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Relações entre Análise Textual Discursiva e o software

ATLAS.ti em interações dialógicas

Relations between Discursive Textual Analysis and the


ATLAS.ti software in dialogic interactions

Relaciones entre el Análisis Textual Discursivo y el soft-


ware ATLAS.ti en interacciones dialógicas

(1)Ariza Ariza, Leidy Gabriela; (1)Teixeira Dias, Vânia de Morais; (1)Simplicio de


Sousa, Robson; (1)Roman Nunes, Bruna; (1)Galiazzi, Maria do Carmo; (1)Brandão
Schmidt, Elisabeth.
(1)Grupo de Pesquisa CEAMECIM – Comunidades Aprendentes em Educação Ambiental,
Ciências e Matemática. Universidade Federal do Rio Grande – FURG. Rio Grande, Brasil
Correspondência:
Mail: mariagaliazzi@furg.br
Recibido: 09-05-2015. Aceptado: 23-12-2015

Resumo

No trabalho analisa-se a articulação entre a Análise Textual Discursiva (ATD) e o


software ATLAS.ti a partir da pesquisa de resumos e dissertações e teses em uma dis-
ciplina de curso de pós-graduação. Inicialmente, apresenta-se fundamentação teórica
da ATD, metodologia fenomenológico-hermenêutica de análise qualitativa. A seguir,
evidencia-se relações entre a linguagem da ATD e do ATLAS.ti para depois descrever o
processo analítico desenvolvido em que se pretendeu desenvolver uma atividade de pes-
quisa centrada numa comunidade aprendente. Argumenta-se que o ATLAS.ti é ferramenta
cujas operações coadunam com a ATD ao auxiliar o pesquisador a estabelecer categorias
emergentes de análise; auxilia a sistematização de categorias em níveis de complexidade;
minimiza tempos de digitação de dados ao ler arquivos em diferentes formatos; favorece
trabalho coletivo de pesquisa por seu sistema de estruturação aberto. A estrutura aberta
de categorias permite fazer uso do software com os pressupostos da ATD.
Palavras-Chave: Pesquisa qualitativa; Análise textual discursiva; ATLAS.ti.

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Leidy G. Ariza, Vânia de Morais Teixeira, Robson S. de Sousa,
Bruna Roman, Mª. do Carmo Galiazzi, Elisabeth Brandão.

Resumen

El trabajo presenta el análisis de la articulación entre el Análisis Textual Discursivo


(ATD) y el software ATLAS.ti, a partir de resúmenes de investigaciones de tesis y diser-
taciones de un curso de posgrado. Inicialmente, se presenta la fundamentación teórica
de ATD, metodología fenomenológica – hermenéutica de análisis cualitativo. Luego se
evidencian relaciones entre el lenguaje del ATD y ATLAS.ti, para después describir el
proceso analítico realizado, desarrollando una actividad de investigación centrada en una
comunidad de aprendizaje. Se argumenta tras ello que ATLAS.ti es una herramienta que
permite operaciones que, junto con el ATD, apoyan al investigador en el establecimiento
de categorías emergentes de análisis, auxilia en la sistematización de categorías en ni-
veles de complejidad, minimiza los tiempos de transcripción de datos al leer archivos en
diferentes formatos, favorece el trabajo colectivo en la investigación por ser un sistema de
estructura abierta. Se concluye que la estructura abierta de categorías permite hacer uso
del software con los presupuestos del ATD.
Palabras Clave: Investigación Cualitativa; Análisis Textual Discursivo; ATLAS.ti

Abstract.

This paper presents the analysis of the link between Discursive Textual Analysis (DTA)
and ATLAS.ti software, from theses research abstracts and dissertations of a postgraduate
course. Initially, we present the theoretical foundation of DTA, the phenomenological her-
meneutic methodology of qualitative analysis. Then relations between the language of DTA
and ATLAS.ti are evident to describe later the analytic process undertaken by developing
a research activity focused on a learning community. It is argued that ATLAS.ti is a tool
which allows operations which, together with the ATD, help the researchers to establish
emerging categories of analysis, it helps in the systematization of categories in levels of
complexity, it minimizes the data entry time when reading files in different formats, it fa-
vors collective work in research because it is a system of open structure. It is concluded
that the open structure of categories allows to use the software with the assumptions of
DTA.
Keywords: Qualitative research; Discursive Textual Analysis; ATLAS.ti

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Relaciones entre el Análisis Textual Discursivo y el software ATLAS.ti
en interacciones dialógicas

I. INTRODUÇÃO os resultados, mas a ferramenta não pode


decidir por ele.
No presente trabalho apresentam-se os
resultados da análise do uso do software II. CARACTERIZAÇÃO DA DISCI-
Atlas.ti em uma pesquisa desenvolvida PLINA
com a metodologia de Análise Textual
Discursiva - ATD, experiência viven- Participaram da disciplina quinze (15)
ciada em Programas de Pós-Graduação alunos e três (03) professoras. Teve-se
em Educação da Universidade Federal como princípio pedagógico o de formar
do Rio Grande no segundo semestre de uma comunidade aprendente de pesqui-
2014, especificamente em uma discipli- sadores, considerando-a como aquela que
na que objetiva o estudo de pressupostos aprende a ser comunidade; que tem uma
epistemológicos e metodológicos de aná- atividade em conjunto, neste caso, o des-
lise de dados e informações nas pesqui- envolvimento da disciplina, tendo como
sas qualitativas em Educação. A proposta objetivos comuns – professores e alunos
pedagógica da disciplina foi de fazer uma se propondo a ensinar e aprender a ATD
pesquisa coletiva para a compreensão das com o uso do software ATLAS.ti. Além
possibilidades da Análise Textual Discur- dessas duas características, o grupo, para
siva (ATD) como metodologia de análise se constituir uma comunidade aprenden-
e interpretação de textos com o uso do te, precisa ter repertórios compartilhados
software ATLAS.ti como uma ferramenta (Wenger, 1998), neste caso, as aulas se-
de análise. Apresenta-se, portanto, o des- manais presenciais, o uso de plataforma
envolver desse trabalho coletivo, em que virtual livre como repositório das ativida-
buscou-se elaborar um constructo teórico des de análise, a utilização do software, as
relativo à ATD articulada ao ATLAS.ti, leituras e escritas exigidas e as tarefas ne-
criando situações de prática de pesquisa. cessárias reunir as análises parciais para
A atenção, ao longo da disciplina, foi a efetuar a pesquisa no coletivo.
de compreender se as posições epistemo- Considerando que a ATD é uma
lógicas e filosóficas de pesquisa presentes metodologia qualitativa que tem seus
na ATD se aproximam das do ATLAS. pressupostos a fenomenologia e a her-
ti, considerando que um software é uma menêutica, o corpus de análise desta
ferramenta que carrega princípios que pesquisa foi constituído de 150 resumos
podem divergir da metodologia usada e de dissertações e teses de três Programas
que, ao mesmo tempo, não pode dirimir a de Pós-Graduação: Educação em Ciên-
autoria do pesquisador, considerando que cias, Educação Ambiental e Educação.
a ATD se insere em uma perspectiva qua- As metodologias qualitativas têm no
litativa de pesquisa em que esse aspecto pesquisador seu principal instrumento e
é primordial. O pesquisador é o autor do as informações registradas nos resumos
processo e uma ferramenta pode facilitar constituíram as informações empíricas
o gerenciamento dos arquivos, agilizar a que deram origem aos metatextos descri-
digitação e a codificação e a produção de tivos e interpretativos (Bogdan e Biklen,
relatórios com o objetivo de comunicar 1994).

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A ATD articula princípios científicos Cada participante ficou responsável


e educativos em suas proposições. As- por um conjunto de resumos, tendo como
sim, os pesquisadores, ao apropriarem-se pergunta fenomenológica: o que é isso que
nesta pesquisa da elaboração de resumos, se mostra nos resumos de dissertações e
podem melhorá-los em suas pesquisas, ou teses? Feita a codificação e a unitarização
seja, a pesquisa muda o mundo-vida. do corpus de análise, chegou-se ao esta-
Mundo-vida, segundo Bicudo (2014) é: belecimento de enunciados descritivos, o
que entende-se como redução fenomeno-
uma ideia que traz a totalidade da lógica. Esses enunciados foram reunidos
existência humana, expondo o modo conjuntamente em categorias iniciais,
de ser complexo da historicidade des- também com produção de enunciados em
te mundo em que vivemos. Historici- processos de redução fenomenológica e,
dade porque se trata do modo pelo por processos recursivos, estabeleceram-
qual somos seres históricos e de como se as categorias finais descritivas do fenô-
fazemos história que, por um lado meno.
é pré-dado, e por outro é tecido na Sabia-se da dificuldade no estabele-
realidade vivenciada. A tessitura da cimento das Unidades de Significado e
realidade que se faz para o pesquisa- na categorização, considerando serem
dor vai se enrolando em sentidos que diferentes pesquisadores a atribuir essas
apontam para a experiência vivencia- unidades. Isto foi minimizado nos inten-
da e se dá em um corpo encarnado no sos diálogos realizados semanalmente.
mundo-vida e no momento presente Aprender a pesquisar em rede na comu-
(Bicudo, 2014, p 11). nidade aprendente foi também um dos
objetivos da disciplina, em seu princípio
O momento presente da pesqui- educativo, além de compreender a ATD
sa realizada é o de compromisso com a e fazer uso do software dada a possibi-
Educação e com a pesquisa, campos da lidade de fusão de informações. Ao po-
prática de pesquisadores em Educação. tencializar pesquisas coletivas, atribuiu-
Sendo o resumo a apresentação das pes- se sentido ainda maior às comunidades
quisas, percebe-se que é preciso aprender aprendentes de pesquisadores, cujo sis-
melhor a elaborá-los e, por isso, fez-se tema de formação está mais centrado em
desta pesquisa um exercício pedagógico pesquisas individuais.
de formação. Assim, é oportunidade de Cada aluno, como resultado do pro-
o pesquisador iniciante, na produção do cesso, produziu um metatexto correspon-
próprio resumo, trazer memórias e vivên- dente a uma das categorias finais.
cias de um passado analisado e melhor
compreendido no fazer da pesquisa. III. A ANÁLISE TEXTUAL DISCUR-
Os procedimentos de análise e de ati- SIVA
vidades pedagógicas foram disponibiliza-
dos em um ambiente virtual, com acesso A Análise Textual Discursiva é uma
aos textos teóricos (Moraes e Galiazzi, metodologia de análise qualitativa de
2007) e solicitação de atividades. informações textuais (Moraes e Galia-

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zzi, 2007). Ela se insere na perspectiva do categorias iniciais, intermediárias e


qualitativa de pesquisa, pois apresenta finais, em processos recursivos, quantas
características de uma investigação qua- vezes o pesquisador considerar necessá-
litativa, quais sejam: a) a fonte direta de rio para aproximar os sentidos que vão
dados é o ambiente natural, constituindo sendo compreendidos, em um exercício
o investigador o instrumento principal; de redução fenomenológica. Isso não sig-
b) é descritiva; c) o interesse está mais nifica apenas fazer um simples resumo ou
pelo processo do que pelos resultados ou apresentar a conclusão de uma pesquisa,
produtos; d) há a tendência em analisar os mas efetuar a redução fenomenológica
seus dados de forma indutiva; e) o signifi- que propõe:
cado é de importância vital na abordagem
qualitativa (Bogdan e Biklen, 1994). um trabalho exaustivo de evidenciar
A ATD tem uma abordagem feno- características percebidas em des-
menológica, pois inicia por uma des- taques de descrições sobre o investi-
crição a partir do cuidado com a escuta gado. Focam-se essas características
das palavras escritas nos textos. Sendo e procede-se, mediante articulações
assim, a atitude assumida na ATD foi do pensamento analítico, crítico e re-
caracterizada pela análise do que se mos- flexivo, à convergência de ideias com
tra nos resumos, indo em direção a uma maior abrangência e que digam mais
hermenêutica de textos significativos que do que aquelas colocadas em rele-
falaram da realidade investigada: o modo vância e, ao mesmo tempo, abranjam
de fazer pesquisa nos programas de pós- o dito naqueles destaques, tomados
graduação (Bicudo, 2014). em sua individualidade. Procede-se
A ATD alcança assim uma meta-com- efetuando articulações sobre articu-
preensão das práticas de pesquisa nestes lações de modo rigoroso, pois há que
programas de pós-graduação, práticas se ficar atento à interrogação formu-
percebidas pela análise dos resumos, e lada, sempre se colocando a pergunta
elabora uma análise crítica dos proces- O que diz isso do interrogado? (Bicu-
sos formativos de pesquisadores. Abarca do, 2014, p 20).
também nesta análise o uso do software
ATLAS.ti sobre as possibilidades que Perseguindo a pergunta que orientou
este software oferece a análises a partir de essa pesquisa é que os procedimentos da
uma concepção fenomenológica. Como ATD iniciaram-se com a leitura do corpus
afirma Bicudo, o trabalho é sempre um de análise para que o pesquisador tives-
esforço do pesquisador voltar-se sobre se a compreensão geral das informações
o que é efetuado, para, filosoficamente, antes de começar a análise propriamente
compreender o feito e realizar uma aná- dita.
lise crítica e reflexiva (Bicudo, 2011). A partir dessa leitura, o próximo pas-
Assim é que a ATD orienta que os textos so da ATD foi a codificação. Este proces-
sejam separados em Unidades de Signifi- so é de fundamental importância para que
cado de modo a, posteriormente, agrupar não se perca a origem das informações,
essas unidades de outra forma, construin- especialmente em uma metodologia qua-

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litativa em que a recursividade é proce- dos descritivos das Unidades de Signifi-


dimento de análise. Cada texto precisa cado. Este processo implica a retirada de
ter uma identificação e os demais passos palavras-chave para construção do enun-
de unitarização e categorização também ciado, em um movimento de descrição
exigem uma codificação, para que, se ne- como requerido por uma análise de cun-
cessário, o pesquisador identifique o texto ho fenomenológico em que se descreve o
original e encontre a informação retirada que foi dito e registrado pelo sujeito pes-
em forma de unidade de significado. quisador. Ao mesmo tempo, o momento
O processo de unitarização separa de redução fenomenológica é também
em Unidades de Significado. Este pro- exercício de escrita para o pesquisador
cesso pode ser de duas formas: uma com que na produção destas reduções estabe-
conceitos, teorias ou temáticas de análise lece sentidos que podem levá-lo a abs-
selecionadas a priori, tendo de certa for- trações em direção a maior compreensão
ma as categorias de análise já elencadas; do fenômeno em estudo.
ou pode partir de uma análise mais aber- A partir da descrição do fenômeno
ta, separando as Unidades de Significado analisado, a ATD busca compreender, em
que o pesquisador percebe, e desse modo, uma abordagem hermenêutica, estes textos
com possibilidade de construção de cate- e discursos produzidos, considerando os
gorias emergentes. No último caso, não significados construídos socialmente para
há uma teoria ou teorias a priori que sus- as palavras ditas/escritas nos textos inves-
tentam a análise. As teorias compõem o tigados. Nesta etapa efetua-se um esforço
conjunto dos significados e são buscadas inicial de ampliar os significados atribuí-
desde o início da análise para compor o dos as palavras usadas nas categorias des-
conjunto de informações. Os interlocuto- critivas pelo pesquisador com o objetivo
res empíricos e os interlocutores teóricos de ampliar a compreensão do pesquisador
dialogam nos textos analíticos. Entende- a partir dos significados atribuídos a elas
se que a segunda forma de estabelecer a na língua. No entanto este esforço inicial
interlocução teórica é que mais coaduna não é considerado suficiente.
com os pressupostos fenomenológicos e Nesta etapa, busca-se pelos diferen-
hermenêuticos desta abordagem (Moraes tes significados atribuídos às palavras
e Galiazzi, 2007). Uma atitude fenome- usadas, de modo a compreender as pos-
nológica impede que se assumam referen- sibilidades de interpretação suscitadas
ciais teóricos prévios para se conhecer e pelos registros. O exercício hermenêuti-
estudar o fenômeno que se mostra ao pes- co inicial se dá pela busca da etimologia
quisador que o interroga (Bicudo, 2011). da palavra, conhecendo-se, assim, a sua
Uma atitude hermenêutica de escuta aos origem datada em um contexto histórico.
pré-juízos do pesquisador também carece Um segundo momento hermenêutico é a
mais de construção de conceitos no des- busca pelos diferentes significados atri-
enrolar da pesquisa do que teorias de base buídos e construídos socialmente para as
a priori. palavras que foram, ao longo da descrição
Um procedimento importante da ATD e redução fenomenológica, se mostrando
é o da construção dos títulos ou enuncia- ao pesquisador.

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Um terceiro conjunto de informações As ideias produzidas, os enunciados


trazidas para o conjunto de informações, elaborados a partir da interlocução
o caldeirão (Moraes e Galiazzi, 2007), com outras vozes se constituem em
são informações e argumentos de teóricos forças transformativas do pesquisa-
que estudam o tema. Todo esse conjunto dor-autor em muitos sentidos, não
de informações e unidades de significado somente de conhecimentos específicos
permite construir a análise na abordagem implicados no tema que está sendo
fenomenológica-hermenêutica. trabalhado, mas eventualmente atin-
gindo até mesmo visões de mundo do
A análise hermenêutica de textos es- autor, seus paradigmas, sentimentos
critos em linguagem proposicional e valores relacionados aos temas nos
foca palavras e sentenças que dizem quais trabalha. Nessas metamorfoses
o modo de dizer no contexto interno e vai emergindo um sujeito não apenas
externo ao próprio texto. Uma prática capaz de expressar novos conheci-
importante dessa análise é destacar mentos, mas também transformado
as palavras que chamam a atenção em muitas outras dimensões e, assim,
em Unidades de Significado, ou seja, capaz de participar na transformação
sentenças que respondem significati- do contexto em que vive. (Moraes e
vamente à interrogação formulada, e Galiazzi, 2007, p. 200)
buscar por origens etimológicas, fo-
cando também o que querem dizer na É neste processo que os significados
totalidade do texto analisado e quais atribuídos às palavras nos textos analisa-
os possíveis significados carregam no dos têm possibilidade de ampliar os pró-
contexto do texto (Bicudo, 2011, p. prios significados que atribui aos textos
49). e às palavras. É, assim, uma metodolo-
gia de análise e de aprendizagem em que
Em um viés hermenêutico, o pesqui- a pesquisa é concebida em seu sentido
sador se assume como intérprete do fenô- científico e educativo (Demo, 1996). O
meno investigado, carregando consigo pesquisador pode admirar-se ao perceber,
seus pressupostos teóricos, mas conscien- no texto, teorias e interlocutores que não
te de sua limitação interpretativa cujo ho- suspeitava buscar para a análise, embora
rizonte de compreensão busca alcançar. muitos fossem conhecidos. Quanto mais
Consciente de sua finitude, o pesquisador experiente em um tema for o pesquisador,
busca interlocutores teóricos para dialeti- mais ele conhece sobre o tema pesquisa-
camente ampliar seu entendimento acerca do (Marques, 1997). Mesmo que pouco
do que emerge recursivamente em sua experiente, quanto mais abertura ao pro-
análise. Por isso, a ATD é também uma cesso dialógico de compreensão teórica
metodologia que tem foco na aprendi- do fenômeno, mais o pesquisador tende
zagem do pesquisador, ou dito de outra ampliar seu entendimento sobre o assunto.
forma, o pesquisador aprende a partir da Estes procedimentos analíticos vão
análise, pois coloca seu conhecimento dando origem a um texto a partir dos tex-
como limite na interpretação. Isto porque: tos em análise, um metatexto que apresen-

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ta a análise trazendo a descrição densa, a entre relações conceituais que emergem


construção de categorias, a compreensão no processo de interpretação, deixando as
dos termos atribuídos às categorias, sur- tarefas criativas e intelectuais com o in-
gindo aqui a possibilidade de ampliação vestigador (Muhr, 1991).
do entendimento destes significados pelo O software ATLAS.ti foi desenvolvido
autor e com isso também da atribuição a partir de elementos da Grounded Theory
de sentidos ao que está sendo estudado. (GT) ou Teoria Fundamentada criada por
É no metatexto também que os diálogos Glaser e Strauss (1967). A GT é uma me-
intensos com a empiria e a teoria se fazem todologia que tem como objetivo uma
presentes. Alcançar níveis de abstração compreensão de um fenômeno social es-
teórica não é tarefa fácil em uma análise pecífico a partir da construção de um qua-
porque, ao contrário das visões de teori- dro de categorias com altos níveis de abs-
zação a priori, é preciso que este conceito tração que permitem a construção de uma
seja elaborado pelo autor. Se este aspecto teoria. Assim, a GT propõe a realização de
pode ser visto como um limite neste tipo processos de codificação e análise, com a
de análise, por outro tem a seu favor a finalidade de chegar a uma teoria de forma
construção da autoria do pesquisador em sistemática, através da codificação aberta,
que suas próprias palavras são levadas a da codificação axial, que correspondem ao
conceitos. estabelecimento de relações entre as cate-
gorias, e da codificação seletiva, buscando
IV. O SOFTWARE ATLAS.TI COMO diferenças dentro de uma mesma categoria
FERRAMENTA DE ANÁLISE (Hernandes e Maia, 2001).
De acordo com Klüber (2014), a GT
O ATLAS.ti é um programa de com- herdou alguns princípios da Fenomeno-
putador para o suporte de interpretação logia, principalmente o de não interpretar
textual, desenvolvido no contexto de um inicialmente, descrevendo o fenômeno a
projeto de pesquisa interdisciplinar de- partir de como ele se mostra, ainda que a
signado pelas siglas ATLAS (Archivfuer concepção de realidade dada nesta teoria
Technik, Lebenswelt und Alltagssprache, seja diferente da compreensão assumida
traduzido como Arquivo para Linguagem de realidade construída e interpretada
em Tecnologia, do Mundo da Vida e do pelo sujeito.
Cotidiano) e ti (textual interpretation, ou A seguir apresentam-se alguns re-
seja, interpretação de texto) na Univer- cursos disponíveis no ATLAS.ti que são
sidade de Berlim, Alemanha (Walter e essenciais para o entendimento de como
Bach, 2009). O ATLAS.ti foi concebido utilizá-los durante a análise. Além desses
para uso em pesquisa qualitativa social recursos, muitos outros estão disponíveis
e linguística como suporte orientado aos no software e podem ser apreciados no
pesquisadores envolvendo interpretação Manual do Usuário ATLAS.ti (Friese,
de texto. Isto inclui a capacidade de li- 2012). O ATLAS.ti apresenta um conjun-
dar com grandes quantidades de texto to de recursos entre os quais se destacam:
bem como ser um administrador de ano- Unidade Hermenêutica, Documentos Pri-
tações, conceitos e estruturas complexas mários, Citação, Codificação, Códigos,

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Comentários, Notas, Famílias, Superfa- já que são ligados a Citações, Códigos ou


mílias, Redes de Categorias. Famílias específicas. (Friese,2012, p. 18)
A Unidade Hermenêutica (UH) forne- As Famílias são uma maneira de agru-
ce a estrutura de dados para cada projeto. par Documentos Primários, códigos e/
Ativa-se uma UH a partir da seleção de ou comentários e notas necessários para
um único arquivo. Todo o material asso- a análise. São úteis para facilitar a mani-
ciado é ativado automaticamente. O nível pulação das informações contidas nesses
mais básico de uma UH é constituído pe- grupos. As famílias produzidas a partir
los Documentos Primários (DP) nos quais dos DP podem ser consideradas como
se selecionam citações. Os Documentos atributos (que expressam as razões para
Primários representam os dados adiciona- o agrupamento). Os elementos (indutivos
dos a um projeto. Estes materiais podem ou dedutivos) utilizados pelo pesquisador
ser arquivos de texto, imagem, áudio, ví- para formar uma família são semelhantes
deo. A Citação (Quote), em documentos aos utilizados para formar os códigos,
textuais, é uma sequência arbitrária de ca- supercódigos e as superfamílias. (Friese,
racteres variando de um caractere, a uma 2012, p. 18)
palavra, uma frase ou um número, até um Superfamílias são as informações
máximo de todo o arquivo de dados. As produzidas que têm como função formar
citações são criadas manualmente pelo famílias em um nível mais elevado de
pesquisador. Quando a citação é criada, agregação/categorização. Superfamílias
o ATLAS.ti atribui automaticamente um podem ser criadas com base nas famílias
identificador que pode ser editado pelo de documentos primários, famílias de có-
pesquisador. A Codificação (Coding) é o digos ou de notas. Isso significa dizer que
processo de associar palavras de código a composição da superfamília é determi-
com seleções de dados, ou seja, é a as- nada dinamicamente pelo pesquisador,
sociação entre a citação e um código. Os no momento em que a ativa e a produz.
Códigos (Codes) são usados como dispo- (Friese, 2012, p 280).
sitivos de classificação em diferentes ní- As Redes de Categorias permitem
veis de abstração para criar conjuntos de conceituar a estrutura, ligando conjuntos
unidades de informação relacionadas com de elementos semelhantes em um diagra-
o propósito de comparação. É um recurso ma visual. Com a ajuda da Rede é pos-
associado a uma citação usado pelo pes- sível expressar relações entre códigos,
quisador em sua interpretação. (Friese, citações, documentos primários, famílias
2012). e superfamílias (Friese, 2012, p19).
Notas de análise podem ser escritas
para todos os objetos em análise. Com V. ANÁLISE TEXTUAL DISCURSI-
os recursos Comentários (Comments) e VA E ATLAS.ti
Notas (Memos) o pesquisador pode regis-
trar suas interpretações e percepções (in- A ATD e o ATLAS.ti têm procedi-
sights) ao longo do processo. Os comen- mentos analíticos semelhantes: ambos
tários também podem ser usados como iniciam por contato inicial com os do-
recurso de registro das palavras-chave, cumentos de análise para organização,

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classificação e leituras iniciais das infor- do documento para análise.


mações. O passo seguinte é a codificação, Apesar das semelhanças, na ATD
termo utilizado na ATD para identificação e no ATLAS.ti existem denominações
das unidades e documentos. No ATLAS. diferentes para um conjunto de procedi-
ti, este procedimento é automático. A se- mentos semelhantes, como apresentado
guir, em ambos, procede-se a preparação na Tabela 1 a seguir:

Tabela 1. Elementos da Metodologia de análise Textual Discursiva (ATD) e os Correspon-


dentes Recursos do Software ATLAS.Ti. (Fonte. Organizada pelos autores)

Elementos da ATD Recursos do ATLAS.ti


Unidade fenomenológica-hermenêutica Unidade Hermenêutica
Corpus da análise Documento primário
Codificação Identificação automática
Unidades de Significado Citações livres ou abertas
Palavras-chave Palavras-chave
Enunciado descritivo (título das unidades) Código, supercódigo
Unidades de Significado do pesquisador e Notas e Comentários
de teóricos
Categorias Emergentes, Intermediárias, Famílias, Superfamílias
Finais
Organização da informação Redes
Metatextos Metatextos

Ao observar as palavras que desig- tos da ATD, o código (nome atribuído no


nam as operações analíticas, propõe-se ATLAS.ti) precisa ser construído a partir
denominar o conjunto de textos submeti- da ATD por suas palavras-chave e enun-
dos à ATD de Unidade fenomenológica- ciados, sendo esse código retrabalhado ao
hermenêutica, por deixar explícitos seus longo da análise, até chegar o momento
pressupostos analíticos na ATD. da categorização. No ATLAS.ti, os códi-
Chama-se atenção que as palavras gos são conceitos gerados que podem ser
codificação e códigos na metodologia de a priori ou a posteriori. Sendo a priori,
ATD e no software apresentam intencio- afasta-se da perspectiva qualitativa feno-
nalidades diferentes. A codificação da menológica-hermenêutica, sendo a poste-
ATD, para referenciar o documento pri- riori, aproxima-se da ATD.
mário, difere da codificação no ATLAS. Também é preciso chamar atenção ao
ti que embora seja também referencial é procedimento de destaque de palavras-
primordialmente conceitual. Assim, para chave na ATD. Esse procedimento permi-
fazer uso do software com os pressupos- te prestar atenção no que está sendo dito,

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en interacciones dialógicas

ao mesmo tempo em que a redução de pas mentais ou mapas conceituais, entre


sentidos no enunciado descritivo permite categorias e estruturação dos resultados.
uma maior abstração. As palavras-chave As redes estruturais ou fluxogramas re-
originam enunciados para posterior ca- presentam graficamente possíveis estru-
tegorização. Os enunciados inicialmente turas ou sistemas de relações especial-
são descritivos no movimento fenomeno- mente entre as categorias ou códigos; é o
lógico da ATD e, posteriormente, na medi- objetivo principal de toda a investigação
da em que a compreensão avança, passam em ciência, ou seja, a teorização ou mo-
a ser argumentativos. Diferentemente no delagem de estruturas teóricas. Nas redes
ATLAS.ti os códigos são conceitos origi- conceituais e estruturais são feitas inter-
nalmente, mas se pode fazer uso de uma pretações explícitas e permitem que, em
construção de enunciados a serem os có- um determinado momento, que se arti-
digos no ATLAS.ti, e esses códigos então culem elementos que podem apoiar uma
serão categorizados, sendo possível fazer hipótese, argumento ou conclusão. Esta
uso da ferramenta do ATLAS.ti para fazer possibilidade potencializa a produção
a análise segundo a metodologia da ATD. dos metatextos da ATD, pois possibilita
A categorização está presente na ATD perceber relações, aproximações, que na
e no ATLAS.ti, mas é preciso vigilância ATD se estruturam de forma mais hie-
de não ter categorias a priori como a fe- rárquica. As categorias primárias estão
rramenta está preparada, mas construir dentro de alguma categoria secundária, e
categorias abertas como a ATD orienta, assim, sucessivamente formando uma es-
se a intenção do pesquisador for mais trutura categorial a partir da análise.
profundamente coerente com uma abor-
dagem fenomenológica-hermenêutica. O VI. A ANÁLISE TEXTUAL DISCUR-
programa também oferece a criação de SIVA DOS RESUMOS DE DISSER-
comentários ou notas, produto de cada TAÇÕES E TESES COM O USO DO
atribuição de código ou de cada relação ATLAS.ti
entre estes, a fim de tornar as categorias
cada vez mais próximas à análise. É nesta A análise dos resumos e teses pela
possibilidade de estabelecer comentários ATD com o uso do ATLAS.ti foi realizada
e notas que o pesquisador garante suas a partir da codificação dos resumos, com
tomadas de decisões e autoria, bem como o destaque de palavras-chave em cada um
na construção de códigos a partir das dos resumos assinaladas em negrito no
palavras-chave selecionadas com a pro- próprio texto e a unitarização com esta-
dução dos enunciados. belecimento de um enunciado descritivo
No ATLAS.ti existe a possibilidade de elaborado a partir das palavras-chave
criação de redes estruturais com o fluxo destacadas, dando a origem às categorias,
de diagramas ou materiais de construção iniciais, intermediárias e finais.
(categorias) preparados na primeira fase Na Tabela 2, apresenta-se como se deu
se procede, com o processo de organi- o processo de unitarização com produção
zação de objetos de construção em redes de enunciados descritivos. Exemplifica-
de relacionamentos ou fluxogramas, ma- se a partir de excertos do corpus em que

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Bruna Roman, Mª. do Carmo Galiazzi, Elisabeth Brandão.

foram destacadas palavras-chave utiliza- palavras do texto de análise para o texto


das na escrita dos enunciados descritivos, do autor da pesquisa.
um primeiro movimento de imersão nas

Tabela 2. Processo de Unitarização com Produção de Enunciados Descritivos. (Fonte. Or-


ganizada pelos autores).

Unidade de significado com Enunciado descritivo


palavras-chave em destaque
A educação ambiental no contexto da
interculturalidade e da cultura surda
pretende contribuir para a práxis de Edu- Apresenta-se a pesquisa no contexto
cação Ambiental no contexto da Cultura da interculturalidade como estudo de
Surda, através da análise de estudo de caso caso sobre a cultura surda em uma es-
realizado em uma escola estadual especial cola.
para surdos, localizada na região metropo-
litana de Porto Alegre (RS).

A partir da leitura e ampla discussão enunciados. Na Tabela 3, apresenta-se


dos enunciados produzidos pelos pes- exemplo deste processo de categorização
quisadores, emergiram numa produção a partir das aproximações dos enunciados
coletiva as categorias iniciais a partir da descritivos.
aproximação de sentidos atribuídos aos

Tabela 3. Processo de Categorização Inicial a partir de Enunciados Descritivos. (Fonte.


Organizada pelos autores).

Enunciado descritivo Categoria inicial


30CB. Propõe-se um estudo sobre o papel
dos recursos imagéticos e sua relação com
a significação dos surdos à luz da Educação
Ambiental.
RS30. Apresenta-se a Universidade públi- A
ca como um bem do povo para suprir os
interesses da sociedade, especialmente da-
queles de condições desiguais de uma so-
ciedade capitalista.
24 JN. Buscou-se compreender o conceito
de espaço geográfico e meio ambiente no B
uso da cartografia por educadores.

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Relaciones entre el Análisis Textual Discursivo y el software ATLAS.ti
en interacciones dialógicas

Cada categoria inicial tem um con- intermediárias, nomeadas em acordo com


junto de enunciados e estes foram então os participantes da disciplina. Com esses
agrupados por uma letra que indica sua enunciados, novamente foram reorgani-
aproximação. A partir deste exercício, zadas as categorias iniciais, chegando-se
uma nova redução foi realizada com a às categorias intermediárias. Algumas das
intenção de reorganizadas as categorias categorias intermediárias emergentes es-
iniciais, chegando-se a dezoito categorias tão apresentadas na Tabela 4.

Tabela 4. Processo de Categorização Intermediária a partir da Categorização Inicial.

Categoria inicial Categoria intermediária


A Investigam sujeitos pouco visíveis
B Tratam os sujeitos como objetos
C Investigam a aprendizagem pela experiência
D Consideram a aprendizagem mútua
E Assumem a escuta sensível
F Avaliam um objeto ou uma ação
G Avaliam uma intervenção
H Problematizam um discurso
I Estabelecem uma cortina teórica
M Apresentam a estrutura da coleta de dados
O Buscam por fundamentação de conceitos
P Apresentam a estrutura da análise dos dados

A partir do processo de categorização produzido a partir dos enunciados das


intermediária, as novas categorias foram categorias intermediárias para orientar a
reaproximadas e originaram as categorias produção do metatexto em direção à ar-
finais (Tabela 5). Para cada categoria fi- gumentação compreensiva do fenômeno.
nal emergente, um parágrafo-síntese foi

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Tabela 5. Processo de Categorização Final a partir das Categorias Intermediárias. (Fonte.


Organizada pelos autores).

Categoria intermediária Categoria final


Estabelece uma cortina teórica Os conceitos teóricos a priori sustentam
os caminhos trilhados no desenvolvimen-
Fundamenta conceitos to da pesquisa.
Apresenta a estrutura da análise A produção da informação se dá a partir
dos dados de discursos pela análise qualitativa e
compreensão dos fenômenos que se sus-
Apresenta a estrutura da coleta de dados tentam em categorias emergentes da aná-
lise.

No exercício descrito, cada partici- fenômenos que se sustentam em


pante da disciplina ficou responsável pela categorias
elaboração de um metatexto de categoria A partir dos enunciados que
intermediária, incorporando ao texto fun- constituem a categoria “Estrutu-
damentação teórica pertinente, dentro do ra de Análise”, os resumos de te-
horizonte de compreensão do pesquisa- ses e dissertações dos Programas
dor. Um fragmento de um dos metatextos de Pós-Graduação em Educação,
produzidos é apresentado a seguir, em Educação em Ciências e Educação
que se mostra o exercício de ATD a partir Ambiental da FURG apresentam
da construção de códigos e enunciados, análises prioritariamente qualita-
aproximados por sentidos atribuídos cole- tivas que se utilizam das metodo-
tivamente e que o autor organizou naquele logias Análise Textual Discursi-
momento de modo descritivo. O fragmen- va, Discurso do Sujeito Coletivo,
to destaca partes do processo analítico que Análise de Conteúdo, Análise do
no texto original é mais detalhado. Discurso em um decrescente nú-
mero de ocorrências. Busca-se,
O presente texto se propõe a portanto, interpretar fenômenos,
descrever e a interpretar na forma compreender discursos e aconte-
de metatextos – mesmo consciente cimentos que são levados à teori-
de que este processo é um movi- zação por meio de categorias cuja
mento sempre inacabado – uma análise é apresentada a seguir.
das dezoito categorias que emergi- Uma das formas de apresen-
ram no coletivo de pesquisadores tação da estrutura da análise
participantes da disciplina, a cate- nos resumos de teses e disser-
goria Estrutura de Análise. tações é a explicitação da meto-
Análise qualitativa para inter- dologia prioritariamente quali-
pretação e compreensão dos tativa a ser utilizada nas teses e

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Relaciones entre el Análisis Textual Discursivo y el software ATLAS.ti
en interacciones dialógicas

dissertações, como evidenciadas Nota-se ainda a apresentação


nos seguintes enunciados: A aná- da estrutura de análise a partir
lise das informações foi realiza- de teóricos sem evidenciar uma
da baseada no método da ATD, metodologia específica, como
através do qual emergem duas aparece nos enunciados: O es-
categorias: fragmentação curri- tudo fundamenta-se nas teorias
cular e aceleração da formação de Michel Foucault, Stuart Hall,
docente (CÓ:27SM); Apresenta- Tomaz Tadeu da Silva e Kathryn
se como metodologia de análise Woodward. Para compreender
o Discurso do sujeito coletivo, o discurso e os acontecimentos
no qual buscou-se a recursivida- que dão lugar à inclusão esco-
de dos discursos individuais para lar na atualidade, aplicou-se um
construção de discursos coletivos. exercício genealógico que visou
(CÓ:05BR); Apresenta-se a aná- analisar as políticas públicas edu-
lise das informações com aporte cacionais (CÓ:49LE); A análise
teórico de Laurence Bardin pela de cada bordado (48 histórias de
análise de conteúdo (CÓ:16BR); sala de aula) foi realizada a partir
A análise de dados usou Análise do quinteto dramatístico de Burke
do Discurso (CÓ:06CB). (CÓ:VM14).
Outra forma de estrutura da Apresenta-se ainda uma estru-
análise não especifica explici- tura da análise sem explicitar
tamente a metodologia a ser vínculo com algum teórico ou
utilizada. Contudo, há evidente metodologia específicos, como
produção de categorias a priori descrito a seguir: Utilizou-se hi-
que orientaram a análise de da- pertextos e unidades integradas de
dos, como apontam os enunciados significado para análise dos da-
a seguir: As unidades de análise dos (CÓ:28PZ); O autor também
foram divididas em duas catego- realizou entrevistas com pesqui-
rias principais: o preconceito e a sadores e educadores ambientais
comunidade surda (CÓ:38CB); que interagiram com os cartuns
Analisou-se o significado das di- no evento (CÓ:RS16); Analisou-
mensões cognitivas, afetivas e de se histórias de vida de professo-
ação vinculadas aos aspectos da ras da educação especial e ações
Linguagem Brasileira de Sinais e de alunos surdos (CÓ:45JN);
do cotidiano da professora e dos Primeira etapa: análise quali-
alunos surdos. (CÓ:47JN); A ar- tativa dos dados com resultados
ticulação teórica com a análise de ações que favorecem a reviti-
dos dados, contemplou três temas mação da criança ou adolescente
integrados: o sistema Nacional de (CÓ:11CB); Utilizou-se como me-
pós-graduação, sistema de ava- todologia observações e filmagens
liação da CAPES, Inserção inter- das atividades dos alunos surdos e
nacional (CÓ:10CC). sua professora (CÓ:46JN).

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Depois de fazer a apresentação dos elementos constitutivos em quan-


enunciados em que se quis destacar a co- tas partes forem necessárias para
dificação, a aproximação por semelhança conhecer-lhes sua natureza, sua
de sentidos, a construção de enunciados, totalidade, a partir de uma expli-
o autor do metatexto parte para o exercí- cação sensata. Assim, podemos
cio de busca de significados, como segue aproximar a categoria “Estrutura
o metatexto: da Análise” à ideia de organização
teórica de elementos que possibi-
Dentro desse contexto de enun- litará a decomposição mental do
ciados, cabe fazermos um exercí- que constitui os objetos de inves-
cio em busca de significados que tigação (sistemas abstratos) das
possibilitem a compreensão de teses e dissertações na intenção de
sentidos atribuídos às estruturas de estabelecer relações que permitam
análise apresentadas nos resumos conhecer a natureza destes objetos
investigados. Podemos, portanto, de forma sensata, seu fundamento
iniciar nossa busca de significados e sua totalidade.
pelos conceitos de “estrutura” e de
“análise”. Faz o mesmo exercício sobre o termo
qualitativo, como apresenta-se a seguir a
O autor então apresenta os significa- busca pelos significados dicionarizados e
dos de estrutura e análise a partir dos sig- na Filosofia:
nificados atribuídos na língua e que são
dicionarizados e a partir da compreensão As estruturas de análise dos resumos
na Filosofia e conclui que: de teses e dissertações dos programas de
pós-graduação no campo da educação
Sobre o termo “estrutura”, é da FURG apresentam, portanto, uma
possível dizer que se trata da orga- decomposição mental dos objetos de in-
nização de elementos que formam vestigação de caráter qualitativa. Sobre
um sistema abstrato e que fazem a acepção do termo qualitativo é “o que
sentido apenas em conjunto, como qualifica ou serve para qualificar”. O ter-
modelo ou construção teórica, mo qualificar: 1. Indicar a(s) qualidade(s)
visando estabelecer correlações de. 2. Avaliar, apreciar. 3. Conside-
entre as variáveis, dando susten- rar habilitado, apto, idôneo. 4. Atribuir
tação, forma, fundamento e esta- qualidade(s) a; considerar. 5. Classificar
bilidade a este sistema. (Ferreira, 2010, p. 627). Assim, a palavra
Pode-se, portanto, atribuir ao qualitativo está imbricada ao termo qua-
termo “análise” a ideia de exame lidade numa acepção de indicar, atribuir,
a partir da decomposição mate- considerar e avaliar qualidade. Sobre
rial ou mental do todo em seus qualidade:

120 Campo Abierto, vol. 34 nº 2, pp. 105-124, 2015


Relaciones entre el Análisis Textual Discursivo y el software ATLAS.ti
en interacciones dialógicas

Dicionário da Lín- Dicionário de Fi- dades primárias


gua Portuguesa losofia são aquelas que
um objeto de fato
Qua.li.da.de [Lat. Qualidade (lat. possui, que são
qualitate] sf.1. qualitas, de qua- inseparáveis dele,
Propriedade, atri- lis: qual, de que p. ex. a solidez, a
buto ou condição espécie) 1. Em extensão, a figu-
das coisas ou das um sentido gené- ra etc.; enquanto
pessoas, que as rico, característica que as qualidades
distingue das ou- ou propriedade de secundárias são
tras e lhes deter- algo. 2. Em Aristó- aquelas que po-
mina a natureza. teles, a qualidade é dem ser separadas,
2. Superioridade, uma das dez *ca- que resultam na
excelência de al- tegorias, “chamo realidade de nossa
guém ou de algo. qualidade aquilo reação às primá-
3. Dote, virtude. 4. em virtude de que rias, p. ex. a cor,
Condição social, se diz que algo é de o cheiro etc. 4. A
civil, jurídica, etc.; uma determinada lógica tradicional
casta, laia. (Ferrei- maneira”. Distin- caracteriza a qua-
ra, 2010, p. 627) gue ele, entretanto, lidade de um juí-
várias acepções do zo ou proposição
termo, segundo as como a proprieda-
quais se pode ca- de segundo a qual
racterizar um ob- estes são afirmati-
jeto como quente vos ou negativos
ou frio, doente ou (Japiassú e Mar-
são, branco ou pre- condes, 2001, p.
to etc. A qualidade 160).
se opõe à quanti-
dade por não ser Assim, o termo qualitativo
mensurável, va- serve para indicar propriedades
riando apenas de ou atributos não mensuráveis,
intensidade, e à mas que variam em intensidade
relação por ser um e são classificáveis, a algo ou al-
acidente que mo- guém que o distingue de outros
difica a substância e que também pode servir para
de forma intrínse- considerá-lo apto. Por isso, ao
ca. 3. Na distinção pensarmos uma “estrutura de aná-
clássica de Loc- lise qualitativa”, estaremos bus-
ke (Ensaio sobre cando uma organização teórica de
o entendimento elementos que possibilitará a de-
humano), quali- composição mental das proprie-

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dades ou atributos específicos dos


objetos de investigação (sistemas Mesmo que não seja intenção do ar-
abstratos) das teses e dissertações tigo apresentar os resultados da análise
de formas não mensuráveis, mas dos resumos de teses e dissertações, os
classificáveis, na intenção de es- enunciados das categorias intermediárias
tabelecer relações que permitam trazem algumas ideias para pensar sobre
conhecer a natureza destes obje- as pesquisas realizadas nos Programas de
tos de forma sensata, seu funda- Pós-Graduação. Ressalta-se a potência do
mento que o distingue de outros e exercício realizado na disciplina, pois há
sua totalidade. indicação de que houve a virada de abor-
Identificamos em Bogdan e dagem de pesquisa nestes programas, sen-
Biklen (1994) aproximações a do dominante a pesquisa qualitativa. E se
nossa ideia de estrutura de análise ainda há nuances de pesquisas que tratam
qualitativa que se constitui no: os sujeitos investigados como objeto, é
notável a presença de preocupações com
[...] processo de busca e a intenção de transformação da realidade
de organização sistemático de pesquisada e de tornar visível realidades
transformações de entrevistas, sociais de grupos discriminados, assim
de notas de campo e de outros como de aprender a partir da experiên-
materiais que foram sendo for- cia dos investigados ou em experiências
mulados, com o objetivo de coletivas em que o pesquisador se inclui
aumentar a sua própria com- como aprendente. Também evidencia-se
preensão desses mesmos ma- que os resumos mostram fragilidades,
teriais e de lhe permitir apre- pois apresentam inconsistências metodo-
sentar aos outros aquilo que lógicas, fazendo coleta de dados rápidas
encontrou. A análise envolven- para estudo de fenômenos que exigiriam
do o trabalho com os dados, a um tempo maior. Também percebem-se
sua organização, divisão em dificuldades linguísticas no modo como
unidades manipuláveis, sínte- esses resumos foram construídos, mo-
se procura de padrões, desco- mento quase que derradeiro de uma pes-
berta dos aspectos importantes quisa num Programa de Pós-Graduação.
e do que deve ser aprendido,
decisão sobre o que vai ser VII. CONCLUSÃO
transmitido aos outros. Em úl-
tima análise, os produtos finais Do exposto em relação ao exercício
da investigação constam de de articulação entre ATD e o software AT-
livros, artigos, comunicações LAS.ti foi possível interpretar as infor-
e planos de ação. A análise de mações descritas nos resumos de teses e
dados leva-o das páginas de dissertações de modo intenso e detalhado,
descrições vagas até estes pro- permitindo chegar à melhor compreensão
dutos finais (p. 205). do que é esse fenômeno de fazer pesqui-

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en interacciones dialógicas

sa nos Programas de Pós-Graduação. A Uma característica importante do


utilização do software ATLAS.ti permitiu software é a possibilidade de realização
relacioná-lo aos fundamentos de ATD. de pesquisa em grupo, como este arti-
Considera-se que o software ATLAS. go apresenta, permitindo fazer pesquisa
ti é potencialmente significativo para ser qualitativa com um conjunto maior de
usado com a metodologia de ATD. É ne- informações, favorecendo a construção
cessário, contudo, que o pesquisador fi- de redes e o trabalho compartilhado, ca-
que atento ao fato de que os dados não racterísticas próprias de uma comunidade
estão prontos e que só fazem sentido a aprendente, neste caso, de professores-
partir da interrogação da pesquisa. O soft- pesquisadores.
ware permite uma economia de tempo de
digitação dos dados para compor a unida- AGRADECIMENTOS
de fenomenológica-hermenêutica (ATD)
ou UH (ATLAS.ti) de análise. Contribui Agradecemos aos alunos participantes
para a análise também por suportar dife- da disciplina descrita pela intensa contri-
rentes formatos de arquivos. No entanto, buição na compreensão da articulação en-
o software pode ser tomado como autoa- tre ATD e o software ATLAS.ti.
nalítico, retirando a função específica do
pesquisador e assim se contrapor à ATD e
a pesquisas qualitativas.

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124 Campo Abierto, vol. 34 nº 2, pp. 105-124, 2015

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