Promotor de Justiça/SP
1) Introdução:
Esta nova etapa está repleta de direitos e deveres mútuos (Estado e acusado), sendo
importante lembrar que o jus executionis não é absoluto, incondicionado ou ilimitado.
Encontra limites traçados na própria sentença condenatória (privar de liberdade o
condenado pelo tempo nela expressamente determinado) e na Lei de Execução Penal
(LEP), que cria para o prisioneiro alguns direitos (invioláveis, imprescritíveis e
irrenunciáveis) não atingidos pelo internamento prisional[1]. Busca-se, assim, evitar a
hipertrofia da punição, que viola não só o princípio constitucional da
proporcionalidade, mas transforma-se em poderoso fator de reincidência.
Vejamos.
I – advertência verbal;
II - repreensão;
III - suspensão ou restrição de direitos;
Dentro desse espírito, não tardou para surgir a Lei nº 10.792/03, criando o
Regime Disciplinar Diferenciado (arts. 52 e 53, V, ambos da LEP), forma mais drástica
de punir e prevenir o aparecimento de comportamentos indesejados dentro dos
estabelecimentos penais (sanção disciplinar).
A questão já foi abordada por está 1ª Colenda Câmara Criminal do Tribunal de Justiça
de São Paulo:
Na ocasião, como muito bem asseverou o E. Des. Marco Nahum, no Habeas Corpus nº
893.915-3/5-00 – São Paulo (v.u), ‘o referido ‘regime disciplinar diferenciado’
determina que o preso seja recolhido em cela individual, com saídas diárias de 02 horas
para banho de sol, o que significa dizer que a pessoa fica isolada por 22 horas ao dia.
Sua duração é de um ano, sem prejuízo de que nova sanção seja aplicada em virtude de
outra falta grave, podendo o prazo de isolamento se estender até 1/6 da pena. Ainda é
proibido ao preso que ouça, veja, ou leia qualquer meio de comunicação, o que significa
dizer que não recebe jornais, ou revistas, assim como não assiste televisão, e não ouve
rádio. Independentemente de se tratar de uma política criminológica voltada apenas para
o castigo, e que abandona os conceitos de ressocialização ou correção do detento, para
adotar ‘medidas estigmatizantes e inocuizadoras’ próprias do ‘Direito Penal do
Inimigo’, o referido ‘regime disciplinar diferenciado’ ofende inúmeros preceitos
constitucionais’.
E não é só.
Ousamos discordar.
Preliminarmente, deve ser observado que a Câmara do Tribunal de Justiça, por si só,
não tem competência para declarar inconstitucionalidade de lei, devendo submeter a
matéria ao pleno. Essa observação foi feita pelo STF, em HC impetrado por recluso
buscando na decisão do TJ de São Paulo precioso precedente. Explica o Min. Celso de
Mello (HABEAS CORPUS 88.508-0/ RJ):
Pensamos que a drástica medida é constitucional, desde que utilizada como sanção
extrema, excepcional, servindo como derradeira trincheira na correção do reeducando
faltoso e perigoso, preferindo o juiz, sempre que possível e suficiente (critério de
proporcionalidade), as sanções outras trazidas na mesma lei. Vamos, agora, descrever
esse necessário castigo de forma a não ferir a nossa Bíblia Política, interpretando suas
hipóteses e características de acordo com princípios constitucionais.
Inconstitucional Constitucional
O RDD fere a dignidade da pessoaO RDD não representa, per si, a
humana, constituindo sanção desubmissão do encarcerado a
caráter cruel, desumano epadecimentos físicos e psíquicos,
degradante. impostos de modo vexatório, o que
somente restaria caracterizado nas
hipóteses em que houvesse, por
exemplo, o isolamento em celas
insalubres, escuras ou sem
ventilação.
O RDD configura sançãoO sistema penitenciário, em nome
desproporcional aos fins da pena (dada ordem e da disciplina, bem como
execução). da regular execução das penas, há
que se valer de medidas
disciplinadoras, e o regime em
questão atende ao primado da
proporcionalidade entre a gravidade
da falta e a severidade da sanção.
O RDD ofende coisa julgada,Transitada em julgado a sentença
representando quarta modalidade decondenatória, surge entre o
regime de cumprimento de pena. condenado e o Estado, na execução
da pena, uma nova relação jurídica.
O regime instituído pela Lei n.º
10.792/2003 (RDD) visa propiciar a
manutenção da ordem interna dos
presídios, não representando,
portanto, uma quarta modalidade de
regime de cumprimento de pena, em
acréscimo àqueles previstos pelo
Código Penal (art. 33, CP).
O RDD desrespeita o princípio daÉ expressa a lei (art. 52 da LEP) no
legalidade, gerando verdadeiro bissentido de que, havendo a prática de
in idem. crime, devem ser instaurados os dois
processos (penal e administrativo)
de que resultarão as sanções de duas
espécies. Não se trata,
evidentemente, de violar o principio
non bis in idem, pois, de acordo com
a melhor doutrina, constituem-se em
infrações a ordenamentos jurídicos
diversos (de direito penal e de
execução penal), como aliás ocorre
também com a aplicação de sanções
penais e civis quando da prática de
crime de que resulta prejuízo.
Pela simples leitura do inciso parece, a primae facie, que a sanção poderá se dar
tantas vezes quantas forem as faltas graves repetidamente praticadas, sem limites.
III - visitas semanais de duas pessoas, sem contar as crianças, com duração de duas
horas;
Vejamos.
IV - o preso terá direito à saída da cela por 2 horas diárias para banho de sol.
Fica claro que o direito do preso se limita à saída da cela por duas horas diárias
para o banho de sol, sem um horário pré-determinado para tanto (aliás, considerando o
tipo de preso submetido a tal regime, evitar rotina é o mais adequado).
São eles:
a) a prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e, quando
ocasione subversão da ordem ou disciplina internas, sujeita o preso provisório, ou
condenado, sem prejuízo da sanção penal, ao regime disciplinar diferenciado (...):
6) RDD: judicialização:
“As sanções disciplinares dos incs. I a IV do art. 53 serão aplicadas por ato motivado do
diretor do estabelecimento e a do inc. V, por prévio e fundamentado despacho[12] do
juiz competente”.
A autorização, no entanto, dependerá de requerimento circunstanciado elaborado
pelo diretor do estabelecimento ou outra autoridade administrativa (§ 1º).
Nos termos do § 2º do art. 54, a decisão judicial sobre a inclusão de preso em regime
disciplinar será precedida do devido processo legal, manifestando-se o Ministério
Público (ou como requerente ou como custos legis) e o indigitado faltoso, que terá
oportunidade de exercer seu sagrado direito de defesa, consubstanciado no
contraditório.
7) O RDD preventivo:
Com a nova redação dada pela Lei nº 10.792/03, foram previstas duas medidas
preventivas:
Por fim, deve ser alertado que o tempo de isolamento ou inclusão preventivo no
regime disciplinar diferenciado será computado no período de cumprimento da sanção
disciplinar (art. 60, parágrafo único).
III - restringir o acesso dos presos provisórios e condenados aos meios de comunicação
de informação;
[4] Art. 50 - Comete falta grave o condenado à pena privativa de liberdade que:
II - fugir;
Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se, no que couber, ao preso provisório.
[5] Art. 51 - Comete falta grave o condenado à pena restritiva de direitos que:
[6] Art. 52 - A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e,
quando ocasione subversão da ordem ou disciplina internas, sujeita o preso provisório,
ou condenado, sem prejuízo da sanção penal, ao regime disciplinar diferenciado, com
as seguintes características:
III – visitas semanais de duas pessoas, sem contar as crianças, com duração de duas
horas;
IV – o preso terá direito à saída da cela por duas horas diárias para banho de sol.
§ 1º O regime disciplinar diferenciado também poderá abrigar presos provisórios ou
condenados, nacionais ou estrangeiros, que apresentem alto risco para a ordem e a
segurança do estabelecimento penal ou da sociedade.
[9] Para reforçar esse entendimento (frise-se, aplicável em casos excepcionais), basta
estudarmos a seguinte situação hipotética: dois pavilhões de um presídio se deparam
com alguns internos promovendo uma rebelião, oportunidade em que colocam fogo nos
colchões. Num dos pavilhões, o fogo destrói vários cômodos e, apesar de causar
subversão na ordem, não traz maiores danos ao local. No outro, o fogo, além de
subverter a ordem do local, causa, culposamente, a morte de um agente penitenciário.
Excluir o preterdolo do alcance da norma seria aplicar o RDD para os faltosos do
primeiro pavilhão, e não para os do segundo, cujo resultado foi até mais grave. A
situação ficaria, no mínimo, esquisita.
II - requerer: