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Regime Disciplinar Diferenciado. Breves comentários.

Rogério Sanches Cunha

Promotor de Justiça/SP

Professor de Penal e Processo Penal do Curso LFG

Professor Penal e Processo Penal do JusPodivm/BA

Sumário: 1) Introdução; 2) RDD – Conceito; 3) Constitucionalidade; 4) RDD –


Características; 5) RDD - Cabimento; 6) RDD - judicialização; 7) RDD preventivo; 8)
Disposições finais. Estabelecimentos Penitenciários.

1) Introdução:

Encerrado o processo de conhecimento, a relação jurídica forçadamente criada entre o


Estado e o acusado continua na fase da execução, buscando aquele concretizar o
comando trazido pela sentença penal condenatória (ou absolutória imprópria).

Esta nova etapa está repleta de direitos e deveres mútuos (Estado e acusado), sendo
importante lembrar que o jus executionis não é absoluto, incondicionado ou ilimitado.
Encontra limites traçados na própria sentença condenatória (privar de liberdade o
condenado pelo tempo nela expressamente determinado) e na Lei de Execução Penal
(LEP), que cria para o prisioneiro alguns direitos (invioláveis, imprescritíveis e
irrenunciáveis) não atingidos pelo internamento prisional[1]. Busca-se, assim, evitar a
hipertrofia da punição, que viola não só o princípio constitucional da
proporcionalidade, mas transforma-se em poderoso fator de reincidência.

É precisamente no capítulo IV da LEP, arts. 38 a 43, que o legislador traçou verdadeiro


estatuto jurídico do preso (definitivo ou provisório), elencando, de maneira minuciosa,
os seus deveres (rol exaustivo) e direitos (rol exemplificativo), tudo visando a boa
convivência entre as partes processuais, bem como entre os habitantes do sistema
prisional. Aliás, sabendo que as prisões são verdadeiros agrupamentos humanos, e que
todos os grupos humanos necessitam de ordem e disciplina para que seja possível a
convivência harmônica entre seus componentes, nos arts. 44 a 60 estão previstas normas
atinentes à disciplina do preso (definitivo e provisório), fundamentando-se em um jogo
equilibrado entre um sistema de recompensas que estimula a boa conduta dos internos e
uma série de sanções para aqueles que realizam ações que ponham em perigo a
convivência ordenada que se requer em um centro penitenciário[2]. A disciplina
consiste na colaboração com a ordem, na obediência às determinações das autoridades e
seus agentes e no desempenho do trabalho.

Para o nosso estudo interessa, mais diretamente, os dispositivos atinentes à disciplina do


preso, sem desconsiderarmos, contudo, os seus deveres e direitos, questões
umbilicalmente ligadas.

Vejamos.

O condenado ou denunciado[3], no início da execução da pena ou da prisão, será


cientificado das normas disciplinares (art. 46). Aliás, a obediência às normas pressupõe,
invariavelmente, que o seu destinatário as conheça, oportunidade em que ficará, desde
logo, advertido das conseqüências que a prática de alguma falta pode causar.

As faltas disciplinares (demérito do preso) classificam-se em leve, média ou


grave. A LEP define somente as de natureza grave (arts. 50[4], 51[5] e 52[6]), deixando
à legislação local a missão de etiquetar as demais. Essa verdadeira divisão de tarefas,
bem explicada na Exposição de Motivos da LEP, respeita as peculiaridades de cada
região, o tipo de criminalidade, mutante quanto aos meios e modos de execução, a
natureza do bem jurídico ofendido e outros aspectos que sugerem tratamentos
disciplinares que se harmonizem com as características do ambiente.

As sanções cabíveis em caso de falta disciplinar (graves) estão enumeradas,


taxativamente, no artigo 53:

I – advertência verbal;

II - repreensão;
III - suspensão ou restrição de direitos;

IV - isolamento na própria cela, ou em local adequado, nos estabelecimentos que


possuem alojamento coletivo;

V – inclusão no regime disciplinar.

O tema do nosso estudo reside, precisamente, nos artigos 52 e 53, V,


recentemente alterados pela Lei nº 10.792/03, a seguir comentada.

2) Regime Disciplinar Diferenciado: conceito:

O Governo Federal estudava, em março de 2003, uma medida visando criar um


sistema de ‘‘cárcere duro’’ no país, aplicado aos condenados por delitos ligados ao
crime organizado. Esta era a sua idéia original, tendo como objetivo principal dar
amparo legal ao Regulamento Disciplinar Diferenciado (RDD), existente como norma
administrativa em prisões de segurança máxima do Rio de Janeiro e São Paulo.

Dentro desse espírito, não tardou para surgir a Lei nº 10.792/03, criando o
Regime Disciplinar Diferenciado (arts. 52 e 53, V, ambos da LEP), forma mais drástica
de punir e prevenir o aparecimento de comportamentos indesejados dentro dos
estabelecimentos penais (sanção disciplinar).

Como o próprio nome já anuncia, a disciplina imposta com a novel medida é


diferenciada, restringindo, como nenhuma outra, a já limitada liberdade de locomoção
do preso e alguns dos seus direitos.

3) Regime Disciplinar Diferenciado: constitucionalidade:

Percebemos manifestações várias no sentido de que esta sanção diferenciada é cruel,


desumana e degradante, afrontando, a um só tempo, a Constituição Federal (art. 5º, incs.
III e XLVII, letra e) e vários tratados internacionais ratificados pelo Brasil[7].
Aliás, nessa esteira de raciocínio, manifestou-se a 1ª Câm. do TJ de São Paulo
(HABEAS CORPUS - Processo nº 978.305.3/0-00):

“O chamado RDD (Regime disciplinar diferenciado), é uma aberração jurídica que


demonstra à saciedade como o legislador ordinário, no afã de tentar equacionar o
problema do crime organizado, deixou de contemplar os mais simples princípios
constitucionais em vigor.

A questão já foi abordada por está 1ª Colenda Câmara Criminal do Tribunal de Justiça
de São Paulo:

Na ocasião, como muito bem asseverou o E. Des. Marco Nahum, no Habeas Corpus nº
893.915-3/5-00 – São Paulo (v.u), ‘o referido ‘regime disciplinar diferenciado’
determina que o preso seja recolhido em cela individual, com saídas diárias de 02 horas
para banho de sol, o que significa dizer que a pessoa fica isolada por 22 horas ao dia.
Sua duração é de um ano, sem prejuízo de que nova sanção seja aplicada em virtude de
outra falta grave, podendo o prazo de isolamento se estender até 1/6 da pena. Ainda é
proibido ao preso que ouça, veja, ou leia qualquer meio de comunicação, o que significa
dizer que não recebe jornais, ou revistas, assim como não assiste televisão, e não ouve
rádio. Independentemente de se tratar de uma política criminológica voltada apenas para
o castigo, e que abandona os conceitos de ressocialização ou correção do detento, para
adotar ‘medidas estigmatizantes e inocuizadoras’ próprias do ‘Direito Penal do
Inimigo’, o referido ‘regime disciplinar diferenciado’ ofende inúmeros preceitos
constitucionais’.

E continua o insigne Magistrado, ‘trata-se de uma determinação desumana e degradante


(art. 5º, III, da CF), cruel (art. 5º, XLVII, da CF), o que faz ofender a dignidade humana
(art. 1º, III, da CF). Por fim, note-se que o Estado Democrático é aquele que procura um
equilíbrio entre a segurança e a liberdade individual, de maneira a privilegiar, neste
balanceamento de interesses, os valores fundamentais de liberdade do homem. O
desequilíbrio em favor do excesso de segurança com a conseqüente limitação excessiva
da liberdade das pessoas implica, assim, em ofensa ao Estado Democrático’.

E não é só.

O Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, ao entender como


inconstitucional o citado regime disciplinar, ainda deixou evidente que a medida ‘é
desnecessária para a garantia da segurança dos estabelecimentos penitenciários
nacionais e dos que ali trabalham, circulam e estão custodiados, a teor do que já prevê
a Lei 7.210/84’.

Se o acima narrado já não bastasse, o próprio Ministério da Justiça afirmou que ‘o


isolamento não é boa prática; ...; um modelo de gestão muito mais positivo é o de
abrigar os presos problemáticos em pequenas unidades de até dez presos, com base de
que é possível proporcionar um regime positivo para presos que causam transtorno,
confinando-os em ‘isolamento em grupos’, em vez da segregação individual’.

Assim, por toda a inconstitucionalidade inerente ao ‘RDD’, impõe-se o reconhecimento


da ilegalidade da medida adotada contra o paciente, e a concessão do ‘writ’, a fim de
que o reeducando seja imediatamente removido do ‘regime disciplinar diferenciado’ a
que foi transferido.

Ousamos discordar.

Preliminarmente, deve ser observado que a Câmara do Tribunal de Justiça, por si só,
não tem competência para declarar inconstitucionalidade de lei, devendo submeter a
matéria ao pleno. Essa observação foi feita pelo STF, em HC impetrado por recluso
buscando na decisão do TJ de São Paulo precioso precedente. Explica o Min. Celso de
Mello (HABEAS CORPUS 88.508-0/ RJ):

“O impetrante, ao postular a remoção cautelar do ora paciente ‘para uma das


unidades prisionais comuns do Estado do Paraná’ (fls. 236, n. 1), apóia tal pedido em
recentíssima decisão proferida pela colenda Primeira Câmara Criminal do E. Tribunal
de Justiça paulista, que teria declarado a inconstitucionalidade de determinado ato
estatal (Resolução SAP nº 026/2001) que instituiu, no âmbito do Estado de São Paulo,
o regime disciplinar diferenciado (RDD).

Cabe-me observar, neste ponto, que a referida declaração de inconstitucionalidade –


caso confirmada – não poderia emanar daquela colenda Câmara Criminal, que, por
ser órgão meramente fracionário, não dispõe de competência para formular juízo de
ilegitimidade constitucional, considerada a norma inscrita no art. 97 da Constituição
da República.
Como se sabe, a inconstitucionalidade de qualquer ato estatal (ainda que se trate de
mera resolução administrativa) só pode ser declarada pelo voto da maioria absoluta
da totalidade dos membros do Tribunal ou, onde houver, dos integrantes do respectivo
órgão especial (como ocorre em São Paulo), sob pena de absoluta nulidade da
decisão emanada do órgão fracionário (Turma, Câmara ou Seção).

É preciso ter presente, neste ponto, que o respeito ao postulado da reserva de


plenário - consagrado pelo art. 97 da Constituição (e introduzido, em nosso sistema
de direito constitucional positivo, pela Carta Federal de 1934) - atua como verdadeira
condição de eficácia jurídica da própria declaração jurisdicional de
inconstitucionalidade dos atos do Poder Público, consoante adverte o magistério da
doutrina (LÚCIO BITTENCOURT, “O Controle Jurisdicional da
Constitucionalidade das Leis”, p. 43/46, 2ª ed., 1968, Forense; MANOEL
GONÇALVES FERREIRA FILHO, “Comentários à Constituição Brasileira de
1988”, vol. 2/209, 1992, Saraiva; ALEXANDRE DE MORAES, “Constituição do
Brasil Interpretada”, p. 1424/1440, 6ª ed., 2006, Atlas; JOSÉ AFONSO DA SILVA,
“Curso de Direito Constitucional Positivo”, p. 50/52, item n. 14, 27ª ed., 2006,
Malheiros; UADI LAMMÊGO BULOS, “Constituição Federal Anotada”, p. 939/943,
5ª ed., 2003, Saraiva; LUÍS ROBERTO BARROSO, “O Controle de
Constitucionalidade no Direito Brasileiro”, p. 77/81, itens ns. 3.2 e 3.3, 2004,
Saraiva; ZENO VELOSO, “Controle Jurisdicional de Constitucionalidade”, p.
50/51, item n. 41, 1999, Cejup; OSWALDO LUIZ PALU, “Controle de
Constitucionalidade”, p. 122/123 e 276/277, itens ns. 6.7.3 e 9.14.4, 2ª ed., 2001, RT,
v.g.).

A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, por sua vez, tem reiteradamente


proclamado que a desconsideração do princípio em causa gera, como inevitável efeito
conseqüencial, a nulidade absoluta da decisão judicial colegiada, que, emanando de
órgão meramente fracionário, haja declarado a inconstitucionalidade de determinado
ato estatal (RTJ 58/499 - RTJ 71/233 - RTJ 110/226 - RTJ 117/265 - RTJ 135/297).

As razões subjacentes à formulação do postulado constitucional do “full bench”,


excelentemente identificadas por MARCELO CAETANO (“Direito Constitucional”,
vol. II/417, item n. 140, 1978, Forense), justificam a advertência dos Tribunais, cujos
pronunciamentos - enfatizando os propósitos teleológicos visados pelo legislador
constituinte - acentuam que ‘A inconstitucionalidade de lei ou ato do poder público só
pode ser decretada pelo voto da maioria absoluta dos membros do Tribunal, em sessão
plena’ (RF 193/131 - RTJ 95/859 - RTJ 96/1188 - RT 508/217).

Não se pode perder de perspectiva, por isso mesmo, o magistério jurisprudencial


desta Suprema Corte, cujas decisões assinalam a alta significação político-jurídica de
que se reveste, em nosso ordenamento positivo, a exigência constitucional da reserva
de plenário:

Nenhum órgão fracionário de qualquer Tribunal dispõe de competência, no sistema


jurídico brasileiro, para declarar a inconstitucionalidade de leis ou atos emanados do
Poder Público. Essa magna prerrogativa jurisdicional foi atribuída, em grau de
absoluta exclusividade, ao Plenário dos Tribunais ou, onde houver, ao respectivo
Órgão Especial. Essa extraordinária competência dos Tribunais é regida pelo
princípio da reserva de plenário inscrito no artigo 97 da Constituição da República.

Suscitada a questão prejudicial de constitucionalidade perante órgão fracionário de


Tribunal (Câmaras, Grupos, Turmas ou Seções), a este competirá, em acolhendo a
alegação, submeter a controvérsia jurídica ao Tribunal Pleno.”

Pensamos que a drástica medida é constitucional, desde que utilizada como sanção
extrema, excepcional, servindo como derradeira trincheira na correção do reeducando
faltoso e perigoso, preferindo o juiz, sempre que possível e suficiente (critério de
proporcionalidade), as sanções outras trazidas na mesma lei. Vamos, agora, descrever
esse necessário castigo de forma a não ferir a nossa Bíblia Política, interpretando suas
hipóteses e características de acordo com princípios constitucionais.

Apresento, em seguido, um quadro resumindo os argumentos das duas correntes:

Inconstitucional Constitucional
O RDD fere a dignidade da pessoaO RDD não representa, per si, a
humana, constituindo sanção desubmissão do encarcerado a
caráter cruel, desumano epadecimentos físicos e psíquicos,
degradante. impostos de modo vexatório, o que
somente restaria caracterizado nas
hipóteses em que houvesse, por
exemplo, o isolamento em celas
insalubres, escuras ou sem
ventilação.
O RDD configura sançãoO sistema penitenciário, em nome
desproporcional aos fins da pena (dada ordem e da disciplina, bem como
execução). da regular execução das penas, há
que se valer de medidas
disciplinadoras, e o regime em
questão atende ao primado da
proporcionalidade entre a gravidade
da falta e a severidade da sanção.
O RDD ofende coisa julgada,Transitada em julgado a sentença
representando quarta modalidade decondenatória, surge entre o
regime de cumprimento de pena. condenado e o Estado, na execução
da pena, uma nova relação jurídica.
O regime instituído pela Lei n.º
10.792/2003 (RDD) visa propiciar a
manutenção da ordem interna dos
presídios, não representando,
portanto, uma quarta modalidade de
regime de cumprimento de pena, em
acréscimo àqueles previstos pelo
Código Penal (art. 33, CP).
O RDD desrespeita o princípio daÉ expressa a lei (art. 52 da LEP) no
legalidade, gerando verdadeiro bissentido de que, havendo a prática de
in idem. crime, devem ser instaurados os dois
processos (penal e administrativo)
de que resultarão as sanções de duas
espécies. Não se trata,
evidentemente, de violar o principio
non bis in idem, pois, de acordo com
a melhor doutrina, constituem-se em
infrações a ordenamentos jurídicos
diversos (de direito penal e de
execução penal), como aliás ocorre
também com a aplicação de sanções
penais e civis quando da prática de
crime de que resulta prejuízo.

4) Regime Disciplinar Diferenciado: características:

A sanção disciplinar diferenciada tem as seguintes características (art. 52):

I - duração máxima de trezentos e sessenta dias, sem prejuízo de repetição da sanção


por nova falta grave de mesma espécie, até o limite de um sexto da pena aplicada.

O RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), na primeira ocorrência, tem duração


de um ano, contado na forma do artigo 10 do CP (o dia do começo inclui-se no cômputo
do prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calendário comum).
No caso de reincidência, a sanção diferenciada está limitada a 1/6 da pena efetivamente
aplicada (e não a cumprida ou a que resta cumprir), podendo, desse modo, suplantar ou
não o limite de um ano, tudo dependendo da reprimenda imposta na sentença.

Pela simples leitura do inciso parece, a primae facie, que a sanção poderá se dar
tantas vezes quantas forem as faltas graves repetidamente praticadas, sem limites.

II - recolhimento em cela individual.

O cumprimento da sanção se dará em cela individual (a conhecida solitária),


com acompanhamento psicológico. No entanto, o isolamento deve ser implantado sem
se desconsiderar as proibições trazidas pelo artigo 45 da LEP, onde, no seu primeiro
parágrafo, veda o emprego de cela escura, acrescentando a doutrina, ainda, os
alojamentos inabitáveis ou insalubres.

III - visitas semanais de duas pessoas, sem contar as crianças, com duração de duas
horas;

A proibição parece simples: o interno tem direito somente a visitas semanais de


duas pessoas, sem contar as crianças, com duração de duas horas. Contudo, o modo
peculiar como foi redigida trará discussão. Por exemplo, a ressalva “sem contar
crianças” quer excluí-las das visitas, ou apenas não computá-las no limite máximo de
dois visitantes?

As duas assertivas parecem possíveis de serem extraídas da simples leitura do


inciso em comento. No entanto, esse conflito é apenas aparente, extraindo-se a resposta
do próprio sistema jurídico (interpretação sistemática).

Vejamos.

Sabemos todos ser fundamental ao regime penitenciário a regra de que o preso


não deve romper seus contatos com o mundo exterior e que não sejam debilitadas as
relações que o une aos familiares e amigos. A manutenção dos laços (principalmente
com a família) é essencial para o habitante prisional, porque o leva a sentir que,
mantendo contatos, embora com limitações, com as pessoas que se encontram fora do
presídio, não foi excluído da comunidade[8].

Nesse diapasão, mesmo quando incluído no regime mais drástico de


cumprimento de pena, deve ser garantido ao interno faltoso o direito de relacionar-se
com seus entes queridos.

Contudo (e aqui reside o problema maior a ser enfrentado), considerando os


princípios basilares traçados no Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei no 8.069/90)
-princípios da prevenção geral e especial; do atendimento integral à criança; garantia
prioritária; proteção estatal; prevalência dos interesses do menor; indisponibilidade
dos interesses do menor - parece que a proibição de visitas de crianças soa mais correta.
Aliás, as Regras Mínimas da ONU, de 1955, no seu preceito 79, dispõe que se deve
velar particularmente para que se mantenham e melhorem as boas relações entre o preso
e sua família quando estas sejam convenientes para ambas as partes (grifamos). Ora, a
visita de crianças, no caso, não nos parece nada conveniente.

IV - o preso terá direito à saída da cela por 2 horas diárias para banho de sol.

Fica claro que o direito do preso se limita à saída da cela por duas horas diárias
para o banho de sol, sem um horário pré-determinado para tanto (aliás, considerando o
tipo de preso submetido a tal regime, evitar rotina é o mais adequado).

5) Regime Disciplinar Diferenciado: cabimento:

A inclusão no regime disciplinar diferenciado tem cabimento nos casos


expressamente definidos na LEP, mais precisamente no seu artigo 52, caput e
parágrafos.

São eles:
a) a prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e, quando
ocasione subversão da ordem ou disciplina internas, sujeita o preso provisório, ou
condenado, sem prejuízo da sanção penal, ao regime disciplinar diferenciado (...):

A primeira hipótese de cabimento da medida extrema se dá com a prática de fato


previsto como crime doloso, que ocasione subversão da ordem ou disciplina internas.
Logo, não será todo e qualquer crime doloso que sujeitará o seu agente ao RDD, mas
apenas aqueles que causam tumulto carcerário.

Aqui incluímos, em casos excepcionais, também a prática de crime preterdoloso


(ou preterintencional), sendo este nada mais que um crime doloso agravado pelo
resultado culposo[9].

Mesmo que o crime doloso, causador de desordem carcerária, fique no campo da


tentativa, será punido com a sanção correspondente à falta consumada (art. 49,
parágrafo único, da LEP). No entanto, “como na tentativa as conseqüências do fato não
existem ou não são tão graves quanto na consumação, na fixação da sanção disciplinar
será tida em vista essa circunstância para a escolha da natureza ou duração da
punição”[10].

Entendemos que o presente inciso só se aplica ao preso enclausurado


(“subversão da ordem ou disciplina internas”) e não ao que cumpre pena em liberdade
(penas restritivas de direitos, saída temporária, livramento condicional etc).

Sem prejuízo da sanção administrativa, é óbvio que o preso faltoso responderá


penalmente pelo crime doloso praticado.

b) o regime disciplinar diferenciado também poderá abrigar presos provisórios ou


condenados, nacionais ou estrangeiros, que apresentem alto risco para a ordem e a
segurança do estabelecimento penal ou da sociedade.

O RDD também se aplica ao preso provisório ou definitivo que, independentemente do


crime praticado ou condenado, apresenta alto risco para a segurança interna do
estabelecimento prisional ou para a sociedade. É o caso do interno que, mesmo dentro
do presídio ou estabelecimento prisional, comanda crimes do lado de fora (extra muro),
colocando em risco a sociedade e a própria milícia.
Confessamos a dificuldade de se extrair o real significado do que seja “alto risco para a
ordem e a segurança do estabelecimento penal ou da sociedade”, mostrando-se ampla,
margeando a ambigüidade, campo fértil para a arbitrariedade. Melhor teria feito o
legislador se relacionasse, ainda que de forma meramente exemplificativa, casos que
pudessem servir de norte para a interpretação do aplicador da lei (interpretação
analógica).

c) estará igualmente sujeito ao regime disciplinar diferenciado o preso provisório ou o


condenado sob o qual recaiam fundadas suspeitas de envolvimento ou participação, a
qualquer título, em organizações criminosas, quadrilha ou bando.

Outra hipótese autorizadora do RDD repousa no caso do preso provisório ou definitivo


que integre organização criminosa, quadrilha ou bando[11]. Eis aqui a preocupação do
legislador pátrio em coibir, de maneira firme e convincente, os integrantes das empresas
criminosas, verdadeiros líderes, com seguidores dentro e fora do sistema carcerário,
merecendo, por isso, isolamento como forma de desmantelar o malfazejo grupo.

Tecemos, no entanto, severa crítica à expressão “fundada suspeita” utilizada pelo


inciso em análise. Entendemos inaplicável medida tão drástica quando presentes apenas
fundadas suspeitas (indícios). Deve ser devidamente comprovado algum fato ligando o
interno, a qualquer título (co-autor ou partícipe, moral ou material), a uma sociedade
criminosa.

6) RDD: judicialização:

O regime diferencial diferenciado (RDD), de acordo com a Lei 10.792/03, está


submetido ao sistema da judicialização, isto é, foi confiado apenas ao juiz o império da
sua aplicação.

Dispõe o art. 54, com a novel redação:

“As sanções disciplinares dos incs. I a IV do art. 53 serão aplicadas por ato motivado do
diretor do estabelecimento e a do inc. V, por prévio e fundamentado despacho[12] do
juiz competente”.
A autorização, no entanto, dependerá de requerimento circunstanciado elaborado
pelo diretor do estabelecimento ou outra autoridade administrativa (§ 1º).

A questão que aqui se coloca é a seguinte: o Ministério Público, omitido como


possível requerente pelo art. 54, pode, como órgão da execução penal, demandar
também a aplicação dessa nova medida?

Analisando o disposto na alínea “a”, inc. II, do artigo 68 da LEP[13], a resposta


só pode ser afirmativa. Além do mais, a amplitude da presente alínea torna inúteis as
demais, todas, de certa forma, ligadas ao desenvolvimento regular do processo
executivo.

Nos termos do § 2º do art. 54, a decisão judicial sobre a inclusão de preso em regime
disciplinar será precedida do devido processo legal, manifestando-se o Ministério
Público (ou como requerente ou como custos legis) e o indigitado faltoso, que terá
oportunidade de exercer seu sagrado direito de defesa, consubstanciado no
contraditório.

Com a nova redação do artigo 57 da LEP, na aplicação das sanções


disciplinares, levar-se-ão em conta a natureza, os motivos, as circunstâncias e as
conseqüências do fato, bem como a pessoa do faltoso e seu tempo de prisão,
reservando-se para as faltas graves as sanções previstas nos incisos III a V do art. 53 da
LEP (dentre elas o RDD)[14].

O presente dispositivo enuncia expressamente o princípio constitucional da


individualização da pena, vedando, como já faz o artigo 45, § 3º, as sanções coletivas.

7) O RDD preventivo:

O artigo 60, caput, da LEP[15], alterado pela Lei em comento, dispõe:


“A autoridade administrativa poderá decretar o isolamento preventivo do faltoso, pelo
prazo máximo de 10 (dez) dias. A inclusão do preso no regime disciplinar diferenciado,
no interesse da disciplina e da averiguação do fato, dependerá de despacho do juiz
competente”.

Com a nova redação dada pela Lei nº 10.792/03, foram previstas duas medidas
preventivas:

a) isolamento cautelar do preso, decretado pela autoridade administrativa, comunicando,


em seguida, a autoridade judiciária;

b) aplicação preventiva do regime disciplinar diferenciado, autorizada pelo juiz


competente. Aqui surge a dúvida: a autorização judicial deve preceder a medida
preventiva, ou apenas referendá-la?

As duas interpretações parecem possíveis. Para uns, a autorização judicial


deverá preceder o regime provisório (judicialização), mesmo porque se quisesse o
legislador o contrário, teria redigido a exceção como o fez no isolamento cautelar,
prevendo expressamente a comunicação posterior. Outros, não sem razão, considerando
a posição topográfica do mandamento, bem como a necessidade de decisões rápidas
diante de situações graves e inesperadas, causadoras de subversão da ordem interna do
presídio, sugerem que a inclusão provisória está também inserida entre as atribuições
cautelares da autoridade administrativa, que deverá, incontinenti, submeter a sua
decisão à apreciação do juiz competente, podendo este referendá-la ou não[16].

Por fim, deve ser alertado que o tempo de isolamento ou inclusão preventivo no
regime disciplinar diferenciado será computado no período de cumprimento da sanção
disciplinar (art. 60, parágrafo único).

8) Disposições finais: Estabelecimentos penitenciários:

A Lei n° 10.792/03 traz recomendações no programa de construção e segurança


dos presídios, em especial daqueles que se destinam ao regime disciplinar diferenciado.
Orienta que tais estabelecimentos disporão de aparelho detector de metais, aos quais
devem se submeter todos que queiram ter acesso ao referido estabelecimento, ainda que
exerçam qualquer cargo ou função pública, bem como de bloqueadores de
telecomunicação para telefones celulares, rádio-transmissores e outros meios, definidos
no art. 60, § 1o, da Lei no 9.472, de 16 de julho de 1997 (arts. 3° e 4°).

Programa, ainda, que a União priorizará, quando da construção de presídios


federais, os estabelecimentos que se destinem a abrigar presos provisórios ou
condenados sujeitos a regime disciplinar diferenciado (art. 8°), definindo, através dos
seus órgãos (em especial, o Conselho Nacional de Político Criminal e Penitenciária e os
Departamentos Penitenciários), os padrões mínimos do presídio destinado ao
cumprimento de regime disciplinar (art. 7°), em particular sobre sua localização (em
princípio afastados dos centros urbanos a uma distância que não restrinja a visitação),
arquitetura, requisitos das celas etc.

Aos Estados e Distrito Federal, respeitando o disposto no inciso I do art. 24 da


Constituição da República, bem como os arts. 44 a 60 da Lei no 7.210, de 11 de junho
de 1984, faculta-se regulamentar o regime disciplinar diferenciado, em especial para:

I - estabelecer o sistema de rodízio entre os agentes penitenciários que entrem em


contato direto com os presos provisórios e condenados;

II - assegurar o sigilo sobre a identidade e demais dados pessoais dos agentes


penitenciários lotados nos estabelecimentos penais de segurança máxima;

III - restringir o acesso dos presos provisórios e condenados aos meios de comunicação
de informação;

IV - disciplinar o cadastramento e agendamento prévio das entrevistas dos presos


provisórios ou condenados com seus advogados, regularmente constituídos nos autos da
ação penal ou processo de execução criminal, conforme o caso;

V - elaborar programa de atendimento diferenciado aos presos provisórios e


condenados, visando a sua reintegração ao regime comum e recompensando-lhes o bom
comportamento durante o período de sanção disciplinar.
[1] Art. 3º LEP - Ao condenado e ao internado serão assegurados todos os direitos não
atingidos pela sentença ou pela lei.

[2] Mirabete, Execução Penal. Atlas. 2003 p. 130

[3] A expressão “denunciado” deve sofrer interpretação extensiva, alcançando, também,


o querelado, ou mesmo o averiguado preso provisoriamente (prisão temporária e
preventiva).

[4] Art. 50 - Comete falta grave o condenado à pena privativa de liberdade que:

I - incitar ou participar de movimento para subverter a ordem ou a disciplina;

II - fugir;

III - possuir, indevidamente, instrumento capaz de ofender a integridade física de


outrem;

IV - provocar acidente de trabalho;

V - descumprir, no regime aberto, as condições impostas;

VI - inobservar os deveres previstos nos incisos II e V do artigo 39 desta Lei.

Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se, no que couber, ao preso provisório.

[5] Art. 51 - Comete falta grave o condenado à pena restritiva de direitos que:

I- descumprir, injustificadamente, a restrição imposta;

II – retardar, injustificadamente, o cumprimento da obrigação imposta;

III - inobservar os deveres previstos nos incisos II e V do artigo 39 desta Lei.

[6] Art. 52 - A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e,
quando ocasione subversão da ordem ou disciplina internas, sujeita o preso provisório,
ou condenado, sem prejuízo da sanção penal, ao regime disciplinar diferenciado, com
as seguintes características:

I – duração máxima de trezentos e sessenta dias, sem prejuízo de repetição da sanção


por nova falta grave de mesma espécie, até o limite de um sexto da pena aplicada;

II – recolhimento em cela individual;

III – visitas semanais de duas pessoas, sem contar as crianças, com duração de duas
horas;

IV – o preso terá direito à saída da cela por duas horas diárias para banho de sol.
§ 1º O regime disciplinar diferenciado também poderá abrigar presos provisórios ou
condenados, nacionais ou estrangeiros, que apresentem alto risco para a ordem e a
segurança do estabelecimento penal ou da sociedade.

§ 2º Estará igualmente sujeito ao regime disciplinar diferenciado o preso provisório


ou o condenado sob o qual recaiam fundadas suspeitas de envolvimento ou participação,
a qualquer título, em organizações criminosas, quadrilha ou bando. (grifamos)

[7] Nesse sentido, Roberto Delmanto, “Regime Disciplinar Diferenciado ou Pena


Cruel”, Boletim IBCCrim, Ano 11, nº 134, janeiro 2004, p. 5.

[8] Mirabete, Execução Penal. Atlas. 2003 p. 121.

[9] Para reforçar esse entendimento (frise-se, aplicável em casos excepcionais), basta
estudarmos a seguinte situação hipotética: dois pavilhões de um presídio se deparam
com alguns internos promovendo uma rebelião, oportunidade em que colocam fogo nos
colchões. Num dos pavilhões, o fogo destrói vários cômodos e, apesar de causar
subversão na ordem, não traz maiores danos ao local. No outro, o fogo, além de
subverter a ordem do local, causa, culposamente, a morte de um agente penitenciário.
Excluir o preterdolo do alcance da norma seria aplicar o RDD para os faltosos do
primeiro pavilhão, e não para os do segundo, cujo resultado foi até mais grave. A
situação ficaria, no mínimo, esquisita.

[10] Mirabete, Execução Penal. Atlas. 2003 p. 138.

[11] Da simples leitura do dispositivo legal percebe-se dispensável a prática de algum


dos delitos previstos na Lei das Organizações Criminosas (9.034/95 e 10.217/01); basta
a presença dos elementos configuradores do artigo 288 do CP, quando nocivo para a
sociedade.

[12] Apesar de constar do dispositivo em comento o termo despacho, cuida-se, na


verdade, de sentença, desafiando, desse modo, todo o sistema de recursos vigente.

[13] Art. 68. Incumbe, ainda, ao Ministério Público:

I - fiscalizar a regularidade formal das guias de recolhimento e de internamento;

II - requerer:

a) todas as providências necessárias ao desenvolvimento do processo executivo;

b) a instauração dos incidentes de excesso ou desvio de execução;

c) a aplicação de medida de segurança, bem como a substituição da pena por medida de


segurança;

d) a revogação da medida de segurança.

e) a conversão de penas, a progressão ou regressão nos regimes e a revogação da


suspensão condicional da pena e do livramento condicional;
f) a internação, a desinternação e o restabelecimento da situação anterior;

III - interpor recursos de decisões proferidas pela autoridade judiciária, durante a


execução.

Parágrafo único. O órgão do Ministério Público visitará mensalmente os


estabelecimentos penais, registrando a sua presença em livro próprio.

[14] O isolamento, a suspensão e a restrição de direitos não poderão exceder a trinta


dias, ressalvada a hipótese do regime disciplinar diferenciado (art. 58).

[15] Assim dispunha o artigo alterado:

“A autoridade administrativa poderá decretar o isolamento preventivo do faltoso, pelo


prazo máximo de 10 (dez) dias, no interesse da disciplina e da averiguação do fato.

Parágrafo único – O tempo de isolamento preventivo será computado no período de


cumprimento da sanção disciplinar”.

[16] Deve seguir o espírito da prisão em flagrante, medida inicialmente de natureza


administrativa, passando para o campo jurisdicional somente depois de referendada pelo
juiz.

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