APONTAMENTOS
DIREITO DE
PROCESSO CIVIL
(ACÇÃO DECLARATIVA, RECURSOS E ACÇÃO EXECUTIVA)
INDICE:
I. ACÇÃO DECLARATIVA
1. Princípios estruturantes do processo civil
2. Acesso à justiça
3. Garantias do processo justo
4. Novo modelo processual
5. O regime do direito português sobre a competência internacional legal
a) A competência e as partes da acção declarativa
b) Competência internacional: direito interno
c) Competência convencional: direito interno
d) Modalidades de incompetência
e) Competência internacional: direito interno
6. Personalidade judiciária
a) Capacidade judiciária
b) Representação judiciária
c) Incapacidade judiciária e vícios da representação judiciária
d) Litisconsórcio inicial: modalidades
e) Litisconsórcio inicial: consequências
7. As formas de composição da acção
8. O procedimento em 1ªinstância
9. Dinâmica da instância
10. Vicissitudes
11. Fases do processo
c) Efeitos intraprocessuais
d) Efeitos extraprocessuais
8. ESTUDO ANALÍTICO
8.1. Fundamentos dos recursos
8.2. Tipologia do erro judiciário
a) Erro na previsão
b) Erro na estatuição
8.3. Tipologia da violação da lei
9. RECURSOS, PROPRIAMENTE DITO
9.1. APELAÇÃO
9.2. REVISTA
9.3. AGRAVO
a) Agravo em 1ª instância
b) Agravo em 2ª instância
10. OBJECTO DOS RECURSOS ORDINÁRIOS
a) Constituição
b) Âmbito
c) Limites
11. DECISÃO
12. PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS
a) Enunciado
b) Apreciação
c) Recorribilidade da decisão
d) Legitimidade para recorrer
I. ACÇÃO DECLARATIVA
ACESSO À JUSTIÇA
1. Direito à jurisdição
O art. 10º Declaração Universal dos Direitos do Homem estabelece que “toda a
pessoa tem direito, em plena igualdade, a que a sua causa seja equitativa e
publicamente julgada por um Tribunal independente e imparcial que decida dos
seus direitos e obrigações ou das razões de qualquer acusação em matéria penal
que contra ela seja deduzida”.
Este direito à justiça sem qualquer discriminação por motivos económicos é uma
consequência do Estado social de direito que se encontra consagrado no art. 2º
CRP. O acesso à justiça não é, aliás, o único direito fundamental assegurado ao
cidadão na área da protecção dos direitos: adequadamente, o art. 20º/1 CRP atribui,
a par da garantia de acesso aos Tribunais, uma garantia de acesso ao próprio
direito. Sem este “direito ao direito”, a garantia do acesso aos Tribunais poderia
tornar-se vazia e ilusória, dado que não importa criar as condições para aceder aos
Tribunais se, simultaneamente, não se possibilitar o conhecimento dos direitos que
se podem defender através desses órgãos. Nesta perspectiva, percebe-se que, nos
termos do art. 20º/2 CRP, a garantia do acesso ao direito envolva o direito à
informação e consultas jurídicas e, em caso de necessidade, ao patrocínio judiciário
e que o art. 6º DL 387-B/87, de 29/12, englobe o direito à consulta jurídica e ao
patrocínio judiciário num mais vasto direito à protecção jurídica.
a) Obstáculo económico:
A garantia do acesso à justiça, para ser efectiva, pressupõe a não discriminação por
insuficiência de meios económicos (art. 20º/1 CRP). O art. 6º DL 387-B/87 garante,
no âmbito da protecção jurídica, o chamado apoio judiciário, o qual compreende a
dispensa, total ou parcial, ou o diferimento do pagamento dos serviços do
advogado ou solicitador (art. 15º/1 DL 387-B/87). Este apoio judiciário destina-se a
evitar que os custos relacionados com o processo seja utilizados pela parte
economicamente mais poderosa como um meio de pressão sobre a parte mais
fraca.
b) Obstáculo organizatório:
O art. 26º-A regula a legitimidade para as acções e procedimentos cautelares
destinados à tutela de interesses difusos, como os que se referem à saúde pública,
ao ambiente e qualidade de vida, ao património cultural, ao domínio público e ao
consumo de bens e serviços.
O art. 26º-A contém apenas uma norma remissiva para a lei regulamentadora da
acção popular, mas, ainda assim, apresenta a vantagem de integrar no âmbito do
processo civil a legitimidade popular, isto é, a legitimidade para a defesa dos
interesses difusos através da acção popular prevista no art. 52º/3 CRP. Esclareça-se,
a propósito, que, nos termos do art. 12º/2 Lei 83/95, a acção popular civil pode
revestir qualquer das formas previstas no Código de Processo Civil, pelo que essa
legitimidade abrange qualquer acção ou procedimento admissível na área
processual civil.
c) Obstáculo processual:
O processo declarativo segue uma tramitação, comum ou especial, fixada pela lei
(art. 460º/1 CPC). Abandonada qualquer correspondência entre o direito subjectivo
e a respectivaactio, são fundamentalmente motivos ligados à necessidade prática de
adaptar a tramitação processual a certas situações específicas que conduzem à
previsão de certos processos especiais. Mas, os processos especiais previstos na lei
só abrangem certas situações particulares, o que significa que a grande maioria das
Segundo o art. 265º-A CPC, quando a tramitação processual prevista na lei não se
adequar às especificidades da causa, o juiz deve, mesmo oficiosamente, determinar,
depois de ouvidas as partes, a prática dos actos que melhor se ajustem ao fim do
processo e definir as necessárias adaptações no seu procedimento. Deve entender-
se que a iniciativa da adaptação pode pertencer quer ao juiz, quer a qualquer das
partes. A adaptação pode consistir tanto na realização de actos que não sejam
previstos na tramitação legal e que se mostrem indispensáveis ao apuramento da
verdade e ao acerto da decisão, como na dispensa de actos que se revelem
manifestamente inidóneos para o fim do processo.
O art. 265º-A CPC, não o diz, mas é claro que a tramitação sucedânea tem de
respeitar estritamente a igualdade das partes (art. 3º-A CPC) e, em particular, o
princípio do contraditório (art. 3º/2/3 1ª parte CPC). Mesmo que, como o art. 265º-A
CPC, o exige, a parte tenha sido previamente ouvida, ela não fica impedida de
invocar o desrespeito daqueles princípios na tramitação sucedânea. A prática ou a
omissão de um acto que implica a ofensa daqueles princípios traduz-se numa
nulidade processual (art. 201º/1 CPC), pois que são directamente violados os
preceitos que os consagram (arts. 3º/2/3 1ª parte e 3º-A CPC) e essa violação influi
certamente no exame ou decisão da causa.
Estes princípios são, todos eles, susceptíveis, de moldar o regime processual. Assim,
é indispensável garantir àquele que recorre aos Tribunais um julgamento por um
órgão imparcial, uma plena igualdade das partes, o direito ao contraditório, uma
duração razoável da acção, a publicidade do processo e a efectivação do direito à
prova.
4. Imparcialidade do Tribunal
A administração da justiça não é possível sem um Tribunal independente e
imparcial: a imparcialidade do Tribunal constitui um requisito fundamental do
processo justo. As garantias de imparcialidade do Tribunal podem ser vistas, quer
como garantias do Tribunal perante terceiros, quer como garantias das partes
perante o Tribunal. Naquela primeira perspectiva, as garantias de imparcialidade
costumam classificar-se em materiais e pessoais: as garantias materiais respeitam à
liberdade do Tribunal perante instruções ou quaisquer intromissões de outro órgão
do estado (art. 206º CRP, art. 4º/1 EMJ – Estatuto dos Magistrados Judiciais, Lei n.º
21/85, de 30/7, alterada pelo DL n.º 342/88, de 28/9, e pelas Leis n.º 2/90, de 20/1, e
10/94, de 5/5); as garantias pessoais protegem o juiz em concreto: são elas a
irresponsabilidade (art. 5º EMJ) e a inamovibilidade (art. 6º EMJ).
Na perspectiva das partes, as garantias de imparcialidade referem-se à
independência do juiz e à sua neutralidade perante o objecto em causa.
Constitui ainda uma garantia das partes a chamada independência interna do juiz.
Refere-se esta às influências a que o juiz está sujeito pela sua origem, educação ou
processo de socialização. É este aspecto da independência interna que justifica a
proibição da prática de actividade político-partidárias de carácter público e de
ocupação de cargos políticos pelos magistrados judiciais em exercício de funções
(art. 11º EMJ), bem como a proibição do desempenho pelos mesmos de qualquer
outra função pública ou privada, salvo as funções docentes ou de investigação
jurídica, desde que não remuneradas (art. 218º/3 CRP, art. 13º EMJ).
Um primeiro problema suscitado pelo art. 3º-A e pela referida igualdade substancial
entre as partes é o de nem sempre é viável assegurar essa igualdade. Em certos
casos, não é possível ultrapassar certas diferenças substanciais na posição
processual das partes; noutras hipóteses, não é possível afastar certas igualdades
formais impostas pela lei.
pelo contrário, essa função for entendida com um conteúdo negativo, só se proíbe
que o Tribunal promova a desigualdade entre as partes.
A referência à igualdade substancial que consta no art. 3º-A não pode postergar os
vários regimes imperativos definidos na lei, que originam desigualdades
substanciais ou que se bastam com igualdades formais. Quer supressão dos factores
de igualdade formal, mas através de um auxílio suplementar a favor da parte
carenciada do auxílio. Essa igualdade substancial não é obtida através de
um minus imposto a uma das partes, mas de um maius concedido à parte
necessitada.
Quanto às decisões sobre o mérito da causa, elas são determinadas pelos critérios
resultantes da lei ou que por ela seja permitidos, como a equidade (art. 4º CC) e a
discricionariedade própria dos processos de jurisdição voluntária (art. 1410º CPC).
Assim, o Tribunal só pode introduzir na sua decisão as correcções que a lei permita
ou que resultem de qualquer daqueles critérios formais de decisão.
6. Garantia do contraditório
O direito do contraditório – que é, em si mesmo, uma decorrência do princípio da
igualdade das partes estabelecido no art. 3º-A – possui um conteúdo multifacetado:
ele atribui à parte não só o direito ao conhecimento de que contra ele foi proposta
uma acção ou requerida uma providência e, portanto, um direito à audição antes de
ser tomada qualquer decisão, mas também um direito a conhecer todas as condutas
assumidas pela contraparte e a tomar posição sobre elas, ou seja um direito de
resposta.
esta seja nula (art. 771º-f CPC) e de oposição e anulação da execução com base nos
mesmos vícios (arts. 813º-d e 921º CPC).
b) Direito de resposta:
O contraditório não pode ser exercido e o direito de resposta não pode ser
efectivado se a parte não tiver conhecimento da conduta processual da contraparte.
Quanto a este aspecto, vale a regra de que cumpre à secretaria notificar
oficiosamente as partes quando, por virtude de disposição legal, elas possam
responder a requerimentos, oferecer provas ou, de um modo geral, exercer algum
direito processual que não dependa de prazo a fixar pelo juiz, nem de prévia citação
(art. 229º/2 CPC). Concretizações desta regra constam dos arts. 146º/5, 174º/1,
234º/1, 542º e 670º/1 CPC.
O art. 2º/1 CPC, atribui à parte o direito de obter, num prazo razoável, a decisão da
causa, o que significa que o Estado tem do dever de disponibilizar os meios
necessários para assegurar a celeridade na administração da justiça. Assim, a
concessão deste direito à celeridade processual possui, para além de qualquer
âmbito programático, um sentido preceptivo bem determinado, pelo que a parte
prejudicada com a falta de decisão da causa num prazo razoável por motivos
relacionados com os serviços da administração da justiça tem direito a ser
indemnizada pelo Estado de todos os prejuízos sofridos. Esta responsabilidade do
Estado é objectiva, ou seja, é independente de qualquer negligência ou dolo do juiz
da causa ou dos funcionários judiciais.
Octávio Manuel Gomes Alberto
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8. Publicidade do processo
O Processo Civil é – diz enfaticamente o art. 167º/1 CPC – público. A publicidade do
processo tornou-se possível com a introdução da oralidade e contínua a possuir a
justificação tradicional: ela é um meio para combater o arbítrio e assegurar a
verdade e a justiça das decisões judiciais. A essa publicidade estão subjacentes os
princípios fundamentais do Estado de direito, nomeadamente a possibilidade de um
controlo popular dos órgãos que – como sucede com os Tribunais –
exercem poderes de soberania (art. 110º/1 CRP). É nesta perspectiva que se deve
entender a garantia da publicidade das audiências dos Tribunais, que se encontra
consagrada no art. 206º CRP e no art. 656º/1 CPC, bem como a garantia do acesso
aos autos por todos os interessados estabelecida no art. 167º/2 CPC.
A publicidade das audiências dos Tribunais constitui uma importante garantia numa
dupla dimensão: em relação às partes, ela assegura a possibilidade de um controlo
popular sobre as decisões que as afectam directamente; relativamente à opinião
pública, essa publicidade permite combater a desconfiança na administração da
justiça.
acesso aos autos é, porém, limitado nos casos em que a divulgação do seu
conteúdo possa causar dano à dignidade das pessoas, à intimidade da vida privada
ou familiar ou à moral pública ou pôr em causa a eficácia da decisão a proferir (art.
168º/1 CPC).
9. Direito à prova
A prova é a actividade destinada à formação da convicção do Tribunal sobre a
realidade dos factos controvertidos (art. 341º CC), isto é, dos factos que constituem
a chamada base instrutória (art. 508º-A/1-e, 508º-B/2, e 511º/1 CPC). Essa actividade
incumbe à parte onerada (art. 342º CC), que não obstará uma decisão favorável se
não satisfazer esse ónus (art. 516º; art. 346º CC).
Para cumprir o ónus da prova, a parte tem de utilizar um dos meios de prova legal
ou contratualmente admitidos ou não excluídos por convenção das partes (art. 345º
CC). Dada a importância do cumprimento do ónus para a contraparte e para
terceiros, costuma falar-se de um direito à prova. Este direito é habitualmente
deduzido, para a generalidade dos processos jurisdicionais, do disposto no art. 6º/3-
d Convenção Europeia dos Direitos do Homem, que garante ao acusado o direito de
interrogar ou fazer interrogar as testemunhas de acusação e obter a convocação e o
interrogatório das testemunhas de defesa nas mesmas condições daquelas.
Algumas provas são materialmente lícitas, mas, apesar disso, não são
processualmente admissíveis. Estas provas podem conduzir a uma proibição de
produção ou de valoração. Noutros casos, a prova pode ser produzida num
processo, mas não pode ser valorada numa outra acção. Outras provas são
materialmente proibidas e, portanto, ilícitas. São exemplo de provas ilícitas todas
aquelas que são obtidas através dos métodos previstos no art. 32º/8 CRP ou no art.
519º/3 CPC.
As provas ilícitas são, em regra, insusceptíveis de ser valoradas pelo Tribunal, isto é,
não podem servir de fundamento a qualquer decisão judicial. Mas, quanto ao real
âmbito destas provas insusceptíveis de valoração, parece haver que distinguir entre
aqueles meios de prova cuja produção é, ela própria, um acto ilícito (é o caso das
provas previstas no art. 32º/8 CRP e no art. 519º/3 CPC) e aquelas provas cuja
produção não representa, em si mesma, qualquer ilicitude.
Esta legitimação assegura a coerência da decisão com as suas premissas, mas nada
garante quanto à verdade ou aceitabilidade dessas premissas e, portanto, daquela
decisão: do facto de esta ser coerente com as suas premissas não se segue que ela
corresponda à realidade das coisas, pois que, para tal, é necessário que estas
premissas estejam, elas próprias, de acordo com tal realidade. A esta
Octávio Manuel Gomes Alberto
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O Estado social de direito que se encontra plasmado no art. 2º CRP pressupõe uma
democracia económica, social e cultural. O processo jurisdicional não pode deixar de
reflectir essas preocupações sociais e de ser impregnado por uma concepção social:
a solução dos conflitos não é uma matéria de mero interesse dos litigantes e estes
não devem ser tratados como titulares abstractos da situação litigiosa, mas antes
como indivíduos concretos com necessidades a que o direito e o processo devem
dar resposta.
ou oposição cuja falta de fundamento não devia ignorar (art. 456º/2-a CPC), alterar
a verdade dos factos ou omitir factos relevantes para a decisão da causa (art.
456º/2-b CPC), isto é, violar o dever de verdade; é instrumental, se a parte tiver
omitido, com gravidade, o dever de cooperação (art. 456º/2-c CPC) ou tiver feito do
processo ou dos meios processuais um uso manifestamente reprovável, com o fim
de conseguir um objectivo ilegal, impedir a descoberta da verdade, entorpecer a
acção da justiça ou protelar, sem fundamento sério, o trânsito em julgado da
decisão (art. 456º/2-d e art. 720º CPC).
Mas o dever de prevenção têm um âmbito mais amplo: ele vale genericamente para
todas as situações em que o êxito da acção a favor de qualquer das partes possa ser
frustrado pelo uso inadequado do processo. São quatro as áreas fundamentais em
que a chamada de atenção decorrente do dever de prevenção se justifica: a
explicitação de pedidos pouco claros, o carácter lacunar da exposição dos factos
relevantes, a necessidade de adequar o pedido formulado à situação concreta e a
sugestão de uma certa actuação.
Alguns desses deveres de cooperação assentam numa previsão “fechada”, que não
deixa ao Tribunal qualquer margem de apreciação quanto à sua verificação; outros,
pelo contrário, decorrem de uma previsão “aberta”, que necessita de ser preenchida
pelo Tribunal de acordo com a sua ponderação. Esta distinção é importante quanto
aos efeitos do não cumprimento dos referidos deveres. Se o dever for estabelecido
por uma revisão “fechada” – isto é, se a situação em que ele tem de ser observado
não deixar ao Tribunal qualquer margem de apreciação –, a sua omissão constitui
uma nulidade processual, se, como em regra sucederá, essa
irregularidade puder influir ou exame ou decisão da causa (art. 201º/1 CPC).
A violação do dever de cooperação pela parte constitui, quando seja grave, uma das
situações que a lei tipifica com má-fé processual (art. 456º/2-c CPC). Aquela
gravidade da omissão do dever de cooperação pressupõe o dolo ou a negligência
grave da parte (art. 456º/2 proémio CPC).
a) Factos relevantes:
Como resulta do estabelecido no art. 264º CPC, a solução legal baseia-se numa
distinção, talvez demasiado esquemática, entre factos essenciais, instrumentais e
complementares ou concretizadores:
Os factos essenciais: são aqueles que integram a causa de pedir ou o
fundamento da excepção e cuja falta determina a inviabilidade da acção ou
da excepção;
Os factos instrumentais, probatórios ou acessórios: são aqueles que
indicam os factos essenciais e que podem ser utilizados para a prova
indiciária destes últimos;
Os factos complementares ou concretizadores: são aqueles cuja falta não
constitui motivo de inviabilidade da acção ou da excepção complexa e que,
por isso, são indispensáveis à procedência dessa acção ou excepção.
Importa acentuar que esta classificação não assenta num critério absoluto, mas
relativo: um mesmo facto pode ser essencial em relação a um certo objecto e
complementar ou instrumental perante outro objecto; por seu turno, um facto é
sempre complementar ou instrumental em relação a um certo facto essencial.
· Factos principais:
A procedência da acção ou da execução pressupõe certos factos: os factos
necessários a essa procedência podem ser designados por factos principais. Estes
Octávio Manuel Gomes Alberto
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· Factos instrumentais:
São utilizados para realizar a prova indiciária dos factos principiais, isto é, esses
factos são aqueles de cuja a prova se pode inferir a demonstração dos
correspondentes factos principais. Portanto, o âmbito de aplicação dos factos
instrumentais coincide com a prova indiciária, pelo que esses factos não possuem
qualquer relevância na prova histórica ou representativa.
b) Disponibilidade e oficiosidade:
Factos principais:
Assente a distinção entre factos essenciais, complementares e instrumentais, o
regime legal é o seguinte:
· Incumbe às partes alegar os factos essenciais que integram a causa de pedir
ou que fundamentam a excepção (art. 264º/1 CPC);
· O Tribunal pode considerar os factos complementares que resultem da
instrução e discussão da causa, desde que a parte interessada manifeste
vontade de deles se aproveitar e à parte contrária tenha sido facultado,
quanto a eles, o exercício do contraditório (art. 264º/3 CPC);
· O Tribunal pode considerar, mesmo oficiosamente, os factos instrumentais
que resultem da instrução e julgamento da causa (art. 264º/2 CPC).
Deste enunciado resulta claramente que a disponibilidade objectiva vale quanto aos
factos essenciais e aos factos complementares, pois que o Tribunal não os pode
considerar, quanto àqueles primeiros, se eles não forem alegados pelas partes e,
quanto a estes últimos, se a parte interessada não manifestar vontade de se
aproveitar deles. Portanto, os factos principais estão sujeitos à disponibilidade das
partes.
Factos instrumentais:
Há que reconhecer que não é totalmente claro o âmbito dos poderes que são
conhecidos ao Tribunal pelo art. 264º/2 CPC. É certo que este preceito estipula que
o Tribunal pode considerar oficiosamente os factos instrumentais; mas isto pode
significar que, se os factos surgirem na instrução e discussão da causa, o Tribunal
pode considerá-los na sua decisão ainda que nenhuma das partes o requeira, como
querer dizer que o Tribunal pode promover, por iniciativa própria, a investigação
desses factos durante a instrução e discussão da causa.
Os factos sobre os quais o Tribunal pode exercer estes poderes inquisitórios com a
finalidade de apurar a verdade ou de obter a justa composição do litígio são
precisamente os factos instrumentais.
Factos instrutórios:
O art. 265º/3 CPC, dispõe que incumbe ao juiz realizar ou ordenar, mesmo
oficiosamente, todas as diligências necessárias ao apuramento da verdade e à justa
composição do litígio, quanto aos factos de que lhe é lícito conhecer. Os factos
sobre os quais o Tribunal possui poderes instrutórios são não só os factos
instrumentais alegados pelas partes ou investigados pelo Tribunal, como os factos
principais alegados pelas partes.
Octávio Manuel Gomes Alberto
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c) Ónus de alegação:
Segundo o estabelecido no art. 264º/1 CPC, cabe às partes alegar os factos que
integram a causa de pedir e aqueles em que se baseiam as excepções: estes factos
devem ser alegados nos articulados das partes (arts. 467º/1-c, 489º/1, 502º/1,
503º/1, 785º, 793º e 794º/1 CPC). Todavia, o art. 264º/1 CPC, não abarca a
totalidade do ónus de alegações que deve ser cumprido nos articulados. Este ónus
não se restringe à indicação da causa de pedir ou do fundamento da excepção, ou
seja, aos factos essenciais: ele recai sobre todos os factos necessários à procedência
da acção ou da excepção, ou seja, sobre os factos principais. Portanto, o art. 264º/1
CPC, refere-se apenas a uma fracção do ónus de alegação que as partes devem
cumprir nos seus articulados.
Ao contrário dos factos principais – que são submetidos ao ónus de alegação nos
articulados –, os factos instrumentais destinam-se a ser utilizados numa função
probatória e, por essa razão, não estão sujeitos a esse ónus.
Preclusão:
A distinção entre factos essenciais, complementares e instrumentais é relevante
quanto a vários aspectos do tratamento da matéria de facto em processo. É o que
sucede quanto ao regime da sua preclusão: o art. 264º/2 CPC, mostra que podem
ser considerados factos instrumentais não alegados e, quanto aos factos
complementares, é nítido que não existe em relação a eles qualquer preclusão
quando não sejam alegados nos articulados, precisamente porque o art. 264º/3
CPC, permite a sua consideração quando eles só sejam adquiridos durante a
instrução e discussão da causa.
Os factos essenciais devem ser invocados nos articulados (art. 264º/1 CPC), mas
importa referir que a sua omissão não implica necessariamente a preclusão da sua
alegação posterior.
Com efeito, se esses factos podem ser considerados se a sua alegação não
atempada não for culposa (art. 506º/4 CPC), isto é, se, quanto a esses factos, só se
admite uma invocação extemporânea desde que ela não seja culposa, o mesmo há
que concluir, por maioria de razão, quanto aos factos essenciais. Assim, a alegação
destes factos fora dos articulados só deve ser aceite quando a parte não tenha
agido com negligência grave ou dolo.
Portanto, a má-fé da parte na omissão do facto essencial nos seus articulados tem
como consequência, além da sua condenação no pagamento de uma multa e de
uma indemnização à contraparte (art. 456º/1 CPC), a inadmissibilidade da sua
alegação posterior do facto. Neste caso, verifica-se uma preclusão decorrente da
má-fé processual.
O art. 264º/3 CPC, demonstra que os factos complementares podem ser adquiridos
durante a instrução e discussão da causa, pelo que a omissão da alegação desses
factos nos articulados não implica qualquer preclusão. Importa acentuar, no
Octávio Manuel Gomes Alberto
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entanto, que o art. 264º/3 CPC, não concede qualquer opção quanto ao momento
da alegação desses factos, mas apenas a oportunidade de sanar uma insuficiência
na alegação da matéria de facto que só foi detectada na instrução e discussão da
causa.
A sua função é apenas a de servir de prova indiciária dos factos principais, pelo que
o momento da sua relevância processual não é o da alegação da matéria de facto,
mas o da apresentação ou requerimento dos meios de prova: é neste momento que
devem ser invocados os factos instrumentais que se pretende demonstrar com esses
meios de prova (arts. 552º/2, 577º/1, 612º, 633º e 789º CPC). Portanto, a preclusão
da sua alegação só ocorre quando não for possível indicar ou requerer os meios de
prova (quanto ao processo ordinário e sumário, arts. 508º-A/2-a, 512º/1 e 787º CPC)
ou alterar os que anteriormente foram apresentados ou requeridos (quanto aos
mesmos processos, arts. 512º-A/1 e 787º CPC).
É para estas situações que o art. 288º/3, 2ª parte CPC, estipula que, ainda que a
excepção dilatória subsista, não deverá ser proferida a absolvição da instância
quando, destinando-se o pressuposto em falta a tutelar o interesse de uma das
partes, nenhum outro motivo obste, no momento da sua apreciação, a que se
conheça do mérito da causa e a decisão possa ser integralmente favorável a essa
parte. Segundo o disposto no art. 288º/3 (as excepções dilatórias só subsistem
enquanto a respectiva falta ou irregularidade não for sanada, nos termos do n.º 2 do
artigo 265.º; ainda que subsistam, não terá lugar a absolvição da instância quando,
destinando-se a tutelar o interesse de uma das partes, nenhum outro motivo obste,
no momento da apreciação da excepção, a que se conheça do mérito da causa e a
decisão deva ser integralmente favorável a essa parte) CPC, o Tribunal pode
pronunciar-se sobre o mérito da causa, ainda que se verifique uma excepção
dilatória sanável ou não sanável.
14. Função
As facilidades de deslocação de pessoas, bens e capitais potenciam o surgimento de
litígios que apresentam, através quer das partes interessadas, quer do seu próprio
objecto, conexões com várias ordens jurídicas. Quando emerge um desses litígios
plurilocalizados, coloca-se o problema de determinar qual o Tribunal que, no
âmbito das várias ordens jurídicas envolvidas, tem competência para o dirimir. Esta
selecção incumbe às regras sobre a competência internacional directa, às quais cabe
determinar, em cada uma das jurisdições com as quais o litígio tem contacto, se os
Tribunais de alguma delas são competentes para resolver o conflito. Essas regras
são, por isso, verdadeiras normas de conflitos, semelhantes na função que
desempenham às regras próprias do Direito Internacional Privado.
15. Limites
Para orientar a escolha da jurisdição competente para resolver o conflito
plurilocalizado não existem na comunidade internacional regras fixas e, menos
ainda, uniformes. Apenas se pode esperar que, cada Estado actue de tal forma que
os critérios definidores da sua competência internacional possam valer
simultaneamente como princípios de uma legislação universal. Quer isto dizer que
cada Estado pode determinar quais os elementos de conexão que considera
relevantes para abrir a sua jurisdição ao julgamento de litígios plurilocalizados. Esses
elementos podem ser escolhidos pela lei do Estado, mas também é frequente que
se reconheça relevância à vontade das partes nesta matéria: é esse o caso da
competência internacional convencional (art. 99; art. 17º Convenção de Bruxelas e
da Convenção de Lugano).
É essa a função dos vários critérios enunciados no art. 65º/1 CPC (A competência
internacional dos tribunais portugueses depende da verificação de alguma das
seguintes circunstâncias:
a) Ter o réu ou algum dos réus domicílio em território português, salvo
tratando-se de acções relativas a direitos reais ou pessoais de gozo sobre
imóveis sitos em país estrangeiro;
d) Não poder o direito invocado tornar-se efectivo senão por meio de acção
proposta em território português, ou não ser exigível ao autor a sua
propositura no estrangeiro, desde que entre o objecto do litígio e a ordem
jurídica nacional haja algum elemento ponderoso de conexão, pessoal ou
real).
a) Necessidade:
Nem sempre a circunstância de a questão em apreciação se situar no âmbito da
competência internacional (porque o objecto em apreciação é uma relação jurídica
Octávio Manuel Gomes Alberto
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b) Unilateralidade:
As normas de recepção funcionam unilateralmente. Isto significa que essas normas
se limitam a facultar os Tribunais de uma jurisdição para a resolução de uma certa
questão. Ou seja, essas normas atribuem competência aos Tribunais de uma ordem
jurídica para a resolução de um certo litígio, mas não excluem a apreciação dessa
mesma questão por um Tribunal estrangeiro.
c) Previsão:
Quando a acção apresenta uma conexão objectiva, relativa ao objecto do processo,
ou subjectiva, referida às partes em causa, com uma ou várias ordens jurídicas
estrangeiras, pode ser necessário determinar a competência internacional dos
Tribunais portugueses. Essa aferição deve restringir-se às situações em que os
Tribunais portugueses não são competentes segundo as regras da competência
interna, pois que, como se verificou, só importa averiguar a competência
internacional quando os Tribunais de uma certa ordem jurídica não sejam
competentes para apreciar uma relação jurídica plurilocalizada segundo as suas
regras de competência territorial. Essa é a função dos critérios constantes do art.
65º/1 CPC.
Os critérios territoriais podem ser especiais (arts. 73º a 84º e 89º CPC) ou gerais
(arts. 85º a 87º CPC): o critério geral é o domicílio do demandado (arts. 85º/1, 86º/2
CPC) ou dos demandados (art. 87º/1 CPC). Assim, se à acção for aplicável o critério
territorial geral e se da sua aplicação resultar a atribuição de competência a um
Tribunal português, está determinado, sem necessidade de aplicação do critério do
domicílio do réu, o Tribunal que é territorial e internacionalmente competente. Se,
pelo contrário, a aplicação desse critério de competência interna não a conceder a
um Tribunal português (porque o réu não tem domicílio em Portugal), essa
competência também nunca poderá resultar do critério de competência
internacional do domicílio do demandado (art. 65º/1-a CPC).
O art. 65º/2 CPC, estabelece que, para efeitos da aplicação do critério do domicílio
do demandado, considera-se domiciliada em Portugal a pessoa colectiva cuja
a sede estatutária ou efectiva se localize em território português ou que aqui tenha
sucursal, agência, filial ou delegação.
decorrido dessa competência territorial. Está nessas condições o art. 85º/3 (Se o réu
tiver o domicílio e a residência em país estrangeiro, será demandado no tribunal do
lugar em que se encontrar; não se encontrando em território português, será
demandado no do domicílio do autor, e, quando este domicílio for em país
estrangeiro, será competente para a causa o tribunal de Lisboa) CPC.
a competência exclusiva dos Tribunais portugueses (art. 99º/3-a CPC); sobre esta
competência, art. 65º-A CPC, isto é, o pacto não pode privar os Tribunais
portugueses da sua competência exclusiva.
MODALIDADES DE INCOMPETÊNCIA
24. Enunciado
A incompetência é a insusceptibilidade de um Tribunal apreciar determinada causa
que decorre da circunstância de os critérios determinativos da competência não lhe
concederem a medida de jurisdição suficiente para essa apreciação. Infere-se da lei
a existência de três tipos de incompetência jurisdicional: a incompetência absoluta, a
incompetência relativa e a preterição de Tribunal Arbitral.
A incompetência material que resulta do facto de a acção ter sido proposta num
Tribunal judicial quando o deveria ser num Tribunal não judicial pode ser arguida
Se houver despacho de citação (art. 234º/4 CPC), a incompetência absoluta deve ser
conhecida oficiosamente no despacho limiar (arts. 105º/1, 234º-A/1 CPC). O
conhecimento oficioso da incompetência absoluta é realizado, em regra, no
despacho saneador (arts. 510º/1-a, 494º-a CPC).
Note-se que a violação das regras de competência territorial pode verificar-se não
só na competência interna, quando são infringidas as regras que definem, de entre
os vários Tribunais, qual o territorialmente competente, mas também na
competência internacional.
oficioso (art. 495º CPC). Neste caso, a incompetência pode ser arguida pelo réu no
prazo de contestação (art. 109º/1; arts. 486º/1, 783º, 794º/1 CPC). O autor pode
responder no articulado subsequente ou, não havendo lugar a este, em articulado
próprio, a apresentar nos 10 dias seguintes à notificação da entrega do articulado
do réu (art. 109º/2 CPC). Conjuntamente com a alegação da incompetência relativa,
as partes devem apresentar as respectivas provas (art. 109º/3 CPC). Produzidas
estas, o Tribunal decide qual é o Tribunal competente para a acção (art. 111º/1 CPC).
jurisdição, dado que o Tribunal português não pode enviar o processo para o
Tribunal estrangeiro competente: neste caso, a consequência desta excepção
dilatória, não podendo ser a referida remessa, é a absolvição do réu da instância
(art. 111º/3 in fine CPC).
PERSONALIDADE JUDICIÁRIA
28. Noção
A personalidade judiciária é a susceptibilidade de ser parte processual (art. 5º/1
CPC). Só pode ser parte processual quem tiver personalidade jurídica.
a) Critério da coincidência:
A personalidade judiciária é concedida a todas as pessoas jurídicas, singulares ou
colectivas (art. 5º/2 CPC). Assim, todo o ente juridicamente personalizado tem
igualmente personalidade judiciária, activa ou passiva.
interdito, o seu domicílio legal (art. 32º/1 CC). Quanto às pessoas colectivas (excepto
sociedade comerciais), a sua lei pessoal é a do Estado onde se encontra situada
a sede principal e efectiva da sua administração (art. 33º/1 CC) ou, se for uma
pessoa colectiva internacional, a designada na convenção que a criou ou nos
respectivos estatutos ou, na sua falta, a do país onde estiver a sede principal (art.
34º CC). As sociedades comerciais têm como lei pessoal a lei do Estado onde se
encontre situada a sede principal e efectiva da sua administração (art. 3º/1, 1ª parte.
CSC).
Quando a acção foi proposta pelo representante de uma parte falecida ou contra
uma parte falecida, esta falta de personalidade judiciária cessa com a habilitação
dos sucessores (art. 371º CPC) ou da herança jacente (art. 6º-a CPC).
CAPACIDADE JUDICIÁRIA
31. Noção
A capacidade judiciária é a susceptibilidade de a parte estar pessoal e livremente em
juízo ou de se fazer representar por representante voluntário (art. 9º/1 – a
capacidade judiciária consiste na susceptibilidade de estar, por si, em juízo – CPC).
Assim, não possuem capacidade judiciária quer os que podem intervir pessoal mas
não livremente (os inabilitados), quer os que não podem actuar nem pessoal, nem
livremente (os menores e os inabilitados).
32. Aferição
A capacidade judiciária é aferida pela capacidade de exercício para a produção dos
efeitos decorrentes da acção pendente (art. 9º/2 – a capacidade judiciária tem por
base e por medida a capacidade do exercício de direitos – CPC). O que revela para
essa aferição é a capacidade de exercício quanto a esses efeitos e não quanto à
prática do acto que constitui ouintegra o objecto do processo.
A representação legal do menor cabe aos progenitores (arts. 124º e 1877º CC), ao
tutor (arts. 124º e 1921º/1 CC) ou ao administrador de bens (art. 1922º CC). A
representação legal do interdito incumbe ao tutor (art. 139º CC). Se houver
A nomeação do curador ad litem pode ser requerida quando o incapaz não tiver
representante legal, situação que pode ser verificada antes do início da causa ou na
sua pendência. O curador provisório também pode ser nomeado quando o
representante (ou os representantes) do incapaz estiver impossibilitado de exercer
os seus poderes de representação.
ainda para propor qualquer acção, salvo se ela for destinada à cobrança de
prestações periódicas ou se a demora na sua propositura for susceptível de causar
prejuízos ao menor (art. 1938º/1-e CC).
O administrador de bens (instituído nos casos previstos no art. 1922º CC) tem, os
mesmos direitos e obrigações do tutor (art. 1971º/1 CC), pelo que necessita de
autorização judicial nas mesmas situações em que dela carece o tutor (art. 1938º/1-
a-e CC).
b) Interditos:
A incapacidade judiciária dos interditos é suprida pela tutela e pela administração
de bens (art. 139º CC), cujos regimes são idênticos aos do suprimento da
incapacidade do menor.
c) Inabilitados:
A incapacidade judiciária dos inabilitados é suprida através da curatela (arts. 153º/1,
154º/1 CC). A curatela incumbe ao curador, que pode intervir ao regime de
assistência ou de representação. O curador assiste o inabilitado quanto aos actos
que forem especificados na sentença de inabilitação (art. 153º/1 CC); o curador
representa o inabilitado nos actos de administração do seu património (art. 154º/1
CC). Para instaurar quaisquer acções em representação do inabilitado, o curador
está sujeito ao regime do tutor do interdito (art. 156º, 1938º/1-a-e CC).
Mesmo quando o inabilitado seja representado pelo curador, aquele incapaz pode
intervir na acção proposta em seu nome e deve ser citado quando seja réu (art.
13º/1 CPC). Em caso de divergência entre o curador e o inabilitado, prevalece a
orientação daquele representante (art. 13º/2 CC).
REPRESENTAÇÃO JUDICIÁRIA
35. Noção
A representação judiciária é a representação de entes que estão submetidos a uma
representação orgânica ou que podem ser representados pelo Ministério Público.
36. Regime
a) Estado:
O Estado é representado pelo Ministério Público, sem prejuízo dos casos em que
seja permitida a representação por mandatário judicial próprio (art. 20º/1 CPC) ou
em que as entidades autónomas possam constituir advogado que intervenha no
processo conjuntamente com o Ministério Público (art. 20º/2 CPC). Segundo o
disposto no art. 4º/1 LOMP, o Ministério Público é representado no Supremo
Tribunal de Justiça pelo Procurador-geral da República, nas Relações por
Procuradores-Gerais-Adjuntos e nos Tribunais de 1ª instância por Procuradores da
República e Delegados do Procurador da República.
c) Incapazes e ausentes:
Os incapazes e ausentes são representados pelo Ministério Público em todas as
acções que se mostrem necessárias à tutela dos seus direitos e interesses (art. 17º/1
CPC; art. 5º/1-c LOMP). A representação pelo Ministério Público cessa se for
constituído mandatário judicial do incapaz ou ausente ou se, tendo o respectivo
representante legal deduzido oposição a essa representação, o juiz, ponderado
interesse do representado, a considerar procedente (art. 17º/2 CPC; art. 5º/3 LOMP).
d) Incertos:
Quando a acção seja proposta contra incertos, por o autor não ter a possibilidade
de identificar os interessados directos em contradizer, eles são representados pelo
Ministério Público (art. 16º/1 CPC; art. 5º/1-c LOMP), excepto se este representar o
autor, caso em que é nomeado um defensor oficioso para servir como agente
especial do Ministério Público naquela representação (art. 16º/2 CPC). Esta
Octávio Manuel Gomes Alberto
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e) Pessoas judiciárias:
As pessoas judiciárias – isto é, as entidades que só possuem personalidade
judiciária – são representadas da seguinte forma:
A herança jacente, por um curador (art. 22º CPC; art. 2048º/1 CC);
As associações sem personalidade judiciária, pelo órgão da administração
(art. 22º CPC; art. 195º/1 CC);
As comissões especiais pelos administradores (art. 22º CPC; art. 996º/1 CC);
As sociedades comerciais não registadas, pelas pessoas a que as cláusulas do
contrato atribuam a representação (art. 22º CPC);
O condomínio, pelo administrador (art. 22º CPC; art. 1437º/2 CC);
As sucursais ou equivalentes, pelos directores, gerentes ou administradores
(art. 22 CPC).
Quanto à actividade exigida ao Tribunal para procurar obter a sanação desse vício,
há que considerar duas situações (art. 24º/2 CPC):
Se o vício afectar a parte passiva, o Tribunal deve ordenar a citação do réu e
quem o deva representar, para que este ratifique ou renove o processado
anteriormente;
Se o vício respeitar à parte activa, o Tribunal deve ordenar, para esse mesmo
efeito, a notificação de quem a deva representar.
A incapacidade fica sanada se o representante do incapaz ratificar os actos
anteriormente praticados no processo ou se os renovar no respectivo prazo (art.
23º/2 CPC).
Se o incapaz for autor e se o processo tiver sido anulado desde o início, o prazo de
prescrição ou de caducidade, mesmo que já tenha terminado ou nos dois meses
subsequentes à anulação, não se considera completado antes de findarem esses
dois meses (art. 24º/3 CPC). É o regime que também resulta dos arts. 327º/3, 332º/1
CC.
Se o vício não for sanado e respeitar à parte activa, falta um pressuposto processual,
pelo que o réu é absolvido da instância (arts. 25º/1, 1ª parte, 494º-d, 493º/2, 288º/1-
c CPC). Se a falta de autorização ou deliberação afectar o representante da parte
passiva e não for sanada, a contestação fica sem efeito (art. 25º/2, 2ª parte CPC) e o
incapaz beneficia da sub-representação do Ministério Público se não tiver
mandatário judicial constituído (art. 15º/1 CPC).
42. Classificações
O litisconsórcio é susceptível de várias classificações: pode-se classificá-lo quanto à
origem, ao reflexo na acção e ao conteúdo da decisão, ou seja, pode-se atender,
nessa classificação, ao momento da propositura da acção, às consequências da sua
verificação na acção, ao momento do proferimento da decisão e ainda à posição
dos litisconsortes. Dado que se referem a realidades distintas, essas classificações
podem classificar-se entre si.
a) Origem do litisconsórcio:
Quanto à sua origem, o litisconsórcio pode ser: voluntário, todos os interessados
podem demandar ou ser demandados, mas não se verifica qualquer ilegitimidade se
não estiverem todos presentes em juízo ou; necessário, todos os interessados
devem demandar ou ser demandados, originando a falta de qualquer deles uma
situação de ilegitimidade. Assim, enquanto o litisconsórcio voluntário decorre
exclusivamente da vontade dos interessados, o litisconsórcio necessário é imposto
ao autor ou autores da acção.
b) Reflexo na acção:
Atendendo aos reflexos na acção, o litisconsórcio pode ser: simples, é aquele em
que a pluralidade de partes não implica um aumento do número de oposições entre
as partes; ou recíproco, é aquele em que a pluralidade de partes determina um
aumento do número de oposições entre elas.
c) Conteúdo da decisão:
Atendendo ao conteúdo da decisão, o litisconsórcio pode ser: unitário, é aquele em
que a decisão tem de ser uniforme para todos os litisconsortes; ou simples, pelo
contrário, a decisão pode ser distinta para cada um dos litisconsortes.
a) Litisconsórcio comum:
A parte que o conforma pretende apenas integrar determinados sujeitos no âmbito
subjectivo do caso julgado, numa situação em que, sem a sua participação na acção,
eles não ficariam abrangidos por ele.
b) Litisconsórcio conveniente:
A parte que o constitui visa alcançar uma vantagem que não poderia obter sem essa
pluralidade de partes, activas ou passivas. Quer dizer: a constituição do litisconsórcio
é uma condição indispensável para alcançar um certo resultado ou efeito.
a) Litisconsórcio legal:
O litisconsórcio necessário legal é aquele que é imposto pela lei (arts. 28º/1,
28º-A CPC).
Note-se que o litisconsórcio activo entre os cônjuges podem ser substituído pela
propositura da acção por um deles com o consentimento do outro (art. 28º-A/1
CPC), o que constitui uma situação de substituição processual voluntária. Se o
cônjuge não der o seu consentimento para a propositura da acção, o outro pode
supri-lo judicialmente (art. 28-A/2 CPC), utilizando para tanto o processo regulado
no art. 1425º CPC.
O litisconsórcio necessário definido pelo art. 28º-A/3 CPC, também pode operar
depois da dissolução, declaração de nulidade ou anulação do casamento.
b) Litisconsórcio convencional:
O litisconsórcio necessário convencional, é aquele que é imposto pela estipulação
das partes de um negócio jurídico (art. 28º/1 CPC). Para a determinação do âmbito
deste litisconsórcio convencional há que analisar o regime das obrigações divisíveis
e indivisíveis.
c) Litisconsórcio natural:
O litisconsórcio necessário natural, é aquele que é imposto pela realização do
efeito útil normal da decisão do Tribunal (art. 28º/2 CPC). A concretização deste
referido efeito útil normal suscita muitas dificuldades.
Segundo a definição legal do art. 28º/2, 2ª parte CPC, o efeito útil normal é atingido
quando sobrevém uma regulação definitiva da situação concreta das partes (e só
delas) quanto ao objecto do processo. De acordo com a mesma definição, o efeito
útil normal pode ser conseguido ainda que não estejam presentes todos os
interessados ou, dito de outra forma a ausência de um deles nem sempre constitui
um obstáculo a que esse efeito possa ser atingido: é o que resulta do facto de nessa
definição se admitir expressamente a não vinculação de todos os interessados.
Assim, deve concluir-se que decorre do art. 28º/2, 2ª parte CPC, que, na
determinação do litisconsórcio, releva apenas a eventualidade de a sentença não
compor definitivamente a situação jurídica das partes, por esta poder ser afectada
pela solução dada numa outra acção entre outras partes.
Não parece que a atribuição por um dos autores de uma posição de subsidiariedade
perante um outro demandante ou que a concessão pelo autor de uma idêntica
posição a um dos demandados corresponda a um ónus dessa parte. Na mesma
situação de dúvida sobre o titular do objecto do processo (art. 31º-B in fine CPC),
parece admissível que nenhum dos autores se coloque na posição de
subsidiariedade perante o outro e que nenhum dos réus seja qualificado como
subsidiário, podendo antes os vários autores ou réus apresentar-se ou ser
apresentados numa relação de alternatividade.
Nem sempre releva, quanto à posição recíproca das partes, a distinção entre o
litisconsórcio voluntário e necessário.
51. Pressupostos
A necessidade da composição provisória decorre do prejuízo que a demora na
decisão da causa e na composição definitiva provocaria na parte cuja situação
jurídica merece ser acautelada ou tutelada. A finalidade específica das providências
cautelares é, por isso, a de evitar a lesão grave e dificilmente reparável (art. 381º/1
CPC) proveniente da demora na tutela da situação jurídica, isto é, obviar ao
chamado periculum in mora. Esse dano é aquele que seria provocado quer por uma
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lesão iminente quer pela continuação de uma lesão em curso, ou seja, de uma lesão
não totalmente consumada.
O fumus boni iuris decorre da suficiência da mera justificação, mas não tem
qualquer tradução numa discricionaridade do Tribunal quanto aos fundamentos da
providência; se isso não suceder, o Tribunal não a pode decretar, ainda que isso se
pudesse justificar por outros factores.
a) Providências de garantia
· Arresto
O arresto e o arrolamento são providências cautelares cuja finalidade específica é
garantir a realização de uma pretensão e assegurar a sua execução. O arresto pode
ser requerido pelo credor que demonstre a probabilidade da existência do seu
crédito e tenha justo receio de perda da sua garantia patrimonial (arts. 406º/1 CPC;
601º e 619º/1 CC). O arresto consiste na apreensão judicial de bens do devedor
(arts. 406º/2 CPC; 619º/1 CC) ou de bens transmitidos pelo devedor a um terceiro
(arts. 407º/2 CPC; 619º/2 CC)
· Arrolamento
Enquanto o arresto visa assegurar a garantia patrimonial do credor, o
arrolamento destina-se a evitar o extravio ou a dissipação de bens, móveis ou
imóveis, ou de documentos (art. 421º/1 CPC), que, para esse efeito, são descritos,
avaliados e depositados (art. 424º/1 CPC). Essa providência visa a conservação de
bens ou documentos determinados (art. 422º/1 CPC), sendo por isso que os
credores só a podem requerer quando haja necessidade de proceder à arrecadação
de herança ou dos próprios bens (arts. 422º/2 e 427º/2 CPC; 90º e 2048º/2 CC).
b) Providências de regulação
· Restituição provisória da posse
O possuidor que for esbulhado com violência, isto é, que for violentamente privado
do exercício, da retenção ou da fruição do objecto possuído, tem o direito de ser
restituído provisoriamente à sua posse, desde que alegue e prove os factos que
constituem posse, o esbulho e a violência (arts. 393º CPC; 1279º CC). A
reconstituição provisória da posse é justificada não só pela violência ou ameaças
contra as pessoas, mas também por aquela que é dirigida contra coisas, como
muros e vedações.
O dano causado deve ser apreciável, mas não tem de ser irreparável ou de difícil
reparação. Assim, por não poder causar qualquer dano considerável, não pode ser
requerida a suspensão da deliberação respeitante ao recebimento de dividendos.
c) Providências de antecipação
· Alimentos provisórios
A providência de alimentos provisórios pode ser requerida como dependência da
acção em que, principal ou acessoriamente, seja pedida uma prestação de alimentos
(arts. 399º/1 CPC; 2007º/1 CC). Essa causa pode ser, por exemplo, uma acção de
reconhecimento da maternidade ou paternidade (arts. 1821º, 1873º e 1884º/1 CC).
Os alimentos provisórios são fixados numa quantia mensal (art. 399º/1 CPC),
tomando em consideração o que for estritamente necessário para o sustento, a
habitação e o vestuário do requerente e ainda para as despesas da acção, se o autor
não puder beneficiar de apoio judiciário (art. 399º/2 CPC).
· Arbitramento de reparação
Como dependência da acção de indemnização fundada em morte ou lesão corporal,
pode o lesado, bem como aqueles que lhe podiam exigir alimentos ou aqueles a
quem o lesado os prestava no cumprimento de uma obrigação natural, requerer o
arbitramento de uma quantia certa, sob a forma de renda mensal, como reparação
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provisória do dano (art. 403º/1 CPC). O mesmo pode ser requerido nos casos em
que a pretensão indemnizatória se funda em dano susceptível de pôr seriamente em
causa o sustento ou habitação do lesado (art. 403º/4 CPC).
Para que uma providência cautelar não especificada possa ser decretada são
necessários, além do preenchimento das condições relativas à referida
subsidiariedade (art. 381º/3 CPC), vários pressupostos específicos:
O fundado receio de que outrem, antes de a acção ser proposta ou na
pendência dela, cause lesão grave e dificilmente reparável ao direito do
requerente (arts. 381º/1 e 387º/1 CPC);
efeito da decisão principal, mas isso não parece revestir-se de qualquer significado
limitativo.
54. Características
a) Dependência
As providências cautelares têm por função obter uma composição provisória. Essas
providências são decretadas em processos especiais próprios (os procedimentos
cautelares, arts. 381º a 427º CPC) e, porque visam compor provisoriamente a
situação das partes, são dependência de uma acção cujo objecto é a própria
situação acautelada ou tutelada (arts. 383º/1, 399º/1, 403º/1 e 421º/2 CPC). Essa
acção pode ser declarativa ou executiva (art. 383º/1 in fine CPC), embora, nesta
última, não sejam frequentes as hipóteses em que está assegurado o interesse
processual no decretamento da providência. A acção principal pode decorrer
perante um Tribunal estadual ou Arbitral.
b) Celeridade
As providências cautelares são apreciadas e decretadas nos procedimentos
cautelares. Dada a celeridade indispensável a essas providências, estes
procedimentos revestem sempre carácter urgente e os respectivos actos precedem
qualquer outro serviço judicial não urgente (art. 382º/1 CPC); como consequência
desta urgência, os prazos processuais neles previstos não se suspendem sequer
durante as férias judiciais (art. 144º/1 CPC).
c) Modificação
O Tribunal não está adstrito à providência requerida (art. 392º/3, 1ª parte CPC), isto
é, pode decretar uma providência distinta daquela que foi solicitada (art. 661º/3
CPC). Esta faculdade concedida ao Tribunal decorre da não vinculação deste órgão à
indagação, interpretação e aplicação das regras de direito (art. 664º, 1ª parte CPC) e
pressupõe, naturalmente, que os factos alegados pelo requerente possibilitem essa
conversão. Desse regime também decorre que uma idêntica modificação da
providência pelo próprio requerente não é condicionada pelo disposto no art.
273º/1/2 CPC.
d) Cumulação
O requerente pode solicitar o decretamento de várias providências cautelares num
mesmo procedimento cautelar, desde que a tramitação para cada uma delas não
seja absolutamente incompatível e essa cumulação corresponda a um interesse
relevante ou seja indispensável para a justa composição do litígio (art. 392º/3, 2ª
parte CPC). Isso significa que se podem cumular tanto diferentes providências
especificadas, como providências nominadas e providências comuns.
Podem cumular-se duas ou mais providências cautelares se, na acção de que
são dependentes (art. 383º/1 CPC), for admissível a cumulação dos respectivos
pedidos.
e) Proporcionalidade
A provisoriedade cautelares e a sua finalidade de garantia, de regulação ou de
antecipação justificam que as medidas tomadas ou impostas devam ser as
adequadas às situações que se pretende acautelar ou tutelar. As relações entre
aquelas medidas e estas situações devem orientar-se por uma regra de
proporcionalidade: as medidas provisórias não podem impor ao requerido um
f) Eficácia relativa
Uma das consequências da summaria cognitio e da suficiência da mera justificação
no julgamento da providência é a insusceptibilidade de a decisão proferida na
procedimento cautelar produzir qualquer efeito de caso julgado na respectiva acção
principal: o julgamento da matéria de facto e a decisão final proferida no
procedimento cautelar não têm qualquer influência no julgamento da acção
principal (art. 383º/4 CPC). Como a providência decretada caduca se a acção vier a
ser julgada improcedente por sentença transitada em julgado (art. 389º/1-c CPC),
também isso demonstra que o seu decretamento, não é vinculativo na acção
principal (que, apesar desse decretamento, vem a ser julgada improcedente).
h) Garantia e execução
De molde a assegurar a efectividade da providência cautelar decretada, é admissível
a fixação de uma sanção pecuniária compulsória, se a providência impuser uma
prestação de facto infungível e esta não exigir especiais qualidades científicas ou
artísticas do requerido (arts. 384º/2 CPC; 829º-A/1 CC).
55. Caducidade
As providências cautelares fornecem, uma composição provisória, pelo que elas
caducam se a decisão que vier a ser proferida na acção principal não for compatível
com a medida provisória decretada. É o que acontece quando essa acção for
julgada improcedente por uma sentença transitada em julgado (art. 389º/1-c CPC).
A caducidade da providência cautelar decorrente da extinção do direito acautelado
(art. 389º/1-e CPC) é apenas uma das situações possíveis de inutilidade
superveniente dessa providência (art. 287º-e CPC), pelo que essa inutilidade pode
decorrer de outros fundamentos.
57. Noção
A composição da acção pode ser decisivamente influenciada pela omissão de um
acto processual: trata-se da revelia do réu, que consiste na abstenção definitiva da
contestação.
58. Modalidades
a) Revelia absoluta e relativa
A revelia é absoluta quando o réu não pratica qualquer acto na acção pendente;
é relativa se o réu não contesta, mas prática em juízo qualquer outro acto
processual, designadamente a constituição de mandatário judicial.
59. Efeitos
A revelia operante implica uma importante consequência quanto à decisão da
acção. Essa consequência, que se produz ex lege e não ex voluntate, consiste no
Octávio Manuel Gomes Alberto
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Direito Processual Civil
seguinte: a revelia operante implica a confissão dos factos articulados pelo autor
(art. 484º/1 CPC; quanto à aplicação dessa regra ao processo sumário e
sumaríssimo, arts. 463º/1 e 464º CPC).
61. Modalidades
A principal diferenciação nas decisões judiciais distingue-as em sentenças e
despachos (art. 156º/1 CPC). As sentenças são, em regra, as decisões sobre o mérito
da causa ou sobre um incidente com a estrutura de uma causa (art. 156º/2 CPC),
mas também podem conhecer de aspectos processuais (art. 660º/1 CPC); das
sentenças que conhecem do mérito da causa pode interpor-se recurso de apelação
(art. 691º/1 CPC). Os despachos são, em princípio, decisões sobre aspectos
processuais e, por isso, são, em regra, decisões interlocutórias, embora também
possam incidir sobre o mérito (art. 510º/1-b CPC) e, mesmo fora destes casos,
possam ser decisões finais (art. 510º/1-a CPC); dos despachos que não conhecem
do mérito da causa cabe recurso de agravo (art. 733º CPC) e daqueles que apreciam
esse mérito pode apelar-se (art. 691º CPC).
VICISSITUDES
62. Início
A instância inicia-se com a propositura da acção, entendendo-se que esta se
considera proposta, intentada ou pendente quando for recebida na secretaria (art.
150º/3 CPC) a respectiva petição inicial ou, se esta tiver sido enviada pelo correio, na
data do seu registo postal (arts. 267º/1; 150º/1 CPC). No entanto, em relação ao réu,
os efeitos decorrentes da pendência da causa só se produzem, em regra, após a sua
citação (art. 267º/2 CPC; sobre uma excepção a esta regra, art. 385º/6 CPC).
63. Suspensão
São várias as circunstâncias que determinam a suspensão da instância:
· Quando falecer ou se extinguir alguma das partes (arts. 276º/1-a; 277º/1
CPC), salvo se já tiver começado a audiência final ou se o processo já tiver
inscrito em tabela para julgamento, hipótese em que a instância só se
suspende depois de ser proferida a sentença ou o acórdão (art. 277º/1 CPC);
· Nos processos em que for obrigatória a constituição de advogado (arts. 32º/1
e 3; 276º/1-b; 278º; 284º/1-b CPC);
· Sempre que o Tribunal a ordene (arts. 276º/1-c; 279º/1; 97º/1; 284º/1-c CPC);
· Sempre que a lei o determine (arts. 276º/1-d – 12º/2 e 5; 24º/2; 25º/1; 39º/3;
356º; 549º/3; 550º/3; e 551º-A/4; no art. 1940º/3 CC; no art. 14º/3 DL 329-
A/95, de 12/12; no art. 24º/1-b, DL 387-B/87, de 29/12, e ainda no art.
3º/2, CRegP.);
· A vontade das partes também constitui uma causa de suspensão da instância:
as partes podem acordar nessa suspensão por um prazo não superior a seis
meses (art. 279º/4 CPC).
64. Interrupção
A instância interrompe-se quando o processo estiver parado durante mais de um
ano por negligência das partes em promover os seus termos ou os de algum
incidente do qual dependa o seu andamento (art. 285º CPC). A interrupção da
instância é, assim, consequência do incumprimento do ónus de impulso
subsequente das partes (art. 265º/1 CPC). A interrupção cessa se o autor requerer
algum acto do processo ou do incidente de que dependa o andamento dele (art.
286º CPC).
65. Extinção
O meio normal de extinção da instância na acção declarativa é o julgamento
(art. 287º-a CPC), que, aliás, pode decorrer de uma sentença de mérito ou de
absolvição da instância (arts. 288º e 289º CPC). Mas existem outras causas de
extinção da instância.
São elas:
A celebração de um compromisso Arbitral (arts. 287º-b; 290º CPC; art. 1º/1 e
2 LAV), ou seja, a atribuição da competência para o julgamento da acção
pendente a um Tribunal Arbitral;
A deserção da instância (art. 287º-c CPC), isto é, a interrupção da instância
durante dois anos (art. 291º/1 CPC);
A desistência, confissão ou transacção (art. 287º-d; 293º a 295º CPC);
A impossibilidade ou inutilidade superveniente da lide (art. 287º-e CPC).
FASES DO PROCESSO
66. Noção
A tramitação da acção comporta uma sequência de actos que pode ser decomposta
em várias fases.
Assim, a fase do processo integra todos os actos que realizam uma mesma
função, ainda que eles sejam praticados antes do início ou depois do termo da
respectiva fase em sentido cronológico.
68. Articulados
São as peças em que as partes expõem os fundamentos da acção e da defesa e
formulam os pedidos correspondentes (art. 151º/1 CPC). Essas peças recebem o
nome de articulados, porque, em princípio, nas acções, nos incidentes e nos
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À narração dos factos e das razões de direito segue-se a conclusão. É nesta parte da
petição inicial que o autor deve formular o pedido (art. 467º/1-d CPC), isto é, definir
a forma de tutela jurídica que pretende a situação jurídica alegada. A falta de
indicação do pedido ou a contradição deste com a causa de pedir apresentada na
narração importam a ineptidão da petição inicial (art. 193º/2-a, b CPC).
A citação pode ser pessoal ou edital (art. 233º/1 CPC). A citação pessoal é aquela
que é feita através de contacto directo com o demandado ou que é efectuada em
pessoa diversa do citando, mas encarregada de lhe transmitir o conteúdo do acto
(art. 233º/4; sobre estas situações: arts. 233º/5, 236º/2 e 240º/2, 2ª parte CPC). A
citação pessoal pode ser realizada através da entrega ao cintando de carta registada
com aviso de recepção, nos casos de citação postal (art. 233º/2-a CPC), mas
também pode ser efectuada através de contacto pessoal do funcionário judicial (art.
233º/2-b CPC) ou do mandatário judicial do autor com o citando (art. 233º/3 CPC).
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Em regra, a citação é pessoal (art. 233º/6 CPC) e, em regra também, é realizada pela
via postal (arts. 239º/1 e 245º/2 CPC).
Modalidades de citações:
Citação postal (art. 236º/1 CPC);
Citação por funcionário judicial (arts. 235º; 239º/1; 240º/2, 4 – art. 348º CP –
art. 241º CPC);
Citação por mandatário judicial (art. 245º/2 CPC)
Citação edital (art. 233º/6 CPC)
Citação no estrangeiro (art. 247º/1 CPC).
A citação pode faltar (art. 195º CPC) e ser nula (art. 198º CPC). Segundo o disposto
no art. 195º CPC, verifica-se a falta de citação quando o acto tenha sido
completamente omitido, quando tenha havido erro de identidade do citado,
quando se tenha empregado indevidamente a citação edital (arts. 233º/6 e 251º
CPC), quando se mostre que foi efectuada depois do falecimento do citando ou da
extinção deste e ainda quando se demonstre que o destinatário da citação deste e
ainda quando se demonstre que o destinatário da citação pessoal não chegou a ter
conhecimento do acto, por facto que não lhe seja imputável, ou seja, quando ele
tenha ilidido a presunção estabelecida no art. 238º CPC, ou quando a citação tenha
sido realizada apesar da sua incapacidade de facto (art. 242º CPC). A falta de citação
considera-se sanada se o réu ou o Ministério Público intervierem no processo e não
arguirem o vício (art. 196º CPC).
72. Contestação
A contestação é a resposta do réu à petição inicial do autor, ou seja, é a
manifestação da posição do réu perante aquele articulado do autor. Pode ser
entendida num sentido material ou formal. A contestação em sentido material é
qualquer acto praticado pelo réu, no qual essa parte mostre a sua oposição ao autor
e ao pedido formulado por esta parte (arts. 486º/2 e 487º/1 CPC).
A contestação em sentido formal é o articulado de resposta do réu à petição inicial
do autor: à contestação em sentido formal referem-se por exemplo os arts. 488º e
489º/1 CPC.
O réu pode tomar uma de duas atitudes fundamentais perante a petição inicial:
opor-se ao pedido do autor ou não se opor a ele. A opção por uma destas condutas
depende dos factos indagados pelo mandatário do réu e das provas de que esta
parte possa dispor, havendo, naturalmente, que observar o dever de verdade que
recai sobre essa parte (art. 456º/2-a, b CPC) e o dever de não advogar contra a lei
expressa e de não usar meios ou expedientes ilegais que obriga o mandatário (art.
78º-b EOA).
O réu pode contestar no prazo de 30 dias a contar da sua citação (art. 486º CPC). A
esse prazo acresce uma dilação de 5 dias quando a citação não tenha sido realizada
na própria pessoa do réu (arts. 236º/2 e 240º/2 e 3 CPC) e quando o réu tenha sido
citado fora da comarca sede do Tribunal onde pende a acção (art. 252º-A/1 CPC).
O articulado de contestação apresenta o mesmo conteúdo formal da petição inicial
(art. 488º CPC).
74. Réplica
É a resposta do autor à contestação do réu. A réplica pode ser entendida num
sentido formal ou material: naquela primeira acepção, a réplica é o articulado que o
autor apresenta em resposta à contestação do réu; em sentido material, a réplica
consiste na contestação de uma excepção oposta pelo réu ou na dedução de uma
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excepção contra o pedido reconvencional formulado pelo réu (art. 502º/1 e 2 CPC).
Se aquele articulado contiver aquela impugnação ou a dedução daquela excepção, a
réplica em sentido formal é-o também em sentido material.
A falta da réplica ou a não impugnação dos factos novos alegados pelo réu implica,
em regra, a admissão por acordo dos factos não impugnados (art. 505º CPC). Esta
admissão não se verifica nas situações previstas do art. 490º/2 CPC, e, além disso, há
que conjugar o conteúdo da réplica com o da petição inicial, pelo que devem
considerar-se impugnados os factos alegados pelo réu que forem incompatíveis
com aqueles que constarem de qualquer desses articulados do autor.
75. Tréplica
É a resposta do réu à réplica do autor. Também a tréplica pode ser referida numa
acepção formal ou material: em sentido formal, a tréplica é o articulado de resposta
do réu à réplica do autor; a tréplica em sentido material é a contestação pelo réu
das excepções opostas à reconvenção na réplica, a impugnação da admissibilidade
da modificação do pedido ou da causa de pedir realizada pelo autor na réplica (art.
273º/1 e 2 CPC) ou a contestação da nova causa de pedir ou do novo pedido
apresentado pelo autor na réplica (art. 503º/1 CPC).
Se o réu tiver formulado um pedido reconvencional (art. 501º/1 CPC), o autor pode
contestar na réplica esse pedido através da dedução de uma excepção, à qual o réu
pode responder na tréplica com a alegação de uma contra-excepção.
FASE DA CONDENSAÇÃO
São de dois tipos os vícios de que podem padecer os articulados das partes: a
irregularidade e a deficiência. O articulado é irregular quando não observe os
requisitos legais ou quando não seja acompanhado de documento essencial ou de
qual a lei faça depender o prosseguimento da causa (art. 508º/2 CPC).
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Os factos alegados pela parte para o suprimento dessa deficiência não podem
implicar uma alteração da causa de pedir ou da defesa anteriormente apresentadas
(art. 508º/5 CPC) e, por isso, o réu não pode deduzir no novo articulado uma
reconvenção que anteriormente não formulara.
Se a audiência preliminar for convocada, a falta das partes ou dos seus mandatários
não constitui motivo do seu adiamento (art. 508º-A/4 CPC). A falta do mandatário
pode reflectir-se, de modo significativo, na defesa dos interesses do seu
constituinte, pelo que é susceptível de o fazer incorrer em responsabilidade perante
a parte (art. 83º/1-d EOA).
A audiência preliminar é dispensável quando, destinando-se à fixação da base
instrutória, a simplicidade da causa não justifique a sua convocação (art. 508º-B/1-a
CPC)
A selecção da matéria de facto não pode conter qualquer apreciação de direito, isto
é, qualquer valoração segundo a interpretação ou a aplicação da lei ou qualquer
juízo, indução ou conclusão jurídica.
Nas condições referidas no art. 288º/3 CPC, o Tribunal pode conhecer do mérito
ainda que verifique que falta um pressuposto processual. Esta situação será
certamente mais frequente no despacho saneador do que na sentença final, dado
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que são raras as situações em que a falta do pressuposto se detecta apenas na fase
da sentença ou em que a sua apreciação é relegada para esse momento (art. 510º/4
CPC).
FASE DA INSTRUÇÃO
Quanto às provas constituendas, a parte deve ser notificada, sempre que não seja
relevante, para todos os actos de preparação e produção da prova e é admitida a
intervir nesses mesmos actos (art. 517º/2, 1ª parte CPC).
Depois deste prazo, o rol de testemunhas ainda pode ser alterado ou aditado até 20
dias antes da data da realização da audiência final (art. 512º-A/1 CPC), sendo a parte
contrária notificada para usar, se quiser, de igual faculdade no prazo de 5 dias
(art. 512º-A/1 in fine CPC). A apresentação das novas testemunhas incumbe às
partes (art. 512º-A/2 CPC), isto é, o Tribunal não procede à sua notificação.
Meios de prova:
a) Prova por confissão (arts. 552º segs. CPC);
b) Prova documental (arts. 523º segs. CPC)
c) Prova pericial (arts. 568º segs. CPC);
d) Prova testemunhal (arts. 616º segs. CPC);
e) Inspecção judicial (arts. 612º segs. CPC);
f) Apresentação de coisas.
a) Publicidade
As audiências dos Tribunais são públicas, salvo quando o próprio Tribunal decidir,
em despacho fundamentado, excluir essa publicidade para salvaguardar a dignidade
das pessoas e a moral pública ou para garantir o seu normal funcionamento (art.
206º CRP; sobre essa publicidade, também art. 10º Declaração Universal dos Direitos
do Homem; art. 14º/1 Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos; art. 6º/1
Convenção Europeia dos Direitos do Homem). A audiência final deve ser, com essas
mesmas excepções, públicas (art. 656º/1 CPC).
Mesmo quando a audiência seja pública, a publicidade pode ser excluída quando se
proceda à exibição de reproduções cinematográficas ou de registos fonográficos
(art. 652º/3-b, 2ª parte CPC). Dado que a lei não define os critérios para a exclusão
da publicidade neste caso, deve entender-se que valem aqueles que se encontram
enunciados no art. 206º CRP (bem como no art. 656º/1 CPC).
b) Continuidade
A audiência final é contínua, só podendo ser interrompida por motivos de força
maior, por absoluta necessidade ou nos casos regulados na lei (art. 656º/2, 1ª parte
CPC), como sucede naqueles que estão previstos nos arts. 650/4; 651º/3; 654º/2
CPC. Se não for possível conclui-la num dia, o presidente marcará a sua continuação
para o dia útil imediato, ainda que compreendido em férias, e assim, sucessivamente
(art. 656º/2, 2ª parte CPC).
c) Plenitude
Segundo o princípio da plenitude da assistência dos juízes, só podem intervir na
decisão da matéria de facto aqueles que tenham assistido a todos os actos de
instrução e discussão praticados na audiência final (art. 654º/1 CPC). A violação
desta regra origina uma nulidade processual (art. 201º/1 CPC).
d) Documentação
A audiência final e os depoimentos, informações e esclarecimentos nela prestados
são gravados, sempre que alguma das partes o requeira (arts. 508º-A/2-c, e 512º/1
CPC) ou o Tribunal o determine (art. 522º-B CPC). A gravação é efectuada por
sistema sonoro, excepto quando possa ser realizada por meios audiovisuais ou
semelhantes (art. 522º-C CPC), e abrange a discussão da causa (art. 652º/1 CPC), a
tentativa de conciliação entre as partes (art. 652º/2 CPC), a produção da prova (art.
652/3-a, b, c, d, CPC), os debates sobre a matéria de facto (art. 652º/3-e; n.º 5 CPC),
a leitura do acórdão de julgamento da matéria de facto e as eventuais reclamações
deduzidas pelas partes (art. 653º/4 CPC) e ainda a discussão oral do aspecto jurídico
da causa (arts. 653º/5 e 657º CPC). Se algum depoimento houver de ser prestado
fora do Tribunal (art. 652º/4 CPC), também ele deverá ser gravado.
e) Efectivação
A produção da prova orienta-se por um princípio de efectividade, através do qual se
procura evitar que essa actividade se torne impossível por não ter sido realizada no
momento oportuno. Com vista a assegurar a efectividade da produção da prova,
permite-se que, se houver justo receio de vir a tronar-se impossível ou muito difícil
o depoimento de certas pessoas ou a verificação de certos factos por meio de
arbitramento ou inspecção, a produção destas provas possa ser antecipada ou
mesmo realizada antes da propositura da acção (art. 520º CPC). É o que se chama
produção antecipada da prova (ou prova ad perpetuam rei memoriam), que como
pressuposto especifico o receio da impossibilidade ou da dificuldade da realização
da prova no momento normal.
Produção de prova:
a) Depoimento de parte, a produção de prova começa pela prestação de
depoimento de parte (art. 652º/3-a CPC), quando ele tiver sido ordenado
pelo Tribunal ou requerido pela outra parte, por uma comparte (arts. 552º/1,
e 553º/3 CPC) ou pelo assistente (arts. 339º e 332º/1 CPC);
pericial (art. 389º CC; art. 591º CPC), da inspecção judicial (art. 391º CC) e da prova
testemunhal (art. 396º CC).
A prova livre está excluída sempre que a lei conceda um valor legal a um
determinado meio de prova (arts. 358º/1 e 2, 371º/1, 376º e 377º CC), assim como
quando a lei exigir, para a existência ou prova do facto jurídico, qualquer
formalidade especial (art. 655º/2 CPC).
c) Fundamentação
Na decisão sobre a matéria de facto devem ser especificados os fundamentos que
foram decisivos para a convicção do julgador sobre a prova (ou falta de prova) dos
factos (art. 653º/2 CPC). Como, em geral, as provas produzidas na audiência final
estão sujeitas à livre apreciação (arts. 655º/1 e 652º/3-b, c, d, CPC), o Tribunal deve
indicar os fundamentos suficientes para que, através das regras da ciência, da lógica
e da experiência, se possa controlar a razoabilidade daquela convicção sobre o
julgamento do facto como provado ou não provado. A exigência da motivação da
decisão não se destina a obter a exteriorização das razões psicológicas da convicção
do juiz, mas a permitir que o juiz convença os terceiros da correcção da sua decisão.
Através dessa fundamentação, o juiz deve passar de convencido a convincente.
que foram decisivos para a convicção do julgador (art. 653º/2 CPC). As partes
podem reclamar contra a falta dessa motivação (art. 653º/4, 2ª parte CPC) e ela
pode ser exigida pela Relação (art. 712º/5 CPC).
O Tribunal de audiência não pode pronunciar-se sobre matéria de direito, isto é, não
pode ocupar-se da aplicação do direito aos factos provados. Considera-se
inexistente qualquer resposta desse Tribunal sobre essa matéria (art. 646º/4, 1ª
parte CPC).
FASE DA SENTENÇA
Se essa discussão tiver sido oral (art. 653º/5 CPC), a sentença pode ser
logo lavrada por escrito ou ditada para a acta (art. 659º/4 CPC).
A sentença deve ser motivada (art. 208º/1 CRP; art. 158º/1 CPC) através da
exposição dos fundamentos de facto – respeitam aos factos relevantes para a
decisão que foram adquiridos durante o processo – e de direito – à interpretação e
aplicação das normas jurídicas aplicáveis a esses factos – (art. 659º/2 CPC).
Como fundamentos de facto devem ser utilizados todos os factos que foram
adquiridos durante a tramitação da causa. Nos termos do art. 659º/3 CPC, integram
esses fundamentos:
Os factos admitidos por acordo, ou seja, os factos alegados por uma parte
e não impugnados pela contraparte (arts. 490º/2, e 505º CPC), mesmo que
não tenham sido considerados assentes;
Os factos provados por documentos juntos ao processo por iniciativa das
partes (arts. 523º e 524º CPC) ou do Tribunal (arts. 514º/2, e 535º CPC);
Os factos provados por confissão reduzida a escrito, seja ela uma confissão
judicial ou extrajudicial (arts. 356º e 358º CC; art. 563º/1 CPC);
Os factos julgados provados pelo Tribunal singular ou colectivo na fase da
audiência final (art. 653º/2 e 3 CPC);
Os factos que resultam do exame crítico das provas, isto é, aqueles que
podem ser inferidos, por presunção judicial ou legal, dos factos provados
(arts. 349º a 351º CC).
O art. 660º/1 in fine CPC, impõe o conhecimento das excepções dilatórias segundo
a ordem da sua precedência lógica. São dois os preceitos que contêm enumerações
de excepções dilatórias – os arts. 288º/1 e 494º CPC –, mas elas não se subordinam
a nenhuma ordenação lógica, porque, por exemplo, as excepções de litispendência
e de caso julgado (art. 449º-i CPC, e que cabem na enumeração residual do art.
Octávio Manuel Gomes Alberto
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288º/1-e CPC) são referidas depois de outras excepções dilatórias, sendo certo que,
se algumas destas excepções merecem uma apreciação prévia perante as demais, as
excepções de litispendência e de caso julgado estão claramente entre elas.
PROCESSO SUMÁRIO
A petição inicial dispensa a forma articulada, mas conjuntamente com ela devem ser
oferecidas as provas dos factos alegado (art. 793º; 151º/2 CPC). Isto significa que, ao
contrário do que sucede no processo ordinário e sumário, o autor tem o ónus de
alegar na petição inicial os factos instrumentais que pretenda demonstrar através
dessas provas.
Naquele primeiro caso, o objecto dos recursos coincide com o objecto da instância
recorrida, pois que o Tribunal superior é chamado a apreciar e a julgar de novo a
acção: o recurso pertence então à categoria dos recursos de reexame.
b) Recursos extraordinários
Os recursos extraordinários, porque podem incidir sobre decisões transitadas em
julgado, prosseguem finalidades distintas dos demais meios de impugnação: do que
se trata é de apurar se algum fundamento justifica a anulação da decisão e, em caso
afirmativo, de refazer a decisão impugnada. Assim, enquanto visam determinar
se se verifica algum dos fundamentos taxativos que justificam a anulação da
decisão, isto é, quanto ao chamado juízo rescindente (arts. 771º e 779º/1 CPC), os
recursos extraordinários são equiparáveis a qualquer acção constitutiva (art. 4º/2-c
CPC) e os poderes do Tribunal nessa apreciação coincidem com aqueles que lhe são
reconhecidos do caso julgado e da respectiva decisão, abre-se o chamado juízo
rescisório, no qual esse Tribunal reconstitui a decisão anulada (arts. 776º e 778º/1
CPC).
III. RECURSOS
O art. 679º CPC, exclui o recurso dos despachos de mero expediente e daqueles que
forem proferidos no uso de um poder discricionário. Encontram-se alguns exemplos
destes últimos no exercício dos poderes instrutórios concedidos ao Tribunal
(arts. 519º-A/1, 552º/1, 569º/1-a, 589º/2, 612º/1, 622º, 645º/1, 652º/3-c e 653º/1, 2ª
parte CPC).
Como todos estes prazos são peremptórios, o seu decurso implica a caducidade da
impugnação (art. 145º/3 CPC). A caducidade do recurso ordinário é de
conhecimento oficioso (art. 687º/3 CPC); o mesmo vale para a caducidade dos
recursos extraordinários, à qual se aplica, dada a indisponibilidade das partes sobre
esses recursos e a natureza substantiva daquele prazo, o regime estabelecido no art.
333º/1 CC.
A - RECURSOS ORDINÁRIOS
GENERALIDADES
A ordem é a seguinte:
Primeiro, são reguladas a apelação (arts. 691º a 720º CPC) e a revista (arts.
721º a 732º-B CPC), que são os recursos que cabem das decisões relativas ao
mérito;
Surgem depois os regimes do agravo em 1ª instância (arts. 733º a 753º CPC)
e do agravo em 2ª instância (arts. 754º a 762º CPC), que são os recursos
admissíveis das demais decisões.
Recursos na 1ª instância
Os recursos ordinários interpostos de decisões proferidas pela 1ª instância são a
apelação e o agravo. A apelação cabe da sentença final e do despacho saneador
que decidam do mérito da causa (art. 691º/1 CPC); também nos processos especiais
se consideram de apelação os recursos interpostos da sentença ou de quaisquer
despachos que decidam desse mérito (art. 463º/4º CPC). O âmbito do agravo em 1ª
instância delimita-se perante o da apelação: ele cabe das decisões, susceptíveis de
recurso, de que não possa apelar-se (art. 733º CPC.
b) Recursos na 2ª instância
Os recursos ordinários que cabem das decisões proferidas pela Relação são a revista
e o agravo em 2ª instância. O âmbito da revista é definido pelo seu objecto e pelo
seu fundamento específico: cabe recurso de revista do acórdão da Relação que
decide do mérito da causa e do qual se recorre com fundamento na violação da lei
substantiva (art. 721º/1 e 2 CPC). O agravo em 2ª instância possui um âmbito
residual perante a revista: ele cabe dos acórdãos da Relação dos quais não se possa
recorrer de revista (art. 754º/1 CPC), seja porque o acórdão não conheceu do mérito
da causa, seja porque dele se recorrer com um fundamento processual (art. 755º/1
CPC).
O julgamento de uma causa pressupõe a aplicação de uma lei a certos factos, isto é,
esse julgamento conjuga matéria de direito e de facto. A competência decisória de
recurso pode abranger ambas essas matérias ou restringir-se à matéria de facto.
por ter actuado quer com má-fé substancial (art. 456º/2-a, b, c, CPC), quer com má-
fé instrumental (art. 456º/2-d CPC). Além disso, em sede de recursos, há que contar
com o regime especial que se encontra previsto no art. 720º CPC (aliás aplicável a
todos os demais recursos ex vi dos arts. 726º, 749º, 762º/1 CPC).
a) Efeitos intraprocessuais
Comportam um efeito suspensivo, efeitos translativos e um efeito suspensivo.
O efeito suspensivo, refere-se à circunstância de a decisão recorrida não transitar
em julgado e de, por isso, não receber o valor de caso julgado antes da sua
confirmação pelo Tribunal de recurso ou de nem sequer vir a obter esse valor se for
revogada por esse Tribunal.
c) Efeitos extraprocessuais
Traduzem-se segundo as expressões tradicionais, num efeito devolutivo ou
suspensivo, mas estes possuem um recorte completamente diferente dos
homónimos efeitos intraprocessuais. Existe, além de tudo o mais, uma distinção
fundamental entre ambos: o efeito devolutivo e o efeito suspensivo,
enquanto efeitos intraprocessuais, são essenciais aos recursos ordinários
regulados no direito português e, por isso, coexistem em qualquer recurso; pelo
contrário, o efeito devolutivo e o efeito suspensivo, enquanto efeitos
extraprocessuais, são características secundárias desses recursos, que são
escolhidas pelo legislador para cada recurso e que são necessariamente alternativas.
ESTUDO ANALÍTICO
a) Erro na previsão
O erro na determinação da norma aplicável consiste num equívoco quanto à norma
que deve ser aplicada ao caso concreto. Este erro pode ocorrer em duas
modalidades distintas: o erro na qualificação e o erro na subsunção. Aquele erro na
qualificação verifica-se quando o Tribunal selecciona mal a norma aplicável ao caso
concreto, isto é, quando esse órgão, ao procurar a lei reguladora desse caso,
escolhe a norma errada.
c) Erro na estatuição
Diferente de qualquer dos erros sobre a previsão é o erro na aplicação da norma,
que decorre de um entendimento erróneo das consequências determinadas pela
norma aplicada.
Mas também pode suceder que a violação da lei não incida sobre a norma que
define, ou devia definir, o conteúdo de decisão, mas sobre uma norma que tem por
objecto a norma de decisão ou o acto jurídico que determina aquele conteúdo.
Estas normas sobre normas de decisão ou sobre actos jurídicos que definem o
conteúdo da decisão podem designar-se por normas secundárias e à respectiva
violação pode chamar-se, por isso, violação secundária.
112. APELAÇÃO
Cabe apelação da sentença final e do despacho saneador que decidam do mérito da
causa (art. 691º/1 CPC). Assim, a apelação é o recurso admissível das decisões sobre
o mérito proferidas pela 1ª instância, pelo que são apeláveis todas as decisões que
nela absolvam ou condenem o réu no pedido. A decisão que conhece do mérito e
que, por isso, é apelável pode não ser uma decisão final do processo (art. 695º/1
CPC).
113. REVISTA
O campo de aplicação do recurso de revista delimita-se duplamente pelo objecto e
pelo fundamento:
O objecto da revista é o acórdão da Relação que decide do mérito da
causa (art. 721º/1 CPC), isto é, que prenuncia uma condenação ou
absolvição do pedido;
O fundamento específico do recurso de revista é a violação da lei
substantiva (art. 721º/2, 1ª parte CPC), embora, acessoriamente, o
recorrente também possa alegar a violação da lei processual (arts.
721º/2 in fine, 722º/1 CPC). Note-se que, como a revista cabe do acórdão
da Relação sobre o mérito da causa (art. 721º/1 CPC), ela é igualmente
admissível da decisão que conhece desse mérito no agravo em 1ª instância
(art. 753º/1 CPC) e que é impugnada com fundamento na violação da lei
substantiva (art. 721º/2 CPC).
AGRAVOS
Dada a delimitação negativa do agravo perante a apelação (art. 73º CPC), pode
dizer-se que aquele recurso é aplicável sempre que uma decisão for recorrível, mas
dela não couber apelação por não ser uma decisão sobre o mérito. Cabe igualmente
agravo, das decisões secundárias sobre as custas da acção (art. 46º/1 CPC; art.
62º CCJ), sobre a condenação em multa e indemnização como consequência da
litigância de má-fé (art. 456º/1 CPC) e ainda sobre a concessão ou denegação do
apoio judiciário (art. 39º/1 DL 387-B/87, de 29/12).
Como o agravo em 2ª instância incide sobre decisões que não conhecem do mérito
(art. 754º/1 CPC), nem sempre é exigível assegura-lhes um controlo pelo Supremo: é
essa a justificação para a exclusão, imposta pelo art. 754º/2, 1ª parte e 3º CPC, da
admissibilidade de recurso para o Supremo do acórdão da Relação que confirme,
ainda que por diverso fundamento mas sem voto de vencido, a decisão
interlocutória proferida na 1ª instância. O regime não vale, contudo, quando, nos
termos do art. 678º/2/3 CPC, o recurso seja admissível independentemente dos
valores da causa e da sucumbência da parte.
116. Constituição
O objecto do recurso é constituído por um pedido e um fundamento. O pedido
consiste na solicitação de revogação da decisão impugnada e o fundamento na
invocação de um vício no procedimento (error in procedendo) ou no julgamento
(error in iudicando).
fundamentos (art. 687º/1 CPC). Esse pedido pode ser restringido nas conclusões das
alegações do recurso (art. 684º/3 CPC) através, por exemplo, da exclusão de um dos
recorridos ou da aceitação da decisão quanto a um dos pedidos cumulados, mas
não pode ser ampliado em relação àquele que consta do requerimento de
interposição, porque qualquer restrição realizada neste último vale como aceitação
da decisão não impugnada e, portanto, como renúncia ao recurso (art. 681º/2 e 3
CPC).
117. Âmbito
O âmbito do recurso é triplamente delimitado. Antes do mais, esse âmbito é
determinado pelo objecto da acção e pelos eventuais casos julgados formados na
instância recorrida. Dado que o direito português consagra o modelo do recurso de
reponderação, o âmbito do recurso encontra-se objectivamente limitado pelas
questões colocadas ao Tribunal recorrido, pelo que, em regra, não é possível
solicitar ao Tribunal ad quem que se pronuncie sobre uma questão que não se
integra no objecto da causa tal como for apresentada na 1ª instância.
Finalmente, o âmbito do recurso pode ser limitado pelo próprio recorrente. Sempre
que a parte dispositiva da sentença contenha decisões distintas sobre vários
objectos, o recorrente pode distinguir o recurso a qualquer delas (art. 684º/2, 1ª
parte CPC).
118. Limites
A função do recurso ordinário é a reapreciação da decisão recorrida e não um novo
julgamento da causa. Dessa circunstância decorre a proibição
da reformatio in melius e in peius. A proibição da reformatio in melius tem o
seguinte enunciado: como o objecto do recurso é delimitado pela impugnação do
recorrente, esta parte não pode alcançar através do recurso mais do que a
revogação e eventual substituição da decisão recorrida. A proibição
Octávio Manuel Gomes Alberto
Universidade Autónoma de Lisboa (UAL) - Delegação das Caldas da Rainha …………Pág. 126 de 204
Direito Processual Civil
119. DECISÃO
O âmbito da competência decisória do Tribunal depende do tipo de recurso. Se esse
recurso pertence ao modelo de cassação, o Tribunal ad quem só pode revogar a
decisão impugnada; se o recurso se integra no modelo de substituição, o
Tribunal ad quem pode não só revogar a decisão impugnada, mas também
substitui-la por outra. Esta substituição nem sempre é limitada pelo objecto do
recurso: se a Relação considera procedente o agravo interposto, esse Tribunal pode
substituir a decisão de forma impugnada por uma decisão sobre o mérito (art.
753º/1 CPC).
PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS
120. Enunciado
Na instância de recurso relevam três tipos de pressupostos processuais: os gerais, os
especiais e os específicos. Os pressupostos gerais são comuns à acção no seu todo:
é o caso, por exemplo, da competência do Tribunal a quo e da legitimidade das
partes; os pressupostos especiais são adaptações à instância de recurso dos
pressupostos gerais: são eles a competência do Tribunal ad quem e o patrocínio
judiciário obrigatório do recorrente; finalmente, os pressupostos específicos são
restritos à instância de recurso: esses pressupostos são a recorribilidade da decisão
e a legitimidade para recorrer.
121. Apreciação
Os pressupostos processuais específicos condicionam a admissibilidade do
conhecimento do objecto do recurso, o que significa que, se eles não se
não deve ocupar-se desse pressuposto se a decisão sobre o mérito puder ser
favorável à parte que beneficiaria com o seu preenchimento: é a solução imposta
pelo art. 288º/3, 2ª parte CPC. É por isso que, se estiverem
simultaneamente pendentes uma apelação relativa à decisão de mérito desfavorável
ao autor e um agravo relativo à decisão sobre os pressupostos processuais
interposto pelo réu, o art. 710º/1 CPC (aplicável à revista ex vi do art. 726º CPC),
determina que este agravo só deva ser apreciado se a decisão sobre o mérito não
for confirmada.
A decisão recorrida pode ser tanto uma decisão final, como uma decisão
interlocutória. A recorribilidade das decisões interlocutórias apresenta vantagens e
inconvenientes: ela revela-se útil, se o Tribunal de recurso vier a revogar a decisão
recorrida, porque, nesse caso, a impugnação permite evitar as repercussões da
Octávio Manuel Gomes Alberto
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Direito Processual Civil
INTRODUÇÃO
a) Execução singular
As acções condenatórias visam um duplo objectivo: o reconhecimento de um direito
a uma prestação e a condenação do réu no cumprimento dessa prestação (art. 4º/2-
a) b) CPC).
b) Tutela universal
Na acção executiva promove-se em geral a realização coactiva de uma única
prestação contra um único devedor, e apenas são penhorados e executidos os bens
do executado que seja suficiente para liquidar a dívida exequenda (arts. 828º/5,
833º/1, 836º/2-a CPC). Esta execução singular distingue-se do processo de falência,
que é uma execução universal, tanto porque nela intervêm todos os credores
falidos, como porque nele é atingido, em princípio, todo o património deste
devedor.
a) Exequibilidade intrínseca
Refere-se à obrigação exequenda e às suas características materiais. Essa obrigação
tem de subsistir no momento da execução, pelo que qualquer facto impeditivo,
modificativo ou extintivo que possa ser alegado pelo executado (arts. 813º-e) g) 1ª
parte, 814º e 815º CPC) exclui essa exequibilidade. Alem disso, a obrigação
Octávio Manuel Gomes Alberto
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Direito Processual Civil
b) Exequibilidade extrínseca
É atribuída pela incorporação da pretensão num título executivo, isto é, documento
que formaliza, por disposição na lei. A faculdade de realização coactiva da prestação
não cumprida (art. 45º/1 CPC). O título executivo cumpre no processo executivo
uma função de legitimação: ele determina as pessoas com legitimidade processual
para a acção executiva (arts. 55º/1 e 69º/1 CPC) e, salvo oposição do executado ou
vício do conhecimento oficioso, é suficiente para iniciar e efectivar a execução. A
inexequibilidade extrínseca da pretensão, ou seja, a falta do título executivo,
constitui um dos fundamentos de indeferimento liminar e de rejeição oficiosa da
execução (arts. 811º-A/1-a, 820º CPC) bem como de oposição à execução por
embargos de executado (arts. 813º-a, 814º/1, 815º/1 CPC).
A execução para entrega de coisa certa, além de ser residualmente aplicável, nos
termos descritos, à execução das obrigações em moeda estrangeira, é utilizável para
efectivar o direito à prestação de uma coisa (arts. 827º CC; 928º/1 CPC). A execução
para a prestação de facto serve para a execução de uma prestação de facere (arts.
828º CC; 933º/1 CPC) ou de non facere (arts. 829º CC; 941º CPC).
PROCESSO EXECUTIVO
Sem recurso ao ius imperi do tribunal, o credor não poderia promover a penhora
dos bens do executado e não poderia realizar a venda desses mesmos bens, porque
isso constituiria uma violação de um direito de propriedade constitucional (art.
62º/1 CRP).
PONDERAÇÃO DE INTERESSES
133. Generalidades
Na acção executiva confrontam-se, com particular intensidade os interesses do
exequente e do executado, dado que a efectivação da pretensão do exequente se
verifica à custa do património do executado. Embora a finalidade da acção executiva
exija que os interesses do exequente prevaleçam sobre os do executado,
compreende-se onde o sacrifício imposto a este último não deve exceder o
estritamente indispensável à satisfação da pretensão do exequente e não possa
deixar de considerar as suas necessidades básicas.
Quer dizer: a natural prevalência dos interesses do exequente não dispensa o
respeito dos interesses atendíveis do executado.
EXEQUIBILIDADE EXTRÍNSECA
O título executivo cumpre uma função constitutiva: ele abriu a exequibilidade a uma
pretensão, possibilitando que a correspondente prestação seja realizada através das
Octávio Manuel Gomes Alberto
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Direito Processual Civil
É pelo título executivo que se determinam o fim e os limites da acção executiva (art.
45º/1 CPC). Esta é a sua função delimitadora.
O fim da execução pode consistir no pagamento de uma quantia, na entrega de
uma coisa ou na prestação de um facto, positivo ou negativo (art. 45º/2 CPC). Este
fim determina diferentes medidas coactivas destinadas à satisfação efectiva dos
interesses do credor, pois que elas não podem ser idênticas quando se visa obter o
pagamento de uma quantia, a entrega de uma coisa ou a prestação de um facto.
Os limites objectivos respeitam ao objecto da acção executiva; este objecto deve ser
a pretensão que consta no título executivo, mesmo que ela em si mesmo, não possa
ser executada e a execução deva incidir, após conversão, sobre uma prestação
sucedânea.
O título executivo é um documento: dai que esse título cumpra uma função
probatória. A eficácia probatória do título é aquela que corresponder ao respectivo
documento.
a) Tipicidade
As partes podem atribuir força executiva a um documento ao qual não concede
eficácia do título executivo e também não podem retirar essa força a um documento
que a lei qualifica como título executivo. Isso significa que os títulos executivos são,
sem possibilidade de quaisquer excepções criadas ex voluntate, aqueles que são
indicados como tal pela lei (art. 46º CPC) e que, por isso, a sua enumeração legal
está submetida a uma regra da tipicidade.
b) Suficiência
Sempre que a obrigação que consta do título seja certa, exigível e líquida, isto é
quanto basta, relativamente às características dessa obrigação, para possibilitar a
execução. O título executivo só não é suficiente se a obrigação nele referida não for
certa, exigível e líquida, casos em que a execução se deve iniciar pelas diligências
destinadas a satisfazer esses requisitos (art. 802º CPC).
c) Autonomia
A exequibilidade do título é independente da exequibilidade da pretensão ou, numa
formulação negativa, a inexequibilidade do título é autónoma da inexequibilidade
da pretensão. A inexequibilidade do título executivo (art. 813º-a CPC), decorre do
não preenchimento dos requisitos para que um documento possa desempenhar
essa função específica; a inexequibilidade da pretensão (art. 813º-g, 1ª parte CPC)
baseia-se em qualquer facto impeditivo, modificativo ou extintivo do dever de
prestar.
a) Sentenças condenatórias
139. Delimitação
As sentenças condenatórias que o art. 46º-a CPC qualifica como título executivo são
aquelas que impõem ao réu um dever de cumprimento de uma prestação. Este
comando corresponde ao pedido formulado numa acção condenatória (art. 4º/2
CPC), mas às sentenças condenatórias são equiparadas quanto à sua força executiva,
os despachos e quaisquer outras decisões ou actos de autoridade judicial que
condenem no cumprimento de uma obrigação.
140. Requisitos
As sentenças provenientes de tribunais estaduais não levantam qualquer problema
quanto à determinação da sua nacionalidade: são sentenças portuguesas, aquelas
que são proferidas por um tribunal português/são-tomense, ou seja, por um
tribunal pertencente à jurisdição portuguesa/são-tomense.
As sentenças nacionais – estaduais ou arbitrais – são automaticamente exequíveis,
isto é, não necessitam de qualquer certificação de, que são título executivo, nem da
aposição de qualquer formula executória.
As sentenças estrangeiras, só podem servir de base à execução depois de revistas e
confirmadas (art. 49º/1 CPC) ou após a obtenção do exequatur [4].
Estabelece-se assim um controlo prévio da exequibilidade das sentenças
estrangeiras, o que se compreende atendendo a que a atribuição de exequibilidade
a uma decisão constitui, em princípio, uma reserva de competência de cada Estado.
677º CPC). Esta exequibilidade visa proteger os interesses do credor (que não tem
de aguardar pelo trânsito em julgado da decisão para iniciar a execução) e pretende
evitar a interposição de um recurso pelo demandado com a única finalidade de
obviar à execução da decisão que o condenou a cumprir uma obrigação.
b) Documentos negociais
Os documentos exarados por notário (art. 46º-b CPC) são documentos definidos no
art. 35º/2 CN, e aí designados por documentos “autênticos”, ou seja, “os
documentos exarados pelo notário nos respectivos livros, ou em instrumentos
avulsos, e os certificados, certidões e outros documentos análogos por ele
expedidos”. Por seu turno, os documentos autenticados (art. 46º-b CPC), são os
documentos particulares confirmados pelas partes perante o notário (art. 35º/1 e 3
Código do Notariado (CN)), excluídos, portanto, os que tenham simples
reconhecimento notarial de letra assinatura ou só assinatura. Os documentos
autênticos ou autenticados apenas são título executivo quando importem a
constituição ou contenham o reconhecimento de uma obrigação (art. 46º-b CPC).
EXEQUIBILIDADE INTRÍNSECA
Exigibilidade da obrigação
146. Noção
A exigibilidade da obrigação tem um sentido específico na acção executiva, algo
distinto daquele que tem no plano substantivo. A obrigação exigível é aquela que
está vencida ou que se vence com a citação do executado e em relação à qual o
credor não se encontra em mora na aceitação da prestação ou quanto à realização
de uma contraprestação. Assim, o vencimento da obrigação é sempre indispensável
à sua exigibilidade, mas esta pode precisar de algo mais do que esse vencimento.
Certeza da obrigação
149. Noção
A obrigação exequenda é certa, quando a respectiva prestação se encontra
determinada ou individualizada.
Do título executivo deve constar uma obrigação de prestar determinada ou, pelo
menos, determinável através dos elementos por ele fornecidos. A impossibilidade
de determinar o conteúdo da prestação exequenda, porque ela é referida na
decisão judicial ou no documento negocial de forma que não é possível concretizar
o seu objectivo, invalida o eventual negócio (art. 280º/1 CC) e impede qualquer
execução.
Liquidez da obrigação
150. Noção
As obrigações ilíquidas são aquelas cuja quantidade não está determinada. A
iliquidez recai, normalmente, sobre obrigações pecuniárias (como por exemplo, a
indemnização devida por um facto ilícito), mas também pode referir-se a uma
prestação de dare (como por exemplo, a entrega de uma quantidade, ainda
indeterminada de cereal).
Competência do Tribunal
a) Competência material
A competência material determina se a acção executiva pode ser instaurada num
tribunal comum (ou civil). Em caso afirmativo, pode ainda ser necessário aferir qual
o tribunal de competência especializada que é competente.
Quanto à competência material para a execução das decisões dos Tribunais
Comuns, a regra é a coincidência entre a competência para a acção declarativa e a
executiva. Assim, quando a competência para a acção declarativa coube a um
Tribunal de 1ª Instância de competência especializada, esse mesmo tribunal é
competente para a execução das respectivas decisões; o mesmo vale para os
tribunais de competência genérica de competência específica.
b) Competência hierárquica
Apenas os Tribunais de 1ª Instância possuem competência executiva em função da
hierarquia, isto é, nenhum Tribunal superior tem competência para promover
qualquer execução. Assim, para as execuções baseadas nas decisões proferidas por
esses Tribunais nos recursos para que eles são interpostos (arts. 71º/1; 72º/1 CPC)
são competentes os Tribunais onde a causa foi julgada em 1ª Instância (art. 90º/1
CPC).
executiva por estes Tribunais depende, antes do mais, do título executivo que for
utilizado pelo exequente.
Se o título executivo for uma sentença estrangeira que recebeu o exequatur dos
Tribunais portugueses – seja quando o direito português (arts. 1094º a 1102º CPC)
seja quando o regime das Convenções de Bruxelas e de Lugano (arts. 31º a 45º) –, a
competência executiva em razão do valor determina-se nos termos gerais (art. 95º
CPC). Isso implica o recurso à competência residual em função do valor, que
pertence ao Tribunal Singular, isto é, ao Tribunal de Comarca.
Em São Tomé e Príncipe, a Lei Base do sistema Judiciário, faz a divisão judicial
e determina a competência dos tribunais.
Além disso, os juízos cíveis têm, como Tribunais de competência específica residual,
a mesma competência dos Tribunais de Comarca (art. 74º Lei 3/99). Portanto, são da
competência dos juízos cíveis as execuções que não pertencem às varas cíveis, nem
aos Tribunais de pequena instância.
e) Competência territorial
A aferição da competência territorial depende do título executivo que for utilizado
pelo exequente. Para a determinação daquela competência importa distinguir, antes
do mais consoante o título seja uma sentença condenatória ou qualquer outro
título. Quanto às decisões condenatórias, há ainda que diferenciar consoante se
trate de sentenças nacionais ou estrangeiras.
O “interesse sério” a que se refere o art. 99º/3-c CPC, deve ser entendido em termos
semelhantes ao “interesse digno de protecção legal” no art. 398º/2 CC, ou seja,
como interesse atendível, embora sem conteúdo económico, que não corresponda a
um mero capricho ou seja estranho ao direito, nem atinja a equidade, a boa-fé
contratual ou os bons costumes.
a) Incompetência absoluta
A incompetência absoluta resulta da violação das regras da competência material,
hierárquica e internacional legal (art. 101º CPC).
Essa incompetência é uma excepção dilatória (arts. 493º/2; 494º-a CPC) de
conhecimento oficioso (arts. 102º/1; 495º CPC) mas insusceptível de sanação, o que
Octávio Manuel Gomes Alberto
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Direito Processual Civil
b) Incompetência relativa
A incompetência relativa decorre da violação da competência que é aferida pelo
valor da causa, pela forma do processo aplicável ou pela divisão judicial do
território, bem como da violação da competência convencional (art. 108º CPC).
Quanto à sua apreciação, importa distinguir os acasos em que a incompetência
relativa é de conhecimento oficioso daqueles em que isso não é admissível.
158. Generalidades
A acção executiva visa a realização coactiva de uma prestação. Nela não se procura
uma decisão sobre um direito controvertido, mas a efectivação de uma prestação
que está documentada num título executivo (arts. 4º/3 e 45º/1 CPC).
Se, pertencendo a escolha ao devedor, ele não a tiver feito, a respectiva declaração
de escolha antes do começo da execução, deve o credor, no próprio processo
executivo, requerer a notificação do executado para escolher a prestação, pedindo
ao mesmo tempo que se fixe prazo para a resposta (art. 543º/2 CPC); se o não fizer
tempestivamente, a execução prossegue quanto à prestação que o credor escolher
(arts. 803º/2 CPC; 548º CC).
O executado citado pode opor-se à execução através de embargos (art. 812º CPC),
que devem ser deduzidos no prazo de 20 dias a contar da sua citação (art. 816º/1
CPC). Estes embargos têm fundamentos diversos consoante o título executivo que
seja utilizado pelo exequente (arts. 813º a 815º CPC) e são um processo declarativo
incidental que corre por apenso à própria execução (art. 817º/1 CPC). Este regime
demonstra que a acção executiva não comporta qualquer articulado de resposta do
executado e que a eventual oposição desta parte não se insere na tramitação
normal daquela acção.
O executado pode-se opor à penhora (art. 863º-A CPC). Também se pode opor a ela
qualquer terceiro que seja titular de um direito incompatível com esse acto: esta
oposição pode ser realizada através de embargos de terceiro (art. 351º/1 CPC) ou de
uma acção de reivindicação dos bens penhorados (arts. 1311º/1 e 1315º CC).
A penhora atribui ao exequente uma preferência no pagamento em relação aos
credores que não tenham garantia real anterior sobre os bens penhorados (art.
822/1 CC).
164. Execução ordinária para entrega de coisa certa (arts. 928º segs. CPC)
À execução ordinária para a entrega de coisa certa são supletivamente aplicáveis, na
parte em que o puderem ser, as disposições relativas à execução para pagamento
(art. 466º/2 CPC).
Quando a prestação devida consiste na entrega de uma coisa, o credor tem a
faculdade de requerer através da respectiva acção executiva, a sua entrega judicial
(art. 827º CC). O objecto desta execução específica é, assim, a entrega da coisa [8]
ao titular do ius possidendi sobre ela.
deduzidos no prazo de 20 dias a contar da citação (arts. 816º/1, 466º/2 CPC e, além
dos fundamentos gerais (arts. 813º a 815º CPC), podem basear-se no direito ao
pagamento das benfeitorias realizadas na coisa (art. 929º/2 CPC).
A execução convertida inicia-se com a liquidação do montante que deve ser pago
pelo executado, que, sempre que o exequente tenha a direito à própria coisa
corresponde ao valor desta e ao prejuízo proveniente da falta de entrega (art.
931º/1 CPC). A esta liquidação aplicam-se as regras gerais sobre a matéria (art.
931º/1; arts. 805º a 809º CPC) embora, dado que o executado já foi citado para a
execução (art. 928º/1-m CPC) a citação desta parte para a contestação do incidente
seja substituída por uma notificação (art. 931º/1 CPC).
Depois de realizada a liquidação, procede-se, por nomeação do exequente, à
penhora dos bens necessários para o pagamento da quantia apurada (arts. 931º/2;
863º-A; 351º CPC; arts. 1311º e 1315º CC).
466º/3 CPC).
Se a execução sumária para entrega de coisa certa se converte numa execução para
pagamento (art. 931º/1 CPC), deve-se-lhe aplicar, na medida do possível, o regime
da execução sumária para pagamento (arts. 926º/2 e 3; 466º/2; 47º/1 CPC).
167. Execução ordinária para a prestação de facto (art. 933º segs. CPC)
A execução ordinária para a prestação de facto é supletivamente regulada pelas
disposições respeitantes à execução para pagamento de quantia certa (art. 466º/2
CPC).
EMBARGOS DO EXECUTADO
169. Generalidades
Os embargos de executado são o meio de oposição à execução (arts. 812º; 926º/1;
929º/1; 933º/2; 940º/2 e 941º/2 CPC). Estes embargos são um processo declarativo
instaurado pelo executado (ou executados) contra o exequente (exequentes), que
corre por apenso à execução (art. 817º/1 CPC), e que constitui um incidente desta.
Isto significa que a acção executiva não comporta, na sua própria tramitação,
qualquer articulado de resposta ao requerimento inicial do exequente, o que é uma
consequência da sua função: a realização coactiva da prestação exequenda e não a
discussão sobre o dever de a prestar.
A obrigação só pode ser objecto de execução se for certa, exigível e líquida (art.
802º CPC). Por esta razão, a incerteza, a inexequibilidade ou a iliquidez da obrigação
exequenda, quando não supridas na fase introdutória (arts. 803º a 810º CPC),
constituem fundamentos de oposição à execução (art. 813º-e CPC).
É por isso “que o facto extintivo ou modificativo que ocorrer antes do encerramento
da discussão, mas que o réu não teve conhecimento dele ou não dispôs do
documento necessário para o provar”, não pode servir de fundamento de oposição
Dedução e efeitos
175. Valor dos embargos
Os embargos de executado têm um valor próprio, correspondente à sua utilidade
económica (art. 305º/1 CPC). Esta coincide com o valor da execução ou, se os
embargos não abrangem na totalidade, com o valor da parte a que eles se referem.
Toda a causa tem dois valores: um fixado nos termos do Código de Processo Civil,
relevante para os efeitos no disposto no art. 305º/2 CPC, e quanto à intervenção do
colectivo; outro, fixado segundo os preceitos do Código das Custas Judiciais (art. 5º
segs.) para efeitos de custas e demais encargos.
Se a execução tiver sido instaurada por vários exequentes, os embargos devem ser
deduzidos contra todos eles sempre que o fundamento invocado pelo embargante
seja comum a todas essas partes, ou seja, que entre os embargados se deva verificar
um litisconsórcio unitário.
Se os embargos forem deduzidos depois da reclamação de créditos (art. 864º/1-b)
c) d) CPC) também devem ser demandados os credores reclamantes.
Nos embargos deduzidos na execução para entrega de coisa certa pode ser
necessária a participação do cônjuge do embargante ou do embargado: para tal
basta que essas partes não possam dispor sozinhas da coisa a entregar (arts. 1682º
e 1682º-A CC) e, por isso, não possam discutir, sem a participação do seu cônjuge, o
dever de entrega. Nesta situação, o embargante deve prometer, no momento da
dedução dos embargos, a intervenção do seu cônjuge ou do cônjuge do
embargado (art. 320º-a CPC).
mesmo vale para as execuções sumárias para a entrega de coisa (arts. 928º/2 e
926º/1 CPC) e para a prestação de facto (arts. 466º/2 e 926º/1 CPC).
Ainda que a execução tenha sido suspensa pela prestação de caução pelo
embargante (art. 818º/1 CPC), ela prossegue se o processo de embargos estiver
parado durante mais de 30 dias, por negligência deste em promover os seus termos
(art. 818º/5 CPC). Trata-se de evitar que o embargante possa prolongar
indefinidamente a suspensão da execução, pelo que, apesar de o preceito se referir
apenas à suspensão decorrente da prestação de caução, o mesmo deve valer para a
suspensão decretada pelo juiz com base na impugnação da genuinidade da
assinatura que consta do título executivo (art. 818º/2 CPC).
Em regra, os credores têm o direito de ser pagos proporcionalmente pelo preço dos
bens, casos estes, não cheguem para integral satisfação de todos os débitos (art.
604º/1 CC).
i) Bens imóveis
São coisas imóveis, entre outras, os prédios rústicos e urbanos (art. 204º/1 -a/2 CC)
e as respectivas partes integrantes (art. 204º/1-e/3 CC), bem como os direitos
inerentes àqueles prédios (art. 204º/1-d CC).
Desde que não sejam expressamente excluídas e nenhum privilégio exista sobre
elas, a penhora de um prédio abrange as respectivas partes integrantes (art. 842º/1
CPC), ou seja, as coisas móveis ligadas materialmente a ele com carácter de
permanência (art. 204º/3 CC).
O mesmo não pode ser dito das coisas acessórias (ou pertenças: art. 210º/1 CC) do
imóvel penhorado, porque, salvo declaração em contrário, os negócios jurídicos que
tem por objecto a coisa principal não abrangem as coisas acessórias (art. 210º/2 CC).
Desde que não sejam expressamente excluídos e não exista sobre eles qualquer
garantia, vale, quanto à extensão da penhora, o mesmo regime para os frutos do
prédio (art. 842º/1 CPC).
iii) Direitos
A penhora de direitos (arts. 856º a 863º CPC) abrange igualmente, em regra os
res-pectivos frutos civis (arts. 863º e 842º/1 CPC).
iv) Redução
Quando a penhora tenha recaído sobre um imóvel divisível e o seu valor exceda
ma-nifestamente o da dívida exequenda e dos créditos reclamados pelos credores
com ga-rantia real sobre o prédio (arts. 864º/l-b; 865º/1 CPC), o executado pode
requerer autorização para proceder ao seu fraccionamento (art. 842º-A/1 CPC) se a
autorização for concedida, a penhora mantém-se sobre todo o prédio, excepto se, a
requerimento do executado e depois de ouvido, o exequente e os credores
reclamantes, o juiz autorizar o levantamento da penhora sobre algum dos imóveis
resultantes da divisão, com funda-mento na manifesta suficiência do valor dos
restantes para a satisfação dos créditos (art. 842º-A/2 CPC).
v) Convolação
A convolação da penhora verifica-se quando ela incide sobre um objecto que
substi-tui o seu objecto inicial. Assim, se a coisa penhorada se perder, for
expropriada ou sofrer diminuição do valor e houver lugar a indemnização de
terceiro, o exequente conser-va sobre os créditos respectivos ou as quantias pagas a
título de indemnização o direito que tinha sobre a coisa (art. 823º CC). A penhora
convola-se numa penhora sobre esses créditos ou sobre aquelas garantias.
A penhora também convola o móvel sobre o qual incidia, foi antecipadamente
vendido (art. 851º CPC): a penhora transfere-se para o quantitativo obtido com essa
venda.
A penhora rege-se pelo princípio da proporcionalidade, pelo que não devem ser
pe-nhorados mais bens do que aqueles que forem suficientes para a satisfação do
exequente (arts. 828º/5; 833º/1; 836º/2-a; 842º-A CPC). A nomeação excessiva dos
bens pelo exequente implica a falta do interesse processual desta parte, dado que
ela utiliza um meio desproporcionado para obter a tutela dos seus interesses.
Limites objectivos
O património também é constituído por direitos sobre bens materiais, quando eles
possam participar no comércio jurídico.
Dado que, em regra, os bens penhorados se destinariam a ser vendidos (art., 889º/1
CPC), não podem ser penhorados bens que estejam fora do comércio (art. 202º/2
CC).
Certos bens ou direitos só podem ser alienados ou onerados pelo seu titular com o
consentimento de terceiros. É o que sucede em relação a certos bens próprios de
um dos cônjuges (art. 1682º-A CC).
No caso dos bens próprios do cônjuge executado que só podem ser alienados com
o consentimento de outro cônjuge, a solução é a seguinte: nada impede a penhora
do bem próprio do cônjuge executado (art. 1696º/1 CC), mas o seu cônjuge deve
ser citado para a execução (art. 864º/1-a, 1ª parte CPC).
Também a disposição de certos direitos respeitantes a participações sociais requer o
consentimento de terceiros, nomeadamente da própria sociedade (art. 995º CC; arts.
182º/1; 496º/1 CSC).
Determinados direitos são inseparáveis de outros direitos e, por isso, não têm
autonomia perante estes. Consequentemente, eles só podem ser alienados (e
portanto, pe-nhorados) em conjunto com estes últimos direitos.
A cessão não impe-de que os bens cedidos sejam executados pelos credores que
dela não participaram, enquanto aqueles não tiverem sido alienados pelos credores
cessionários (art. 833º, 1ª par-te CC).
a) Impenhorabilidade absoluta: são impenhoráveis os bens cuja apreensão
careça de justificação económica, dado o seu diminuto valor venal (art. 822º-
c CPC);
b) Penhorabilidade relativa: é aquela que só é admitida em certas circunstâncias.
Note-se que o regime definido no art. 825º CC, não é aplicável quando, como é
permitido no disposto no art. 1696º/1 CC, o exequente nomeia à penhora a meação
dos bens comuns, porque ela é um bem próprio do cônjuge executado. A penhora
incide, nesse caso, sobre um direito a bens indivisos (art. 862º/1 CPC), cujo titular é
o cônjuge executado.
Dívidas comuns
Se a divida for comum e se ambos os cônjuges tiverem sido demandados na acção
executiva por existir título executivo contra ambos (art. 55º/1 CPC), a penhora
acompa-nha, o regime estabelecido para a responsabilidade patrimonial. Assim,
pela divida comum, respondem, em primeira linha, os bens comuns do casal e, na
insuficiência deles, os bens próprios de qualquer dos cônjuges (art. 1695º/1 CC)
nos seus direi-tos ou interesses sem que seja demandado nessa acção, pois que a
presença na execução é sempre uma condição de penhorabilidade do respectivo
património.
a) Penhorabilidade irrestrita
Se a divida exequenda estiver assegurada por bens de um terceiro onerado com
uma garantia real, aquele pode ser demandado na acção executiva (art. 56º/2 CPC).
A demanda do terceiro permite a penhora, sem quaisquer restrições, desses
mesmos bens.
A impugnação pauliana pode recair sobre quaisquer actos praticados pelo devedor,
desde que não tenham carácter pessoal.
A procedência da acção pauliana depende da verificação das condições
estabelecidas nos arts. 610º e 612º/1 CC.
b) Penhorabilidade subsidiária
Pode ser objectiva ou subjectiva: é objectiva quando se verifica entre bens ou
direi-tos do mesmo sujeito; é subjectiva quando se verifica entre bens ou direitos
pertencentes a sujeitos distintos.
b) Bens passados: a penhora pode incidir sobre bens que, embora já tivessem
deixa-do de pertencer ao património do devedor, respondem pela divida: é a
caso por ex., do imóvel hipotecado que o devedor transmitiu a um terceiro;
este adquirente pode ser demandado na acção executiva (art. 56º/2 CPC) e o
imóvel pode se penhorado nela.
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Direito Processual Civil
FUNÇÃO DA PENHORA
Função individualizadora
191. Generalidades
A penhora não incide globalmente sobre bens ou direitos do executado, mas sobre
bens ou direitos determinados desta parte a nomeação de bens à penhora pelo
executa-do ou exequente deve incidir sobre certos bens ou direitos (art. 833º/1
CPC), não podendo recair indistintamente sobre o património do devedor ou de
uma fracção deste. Isto significa que a penhora se destina a individualizar os bens
ou direitos que vão res-ponder pelo pagamento da dívida.
O direito do exequente a nomear bens à penhora não está sujeito a qualquer prazo
(art. 874º/1 CPC), mas ele não deve demorar mais de seis meses a requerer essa
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Direito Processual Civil
b) Arresto
É o meio conservatório da garantia patrimonial do credor (art. 619º/1 CC; art. 406º
CPC), que só através da sua conversão em penhora (art. 846º CPC) atribui ao
exequente o direito de preferência sobre os outros credores do arresto (arts. 622º/2,
82º CC). Isso não impede, todavia, a aplicação dos bens arrestados do disposto do
art. 835º CPC, que ao referir-se à garantia real, está realmente a aludir a qualquer
situação que pode atribuir uma preferência do credor exequente sobre o produto
da venda dos bens.
pois que só nessa hipótese aquela admissibilidade não colide com o regime da
excepção de litispendência (arts. 497º 498º, e 494º-i CPC).
Função conservatória
196. Generalidades
Além de determinar os bens ou direitos que correspondem pelo cumprimento da
obrigação, a penhora também realiza uma função conservatória. Como esses bens
ou direitos se destinam a ser vendidos ou adjudicados ou a ser exercidos ou
cumpridos a favor da execução, a penhora deve assegurar a sua subsistência até
essa venda, adjudi-cação, exercício ou cumprimento: é nisto que consiste a função
conservatória.
2) Créditos
Relativamente aos créditos penhorados, não pode haver qualquer acto de
apreensão, mas logo que a divida se vença, o terceiro devedor é obrigado a
depositar a respectiva importância na conta do Tribunal (Caixa Geral de Depósitos,
até a Independência) (art. 860º/1 CPC) ou, se o crédito já estiver vencido ou
adjudicado, a realizar a prestação ao respectivo adquirente (art. 860º/2 CPC).
Função de garantia
A penhora não é um direito real de garantia, mas é fonte de uma preferência sobre
o produto da venda dos bens penhorados, dado que o exequente adquire por ela o
direito de ser pago com preferência a qualquer outro credor que não tenha garantia
real anterior (art. 822º/1 CC).
O art. 822º/1 CC, utiliza, na hierarquização dos vários credores concorrentes, um
princípio da prioridade ou da preferência: a penhora prevalece quer sobre as
garantias reais posteriores, quer sobre a segunda penhora.
Se a penhora deve ser registada, a sua eficácia em relação a terceiros coincide com a
data desse registo (arts. 838º/4, 1ª parte, 855º e 863º CPC). Assim, a penhora
registada prevalece sobre as garantias reais com registo posterior e é considerada
como segunda penhora aquela que for registada depois da primeira (art. 871º/1 fine
CPC).
EFECTIVAÇÃO DA PENHORA
Penhora de bens
201. Generalidades
A lei distingue entre a penhora de bens imóveis (arts. 838º a 847º CPC), de bens
móveis (arts. 848º a 855º CPC) e de direitos (arts. 856º a 863º CPC). Pretende-se
definir não tanto o objecto da penhora, como o modo da sua efectivação, ou seja, o
procedi-mento subsequente à nomeação dos bens ou direitos.
A penhora de bens imóveis deve ser registada (art. 838º/4, 1ª parte CPC). Ao
processo deve ser junto o certificado de registo e a certidão dos ónus que incidam
sobre os bens abrangidos pela penhora (art. 838º/4, 2ª parte CPC). Esta junção
destina-se a citação dos credores com garantia real sobre os bens penhorados (art.
864º/1-b CPC), para que estes possam reclamar o respectivo crédito na execução
(art. 865º/1 CPC).
Penhora de direitos
A penhora do crédito abrange os juros vencidos depois da penhora, desde que não
sejam expressamente excluídos e sobre eles não recai qualquer garantia (art. 842º/1.
aplicável ex vi do art. 863º CPC).
O terceiro devedor não se pode opor à penhora invocando a sua ilegalidade, isto é,
alegando por ex., que se encontram excedidos os 2/3 do salário do executado (art.
824º/1-a CPC).
IMPUGNAÇÃO DA PENHORA
206. Generalidades
Se a penhora excede as seus limites objectivos — isto é, se incidir sobre bens ou
direitos que, embora pertencentes ao executado, não deviam responder pela divida
— os possíveis meios de reacção contra essa penhora ilegal são a impugnação do
a) Agravo
O recurso ordinário é o meio geral de impugnação de qualquer decisão judicial (art.
678º/1 CPC). O despacho que ordena a penhora pode ser impugnado mediante
agravo em primeira instância (art. 733º CPC), dado que, como não pode ser
considerado uma decisão sobre o mérito, dele não pode apelar-se (art. 691º/1 CPC).
b) Reclamação
A violação dos limites objectivos da penhora pode recorrer do não conhecimento
pelo tribunal de uma questão relevante para aferir a penhorabilidade do bem ou do
direito. Esta omissão de pronúncia determina a nulidade do despacho ordenatório
(arts. 668º/1-d, 1ª parte, 666º/3 CC). Se esta decisão não admitir recurso
ordenatório, aquela nulidade pode ser invocada através da reclamação apresentada
perante o tribunal de execução (arts. 668º/3 e 666º/3 CPC), caso em que este
tribunal pode suprir a nulidade invocada (arts. 668º/4 e 666º/3 CPC).
A legitimidade para reclamar deve ser aferida pelo disposto no art. 680º/1 CPC, a
que significa que só pode reclamar quem tiver ficado vencido pela decisão.
CPC). O incidente só pode ser deduzido se nele puderem ser suscitadas questões
que não hajam sido expressamente apreciadas e decididas no despacho que
ordenou a penhora (art. 863º-A CPC). Se a executado pretender discutir questões
julgadas naquele despacho, deve interpor — quando admissível — o respectivo
recurso de agravo (art. 733º CPC).
Fundamento desta oposição pode ser quer, por interpretação extensiva do art.
836º/1-a CPC, a nomeação pelo executado de bens impenhoráveis, quer segundo o
estabelecido no art. 836º/1-h CPC, o desrespeito do gradus executionis pelo
executado.
Aplicam-se as regras constantes nos arts. 303º e 304º CPC.
210. Generalidades
Os limites subjectivos da penhora são violados se forem penhoradas bens ou
direitos que não são do executado. Os meios de oposição à penhora
subjectivamente ilegal são o protesto imediato, a impugnação do despacho
ordenatório da penhora, os embargos de terceiro e a acção de reivindicação.
Assim, em termos analíticos, esses embargos podem ser deduzidos com um dos
seguintes fundamentos:
a) Posse de um terceiro sobre os bens penhorados, ainda que ela não exclua a
propriedade do executado sobre eles;
b) O direito de um terceiro sobre os bens penhorados que é incompatível com o
direito do executado em que se baseia a penhora.
A legitimidade activa afere-se nos termos gerais (art. 26º/1 CPC), incluindo as
possíveis situações de substituição processual (art. 1405º/2 CC). Deve ser proposta
contra o exequente e o executado: trata-se de litisconsórcio necessário natural (art.
28º/2 CPC).
O cônjuge que é citado para requerer a separação de bens não se torna parte na
execução pendente. Ele é citado apenas para requerer, em processo autónomo, a
separação de bens (art. 825º/1 CPC), sob pena de a execução continuar sobre os
bens penhoradas (art. 825º/2 in fine CPC).
a) Dispensa sistemática
Quando o credor exequente obtém a satisfação do seu crédito sem necessidade de
se proceder à venda dos bens penhorados, a intervenção dos credores com
garantias reais, não é necessária.
Octávio Manuel Gomes Alberto
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Direito Processual Civil
São três as situações nas quais o exequente pode obter a satisfação do seu crédito
sem recorrer à venda dos bens penhorados:
Quando tenha sido penhorada uma quantia em dinheiro ou em crédito que já
tenha sitia paga pelo terceiro devedor, arts. 872º/1 e 874º CPC;
Quando a penhora recaia sobre bens imóveis, ou móveis sujeitos a registo ou
sobre títulos de crédito nominativos e o exequente requeira a consignação
dos rendimentos daqueles bens, arts. 879º/1, 881º/4, 873º/1, 2ª parte CPC;
Quando o exequente e o executado tenham acordado, antes da convocação
dos credores, no pagamento em prestações da divida exequenda e, por isso,
te-nham provocado a suspensão da instância executiva antes daquela
citação, art. 882º CPC.
b) Dispensa legal
O art. 20/1 DL 274/97, exclui a reclamação de créditos nas execuções cujo valor não
exceda a alçada do tribunal de 1ª Instância em que a penhora recaia sobre bens
imóveis ou direitos que não tenham sido dotados de penhor, com excepção do
estabelecimento comercial.
c) Dispensa judicial
O juiz da execução pode dispensar a convocação dos credores quando a penhora
in-cida apenas sobre vencimentos, abonos ou pensões ou quando, tendo sido
penhorados bens imóveis não sujeitos a registo e de reduzido valor, não conste dos
autos que sobre eles incidam direitos reais de garantia (art. 864º-A/1 CPC).
A justificação da dispensa da reclamação de créditos é distinta em cada um destes
casos.
SATISFAÇÃO DO CRÉDITO
222. Generalidades
A satisfação do crédito do exequente pode ser feito pela entrega de dinheiro, pela
adjudicação de bens penhorados, pela consignação dos seus rendimentos ou pelo
produto da respectiva venda (art. 872º/1 CPC); admite-se ainda o pagamento em
prestações da divida exequenda (art. 872º/2 CPC). Os créditos reclamados podem
ser satisfeitos pela entrega de dinheiro, a consignação de rendimentos e o
pagamento em prestações dispensam a venda executiva dos bens penhoradas, ou
seja, são obtidos sem a alienação desses bens.
Em relação aos imóveis devem, em princípio ser graduados pela seguinte ordem:
a) Créditos por despesas de justiça feitas no interesse comum dos credores
(arts. 743º e 746º CC);
b) Créditos pela SISA e imposto sobre sucessões e doações (arts. 744º/2, 748º-a
CC), bem como pelo IRS e IRC;
c) Créditos pela contribuição predial (arts. 744º/1 e 748º CC);
d) Créditos por contribuições do regime geral de previdência, quando os
imóveis penhorados existirem no património do executado à data da
instauração do processo executivo.
e) Créditos garantidos por consignação de rendimentos, preferindo o do registo
mais antigo (arts. 656º e 751º CC).
f) Crédito exequendo ou outros apenas garantidos pela penhora (art. 822º CC).
227. Generalidades
Quando a pagamento do credor exequente ou dos credores reclamantes não puder
ser conseguido através da entrega de dinheiro, ou através da consignação de
rendimen-tos ou do pagamento a prestações, há que proceder há venda dos bens
penhorados. Esta alienação permite que o exequente ou qualquer credor graduado
obtenha a satisfação do seu crédito através do produto da venda desses bens ou da
adjudicação deles (art. 872º/1 CPC).
Das decisões sobre a fixação do valor dos bens a vender nunca cabe recurso (art.
886º-A/5 CPC). Trata-se de uma hipótese de exclusão legal da recorribilidade.
Octávio Manuel Gomes Alberto
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Direito Processual Civil
a) Adjudicação solutória
O adjudicatário que não tem credores graduados antes dele pode receber os bens
em pagamento do seu crédito e não tem que pagar à execução o preço oferecido,
dado que nenhum credor tem de ser pago pelo produto dessa aquisição. Neste
caso, a adjudicação produz um efeito translativo da propriedade do bem e um
correlativo efeito extensivo do crédito do adjudicatário. Esta adjudicação aproxima-
se assim, de uma dação em cumprimento (art. 837º CC) e pode ser designada por
adjudicação solutória.
b) Adjudicação aquisitiva
O adjudicatário que não tem credores graduados antes dele só pode receber os
bens se pagar o seu preço, dado que esta quantia é necessária para proceder ao
pagamento daqueles credores. Nesta hipótese, a adjudicação também produz o
efeito translativo da propriedade dos bens adquiridos, mas o adjudicatário fica
devedor do preço desses bens.
Segundo o art. 824º/2 CC, os bens alienados através da venda executiva são
transmitidos livres dos direitos de garantia que os oneram, bem como os demais
direitos reais que não tenham registo anterior ao do qualquer arresto, penhora ou
garantia, com Excepção dos que, constituídos em data anterior, produzam efeitos
em relação a terceiros independentemente do registo.
a) Invalidade substancial
A formação da vontade do adquirente na venda executiva pode ser afectada por
coacção moral (art. 255º CC) ou por erro sobre os motivos (art. 252º/1 CC) ou sobre
o objecto (art. 251º CC e art. 908º CPC).
Não é devida a indemnização atribuída pelo art. 908º/ 1 CPC, ao comprador quando
a venda foi anulada oficiosamente pelo tribunal com fundamento em nulidade
processual.
b) Invalidade formal
A venda executiva é inválida quando for anulada ou revogada a sentença que serviu
de título executivo ou forem julgados procedentes os embargos de execução, salvo
se, sondo parcial a revogação ou a procedência, a subsistência da venda for
compatível com a decisão tomada (art. 909º/1-a CPC).
A venda executiva também é inválida se for anulado o acto da venda, seja pela
prática de um acto que a lei não admite, seja pela omissão de um acto ou de uma
formalidade imposta por lei (art. 909º/1-c CPC).
Finalmente, a venda executiva é inválida, quando toda a execução for anulada por
falta ou nulidade da citação do executado, desde que ele tenha permanecido revel,
salvo se, a partir da venda tiver decorrido o tempo necessário para a usucapião a
favor do adquirente (arts. 909º/1-b; 921º/3 CPC). Esta invalidade da venda é uma
consequência da regra segundo a qual, quando a um acto processual for anulado,
são igualmente anulados os termos subsequentes que dele dependam
absolutamente (art. 201º/2, 1ª parte CPC).
237. Suspensão
A instância executiva suspende-se através de algumas das causas gerais de
suspensão da instância. É o caso do falecimento ou extinção de alguma das partes
(arts. 276º, 277º e 284º/1-a CPC) e do falecimento do mandatário judicial numa
execução em que o patrocínio seja obrigatório (arts. 276º/1-b, 278º e 284º/1-b
CPC).
238. Interrupção
A instância executiva interrompe-se quando o processo estiver parado durante mais
de um ano por negligência das partes em promover os seus termos ou os de algum
incidente do qual dependa o seu andamento (art. 285º CPC).
239. Anulação
Se a execução correr à revelia do executado — isto é, se o executado não praticar
qualquer acto na execução — e esta parte não estiver sido citada quando o deva
ser, ou houver fundamento para declarar nula a sua citação (arts. 195º, 197º e 198º
CPC), pode o executado requer a todo o tempo, no processo de execução, que seja
anulada (art. 921º/1 CPC).
O mesmo regime deve valer nos casos em que a executado, em vez de ser citado,
deve ser notificado (art. 926º/1 e 4 CPC).
240. Extinção
A instância executiva extingue-se com a extinção da obrigação exequenda por
remissão da execução, por pagamento coercivo ou por causa extintiva (art. 919º/1
CPC). Enquanto não se verificar o pagamento integral do crédito exequendo, a
execução não pode ser julgada extinta e o exequente pode nomear novos bens à
penhora (art. 836º/2-a CPC).
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