VENTOS DO SUL

JORNAL REGIONAL DA HUÍLA, NAMIBE, CUNENE E CUANDO CUBANGO

Coordenação: Editoria de Títulos Regionais • 14 de Maio de 2019 • Ano 0 • Número 3 Publicação mensal Preço:100 Kz

CUNENE

Seca ameaça vidas

Desde Fevereiro já morreram mais de 26 mil cabeças de gado bovino nos municípios de Curoca, Cahama,
Namacunde, Cuanhama e Ombadja. 178.488 famílias, num total de 857.443 pessoas de 436 localidades
dadas como criticas, correm risco de morrer, devido à fome e à seca. p. 12

PELO SEU VALOR HISTÓRICO SAÚDE NO CUNENE ESTRADAS DA HUÍLA

CUITO CUANAVALE LEPROSARIA MAU ESTADO DAS

NA ROTA TURÍSTICA
DO CONTINENTE
Executivo pretende transformar Cuito
Cuanavale num dos melhores pontos
turísticos do continente africano, tendo em
conta o valor histórico do local para a
abolição do regime do Apartheid, na África
do Sul, a independência da Namíbia e a
libertação de Nelson Mandela. p. 11
DE OIFIDI EM
ESCOMBROS
O Centro de Leprosaria de Oifidi, a cinco
quilómetros a norte de Ondjiva, província
do Cunene, clama por reabilitação urgente,
devido ao seu estado avançado de
degradação. Construído na década de 70,
o centro nunca beneficiou de obras de
reabilitação. p. 13
VIAS CONDICIONA
CIRCULAÇÃO
Os acessos aos municípios de Chipindo,
Cuvango, Jamba, Caconda, Chicomba, Matala
e Quipungo estão de mal a pior, facto que
condiciona a circulação de pessoas e bens se
se tiver em conta que as localidades estão no
topo da produção de cereais na província da
Huíla. p. 05
 Terça-feira,
2 14 de Maio de 2019

OPINIÃO
Nota do dia A Imagem
Escreva-nos por e-mail para: ventosdosul18@gmail.com

A palavra ao leitor

ESTANISLAU COSTA

ACTOS DE
VANDALISMO

A
ngola orgulha-se de ter fi-
lhos que de facto a amam
e que não medem esforços
quando o assunto é a de-
fesa da soberania. As provas são in-
comensuráveis, partindo do cativeiro
colonial ao conflito interno, todos
eles com longos anos de existência.
Em plena execução de vários
programas favoráveis à criação de
condições necessárias para o bem-
estar de todos os angolanos, um
novo fenómeno começa a assara-
pantar os novos ventos que so-
pram no país. Trata-se do vanda-
lismo, um mal ainda com motiva-
ções por se identificar.
Indivíduos de má-fé, com a co-
nivência de alguns estrangeiros, es-
tão a surripiar os bens públicos, co-
mo postes e cabos de alta tensão,
sistemas de iluminação pública,
contadores e tubagens de distri-
buição de água potável, mobiliá-
rios escolares, viaturas estaciona-
das, entre outros.
No principal corredor económi-
co da região sul (Huíla, Namibe e
Cuando Cubango), o Caminho-de-
Ferro de Moçâmedes (CFM) tam-
bém não escapa à fúria dos mal-
feitores. Têm sido arrancadas as
porcas da base, cabos de comuni-
cação, sinalização e nalguns pon-
tos, a brita que suporta a base.
O acto condenável que se veri-
fica em certos casos, é o arremes-
so de pedras por certos populares
em pleno movimento do comboio.
As explicações sobre tal compor-
tamento tardam a chegar, mas o
que deve apressar é a actuação dos
órgãos de segurança numa acção
que deve envolver as autoridades
tradicionais, coordenadores das
aldeias, bairros e outros para se
conter tais práticas.
Com a urgência que o facto im-
põe, é preciso que a sociedade se
mobilize e se organize para fazer
face a tais práticas e de imediato IMPRUDÊNCIA solução é os cupapatas para transportar passageiros e mercadorias.
chamar à razão os prevaricadores. O risco da corrida dos táxis não atingir algumas zonas periféricas do Não importa o tamanho. Pena é que o transportador e o cliente es-
Lubango, para não inviabilizar o convívio familiar ou entre amigos, a tão sem os respectivos capacetes logo em época do Resgate.

Cartas dos leitores

JORNAL DA REGIÃO DA Amontoados de lixo são O valor do resgate
HUÍLA, NAMIBE, CUNENE atentados à saúde pública Lubango regista mudanças significativas
E CUANDO CUBANGO
Sou morador do bairro Novo, arredores com a implementação da "Operação
da cidade de Menongue, onde nasci e vi- Resgate". Áreas de lazer e recreação, en-
Jornalistas (Huíla): Estanislau Costa (director), Domingos Mucuta, Arão Martins, João Luhaco, Benigno vo há mais de 20 anos. Antes de tudo, tradas de edifícios, ruas e avenidas, ou-
Narciso e Gaudêncio Hamelay. Fotógrafos: Arimateia Baptista. Morada: Rua Deolinda Rodrigues, Bairro quero desejar muitos êxitos ao colectivo trora transformados em autênticos mer-
Benfica, email:huila@jornaldeangola.com – Lubango – Huíla. Jornalistas (Cuando Cubango): Lourenço
Manuel (director), Carlos Paulino, Weza Pascoal e Lourenço Bule. Fotógrafos: Nicolau Vasco. Morada: Rua
de trabalhadores deste jornal, que, em abo- cados informais, apresentam uma nova
do Aeroporto de Menongue, centro da cidade, contacto:249280147, email: no da verdade, chegou numa boa hora. imagem. O meu desejo e, provavelmen-
cuandocubango@jornaldeangola.com – Menongue – Cuando Cubango. Jornalistas (Cunene): Quinito Conselho de Administração Escrevo para este espaço para reclamar te de muitos citadinos, é voltar a ver a ci-
Kanhameni (director), Domingos Calucipa, Adelaide Mualimusi e Elautério Silipuleni. Fotógrafos: Venâncio Víctor Silva (presidente)
Amaral. Email: cunene@jornaldeangola.com Jornalistas (Namibe): Vladimir Prata (director), João Upale,
junto da Administração Municipal de Me- dade do Cristo Rei com a imagem que a
Manuel de Sousa. Morada: Largo das Heroínas, Rua Gregório José Mendes, número 2532, Moçâmedes, Administradores Executivos nongue no sentido de resolver o proble- notabilizou como uma das mais belas do
Caetano Pedro da Conceição Júnior
Namibe. Telefone: 264 260 602 . ma dos amontoados de lixo nos bairros nosso país. É necessário reforçar e con-
E-mail: namibe@jornaldeangola.com José Alberto Domingos
Coordenação: Editoria de TíTULoS REGioNAiS Rui André Marques Upalavela
da periferia, que constituem um verda- tinuar a sensibilizar a população no sen-
Editor: Domingos dos Santos Luena Kassonde Ross Guinapo deiro atentado à saúde pública. Temos tido de inverter as más práticas que, há
Sub-Editores: José Bule e Adalberto Ceita
Administradores Não Executivos
constatado que os responsáveis só se muitos anos, enfermam a nossa sociedade.
Departamento de Paginação: irineu Caldeira (Chefe), Adilson Santos (Chefe-adjunto) Adilson Félix,
Valdemar Jorge & Jorge de Sousa Filomeno Jorge Manaças preocupam com o casco urbano. Apoiemos todos a "Operação Resgate".
Publicidade: (+244) 926 40 69 29/923 40 27 00 Mateus Francisco João dos Santos Júnior Kleberson Pascoal Manuel Lencastre Alcaide
MAIL: antonio.goncalves@edicoesnovembro.co.ao Menongue Bairro do Tchioco
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4 14 de Maio de 2019

Huíla
FOTOS: ESTANISLAU COSTA | EDIÇÕES NOVEMBRO

RESPEITO Ninguém se atreve a desconsiderar o local sob pena de ser castigado e, pelo seu valor, está representado no Museu Regional da Huíla

TRADIÇÃO NHYANEKA-HUMBI

“Otyoto” é lugar sagrado

“Otyoto” é um local usado pelos anciãos para a transmissão de conhecimentos, mistérios da
natureza e criação do gado (ongombe). É comum encontrar em casa de soba ou de um chefe de
família que segue à risca os costumes típicos da tradição

Estanislau Costa
ventosdosul18@gmail.com
sentos (omapundi) e no local são sua vinda, questionado pelo dono sempre o “Otyoto” feito de troncos
realizadas várias cerimónias e de- do “eumbo” na presença de todos. de árvores, simbolizando a espe-
batidos assuntos familiares, da co- Os troncos de rança de vida.
munidade, entre outros. árvores de três INSTITUIÇÃO PRIMÁRIA O uso de pedras tem a ver com

O
s Nhyaneka-Humbi, que
habitam maioritariamen-
te a província da Huíla,
têm o “Otyoto”, que em
português significa altar, como
local sagrado e de profunda ve-
neração.
Os três troncos expostos ao chão,
arrumados com um formato seme-
lhante a letra U, possuem uma es-
pessura grossa e lenha no centro,
onde são feitas fogueiras noite
adentro e outros requintes tradi-
cionais ao local sagrado.
Ninguém se atreve a desconsi-
derar o local sob pena de ser cas-
tigado. Pelo valor que possui, o
“Otyoto” está representado no
Museu Regional da Huíla, facto
que desperta a curiosidade dos
visitantes.
O etnólogo Carlos Estermann
descreve, na sua obra “Etnografia
do Sudoeste de Angola”, que os
troncos de árvores de três metros
de cumprimentos servem de as-
Os anciãos aproveitam o “Otyo-
to” para a transmissão de conhe-
cimentos, mistérios da natureza e
criação do gado (ongombe). É co-
mum encontrar “Otyoto” em casa
de soba ou de um chefe de família
que segue à risca os costumes tí-
picos da tradição.
Para estes povos, uma aldeia
sem “Otyoto” é incompleta e o seu
dono é considerado um homem
sem privilégio social nem reputa-
ção entre os anciãos. Para o inves-
tigador social Miúdo Ndambuca,
o “Otyoto” constitui o centro vital
do “eumbo” (aldeia) e representa
a emancipação do homem adulto,
isto é, homem casado e possuidor
de seus bens. Os bovinos que os
pais oferecem aos filhos em várias
cerimónias, tais como circuncisão,
festa da puberdade (efiko), são sa-
crificados no local em referência.
Os membros da família (homens,
mulheres e crianças) aproveitam
o lugar para refeições, conversas,
Carlos Estermann afirma que o
metros de “Otyoto” é a instituição primária
cumprimentos no início da construção de um
servem de assentos “eumbo” (aldeia ou quimbo). Se
se tiver em conta que os povos
(omapundi) e no Nhyaneka-Humbi dividem-se em
local são dois grupos fundamentais (os
Nhyanekas e os Humbis), também
realizadas várias há diferença no posicionamento
cerimónias e do lugar sagrado ou altar.
debatidos Para os Tyilengues (Nhyanekas),
o “Otyoto” fica na parte frontal da
assuntos casa sagrada, enquanto para os
familiares, humbis, a posição ideal é o lado
esquerdo da casa. Para outras tri-
da comunidade, bos, o local sagrado encontra-se si-
entre outros. tuado a direita da casa principal,
geralmente da primeira mulher,
caso se trate de um homem polí-
gamo.
estórias, mas nunca para danças. Em alguns casos, os troncos são
Reunidos à volta da fogueira, as substituídos por pedras lajeadas.
pessoas mais actualizadas comuni- No caso dos Tyilengues, essa subs-
cam os acontecimentos do dia e, se tituição tem um significado muito
haver visitas, é nessa altura em que importante. Enquanto o chefe de
o hóspede expõe os objectivos da família estiver vivo, os filhos terão
o falecimento do pai, pelo facto de
considerarem as pedras como se-
res sem vida e a sua durabilidade
simboliza o tempo de vida que o
defunto alcançou.
APELO À PRESERVAÇÃO
Jovens de vários estractos sociais
dizem ser necessário criar meca-
nismos para a preservação dos nos-
sos símbolos culturais, sobretudo
aqueles em vias de extinção.
José Miguel, estudante univer-
sitário, preocupado com a manu-
tenção dos usos e costumes dos
vários grupos etnolinguísticos do
país, considera que pouco foi feito
para a preservação da tradição dos
Nhyaneka-Humbi.
Anabela Gilberta, 25 anos de ida-
de, apela a criação de mecanismo
para difundir melhor os valores
culturais do país, no sentido de
atrair mais turistas nacionais e es-
trangeiros, assim como conservar
melhor a riqueza cultural.
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Huila

Arão Martins
FOTOS: ARÃO MARTINS | EDIÇÕES NOVEMBRO

CONDUZIR PELO INTERIOR DA HUÍLA

ventosdosul18@gmail.com

O
s acessos aos municípios
de Chipindo, Cuvango,
Jamba, Caconda, Chicom-
ba, Matala e Quipungo,
vão de mal a pior, facto que condi-
ciona a circulação de pessoas e bens
se se tiver em conta que as locali-
dades estão no topo da produção
Uma viagem
de sacrifício e coragem
de cereais na Huíla.
Num percurso de mais de 1.100
quilómetros, mais de 600 estão to-
talmente esburacados e as viaturas
4x4 quase que não resistem ao ter-
reno. Os passageiros, numa curta
paragem, aproveitam para retem-
perar as sinergias com pequenos
exercícios físicos.
Do famoso “Triângulo do Mi-
lho”, constituído pelos municípios
de Caluquembe, Chicomba e Ca-
conda, chegam os gritos de socorro
para a reabilitação urgente do troço.
Os camionistas, oriundos das cida-
des de Benguela, Huambo e Luban-
go, enfrentam imensas dificuldades
no terreno.
Com uma camisola do 1º de
Agosto, chapéu verde-escuro, suor
no rosto, António Caveto, 37 anos,
estava com o seu camião, enterra-
do há dois dias. Transportava se-
mentes de milho e fertilizantes pa-
ra os agricultores de Chicomba.
“Enterrei numa ravina criada pela
água das chuvas ao longo do tro-
ço”, relatou.
Maria Helena Njambela, 30 anos,
é vendedora de peixe, comprado
na província do Namibe e revendi-
do no município do Chipindo. Se-
gundo ela, a viagem entre as duas
províncias, Huíla e Namibe, requer
paciência. Muita paciência.
“As chuvas estão a criar mais bu-
racos na estrada. É um sofrimento”,
lamentou.
O soba da Galangue João Cam-
binda considera difícil o actual es-
tado da via, caracterizado por bu-
racos e pontecos em risco de desa-
bar. A autoridade tradicional
admite que a circulação rodoviária
deve ficar condicionada na sua to-
talidade devido a intensidade das
chuvas na região.
Dori António, professora do en-
sino secundário, colocada na comu-
na de Cutenda, município de Chi-
comba, disse que muitos automo-
bilistas evitam se deslocar a região MAU ESTADO Num percurso de mais de 1.100 quilómetros, mais de 600 estão totalmente esburacados
devido a intensidade das chuvas.
O comerciante Paulo João tam-
bém já pensa em desistir do negócio existência de ouro na região. “A condições, que a Administração meçar quando as chuvas termina- um compromisso que deverá ser
de venda de milho, comprado nos exploração industrial do ouro pa- Municipal do Chipindo não dispõe. rem. Os empreiteiros vão executar um facto.
municípios de Chicomba e Cacon- rou em 1976, por causa da guer- as obras com recursos próprios, pa-
da, pelo facto dos automobilistas ra”, lembrou. CHUVAS ATRASAM ra posteriormente receberem o pa- TRABALHO E DEDICAÇÃO
aumentarem o preço do transporte Na comuna do Bambi foi cons- CONCLUSÃO DAS OBRAS gamento pela sua execução”, expli- O governador da Huíla, Luís Nunes,
da mercadoria para as províncias truído, em 2014, no âmbito do pro- O governador da Huíla, Luís Nu- cou o governador. frisou que só com trabalho e dedi-
do Bié e Huambo, alegando mau grama “Água Para Todos”, um tan- nes, apontou a chuva como o prin- “É preciso dar dinheiro que re- cação de todos, de forma ordeira e
estado da via. que de 20 mil litros, três chafarizes, cipal constrangimento para a exe- sulta dos orçamentos das obras que criativa, será possível resolver os
Já Madalena Chimbalandongo, com uma área para a lavagem de cução com êxito dos trabalhos de são efectuadas. Nós, nesse momen- principais problemas da população.
camponesa, que se dedica à produ- roupa, para beneficiar mais de reabilitação das estradas secun- to, não temos recursos para dar. O mau estado das vias preocupa
ção de cereais, fala de perdas enor- 1.500 pessoas. dárias e terciárias dos municípios Mas, como nós precisamos de obras o governador da Huíla, que reconhe-
mes face às dificuldades para o es- Cinco anos depois, revela o ad- do Chipindo, Cuvango, Chicom- feitas, estamos a recorrer a esse tipo ce que circular em estradas esbura-
coamento dos produtos para os ministrador, o sistema foi vandali- ba e Caconda. de compromisso”, justificou. cadas requer sacrifício e coragem.
grandes centros de consumo. “Pe- zado, tendo sido roubados o painel A reabilitação das estradas do Já estão em curso as obras de rea- Nesse sentido, Luís Nunes de-
dimos que o Estado reabilite já a e as duas placas solares. Hoje, o sis- corredor norte, frisou, constitui bilitação da estrada entre Caconda fende que é necessário redefinir
nossa estrada, porque a promessa tema está sem o material de repo- uma prioridade e, apesar dos cons- e Chipindo, partindo da ponte so- prioridades, tendo em conta os pou-
já é antiga”, reclamou. sição e a população passou a con- trangimentos naturais e financei- bre o rio Cunene. No município do cos recursos financeiros disponíveis.
sumir água imprópria para a saúde ros. O Governo da Huíla, garantiu, Cuvango devem arrancar as obras O governador considera priori-
VISITA AO INTERIOR humana. busca soluções locais para a cons- de reabilitação das vias de acesso tário os sectores da Educação, Saú-
No seu primeiro périplo aos muni- No domínio da Educação, exis- trução e reconstrução das estradas entre Cuvango e a comuna de Ga- de, Energia, Água, Agricultura e
cípios a norte da província, desde tem 14 centros escolares. O centro da província. langue, numa extensão de mais de vias de comunicação.
que foi nomeado governador da de saúde é assegurado por seis en- No Chipindo, Luís Nunes dei- 27 quilómetros. “Fizemos seis horas num percur-
Huíla, Luís Nunes, escolheu Chi- fermeiros para um universo de 30 xou a promessa da construção das Consta do Orçamento Geral do so de 45 quilómetros. Nessas con-
pindo, como primeiro destino para mil habitantes. vias secundárias e terciárias do Estado deste ano, disse Luís Nunes, dições é difícil escoar os produtos
constatar “in loco”, a vida socioe- A comuna da Galangue, muni- município. O projecto inclui a a reabilitação da estrada que liga do campo e vice-versa”, reconhe-
conómica da região. cípio do Chipindo, possui 29 esco- construção da estrada que liga a os municípios do Quipungo, Ca- ceu, acrescentando que muitos dos
A comuna do Bambi está prati- las do ensino primário e uma do Iº sede municipal à comuna de Bam- conda e Chicomba. “Estamos a pri- problemas da província eram do
camente isolada das demais locali- Ciclo, onde estudam 5.209 e 84 pro- bi, num percurso de 45 quilóme- vilegiar a participação do empre- seu conhecimento, mas que “não
dades do município do Chipindo, fessores asseguram o processo de tros. Hoje, este trajecto é feito em sariado na execução dos programas tinha a noção de que as coisas es-
devido ao mau estado da via. ensino e aprendizagem. O número cinco horas. e projectos que visam contribuir na tavam tão mal assim”.
O administrador comunal, Pau- de professores é insuficiente para Está também em carteira a cons- melhoria da qualidade de vida da “Vamos fazer um esforço para
lo Faustino, revela que Bambi tem o número de alunos, por isso há ne- trução do troço entre Chipindo e população”, disse, acrescentando solucionar, a curto prazo, o proble-
sido, nos últimos tempos, invadi- cessidade de admissão de mais do- Cuvango, num percurso de 105 qui- que dinamizar o corredor do milho ma das vias secundárias e terciá-
da por garimpeiros, atraídos pela centes. Para o efeito, é necessário lómetros. “São obras que irão co- no norte da província da Huíla, é rias”, garantiu Luís Nunes.
 6 Terça-feira,
14 de Maio de 2019

Huíla
ARIMATEIA BAPTISTA | EDIÇÕES NOVEMBRO
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QUALIDADE Criadores consideram que o gesto está a contribuir para a reprodução de bois com bom tamanho para produzir carne e leite

FOMENTO ANIMAL

Cooperativa doa touros

para melhorar gado tradicional
ARIMATEIA BAPTISTA | EDIÇÕES NOVEMBRO

Estanislau Costa
Já Tyeputo Calamba, 50 anos,
enalteceu o empenho da coopera-
ventosdosul18@gmail.com tiva na criação de condições favo-
ráveis para a mudança do aspecto
melhoria da qualidade e peso das cabeças de gado bovi-

A animal levado a cabo

pela Cooperativa dos
Criadores de Gado do
Sul de Angola (CCGSA),
há mais de dez anos, regista avan-
ços consideráveis, com a entrega
de dezenas de touros de raça aos
criadores tradicionais das pro-
víncias do Namibe, Cunene e
Cuando Cubango.
Fernando Lylelupula, criador
de gado da Cahama, no Cunene,
considera que o gesto da CCGSA
está a contribuir positivamente na
reprodução de bois com bom ta-
manho, peso e condições para pro-
duzir carne, leite e pele.
O criador enalteceu a isenção
de direitos na importação de pro-
dutos do campo, uma decisão que
encoraja os empresários a prosse-
guir com a implementação de pro-
jectos e gerar novos postos de tra-
balho para milhares de jovens.
no das zonas mais recônditas das
províncias da Huíla e Cunene.
O criador tradicional reconhe-
ceu que a cooperativa é pioneira
na promoção de acções que estão
a contribuir para superar a quali-
dade dos animais.
Tyeputo Calamba exortou o Mi-
nistério da Agricultura a apoiar es-
sa iniciativa da CCGSA, no senti-
do de ser “muito mais abrangen-
te, de modo a contemplar todos os
criadores de gado autóctone e au-
mentar a quantidade e qualidade
de animais capazes de abastecer a
indústria de abate”.
A maioria dos criadores tradi-
cionais manifestou existir já gado
bovino autóctone a atingir o pe-
so máximo de uma tonelada, fru-
to do cruzamento com touros de
raça e de alta selecção com realce
para Bonsmara, Brahman, Bóer,
Nelore e Simba.

O leilão possível
ARIMATEIA BAPTISTA | EDIÇÕES NOVEMBRO
ARIMATEIA BAPTISTA | EDIÇÕES NOVEMBRO

Luís Gata quer rever preços
O ÚLTIMO leilão de 230 cabeças
de gado bovino realizado em 2018,
gerou receitas estimadas em 80 mi-
lhões de Kwanzas, representando
uma redução de 170, relativamen-
te a venda do ano antepassado.
A actual situação económica do
país esteve na base da redução das
vendas, mas os organizadores con-
sideram positivo os níveis alcan-
çados devido as quantidades co-
mercializadas, apesar de a maioria
dos potenciais clientes se confron-
tar com problemas financeiros.
Entretanto, os criadores de ga-
do da região sul estão insatisfei-
tos com o actual preço da carne
nacional, que consideram “mui-
to baixo”, na medida em que não
compensa os custos de produção.
Para eles, continua a ser desleal
a concorrência com o produto im-
portado.
O director da Cooperativa de
Criadores de Gado do Sul de An-
gola (CCGSA), Luís Gata, consi-
dera que a situação desencoraja a
produção de carne nacional, na
medida em que um quilo de car-
ne na Huíla custa entre 350 e 400
Kwanzas contra os 600 a 700
Kwanzas anterior.
O responsável deplorou a im-
portação descontrolada do pro-
duto por continuar a prejudicar a
produção interna, ao ponto de os
criadores terem dificuldade de co-
mercializar os animais a preços in-
significantes.
“O preço da carne só será com-
pensada quando se ajustar à pro-
dução nacional, quando o quilo-
grama rondar os 600 e 700 Kwan-
zas”, afirmou, para argumentar que
os criadores tradicionais em mui-
tos casos têm de vender o gado sem
ganho para ter algum dinheiro e
outros preferem manter os animais.
Terça-feira,
14 de Maio de 2019
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Huíla
ARIMATEIA BAPTISTA|LUBANGO | EDIÇÕES NOVEMBRO

Solidariedade O lar funciona em regime de internato e presta apoio psicológico, moral, físico e académico às crianças e jovens ali instalados

APOIO ÀS CRIANÇAS VULNERÁVEIS

Lar “El Betel” clama por ajuda

Criado há dois anos, o Lar “El Betel”, localizado no bairro 14 de Abril, vulgo Benfica,
recebe crianças vulneráveis acusadas de feitiçaria, roubos, vítimas de abusos
sexuais, que ocorrem no seio da própria família

João Luhaco
ARIMATEIA BAPTISTA | EDIÇÕES NOVEMBRO
ARIMATEIA BAPTISTA | EDIÇÕES NOVEMBRO

ventosdosul18@gmail.com

o bairro Santo António,

N cidade do Lubango,
junto a estação central
do Caminho-de- Ferro
de Moçamedes (CFM),
existe uma linha férrea, abando-
nada desde o tempo colonial, que
servia para transportar o milho
para os silos da antiga moagem
de fuba “Venâncio Guimarães”.
Hoje, pelas suas características ar-
quitectónicas, em espécie de um
túnel, o local serve como refúgio
para crianças e jovens de rua.
Abandonados, alegadamente
por carências sociais, pelos seus pro-
genitores, essas crianças e jovens
eram apontados como um poten-
cial “exército” de meliantes dedi- Jorge Alfredo pede ajuda
cados ao vício do consumo de es-
tupefacientes e assaltos para satis- mente não respondem às cartas e
fazerem às suas necessidades. outras apontam a crise económica
Comovidos com o seu estado e financeira que o país atravessa co-
de penúria, o Lar “El Betel” deci- mo justificação para não apoiarem.
diu amparar essas crianças e jovens Além das necessidades alimen-
para a sua reabilitação. Localizado CAPACIDADE O centro controla 47 crianças menores de cinco anos tares, o centro também necessita de
no bairro 14 de Abril, vulgo Ben- medicamentos, na medida em que
fica, o Lar “El Betel”, criado há dois mos para os adultos . 47 crianças que ocorrem no seio da própria fa- FALTA DE APOIOS tem registado muitos casos de gripe,
anos, é uma associação filantrópi- menores de 5 anos e um jovem, de mília. Devido a essa situação, o O Lar “El Betel” vive de donati- tosse e doenças infecciosas da pele.
ca sem fins lucrativos. 21 anos, vivem naquele lar. centro começa, primeiro, por pres- vos. Sem parcerias com empresas “Graças a Deus, já temos um
“O nosso trabalho consiste em Jorge Alfredo revelou que tar apoio espiritual às crianças, no ou instituições públicas ou pri- convénio com a Delegação Muni-
dar apoio religioso e social às têm recebido muitos pedidos pa- sentido de moldar o seu carácter, vadas, o centro enfrenta muitas cipal de Saúde, que garantiu en-
crianças. Trabalhamos com pes- ra o internamento de mais crian- faz um acompanhamento para sa- dificuldades, principalmente bens viar um médico e um farmacêuti-
soas vulneráveis de vários estra- ças e jovens, mas, por falta de ber as tendências e os receios e de- alimentares. co para fazerem consultas de roti-
tos sociais, na medida em que re- condições para albergá-las, têm pois são matriculadas na escola pa- “O El Betel vive graças a boa- na às crianças”, disse.
cebemos pessoas que vivem na recusado. “Por dia, recebemos ra aprenderem a ler e a escrever. fé de pessoas singulares que, com- O responsável do Lar “El Be-
rua devido a problemas nas fa- três ou quatro crianças. Nesta al- É pretensão do Lar “El Betel” padecidas com a nossa situação, tel” exortou a sociedade huilana a
mílias”, explicou o responsável tura, estamos sem colchões e co- estabelecer parceria com algum trazem um saco de arroz ou um ser mais caridosa com as pessoas
do lar, pastor Jorge Alfredo. bertores para receber mais crian- centro de formação profissional, outro bem alimentar. Nós também em situação de vulnerabilidade.
O lar, que funciona em regime ças”, justificou. onde as crianças e os jovens po- fizemos uma campanha voluntá- “Essas crianças, que hoje estão aqui,
de internato, presta apoio psico- dem aprender um ofício que lhes ria de casa em casa em busca de podiam ser o nosso irmão, filho ou
lógico, moral, físico e académico PROBLEMAS SOCIAIS possa beneficiar no futuro. “O ob- apoios”, explicou. alguma pessoa ligada a nós. Elas
às crianças e jovens ali instalados. O Lar “El Betel” recebe crianças jectivo é mudar a vida dessas Jorge Alfredo disse que tem en- precisam da ajuda de toda socie-
Possui dois quartos internos e vulneráveis acusadas de feitiçaria, crianças, mostrando-lhes um no- dereçado cartas a várias empresas dade. Sem a vossa ajuda, este cen-
igual número externos, estes últi- roubos, vítimas de abusos sexuais, vo horizonte”, frisou. a solicitar apoios. Umas simples- tro pode fechar as portas”, apelou.
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14 de Maio de 2019

Huíla
DOMINGOS MUCUTA EDIÇÕES NOVEMBRO

FRUTAS Mãe e filha deambulam pelas ruas da cidade do Lubango com bacias de banana à procura de clientes

EXPLORAÇÃO INFANTIL

Crianças são fontes

de sustento dos pais
O Instituto Nacional da Criança (INAC) na Huíla admite que a situação social das famílias está na base
do elevado número de menores envolvidos em trabalhos pesados

Domingos Mucuta versa profunda são suficientes o diz é Osvaldino José, proprie- ao volante de viaturas de marca Os motoristas justificam a pre-
ventosdosul18@gmail.com para perceber que as crianças es- tário de um camião basculante Toyota Hiace. As crianças acor- ferência por cobradores menores:
tão ao serviço de pessoas adul- de marca Scânia, há mais de cin- dam muito cedo para esperar os “ocupam menos espaço, são obe-
anhã de sol ardente. tas, que aproveitam a sua inge- co anos no transporte de inertes taxistas nas paragens. Apesar de dientes e honestos. As crianças

M O desvio do “KM40”,
na confluência de es-
tradas para os mu-
nicípios de Quipun-
go, Matala e Cacula, e para as
províncias do Huambo e Ben-
guela, regista paragens e parti-
das de viaturas.
O famoso churrasco de gali-
nha gentia atrai passageiros e au-
tomobilistas que têm aquele en-
troncamento como uma para-
gem obrigatória. Esse frenesim
é aproveitado pelos adolescen-
tes Hityiwo e Mwatua para ven-
derem coxas, asas e moelas as-
sadas de galinha.
Os viajantes são oportunos em
abastecer a logística para garan-
tir o farnel da longa viagem.
“Quanto é a galinha?”, pergunta
um passageiro pela janela do au-
tocarro. “A coxa quente é 500
Kwanzas, a asa também”, res-
ponde Hityiwo, num português
com sotaque à Nyaneka.
A compra e venda acontecem
num ápice, que ninguém ques-
tiona o elevado número de crian-
ças envolvidas na zunga de car-
ne de galinha gentia ou de pro-
dutos agrícolas, como tomate,
cebola, batatas, repolho e outros.
Um olhar atento e uma con-
nuidade e carência para dinami-
zar o negócio.
À reportagem do Ventos do Sul,
Hityiwo revela que a carne é per-
tença de uma comerciante de chur-
rasco de galinha gentia, proprie-
tária de uma barraca no mercado
informal do “KM40”.
O adolescente, conta, aceitou
a proposta de trabalho da “patroa”
para ganhar entre 500 a mil Kwan-
zas, no fim de uma jornada que
começa logo ao amanhecer. “Acor-
dámos muito cedo para a apanhar
as galinhas, matar, depenar e de-
pois vender. Aqui tiramos di-
nheiro para comprar roupa e ou-
tro dar na mãe para comprar co-
mida”, explicam as crianças, que
há muito esqueceram o caminho
da escola.
GARIMPEIROS ARTESANAIS
As roupas estão rotas e sujas. Os
rostos cobertos de poeira. As
mãos abraçam a picareta, enxa-
das ou pás. Não precisam dizer
o que fazem ali na zona do Cris-
to Rei, no Lubango. São crianças
dos 12 aos 16 anos, já com espí-
rito de garimpeiros de inertes, pe-
dra e areias.
O negócio de exploração de
pedra e areia é lucrativo, quem
para a construção civil.
A poeira levantada pelas pica-
retas, pás e enxadas, confunde as
crianças e adultos envolvidos na
exploração artesanal de inertes na
localidade do Mundindi, no mu-
nicípio da Humpata.
A venda de pedras e areia mo-
vimenta milhões de Kwanzas,
com aumento de cidadãos inte-
ressados em construir a casa pró-
pria. Este facto motiva muitas
crianças a trocar a escola pelo
ofício.
A missão de adolescentes co-
mo João Manuel, de 12 anos, é jun-
tar carradas de areia ou pedra ven-
didas aos proprietários de ca-
miões basculantes. A actividade
serve para suprir as necessidades
da família.
José Pedro, de 13 anos, é uma
das poucas crianças que estuda,
num universo de 20 menores ga-
rimpeiros de pedra e areia na lo-
calidade de Mundindi. Ele sabe a
importância da escola, mas pre-
cisa trabalhar para comprar al-
guns materiais escolares.
COBRADORES DE HIACE
A actividade de cobrador de táxi
também é exercida por menores,
sob olhar impávido dos adultos
ser proibido, muitos automobi-
listas ainda insistem em contratar
crianças para a tarefa de cobran-
ça de valores aos passageiros.
Basta ir às paragens de táxi do
Tchioco, mercados informais João
de almeida e Mutundo para ver
crianças penduradas às portas das
viaturas a anunciarem as rotas. O
trabalho é atractivo e recebem a
remuneração no final do dia.
Gabriel Nunda, 16 anos, foi
flagrado a cobrar no táxi do tra-
jecto Tchioco-Arco-íris. Nunda,
que ajuda o irmão no serviço de
táxi, considera o trabalho “pesa-
do e cansativo”.
“Pensei que fosse fácil, afinal
não. Cobrar é muito difícil, por-
que tenho sempre de abrir e fe-
char a porta para os passageiros
subirem ou descerem. Já queria
desistir, mas o meu irmão me pe-
diu para aguentar só o dia de ho-
je”, rematou.
Também cobrador, Gomes Sil-
va, 16 anos, está no processo há
dois anos. Confessa que ganhou
o gosto pelo ofício, mas desacon-
selha outras crianças a seguirem
o mesmo caminho.“Ser cobrador
é um sacrifício que não aconselho
nenhuma outra criança a fazer es-
se trabalho”, disse.
obedecem com facilidade. Elas são
sinceras em relação ao valor, por-
que não roubam. Os adultos es-
condem dinheiro”, disse o taxis-
ta Domingos Pinto.
Miguel Jamba, 14 anos, vende
refrigerantes nos arredores do cen-
tro comercial Millenium, na ci-
dade do Lubango. Órfão de pai,
ele vive com o tio no bairro Sofrio.
Compra grades de gasosa para re-
vender a retalho, sem o conheci-
mento da mãe.
“De manhã vou à escola e à
tarde dedico-me à venda. O meu
tio sabe que vendo. Não sei se a
minha mãe sabe. Estou a vender
porque preciso de dinheiro pa-
ra comprar roupa e cadernos pa-
ra a escola”, justificou.
Mãe e filha, com bacia de ba-
nana à cabeça, deambulam ao re-
dor do mesmo centro comercial,
à procura de clientes. Aos 11
anos, Jorgina Ginga carrega à ca-
beça uma bacia com um peso
desmedido.
Joaquina Rosário, a mãe, reco-
nhece que o peso do produto é
exagerado para a idade da filha,
mas refere que ela deve ajudar en-
quanto, na medida em que as re-
ceitas da zunga vão servir para o
sustento da família.
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14 de Maio de 2019
9
Huíla
DOMINGOS MUCUTA EDIÇÕES NOVEMBRO

Kandengues do brilho
DOMINGOS MUCUTA EDIÇÕES NOVEMBRO

ELES SÃO PROCURADOS pelos lavar a sua motorizada. Na primeira

utentes de viaturas e motorizadas.
Ganharam até uma alcunha:
“Ndengues do brilho”. A luta pela
sobrevivência é uma das razões
apontadas pelos menores para
serem lavadores de carros
e motorizadas.
A reportagem do Ventos do Sul
descobriu vários locais, onde a
maioridade começa antes dos 18
anos. Na encosta do monte do
Cristo Rei, estrada da Tundavala, Rio
Nangombe, encontrámos várias es-
tações de serviço a céu aberto.
Pedro Mário, 14 anos, detém o di-
reito de ter sido o primeiro a apro-
veitar o charco do bairro Sofrio para
iniciar com o negócio da lavagem
de viaturas e motorizadas, que hoje
atrai muitas crianças.
“Bonga”, como é conhecido no
bairro, conta que a ideia surgiu de-
pois de um vizinho pedir-lhe para
lavagem, o garoto recebeu 20
Kwanzas, como recompensa pelos
serviços prestados. Depois foi só
comprar um balde, escovas e fral-
das para melhorar a qualidade do
serviço e aumentar o valor.
“Os meus amigos depois de
verem que estava a ganhar di-
nheiro, começaram também a tra-
balhar comigo. Hoje, muita gente
procura pelos nossos serviços e
cobramos entre 100 a 200 Kwan-
zas para as motos e 500 para car-
ros”, disse.
Manucho Java, 12 anos, aderiu
ao trabalho. Exerce a actividade há
um ano, mas não abdica da escola,
porque consegue conciliar a lava-
gem de carros com os estudos.
Este ano vai frequentar a 4ª classe.
Manucho explica que lava, em
média, seis a dez motorizadas ou
carros durante meio-dia.
NEGÓCIO Menores lavam carro para sobreviverem
DOMINGOS MUCUTA EDIÇÕES NOVEMBRO

EXPLORAÇÃO Actividade de cobrador de táxi é exercida por crianças, com a conivência dos motoristas dos “azuis e branco” e das autoridades
DOMINGOS MUCUTA | EDIÇÕES NOVEMBRO

Factores sociais
LUCAS DA GAMA, proprietário
de uma motorizada, disse que
muitas dessas crianças são filhos
de pais desempregados, que en-
contram na lavagem de veículos
a alternativa para ajudar nas
despesas da família.
Defende que os pais devem ser
responsabilizados pela exploração
de menores, na medida em que
aceitam que os filhos trabalhem
para sustentar a família e pede
uma reflexão profunda sobre a
condição social das famílias.
“O preço cobrado é acessível
e o trabalho muito bom. Sei que
estes rapazes ainda não têm
idade para trabalhar, mas muitos
deles tem anuência dos pais para
buscar alguns trocados. Já que o
emprego está difícil”, disse.
O director provincial do Insti-
tuto Nacional da Criança
(INAC) na Huíla, Abel Joaquim,
admite que condição de preca-
riedade e vulnerabilidade de
muitas famílias é uma das razões
que leva os pais aceitarem que os
filhos comecem a trabalhar
desde muito cedo.
Abel Joaquim lamenta o facto
de muitos adultos permitirem
que as crianças exerçam traba-
lhos pesados, sem ter em conta
as limitações físicas e psicológi-
cas das mesmas.
“Há ainda casos preocupantes
de exploração infantil. Lamenta-
velmente são os adultos que uti-
lizam as crianças como mão-de-
obra barata. Muito menores são
obrigados a trabalhar pelos pais
para ajudar nas despesas de
casa”, disse.
Abel Joaquim disse que o
INAC, em parceria com Co-
mando Provincial da Polícia Na-
cional, tem medidas para res-
ponsabilizar os infractores e
acções de sensibilização para
mostrar às famílias que o lugar
da criança é na escola
 10 Terça-feira,
14 de Maio de 2019

CUANDO CUBANGO
NICOLAU VASCO | EDIÇÕES NOVEMBRO

Fazedores de artes clamam por apoios

A província do Cuando Cubango conta com seis pequenos estúdios improvisados de produção musical,
onde os artistas pagam entre cinco a 15 mil Kwanzas para gravar um tema musical sem a qualidade exigida.

Carlos Paulino do Cubango. Já conquistou pré- Governo do Cuando Cubango en- a bater portas de várias empresas nador do Grupo Teatral Tunahete,
ventosdosul18@gmail.com mios em vários festivais nacionais vidarem esforços para a constru- privadas, para o lançamento do seu várias associações teatrais deixa-
de teatro. Paulo Rossango lembrou ção de centros culturais. primeiro trabalho discográfico. ram de existir por falta de condi-
que, em 2013, o malogrado escul- O músico sublinhou que, ape- ções financeiras e de salas de exi-

A
falta de apoios financeiros
e de salas de espectáculos
condiciona a realização de
mais actividades culturais
no Cuando Cubango, província on-
de os músicos, actores de teatro,
bailarinos, escritores e outros fa-
zedores de artes solicitam a pron-
ta intervenção do Governo, e da
classe empresarial, no sentido de
se inverter o quadro actual.
Em declarações ao jornal Ven-
tos do Sul, o chefe de departa-
mento de Artes e Acção Cultural
da Direcção Provincial da Cultura,
Paulo Rossango, disse que, por fal-
ta de apoios, muitos jovens talen-
tosos no domínio da música, dan-
ça, teatro, literatura e escultura, re-
sidentes na província, desistem do
sonho de alcançar o sucesso.
A Direcção Provincial da Cultura
do Cuando Cubango controla um to-
tal de 68 músicos, dos quais 29 estão
legalizados, oito grupos de teatro,
cinco grupos de danças tradicionais,
três escritores e igual número de poe-
tas e artesãos, duas bandas de mú-
tor José Mununga venceu o Pré-
mio Nacional de Cultura e Artes,
na categoria de artes plásticas.
“Isso só demonstra que, com
apoio dos empresários locais e de
outras instituições públicas e pri-
vadas será mais fácil descobrir jo-
vens talentosos em várias áreas da
cultura e artes na província”, disse.
O chefe de departamento de Ar-
tes e Acção Cultural disse que, sem
o apoio do empresariado, a cultu-
ra local empobrece ainda mais.
“Até para a realização de desfiles
do carnaval, os grupos enfrentam
sérias dificuldades na aquisição de
indumentárias”.
“Outra preocupação séria pren-
de-se com a falta de salas de es-
pectáculo musicais e para o teatro,
uma situação que condiciona a rea-
lização de grandes eventos na re-
gião”, disse o responsável, para
acrescentar que urge a necessida-
de de o Ministério da Cultura e o
MÚSICOS PROFISSIONAIS
Por falta de apoios, não existe na
província nenhum músico profis-
sional residente. O cantor General
Jafar salienta que, no Cuando Cu-
bango existem bons músicos, mas
que, infelizmente, não são conhe-
cidos no mercado nacional por fal-
ta de condições para a promoção
das suas músicas.
Com mais de 20 anos de carrei-
ra musical, General Jafar conse-
guiu colocar apenas um disco no
mercado, em 2013, graças ao apoio
do empresário Elias Piedoso Chi-
muco.
Neste momento, o cantor tem
12 faixas musicais gravadas para
a sua segunda obra discográfica.
Mas tem dificuldades em concre-
tizar o sonho, por falta de finan-
ciamento.
Considerado um dos melhores
artistas da província, Abias Cavuve
disse que está há mais de três anos
NICOLAU VASCO | EDIÇÕES NOVEMBRO
sar de ser o músico da província
que mais participou e venceu al-
guns concursos nacionais, não é ti-
do nem achado por parte dos ho-
mens de negócios da província.
A província conta com seis pe-
quenos estúdios improvisados de
produção musical, onde os artis-
tas pagam entre cinco a 15 mil
kwanzas para gravar uma música
sem a qualidade exigida.
“Os fazedores culturais no Cuan-
do Cubango só continuam a de-
senvolver as suas actividades, em-
bora muito timidamente, por amor
às artes e pelo desejo que cada um
tem de alcançar os sonhos nesse
domínio”, disse o cantor Abias Ca-
vuve, que está determinado em con-
tinuar a trabalhar para atingir o pa-
tamar mais alto da sua carreira pro-
fissional, elevando a cultura local.
GRUPOS TEATRAIS EXTINTOS
De acordo com o director e ence-
bição. João Daniel explicou, por
exemplo, que para o grupo que di-
rige exibir uma peça teatral, recorre
a sala de reuniões da escola 4 de
Fevereiro, na cidade de Menongue,
onde paga entre cinco a 10 mil
Kwanzas, valores que muitas ve-
zes não consegue angariar devido
a fraca adesão de pessoas ao local
do espectáculo.
“As pessoas não vão aos locais de
exibição de peças teatrais, porque as
salas não oferecem boas condições
de acomodação”, reconheceu.
O Grupo Teatral Tunahete exis-
te desde 2014 e conta com 27 inte-
grantes. Já beneficiou de alguns
prémios em vários festivais nacio-
nais de teatro. Em 2016, em Luan-
da, num evento em que participa-
ram grupos de renome como o Ju-
lu, Odeth Tavares e Horizonte
Njinga Mbandi, recebeu o galar-
dão de melhor actor na peça o “Tio
Herculano e os Vizinhos”.
NICOLAU VASCO | EDIÇÕES NOVEMBRO

sica e um artista plástico.

Paulo Rossango explicou que os
grupos teatrais e músicos realizam
espectáculos em locais improvisa-
dos, como salas de aula e de reu-
niões, quadras desportivas e quin-
tais de residências.
Apesar das dificuldades, os
agentes culturais dignificam o no-
me da província nos principais con-
cursos nacionais, com realce para
o músico Abias Cavuve, vencedor
do concurso Minha Estrela, da Te-
levisão Pública de Angola (TPA),
realizado em 2017, além do mesmo
ter ocupado o segundo lugar no Va-
riante de 2014 e 2017, e chegar a se-
mifinal do Unitel Estrelas ao Palco.
O grupo teatral Tunahete é ou-
tro orgulho da província do Cuan- PINTURA Jovens desistem do sonho por falta de condições DESEJO Cantores querem apoios para promover a sua arte
Terça-feira,
14 de Maio de 2019
11

PROJECTO DO EXECUTIVO

Cuito Cuanavale pode transformar-se

no local turístico mais belo de África
Carlos Paulino o miradouro apontado ao Triân-
ventosdosul18@gmail.com gulo do Tumpo, conta também
com o monumento do soldado
retractado por uma escultura em
para uma plateia de mais de 600 ção do memorial À Vitória da Ba- mero 02/18, de 22 de Março.
pessoas, uma biblioteca, dois blo- talha do Cuito Cuanavale a pa- O Triângulo do Tumpo foi ele-
cos reservados ao laser e 25 casas trimónio da humanidade. vado à categoria de sítio históri-
protocolares do tipo T-3, para aco- Para o efeito, o Ministério da co nacional em conformidade

O
Executivo angolano pre-
tende transformar o mu-
nicípio do Cuito Cuana-
vale, província do Cuan-
do Cubango, num dos melhores
pontos turísticos do continente
africano, tendo em conta o valor
histórico do local para a abolição
do regime do Apartheid, na Áfri-
ca do Sul, a independência da Na-
míbia e a libertação de Nelson
Mandela.
A construção do memorial À
Vitória da Batalha do Cuito Cua-
navale, que nos últimos dias tem
recebido a visita de importantes
delegações, e de turistas nacionais
e estrangeiros, serve de prova da
pretensão do Executivo, de trans-
formar o local que acolheu um
dos conflitos mais sangrentos da
história de África.
A primeira fase da imponente
infra-estrutura construída numa
área de 3,5 hectares, agrupa-se,
entre outros elementos, um con-
junto de escultórico na praça me-
morial, designadamente o Mo-
numento dos Soldados, Bandeira
da República, grupo escultórico
e a parede dos heróis, para eter-
nizar a grandeza e o sacrifício dos
milhares de angolanos que luta-
ram contra as tropas do regime
do Apartheid.
Logo à entrada do município
do Cuito Cuanavale salta à vista
o Monumento Bandeira postada
num edifício com cerca de 55 me-
tros de altura e mais de mil me-
tros quadrados de área útil, re-
vestido de pedras graníticas e vá-
rios elementos em bronze
caracterizada por uma arma do
tipo AKM, que a partir da alça de
mira, o visitante pode observar
com nitidez o Triângulo do Tum-
po, último reduto onde se desen-
rolaram encarniçados combates.
O edifício equivalente a um
prédio de 18 andares, além da ar-
ma envolvida pela bandeira com
bronze, ou seja, uma estátua com modação de turistas. No local, o Cultura já procedeu a entrega da com os poderes delegados pelo
cerca de 21,5 metros de altura e visitante pode desfrutar das pai- candidatura a UNESCO e, neste Presidente da República, João
110 toneladas de peso, e dois mi- sagens naturais que ilustram o ce- momento, estão a ser elaborados Lourenço, nos termos do artigo
litares das Forças Armadas Po- nário dos combates, considerados os inventários. O Triângulo do 137º da Constituição da Repú-
pular de Libertação de Angola em todo o planeta como alguns Tumpo, local que acolheu os úl- blica de Angola.
(FAPLA) que erguem bem alto o dos maiores depois da Segunda timos confrontos da Batalha do No mesmo Decreto Executivo,
mapa de Angola, simbolizando Guerra Mundial. Cuito Cuanavale e onde as FA- o Presidente da República orien-
a defesa da integridade territo- PLA impuseram uma pesada der- tou as entidades competentes da
rial do país. PATRIMÓNIO DA HUMANIDADE rota às tropas sul-africanas do re- administração local do Estado no
Noutro conjunto escultórico fei- Outro projecto que visa impul- gime do Apartheid, foi classifi- sentido de tomarem medidas pa-
to de bronze, num espaço de 50 sionar o turismo no município cado como sítio histórico nacional ra a efectiva protecção e valori-
metros de comprimentos, está do Cuito Cuanavale, é a eleva- à luz do Decreto Executivo nú- zação do património em causa.
gravado os três momentos se- NICOLAU VASCOL | EDIÇÕES NOVEMBRO
quenciais da Batalha do Cuito
Cuanavale, nomeadamente o
momento que retrata a concen-
tração das unidades militares
das FAPLA, a caminhada rumo
à vitória e em defesa da vila fra-
cassada à tentativa de ocupação
de Mavinga e Jamba, localidades
que eram os principais alvos a
abater durante a operação “Sau-
demos Outubro” das FAPLA.
A parede dos heróis ocupa
uma faixa de 75 metros de com-
primentos, cujas esculturas tam-
bém fabricadas em bronze sim-
bolizam quatro momentos prin-
cipais: a homenagem aos
militares das FAPLA, a educação
patriótica, guerra, destruição e
sofrimento do povo do Cuito
Cuanavale, e a firmeza e deter-
minação dos angolanos na vitó-
ria.
Muito próximo do memorial
está o museu a céu aberto, onde
está exposto todo o material bé-
lico usado pelas FAPLA durante
os combates, com realce aos tan-
ques de guerra BMP-1 e 2, peças
de artilharias de 130, D-30 e 76
milímetros, aviões de combate do
tipo Mig-23 e 21, peças antiaéreas
ZU-23, metralhadoras do tipo
PKM e outros equipamentos mi-
litares usados durante a ofensiva
das tropas governamentais.
No recinto foi ainda construí-
do uma vasta sala de conferências

Parque Temático
O EXECUTIVO prevê construir
no Triângulo do Tumpo, um Par-
que Temático, que será implan-
tado numa área de cerca de sete
mil hectares ao longo das mar-
gens dos rios Cuito e Cuanavale.
A imponente infra-estrutura
vai contar com zonas de exposi-
ção de armamento usado duran-
te a Batalha, restaurantes, esta-
belecimentos comerciais, unida-
des hoteleiras, piscinas, carrosséis,
escorregas, montanha russa, e ou-
tras estruturas.
O local onde vai ser construí-
do o Parque Temático tem um sis-
tema ecológico intacto, com real-
ce para os recursos florestais, fau-
nísticos e hídricos, que são as
Parque Temático de referência in-
ternacional em Angola, infra-es-
trutura que vai permitir explicar
às novas gerações, a partir de equi-
pamentos militares expostos, o es-
pírito de resistência, coragem, de-
terminação e superação que os an-
golanos tiveram na conquista da
Batalha do Cuito Cuanavale, con-
tra o regime do Apartheid da Áfri-
ca do Sul. O término do processo
de desminagem levado a cabo pe-
lo Instituto Nacional de Desmi-
nagem (INAD) e pela Brigada de
Engenharia Militar condicionam
o arranque dos trabalhos de cons-
trução do Parque Temático.
SEDE DO KAZA
próximos tempos é a construção
da sede da Área Transfronteiriça
de Conservação Kavango/Zam-
beze (ATFC/Kaza).
Em Agosto de 2013, o antigo
ministro da Hotelaria e Turismo
e actual governador provincial
do Cuando Cubango, Pedro Mu-
tindi, procedeu, no município do
Cuito Cuanavale, ao lançamento
da primeira pedra para a cons-
trução do edifício, numa área de
2.600 metros quadrados.
O Parque Temático terá dois
pisos, uma sala de conferências,
escritórios, agências de turismo,
biblioteca, cozinha, refeitório, par-
que de estacionamento para mais
de 50 viaturas, entre outros com-
partimentos. As obras não ar-
rancaram até agora por falta de
recursos financeiros.
Por não assinar ainda o Trata-
do do Kaza/ATFC, Angola tor-
nou-se o único dos cinco países
babwe, sem acesso aos cerca de
15,5 milhões de euros alocados
anualmente por um grupo de
doadores internacionais, para a
construção de infra-estruturas de
conservação ambiental.
A componente angolana abran-
ge uma área de 87 mil quilóme-
tros quadrados da província do
Cuando Cubango, concretamen-
te nos municípios do Cuito Cua-
navale, Dirico, Mavinga e Ri-
vungo, localidades que conti-
nuam a ser das menos
desenvolvidas do país, sobretu-
do nos domínios da hotelaria, te-
lecomunicações, estradas e ener-
gia e águas.
Com uma população estima-
da em 38 mil e 588 habitantes, o
município do Cuito Cuanavale
beneficiou, desde a conquista da
paz em 2002, a reabilitação e am-
pliação do aeroporto 23 de Mar-
ço, 189 quilómetros de estrada, a
tável, uma central térmica de 7,5
megawatts, um centro médico,
seis postos de saúde e mais de
dez escolas.
A localidade recuperou nos úl-
timos tempos a fazenda agro-in-
dustrial do Longa, destinada a
produção de arroz em grande es-
cala, asfaltagem das ruas da sede
municipal, um palácio e o edifí-
cio da administração local do Es-
tado, construção de seis pontes
sobre o rio Cuito e duas sobre os
rios Longa, Luassingua e Sovi, 65
residências sociais do tipo T3 e
30 casas para os idosos.
O município conta com uma
agência do Banco de Poupança e
Crédito (BPC), Balcão Único de
Empreendedor (BUE), loja de re-
gisto civil, pavilhão de artes e ofí-
cios, um armazém comunitário,
uma hospedaria, um restaurante,
estabelecimentos comerciais, en-
tre outras infra-estruturas.

Carlos Paulino
bases fundamentais da constru- Outro ganho que o município do membros, nomeadamente o Bots- construção de uma central de cap-
ção daquele que será o primeiro Cuito Cuanavale poderá ter nos wana, Namíbia, Zâmbia e Zim- tação e distribuição de água po-
 12 Terça-feira,
14 de Maio de 2019

CUNENE

Domingos Calucipa
EDIÇÕES NOVEMBRO

ventosdosul18@gmail.com

seca que afecta quase toda

A a extensão da província do
Cunene, desde o início da
época chuvosa do ano passado, já
causou prejuízos incalculáveis aos
criadores de gado e está a alterar
o modo de vida de milhares de pes-
soas forçadas a abandonar as suas
zonas de origem.
Dados provisórios do Gover-
no do Cunene indicam que, desde
Fevereiro último, já morreram
mais de 26 mil cabeças de gado bo-
vino nos municípios de Curoca,
Cahama, Namacunde, Cuanhama
e Ombadja e outras 900 mil correm
o risco de terem o mesmo destino
por falta de água e pasto.
Os números não se resumem
apenas no gado. mais 178.488 fa-
mílias, num total de 857.443 pes-
soas de 436 localidades dadas co-
mo criticas, correm risco de mor-
rer, devido a fome e a seca.
Devido a falta de chuvas regula-
res, os camponeses não conse-
guissem lançar as sementes a ter-
ra e a que foi lançada não ger-
minou. Os stocks alimentares
resultantes da campanha agríco-
la anterior também já acabaram,
o que faz com que muitas famí-
lias entrem em desespero, já que
não encontram outras fontes pa-
ra o seu sustento.
Alunos e professores deixa-
ram deixaram de ir à escola de-
vido à fome e a escassez de água.
Nove escolas do meio rural fo-
ram o encerradas e um total de ESCASSEZ Quimbos inteiros estão a fechar e os habitantes estão a se deslocar para os municípios em busca de água

276 outras, com 54.490 alunos ma-
triculados, também arriscam-se
a fechar, devido ao elevado nível
de absentismo da população dis-
cente, que tem estado a trocar as
aulas pela procura de condições
de sobrevivência, tanto para si
como para o gado.
Dos municípios chegam rela-
tos de quimbos inteiros a fecharem
porque os seus habitantes estão a
se movimentar para as sedes mu-
nicipais ou comunais onde en-
contram as mínimas condições de
água para as suas necessidades. O
mesmo cenário se regista na cida-
de de Ondjiva, onde criadores de
gado das aldeias circunvizinhas
encontram algumas condições de
pasto e água.
O criador de gado José Tilein-
ge trouxe a sua manada da locali-
dade de Oifidi, a quinze quilóme-
tros de Ondjiva, para salvar aque-
le que é tido como o seu “tesouro”,
depois de ter perdido três cabeças
devido a falta de pasto e água na
sua zona.
Devido a situação de extrema
vulnerabilidade humana e animal,
o Presidente da República, Joao
Lourenço, que visitou as zonas
afectadas pela seca nas províncias
do Namibe e do Cunene, declarou
estado de calamidade natural e de
emergência na região sul do país.
Medidas de mitigação
O Governo do Cunene já começou
a colocar em prática as medidas
de emergência que visam acudir
as principais zonas afectadas pela
calamidade. O Executivo central
já disponibilizou 3.988.166.000 de
kwanzas para fazer face a situaçao.
Com esse dinheiro, as autoridades
locais adquiriram vinte camiões
cisternas com capacidade de vin-
te mil litros para serem distribuí-
dos em igual número de comunas.
Está ainda em curso a recuperação
de sete camiões cisternas de mar-
ca Iveco, com a mesma capacida-
de, do Serviço de Protecçaão Civil
e Bombeiros, que se encontram
Seca ameaça dizimar
a população e o gado
avariados, para permitir o abaste-
cimento regular de água às popu-
lações, assim como a aquisição de
cem reservatórios plásticos de dez
mil litros cada, a serem fixados nas
comunidades para a população e
o gado, visando reduzir as dis-
tancias que percorrem em busca
do liquido.
A verba prevê igualmente a re-
cuperação de 168 furos de água
inoperantes na província, a aqui-
sição de dois camiões todo terre-
no para carga destinados a atingir
as localidades de difícil acesso,
aquisição de vinte tractores equi-
pados com cisternas de cinco mil
litros a serem distribuídos em to-
das as comunas.
Outro fim é o aluguer de ca-
minhões de longo curso para
apoiar os criadores de gado na
transformação dos seus rebanhos
para as zonas de transumância, on-
de estão a ser criadas as condições
infraestruturais de apoio a vaci-
nação, currais de retenção, farmá-
cias veterinárias e de fornecimen-
to de feno.
Nesta altura, a província con-
ta apenas com três camiões cister-
nas da Protecçaão Civil e outros
onze afectos as empresas ligadas
a reabilitação de estradas da pro-
víncia, que estão a ajudar no for-
necimento de água ás populações,
sobretudo na via Ondjiva/Evale.
Estão também a ser colocados 58
tanques plásticos de cinco e dez
ESTADO DE CALAMIDADE
mil litros para a criação de pontos de bens diversos. Do Ministério quinze mil toneladas de feijão, 1.500
de convergência e abastecimento da Agricultura e Floresta vieram toneladas de sal, 30.837 de soja,
de água para reduzir as distâncias. 200 atados de feno de 400 quilo- 10.289 de óleo alimentar, entre ou-
gramas cada para o gado, 5.400 ata- tros produtos para acudir a situaçao
Mais apoios dos de feno de 25 kg cada, mil qui- da seca.
Alguns apoios em bens de consu- los de farelo granulado, 500 tone- O ministro da Agricultura e Flo-
mo começaram já a chegar a pro- ladas de sal comum, 150 toneladas resta, Marcos Nhunga, anuncoiou
víncia, embora ainda de forma tí- de milho em grão e dez kits de ma- que a União Europeia disponibili-
mida. A AJAPRAZ fez a entrega terial veterinário composto por car- zou 7.500 euros para a abertura de
de 76 toneladas de bens de pri- racidas. 15 furos de água, reabilitação de
meira necessidade, enquanto que O governador do Cunene, Vigí- igual número de manga de vacina-
o Ministério da Acção Social Fa- lio Tyova, disse que a província pre- ção e a aquisição de vacinas.
mília e Promoção da Mulher en- cisa 61 mil toneladas de massango, *Quintito Kanhameni
viou para o Cunene 21 toneladas igual quantidade de milho e arroz, *Albino Hitotonanye
MEIOS PARA FUROS
UMA EQUIPA do núcleo de Águas Subterrâneas águas para a acudir a população do fenómeno
do Ministério da Energia e Água se encontra há três seca que assola à província.
semanas na província, acompanhada de meios pa-
ra dar início aos trabalhos de abertura de 128 no- SOLUÇÕES PARA A SECA
vos furos de água, assim como, a recuperação dos Um total de 200 mil milhões de dólares foram dis-
avariados, no âmbito do Programa de Emergências ponibilizados pelo Governo Central para a cons-
de iniciativa Presidencial para o Cunene, com vis- trução de três barragens hídricas e um conjunto de
ta a minimizar os problemas resultantes da seca que canais adutores que vão levar água a diferentes lo-
assola a região. calidades da província com problemas de seca, com
Dos meios disponibilizados pelo Ministério da destaque para Cuamato, Namacunde, Ndobodola,
Energia e Águas, constam uma máquina perfura- Mupa, Embudo e Ondjiva. As infra-estruturas
dora com capacidade instalada para 300 metros de vão ser erguidas nas zonas de Kafu, sobre o rio
profundidade, uma compressora e um camião cis- Cunene, município de Ombadja, Caculucuve e
terna. O equipamento vai permitir a abertura entre Nduve, no Cuvelai, cujo concurso publico para
um a dois furos em quinzedias. O director Nacio- as obras já foi lançado recentemente pelo Minis-
nal das Águas, Lucrécio Costa, sublinhou que, ape- tério da Energia e Águas. O financiamento desti-
sar dos meios disponibilizados revelarem-se insu- na-se igualmente para a construção de 89 represas
ficientes, acredita que vão contribuir significativa- em várias localidades, que vão ser alimentadas pe-
mente na árdua tarefa de recuperação dos furos de los canais de água que vão sair das barragens.
Terça-feira,
14 de Maio de 2019
Cunene
DESCASO O centro nunca beneficiou de obras de reabilitação desde que foi construído na década 70 e apresenta várias fissuras nas paredes
à espera de reabilitação
Elautério Silipuleni
ventosdosul18@gmail.com
O
Centro de Leprosaria de
Oifidi, cinco quilóme-
tros a norte de Ondjiva,
província do Cunene, ca-
rece de reabilitação urgente, de-
vido o seu estado avançado de
degradação. Construído na dé-
cada de 70, o centro nunca be-
neficiou de obra de reabilitação.
Os sete escombros que com-
põe o centro, nomeadamente o
posto médico e as residências,
apresentam várias fissuras nas
paredes, abertura nos tectos e au-
sência de portas e janelas.
O posto médico funciona em
condições impróprias, com o ris-
co iminente de desabar, o que ob-
riga, no período chuvoso, a in-
terrupção dos trabalhos, dada a
penetração de grandes quanti-
dade de água a partir do tecto.
O posto é assegurado por única
enfermeira.
O responsável do Centro,
Isaias Gabriel, disse que o local
não oferece condições para aco-
modar os doentes que ali se en-
contram. Salientou que os es-
combros podem desabar a qual-
quer altura. “Cada dia que passa,
as paredes vão se degradando,
o que acarreta risco para nós ”,
lamentou.
ARREDORES DE ONDJIVA
Leprosaria de Oifidi
UM TOTAL de 13 novos casos de
lepra foram notificados nos mu-
nicípios do Cuanhama e Om-
badja, revelou ao Ventos do Sul
a supervisora provincial de Le-
pra e Tuberculose, Ricardina Ma-
ria Assunção.
O surgimento de novos casos
preocupa as autoridades sanitá-
rias da província do Cunene.
Acrescentou que neste momen-
to são controlados um total de 36
doentes, destes 24 estão interna-
dos nos centros de tratamento de
Oifidi, em Ondjiva, e outro no
Hospital da Missão Católica do
Chiulo, no município de Om-
badja, e outros recebem trata-
mentos ambulatórios.
A supervisora disse que pa-
ra reduzir a propagação da doen-
ça, a direcção da Saúde, realiza
palestras sobre lepra nas comu-
nidades para fazer o rastreio e,
O cenário é de tristeza nos
rostos dos doentes. Além de não
oferecer as mínimas condições
de acomodação, os doentes quei-
xam-se ainda de serem excluí-
dos pelos seus familiares e pela
sociedade.
NOVOS CASOS
em caso positivo, encorajam as
pessoas aderir ao tratamento,
bem como divulgação na rádio
local dos principais sintomas da
doença.
Ricardina Maria defendeu
a necessidade da realização da
campanha de educação à po-
pulação, com vista a cultivar o
hábito de higiene da pele, por-
que a falta de asseio pessoal
contribui para o surgimento da
doença.
A supervisora disse que o cen-
tro oferece tratamento ambula-
tório a doentes com lepra, nas co-
munidades, e assistência social
a antigos doentes que ali residem
por não terem apoio das famílias.
A lepra é uma doença con-
tagiosa transmitida por gotícu-
las de saliva, os primeiros sin-
tomas demoram entre dois a cin-
co anos para manifestar. O
“Só aqueles que lhes garan-
tem os tratamentos os encaram
como seres humanos”, desaba-
fou o responsável da leprosaria.
Isaías Gabriel disse que mui-
tos doentes são abandonados pe-
los seus parentes pelo facto de
portador de hanseníase apre-
senta sinais e sintomas derma-
tológicos e neurológicos que fa-
cilitam o diagnóstico.
A doença, que atinge pessoas
de todas idades, pode causar in-
capacidade ou deformidades,
quando não tratada a tempo, mas
tem cura.
O bacilo "Mycobacterium le-
prae" é eliminado pelo apare-
lho respiratório da pessoa doen-
te na forma de aerossol duran-
te o acto de falar, espirrar, tossir
ou beijar.
Quase sempre ocorre entre
contactos domiciliares, geral-
mente por indivíduos que dor-
mem no mesmo quarto. A con-
taminação faz-se por via respi-
ratória, pelas secreções nasais ou
pela saliva. A incubação, explica
por que motivo a doença se de-
senvolve mais em adu
apresentarem deformações no cor-
po, o que contribui de forma ne-
gativa na recuperação da maioria
dos enfermos.
Ele apontou como dificuldades
a falta de alimentação, medica-
mentos e latrinas. Acrescentou que
13
a instituição acolhe mais de 24 pes-
soas, a destacar dois anciãos que
vivem no local há mais de duas dé-
cadas, abandonados por seus pa-
rentes durante o tratamento.
Tutelado pela Direcção Pro-
vincial da Reinserção Social, o lo-
cal acolhe também alguns idosos
retirados das ruas e outros aban-
donados por familiares à porta
do lar. Segundo o seu responsá-
vel, a instituição nunca beneficiou
do orçamento do Governo, de-
pendendo exclusivamente de doa-
ções de algumas igrejas e orga-
nizações não-governamentais.
O governo da província do Cu-
nene construiu, em 2007, no local,
cinco residências de pau-a-pique,
cobertas de chapas, para realojar
as famílias ali residentes e possi-
bilitar a reabilitação das antigas,
mas por falta de dinheiro até ago-
ra não se registou nada.
“Estamos como se estivés-
semos ao ar livre, porque as nos-
sas moradias não oferecem con-
dições, penetra água quando cho-
ve, estamos a passar mal com o
frio e poeira, o salalé também to-
mou conta dos paus das casas”,
lamentou.
O centro beneficiou de vários
donativos das igrejas Católica,
Universal do Reino de Deus e
União, consubstanciados em ves-
tiário e bens alimentares.
 Terça-feira,
14 de Maio de 2019
Namibe
SIDA
João Upale
ventosdosul@gmail.com
O
aumento da taxa de pre-
valência do VIH–Sida na
comuna do Lucira, muni-
cípio de Moçâmedes, preo-
cupa os responsáveis do sector da
saúde na província do Namibe. O
administrador do centro de saúde
local, Ângelo Mbundiekenha, dis-
se ao Jornal de Angola que, no ano
passado, a sua instituição registou
78 casos de infecção, dos quais 16
resultaram em óbitos.
“Neste momento estão a ser as-
sistidos 62 casos, que envolve na sua
maioria jovens com idades com-
preendidas entre os 15 e 35 anos. Es-
tamos preocupados, porque o qua-
dro aumenta a cada dia que passa”,
disse o responsável, para acrescen-
tar que a juventude do Lucira está a
ser sensibilizada a descobrir o seu
estado serológico, fazendo o teste de
HIV/Sida no Centro de Análises e
Testagem Voluntária (CATV) em fun-
cionamento na comuna.
Tendo em conta a boa adesão de
cidadãos, Ângelo Mbundiekenha
considera positiva a resposta dada
pelos populares às campanhas de
sensibilização realizadas regular-
mente na localidade. Quando ao tes-
Lucira regista muitos
casos de infecção
por VIH
tado for determinada a seropreva-
lência positiva, dá-se logo início à te-
rapia anti-retroviral, para tratamen-
to e tentativa de eliminação, do or-
ganismo, do retrovírus,
principalmente quando se trata de
uma gestante.
Ângelo Mbundiekenha apontou
como medidas eficazes para a pre-
venção da doença, a fidelidade, abs-
tinência e uso de preservativos. “Ca-
da um de nós está sujeito a contami-
nar-se. No entanto, é importante que
as pessoas, sobretudos os jovens, aca-
tem este conselho”, apelou.
OUTRAS PATOLOGIAS
As diarreias agudas, febre tifóide e
doenças respiratórias agudas são
muito frequentes na localidade. Mas
a malária continua a ser a principal
causa de morte entre os habitantes
da comuna do Lucira.
No primeiro trimestre do ano pas-
sado foram registados 2.500 casos da
doença e, no terceiro, o número de
assistidos subiu para mais de 4.500.
Ângelo Mbundiekenha explicou que
a propagação da malária tem a ver
com o não uso de mosquiteiros im-
pregnados.
“Muita gente recebe, “Muita gente recebe, gratuita-
mente, mosquiteiros para se preve-
gratuitamente, nir da picada do mosquito, o prin-
mosquiteiros cipal transmissor da malária, mas
para se prevenir prefere usá-lo como rede para apa-
nhar peixes”, acusou.
da picada do O administrador do centro de
mosquito, o principal saúde do Lucira, Ângelo Mbundie-
kenha, esclarece que os casos de diar-
transmissor da reias agudas registados frequente-
malária, mas prefere mente na localidade resultam do pés-
usá-lo como rede simo saneamento básico nas
comunidades. Para se evitar o pior,
para apanhar acrescenta o técnico de saúde, o sec-
peixes”, acusou. tor envolve as igrejas e escolas nas
campanhas de sensibilização da po-
pulação local. “Temos medicamen-
14
| EDIÇÕES NOVEMBRO
tos em quantidades satisfatórios pa-
ra apoiar a nossa população”, disse.
Com uma capacidade de inter-
namento para 32 pacientes, o centro
do Lucira funciona com 25 traba-
lhadores, sendo um médico, oito en-
fermeiros e dois técnicos de labora-
tórios, além de auxiliares de limpe-
za, responsáveis administrativos e
motoristas.
A sala de partos do centro conta
com três marquesas, o mesmo nú-
mero de camas na sala pós-parto e
mais quatro na enfermaria da ma-
ternidade. Em termos de infra-es-
trutura física, a unidade sanitária em
funcionamento no Lucira, município
de Moçâmedes, carece de obras de
ampliação, para melhor acomodar
os pacientes. “A comuna conta ac-
tualmente com 8.714 habitantes e, por
essa razão, urge toda a necessidade
de se reabilitar e ampliar o centro,
que precisa de mais 15 enfermeiros
para melhorar a cobertura da rede
sanitária na localidade”, justificou.
À noite, o centro fica às escuras.
O único gerador que fornecia cor-
rente eléctrica avariou. Para mi-
nimizar a situação, enfermeiros e
pacientes utilizam fontes de ilu-
minação, como lanternas, can-
deeiros à pilha e a petróleo, tele-
móveis, e outros meios.
Terça-feira,
14 de Maio de 2019
15
Huíla

Benigno Narciso
ventosdosul18@gmail.com
UM CLUBE COM HISTÓRIA

7 de Maio de 1998, um
Desportivo da Huíla movimenta
A grupo de oficiais supe-
riores, subalternos, sol-
dados e trabalhadores ci-
vis afectos à Região Militar Sul,
liderados pelo general Francisco multidões na região Sul
Furtado, criou o Clube Desporti-
vo da Huíla (CDH).
Decorridos 21 anos, o emble-
ma é hoje uma potência na região
sul, sendo considerado um “tom-
ba-gigantes”, dado os triunfos e
dificuldades que os chamados

ARIMATEIA BAPTISTA | EDIÇÕES NOVEMBRO

clubes grandes como o 1º de
Agosto, Petro de Luanda, Inter-
clube e Kabuscorp encontram
quando jogam com os “militares”
da Frente Sul.
O CDH tem se destacado com
classificações honrosas no Cam-
peonato Nacional da Primeira Di-
visão, vulgo Girabola Zap e na Ta-
ça de Angola. Os bons resultados
são uma aposta em bons jogado-
res e nas camadas de formação,
como via de sustentação e lança-
mento de jovens talentos que, for-
mados nas escolas do clube, im-
põem-se na equipa principal e des-
pertam a cobiça dos grandes onde
se afirmam e deixam a sua marca.
Após o período embrionário,
o clube segue a sua consolidação.
Participou pela primeira vez em
2001 no Campeonato Nacional de
Futebol da Segunda Divisão, que
apura anualmente três equipas
para o Girabola Zap. O clube al-
cançou o pleno e conseguiu o apu-
ramento para participar pela pri-
meira vez no Girabola, em 2002.
O director administrativo e fi-
nanceiro do clube, Ezequias Do-
mingos, considera que, apesar das
vicissitudes que o clube atraves-
sou desde a sua fundação, os ob-
jectivos que nortearam a sua cria-
ção continuam firmes.
“Tem sido um percurso bom e,
neste momento, é a maior refe-
rência desportiva da província em
todas modalidades, principal-
mente na de futebol”, referiu.

PALMARÉS
A participação inédita do Des- OSSO DURO DE ROER Desportivo da Huíla tem sido um adversário difícil quando joga no seu reduto
portivo da Huíla nas Afrotaças,
em 2014, constitui o ponto mais
alto do clube. A formação huila-

Oferta de equipamento
ARIMATEIA BAPTISTA | EDIÇÕES NOVEMBRO
na superou na primeira elimina-
tória de acesso à fase de grupos,
o CF Mounana do Gabão. Com es-
se feito, a equipa alcançou a se- A PERSISTÊNCIA na fina flor do Ademar Manuel, num acto que
gunda fase da competição africa- futebol nacional constituiu um dos contou com a presença do téc-
na onde foi eliminada pelo Bi- motivos para a Omatapalo, uma nico principal do Desportivo da
zertim da Tunísia. empresa do ramo da construção Huíla, Mário Soares, e seus adjun-
Ao nível do Girabola Zap, o civil, oferecer material desportivo tos, membros de direcção, repre-
clube alcançou o sexto lugar em ao clube militar da Frente Sul. sentantes de clubes federados lo-
2006, com o técnico Agostinho Tra- Orçado em 60 mil euros, o cais, jornalistas e convidados.
magal no comando e, em 2013, material é composto por chutei- Na ocasião, Carlos Manuel, di-
com Mário Soares, foram eleitos ras, meias, bolas, camisolas, sa- rector-geral do Clube Desportivo
patilhas, coletes, vestuário de da Huíla, agradeceu a oferta e real-
revelações da prova.
apoio, chinelos, quistos, camiso- çou que a oferta vem suprir as
Os “militares” da região sul fo- las térmicas, camisas de manga, enormes carências da equipa. Com
ram finalista vencido da Taça de fatos treinos, pólos, calções im- o mesmo, acrescentou, o clube dis-
Angola por duas ocasiões, curio- permeáveis e chapéus. põe agora de material desportivo
samente frente ao mesmo adver- O gesto, enquadrado no âm- para as duas próximas épocas.
sário (Petro de Luanda), em 2002, bito de um protocolo assinado “Temos equipamento para
no ano de estreia no Girabola, e entre a empresa e o clube, con- pelo menos mais duas épocas.
em 2013. templou também a entrega malas É material de boa qualidade”,
O CDH ocupou a sétima e sex- médicas, recipientes, toalhas, agradeceu.
ta posições respectivamente no luvas de guarda-redes, sacos, Carlos Manuel acredita que o
malas, trolley, galhardetes, braça- gesto representa também um
Girabola Zap 2017 e 2018. O úni-
deiras e cachecóis. factor de motivação para os atle-
co representante da província no A entrega do equipamento tas, equipa técnica e direcção na
Girabola Zap define como objec- desportivo foi feita pelo assessor luta pela busca e melhoria dos
tivo principal melhorar a sexta
posição obtida em 2018.
EQUIPAMENTOS Clube tem mais alternativas de administração da Omatapalo, objectivos definidos.
 JORNAL DA REGIÃO DA HUÍLA, NAMIBE,
CUNENE E CUANDO CUBANGO
ÚLTIMA
Domingos Calucipa
ventosdosul18@gmail.com
A
população residente
fronteiriça da provín-
cia do Cunene, enfren-
ta imensas dificulda-
des no acesso ao dólar nami-
biano e o rand sul-africano.
Para trás ficaram os tempos em
que era fácil comprar as duas
moedas pelas ruas e bancos co-
merciais de Santa Clara, Nama-
cunde, Ondjiva, Calueque e
Xangongo.
Como solução, a população
desloca-se diariamente a Repú-
blica da Namíbia para adquirir
o dólar local e o rand sul-africa-
no. A Namíbia é tida como des-
tino obrigatório para compra de
bens alimentares, vestuário, ar-
tigos do lar e assistência médica
e medicamentosa.
Hamilton Moreira aplaude a
decisão do Executivo de acabar
com a venda ilegal de divisas na
via pública, na medida em que
veio melhorar a imagem de mui-
tos espaços públicos. No entanto,
considera que era necessário criar
condições para facilitar o acesso
às divisas nas casas de câmbio e
bancos comerciais.
"Quem se desloca à Namíbia,
para compras ou tratamento mé-
dico, precisa de dólares nami-
bianos para pagar as consultas
e os medicamentos receitados”,
frisou o comerciante.
Devido a grande procura, a
nota de 100 dólares namibianos,
que antes comprada a 2.300
kwanzas na rua, passou a ser
vendida a 2.800 kwanzas.
Morador de Santa Clara,
Anastácio Kevela entende que
o Executivo, ao tomar a medida
de combater a venda de divisas
nas ruas, devia ter em conta a
população residente nas zonas
O
Cuando Cubango rece-
beu, entre Janeiro e No-
vembro de 2018, dois mil
milhões de kwanzas, dos quatro
inicialmente previstos, para a
implementação do Plano Inte-
grado de Desenvolvimento Lo-
cal e Combate à Pobreza (PIDLCP),
revelam dados do Governo da
província.
Os dois mil milhões foram di-
vididos entre os nove municípios
da província, designadamente Me-
nongue (251 milhões), Cuchi (295
milhões), Cuito Cuanavale (329
milhões), Rivungo (305 milhões),
Dirico (280 milhões), Nancova
(243 milhões), Calai (300 milhões),
Mavinga (339 milhões) e Cuangar
(235 milhões de Kwanzas).
Este valor serviu para a cons-
trução de escolas, postos de saú-
de, furos de água, chafarizes, dis-
tribuição de merenda escolar, en-
tre outras acções sociais de apoio
às comunidades rurais.
O relatório refere que a falta
de meios técnicos, de transpor-
tes, bem como, o atraso na cabi-
mentação das ordens de saque
do Tesouro Nacional para as
contas das empreiteiras, invia-
bilizou a conclusão de algumas
População fronteiriça
quer facilitação
no acesso aos cambiais
fronteiriça, que no caso do Cu-
nene depende muito das regiões
de Oshikango, Oshakati e ou-
tros pontos da Namíbia, para
sobreviver.
O jornal Ventos do Sul per-
correu alguns pontos de venda
informal de moeda estrangeira
em Ondjiva e notou a ausência
de kinguilas. O cenário é o mes-
Cuando Cubango recebe
menos verbas para
o combate à pobreza
acções, o que fez com a comis-
são do PIDLCP realizasse ape-
nas a supervisão dos trabalhos
nos municípios de Menongue,
Cuchi e Cuito Cuanavale.
OUTROS PROJECTOS
O plano quinquenal 2018-2022
tem como prioridade o estanca-
mento das ravinas, construção
CUNENE
mo em Santa Clara, onde já não
se regista o aglomerado de jo-
vens a exibirem notas para cha-
mar atenção dos clientes.
Odilia Ndapewa, que cons-
tantemente se desloca a Namí-
bia para tratamento médico, re-
vela que tem usado, às escondi-
das, os serviços de uma kinguila
para obter as divisas. ma situa-
ORÇAMENTO REDUZIDO
de estradas e pontes nos princi-
pais eixos rodoviários de acesso
às sedes municipais e comunais.
As administrações munici-
pais são orientadas a redobra-
rem esforços no sentido de me-
lhorar a prestação de serviço
nas unidades sanitárias, tendo
em conta que os serviços de
saúde a nível do Cuando Cu-
Terça-feira, 14 de Maio de 2019
ção de saúde. Confessa que já
contactou um dos bancos comer-
ciais de Ondjiva para ter acesso
às divisas através do cartão de
credito, mas lhe foi solicitado o
bilhete de passagem, o visto no
passaporte, a compra no míni-
mo de dois mil euros, além dos
motivos da viagem, que devem
ser de doença, serviço e outros.
bango, ainda apresentam um
quadro preocupante que tem
resultado no elevado índice de
internamento de pacientes e de
mortes hospitalares.
Neste período, serão construí-
dos 50 sistemas de abastecimento
de água, equipados com reserva-
tórios de água, balneários, lavan-
darias e chafarizes. WEZA PASCOAL
Número 3 • Ano 0
ASSOBIO
DO DESERTO
CACIMBO MADRUGADOR
EM ANO DE SECA
O mês de Abril deste ano só tinha
chegado ao meio, mas o frio por cá
já estava a dar. Era de se esperar.
Dizem os “mais-entendidos” na
matéria que quando chove pouco e
o calor aumenta, é porque o
cacimbo vai vir mais cedo, e a doer.
Por essa altura, ainda nem estamos
na data “oficialmente” declarada para
a mudança de estação, mas todos os
moradores de Moçâmedes e
arredores já tiraram as mantas e os
casacos das malas, e algumas mães
já estão preocupadas com as gripes
e tosses que apanham as crianças
nas brincadeiras. Quando chegarem
então os ventos do leste é que as
coisas vão ficar mesmo feias.
Este ano não choveu tanto como no
ano passado. De facto, 2018 foi um
ano bom para as populações
pastorícias e camponesas que
compõem uma grande parte do
mosaico étnico-cultural da província
do Namibe. Choveu bem, a ponto de
se temer uma vaga de cheias, como
a que ocorreu em 5 de Abril de 2001
ou a de 4 de Março de 2011, que
infelizmente foram catastróficas.
Entretanto, não houve cheias, apesar
de alguns bairros, como o dos
Eucaliptos, terem ficado inundados e
de algumas culturas ubaproveitadas
ao longo das zonas ribeirinhas.
De uma maneira geral, 2018 foi um
ano proveitoso, com uma colheita de
quase 100 mil toneladas de diversos
produtos agrícolas, contra os cerca
de 67 mil toneladas da época
anterior. A lagoa do Arco voltou a
encher, depois de ter ficado uns sete
anos sem receber água do rio
Cunene, e até agora continua a atrair
para si um sem número de animais
que deambulam pelo Parque
Nacional do Iona. Também em
algumas localidades foi possível reter
água nas chimpacas destinadas ao
abeberamento dos gados.
Este ano de 2019, porém, zonas
como a Bibala, Virei e Tômbwa
registaram pouquíssimas quedas
pluviométricas. Na capital,
Moçâmedes, caiu chuva, mas de
forma muito irregular. Quando não
chove o suficiente, muitas famílias já
sabem que vão ter de enfrentar o
ritual da transumância, outras tantas
terão de se contentar com a pouca
ou nenhuma safra da temporada
agrícola. Os relatos que chegam das
autoridades apontam para estimativas,
mas os números podem ser muito mais
altos. Fala-se em mais de vinte mil
famílias (cerca de 160 mil populares) que
estão afectadas pela seca em toda a
extensão do território namibense,
segundo os serviços locais de
Protecção Civil e Bombeiros. A
população animal também está a sofrer
as consequências da falta de água, com
milhares de cabeças de gados bovino,
caprino e ovino a correrem riscos de
morrer. Para fazer frente ao problema
da seca, o Executivo Central deu dois
mil milhões de kwanzas ao governo
provincial.