. N. Geomorfologia. In: IPLANCE.
Atlas do Ceará. Fortaleza, 1989. 57p.
21. SUDENE. Levantamento de reconhecimento serni-
detalhado dos solos da Região Natural da
Ibiapaba. Fortaleza, 1980. 349p.