INTRODUÇÃO
Os conflitos familiares não são recentes em vias legais, no entanto com o novo conceito
de família e tudo que isso abrange, as relações nesse meio têm tido necessidade de serem
enxergadas através do seu polimorfismo. Pois a alteração dos meios sociais e culturais,
que aderem cada vez mais o recente conceito de família, trazem conflitos novos que o
legislativo ainda não consegue alcança sua totalidade. As partes envolvidas no conflito
familiar apelam ao Poder Judiciário, a fim de conquistar justiça, mas, muitas vezes, não
alcançam a satisfação no término do processo, mesmo que saíam como vencedoras. Dessa
forma, retoma-se a ideia de afetividade, no seio familiar, e as relações levadas ao
Judiciário não tem necessidade de ser findadas e sim de serem cuidadas, de forma que se
leve em conta a singularidade de cada família.
“[...] as entidades familiares vão além do campo estabelecido pelas barreiras jurídicas e
cada vez mais firmam-se sobre o rochedo do afeto, devendo a ciência do direito
preocupar-se em tratar de cada uma delas, atendendo as novas demandas sociais”
(NORONHA; PARRON [2011?], p. 20).
“[...] há princípios especiais que são próprios das relações familiares e devem servir de
norte na hora de apreciar qualquer relação que envolva questões de família, despontando
entre eles os princípios da solidariedade e da afetividade” (DIAS, 2015, p.43).
Diante desse quadro, cabe relacionar a moral, a ética e o Direito com a dignidade da
pessoa humana. Para isso, deve-se entender que a moral são conceitos pessoais que um
indivíduo constrói por si através de sua vivencia. E a ética são os padrões morais comuns
que são respeitados em uma civilização. Já o direito é a tentativa do Estado de proteger
e estabelecer harmonia nas relações humanas, de forma a resguardar um dos principais
pilares do Estado Democrático de Direito, a dignidade da pessoa humana (DIAS, 2015,
p.55). A família, portanto, se torna o berço para a construção dessas ideias ela que irá
tornar o indivíduo suscetível a respeitar o próximo.
“[...]. As experiências que temos das relações familiares são singulares, íntimas e
fundamentais para percepção de quem somos, isto é, para as nossas identidades. Mas falar
em família é falar de uma realidade social e institucional, profundamente política tanto
nos fatores que a condicionam quanto em seus desdobramentos” (BIROLI, 2014, p.7).
[omissis]
“Inaugura-se com a Constituição Federal de 1988 uma nova fase do direito de família e,
consequentemente, do casamento, baseada na adoção de um
explícito poliformismo familiar em que arranjos multifacetados são igualmente aptos a
constituir esse núcleo doméstico chamado "família", recebendo todos eles a "especial
proteção do Estado". Assim, é bem de ver que, em 1988, não houve uma recepção
constitucional do conceito histórico de casamento, sempre considerado como via única
para a constituição de família e, por vezes, um ambiente de subversão dos ora
consagrados princípios da igualdade e da dignidade da pessoa humana. Agora, a concepção
constitucional do casamento - diferentemente do que ocorria com os diplomas superados
- deve ser necessariamente plural, porque plurais também são as famílias e, ademais, não
é ele, o casamento, o destinatário final da proteção do Estado, mas apenas o
intermediário de um propósito maior, que é a proteção da pessoa humana em sua
inalienável dignidade” (BRASIL, 2010).
Quando se constrói uma única via de acesso, pode-se compreender que todos aqueles que
não se encaixarem nos padrões dessa via estão excluídos, o que não é bem quisto em um
Estado Democrático de Direito. Como Karl Marx (1948) dizia, as ideias dominantes de uma
época nunca passaram das ideias da classe dominante, ou seja, quem detinha o poder
ditava o que seria padrão, uma crítica aos dominantes e aos dominados, pois ao aceitar
essa intervenção padronizada cala as minorias e as reprime, e torna os dominantes
ditadores. No entanto, a Constituição diz em seu art. 5º, inciso IV que “é livre a
manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato” (BRASIL, 1988), assim
protegendo a todos os indivíduos que constituem a sociedade, garantindo que não ocorra
qualquer tipo de imposição de padrões.
Na família essa imposição ocorria com a ideia de diferenciação de gênero, muitas das
vezes se enxergava o pai, principalmente, como um indivíduo a ser temido, o que traçava
padrões e diretrizes da casa que eram quase que irrevogáveis, e a mãe e os filhos eram
quase que súditos, pois apenas escutavam, eram sem direito a voz (BIROLI, 2014, p.30).
E, na mesma ideia a CF/88, intervém beneficamente nesse seio trazendo um conceito que
se adere nos dias de hoje, e é de grande auxilio na formação de uma sociedade melhor.
“Talvez o grande ganho tenha sido excluir expressões e conceitos que causavam grande
mal-estar e não mais podiam conviver com a nova estrutura jurídica e a moderna
conformação da sociedade. Foram sepultados dispositivos que já eram letra morta e que
retratavam ranços e preconceitos, como as referências desigualitárias entre o homem e a
mulher, as adjetivações da filiação, o regime dotal etc” (DIAS, 2015, p.33).
A constante evolução do conceito de família faz com que a sociedade note que é possível
deixar um conceito tão engajado culturalmente de lado e abrir os olhos para um mundo
capaz de respeitar cada forma de viver sem a necessidade de excluía e taxa-la de errada.
Portanto, essa adesão social quanto ao conceito de família é um avanço para a
consolidação de uma estrutura dotada de respeito e comunhão ao próximo.
“E, como o juiz precisa decidir sobre vida, dignidade, sobrevivência, não tem como
simplesmente ditar, de maneira imperativa e autoritária, qual regra aplicar, encaixando
o fato ao modelo legal. Em sede de direito de famílias não dá para amoldar a vida à norma”
(DIAS, 2015, p. 63)
A família é uma entidade a ser preservada pelo Estado, pois embasa o âmbito social e
forma os cidadãos que iram interagir socialmente e para manter a civilidade de cada, esse
bem moral deve ser resguardado. Os conflitos que advêm dessa parentela não necessitam
de sentença e de um fim, por se tratar de um conjunto de pessoas que tem uma função
diante do grupo. Ora, neste sentido, ao se colocar em termo na interação entre os
envolvidos no conflito, culmina-se com o esvaziamento da ideia de família. No entanto, o
mais eficiente a ser feito é tornar os conflitos familiares um cenário de conversação e de
amadurecimento, o qual será locus para a formação de indivíduos maduros e responsáveis
capazes de viver harmoniosamente e ainda assim viabilizando a pacificação social.
“Os conflitos fazem parte da família, uma vez que a família é dinâmica, composta por
teias complexas de relações entre seus membros. Nessas teias, estão presentes
constantemente desavenças, ou seja, no cotidiano das pessoas, as brigas familiares são
uma realidade. Assim, a história de uma família é marcada por momentos de crescimento,
de estagnação, encontro, desencontro e reconciliação” (PRUDENTE, 2008, s.p).
A ideia é evitar a acentuação do conflito que pode levar as partes a assimilarem que seus
interesses não coexistem e com isso criar um ambiente de rompimento, por isso é
necessária à desconstrução da visão de que o outro é adversário. Assim os conflitos
familiares são dotados de características particulares, e principalmente capazes de causar
mais danos emocionais do que qualquer outro ramo do Direito, pois a família tem uma
vivência onde há uma troca constante de informações pessoais. E, quando se está em um
processo, as partes se munem de todas as formas imagináveis e são capazes de utilizar de
agressões em momentos de estresse, os “sentimentos de amor, ódio e dor, inerentes aos
conflitos jurídicos, acabam produzindo consequências permanentes na vida dos
envolvidos” (RANGEL; SILVA, 2013, s.p.), que cominam no afastamento de se alcançar a
solução. Para o Direito de Família é importante frisar a afetividade para que o núcleo que
estabelece essa relação seja blindado e que assim se alcance uma solução pacífica.
Então os conflitos familiares devem ser visualizados de forma mais delicada, visto que,
por vezes, o principal empecilho para soluciona-lo é a falha na comunicação, que é o locus
em que cada um dos envolvidos expressa suas vontades e anseios e, assim, é capaz de
desfazer o nó e fortalecer o laço antes abalado. Para a família, por mais conflituosa, e
até mesmo para a sociedade o retorno dessa conexão é altamente benéfico, pois, quanto
a questão familiar não ocorre o desvinculo que prejudica a formação emocional
principalmente dos filhos, e quanto a sociedade influi na formação de uma civilização
mais madura e capaz de lidar com conflitos beneficiando o anseio de pacificação.
O novo Código de Processo Civil ratifica o que antes era exposto na Lei nº 9.099, a
permissividade de uma forma alternativa de resolver conflitos e a valorização desse para
o acesso à justiça de forma eficaz e célere sem que seja necessário todos os tramites de
um processo comum, e ainda sim garantindo esse direito fundamental (BRASIL, 1995).
Dessa forma “considera-se mediação a atividade técnica exercida por terceiro imparcial
sem poder decisório, que, escolhido ou aceito pelas partes, as auxilia e estimula a
identificar ou desenvolver soluções consensuais para a controvérsia” (BRASIL, 2015) que
se mostra eficiente para consolidar um ambiente propício a pacificação entre as partes
inserida na lide.
Por ser extrajudicial, a mediação é maleável a ponto de dar possibilidade às partes para
confluírem na construção de um consenso, ou seja, que estabeleçam um acordo possível,
capaz de refletir o interesse dos envolvidos e não uma consequência de um convencimento
manifestado por um interesse imparcial, alheio ou indiferente às peculiaridades dos
conflitos. Para isso, o mediador tem como sua principal função fazer com que as partes
estabeleçam uma comunicação, iniciando, assim, a desconstrução da visão de adversário,
ao se instaurar um ambiente em que as partes estão dispostas a se escutarem para a
concretização de um acordo vantajoso para ambas (GHISLENI; SPENGLER, 2011, p.111).
Para que assim ao solucionar o problema em questão ainda possam ter uma relação
produtiva e uma comunicação sadia.
Por isso, a Lei de Mediação estabeleceu alguns princípios para consolidar esse método
inovador de fazer justiça, são eles a imparcialidade do mediador, isonomia entre as
partes, oralidade, informalidade, autonomia da vontade das partes, busca do consenso,
confidencialidade, boa-fé. Assim lhe dando a liberdade quanto a forma de acesso à justiça
e simultaneamente estabelecendo uma lógica organizacional. Com isso transmitindo mais
confiabilidade nessa forma alternativa para soluções de controvérsias.
“[...] com o escopo de se vislumbrar que a mediação cumpre o papel de repensar o conflito
de forma mais holística extraindo as potencialidades para o desenvolvimento de relações
humanas e sociais. Cumpre, igualmente, sua tarefa na democratização do direito ao
acesso à justiça e a pacificação social de forma a atender o atual contexto social”
(SANTOS, 2012, p.3).
Primeiro quanto ao mediador esse deve manter a imparcialidade, pode ser designado para
determinado caso ou escolhido pelas partes, cabe a esse fazer com que as partes
estabeleçam uma comunicação produtiva. Como se encontra burilado no art. 4º, §1º, “o
mediador conduzirá o procedimento de comunicação entre as partes, buscando o
entendimento e o consenso e facilitando a resolução do conflito” (BRASIL, 2015). É por
meio do terceiro imparcial que, inicialmente, as partes se comunicam, cabe àquele deixar
claro a confidencialidade e a imparcialidade quanto ao caso, bem como entender e
orientar os envolvidos para que eles cheguem a melhor solução. Assim, o papel
desempenhado pelo mediador é colaborar para que os mediandos sejam capazes enxergar
um ao outro em vez de focar apenas no problema e na necessidade de punir outrem.
Então, o mediador deve ser uma pessoa dotada de bom senso, pois ele desencadeara
diversos assuntos que devera lhe dar com bastante sabedoria, entretanto no decorrer do
processo o mediador deve se anular para que as partes possam concretizar a melhor
conclusão (BEZERRA, 2013, p.58).
A oralidade é o princípio que embasa a mediação, tendo em vista que para o alcance de
uma solução pacifica e para que o processo cumpra seu objetivo de justiça o diálogo é a
peça chave. Por meio do princípio em comento, o mediador estabelece termos necessários
para o decorrer do processo e principalmente as partes expõem seus interesses podendo
dessa forma moldar para que os pedidos coexistam e que ambos saiam satisfeitos
(FONSECA, SPENGLER, 2013, s.p). Portanto, a oralidade é a partida para o
estabelecimento de um acordo maleável onde os envolvidos expressam sua subjetividade.
“O que se procura é a real pacificação do conflito por meio de um mecanismo de diálogo,
compreensão e ampliação da cognição das partes sobre os fatos que as levaram àquela
disputa” (PINHO, [2009?], p.17).
Como já mencionado, a mediação é maleável o que lhe torna diferenciada das demais
formas de justiça, o princípio da informalidade é o que permite essa característica. A ideia
é que as partes façam a justiça de forma mais simples, sem a necessidade de tantos
tramites processuais, muita vezes a comunicação estabelecerá mais critérios do que as
formas documentais, pois tendo a comunicação os moldes de justiça se especificam para
cada um (GHISLENI, SPENGLER, 2011, p.113). A informalidade caracterizadora da
mediação permite que o procedimento se adeque às peculiaridades da situação posta em
exame e não siga um rigorismo formal engessado e incapaz de albergar as nuances dos
conflitos familiares.
No entanto, mantendo ainda o caráter legal perante a justiça, à medida que a própria lei
entrega a permissividade desse princípio. Quanto ao princípio de autonomia das partes, é
o fato de que ninguém será obrigado a manter-se em uma mediação e nem mesmo inicia-
la, até mesmo durante o processo as partes não serão incumbidas de aceitar ou rejeita
propostas (BRASIL, 2015). Cabendo, assim, exclusivamente, ao envolvido dizer o que lhe
convém, tendo a autonomia do fazer.
Em virtude disso, trazer os conflitos familiares para a mediação é benéfico tanto para os
envolvidos quanto para a sociedade, pois a mediação tem flexibilidade para incorporar as
facetas dos conflitos familiares. As peculiaridades apresentadas pelas famílias nem
sempre são abrangidas em processos comuns, pois esses têm a característica de
imparcialidade e afastamento, lidando unicamente com o bem tutelado sem lidar com o
emocional das partes, o que não se torna uma falha, visto que o Poder Judiciário se
encontra inchado de processos (TAVARES, 2012, p.6). Portanto aderir essa medida
alternativa, que será capaz de suprir necessidades específicas e emocionais
principalmente, para o Direito de Família é de suma relevância.
A mediação familiar é um avanço para o Direito, pois é capaz de vislumbrar cada aresta
do conflito e ainda pode lidar com questões além que ajudam na interação familiar. Como
a falta de diálogo entre os integrantes, ao desconstruir a barreira que os filhos e os pais
têm de conversar, a família se torna mais feliz, pois adquiri a capacidade de lidar com
problemas se tornando mais unidos, os filhos confiando aos pais as interações diárias e os
pais passam a saber se colocar em uma conversa. E ainda em relação ao parceiro que passa
a ser de respeito mútuo, uma vez que a Mediação trata ambos como iguais, e os mostra
plenitude, uma vez que para existir a família ambos precisam conviver bem, construindo
através desse instituto o amadurecimento para a vida em unidade. Dessa forma a
mediação é subjetiva e instruída a harmonizar o cenário de litígio vislumbrando alcançar
a pacificação social, porque estabelecendo a harmonia familiar seus integrantes
exteriorizarão para o meio social.
CONCLUSÃO
Entende-se que a família é o pilar sustentador de uma sociedade já que é ela quem forma
os cidadãos, a evolução família traz aos seus integrantes voz e passa a prezar a afetividade
como fonte de sua constituição com o núcleo de respeito e amor. Esses pilares se
explicitam de formar diversas o que faz o Direito de Família ser uns dos mais frágeis de
lidar, quando diante de conflitos e por isso precisa do auxílio adequado para suprir as
peculiaridades da família. Diante disso a mediação se mostra eficaz, pois é entendida
como um meio pacificador para os conflitos, e quando se trata de família manter a paz e
o laço afetivo se torna prioridade. Com a evolução do conceito de família houve uma
reconfiguração no cenário jurídico, pois esse passou a lidar com situações cada vez mais
complexas, uma vez que a família não é mais constituída por vontade de um. A ampliação
da interação familiar, a ideia de que o seu núcleo é afetivo e o reconhecimento da
importância de cada integrante faz com que essa se torne pluralista, constituída de
inúmeras maneiras. Mas com um objetivo em comum formar cidadãos benevolentes e
civilizados que contribuam para o alcance da paz social.
Logo, diante dos aspectos observados é valido afirmar que a família é o ponto de partida
para a formação de cidadãos competentes e íntegros, visto isso é importante preserva-la
da maneira mais eficiente possível. Pois os conflitos advindos dessa parentela são
específicos e característicos, uma vez que a família é pluralista as controvérsias são ainda
mais variadas, para que não se perca a função familiar é importante que a complexidade
de seus conflitos seja suprida e resolvida. Diante disso a mediação se apresenta uma vez
que seus princípios e sua forma processual são capazes de abranger toda subjetividade da
família e assim solucionar os problemas de forma totalitária.
Referências