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Pro-Posigees, v.15, n. | (43) = jnvabr 2004 As “Trocinhas” do Bom Retiro! Conthibuicdo a0 Estuao Foleldrico @ Sociolégice aa CCuttura @ dos Grupos infantis loretan Femander Prefacio O folclore, durante tanto tempo abandonado aos amadores, seus dinicos estu- diosos, tornou-se hoje uma cigneia, que tem suas regras, seus métodos, e que exige de quem a estuda qualidades especiais. Ninguém mais fez, para transformar o folclore em ciéncia, que Mirio de Andrade. Hoje, ergue-se uma pléiade de jovens pesquisadores, dos quais muito se pode esperar. Entre eles: Florestan Fernandes. O dominio que ele aborda, no estudo que se segue, é um dominio bastante negligenciado, o do folclore infantil. E é preciso reconhecé-lo: hé entre o mundo dos adultos ¢ 0 das criangas como que um mar tenebroso, impedindo a comunica- ‘0. Que somos nds, para as criangas que brincam 20 nosso redor, seno sombras? las nos cercam, chocam contra nés; respondem s nossas perguntas, num tom de condescendéncia, quando fingimos interessar-nos por suas atividades; mas sente- se, perfeitamente, que, para elas, somos como os méveis da casa, parte do cosmos ‘exterior, ndo pertencemos a seu mundo, que tem seus prazeres e seus softimentos. Ends, os adultos, vivemos também dentro de nossas préprias fronteiras, olhamos as eriangas brincar, repreendemo-las quando fazem muito barulho, ou, se deixa- mos cair sobre seus divertimentos um olhar amigo, ndo é para eles que olhamos, mas, através deles, para as imagens nostilgicas de nossa infancia desaparecida. T.Wabatho escrto em 1944, para 0 concurso "Temas Braseos", nsttuldo pelo Departamento de Cultura do Gremio da Faculdade de Flosofi, Ciéncas Letras, ganho palo autor no Abita {a Seo de Ciéncias Soca; pubitado, posteriormente, com preci de Roger Basie, pela evista do Arqato Municipal. CXIl, Departamento de Cutur, Séo Paulo, 947 (p. 7-124). (N. da E) Teche trancerto do Capitulo 2 do lvroFoldore e mucdanga soci na cide de $60 Paulo, 2. ed. evita pelo autor, Petrino: Edtora Vozes, 1979, p. 153-175 e Referencias Bidlogrficas p, 256. ‘A obra completa ce Floestan Fernandes esti sendo preparada para republcacio na integra Este Fragmento € uma reprodugio avtorzada, 29 Pro-Posigdes, v.15, n. | (43) -jan/be 2004 Para poder estudar a erianga, é preciso tornar-se erianga. Quero com isso dizer ‘que nao basta observar a crianga, de fora, como também nao basta prestar-se a seus brinquedos; é preciso penetrar, além do circulo magico que dela nos separas «em suas preocupagoes, suas paixoes,€ preciso viver o bringuedo. E isso no é dado a toda a gente, O primeiro métito do trabalho de Florestan Fernandes é que ele & 6 resultado de uma observagio que comecou por uma interpretagio profunda; 0 autor fez parte da grande conjuragio das eriangas. Na nota explicativa, que abre este trabalho do folclore infantil, podemos ler «estas significativas linhas. “O presente estudo tem uma particularidade: € a0 mes- ‘mo tempo uma contribuisio & sociologia ¢ a0 folclore.” Florestan Fernandes se desculpa, pelo que eu the rendo, 20 contririo, meus cumprimentos. O folclore é uma cultura; ora, néo se pode compreendera cultura, separando- a do grupo social que ela exprime. Estamos entre os que acham que a descricio purae simples do material, a pesquisa das fontes ¢ das origens nfo sio suficientes, porque 0 folelore tem uma funcio e uma vida, ele representa um papel. Por con- seguinte, querendo penetré-lo, em lugar de permanecer na crosta exterior das sobrevivéncias do passado, é preciso recolocé-lo num meio social. O folclore no uma simples curiosidade ou um trabalho de erudigio, ¢ uma ciéncia do homem — nao deve portanto esquecer 0 homem, ou melhor, neste caso, a erianga que brinca, E por isso que as duas partes deste trabalho, os grupos infantis ¢ o folclore infantil no Bom Retiro, nao devem ser consideradas como duas partes justapostass clas formam uma unidade orginica. Eo estudo das “trocinhas”, de sua linguagem, de seus ritos de expulsio ou de iniciagao, de suas ceriménias, de suas estruturas, que explica os caracteres préprios do folclore, que vive nessas “trocinhas’, Notar- se-do paginas muito sugestivas, em que Florestan Fernandes critica a teoria da Imitagio dos adultos pelas criangas, no brinquedo como “papai e mamie” - ou ainda aquelas sobre papel de assimilagao dos imigrantes, das rodas e dos brin- quedos que confirmam aliés as precedentes. Sea cultura infantil se fizesse sobretu- do pela mie preta ou pelos pais estrangeiros, a obra do sincretismo seria muito ais forte do que é. Tudo isso s6 se pode compreender pelos caracteres do grupo infantil, que constitui um grupo mais ou menos fechado, de interrelagdes prépri- as, € tradicionalista Esse tradicionalismo, nora-se nas ltimas paginas deste trabalho: os cinticos infantis sio de antigos romances hispanicos ou portugueses. E sabe-se que se po- dria ir ainda mais longe, porque além das palavras hd gestos, ea crianga continua, «em nossos dias, em seus brinquedos de “cara ou coroa”, os antigos ritos de adiv nhagio, assim como nas rodas, no balango, na cabra-cega, as cerimOnias girat6rias dda mais alta antiguidade. Mas as significagoes antigas desapareceram, ¢, agora, aqui, se quisermos compreender as novas fungies do folclore infantil, precisare- 230 Pro-Posigies,v 15. n | (43) ~jandabe 2004 ‘mos estudar 0 grupo de brinquedo como grupo social, sua naturera e seu papel. Como se vé, se, de um lado Florestan Fernandes pade escrever, com justa razio, que 0 estudo folclérico the serviu “de modo subsididrio ou fundamentalmente a0 estudo sociolégico” a reciproca nao é menos verdadeira: € 0 estudo sociolégico, aque esclarece o folclore. ‘Temos necessidade de que se multipliquem as pesquisas deste género. Que nao se tema esclarecer uma cincia pela outra. Os amantes da pureza lastimar-se-f0, talvez osamantes da realidade objetiva 6 rerio a ganhar com isso. E, agora, deixemo- nos guiar por Florestan Fernandes, esse guia seguro ¢ amigo, nesse mundo das “trocinhas”, das meninas brincando de roda, dessas criangas das ruas populares, reunidas em bandos, apés.a escola, nos suaves crepuisculos dos bairros paulistanos. Roger Bastide |= Nota Explicativa Poucos trabalhos precisario, como este, de uma nota explicativa & guisa de introdugio. Mas, de uma verdadeita nota explicativa, destinada antes a0 esclareci- mento de certas questdes nao apresentadas no texto, que 3 discussio de problemas teéricos fandamentais. Isto também seria importante. Mas, como escapa As neces- sidades do trabalho, em conjunto, pareceu-me oportuno deixi-la de lado. (O presente estudo tem uma particularidade: é, ao mesmo tempo, uma contri- buigao a sociologia e ao folclore. Este, porém, € um motivo mais para apreensoes que para outra coisa qualquer. Porque, se 0 estudo do folclore brasileiro esté pre- cisando de uma renovago® — tanto no campo dos mérodos quanto nas esferas da sistematizagao e explicacao cientificas —a utilizagao concomiante dos dois pontos de vista, um sociolégico ¢ outro folelérico, num mesmo trabalho, pode suscitar confuses, apesar das intimas conex6es eu ligam o segundo ao primeito. O duplo aspecto desta contribuigio ao estudo do folclore e dos grupos infantis, todavia, originou-se das proprias imposigies do material recolhido, sistematizado e anali- sado. Eis aqui a principal razao de ser desta nota explicati Gestudo dos elemertos do flloe brasileiro como padres costumeiros de comportarent, lem relacio concreta com a condutaindivigua,€ bastante recente ene nés,datando de Casa Grande & Serzala, de Giberto Free. Arterormente, em excala microx.pca, apenas SIio Romero, em alguns ensais, e Euciles da Cunha, em certostrechos de Os Series, fram gums coisa neste sentdo. Odeserwolvimento da sociologae da atropoogia, no Brasil car as conticBes necessrias 20 aproveltarmento mais ample rcional do material flcérico, chido em pesquias de campo, pelos Gentstas sodas. Bi

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