Vamos ver como o cérebro produz comportamento. Quais as funções superiores? Motora,
perceptiva, a memória, linguagem, função executiva (controlo, supervisão e execução de
comportamentos). Cada uma destas funções será um tema.
PROGRAMA:
Tema 1 – Introdução à neuropsicologia. Tema introdutório para contextualizar a neuropsicologia:
perspectiva histórica, definição, métodos para a estudar e relação com outras disciplinas.
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Tema 6 – Neuropsicologia da linguagem (afasias, alexias e agrafias) – alterações da linguagem
devido a danos no cérebro. O que acontece qd alguma dessas áreas não funciona.
No fundo vamos ver como se produz comportamento através do cérebro. Já vimos como funciona
o cérebro anatomicamente (no semestre passado), agora vamos ver qual é o resultado desse
comportamento. Ao estudar a alteração estamos a estudar tb a normalidade. Em todos os temas
vamos falar de sintomas, síndromes e patologias relativos à aplicação clínica do funcionamento do
cérebro.
Em todos e cada um dos temas vamos dedicar uma parte à avaliação destes processos. Vamos ver
procedimentos para a avaliar os lóbulos cerebrais. Como avaliar a linguagem para saber se está ou
não está alterada. É fundamental assistir às aulas tutoriais. Toda esta parte da matéria está
dedicada à avaliação destes funções que podem ser avaliadas de mtas formas:
Um procedimento é através dos testes de tipo psicométrico. Há uma pontuação e esse número
está a dizer o funcionamento dessa pessoa naquilo que estamos a medir.
Nas aulas tutoriais vamos ver o funcionamento desses testes. Nas aulas teóricas só se vai
mencionar os testes para depois aprofundar nas aulas práticas. A nível teórico é preciso
conhecer os testes, depois a prática consiste em saber aplicar o teste, saber avalia-lo. Vamos
dedicar 1h por semana para cada uma das funções.
BIBLIOGRAFIA BÁSICA:
Gil, R. (2007). Neuropsicologia. Barcelona: Elsseiver-Masson
Junqué, C. e Barroso, J. (2001). Neuropsicologia. Madrid: Síntesis
Tirapu, J.; Rios, M.; and Maestú, F. (2008). Manual de neuropsicologia. Viguera editores
Pontos escritos:
03 de Abril 09
05 de Junho 09
INTRODUÇÃO
Aviso: Há pouca bibliografia sobre este tema. Duas partes centrais:
1ª Parte – definir e compreender o que é a neuropsicologia, o seu objecto de estudo e a sua
metodologia. Quais os seus objectivos e quais os métodos que usa a neuropsicologia para atingir
esses objectivos.
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2ª Parte – ver a historia da neuropsicologia. A Neuropsicologia tem mto pouco tempo (por volta
de 35 anos), no entanto, os seus antecedentes históricos existem desde que o homem começou a
ter curiosidade por si próprio.
Análise da definição:
É uma área da psicologia – É importante que isto fique bem claro. Estamos a falar de
psicologia e não de neurologia, não é uma área da medicina.
Estuda a relação entre a dinâmica funcional do cérebro e comportamento – o acento está na
dinâmica funcional ou seja no funcionamento do cérebro. O que interessa em neuropsicologia
é como funciona o cérebro. O cérebro esta constituído por estruturas interligadas
funcionalmente, formando sistemas responsáveis por comportamentos e capacidades. Por isso
a neuropsicologia não é neuroanatomia (isso foi o que vimos o semestre passado).
Estuda tanto em situações normais como patológicas – vai estudar o resultado do
funcionamento do cérebro normal e o resultado do funcionamento do cérebro patológico.
Segundo se estude o cérebro normal ou patológico fala-se de um tipo de neuropsicologia ou
de outro.
Objecto de estudo
Esta área tem como objecto de estudo as alterações cognoscitivas, emocionais e os transtornos da
personalidade provocadas por lesões cerebrais, ou seja, por danos no cérebro. Dito de outra
maneira, as alterações provocadas no cérebro com dano.
Interdisciplinaridade de neuropsicologia
A N é uma área da psicologia. É uma disciplina que faz parte da psicobiologia – disciplina que
estuda as bases biológicas do comportamento. Como disciplina da psicobiologia na
neuropsicologia vamos encontrar conhecimentos que correspondem a mtas outras disciplinas. Se
começarem a pensar no que vimos o semestre passado pode-se reparar que para saber e
conhecer bem a neuropsicologia é preciso saber algo de:
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Psicologia,
Filosofia,
Neurociências dos sistemas (estudo de como os neurónios se organizam formando redes
neuronais responsáveis pelas diferentes capacidades);
Embriologia (desenvolvimento do sistema nervoso desde as primeiras fases do
desenvolvimento até estar completamente formado);
Física (potencial de acção);
Quimica – neurotransmissores, que são substancias químicas: bioquímica; neuromolecular
Biologia celular e biologia do desenvolvimento
Medicina (neuroanatomia que é uma área da medicina – mas para a neuropsicologia não basta
a neuroanatomia, pq nesta o acento são as funções e não a sua anatomia). Existe uma guerra
entre neurólogos e psicólogos para ver quem fica com a neuropsicologia. Áreas: neurologia;
neuroanatomia; neurofisiologia; neuroimagiologia (quase não podemos imaginar a
neuropsicologia sem a imagem; TAC; Ressonacia magnética;… nenhuma explica o
comportamento mas todas elas ajudam a compreender o funcionamento cerebral e as
alterações provocadas por danos no cérebro); neuroradiologia; medicina nuclear.
Por isso a N implica o estudo de mtas e variadas áreas de conhecimento desde a filosofia até à
medicina nuclear; de todas já falamos um pouquinho e vamos continuar…
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Um dano cerebral nunca é igual em duas pessoas pq a experiencia de cada pessoa é única.
Como a experiencia determina o funcionamento do cérebro, as consequências em cada um
vão ser diferentes.
Uma vez que aparece o dano cerebral, a recuperação desse dano cerebral depende da
aprendizagem e da experiencia. Exemplo: Duas pessoas com um tumor bi-frontal da
mesma idade: ambos têm uma realidade parecida com manifestações idênticas, mas uma
vez que se desenvolve o tumor, a recuperação desse tumor vai depender da aprendizagem,
experiencia e da reabilitação de cada um. Se um realiza actividades, se houver estimulação
e desenvolver experiencias, esse cérebro vai ter uma maior plasticidade neuronal e por isso
vai desenvolver capacidades. Isto vai desenvolver a reserva cerebral (aspectos de tipo
fisiológico – neurónios e contactos sinápticos) que vai levar a uma maior reserva cognitiva
(capacidades).
Explicação - Factores ambientais – fazem referencia à influencia do meio no
funcionamento do cérebro. Sendo assim, a reabilitação é um factor ambiental pq é algo
exterior ao organismo.
Alzheimer – duas pessoas em que começa a aparecer o Alzheimer (normalmente a doença
começa 20-25 anos antes de aparecerem os sintomas) com aproximadamente 35 anos:
Uma tem mta reserva cerebral e cognitiva – os sintomas vão aparecer aos 70 anos; outra
tem pouca reserva cerebral – sintomas vão aparecer aos 50 anos.
A estimulação é necessária em toda a nossa vida, qd uma pessoa se reforma mais ainda, pq
temos menos capacidade para criar contactos sinápticos, pois perdemos mtos e criamos
poucos. Mas qto mais nos estimulemos então mais contacots sinápticos criamos.
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g) Realização de programas de investigação – para crescer e melhorar devem-se realizar
programas de investigação a nível clínico, aplicado ou básico, de forma a conhecer melhor a
relação entre cérebro e comportamento.
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o Crianças (neuropsicologia pediátrica/desenvolvimento) – O seu cérebro está em
desenvolvimento e por isso qq dano cerebral, pode modificar-se exactamente pq o
cérebro ainda não está acabado. Isto significa que o que se altera não é o dano mas as
suas consequências, ou seja, há mtas possibilidades de recuperação (quase infinita).
Dito de outra maneira o dano já não se pode alterar mas pode-se recuperar.
o Adultos (neuropsicologia do adulto) – Nos adultos o cérebro é definitivo ou quase e por
isso os danos cerebrais vão provocar alterações comportamentais que para serem
alteradas supõe uma cuidadosa e intensa reabilitação.
Dentro da N do adulto devemos estabelecer outra diferença, o grupo dos
idosos, pois o funcionamento cerebral de um idoso é diferente do
funcionamento cerebral de um não idoso. A plasticidade neuronal diminui com
a idade e por isso a maior idade menor capacidade de recuperação. Nas
crianças a possibilidade de recuperação é quase infinita, nos idosos a
capacidade é mínima.
À medida que avança a idade há menor memoria, pq os neurónios morrem, há
menos conexões sinápticas, com menor capacidade e em menor número. A
morte cerebral não acontece de forma igual em todas as áreas cerebrais, vamos
perder neurónios naquelas áreas que sejam mais afectadas e que normalmente
costumam ser o hipocampo ou os lóbulos cerebrais.
Vamos ver diversos tipos de técnicas e instrumentos para avaliar e interpretar o funcionamento do
cérebro de forma qualitativa e quantitativa.
I. INTRODUÇAO
Para falar da historia da N vamos dividir o período histórico em função da forma de estudar a
relação entre o cérebro e o comportamento. Podemos dividir os antecedentes históricos em duas
hipóteses:
Hipótese do cérebro – desde esta hipótese considera-se o cérebro como a fonte do
comportamento. Esta perspectiva foi denominada por localizacionismo pq a função estaria
localizada, ou seja, a cada área atribui-se uma função. Bases:
o O cérebro esta constituído por 2 hemisférios simétricos que interagem por uma
estrutura denominada corpo caloso.
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o Desde uma base anatómica os diferentes autores vão sugerir que as diferentes áreas
corticais são responsáveis pelas diferentes funções. Isto significa uma relação quase
directa entre uma área e uma função.
Hipótese do neurónio – é mais moderna. O seu princípio básico é o que já conhecemos: o
neurónio é a unidade básica do sistema nervoso. Se isto é o pressuposto básico, o que
estudamos o semestre passado foi a hipótese do neurónio. Assim, estudamos que:
o O nosso SN está constituído por células que são autónomas (cada uma funciona de
forma independente), mas estas células interagem pelas sinapses, sem estarem
comunicadas fisicamente.
o O SN é um sistema de fibras interconectadas por neurónios que se conectam uns com
os outros formando uma rede continua.
Vamos ver os principais contributos à neuropsicologia desde cada uma destas hipóteses. Hoje em
dia a hipótese do neurónio é considerada mais certa. O conhecimento é sp um contínuo, de tal
forma que a hipótese do neurónio é um aperfeiçoamento da hipótese do cérebro.
Hipócrates (430-379 AC) – é tb o pai de mtas outras áreas cientificas. Não era psicologia
propriamente qd Hipocrates estabeleceu que no cérebro estão as nossas sensações e a nossa
inteligência. Podemos definir a inteligência de mtas e variadas formas; mas sem dúvida nenhuma
todos concordamos que a inteligência é um conjunto de capacidades. Se Hipócrates dizia que o
cérebro é o responsável pela inteligência já estava a falar de neuropsicologia sem saber.
Platão (420-347 AC) – é outro antecedente. Platão falava da alma tripartida e localizava no corpo
essas três partes da alma: uma no coração; outra no ventre e outra no cérebro. A que estava no
cérebro era a parte racional, a alma racional.
Aristóteles (384-322 AC) – Tese cardiocentrista: o coração é o centro do intelecto; mas para que
funcionasse a capacidade mental o cérebro tinha a função de arrefecer o sangue aquecido pelo
coração.
Galeno (129-199 DC) – áreas do cérebro responsáveis pelas nossas sensações e funções motoras.
Estava a localizar áreas responsáveis pelas diferentes capacidades: sensações pelo cérebro e os
músculos pelo cerebelo.
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Descartes (1596-1650) – método cartesiano – quase que começa aqui o inicio da ciência como se
concebe hoje em dia. Dualismo mente-corpo. A alma interage com o corpo através duma
estrutura do cérebro, a glândula pineal. Estava a abordar funções superiores.
Contributos da frenologia
A frenologia localizou áreas especificas no cérebro responsáveis pelas diferentes funções,
elaborou mapas funcionais do cérebro, diferentes dos mapas funcionas que já existiam antes
por Galeno. Isto significa uma imagem do cérebro na qual apareciam diferentes áreas
representadas em pontos concretos. Foi um grande antecedente da cartografia cerebral, do
que hoje conhecemos como neuroimagem.
Tb foram pioneiros em estabelecer que o nosso cérebro é formado por células em
funcionamento que se conectam por estruturas sub-corticais. Estudaram a relação córtex-
subcortex.
Foram eles que falaram pela primeira vez do cérebro dual, ou seja, do cérebro dividido em dois
hemisférios independentes. Para os frenólogos um hemisfério funcionava sem saber o que
outro estava a fazer e vice-versa; hoje em dia sabe-se que não é assim.
Outro contributo importante é que apoiavam as suas hipóteses em dados empíricos. Isto não
era habitual na altura. Apresentavam dados concretos que apoiavam os seus resultados.
Criticas à frenologia
Critica à segunda proposta – A segunda proposta dizia que cada faculdade psicológica depende
de uma região cerebral – é certo apenas em parte. Depende do que entendemos por região
cerebral. Eles entendiam uma pequena região cerebral e não áreas que fazem referencia a um
conjunto de várias regiões. As funções não dependem duma parte específica concreta, nem as
mais localizadas, mas de um conjunto de regiões. Se assim fosse e houvesse um dano não
havia a possibilidade de reabilitação.
A terceira hipótese é que qt maior massa maior capacidade. Ora isto não é correcto. O que
eles diziam é que se temos mta memoria então a área responsável pela memoria tem uma
protuberância; se temos pouca memoria vai haver um sulco e isso manifesta-se no crânio
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(segundo eles a massa cerebral não está em contacto com o crânio). Assim, observando o
crânio determinava-se a capacidade das pessoas. Curiosamente eles davam dados empíricos,
mas nenhum dos dados iam em contra das suas hipóteses, todos eram confirmatórios. Ora isto
em ciência não é possível. Eles baseavam-se na observação. Ex. Memoria.
o Observavam que os estudantes sentados nas primeiras filas da sala eram estudantes
com olhos que quase saltavam do crânio. Se os estudantes tinham os olhos assim tem
que haver uma área mto desenvolvida que estava a empurrar os olhos para fora.
o Localizavam áreas como a memoria, a linguagem, a consciência, a fé, a capacidade para
fazer mal. Localizar a área da fé no cérebro é difícil, pq se é difícil definir o que é a fé
como vamos atribuir uma área responsável disso. O que interessa são as implicações
que isso tinha: olhando para a cabeça das pessoas podia-se determinar quem tinha fé
ou não; e se tinham mta ou pouca.
o Olhando para a cabeça de uma pessoa diziam que era um assassino ou não. Conta-se
que Joseph Gall dedicava-se a percorrer diferentes cidades com estas teorias
mostrando as capacidades das pessoas a partir do seu crânio. Numa destas viagens deu
com um músico que já tinha morrido. Mostraram-lhe um crânio que disseram que era
desse músico e ele confirmou a sua hipótese; mas era o crânio dum assassino.
Outras criticas – A frenologia foi ridiculizada pelos científicos da época e quase esquecida.
Quase pq não podemos esquece-la até pq tem contributos importantes. Mas tb pq teve
repercussão na literatura popular. Há pessoas que ainda hoje dizem que a forma da nossa
cabeça mostram as nossas capacidades.
o É preciso ter a capacidade de distinguir o que é cientifico do que não é cientifico. É
preciso recolher dados empíricos que vão demostrar o que é cientifico do que não é
cientifico. Assim, distinguir um artigo cientifico de um não cientifico.
o Resumo:
Os mapas que elaboraram no cérebro tinham mtos erros e uns poucos acertos,
mas tb serviram de base para estudos posteriores.
Para a frenologia todo o comportamento emana do cérebro. Isso é certo.
Ao localizarem regiões responsáveis para as funções enganaram-se… Mas para a
área da linguagem a frenologia deu um gde contributo.
É uma barbaridade dizer que se temos mais área cerebral temos mais
capacidades. A plasticidade cerebral vem dizer o contrário, não é a massa, mas
o maior número de áreas cerebrais implicadas nessa função.
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cerebral… O cão não procurava alimentos, não tinha medo, ou seja, tinha perdido o instinto de
sobrevivência…
Luria nasceu no ano 1902 e morreu em 1977. No ano 1973 Alexander Luria definiu e estabeleceu o
que é a neuropsicologia. Elaborou uma metodologia para avaliar o dano cerebral e desenvolveu os
princípios básicos da N actual. Desenvolveu uma teoria da localização sistémica dinâmica das
funções. Contributo:
Luria diz que toda a actividade mental e humana é um sistema funcional complexo e é
realizada por uma combinação de estruturas cerebrais que funcionam de uma forma
organizada. Cada estrutura dá o seu contributo para o sistema funcional como um todo.
Estabeleceu que uma função depende de um sistema funcional e que uma área cerebral esta
implicada em diferentes funções. Isto significa que uma área cerebral é responsável por várias
funções e uma função depende do funcionamento de várias áreas cerebrais. Ideia tomada de
Broca-Wernick. Este é o maior contributo de Luria para a neuropsicologia.
Antes de 1973 a palavra neuropsicologia aparece apenas em 2 obras: Hebb com uma obra: A
organização do comportamento: uma teoria neuropsicológica (1949). No ano 1960 Lashley publica
um livro chamado A neuropsicologia de Lashley. Tanto um como o outro não definem a
neuropsicologia e apenas falam sobre ela.
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Porto, 12 de Março de 2009
I. INTRODUÇÃO
Vamos tratar dos aspectos gerais relativos ao funcionamento entre os dois hemisférios cerebrais.
Em algumas funções há um hemisfério que participa mais na realização dessa função. Em mtas das
funções são necessários os dois hemisférios para o seu bom funcionamento. Vamos ver a
importância da comunicação entre os dois hemisférios. Divisão do tema:
Pequena abordagem histórica
Especialização hemisférica em seres humanos
Metodologias que utilizamos em neuropsicologia aplicadas a esta área
Preferência manual; linguagem; como são as diferenças sexuais: existem assimetrias funcionais
enquanto ao sexo; enquanto à preferência manual e da linguagem
Alguns transtornos qd não há comunicação correcta entre os hemisférios
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Bouillard – localizou a linguagem nos lóbulos frontais: reparou que qd havia danos nos lóbulos
frontais havia danos na linguagem. Não lateralizou…
Marcel Dax (1836) – estabeleceu a função linguística da linguagem (fala) no hemisfério esquerdo.
É um claro antecedente de assimetria cerebral. Se a linguagem está no hemisfério esquerdo então
este tem que ser diferente do direito.
Paul Broca (1861) – em relação à linguagem foi mais específico: hemisfério esquerdo, no lóbulo
frontal, na terceira circunvolução inferior. Assim, considerou tb que a preferência manual e a fala
localizam-se no hemisfério esquerdo.
John Jackson (1868) – hierarquização do SNC até ao ponto de considerar a dominância cerebral
esquerda. Este conceito introduzido no ano de 1868 significa que o hemisfério dominante é o
responsável de uma função. Como na altura as funções que se estudavam e que eram mais
relevantes eram a linguagem e a motora, então o hemisfério esquerdo é responsável pela
linguagem e função motora e por isso era o hemisfério dominante. Isto levou a que durante mto
tempo falava-se de dominância do hemisfério esquerdo e que o direito era o subordinado.
Wernick – localizou uma zona responsável pela compreensão da linguagem. Mais uma evidência
de assimetria cerebral funcional.
Liepmann – ele relacionou o hemisfério esquerdo com determinadas apraxias que são as
alterações dos movimentos relativos a danos cerebrais. Se reconheceu apraxias no hemisfério
esquerdo, isto significa que o hemisfério esquerdo é responsável pelos movimentos voluntários.
Isto dava mais força à ideia de Jackson da dominância cerebral do hemisferio esquerdo.
2ª guerra mundial (O.L. Zangwill na Gra Bretanha; H.L. Teuber nos EUA e A.R. Luria na URSS)
Até aqui tudo eram pequenas evidencias de assimetria cerebral tirando o cérebro do tan tan. Os
grandes estudos da assimetria cerebral e portanto o conhecimento da lateralidada dos
movimentos cerebrais começou na 2ª grande guerra. Foi através dos estudos da lesão. A lesão não
intencional, fruto dos acidentes de guerra, permitiu o estudo e tratamento. A probabilidade de
lesão era grande. O próprio Luria já estudava neuropsicologia com os soldados com danos
cerebrais. A metodologia era simples: se uma pessoa tem uma lesão no hemisfério esquerdo e
afecta a linguagem então é pq essa área é responsável pela linguagem.
Anos 70
Posteriormente a finais dos anos 70 começaram a realizarem-se estudos em sujeitos
comissurotomizados. É uma técnica cirúrgica que consiste em seleccionar uma área para
anestesiar. Neste caso, o corpo caloso que é responsável pela intercomunicação hemisférica.
Assim, deixaria de haver comunicação e um hemisfério não sabe o que estava a fazer o outro.
Azamica e Sperry realizaram esta técnica que é cirúrgica e química. Hoje em dia realiza-se ainda
em epilepsia com o objectivo que a epilepsia não passa de um hemisfério para outro. Se no
hemisfério esquerdo esta a produzir-se uma produção anormal de impulsos eléctricos nada
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impede que passa para o outro hemisfério. Por isso selecciona-se e anestesia-se o corpo caloso
para que não haja intercomunicação. Se temos o sujeito comissurotomizado podemos aplicar
técnicas para ver qual é o hemisfério que está a processar determinado estímulo ou função.
Hoje em dia
Hoje em dia a forma mais pratica de estudar a assimetria cerebral é por meio das técnicas de
neuroimagem pelas quais vemos o cérebro a funcionar qd desempenha uma função. Isto em
sujeitos normais, ou seja com o cérebro intacto.
a. Assimetrias anatómicas
Estudos pós-morte:
Planum temporale – Uma das grandes assimetrias cerebrais a nível anatómico é a que
encontramos no planum temporale. É uma área dorsal posterior à área auditiva primaria e que
é responsável pela a compreensão da linguagem (área de wernick que está no plano
temporal).
o O planum temporale está relacionado com a lateralização da linguagem que está
lateralizada no hemisfério esquerdo. O plano temporal do hemisfério esquerdo e
direito são diferentes. O plano temporale no hemisfério esquerdo é maior
consideravelmente que no hemisfério direito. Não é uma pequena diferença
anatomicamente, mas considerável.
o Existem alguns casos onde a linguagem está lateralizada no hemisfereio direito. Neste
caso o plano temporale do hemisfério direito é maior que o esquerdo mas a diferença é
menor que no outro caso; neste caso é apenas um pouco maior e não
consideravelmente como no outro caso; por isso a assimetria é menor neste caso.
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Sulco de silvius ou sulco lateral – Outra assimetria anatómica faz referencia ao sulco de silvios
que separa o lóbulo frontal do parietal e temporal. O sulco de silvius do hemisfério esquerdo é
mais horizontal e mais comprido que o do hemisfério direito. A assimetria entre ambos é
proporcional à assimetria do plano temporal. Esta assimetria do sulco de silvius está
relacionada com outras duas assimetrias que se dão nas áreas peri-silvianas (à volta do sulco),
concretamente:
o Ópérculo (são circonvoluçoes). Na área do giro angular e supramarginal; nessa área
está o giro angular (associado à escrita);
o No plano temporal está tb a área de wernick que vem a seguir à área autitiva.
Pars operculares – terceira circunvolução frontal inferior tb conhecida como pars operculares
(área de broca). No hemisfério esquerdo o pars operculares deve ser maior que o hemisfério
direito.
As assimetrias não afectam apenas o hemisférios cerebral, por exemplo o núcleo posterior
lateral do tálamo é maior no tálamo esquerdo que no tálamo direito.
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Também existe no hemisfério esquerdo uma maior actividade e concentração na região da
circunvolução temporal media da colinacentiltransferase.
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em nenhuma função. Isto não vai em contra da dominância exclusiva relativa a algumas funções:
dominante sim, mas exclusivo não.
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Por isso é tão importante a estimulação e reabilitação onde tem que haver um trabalho activo
e consciente do paciente. Qq área pode ser substituída no nosso cérebro. Se uma pessoa
nascer sem a área de broca esta será recuperada por outras vias, no entanto, obviamente, qt
mais velha for mais difícil é.
Curiosidade – Filogeneticamente qd existe algo nos animias que não se utiliza evolutivamente
desaparece. O cérebro dos seres humanos desapareceu evolutivamente? Não! Ora, se
utilizássemos apenas uma pequena parte do cérebro o resto tenderia a desaparecer. Isto põe em
questão aquela teoria de que só utilizamos uma pequena parte do nosso cérebro.
b. Sujeitos comissurotomizados
Sujeitos onde foi seleccionado o corpo caloso para que os dois hemisférios não se comuniquem e
por isso são condições óptimas para estudar a lateralização cerebral a partir de algumas técnicas.
Esta é estudada pela modalidade visual e auditiva apresentando estímulos.
Vias visuais
O que captamos no campo visual esquerdo vai para o direito e fica ai pq não há comunicação
entre os hemisférios e vice versa. Se conseguimos apresentar estímulos de forma independente
em cada campo visual, então podemos reconhecer funções específicas de cada hemisfério a partir
de determinadas técnicas. Ex. Taquistoscopio – apresentar estímulos de forma independente em
cada campo visual. Há estímulos quiméricos (ou estimulação quimérica) que estão constituídos
por duas partes de dois objectos diferentes. Ex. Metade de uma cara e metade dum barco – se
apresentamos este estimulo e apresentarmos cada metade num campo visual (cara do lado direito
e barco do lado esquerdo) e se seguidamente lhe perguntar para me dizer o que está a ver; ele
dirá que vê uma cara. A razão é que o barco vai para o HD e como o HE é o responsável da fala
para que falasse a informação teria que passar do HD para o HE o que não é possível por causa da
ausência do corpo caloso.
Dificuldade: uma das dificuldades do Taquistoscopio é que o nervo óptico está constituído por dois
tipos de fibras contra laterais e ipsi laterais e por isso o estimulo vai sp aos dois hemisfério desde a
captação de cada olho. Há testes que permitem aplicar estímulos só por uma via concreta de tal
forma que a informação só chegue a um hemisfério.
Como a via visual dá-se ao mesmo tempo em cada retina por meio de vias ipsi laterais e contra
laterais há outra técnica denominada Lentes Z (Zaidel) permite apresentarmos o estímulo em cada
hemiretina.
Se do lado direito dissermos casa e do lado esquerdo dissermos carro e a seguir perguntar-mos
que ouve? Como a vida ipsi lateral é inibida, então, ele dirá que está a ouvir a casa que é o que
chega ao HE que é o da linguagem. Verbalmente o hemisfério que domina é o esquerdo. O sujeito
vai informar do que está no hemisfério esquerdo pq não tem conhecimento do que está no
hemisfério direito.
Se lhe pedirmos para desenhar com a mão esquerda desenhará então carro pq a mão esquerda
corresponde ao HD. Ele desenhará o que tem no HD. A nível motor o lado esquerdo é controlado
pelo HD. Assim a mão direita vai desenhar aquilo que está no HE.
Modalidade táctica
Faz referencia a nomear objectos que estão situados na mão. Se o cérebro esta
comissurotomizado o cérebro vai nomear o que esta na mão direita (a via táctil é contra lateral),
pq esta é a informação que passa para o HE responsável pela linguagem.
Problemas e dificuldades
Todos estes estudos apresentam importantes limitações:
Comussurotomia aplica-se em sujeitos com epilepsia grave que são sujeitos que já têm dano
cerebral pois tem certas compensações cerebrais de forma a cobrir o deficit.
São estudos pouco homogéneos – sujeitos com características mto diferentes. Em investigação
cientifica os grupos devem ser o mais homogéneo possível. Qt mais heterogéneo é o grupo
mais fracas são as conclusões.
As comussurotomias não vão evitar totalmente a transferência de informação. O corpo caloso
não é a única comissura (entre as outras a mais importante é a comissura anterior). A
comissura anterior permite que a informação visual passe de um hemisfério para outro na
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ausência do corpo caloso. Estes procedimentos não garantem com certeza absoluta que não
há transferência entre os hemisférios.
Dificilmente a selecção abarca todo o corpo caloso pode ficar uma parte não anestesiada que
permite passar a informação.
O individuo pode desenvolver estratégias compensatórias para passar a informação
Estas técnicas foram úteis para desenvolver técnicas de informação, mas é preciso ter cuidado
com as conclusões. É preciso que a técnica seja mto bem aplicada cuidando todas essas variáveis
irregulares.
c) Sujeitos normais
Foram aplicados estes mesmos procedimentos que com os sujeitos comissurotomizados, mas com
sujeitos em estado normal. Técnicas:
Lente Z – esta técnica funciona perfeitamente num sujeito normal. Estimulo na hemiretina
lateral direita e pedimos uma resposta manual e fazemos o mesmo para o outro lado de forma
a ver os tempos de reacção e resposta dos estímulos… (falta qq coisa)
Técnicas concorrentes – vai ser mais lento qd as duas actividades são do mesmo hemisférios.
Se estivermos a ler, para dar golpes com a mão ao mesmo tempo será mais fácil dar pancadas
com a esquerda pq é da responsabilidade do HD. Por outro lado temos maior dificuldade em
ler qd bato com a mão direita. As dificuldades vão aparecer qd o hemisfério está
sobrecarregado de actividades.
Outras técnicas
Existem outras técnicas para estudar a lateralização em sujeitos normais. Quais? Lateralizaçao de
estímulos ou a especialização hemisférica? Podemos ver o cérebro funcionando de tal forma que
assim podemos ver se está a funcionar o HE ou o HF. São as técnicas de imagem funcional.
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não significa ser exclusivamente direitos e vice-versa. A preferência manual direita-esquerda é
um contínuo entre um lado e outro. Também a lateralização da linguagem é um contínuo
entre um e o outro podendo estar em diferentes partes destes contínuos.
Preferência manual e linguagem inversamente proporcionais – Estes contínuos são opostos
(inversamente proporcionais): se a preferência para escrever é fortemente do lado esquerdo
então a tendência é que a linguagem seja sobretudo do lado direito, ou melhor neste caso que
esteja nos dois hemisférios. Os esquerdos tendem a ser mais bilateralizados: estatisticamente
um canhoto é mais habilidoso com a mão direita que um esquerdo com a mão esquerda.
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o Dentro do HE há mais áreas desenvolvidas na linguagem nas mulheres do que nos
homens.
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