Centro de Humanidades
Departamento de Ciências Sociais
Programa de Pós-Graduação em Sociologia
Linha de pesquisa: Processos de Trabalhos, Estado e Transformações Capitalistas
Fortaleza – Ceará
2007
Universidade Federal do Ceará - UFC
Fortaleza - Ceará
2007
SUMÁRIO
PROBLEMATIZAÇÃO 01
JUSTIFICATIVA 02
OBJETIVO GERAL 03
OBJETIVOS ESPECÍFICOS 03
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 04
CRONOGRAMA DE ATIVIDADES 08
BIBLIOGRAFIA 08
1) PROBLEMATIZAÇÃO
Todos os dias, num expediente que se inicia ainda na madrugada, homens, mulheres e
crianças lançam-se às ruas de Fortaleza a fim de encontrar no lixo seu sustento. Caminham por
horas, percorrendo ruas e avenidas, disputando espaço com os veículos que circulam nas vias.
Quando cansados deitam sobre as carroças cheias de papelão, jornais, plástico e outros tipos de
materiais recicláveis que serão vendidos. As refeições são feitas em qualquer lugar e, em muitos
casos, o “cardápio” é composto pelos restos de comida encontrados nos lixos domiciliares revirados
pelo caminho. Verdadeiros andarilhos(as) que percorrem quilômetros puxando suas carroças
fabricadas muitas vezes em sucatas, despendendo um extraordinário esforço para arrastar pela
cidade esses carros (que não raro superam o peso de 150 kg) carregados de materiais que foram
recolhidos para serem comercializados. O valor pago pelo material recolhido aos catadores é
irrisório, servindo apenas para reproduzir a sua força de trabalho, mantendo estes indivíduos no
limiar da sobrevivência. O material recolhido segue seu rumo, passando pelos depósitos, galpões
especializados para triagem, pesagem, para então, pelas mãos de atravessadores, chegar às pré-
indústrias de beneficiamento que irão preparar a matéria-prima para a indústria final. Esta, por fim,
será responsável por tornar o que antes fora considerado lixo - sem valor de uso algum - em uma
nova mercadoria que será reinserida no circuito de reprodução e auto-valorização do valor.
Num contexto de crise, desemprego estrutural de longa duração e reconcentração de capital,
estas atividades laborais extremamente degradantes alastram-se e ganham maior visibilidade em
função do agravamento da “questão social”, pois, embora representem atividades indispensáveis
para a sobrevivência daqueles que as desempenham, por outro lado, cumprem papel significativo no
processo de produção de sobretrabalho, valorização e acumulação do capital, mergulhando estes
trabalhadores numa situação crescente de degradação, espoliação e miséria. Não por outro motivo,
consideramos que estas pessoas dormitam nos limites da precarização do trabalho, da informalidade
e da exploração, possuindo pouca margem e possibilidades de reação ou ascensão social. O quanto
esta situação é visível, urgente ou explícita é algo que estará de acordo com a capacidade de
rebentar as cadeias mórbidas da indiferença.
Na tessitura desta trama diária, porém, a constituição de cooperativas se apresenta como
uma forma de resistência e agrupamento destes trabalhadores para pressão sobre os atores
econômicos diretamente envolvidos com os catadores (“deposeiros”, sucateiros, associações, etc.) e
sobre as autoridades públicas estaduais e municipais, a fim de auferirem vantagens para uma
categoria de trabalho em constituição, tal como observamos nos Encontros estaduais dos Catadores
de Materiais Recicláveis ocorridos na cidade de Fortaleza em 2006.
Partindo destas impressões, pretendemos lançar um olhar crítico sobre esta teia invisível,
buscando desvendar a trama das relações que serpenteiam a crise estrutural do capital, o processo de
reestruturação produtiva, o neoliberalismo e os conseqüentes arranjos e rearranjos na estrutura
ocupacional e organizacional dos trabalhadores. Para tanto, focaremos nossa análise na cooperativa
de catadores de lixo da cidade de Fortaleza que abrange a circunscrição adjacente à comunidade da
Serrinha (ACORES - Associação Ecológica dos Catadores da Serrinha e Adjacências), procurando
investigar a real situação desses empreendimentos cooperativos e as limitações que este tipo de ação
encontra no mercado de trabalho fortalezense, bem como sua eficácia e possíveis desvios. Com
isso, queremos não só trazer à tona a cadeia de mediações que substanciam o fenômeno
considerado, mas também ter em evidência uma base real a partir da qual seja possível avaliar
criticamente os programas e políticas governamentais que se voltem para este setor – seja em sua
proposta ou em sua execução.
2) JUSTIFICATIVA
2) OBJETIVO GERAL
analisando principalmente suas formas de organização e as funções que cumprem na relação entre
os trabalhadores e as empresas.
setor
3) PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
1
Os apologistas da atual ordem, numa clara tentativa de impedir a intelecção da realidade, buscam apontar no “novo”
tipo de trabalhador, agora “autônomo”, que trabalha por conta própria e não mais está sujeito a padrões rígidos de
produção e desenvolvimento de suas atividades, uma nova era do desenvolvimento do capitalismo, com mais
oportunidades, negando o conflito de classes e o imanente antagonismo da relação capital-trabalho.
2
Dados apresentados na 2ª reunião do Fórum sobre o centro de Fortaleza, realizado em 19/03/2004.
3
Segundo dados da EMLURB – Empresa de Limpeza e Urbanização e da ABRELP (Associação Brasileira de
Empresas de Limpeza Pública).
atualmente, segundo dados do Projeto Reciclando4. Este quadro indica o quanto a indústria da
reciclagem pode crescer, entretanto nos alerta também para a importante tarefa de analisar sob que
condições se dará o emprego da força de trabalho nesta cadeia produtiva em expansão. Nossa
cidade possui ainda um déficit habitacional que atinge cerca de 164.000 pessoas somente na região
metropolitana e possui uma população de 700 mil pessoas vivendo em favelas (IBGE, 2000). É,
neste quadro de pobreza, que se encontram os catadores de materiais recicláveis. Saem em sua
maioria dos bairros mais pobres e periféricos da cidade, como Jangurussu, Serrinha, São Cristóvão,
Antônio Bezerra, Quintinho Cunha. O trabalho de catador surge como alternativa frente ao estado
de desemprego e pela falta de opções de ingresso no mercado de trabalho formal como atestam
82,8% dos trabalhadores do setor5, mostrando-nos que a “escolha” da atividade foi o último recurso
frente à escassez de possibilidade de sobrevivência.
A formação de cooperativas em vários setores da economia é visto como alternativa de
suplantação de uma situação de precarização e degradação da força de trabalho, na medida em que
influentes vozes acreditam que através do trabalho cooperado coletivo, que preza pela “autonomia”
dos sujeitos envolvidos, os trabalhadores podem conseguir uma inserção “adequada” no mercado de
trabalho, considerando o mercado como elemento indispensável para possibilitar ao indivíduo o
direito de escolha, como trabalhador e como consumidor (SINGER, 2000), mesmo em uma
sociedade socialista. Entretanto, na contramão desse discurso Tavares nos alerta que “os membros
de uma cooperativa de trabalho ou de qualquer outra associação de trabalhadores, apesar de sua
condição de ‘proprietário’, são obrigatoriamente submetidos a critérios de avaliação do tempo de
trabalho como qualquer trabalhador assalariado, distinguindo-se radicalmente do proprietário
capitalista (...)” (TAVARES E ALVES, 2006), o que põe em cheque postulações que
superestimam o suposto caráter “autônomo” dessas organizações de trabalho.
Entendemos que a conjunção dialética entre o processo de reestruturação produtiva e a
flexibilidade, os processos de inovações tecnológicos, a fragmentação da produção, os rearranjos e
organização da força de trabalho e a ampliação do universo do trabalho precário, aliado ao poder
ideológico do discurso burguês fomentam o aumento do fenômeno da informalidade, resgatando e
dando novos contornos a antigas formas de organização dos trabalhadores como no caso das
cooperativas, buscando conformar o capital em suas novas bases estruturais de acumulação e
reprodução, agindo, sobretudo na supressão da resistência dos trabalhadores e de suas organizações,
4
Projeto implementado pelo Governo do Estado em parceria com o SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio à Média e
Pequena Empresa) e o Sindicato de Resíduos Sólidos do Estado do Ceará (Sindiverde).
5
Segundo pesquisa do IMPARH (Instituto Municipal de Pesquisas, Administração e Recursos Humanos, 2006).
camuflando a luta de classes e forjando um falacioso fim do antagonismo onto-histórico entre
capital-trabalho.
5) CRONOGRAMA DE ATIVIDADES
ANO / SEMESTRE
ATIVIDADES
2008.1 2008.2 2009.1 2009.2 2010.1
2. Pesquisa bibliográfica
3. Revisão bibliográfica
8. Defesa da dissertação
6) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LEFEBVRE, Henri. A Revolução Urbana. 2. ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2004.
______________ .O Direito à Cidade. 3. ed. São Paulo: Centauro Editora, 2004.
MALAGUTI, Manoel Luiz. Crítica à Razão Informal – A Imaterialidade do Salariado. São
Paulo: Boitempo Editora, 2001.
MARX, Karl. Para a crítica da economia política; Salário, preço e lucro; O rendimento e suas
fontes – a economia vulgar. Introdução de Jacob Gorender; traduções de Edgard Malagodi [et al.].
São Paulo: Nova Cultural, 1982.
_________. O Capital: crítica da economia política. São Paulo: Nova Cultural, 1985.
MATOS, Kelma Socorro Lopes de. VIEIRA, Sofia Lerche. Pesquisa Profissional: o prazer de
conhecer. Fortaleza: Demócrito Rocha, UECE,2001.
SINGER, Paul. Economia Socialista. São Paulo, Fundação Perseu Abramo, 2000.
_____________. Francisco José Soares. A Cooperação Complexa. Fortaleza, CE. 2005. Tese de
Doutoramento. FAEC. UFC.