Introdução
Neste capítulo o autor se propõe examinar como o samba se tornou um
aspecto predominante na identidade cultural brasileira apresentando, através do
discurso musical de compositores da música popular do início e meados do século
XX, a longa trajetória do samba urbano que, conforme aponta, foi aos poucos
deixando de ser artefato cultural marginal - do morro - e sendo incorporado por todas
as classes, consagrado símbolo da nacionalidade.
Logo no início o autor ressalta que os caminhos trilhados pelo samba carioca
foram acompanhados de tensões tanto no que se refere ao desenvolvimento industrial
capitalista que tornou a música popular produto comercial de consumo de massa;
quanto no que se refere às aspirações de um governo preocupado em manter a ordem
social e instituir uma identidade cultural nacional:
Por ora, assinalo que a ação estatal – por não ser única nem
uniforme – fez-se sentir em meio a tensões permanentes que
envolveram o processo de legitimação do samba. Tensões presentes
quer na trincheira da produção musical brasileira, quer no interior
de classes dominantes e elites intelectuais, quer entre integrantes do
próprio aparelho do Estado. Tensões, por sinal, que se estenderam
inclusive às relações entre música popular e “Estado Novo”, que
alimentou um dia a ilusão da criação do coro da unanimidade
nacional. (PARANHOS, 2015; p.50).
Conforme aponta o autor, Noel Rosa foi o grande propulsor do samba entre
bairros e quem evidenciou que o samba carioca não pertence a um outro, nem a
Estácio ou à Vila Isabel, mas ao Rio de Janeiro. Ele junta samba e batucada, morro e
cidade, promove uma construção do samba como popular, de todos, ficando
conhecido como grande mediador cultural. No entanto, cabe salientar que sendo
“moço da cidade”, Noel se distanciava da cidade e demonstrava apego às
características e pessoas do morro. Ademais, em análise da vida e obra de Noel, o
autor irá apontar que devido ao estimulo industrial de produção musical atrelado aos
programas de rádio, o samba carioca se torna o samba nacional.