Belo Horizonte
2018
1 INTRODUÇÃO
De pronto, para os fins aos quais este trabalho se propõe, cumpre-se tecer
considerações acerca da diferença entre direitos, deveres e prerrogativas, no contexto
da advocacia.
O advogado usufrui dos direitos estabelecidos em lei, ou seja, ao profissional
do Direito são legalmente garantidos determinados benefícios. Noutro giro, o
advogado deve cumprir uma série de deveres que também tem previsão legal,
caracterizados por uma série de encargos e atribuições que, uma vez descumpridos,
possuem consequências jurídicas.
As prerrogativas, por sua vez, caracterizam-se como privilégios dos advogados
pela condição profissional que ocupam na sociedade.
No Estatuto da Advocacia, os direitos do advogado estão elencados no
Capítulo II, entre os artigos 6º e 7-A. O Capítulo II do Regulamento Geral da OAB trata
dos direitos e das prerrogativas do advogado. Os deveres, por sua vez, encontram-se
expressamente descritos no parágrafo único do artigo 2º do Código de Ética e
Disciplina da OAB.
Nos capítulos que se seguem, passaremos à análise mais aprofundada dos
direitos e deveres dos profissionais inscritos nos quadros da OAB.
2 DIREITOS DOS ADVOGADOS
Como nos ensina Paulo Luiz Netto (2017), em sua obra “Comentários ao
Estatuto da Advocacia e da OAB”, os direitos do advogado são espécies do gênero
prerrogativas. Referido autor destaca, ainda, que o Estatuto cuida dos direitos e
prerrogativas sem distinção, sendo que, estas últimas, não se encontram apenas do
capítulo que trata expressamente dos direitos.
O art. 7º, I, da Lei nº 8.906/94, prevê que o advogado tem o direito de exercer
a advocacia em todo o Brasil, desde que observadas algumas condições. O
profissional deve proceder à sua inscrição nos quadros da OAB na seccional do
estado em que atuará profissionalmente. Contudo, é importante ressaltar que o
advogado poderá atuar, com liberdade, em causas por todo o país, mesmo com sua
carteira tendo sido emitida em sua seccional de origem. Só é necessária a inscrição
suplementar nas seccionais em que passar o profissional passar exercer a advocacia
com habitualidade, sendo esta entendida como mais de cinco causas por ano, nos
moldes do artigo 10, parágrafo 2º, do Estatuto da Advocacia.
Conforme previsto no art. 7º, IV, do Estatuto, o advogado que for preso em
flagrante em razão do exercício da profissão tem o direito ser acompanhado por
representante da OAB durante a lavratura do ato de prisão em flagrante, afim de
garantir todos os direitos do profissional.
2.1.5 Não ser recolhido preso, antes de sentença transitada em julgado, senão
em sala de Estado Maior, com instalações e comodidades condignas.
a) nas salas de sessões dos tribunais, mesmo além dos cancelos que separam
a parte reservada aos magistrados;
O advogado tem direito à livre circulação nos ambientes da Justiça, sendo certo
que poderá circular, permanecer ou retirar-se quando entender oportuno.
Neste ponto, cabe destacar parte da decisão monocrática da Min. Ellen Gracie,
em Rcl 9.853:
“Requerem a concessão de provimento cautelar, para que se
determine a — vista e autorização para a extração de cópia integral dos autos
do inquérito policial (…). Consoante as informações prestadas pelo
magistrado de primeira instância, registro que o próprio ato atacado restringiu
o acesso dos reclamantes ao inquérito policial somente em relação às
investigações não efetivadas, sendo que a vista de tais elementos de prova
frustraria o andamento das investigações. Ademais, foi decretado segredo de
justiça quanto aos dados qualificativos das testemunhas cujas declarações
encontram-se acostadas aos autos, visto que há notícia nos autos do fundado
temor de sofrerem atentados ou represálias. Ao fim, foi deferida em parte a
vista dos autos pelos reclamantes devidamente constituídos como
advogados nos autos pelo indiciado, sendo vedado apenas o acesso às
diligências ainda em curso ou aos dados qualificativos das testemunhas cujas
declarações já foram acostadas. Desse modo, não vislumbro a presença do
requisito do fumus boni iuris para a concessão da tutela pleiteada.” (Rcl 9.853,
rel. min. Ellen Gracie, decisão monocrática, julgamento em 15-3-2010, DJE
de 5-4-2010.)
Válido ressaltar que este direito não se aplica nos processos sob regime de
segredo de justiça; quando existirem nos autos documentos originais de difícil
restauração ou ocorrer circunstância relevante que justifique a permanência dos autos
no cartório, secretaria ou repartição, reconhecida pela autoridade em despacho
motivado, proferido de ofício, mediante representação ou a requerimento da parte
interessada; e até o encerramento do processo, ao advogado que houver deixado de
devolver os respectivos autos no prazo legal, e só o fizer depois de intimado. (Art. 7º,
§1º, do Estatuto da Advocacia)
2.1.15 Retirar autos de processos findos, mesmo sem procuração, pelo prazo
de dez dias.
Este direito, como o anterior, não é aplicável nos processos sob regime de
segredo de justiça; quando existirem nos autos documentos originais de difícil
restauração ou ocorrer circunstância relevante que justifique a permanência dos autos
no cartório, secretaria ou repartição, reconhecida pela autoridade em despacho
motivado, proferido de ofício, mediante representação ou a requerimento da parte
interessada; e até o encerramento do processo, ao advogado que houver deixado de
devolver os respectivos autos no prazo legal, e só o fizer depois de intimado. (Art. 7º,
§1º, do Estatuto da Advocacia)
A lactante, adotante ou que der à luz tem direito ao acesso a creche, onde
houver, ou a local adequado ao atendimento das necessidades do bebê, a fim de que
possa atender as necessidades do filho sem que tenha que deixar de exercer sua
profissão.
A gestante, lactante, adotante ou que der à luz, tem preferência na ordem das
sustentações orais e das audiências a serem realizadas a cada dia, mediante
comprovação de sua condição em razão da clara urgência e impossibilidade de
aguardar por muito tempo.
A adotante ou que der à luz, faz jus à suspensão de prazos processuais quando
for a única patrona da causa, desde que haja notificação por escrito ao cliente. Isso
porque é clara a impossibilidade de atender a todos os prazos processuais e defender
seu cliente da melhor forma possível diante da importância de atender as
necessidades essenciais de seu filho.
3 DOS DEVERES DOS ADVOGADOS
Como bem define Camila Abe1, os deveres para com os juízes são o de postura
digna e respeitosa, de veracidade e aos prazos. Os deveres para com os colegas são
de solidariedade, lealdade e colaboração. Para com a clientela, os deveres são de
dedicação, contato pessoal e o espírito de conciliação.
O Código de Ética prevê, ainda, em seu art. 20, que “o advogado deve abster-
se de patrocinar causa contrária à ética, à moral ou à validade de ato jurídico em
que tenha colaborado, orientado ou conhecido em consulta; da mesma forma, deve
declinar seu impedimento ético quando tenha sido convidado pela outra parte, se
esta lhe houver revelado segredos ou obtido seu parecer.”
em 28 mai. 2018.
REFERÊNCIAS
BRASIL, Ordem dos Advogados do. Código de Ética e Disciplina. Disponível em:
http://www.oab.org.br/visualizador/19/codigo-de-etica-e-disciplina. Acesso em: 28
mai. 2018.
BRASIL. Código de Processo Civil. Lei nº 13.105 de 16 mar. 2015. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em:
28 mai. 2018.
BRASIL. Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil. Lei nº 8.906
de 4 jul. 1994. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8906.htm.
Acesso em: 28 mai. 2018.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula Vinculante nº 14. Disponível em:
http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumario.asp?sumula=1230. Acesso
em: 28 mai. 2018.
ABE, Camila. Prerrogativas, direitos e deveres do Advogado. JusBrasil. 2016.
Disponível em: https://camilaaaabe.jusbrasil.com.br/artigos/400355044/prerrogativas-
direitos-e-deveres-do-advogado. Acesso em: 28 mai. 2018.
LÔBO, Paulo Luiz Netto. Comentários ao Estatuto da Advocacia e da OAB. 10ª.
ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2017.
STF. MANDADO DE SEGURANÇA. MS 24118 DF. Relator: Min. Celso de Mello.
Disponível em: http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=1979787.
Acesso em: 28 mai. 2018.
STF. RECLAMAÇÃO: Rcl 9853 RJ. Relatora: Min. Ellen Gracie. Disponível em:
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2018.
TRIBUNAL DE ÉTICA DA OAB/SP. Melhores Pareceres. Disponível em:
http://www.oabsp.org.br/tribunal-de-etica-e-disciplina/melhores-pareceres. Acesso
em: 28 mai. 2018.