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Universidade Federal do Ceará - UFC

Centro de Humanidades
Departamento de Ciências Sociais
Programa de Pós-Graduação em Sociologia
Linha de pesquisa: Processos de Trabalhos, Estado e Transformações Capitalistas

ECONOMIA POLÍTICA DO LIXO: NOS LIMITES DA PRECARIZAÇÃO DO


TRABALHO

David Moreno Montenegro

Fortaleza – Ceará
2007
Universidade Federal do Ceará - UFC

David Moreno Montenegro

ECONOMIA POLÍTICA DO LIXO: NOS LIMITES DA PRECARIZAÇÃO DO


TRABALHO

Projeto de pesquisa apresentado ao programa de


pós-graduação em Sociologia da Universidade
Federal do Ceará - UFC, como requisito parcial
para aprovação na seleção deste mestrado.

Fortaleza - Ceará
2007
SUMÁRIO

PROBLEMATIZAÇÃO 01

JUSTIFICATIVA 02

OBJETIVO GERAL 03

OBJETIVOS ESPECÍFICOS 03

QUADRO TEÓRICO PRELIMINAR 03

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 04

CRONOGRAMA DE ATIVIDADES 08

BIBLIOGRAFIA 08
1) PROBLEMATIZAÇÃO

Todos os dias, num expediente que se inicia ainda na madrugada, homens, mulheres e
crianças lançam-se às ruas de Fortaleza a fim de encontrar no lixo seu sustento. Caminham por
horas, percorrendo ruas e avenidas, disputando espaço com os veículos que circulam nas vias.
Quando cansados deitam sobre as carroças cheias de papelão, jornais, plástico e outros tipos de
materiais recicláveis que serão vendidos. As refeições são feitas em qualquer lugar e, em muitos
casos, o “cardápio” é composto pelos restos de comida encontrados nos lixos domiciliares revirados
pelo caminho. Verdadeiros andarilhos(as) que percorrem quilômetros puxando suas carroças
fabricadas muitas vezes em sucatas, despendendo um extraordinário esforço para arrastar pela
cidade esses carros (que não raro superam o peso de 150 kg) carregados de materiais que foram
recolhidos para serem comercializados. O valor pago pelo material recolhido aos catadores é
irrisório, servindo apenas para reproduzir a sua força de trabalho, mantendo estes indivíduos no
limiar da sobrevivência. O material recolhido segue seu rumo, passando pelos depósitos, galpões
especializados para triagem, pesagem, para então, pelas mãos de atravessadores, chegar às pré-
indústrias de beneficiamento que irão preparar a matéria-prima para a indústria final. Esta, por fim,
será responsável por tornar o que antes fora considerado lixo - sem valor de uso algum - em uma
nova mercadoria que será reinserida no circuito de reprodução e auto-valorização do valor.
Num contexto de crise, desemprego estrutural de longa duração e reconcentração de capital,
estas atividades laborais extremamente degradantes alastram-se e ganham maior visibilidade em
função do agravamento da “questão social”, pois, embora representem atividades indispensáveis
para a sobrevivência daqueles que as desempenham, por outro lado, cumprem papel significativo no
processo de produção de sobretrabalho, valorização e acumulação do capital, mergulhando estes
trabalhadores numa situação crescente de degradação, espoliação e miséria. Não por outro motivo,
consideramos que estas pessoas dormitam nos limites da precarização do trabalho, da informalidade
e da exploração, possuindo pouca margem e possibilidades de reação ou ascensão social. O quanto
esta situação é visível, urgente ou explícita é algo que estará de acordo com a capacidade de
rebentar as cadeias mórbidas da indiferença.
Na tessitura desta trama diária, porém, a constituição de cooperativas se apresenta como
uma forma de resistência e agrupamento destes trabalhadores para pressão sobre os atores
econômicos diretamente envolvidos com os catadores (“deposeiros”, sucateiros, associações, etc.) e
sobre as autoridades públicas estaduais e municipais, a fim de auferirem vantagens para uma
categoria de trabalho em constituição, tal como observamos nos Encontros estaduais dos Catadores
de Materiais Recicláveis ocorridos na cidade de Fortaleza em 2006.
Partindo destas impressões, pretendemos lançar um olhar crítico sobre esta teia invisível,
buscando desvendar a trama das relações que serpenteiam a crise estrutural do capital, o processo de
reestruturação produtiva, o neoliberalismo e os conseqüentes arranjos e rearranjos na estrutura
ocupacional e organizacional dos trabalhadores. Para tanto, focaremos nossa análise na cooperativa
de catadores de lixo da cidade de Fortaleza que abrange a circunscrição adjacente à comunidade da
Serrinha (ACORES - Associação Ecológica dos Catadores da Serrinha e Adjacências), procurando
investigar a real situação desses empreendimentos cooperativos e as limitações que este tipo de ação
encontra no mercado de trabalho fortalezense, bem como sua eficácia e possíveis desvios. Com
isso, queremos não só trazer à tona a cadeia de mediações que substanciam o fenômeno
considerado, mas também ter em evidência uma base real a partir da qual seja possível avaliar
criticamente os programas e políticas governamentais que se voltem para este setor – seja em sua
proposta ou em sua execução.

2) JUSTIFICATIVA

As mudanças ocorridas no processo de desenvolvimento capitalista das últimas décadas,


flagrantemente aprofundadas em razão de fatores como os processos de reestruturação produtiva, a
internacionalização e a expansão dos mercados financeiros, o aprofundamento da
internacionalização e a maior abertura comercial das economias, além das desregulamentações dos
mercados, tornaram, sem dúvida alguma, muito mais complexo o mundo do trabalho e as
contraditórias relações que nele se estabelecem. A busca por respostas às mais cruéis manifestações
e reflexos do atual momento de crise vivido pelo capital, que subjugam enormes contingentes
populacionais às mais degradantes e aviltantes condições de sobrevivência e reprodução de suas
vidas, remete-nos, necessariamente, à análise e compreensão das variadas formas de reprodução da
força de trabalho e organizações assumidas por estes trabalhadores frente às novas ofensivas do
capital.
Ser catador(a) é sentir na pele todos os dias o duro e seco significado de palavras como
exclusão e invisibilidade sociais. É sentir o gosto amargo da miséria e do esquecimento. Mas, por
outro lado, é também lutar pela sobrevivência e dignidade. As cooperativas de catadores podem
constituir um precioso espaço de investigação das formas de organização coletiva e resistência,
certamente contraditório, além de um importante locus para a pesquisa de elementos simbólicos e
subjetivos desses trabalhadores(as) que estão mergulhados na informalidade, subempregados,
vivendo nos limites da precarização do trabalho.
Entendemos ser uma pesquisa de grande relevância, que pode lançar luz sobre ainda
nebulosos processos de trabalho e organizações de trabalhadores que atraem para si atenções e
discursos os mais diversos e dos mais diferentes atores sociais (como autoridades públicas,
intelectuais, movimentos religiosos, setores da sociedade civil organizada) que buscam, através de
seus diagnósticos, nem sempre precisos, dar respostas à sociedade e aos próprios trabalhadores(as) a
respeito da sua condição e dessa atividade laboral em franca expansão.

2) OBJETIVO GERAL

Interessa-nos analisar no presente estudo as mudanças ocorridas no mundo do trabalho em


decorrência do processo de reestruturação produtiva e da atual crise estrutural do capital, fenômenos
que incidem diretamente na redefinição e rearranjo das relações de produção e circulação de
mercadorias e na forma como os trabalhadores nelas se inserem, analisando de modo especial o uso
flexível da força de trabalho e a precarização desta no interior da cadeia produtiva do lixo, tomando
como estudo de caso as cooperativas de catadores de materiais recicláveis da cidade de Fortaleza.

2.1) OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Estudar o processo de reestruturação produtiva em curso como fenômeno inerente à crise


estrutural do capital;

• Investigar os arranjos e re-arranjos operados nas estruturas ocupacionais no mundo do trabalho,

focando no problema do desemprego, da precarização das relações de trabalho e na informalização


das atividades laborativas;

• Procurar entender como as atividades de catadores recicladores de lixo se inserem na teia


produtiva e reprodutiva do processo de acumulação capitalista;

• Fazer levantamento das cooperativas de trabalho relacionadas à coleta e beneficiamento do lixo,

analisando principalmente suas formas de organização e as funções que cumprem na relação entre
os trabalhadores e as empresas.

• Investigar e avaliar eventuais programas e políticas públicas governamentais voltadas para o

setor
3) PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Pretendemos desenvolver no presente trabalho um estudo de campo que nos proporcione


condições de mapear a situação dos catadores de lixo reciclável da cidade de Fortaleza e a forma de
organização destes em cooperativas. Para tanto, escolhemos a metodologia do tipo pesquisa
participante. Compreendendo esta de acordo com a conceituação de Matos (2001) como sendo um
processo de identificação do pesquisador com as pessoas pesquisadas, bem como o posicionamento
destas pessoas como sujeitos da pesquisa. Desta feita, pretendemos realizar entrevistas com os
recicladores cooperados, não cooperados, com as lideranças locais, além de levantamento
bibliográfico e documental pertinente à pesquisa. Para a consecução dos objetivos propostos se fará
necessário percorrer alguns passos preliminares:

• Levantamento bibliográfico e documental;


• Coleta de Dados em órgãos públicos e privados;
• Fazer apanhado do universo e da população a ser investigada;
• Identificar e mapear as cooperativas em operação na região metropolitana de Fortaleza;
• Identificar e mapear os atuais projetos de constituição de cooperativas pertinentes à pesquisa;
• Fazer visitas e aplicar questionários aos trabalhadores e “empregadores”, enfocando não
somente a atual atividade laborativa, mas também sua trajetória ocupacional ao longo da vida.

4) QUADRO TEÓRICO PRELIMINAR

O período histórico do pós-guerra, que se estendeu de 1945 a 1973, é caracterizado por um


longo processo de expansão e consolidação do sistema hegemônico capitalista, que apresentou
como corolários “a internacionalização da produção industrial (e de serviços), expansão do
comércio internacional e concentração acentuada do capital” (ALVES, 1996), processo que foi
assentado sob as bases de um “conjunto de práticas de controle da força de trabalho, tecnologias,
hábitos de consumo e configurações de poder político-econômico”, elementos que compõem um
conjunto que pode ser chamado de fordista-Keynesiano (HARVEY, 2004).
Uma vez chegado ao fim o ciclo expansionista do pós-guerra, o que se viu foi uma completa
desregulamentação dos capitais produtivos transnacionais, seguida de uma forte liberalização e
expansão dos capitais financeiros, agora cada vez mais mundializados. A combinação de fatores
como a introdução de novas técnicas de gerenciamento da força de trabalho, forte liberação
comercial e implemento de novas formas de domínio técnico-científico, provocaram uma
acentuação do caráter centralizador, discriminatório e destrutivo desse processo
(ANTUNES,1999), que possui como núcleo central os países de capitalismo mais avançado,
notadamente liderado pelos Estados Unidos seguidos do Nafta, Inglaterra, Alemanha à frente da
União Européia, Japão e demais países asiáticos integrados ao sistema mundial de produção e
circulação de mercadorias.
O capital põe em movimento suas forças produtivas [destrutivas], e este efeito destrutivo
que incide fortemente na natureza e no meio ambiente também atinge e fere de morte a força
humana de trabalho que passa a sofrer com um intenso processo de precarização, movimento que
coloca à margem do processo produtivo imenso contingente de trabalhadores que passam a
conviver com elevadas taxas de desemprego estrutural, flexibilização da força de trabalho,
subemprego, marginalidade e exclusão de toda ordem em detrimento de todo avanço tecnológico
alcançado pela humanidade, fenômeno que poderia possibilitar uma real redução da jornada de
trabalho.
A era da acumulação flexível promove uma nova etapa do capitalismo mundial que tem
como corolário a mundialização do capital. Agora “os agentes do capital em processo, as
corporações transnacionais, não se identificam mais com nenhum tipo concreto de capital; tendem
a existir como encarnações individuais de todas as formas de existência do capital: capital-
dinheiro, capital-produtivo e capital-mercadoria” (ALVES: 2005, p. 20), pois esta é a forma
encontrada por estas corporações de enfrentar a concorrência internacional e se apropriar do
máximo valor produzido. O fenômeno da reestruturação produtiva que pode ser observado tanto na
esfera da microeconomia como disseminado por todo o ambiente econômico nos impõe a
necessidade de analisar as mudanças implementadas por este processo em nível da produção e dos
novos rearranjos dos processos de trabalho. Destacamos dois importantes aspectos: o primeiro nos
mostra um incrível esforço do capital que, a partir de uma ótica setorial, empreende um forte
processo de reorganização e reconversão de setores industriais, caracterizado por grandes
investimentos nos setores de ponta (informática, química fina, novos materiais, biotecnologia,
telecomunicações), modernização de setores dinâmicos (automobilísticos, máquinas e
equipamentos, petroquímica), e o declínio de setores tradicionais – como o siderúrgico e o têxtil
(Mattoso e Oliveira apud FILGUEIRAS, 2000); o segundo revela, a partir da observação dos
processos de trabalho, a adoção de um novo paradigma tecnológico e organizacional, com a
introdução, por um lado, de novas tecnologias como a microeletrônica e, por outro, novos padrões
de gestão/organização (just in time) do trabalho (FILGUEIRAS, 2000).
Desta feita, a reestruturação produtiva, sob a égide da mundialização do capital, traz em seu
bojo um forte processo de flexibilização, este devendo ser compreendido como “a plena
capacidade de o capital tornar domável, complacente e submissa a força de trabalho” (Alves:
2005), através de significativas mudanças que são implementadas em nível da produção, bem como
da organização gerencial da força de trabalho, dos mercados de trabalho e da distribuição da
produção e serviços financeiros. O aumento dos poderes de flexibilidade e mobilidade do capital em
detrimento da rigidez fordista proporciona aos empregadores mais força para exercer pressões mais
intensas de controle do trabalho sobre uma classe trabalhadora já enfraquecida e desarticulada.
Diante da volatilidade do mercado, da forte competição, agora mais
internacionalizada, do encolhimento das margens de lucro, da fragmentação e enfraquecimento da
organização dos trabalhadores em função da realocação e dispersão da força de trabalho e da grande
mão-de-obra excedente (desempregados ou subempregados) os patrões encontraram todas as
condições para impor regimes e contratos de trabalho mais flexíveis que, à primeira vista, parecem
não agredir a classe trabalhadora. Entretanto, “os efeitos agregados, quando se consideram a
cobertura de seguro, os direitos de pensão, os níveis salariais e a segurança no emprego, de modo
algum parecem positivos do ponto de vista da população trabalhadora como um todo” (Harvey:
2004, p. 144).
A exclusão, o desemprego, a marginalização e o subemprego são reflexos importantes do
fenômeno da reestruturação produtiva no cenário brasileiro, que vem alterando a composição,
formação e distribuição da força de trabalho em nosso território, sobretudo a partir da década de
noventa. Encontramos então “(...) Neste cenário de desprezo pelos direitos de cidadania (...) de
degradação do poder aquisitivo e da qualidade de vida, de marginalização de largos segmentos da
população, de desmantelamento das organizações dos trabalhadores e de crescentes níveis de
desemprego, (...) o fenômeno da informalidade” (Malaguti: pp. 62, 63). Trabalhadores à deriva,
tendo sua força de trabalho transformada em supérflua, desprotegidos da legislação, pois não mais
possuem vínculos empregatícios formais ou qualquer forma de proteção social, sofrendo total
degeneração e precarização de sua força-de-trabalho.
Observamos a intensificação do crescimento da economia informal nas médias e grandes
cidades do país. Junto a este processo desenvolve-se também o crescimento de outras formas de
trabalho não regulamentado pela legislação trabalhista que podem ser compreendidas, numa
apreensão mais ampla, como participantes de um contexto largo de precarização do trabalho. Junto
à expansão das atividades informais difunde-se um forte apelo ideológico no sentido de legitimar
tais práticas laborativas, camuflar os conflitos de classe e o aguçamento do processo de exploração
da força de trabalho através da cunhagem do termo “empreendedorismo1”. Até mesmo questões
como o desemprego, que revela uma impossibilidade estrutural de ser enfrentado por limites da
própria lógica capitalista, são tomadas pelas personificações do capital que buscam justificá-lo a
partir de fatores externos como a falta de qualificação dos trabalhadores, resgatando antigas formas
de trabalho precário, mas, dessa vez, sob o invólucro da suposta autonomia e independência
(situamos nesse terreno as novas experiências cooperativas dos catadores de materiais recicláveis),
movimento ainda corroborado pelo recuo do aparato jurídico que imprime legalidade a formas de
trabalho precário que sob vários aspectos (clandestinidade, segurança, ausência de proteção social,
etc.) montam um quadro de ilegitimidade (Tavares e Alves, 2006).
Em Fortaleza, capital do Ceará, não encontramos um quadro diferente. A Cidade configura
uma metrópole com população estimada de aproximadamente 2,4 milhões de habitantes, sendo a
quinta mais populosa do Brasil. Seus parques industriais, sediados em Maracanaú e Horizonte, além
de outros de menor porte, concentram 15.466 indústrias ativas, chegando a 66% dos
estabelecimentos registrados no Ceará (IBGE, 2000). Possui um centro comercial com um número
de oito mil lojas de pequeno, médio e grande porte que geram cerca 22 mil empregos diretos,
arrecadando recursos que representaram, em 2003, 14,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do
estado, segundo dados da organização Ação Novo Centro2. Com a formação de outros subcentros,
no início da década de oitenta, a descentralização de Fortaleza proporcionou a distribuição de
atividades comerciais em vários outros bairros.
Esses dados atestam o grande potencial da cidade no consumo de bens, mercadorias e
serviços. Entretanto junto ao crescimento da produção e consumo das economias industriais emerge
também a preocupação com o que fazer com os detritos produzidos por sociedades de consumo. No
Brasil, são produzidas 229 mil toneladas de lixo por dia, das quais 149 mil são coletadas e tem o
seguinte destino: 59% se destinam aos lixões; 16,8% aos aterros controlados; 12,6% aos aterros
sanitários; 3,9% à compostagem; 2,8% à reciclagem; 2,6% aos aterros especiais, 1,8% à incineração
e 0,5% a áreas alagadas (IBGE, 2000).
Em Fortaleza, são coletados 90 mil toneladas de lixo por mês3, deste montante cabe à
reciclagem cerca de 15 mil toneladas de lixo reciclável por mês, mas apenas 4,9 mil são reciclados

1
Os apologistas da atual ordem, numa clara tentativa de impedir a intelecção da realidade, buscam apontar no “novo”
tipo de trabalhador, agora “autônomo”, que trabalha por conta própria e não mais está sujeito a padrões rígidos de
produção e desenvolvimento de suas atividades, uma nova era do desenvolvimento do capitalismo, com mais
oportunidades, negando o conflito de classes e o imanente antagonismo da relação capital-trabalho.
2
Dados apresentados na 2ª reunião do Fórum sobre o centro de Fortaleza, realizado em 19/03/2004.
3
Segundo dados da EMLURB – Empresa de Limpeza e Urbanização e da ABRELP (Associação Brasileira de
Empresas de Limpeza Pública).
atualmente, segundo dados do Projeto Reciclando4. Este quadro indica o quanto a indústria da
reciclagem pode crescer, entretanto nos alerta também para a importante tarefa de analisar sob que
condições se dará o emprego da força de trabalho nesta cadeia produtiva em expansão. Nossa
cidade possui ainda um déficit habitacional que atinge cerca de 164.000 pessoas somente na região
metropolitana e possui uma população de 700 mil pessoas vivendo em favelas (IBGE, 2000). É,
neste quadro de pobreza, que se encontram os catadores de materiais recicláveis. Saem em sua
maioria dos bairros mais pobres e periféricos da cidade, como Jangurussu, Serrinha, São Cristóvão,
Antônio Bezerra, Quintinho Cunha. O trabalho de catador surge como alternativa frente ao estado
de desemprego e pela falta de opções de ingresso no mercado de trabalho formal como atestam
82,8% dos trabalhadores do setor5, mostrando-nos que a “escolha” da atividade foi o último recurso
frente à escassez de possibilidade de sobrevivência.
A formação de cooperativas em vários setores da economia é visto como alternativa de
suplantação de uma situação de precarização e degradação da força de trabalho, na medida em que
influentes vozes acreditam que através do trabalho cooperado coletivo, que preza pela “autonomia”
dos sujeitos envolvidos, os trabalhadores podem conseguir uma inserção “adequada” no mercado de
trabalho, considerando o mercado como elemento indispensável para possibilitar ao indivíduo o
direito de escolha, como trabalhador e como consumidor (SINGER, 2000), mesmo em uma
sociedade socialista. Entretanto, na contramão desse discurso Tavares nos alerta que “os membros
de uma cooperativa de trabalho ou de qualquer outra associação de trabalhadores, apesar de sua
condição de ‘proprietário’, são obrigatoriamente submetidos a critérios de avaliação do tempo de
trabalho como qualquer trabalhador assalariado, distinguindo-se radicalmente do proprietário
capitalista (...)” (TAVARES E ALVES, 2006), o que põe em cheque postulações que
superestimam o suposto caráter “autônomo” dessas organizações de trabalho.
Entendemos que a conjunção dialética entre o processo de reestruturação produtiva e a
flexibilidade, os processos de inovações tecnológicos, a fragmentação da produção, os rearranjos e
organização da força de trabalho e a ampliação do universo do trabalho precário, aliado ao poder
ideológico do discurso burguês fomentam o aumento do fenômeno da informalidade, resgatando e
dando novos contornos a antigas formas de organização dos trabalhadores como no caso das
cooperativas, buscando conformar o capital em suas novas bases estruturais de acumulação e
reprodução, agindo, sobretudo na supressão da resistência dos trabalhadores e de suas organizações,

4
Projeto implementado pelo Governo do Estado em parceria com o SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio à Média e
Pequena Empresa) e o Sindicato de Resíduos Sólidos do Estado do Ceará (Sindiverde).
5
Segundo pesquisa do IMPARH (Instituto Municipal de Pesquisas, Administração e Recursos Humanos, 2006).
camuflando a luta de classes e forjando um falacioso fim do antagonismo onto-histórico entre
capital-trabalho.

5) CRONOGRAMA DE ATIVIDADES

ANO / SEMESTRE
ATIVIDADES
2008.1 2008.2 2009.1 2009.2 2010.1

1. Revisão e organização do projeto

2. Pesquisa bibliográfica

3. Revisão bibliográfica

4. Trabalho de campo, aplicação de


questionários e entrevistas

5. Revisão do referencial teórico

6. Redação e análise dos dados coletados

7. Estruturação dos capítulos desenvolvidos

8. Defesa da dissertação

6) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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era da globalização. São Paulo: Editora Praxis, 1999.
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do Sindicalismo. São Paulo: Boitempo Editoral, 2005.
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Trabalho. 3. ed. São Paulo: Boitempo Editoral, 2000.
BOTELHO, Adriano. Do Fordismo à Produção Flexível: A produção do espaço num contexto
de mudança das estratégias de acumulação do capital. São Paulo, SP. Dissertação de Mestrado.
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo – Departamento
de Geografia.
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HARVEY, David. A Condição Pós-Moderna. 13. ed. São Paulo: Loyola, 2004.

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______________ .O Direito à Cidade. 3. ed. São Paulo: Centauro Editora, 2004.
MALAGUTI, Manoel Luiz. Crítica à Razão Informal – A Imaterialidade do Salariado. São
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São Paulo: Nova Cultural, 1982.

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