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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E GRADUAÇÃO


GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO

LUANA ROCHA DE SOUZA

(RE)URBANIZAÇÃO NO BAIRRO JARDIM MARCO ZERO:

Uma proposta de habitação de interesse social

Santana
2015
LUANA ROCHA DE SOUZA

(RE)URBANIZAÇÃO NO BAIRRO JARDIM MARCO ZERO:

Uma proposta de habitação de interesse social

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Federal do Amapá, como requisito parcial à
obtenção do título de bacharel.

Orientador: Prof.ª Ma. Danielle Guimarães

Santana
2015
LUANA ROCHA DE SOUZA

(RE)URBANIZAÇÃO NO BAIRRO JARDIM MARCO ZERO:

Uma proposta de habitação de interesse social

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Curso de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade Federal do
Amapá - UNIFAP, aprovado com
nota____, como requisito parcial à
obtenção do título de Bacharel.

COMISSÃO EXAMINADORA

______________________________________
Prof. M.ª Danielle Costa Guimarães
Universidade Federal do Amapá

______________________________________
Prof. Dr. Jodival Maurício da Costa
Universidade Federal do Amapá

______________________________________
Prof. Me. Elizeu Corrêa dos Santos
Universidade Federal do Amapá

Santana
2015
RESUMO

Este trabalho consiste em elaborar uma proposta arquitetônica de habitação de interesse


social (HIS) voltada aos moradores da ressaca das Pedrinhas, situada no bairro Marco Zero,
na cidade de Macapá. Esses moradores estão segregados e excluídos dos direitos urbanos
e vivem num elevado adensamento populacional que, sob o âmbito ambiental e sanitário não
apresentam um mínimo de condições de habitabilidade. Visando sanar as necessidades mais
latentes da população e manter seu modo de vida, foi elaborado um plano de realocação
incluindo todos os equipamentos comunitários necessários e o projeto das novas unidades
habitacionais. Para tanto, o método utilizado foi o descritivo, visando descrever e analisar o
modo de vida dos moradores, sendo a análise baseada, principalmente, no conceito habitus
de Bourdieu. As técnicas de coleta de dados foram: pesquisa bibliográfica, estudo in loco e
entrevistas, para compreender melhor as especificidades dos moradores, a infraestrutura local
e a qualidade dos espaços públicos de seu entorno imediato. Ao final do trabalho foi possível
alcançar os objetivos estabelecidos pela pesquisa e concluir que é imprescindível
compreender as necessidades e o modo de vida dos habitantes, para a partir de então,
propor um projeto de um conjunto habitacional que ofereça qualidade, conforto e
significado, em que o morador possa se apropriar do espaço ao seu redor e se identificar
com o lugar, garantido sua satisfação e sentimento de pertencimento ao ambiente em que
vive.

Palavras-chave: Habitação de interesse social, Modo de vida, Ressaca.


ABSTRACT

This work is about a development of an architectural project of social housing (SH)


facing the residents of the Ressaca das Pedrinhas, situated in the neighborhood of
Marco Zero, in Macapá city. These residents are segregated and excluded from urban
rights. They are living in a high population density, and in the environmental and health
vision it does not have a minimum of living conditions. Aimed at ending the most latent
needs of the population and maintain their way of life, a relocation plan was drawn up
including all the necessary community facilities and the design of new housing units.
Therefore, the method used was descriptive, in order to describe and analyze the way
of life of residents, with an analysis based primarily on the concept of habitus Bourdieu.
The data collection techniques were: literature search, study in locus and interviews to
better understand the specifics of the residents, the local infrastructure and the quality
of public spaces in their immediate surroundings. At the end of the work, was possible
to achieve the objectives established for research and concluded that it is essential to
understand the needs and the way of life of the inhabitants. And so, propose a project
of a housing development that offers quality, comfort and meaning, where the resident
can take ownership of the space around them and identify themselves with the place,
ensuring satisfaction and sense of belonging to the environment they live in.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Localização do município de Macapá (em verde) e da cidade da Macapá


(em vermelho)............................................................................................................29
Figura 2 - Conjunto Habitacional Mucajá em 2012, Macapá......................................32
Figura 3 - Ocupação em área de ressaca, Macapá...................................................36
Figura 4 - Localização da área de estudo. ................................................................52
Figura 5 - Ocupação na ressaca das Pedrinhas em 2003.........................................55
Figura 6 - Ocupação na ressaca das Pedrinhas em 2013.........................................55
Figura 7 - Mapa da abrangência do entorno da área de estudo................................56
Figura 8 - Mapa da morfologia urbana Macapá e o tamanho dos lotes.....................56
Figura 9 - Mapa do uso do solo.................................................................................58
Figura 10 - Ocupações no interior da ressaca. .........................................................59
Figura 11 - Casa de dois pavimentos no interior da ressaca. ..................................59
Figura 12 - Mapa que mostra a ocupação e os usos no interior da ressaca das
Pedrinhas...................................................................................................................60
Figura 13 - Mapa de equipamentos urbanos..............................................................62
Figura 14 - Mapa dos raios de abrangência de escolas............................................64
Figura 15 - Mapa dos raios de abrangência de escolas de ensino médio.................65
Figura 16 - Mapa dos raios de abrangência de espaços livre de lazer......................67
Figura 17 – Mapa da trajetória de ônibus..................................................................68
Figura 18 - Foto do abrigo de ônibus. .......................................................................68
Figura 19 - Mapa da hierarquia viária. .......................................................................69
Figura 20 - Fluxo de carros e pessoas.......................................................................70
Figura 21 - Foto da Avenida Equatorial.....................................................................70
Figura 22 – Mapa de materiais...................................................................................71
Figura 23 - Mapa de gabarito.....................................................................................72
Figura 24 - Foto do muro do terreno do projeto à esquerda......................................73
Figura 25 - Foto da via diante do terreno do projeto. ...............................................73
Figura 26 - Mapa da imagem do entorno. .................................................................74
Figura 27 - Acúmulo de lixo no interior da ressaca. ..................................................75
Figura 28 - Rede de abastecimento de água na cidade de Macapá. ........................76
Figura 29 - Rede de esgoto na cidade de Macapá....................................................77
Figura 30 - Áreas sem iluminação pública.................................................................78
Figura 31 - Foto via carente em posteamento. ..........................................................78
Figura 32 - Foto de postes no interior da ressaca......................................................78
Figura 33 - Mapa de pavimentação de vias e calçadas.............................................79
Figura 34 - Foto de ponte quebrada. .........................................................................79
Figura 35 - Foto início da ocupação da ressaca. .....................................................79
Figura 36 - Hipsometria..............................................................................................81
Figura 37 - Gráfico cidade em que nasceu. ..............................................................82
Figura 38 - Gráfico Escolaridade. .............................................................................83
Figura 39 - Gráfico ocupação exercida. ....................................................................83
Figura 40 - Gráfico quantidade de pessoas por casa. ..............................................84
Figura 41 - Gráfico composição familiar. ..................................................................84
Figura 42 - Gráfico número de cômodos. .................................................................85
Figura 43 - Residências com varanda. .....................................................................85
Figura 44 - Varanda de uma residência.....................................................................85
Figura 45 - Gráfico condições de moradia.................................................................86
Figura 46 - Satisfação em relação a segurança pública............................................87
Figura 47 - Gráfico de satisfação com equipamentos públicos e mercado...............88
Figura 48 - Gráfico proximidades de equipamentos públicos e de comercio............89
Figura 49 - Gráfico área de convívio dos habitantes. ................................................90
Figura 50 - Gráfico área de convívio e lazer das crianças.........................................90
Figura 51 - Gráfico cultivo de plantas ou criações de animais antes de morar na
ressaca das pedrinhas. .............................................................................................91
Figura 52 - Gráfico cultivo de plantas e criações de animais, atualmente.................91
Figura 53 - Gráfico vontade de ter uma horta ou criar animais..................................91
Figura 54 - Gráfico morar em outro lugar...................................................................92
Figura 55 – Criação das vias......................................................................................99
Figura 56 - Acesso ao conjunto habitacional e vias principais.................................100
Figura 57 - Âncoras e abrangência imediata............................................................100
Figura 58 - Mapa conceitual: proposta de uso do solo............................................101
Figura 59 - Mapa áreas verdes e dos possiveis caminhos feitos por pedestres......102
Figura 60 - Mapa estratégias microclimáticas. ........................................................103
Figura 61 - Implantação do conjunto habitacional....................................................104
Figura 62 - Vista do conjunto habitacional. .............................................................105
Figura 63 - Varandas no conjunto habitacional........................................................105
Figura 64 - Fachada do conjunto habitacional.........................................................105
Figura 65 - Vista do conjunto habitacional Parque Novo Santo Amaro V. ..............106
Figura 66 - Implantação do conjunto habitacional Parque Novo Santo Amaro V.....107
Figura 67 - Tipologias das unidades habitacionais do Parque Novo Santo Amaro V.
..................................................................................................................................107
Figura 68 - Vista do conjunto habitacional Parque Novo Santo Amaro V. ..............108
Figura 69 - Implantação do conjunto habitacional Heliópolis. .................................109
Figura 70 - Comércios e serviços no conjunto habitacional de Heliópolis...............110
Figura 71 - Acessos ao conjunto habitacional de Heliópolis................................... 110
Figura 72 - Vista do conjunto habitacional de Heliópolis..........................................110
Figura 73 - Vista do pátio interno e do conjunto habitacional de Heliópolis.............110
Figura 74 - Planta baixa do apartamento tipo B do conjunto habitacional de
Heliópolis..................................................................................................................111
Figura 75 - Planta baixa do apartamento tipo A do conjunto habitacional de
Heliópolis..................................................................................................................111
Figura 76 - Planta baixa do conjunto habitacional Tetris........................................ 111
Figura 77 - Vista do conjunto habitacional Tetris.....................................................112
Figura 78 - Vista da via e do conjunto habitacional Tetris........................................112
Figura 79 - Interior de um apartamento do conjunto habitacional Tetris..................112
Figura 80 - Volumetria do conjunto habitacional Tetris........................................... 112
Figura 81 - Mapa de reassentamento......................................................................114
Figura 82 - Implantação...........................................................................................115
Figura 83 - Setorização dos apartamentos..............................................................116
Figura 84 - Croqui da unidade habitacional.............................................................117
Figura 85 - Perspectiva do conjunto habitacional tipo 1..........................................117
Figura 86 - Perspectiva do conjunto habitacional tipo 2..........................................118
Figura 87 – Croqui da unidade habitacional no térreo...........................................119
Figura 88 - Croqui da unidade habitacional, no pavimento superior.......................119
Figura 89 - Croqui da unidade habitacional acessível............................................119
Figura 90 - Croqui da unidade habitacional, no térreo, com tres quartos...............119
Figura 91 - Perspectiva do conjunto habitacional tipo 2..........................................120
Figura 92 - Croqui da unidade habitacional acessível.............................................120
Figura 93 - Croqui da unidade habitacional, no térreo............................................ 120
Figura 94 - Croqui da unidade habitacional, tres quartos no térreo.........................121
Figura 95 - Corte esquemático com as vistas do pátio interno e da via...................121
Figura 96 - Perspectiva da praça do centro comunitário..........................................122
Figura 97 - Perspectiva da praça com quadra de vôlei............................................123
Figura 98 – Croqui da praça do centro comunitário................................................123
Figura 99 - Corte esquemático da praça do centro comunitário..............................124
Figura 100 - Praça próxima ao jardim de infância...................................................125
Figura 101 - Praça que possui pista de skate..........................................................125
Figura 102 - Volumetria da praça que possui pista de skate...................................126
Figura 103 - Praça próxima a ressaca.....................................................................126
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Parâmetros de ocupação do solo para o setor lazer 3............................54


Quadro 2 - Raio de abrangência dos serviços educacionais ....................................63
Quadro 3 - Vontade de melhorar a residência...........................................................86
Quadro 4 - Pontos negativos e positivos do bairro Marco Zero.................................92
Quadro 5 - Quadro resumo........................................................................................94
Quadro 6 - Programa de necessidades do plano de realocação...............................95
Quadro 7 - Programa de necessidades e pré-dimensionamento...............................96
Quadro 8 - Escalas de atuação..................................................................................98
Quadro 9 – A Aspectos projetuais relevantes do repertório.....................................113
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BNH Banco Nacional de Habitação


CEF Caixa Econômica Federal
FCP Fundação Casa Popular
FNHIS Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social
HIS Habitação de Interesse Social
IAPs Instituto de Aposentados e Pensão
ICOMI Industria de Comercio de Minérios S.A.
FNDE Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
PAC Programa de Aceleração do Crescimento
PDDUA Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental de Macapá
PMCMV Programa Minha Casa Minha Vida
PNH Política Nacional de Habitação
SNH Sistema nacional de Habitação
SNHIS Subsistema Nacional de Interesse Social
SNHM Subsistema Nacional de Habitação de Mercado
ZEEU Zona Ecológico Econômico Urbano
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 14
1. REFERENCIAL TEÓRICO ......................................................................... 18
1.1. SEGREGAÇÃO E HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL NO BRASIL .... 18
1.1.1. A segregação socioespacial no Brasil ................................................... 18
1.1.2. A lógica atual das políticas habitacionais .............................................. 23
1.1.2.1. Qualidade projetual .................................................................................... 26
1.2. SEGREGAÇÃO E HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL EM MACAPÁ . 28
1.2.1. Crescimento urbano de Macapá e a problemática habitacional .......... 29
1.2.2. A questão das ressacas ........................................................................... 33
1.2.2.1. Legislação pertinente ................................................................................. 33
1.2.2.2. Ocupação das ressacas em Macapá ......................................................... 35
1.3. HABITUS E ESTILO DE VIDA.................................................................... 37
1.4. APROPRIAÇÃO DO ESPAÇO PÚBLICO .................................................. 41
1.4.1. Classificação dos espaços públicos ...................................................... 44
1.4.2. A qualidade como elemento determinante à apropriação do espaço
público .... ...................................................................................................45
2. METODOLOGIA ........................................................................................ 49
2.1. O TIPO DE PESQUISA .............................................................................. 49
2.2. TÉCNICAS DE COLETAS DE DADOS ...................................................... 49
2.3. TÉCNICAS DE ANÁLISE DE DADOS ........................................................ 50
2.4. ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO DE ESTUDO .................................... 51
3. ANÁLISE DA ÁREA DE ESTUDO ............................................................. 52
3.1. ÁREA DE INTERVENÇÃO ......................................................................... 52
3.2. ANÁLISE HISTÓRICA ................................................................................ 54
3.3. ANÁLISE DO ENTORNO ........................................................................... 55
3.3.1. Morfologia urbana .................................................................................... 56
3.3.2. Uso e ocupação do solo .......................................................................... 57
3.3.3. Equipamentos urbanos ............................................................................ 61
3.3.4. Mobilidade urbana .................................................................................... 68
3.3.5. Imagem do bairro ..................................................................................... 70
3.3.6. Infraestrutura ............................................................................................ 74
3.3.7. Aspectos naturais .................................................................................... 80
3.4. ANÁLISE DO RESULTADO DOS QUESTIONÁRIOS ................................ 82
4. PROPOSIÇÃO URBANISTICA E ARQUITETÔNICA ............................... 95
4.1. PARTIDO E PROGRAMA DE NECESSIDADES ....................................... 95
4.2. REPERTÓRIO .......................................................................................... 103
4.2.1. Heliópolis – gleba A ............................................................................... 103
4.2.2. Parque Novo Santo Amaro V ................................................................. 106
4.2.3. Biselli e Katchborian – Heliopolis ......................................................... 109
4.2.4. Tetris, Paris ............................................................................................. 111
4.2.5. Síntese ..................................................................................................... 113
4.3. PROJETO URBANO .............................................................................. 1144
4.4. PROJETO ARQUITETÔNICO .................................................................. 115
4.4.1. Tipologia 1............................................................................................... 116
4.4.2. Tipologia 2............................................................................................... 118
4.4.3. Tipologia 3............................................................................................... 119
4.4.4. Tipologia 4............................................................................................... 120
4.4.5. Centro comunitário ................................................................................ 122
4.5. PROJETO DAS PRAÇAS......................................................................... 122
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 127
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 128
APÊNDICES ........................................................................................................... 134
14

INTRODUÇÃO

A problemática das ocupações informais em áreas de risco ou de fragilidade


ambiental não é recente em Macapá, ela parte de um processo relacionado às
decisões políticas tomadas nos últimos 20 anos e a implantação de grandes projetos
mineradores. A exportação de manganês realizada pela ICOMI (Indústria de Comércio
de Minérios S.A), a partir de 1950; a transformação do território do Amapá em estado,
em 1988; e a criação da área de livre comércio em Macapá e Santana, em 1991,
impulsionaram a migração de pessoas oriundas do interior e de outros estados,
atraídas pela maior oportunidade de emprego, de estudo e de assistência à saúde.
Neste processo, os bairros centrais permaneceram como maior área de atração da
população, devido a falta de políticas públicas para suprir a necessidade do
decorrente crescimento populacional, a especulação imobiliária e a demanda
insatisfeita empurraram o contingente de menor renda para viver nas zonas
intermediárias e periféricas da cidade. Grande parte dessas zonas são lugares de
condições inadequadas à moradia, contudo são de baixo custo e de fácil acesso. Tal
fato não foge à regra das demais cidades brasileiras, inseridas na lógica de
estruturação capitalista, que de acordo com Correa (1993) é concebido por agentes
que produzem e consomem espaço, sua ação é complexa e deriva dos conflitos de
classe, da acumulação de capital e das alterações de reprodução das relações de
produção.

Nesta concepção, Maricato (2003, p.160), ao explanar sobre a dinâmica das


ocupações informais no Brasil, afirma que “qualquer análise superficial sobre as
cidades brasileiras revela uma relação direta entre moradia pobre e degradação
ambiental”, e que áreas ambientalmente frágeis, como encostas íngremes e beiras de
rios, são as que sobram para a residência da grande parte da população, pois
necessitam legislação específica e não interessam ao mercado legal.

Nessa conjuntura se inserem as áreas úmidas localizadas no perímetro urbano


de Macapá, intituladas localmente de ressacas. Tais áreas se caracterizam por serem
sistemas físicos fluviais colmatados pelos sedimentos aluviais do rio Amazonas, estão
interligadas a um curso principal d’água e caracterizados pela vegetação herbácea e
são influenciadas pelas chuvas e/ou pelas cheias do rio Amazonas (TAKIYAMA et al.,
15

2012). Possuem beleza cênica, regulam o microclima urbano, e ainda são corredores
naturais de ventilação, além de serem áreas legalmente protegidas. É nas ressacas o
destino de moradia de muitos imigrantes. Estudos recentes comprovam que 17% dos
moradores de Macapá e Santana vivem nessas áreas (IBGE 2010). Tais moradores
vivem em habitações precárias e são segregados e excluídos do benefício dos direitos
urbanos (GIRELLI, 2009).

Os habitantes das ressacas, incluindo a ressaca das Pedrinhas no bairro Marco


Zero, moram nesses ambientes por não terem a opção de habitação digna e vivem
sem saneamento básico, infraestrutura mínima e equipamentos urbanos, com poucas
áreas para lazer na proximidade, insegurança e poucos incentivos governamentais ao
emprego.

Dessa forma, os assentamentos informais se tornam um vasto problema para


a cidade. Nos últimos anos as políticas habitacionais em Macapá expandiram sua
atuação de forma a minimizar tais assentamentos, entretanto elas ainda são
insuficientes para suprir a demanda atual, além de que os conjuntos habitacionais
realizados não levam em conta as especificidades dos moradores, como seu modo
de vida, sua rotina, seus cotidianos, o que diminui a qualidade dos projetos. Além do
mais, a produção de habitação digna continua sendo um grande desafio para
gestores, arquitetos e urbanistas. Tendo em conta o exposto, o trabalho está
embasado no seguinte problema: como fornecer um projeto de habitação de interesse
social, exequível, que proporcione a inserção urbana e que mantenha o modo vida
dos moradores?

Baseado neste questionamento e visando sanar as principais problemáticas


enfrentadas pela população residente da ressaca das Pedrinhas, o presente trabalho
insere-se na temática habitação de interesse social (HIS), com o objetivo geral de
elaborar uma proposta arquitetônica de habitação de interesse social para reassentar
os moradores da ocupação na área úmida no bairro Jardim Marco Zero para um
terreno próximo. Os objetivos específicos consistem no plano de realocação; na
concepção de Centro comunitário, centro esportivo e área de lazer; e na projeção das
novas unidades habitacionais.
16

Para tanto, o método utilizado foi o descritivo, pois visa descrever e analisar o
modo de vida dos moradores da ressaca das pedrinhas e a análise foi baseada,
principalmente, no aporte teórico de Bourdieu sobre o conceito habitus. A pesquisa foi
estruturada pelas referências da abordagem qualitativa, pois se trata de investigar
indicativos subjetivos, como o modo de vida dos moradores da ressaca; e, também,
pela quantitativa, pois traduz em números algumas informações dos questionários.

As técnicas de coletas de dados foram a pesquisa bibliográfica, o estudo in


loco e a entrevista. A pesquisa bibliográfica, baseada nos estudos realizados nas
temáticas: habitação de interesse social no Brasil, segregação socioespacial,
ocupação das áreas de ressaca em Macapá, habitus e apropriação do espaço público.
A pesquisa in locu voltada à compreensão das dinâmicas sociais do assentamento
subnormal, a infraestrutura local e a qualidade dos espaços públicos de seu entorno
imediato. Por fim, foram efetuadas entrevistas, para compreender melhor as
especificidades dos moradores, suas rotinas, suas disposições, suas necessidades,
seu estilo de vida, assim como a situação física de seus domicílios.

O tema de HIS já foi muito discutido, pesquisado e teorizado, contudo


dificilmente a teoria se torna a prática, sendo os projetos guiados principalmente por
fatores econômicos, pensando no custo mínimo das habitações, em detrimento do
conforto dos usuários, na qualidade do ambiente e a articulação deste com seu
entorno e a cidade. Tal temática é atual, no contexto da cidade de Macapá, tendo em
vista os projetos que estão sendo realizados através da parceria do governo com o
PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), como a construção dos conjuntos
habitacionais Mucajá, São José e Macapaba. A relevância deste trabalho consiste em
proporcionar habitações de qualidade, integrando com seu entorno, preservando o
modo de vida dos habitantes, pensando no bioclimatismo e que sejam exequíveis,
além de contribuírem com a formação acadêmica.

Este trabalho de conclusão de curso está dividido em quatro capítulos, sendo


que após a introdução, o primeiro capítulo se refere ao referencial teórico e está
dividido em quatro subitens, o primeiro subitem aborda a questão da segregação e
habitação de interesse social no Brasil, dando ênfase à qualidade dos projetos de HIS.
O segundo subitem se enfoca na cidade de Macapá, abordando questões como sua
expansão urbana desordenada, a ocupação em áreas de fragilidade ambiental, as
17

legislações que protegem essas áreas e como estas pessoas vivem segregadas do
meio urbano. O terceiro subitem aborda o conceito de habitus, que servirá de base
para a compreensão do modo de vida dos habitantes da área de estudo. O quarto
subitem aborda a apropriação do espaço público, que servirá para analisar como
essas pessoas se apropriam do espaço público e como propor espaços público de
qualidade. O segundo capítulo está voltado à metodologia utilizada. O terceiro aborda
a análise da área de estudo e o quarto a proposição arquitetônica.
18

1. REFERENCIAL TEÓRICO

1.1. SEGREGAÇÃO E HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL NO BRASIL

O Brasil sofre com o elevado déficit habitacional1, que equivale a 5,8 milhões
de domicílios (FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 2014), o elevado crescimento urbano
somado à falta de políticas públicas são fatores que incidem nesse quadro e na
formação da segregação socioespacial.

Por conseguinte, em um primeiro momento se abordará as implicações da


segregação socioambiental na vida das pessoas e como o Estado lida com a questão,
em seguida se discorrerá sobre novo padrão de organização do espaço urbano das
cidades brasileiras e sua relação com a segregação socioespacial. A partir de tais
compreensões se focará na questão habitacional, nas políticas públicas habitacionais
e na qualidade e aplicabilidade dos conjuntos habitacionais.

1.1.1. A segregação socioespacial no Brasil

O espaço construído é produzido por meio das ações dos agentes sociais2 e
estes o formam de acordo com seus interesses. O processo de produção do espaço
ocorre de forma desigual por parte dos agentes sociais, resultando em áreas
segregadas. O conceito de segregação, de acordo com Marcuse (2004, p.24),
corresponde a um processo segundo o qual “um grupo populacional é forçado,
involuntariamente, a se aglomerar em uma área definida, em um gueto. É o processo
de formação e manutenção de um gueto”. Nesse âmbito, os indivíduos se aglomeram
espontaneamente, o fazem sem o perceber, movidos por forças externas a eles.

Diversos autores abordam esta temática. No presente estudo a base


conceitual de segregação estará fundada, principalmente, nas investigações feitas por
Villaça (2001) e Corrêa (1999), como também, Maricato (2003), Caldeira (1996) e
Lago (2007) para explicitar a nova organização espacial brasileira e as implicações da
segregação socioespacial na vida dos indivíduos. Corrêa (1999) investiga sobre o

1
O conceito de déficit habitacional, de acordo com a Fundação João Pinheiro (2014) consiste no déficit por
reposição de estoque de moradia e déficit por incremento de estoque de moradia.
2
Compreende-se agentes sociais os proprietários latifundiários e imobiliários, os proprietários dos meios de
produção, o Estado e os grupos sociais excluídos (CORRÊA, 1999)
19

reflexo da sociedade no espaço urbano e afirma que a estrutura social de classes se


reflete em áreas residenciais segregadas. Ou seja, pode-se afirmar que a segregação
ocorre por meio da diferenciação econômica.

A classe dominante, contribui para a existência da segregação socioespacial


por controlar e produzir o espaço de acordo com seus interesses. Somente a
separação das classes sociais no espaço pode agir como um instrumento de poder
para a classe alta (VILLAÇA, 2001). De acordo com Corrêa (1999), a classe dominante
atua de duas formas, mediante a auto-segregação “na medida em que ela pode
efetivamente selecionar para si as melhores áreas, excluindo-as do restante da
população: irá habitar onde desejar” (CORRÊA, 1999, p.64); e por meio do controle
do mercado de terras, da incorporação imobiliária e da construção, “direcionando
seletivamente a localização dos demais grupos sociais no espaço urbano”. (CORRÊA,
1999, p.64). Dessa forma, a classe dominante consome e valoriza de forma desigual
o solo urbano, gerando a segregação socioespacial.

Villaça (2003) também estuda esse conceito e afirma que a segregação é uma
forma de exclusão social que apresenta uma dimensão espacial. Essa exclusão só
ocorre a partir de uma dominação política, ideológica e, principalmente econômica: “O
chamado mercado, é o principal instrumento de dominação e exclusão econômica e
quase sempre apresenta uma manifestação espacial. É portanto um instrumento de
segregação” (VILLAÇA, 2003, p.1).

O Estado também desempenha um papel na segregação socioespacial


(MARCUSE, 2004; CORRÊA, 1999; VILLAÇA, 2001). O Estado, controlado pela
classe dominante, regula a produção do espaço urbano de forma desigual, por meio
de três processos: ao priorizar a implantação da infraestrutura mínima em certas
áreas, como nos bairros mais bem localizados; pela implantação dos aparelhos do
Estado nas regiões melhor localizadas; e, pela legislação de uso e ocupação do solo
urbano, visando atender os requisitos urbanísticos estipulados pela classe dominante.
(VILLAÇA, 2001). A localização supracitada é compreendida como um valor de uso,
resultado do trabalho humano na produção da cidade e define-se, de acordo com
Villaça (1997, p.3) “pela capacidade que determinado ponto do território oferece, de
relacionar-se, através de deslocamentos espaciais, com todos os demais pontos da
cidade”.
20

Grande parte do solo urbano é parcelado em lotes, que são destinados às


atividades privadas, como residencial e comercial, apresentado um valor de uso
suscetível a comercialização. O solo urbano tem valor porque nele, ou em torno dele,
existe investimento de trabalho que o valoriza, estes investimentos estão voltados às
melhorias necessárias ao uso do solo urbano, como ter infraestrutura, asfalto,
arborização, entre outros (GONZALES, 1985). A localização também influencia no
valor do solo urbano, por conta dos deslocamentos e de sua predominância sobre a
infraestrutura. Nessa conjuntura “as classes sociais disputam entre si a ocupação das
localizações mais valiosas para as cidades, quer para negócios, quer para residência”
(VILLAÇA, 1997, P.3). Quanto a isso Villaça (2001) também afirma que a segregação
provém, primeiramente, de uma luta ou disputa por localizações. As diferentes classes
sociais possuem diferentes capacidades para pagar pela moradia que ocupa, a qual
exibe características distintas no que se refere ao tipo e à localização. Dessa forma,
os terrenos de maior preço, bem localizados, serão utilizados para as melhores
residências, já os terrenos com menores preços, pior localizados, serão utilizados para
a construção de residências inferiores, habitados pelos que dispõem de menor poder
aquisitivo (CORRÊA, 1999).

Verificam-se grandes diferenças sociais no que tange ao acesso aos bens e


consumos na sociedade capitalista, e ainda maiores em países como, entre outros,
os da América Latina. A habitação corresponde a um desses bens cujo acesso é
seletivo, pois boa parte da população não possui acesso (CORRÊA, 1999). Essas
pessoas não possuem renda para pagar aluguel ou comprar um imóvel e, sem
alternativas, acabam auto construindo, coabitando ou invadindo3. Elas vivem
marcadas pela clandestinidade de sua condição (ROLNIK, 1998).

Maricato (1996) estuda a questão da segregação no Brasil e afirma que o


crescimento urbano no Brasil ocorre por meio da ilegalidade e, consequentemente, da
exclusão socioespacial. De acordo com Maricato (2003, p.2), na cidade a ocupação
ilegal de terras “é uma regra, e não uma exceção” e a ilegalidade é o resultado da falta
de opções de diversos indivíduos. Maricato também afirma que a invasão:

[...] não é em qualquer localização, entretanto, que a invasão de terras


urbana é tolerada. Nas áreas valorizadas pelo mercado, a lei se aplica.
[...] nas áreas desvalorizadas ou inviáveis para o mercado [...] a lei

3
O termo “invasão” é utilizado por conta da precisão jurídica e se trata de ocupar a terra alheia, na maioria dos casos, por
falta de opção.
21

pode ser transgredida. O direito a invasão é até admitido, mas não o


direito a cidade. O critério definidor é o do mercado ou a da
localização. (MARICATO, 2000, p.155)

Nas cidades brasileiras a invasão é admitida pelo Estado em áreas de


propriedade pública, mas isso depende da localização que a área se insere. É
importante elucidar que grande parte de moradias urbanas ilegais é funcional para a
manutenção do baixo custo de reprodução da força de trabalho, e, também, para um
mercado imobiliário especulativo (MARICATO, 1996). A segregação socioespacial
implica, por exemplo, em transporte público deficiente, drenagem ineficiente ou
inexistente, saneamento básico e infraestrutura deficientes, exposição a riscos como
enchentes e desmoronamentos.

De acordo com Negri (2008), morar em um bairro de baixa renda significa


muito mais do que ser segregado, significa ter oportunidades desiguais em nível
social, econômico, educacional, renda e cultural. A segregação “sempre impede ou
dificulta o acesso dos segregados a algum serviço, benefício, direito ou vantagem,
seja público, seja privado” (VILLAÇA, 2003, p.2). Dessa forma, eles são excluídos
socialmente, tendo menos oportunidades de profissionalização e de emprego, sofrem
discriminação, estão mais expostos à violência, possuem difícil acesso ao lazer, entre
outros malefícios. Isso ocorre por conta da política discriminatória do poder público,
que investe mais nas áreas de classes altas. Pode-se afirmar que moradores de um
bairro de baixa renda tendem a se perpetuar em um ciclo vicioso da pobreza, pois têm
condições mínimas de ascender socialmente ou economicamente. Sendo assim, a
segregação socioespacial deve ser interpretada como chances desiguais de se
ascender socialmente.

No que tange à forma de organização do espaço e sua relação com a


segregação socioambiental nas cidades brasileiras, a partir da década de 80 se
observa um novo padrão de organização espacial nas metrópoles e médias cidades,
os estudos recentes o definem como padrão fragmentado/excludente (LAGO, 2007),
que consiste em uma maior aproximação espacial entre as classes sociais e, no que
tange à natureza da segregação, consiste na auto-segregação das camadas mais
favorecidas na forma de enclaves desconectados da vida urbana local e na
“segregação compulsória das camadas inferiores em espaços entendidos como
22

disfuncionais para a economia urbana e de risco para a ordem urbana” (LAGO, 2007,
p.278).

A redução da distância física entre ricos e pobres ocorreu inicialmente pelo


afastamento da classe alta dos centros – procurando maior conforto, segurança,
qualidade de vida – e da difusão da classe menos favorecida pelas áreas mais nobres
da cidade (CALDEIRA, 1997). Entretanto isso não significa proximidade social entre
as classes. Caldeira (1997) constata que a classe alta tende a se auto-segregar
através de “enclaves fortificados”, termo que designa espaços destinados ao lazer, ao
consumo, a residência ou ao trabalho que são privatizados, fechados e monitorados,
tendo como justificativa, principalmente, o medo da violência urbana. Com isso, por
mais que estejam próximas fisicamente, as distintas classes tendem a não interagir
entre si, existem obstáculos que impedem o contato entre as classes, como muros e
sistemas de vigilâncias.

As ocupações irregulares fazem parte do cenário das cidades brasileiras. De


acordo com Davis (2006) na Amazônia, que detém uma das maiores taxas de
crescimento urbano do mundo, 80% desse crescimento ocorre nas favelas. No Brasil
é um fenômeno comum a ocupação de áreas ambientalmente frágeis pela população
de baixa renda (MARICATO, 2000). Tais áreas são protegidas ambientalmente e sua
ocupação é proibida, elas correspondem a beiras de córregos, áreas alagáveis, rios e
reservatórios, encostas íngremes, sopés de morros, que por terem esta condição
necessitam de uma legislação específica. As áreas supracitadas não interessam ao
mercado imobiliário e acabam sobrando para servir de moradia à grande parte da
população. Este processo resulta na degradação ambiental do meio urbano e em
graves riscos, como: desmoronamentos; enchentes; a disseminação de doenças
como a leptospirose, devido às enchentes que transportam material contaminado pela
urina de rato; entre outros.

Pode-se considerar que o crescimento urbano no Brasil ocorreu com a


segregação socioespacial e a exclusão social (NEGRI, 2008). De acordo com
Maricato (2003) o problema da ilegalidade e das alternativas de moradia legalizada é
uma questão de regulação do financiamento imobiliário e de política urbana, por meio
23

de investimentos em habitação social4 e democratização da infraestrutura urbana.


Sendo assim, o poder público tem o dever de investir em habitação social, dada a sua
importância sob o aspecto social e ambiental, para equacionar os problemas vigentes.

1.1.2. A lógica atual das políticas habitacionais

Para traçar um quadro que permita compreender a política habitacional atual,


se faz necessário conhecer, inicialmente, um breve histórico do desenvolvimento
dessas políticas. Por fim será discutido, de forma sucinta, a aplicabilidade e a
qualidade projetual dos projetos arquitetônicos.

Antes de 1930 a produção de habitação de interesse social não foi objeto de


iniciativas públicas, o governo se destinava, apenas, a produzir leis e normas de cunho
higienista, que eram as políticas sanitárias voltadas à desinfecção das moradias e no
despejo dos moradores e demolição dos focos das doenças. Tais políticas visavam,
de acordo com Maricato (2009, p.34) “afastar o fantasma da presença da escravidão
recente, deslocando populações pobres de áreas centrais, e recuperar espaços para
o mercado imobiliário”.

Em 1930, em resposta à forte crise de moradia para os trabalhadores, o


Estado criou os Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAPs), que foram a primeira
intervenção estatal para viabilizar o acesso à habitação. Os institutos tinham o objetivo
primário de garantir aposentadoria e pensões aos associados, e o objetivo secundário
de financiar as habitações para a população de baixa renda e para os setores médios,
por meio das carteiras prediais. Em 1946, cria-se a Fundação da Casa Popular (FCP),
primeiro órgão nacional que detinha o único objetivo de produzir moradia para a
população de baixa renda (MELO,1990), entretanto seus recursos eram limitados,
pois dependiam, basicamente, do orçamento da União. Como o projeto não dispunha
de bases de sustentação, seu resultado foi irrisório e culminou em sua extinção em
1964.

De acordo com Bonduki (1994) o quantitativo de unidades habitacionais de


interesse social produzidas pelas IAPs e pelas FCP chegou a mais de 140.000,
abrigando quase 1 milhão de pessoas nas grandes cidades brasileiras, o que não

4
Compreende-se habitação social como a “habitação produzida e financiada pelo Estado destinada a baixa
renda”. (BONDUKI, 1994).
24

pode ser considerado como um resultado decepcionante. Acrescenta-se a isso que


as unidades habitacionais produzidas em São Paulo pelos IAPs se localizavam em
áreas urbanas consolidadas e, do ponto de vista arquitetônico, eram racionais,
buscavam a economia na construção, os ambientes eram amplos e de qualidade.

Durante a ditadura militar – período em que a aceleração industrial começou


a demandar um maior número de moradias para os trabalhadores – foi desenvolvido
o BNH (Banco Nacional de Habitação), em resposta à crise de moradia. Ele possuía
dois objetivos principais: “o primeiro era consolidar uma política de financiamento
capaz de estruturar o setor de construção civil habitacional e o segundo era aumentar
o apoio da massa popular aos militares” (FERREIRA, A., 2009, p.19); dessa forma,
além de investir na produção de habitação, havia a preocupação com a criação de
empregos e alavancar o crescimento econômico.

Apesar da produção habitacional ter sido significativa, esteve longe de suprir


o elevado déficit habitacional. Sua atuação na questão sofreu diversas críticas, pois
era incapaz de atender à população de renda mais baixa (entre 0 e 3 salários
mínimos). Cardoso (2011) esclarece esse assunto e afirma que “essa incapacidade
decorria das contradições intrínsecas aos dois grandes objetivos da política
habitacional”, pois priorizava o financiamento para as camadas de maior poder
aquisitivo, gerando um boom imobiliário e a estratégia de financiamento às camadas
de menor renda mostrou-se inadequado para a população mais pobre (entre 0 e 3
salários mínimos), pois estes não conseguiam pagar o financiamento. Bonduki (2008)
critica a produção habitacional do ponto de vista arquitetônico e urbanístico,
enfatizando que era um desastre.

[...] dentre os erros praticados se destaca a opção por grandes


conjuntos na periferia das cidades, o que gerou verdadeiros bairros
dormitórios; a desarticulação entre os projetos habitacionais e a
política urbana e o absoluto desprezo pela qualidade do projeto,
gerando soluções uniformizadas, padronizadas e sem nenhuma
preocupação com a qualidade da moradia, com a inserção urbana e
com o respeito ao meio físico. (BONDUKI, 2008, p.74)

Dessa forma, o BNH não se importava com a qualidade das unidades


habitacionais, nem com a sua relação com o entorno. A ineficácia da ação do BNH
contribuiu para o crescimento das periferias e na favelização (ADAUTO, ARAGÃO,
ARAÚJO, 2011). Em decorrência da crise dos anos 80 houve a extinção do BNH em
1986 e suas atividades são transferidas para a Caixa Econômica Federal (CEF), neste
25

período “o setor habitacional passou por uma desarticulação e fragmentação


institucional, com a consequente perda de capacidade decisória e redução dos
recursos disponíveis para investimento” (BRASIL, 2010, p.11).

No decorrer do tempo surgem programas inovadores, como sistemas


alternativos de produção (mutirão e autogestão), urbanização de favelas e
assentamentos precários, inovações tecnológicas, desenvolvimento sustentável,
entre outras. Entre as décadas de 1990 e 2000 verificou-se uma melhora das
condições de adequação das habitações no Brasil. Entretanto, não se conseguiu
equacionar o problema vigente, de acordo com Rolnik e Klink (2011, p.17):

[...] o modelo de política habitacional calcado apenas no financiamento


da compra de uma unidade nova – vigente desde os anos do BNH –
não atingiu uma parcela significativa da população – onde se
concentra mais de 90% do déficit habitacional – que não consegue
acessar o mercado e, portanto, não tem acesso à moradia adequada.
Tampouco se equacionou a dimensão urbanística deste modelo.

Em 2003, por meio da lei nº 10.683 foi criado o Ministério das Cidades e a
partir de então surge uma nova postura da gestão das cidades no que concerne à
produção de habitação, baseada na participação popular, do planejamento e da
integração das políticas urbanas. O Ministério das Cidades é o órgão central
responsável pela Política Nacional de Desenvolvimento Urbano, inserida nesta está a
Política Nacional de Habitação (PNH), elaborada em 2004, que tem como principal
objetivo o acesso à moradia digna a todos os brasileiros, em especial à população de
baixa renda e também abrange o direito à infraestrutura, ao saneamento ambiental,
ao transporte, aos equipamentos e serviços urbanos e sociais (BRASIL, 2010).

O Sistema Nacional de Habitação (SNH) é o principal instrumento que


viabiliza a implementação do PNH, ele é composto por dois subsistemas – o de
Habitação de Mercado e o de Habitação de interesse social. O Subsistema Nacional
de Habitação de Mercado (SNHM) engloba as famílias com renda de 5 a 10 salários
mínimos e acima de 10 salários mínimos. O Subsistema Nacional de Habitação de
Interesse Social (SNHIS) tem por objetivo assegurar que os investimentos públicos
em habitação sejam destinados à população de mais baixa renda (de até 3 salários
mínimos e de 3 até 5 salários mínimos), utiliza como fonte de recursos, dentre outros,
o Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social (FNHIS). Uma novidade
importante foi a criação do Crédito Solidário, um programa voltado para associações
26

e movimentos, que tem por objetivo produzir habitações por intermédio de mutirão e
autogestão (Bonduki, 2008).

Atualmente, existem importantes programas governamentais que visam sanar


o problema habitacional, como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC),
criado em 2007 com o intuito exclusivo de urbanizar assentamentos precários. Em
2009 surge o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV), que tem modalidade
destinada à produção de moradia, estabelecendo um patamar de subsídio
proporcional à renda das famílias, tanto à classe média, quanto aos mais
necessitados, tendo isso conta Cardoso et al. (2011) afirma que a criação do programa
visou manter o setor imobiliário e melhorar as atividades do ramo da construção civil.
Em 2009, por pressão dos movimentos de moradia, foi criado o PMCMV Entidades,
na qual cooperativas habitacionais, associações, institutos e demais entidades sem
fins lucrativos que estejam credenciados pelo Ministério das Cidades se tornam os
responsáveis pela materialização das Habitações de Interesse Social (HIS). Este
programa visa estimular o cooperativismo e torna a população protagonista na solução
dos seus problemas habitacionais.

Portanto, embora tenha tido uma evolução quanto aos programas


habitacionais, a produção habitacional historicamente valoriza o quantitativo da
unidade habitacional em detrimento de sua qualidade e de sua relação com o entorno.
O PMCMV ao assumir fazer 1 milhão de casas, fortalece essa tradição.

1.1.2.1. Qualidade projetual

A análise da qualidade dos projetos de Habitação de Interesse Social aplica-


se em duas escalas: a da intervenção urbana e o projeto da unidade habitacional. A
primeira se refere à integração na malha urbana, serviços urbanos, áreas comuns,
entre outras. A segunda se refere ao conforto ambiental, a flexibilidade, a distribuição
das unidades, a volumetria, a fachada, entre outras.

No que concerne ao padrão da qualidade arquitetônica das HIS, Ferreira


(2012) afirma que a produção pública atual herda a péssima qualidade do período do
BNH, por meio do padrão repetitivo reproduzido infinitamente, pela péssima qualidade
construtiva, por conjuntos monofuncionais. Por outro lado, na década de 1990 surgem
políticas habitacionais inovadoras, como mutirão, autogestão, inovações tecnológicas,
27

que foram implementadas em algumas cidades e, mesmo que não tenham se


generalizado, se tornaram referências de projetos habitacionais de maior qualidade.
O autor afirma que a produção, hoje, na maioria dos casos, ainda não é boa do ponto
de vista arquitetônico e que “a habitação popular tornou-se sinônimo de baixa
qualidade” (FERREIRA, 2012, p.56).

No que tange à integração dos conjuntos habitacionais à malha urbana 5,


Ferreira (2012) afirma que grande parte não apresenta boas soluções. Muitos desses
empreendimentos estão desarticulados da malha urbana e situam-se distantes do
centro, localizados na periferia, gerando adversidades como dificuldade ao transporte
coletivo e elevação do tempo de deslocamento diário dos moradores. Muitas
construtoras adotam modalidades padronizadas e repetitivas em seus
empreendimentos habitacionais voltados ao “segmento econômico”, sem levar em
consideração o conforto ambiental, a relação com o entorno, as condições
socioespaciais (FERREIRA, 2012). Essas repetições de volumetria tornam o espaço
monótono, além de limitar a escolha de melhores orientações das edificações, para o
aproveitamento da boa captação da energia solar e dos ventos dominantes, além de
desconsiderar a cultura local, como afirma Ferreira (2012, p.87): “geralmente, as
soluções autóctones, que representam a cultura local, como casas caiçaras, casas
caipiras, são indicativas das melhores soluções para a região, pois incorporam o saber
local e suas tradições”.
Dessa forma, conforme aponta Guimarães6 (2005 apud Carmo et al, 2011)
construir moradias com padrão repetitivo que contraste com o padrão predominante
da cidade e/ou construí-las na periferia (percebidas isoladamente do centro), constitui
uma intervenção segregacionista e traz consequências ao indivíduo no sentido de
pertencimento ao lugar que ocupa. Tais situações agravam a diferenciação entre
áreas de moradores de maior e de menor renda.

Ferreira (2012) elenca que os projetos das habitações devem ser flexíveis e
adaptáveis, para se adequarem às mudanças no perfil e composição familiar. Roméro

5
Compreende-se integração a malha urbana como a capacidade de um ambiente estar ligado àcidade
infraestruturada, no que tange a acessibilidade, o transporte e infraestrutura. (MAGALHÃES E VILLAROSA,
2012)
6
GUIMARÃES, Eduardo Cotrim. Espaços urbanos da habitação: globalização e identidade. In: GOMES, M.F.C.M.
e PELEGRINO, A.I. de C. (Orgs.). Política de habitação popular e trabalho social. Rio de Janeiro: DP&A, 2005,
pp. 59-75.
28

e Ornstein (2003) afirmam que a falta de flexibilidade e áreas muito reduzidas,


desqualificam a unidade habitacional, devido à falta de espaço no apartamento para
realizar atividades básicas do cotidiano, como estudar e fazer refeições. Outro aspecto
consiste na pouca importância dada ao paisagismo, que se resume à disposição de
algumas vegetações pontuais.

A participação da população no processo de desenvolvimento projetual das


habitações sociais traz contribuições específicas da realidade vivida por elas. Por
exemplo, famílias com costume de plantar horta, necessitam de um espaço específico
para fazê-lo, ou pessoas que possuem um pequeno comércio diante de casa, não
poderão continuar com seu trabalho vivendo em um apartamento no terceiro andar.
Entretanto enquanto o imediatismo e a quantitativo forem prioridades, não haverá
espaço para sejam conhecidas as necessidades de uma comunidade atendida ao
programa de habitação social.

A preocupação com a qualidade projetual deve se iniciar desde sua


concepção, levando em conta a integração com o entorno, a diversidade dos
conjuntos habitacionais, a participação da população beneficiária, além de
investimentos sociais. Os programas sociais devem ser vistos muito além de
empreendimentos, devem ser vistos como uma forma de dotar os direitos necessários
ao cidadão.

Enquanto houver o desprezo pela qualidade do projeto partindo dos


programas habitacionais, continuarão sendo executados habitações com espaços
mínimos, que não são flexíveis e são inadequados ao cotidiano das pessoas e a
quantidade de moradores. Alguns projetos pontuais fogem dessa regra, como os que
estão sendo executados para a favela Paraisópolis em São Paulo.

1.2. SEGREGAÇÃO E HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL EM MACAPÁ

A problemática relacionada ao déficit habitacional em Macapá, ao modo de


vida das pessoas que vivem de forma precária e de como o poder público lida com a
questão, pressupõem o conhecimento dos precedentes que influenciaram o contexto
atual.
29

1.2.1. Crescimento urbano de Macapá e a problemática habitacional

Macapá se tornou a capital do estado do Amapá pelo decreto-lei Federal


número 6.550 de 31 de março de 1944. Localizada a sudeste do estado, à margem
esquerda do rio Amazonas, cortada pela linha do equador, com população estimada
em 369.287 (IBGE, 2010). A área urbana é caracterizada por ser permeada por áreas
alagadas.

Figura 1 - Localização do município de Macapá (em verde) e da cidade da Macapá (em vermelho).

Fonte: a autora.

Macapá não foge à regra das demais cidades brasileiras, inseridas na lógica
de estruturação capitalista que, de acordo com Corrêa (1999), é concebido por
agentes que produzem e consomem espaço, sua ação é complexa e deriva dos
conflitos de classe, da acumulação de capital e das alterações de reprodução das
relações de produção. Dessa forma, o espaço urbano é construído mediante as
relações estabelecidas entre diferentes grupos sociais.

A configuração urbana de Macapá é consequência das decisões políticas


tomadas nos últimos 20 anos e da implantação de grandes projetos mineradores. A
exportação de manganês realizada pela ICOMI (Indústria de Comércio de Minérios
S.A), a partir de 1950; a transformação do território do Amapá em estado, em 1988; e
a criação da área de livre comércio em Macapá e Santana, em 1991, impulsionaram
a migração de pessoas oriundas do interior e de outros estados, principalmente do
Nordeste e do Pará, atraídas pela maior oportunidade de emprego, de assistência à
saúde e, frequentemente, de estudo. De acordo com o Centro pelo Direito à Moradia
contra Despejos (COHRE, 2006), a população de Macapá cresceu de 4 mil habitantes
em 1944 (primeiro governo de Estado) para 283.308 habitantes em 2000, um período
30

de pouco mais de meio século. Dessa forma o elevado crescimento demográfico


desencadeou uma urbanização acelerada.

Neste processo o bairro central permaneceu como maior área de atração da


população, pela falta de políticas públicas para suprir a necessidade decorrente do
crescimento migratório, a especulação imobiliária e a demanda insatisfeita
empurraram o contingente de menor renda para viver nas zonas intermediárias e
periféricas da cidade (PORTILHO, 2010). Entre o período de 1950-1960, a intensidade
dos fluxos migratórios desencadeou problemas de invasões em áreas anteriormente
consideradas inadequadas à moradia, contudo são de baixo custo e de fácil acesso.
Portilho (2010, p.13) complementa: “A ausência de políticas públicas voltadas para
amenizar os problemas intensificados pelo processo migratório contribui
sobremaneira para que tenhamos uma cidade caracterizada pela desigualdade
espacial recorrente no contexto urbano dos países em desenvolvimento”. Na década
de 90 o processo migratório se intensifica (COHRE, 2006), agravando a ocupação
desordenada nas áreas impróprias à moradia, as áreas úmidas, consideradas como
ambientalmente frágeis.

O planejamento urbano de Macapá se iniciou com a contratação da empresa


GRUMBILF DO BRASIL, em 1959, que elaborou o primeiro plano para a cidade.
Houve uma preocupação com as áreas úmidas, afirmando que tais áreas deveriam
ser conservadas, pois representavam aspecto típico de Macapá, além de que eram
excelentes pulmões verdes e tinham a qualidade de filtro do ar. Passados mais de
vinte anos, em 1973, a Fundação João Pinheiro elaborou o Plano de Desenvolvimento
Urbano de Macapá, seu principal objetivo conforme Tostes (2006, p.93) era “orientar
o desenvolvimento urbano municipal”, dentre seus objetivos específicos vale salientar
a preocupação com a infraestrutura, com as condições de moradia e com as áreas de
expansão urbana, na qual dispôs eixos para a expansão urbana ao longo da rodovia
Juscelino Kubitschek, bem como ao norte (bairros São Lázaro, Renascer e Infraero I).

Posteriormente, o Governo do Amapá contratou a empresa H. J. Cole e


Associados, em 1976 a 1979, que fez adaptações e completou o plano anterior. Em
relação às áreas úmidas, foi proibida a construção nestas áreas de forma que
pudessem comprometer a qualidade da água. O estudo destinou à cidade planos para
habitação que deveriam ter sido construídos durante a expansão urbana, entretanto,
tais planos foram ignorados pelo poder público, agravando o problema existente.
31

Em 2001 foi aprovado o Estatuto da Cidade, que estabeleceu normas que


regulam o uso da propriedade urbana relacionadas ao bem coletivo, a segurança, ao
bem estar da população e do equilíbrio ambiental, dentre outras medidas reforçou a
necessidade de elaboração de planos diretores com a participação de todos os
setores sociais (BRASIL, 2001). Nessa conjuntura, em 2004, é aprovado o Plano
diretor de Macapá, que não foi participativo, mas foi um avanço para o planejamento
urbano, pois contemplou, dentre outras, o ordenamento territorial, a questão
habitacional – elencando as áreas prioritárias para intervenção – e a proteção do meio
ambiente.

Vale salientar que as diretrizes desses planos não foram totalmente postas
em prática. O melhor instrumento de gestão urbana consiste no plano diretor, e
quando este não impõe diretrizes de organização da cidade, nem busca colocá-las
em prática, resulta em diversos problemas urbanos. Tais problemas podem ser
observados em Macapá, como a expansão desordenada da cidade, a ocupação em
áreas úmidas, o aumento do déficit e inadequação habitacional.

No que tange aos investimentos na política habitacional em Macapá, até 2007


haviam apenas ações isoladas como a doação de lotes à população, a partir de
novembro de 2007 o Estado do Amapá assina o termo de adesão ao SNHIS e aos
programas habitacionais, aderindo à política habitacional. Entretanto, passados oito
anos desde a adesão ao SNHIS, o município ainda não possui o Plano Habitacional
de Interesse Social, que serve para conhecer as especificidades locais e a demanda
por habitação, além de dar diretrizes para o planejamento no âmbito habitacional7.
Dessa forma, o poder público desconhece a atual dimensão do problema de
habitação, e pela falta do Plano Habitacional, dados primordiais se mostram
ambíguos, como o quantitativo do déficit habitacional no município. Serrão e Lima
(2013) alega que segundo o Governo do Estado do Amapá (2011) o município de
Macapá apresenta um déficit habitacional de 42 mil unidades habitacionais, já o
Ministério das Cidades menciona que esse déficit está em 25 mil unidades
habitacionais e o IBGE (2010) declara um déficit de 17 mil unidades habitacionais,
logo não existe um consenso sobre os dados, nem há como inferir a dimensão do

7
O Plano Habitacional de Interesse Social é um instrumento de implementação do SNHIS, instituída pela lei
federal 14.124/2005.
32

déficit no município. Vale salientar que mesmo sem o plano existe investimento do
Minha Casa Minha Vida no município.

Em relação à lógica de investimentos em HIS, Macapá não difere das demais


cidades brasileiras, no sentido de privilegiar o aspecto quantitativo em detrimento do
qualitativo. As unidades habitacionais produzidas até o momento refletem isso, a
volumetria é repetitiva, não há preocupação com o conforto ambiental, entre outras
problemáticas.

Em 2007 foi materializado o primeiro empreendimento do PAC em Macapá,


com a construção do Conjunto Habitacional Mucajá, na qual foram feitos 592 unidades
habitacionais. Em uma breve análise, pode-se conjecturar que o terreno foi bem
escolhido para o empreendimento, pois foi localizado próximo à área remanejada, no
Bairro do Beirol. No que tange ao projeto, a volumetria é repetitiva, mudando apenas
algumas cores na fachada, o que torna a paisagem monótona. Os apartamentos são
pequenos e com pouco espaço para serviços básicos, como secagem da roupa, tendo
seus moradores que estender no banheiro ou por fora da janela. Em relação ao
espaço público, o projeto contemplou a criação de uma praça e uma quadra
poliesportiva, que até o momento não foi construída, tampouco existe sombreamento
nas calçadas, nem bancos para as pessoas sentarem, dessa forma, muitos interagem
com os vizinhos sentados no meio fio. Também não houve a observância de um
trabalho social sério, como Serrão e Lima (2013, p.148) afirmam que ouve
simplesmente a “distribuição de casas, sem o devido preparo ou preocupação social
e coletiva”. Sendo assim, a implantação desse empreendimento não teve como
premissa a preocupação social, coletiva e de inserção com no entorno.

Figura 2 - Conjunto Habitacional Mucajá em 2012.


Macapá.

Fonte: http://macapalinda.blogspot.com.br/. Acesso em:


15 jun. 2014.
33

Dessa forma, os assentamentos informais se tornam um vasto problema para


a cidade. Nos últimos anos as políticas habitacionais em Macapá expandiram sua
atuação, por meio de investimentos do PAC e do PMCMV, de forma a minimizar o
déficit habitacional e os assentamentos em áreas úmidas, entretanto elas ainda não
são suficientes para suprir a demanda atual. Além do mais, a produção de habitação
digna continua sendo um grande desafio para gestores, arquitetos e urbanistas.

1.2.2. A questão das ressacas

As ressacas, designação local para áreas úmidas, são sistemas físicos fluviais
colmatados pelos sedimentos aluviais do rio Amazonas, influenciados fortemente pela
pluviosidade, drenados por água doce e interligadas a um curso principal d’água e
caracterizados pela vegetação herbácea (TAKIYAMA et al., 2012).

O Zoneamento Ecológico Econômico Urbano (ZEEU) elenca alguns dos


valores e as funções das ressacas no âmbito social, ecológico e climático, tais como:
“controle de enchentes, alimentação dos reservatórios de água subterrânea,
controlador do clima, manutenção da biodiversidade, recreação e turismo, valor
cultural, e geração de produtos (alimentos)” (TAKIYAMA et al., 2012). Elas
armazenam a água de enchentes, funcionam como corredor natural de ventilação,
regulam o microclima urbano, também protegem a margem contra erosão, são muito
utilizadas para recreação, turismo, entre outras. As áreas úmidas são protegidas
legalmente e sua ocupação urbana é proibida.

1.2.2.1. Legislação pertinente

As ressacas são protegidas por uma vasta legislação urbanística e ambiental,


na esfera municipal, estadual e federal.

No âmbito federal aplica-se à proteção das áreas de ressaca a Lei nº. 4771,
de 15 de setembro de 1965 que instituiu o Código Florestal, que considera a
preservação permanente de florestas e demais formas de vegetação natural que
estejam situadas, dentre outras, ao longo de rios ou de qualquer curso d’água. A Lei
n° 6938, de 31 de agosto de 1981 (BRASIL, 1981), que dispõem sobre a Política
34

Nacional de Meio Ambiente, tendo como principal finalidade a preservação, melhoria


e qualidade ambiental, como segue:

Art.2º- A Política Nacional de Meio Ambiente tem por objetivo a


preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia
à vida, visando a assegurar no país, condições ao desenvolvimento
socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e a proteção
da dignidade da vida humana, atendido os seguintes princípios:
I – Ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico,
considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser
necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso
coletivo.
VIII – Recuperação de áreas degradadas.
IX – Proteção de áreas ameaçadas de degradação.

Ainda em esfera federal aplicam-se o Decreto Federal n° 24.643, de 10 de


julho de 1934, intitulado Código de Águas; a Lei Federal n° 9.433, de 8 de janeiro de
1997, nomeado como Política Nacional de Recursos Hídricos, voltadas para a
prevenção de usos inadequados nos recursos hídricos, na qual as ressacas e se
adequam; e a Lei ° 9.605/98, regulamentada pelo Decreto 3.179/99 denominada Lei
dos Crimes Ambientais ou Lei da Natureza, que dispõem as sansões penais e
administrativas para indivíduos que degradem o meio ambiente.

Devido às necessidades de se ter uma lei específica às ressacas, em 22 de


julho de 1999 foi sancionada a lei estadual nº 0455, que em 2004 foi reestruturada,
com o objetivo de se evitar novas ocupações nas áreas, dessa forma, foi formada a
lei nº 0835, de 27 de maio de 2004.

Também de âmbito estadual a Constituição do Estado do Amapá engloba a


proteção desse ecossistema natural:

Art. 313 – Seção XI – preservar os ecossistemas essenciais e


promover o manejo ecológico de espécies.
Art. 313 – Seção XII – Zelar pelas áreas de preservação dos corpos
aquáticos, principalmente, as nascentes, inclusive os “olhos d’água”,
cuja ocupação só se fará na forma da lei, mediante estudos de
impactos ambientais.
Art. 315 – As terras marginais dos cursos d’água são consideradas
áreas de preservação permanente, proibido o seu desmatamento.
(AMAPÁ, 1991).

No âmbito municipal o Plano Diretor de Macapá (2004), o principal


instrumento de gestão urbana, considera as ressacas como patrimônio ambiental do
Município de Macapá e recomenda ações para sua proteção ambiental, evitando usos
e atividades que venham lhes causar degradação (MACAPÁ, 2006, grifo nosso). Sob
35

o aspecto habitacional, o plano também está voltado para atender a população que
reside nessas áreas.

Em 2012 foi realizado o Zoneamento Ecológico Econômico Urbano (ZEEU)


por meio do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá
em cooperação com o Ministério Público do Estado do Amapá. Este estudo,
organizado por Takiyama, funciona como suporte ao ordenamento das atividades de
uso e de ocupação de solo dessas áreas úmidas. Foram zoneadas as ressacas que
fazem parte do Igarapé da Fortaleza, que engloba os municípios de Macapá e
Santana, e foram construídos cenários futuros e indicações de ações destes cenários
(TAKIYAMA et al., 2012).

Mesmo com a criação de leis que amparem as ressacas, elas pouco são
postas em prática, pois não há fiscalização quanto à ocupação nessas áreas, assim
como não é equacionado a causa do problema das ocupações, que consiste na falta
ao acesso de moradia pela população mais pobre, o que acarreta na perpetuação do
problema da ocupação dessas áreas.

1.2.2.2. Ocupação das ressacas em Macapá

É inegável a importância da preservação das ressacas para o meio urbano,


entretanto em Macapá o uso e a ocupação dessas áreas vêm ocorrendo de maneira
totalmente desordenada. A ocupação de áreas ambientalmente frágeis, como as
ressacas, é uma prática comum no Brasil. Nesta concepção, Maricato (2003, p.160)
explana a dinâmica das ocupações informais no Brasil e afirma que “qualquer análise
superficial sobre as cidades brasileiras revela uma relação direta entre moradia pobre
e degradação ambiental”. A autora também afirma que áreas ambientalmente frágeis
são as que sobram para a residência da grande parte da população, pois necessitam
legislação específica e não interessam ao mercado legal (MARICATO, 2000).

De acordo com a espacialização dos dados obtidos do Censo Demográfico de


2000 (IBGE, 2010) feita por Neri (2004), a população que reside nas áreas de ressaca
em Macapá era de aproximadamente 53.461 habitantes, o que equivale a 19,75% da
população do município da época. Por mais que os dados estejam defasados, serve
para se ter noção da dimensão dessas ocupações em Macapá. Por conta do
encarecimento do solo urbano, quase um quarto da população da capital do Amapá
36

não tem como pagar uma moradia de qualidade e são obrigadas a viver em um
ambiente inadequado, estando segregados dos direitos urbanos. Girelli (2009),
baseada no Plano Estratégico Municipal de Macapá, afirma que os aglomerados
urbanos que apresentam maior problema habitacional em Macapá são aqueles que
estão edificados nas áreas de ressaca, estes apresentam elevado adensamento
populacional em grandes favelas, e que analisados, principalmente, sob o âmbito
ambiental e sanitário não apresentam um mínimo de condições de habitabilidade.

Figura 3 - Ocupação em área de ressaca,


Macapá.

Fonte: Takiyama et al., 2012.

Os moradores das ressacas vivem em habitações precárias e são segregados


e excluídos do benefício dos direitos urbanos (GIRELLI, 2009). Eles vivem com a falta
de saneamento básico e de infraestrutura mínima, a rede de esgoto é inexistente, o
suprimento de energia elétrica é, na maioria das vezes, clandestino, o abastecimento
de água potável é intermitente; não existem instalações prediais públicas no interior
da ressaca, dessa forma os moradores são obrigados a procurar o serviço de escolas,
centros de saúde, creche, posto policial, bancos nos arredores ou em bairros
próximos; sem contar com a falta de áreas para lazer na proximidade; da insegurança;
e de poucos incentivos governamentais ao emprego. Takiyama et al. (2012)
complementa que “as condições de vida das pessoas que residem em áreas de
ressacas, morando em palafitas, são visivelmente de baixa qualidade e o avanço da
ocupação aumenta a cada dia que passa”. As palafitas são casas que se caracterizam
37

pelo padrão simples, são pequenas, de madeira, possuindo, na maioria das vezes,
apenas um cômodo. Em geral, elas são construídas muito próximas umas às outras,
não permitindo uma privacidade entre os vizinhos (NERI, 2004).

A expansão urbana de Macapá está diretamente ligada com a ocupação das


ressacas. O processo de ocupação nessas áreas iniciou na década de 50, através do
surgimento do aglomerado no Igarapé do Elesbão (NERI, 2004). Entretanto, foi a partir
da década de 90 que esse processo se intensificou por conta do elevado processo
migratório e da falta de políticas públicas, como já foi elencado. Nessa época, as
ressacas Chico Dias, Sá Comprido e parte do Lago do Pacoval vão sendo
intensamente ocupadas (PORTILHO, 2010). Atualmente, o único igarapé que se
mantém natural, quanto ao traçado e cobertura vegetal, consiste no Igarapé da
Fortaleza, já os igarapés Jandiá, Mulheres, Mendonça Junior, Santa Inês e Pedrinhas,
foram descaracterizados por conta da ocupação urbana.

Conforme aponta Neri (2004) esses imigrantes, na grande maioria, eram


pessoas sem qualificação profissional e na busca por uma vida melhor foram atraídas
ao Estado, mas se deparavam com uma realidade completamente distinta do que
imaginavam, ficando sem emprego, sem recursos financeiros, sem ter como comprar
um lote, restando a opção de ocupar as ressacas. COHRE (2006) baseado nos dados
dispostos pela Secretaria Municipal do Meio ambiente afirma que 98% das pessoas
que ocupam a área de ressaca são imigrantes, sendo de outros Estados ou
ribeirinhos.
O Estado deveria responder com políticas sociais de forma a encontrar
alternativas para o assentamento da população mais pobre. Tendo isso em vista, a
promoção de habitações de interesse social de qualidade, que contemple as
necessidades e o estilo de vida da população, se torna um ponto chave para mitigar
essa questão.

1.3. HABITUS E ESTILO DE VIDA

O habitus é uma teoria desenvolvida por Bourdieu, que servirá de referencial


teórico para analisar como o estilo de vida dos moradores da ressaca das Pedrinhas
influenciam e são influenciados pelo espaço em que se inserem. Para tanto se torna
necessário conceituar essa teoria bourdiesiana.
38

O habitus permite relacionar o objetivo (a posição do indivíduo na estrutura


social) e o subjetivo (a interiorização desse mundo objetivo). Consiste, de acordo com
Bourdieu (2009), em um conhecimento adquirido, um capital8, designa uma maneira
de ser, uma propensão, uma inclinação. Habitus é a origem das disposições que são
adquiridas por meio das experiências sociais aprendidas. Tal conceito pode ser
entendido como a sabedoria prática, que define os modos de pensar e agir diante de
certas conjunturas. Bourdieu (2008, p. 164) o define como:

Estrutura estruturante que organiza as práticas e a percepção das


práticas, o habitus é também estrutura estruturada: o princípio de
divisão em classes lógicas que organiza a percepção do mundo social
é, por sua vez, o produto da incorporação da divisão em classes
sociais [...] Sistema de esquemas geradores de práticas que, de
maneira sistemática, exprime a necessidade e a liberdades inerentes
a condição de classe e a diferença constitutiva da posição, o habitus
apreende as diferenças de condição captadas por ele sob a forma de
diferenças entre praticas classificadas e classificantes – enquanto
produtos do habitus – segundo princípios de diferenciação que, por
serem eles próprios o produto de tais diferenças, estão objetivamente
ajustados a ela e, portanto, tendem a percebê-las como naturais.

Dessa maneira, são estruturas estruturadas, na medida em os indivíduos


interiorizam o social e são estruturas predispostas a funcionar como estruturantes,
como princípio de geração e de estruturação de práticas e representações. As
estruturas estão internalizadas de tal forma que o agente ignora sua existência. O
Habitus, como elemento tácito, engendra as práticas de forma inconsciente, latente,
onde o indivíduo pensa e age sem refletir, pois são produtos de uma aprendizagem
que estão tão internalizados nas mentes e corpos a ponto do agente ignorar que
existem. Sua aprendizagem acontece de forma implícita, através da educação familiar
e explícita, pela educação escolar, pela indústria cultural e pelos meios de
comunicação de massa. Como produto da socialização, o habitus é formado pelo
indivíduo de acordo com o meio em que se insere, durante sua trajetória de vida.

O habitus se torna perceptível no cotidiano das relações sociais de diversas


maneiras, através de vontades, preferências, valores, opiniões, intuições,
expectativas, gostos, no modo de se comportar, nas táticas e estratégias. Ele atua
como uma lei imanente para orientar as ações no cotidiano e para construir a
sabedoria prática, sendo, por isso, elemento vital na organização da vida social. É

8
Bourdieu compreende capital como uma intenção, que vai além do campo econômico e também engloba o
campo social, cultural e simbólico.
39

importante frisar que o habitus não possui soluções prontas para cada situação, este
pode mudar dependendo da circunstância, logo ele se adapta as novas conjunturas.
Ele demonstra um caráter multidimensional: é por vez eidos, sistemas de esquemas
lógicos ou de estruturas cognitivas; ethos, as disposições morais; hexis, o registro de
posturas e gestos; e aisthesis, os gostos, a disposição estética (RIZO, 2012). A
interiorização dessas disposições é fundamental para a geração das práticas dos
agentes.

Bourdieu (2008, p. 162) afirma que o “habitus é, com efeito, princípio gerador
de práticas objetivamente classificáveis, e ao mesmo tempo, sistema de classificação
(principium divisionis) de tais práticas”. Desta forma, corresponde a um sistema de
disposições duráveis, eficazes enquanto esquemas de classificação que norteiam as
apreciações, percepções e ações dos indivíduos. Os agentes emitem a classificação
às práticas, e julgam a classificação dessas práticas, assim como, julgam as dos
outros. O autor define:

Na relação entre as duas capacidades que definem o habitus, ou seja,


capacidade de produzir práticas e obras classificáveis, além da
capacidade de diferenciar e de apreciar essas práticas e esses
produtos (gosto), é que se constitui o mundo social representado, ou
seja, o espaço dos estilos de vida (BOURDIEU, 2008, p. 162).

O gosto é a fórmula geradora que se encontra na base do estilo de vida,


compreendido como conjunto unitário de preferências distintivas, que se convertem
em sistemas de sinais socialmente qualificados – como distintos, vulgares, bonitos –
e se revelam na mobília, vestimenta, linguagem (BOURDIEU, 2008). Por tanto
indivíduos com estilo de vida parecido e mesma posição social (afinidade de habitus)
tendem a se unir e indivíduos com distintos habitus tendem a se afastar. Vale salientar
que o conhecimento das características relacionadas a condição econômica e social
permite compreender ou prever a posição de um grupo no espaço dos estilos de vida
(BOURDIEU, 1983).

O habitus está na maneira como o indivíduo internaliza sua posição social – é


a subjetivação da objetividade – e geralmente se refere a uma classe ou a um grupo.
40

Nesse âmbito, o espaço social9 e as diferenças existentes nele tendem a funcionar


como um conjunto de grupos caracterizados por estilos de vida diferentes.

Segundo o autor, condições de vida distintas produzem habitus distintos, já


que as condições de vida de cada classe impõem maneiras de classificar, apreciar,
desejar, perceber o necessário. Desta forma o termo classes significa, no sentido
lógico, conjuntos de agentes que ocupam posições semelhantes e que colocados em
condições análogas tendem a ter, com toda a probabilidade, atitudes e interesses
parecidos, por conseguinte, práticas e tomadas de decisões semelhantes
(BOURDIEU, 2009).

Quanto maior o volume de capitais cultural, social e simbólico, mais prestígio


social um agente terá. Tendo em vista que capital cultural consiste nas qualificações
intelectuais, no conhecimento, nas habilidades que são obtidas através da família e
da escola. O capital social equivale aos relacionamentos e redes de contato de um
indivíduo. O capital simbólico está relacionado ao reconhecimento social, ao prestígio,
a reputação, sendo a síntese dos demais, pois os incorpora e se forma por eles. Por
exemplo, um jovem que estuda em uma escola10 precária, com uma família que
conhece poucas pessoas e tem poucos contatos, possui pouco capital cultural e
social, logo terá dificuldade de ascender socialmente.

As classes se diferenciam por sua posição na estrutura da produção e pela


forma como produzem e distribuem os bens materiais e simbólicos na sociedade. A
circulação e o acesso a estes bens não se explicam apenas pelo pertencimento ou
não a uma classe social, como também pela diferença que se engendra no que se
considera como digno de transmitir ou ter. O domínio ou a carência de um capital
cultural permite erigir as distinções cotidianas que expressam as diferenças de classe.

Para Bourdieu, a definição adequada de uma posição social oferece a melhor


previsão das práticas. Sendo que para definir adequadamente a posição social de um
grupo, não se deve, apenas, considerar seu status hierárquico, também se deve
considerar sua história. O status hierárquico, assim como o habitus gerado por ele são
produtos da história, capaz de serem transformados, de forma mais ou menos difícil,

9
Compreendido no espaço feito por diferenças materializadas pelo poder dominante, uma representação
abstrata, observada a partir de pontos de vista.
10
Considera-se a escola como capital cultural.
41

pela história. Como previsão das práticas, das potencialidades objetivas, o habitus
não é o destino, o agente tem a liberdade de escolha, liberdade esta condicionada
pelas regras do meio em que se insere.

Sendo assim, pessoas que vivem segregadas socioespacialmente, com


menos chances de dispor de educação e profissionalização, seguem num ciclo vicioso
da pobreza e da violência, na qual tem dificuldades em ascender socialmente,
entretanto é importante frisar que isso é uma previsão e não o destino desses
indivíduos. Há pessoas, que passando por diversas dificuldades, conseguem mudar
esse ciclo.

Rizo (2012, p.79) em seu estudo conceitual sobre a cidade, utiliza em sua
abordagem essa teoria de Bourdieu e elucida que “la ciudad es el escenario de la
cultura in-corporada, los habitus puestos em movimiento, practicados”. Dentre as
ideias que conceituam a cidade, Rizo elenca como o entorno construtivo oferece
sentido à vida de seus habitantes, sendo assim a cidade é geradora e cenário de
habitus específicos.

Desta forma, a teoria bourdiesiana pode ser usada para analisar as atitudes
subjetivas que são capazes de estruturar a realização de novas práticas. Sendo
assim, o habitus, como princípio gerador das práticas, é manifestado em cada ação
do indivíduo e pode ser analisado a partir de uma prática.

1.4. APROPRIAÇÃO DO ESPAÇO PÚBLICO

A definição de espaço público consiste em sua capacidade de possibilitar as


interações sociais, formalizando convívios e comportamentos de distintos estilos de
vida (BORJA, 1998). Com isso, essa abordagem servirá para, posteriormente, analisar
como os moradores da ressaca das Pedrinhas se apropriam do espaço na qual se
inserem e de seu entorno.

Para tanto, o espaço público será averiguado como um produto e um


possibilitador das relações sociais, na qual leva-se em conta tanto sua forma, quanto
seu conteúdo, sendo indissociáveis. Serpa (2007, p.19) em seu estudo sobre espaço
público contemporâneo afirma que “se o espaço público é, sobretudo, social, ele
contém antes de tudo as representações das relações de produção, que, por sua vez,
42

enquadram as relações de poder”. Partindo desse pressuposto, o espaço público será


analisado mediante a percepção de Serpa (2007) e, principalmente de Sobarzo (2006)
que o constitui como espaço da dominação política, da acumulação do capital e da
realização da vida. O primeiro se refere ao papel do poder público e das elites na
produção do espaço público. O segundo será visto por meio do campo da acumulação
de capital, na qual o espaço público se torna uma mercadoria ao consumo de poucas
pessoas e que por mais que seja público, poucas pessoas o desfrutam. Por fim, será
avaliado como realização da vida urbana, no que tange às percepções da
(re)produção de cotidianos e da apropriação do espaço público.

O espaço público é um local que pertence à toda a população, independente


da classe que ocupa na sociedade capitalista, sua função é satisfazer a todos, por
meio de seu uso público e espontâneo. Representa-se como uma vitrine da
sociedade, na qual mostra como os indivíduos convivem e demonstra sua diversidade,
suas contradições, suas demandas e seus conflitos. Borja (1998) defende que os
espaços públicos contemporâneos passam por uma transformação em sua função,
transformação esta adquirida por conta de uma cultura urbana, de uma vida moderna
na qual as pessoas estão sempre em trânsito, com encontros e desencontros
impessoais e anônimos, pelo aumento crescente do individualismo e pela crescente
passagem por lugares degradados. Hoje, o espaço público, além de estar em
transformação, também está em crise (BORJA, 2011), que se revela em seu
abandono ou em sua degradação; em sua privatização; ou em sua tendência e
exclusão. A causa da crise consiste nos atuais modelos de urbanização, produto da
convergência de interesses das classes dominantes e do Estado, que geram lugares
fragmentados, terras de ninguém, guetos, áreas marcadas pelo medo ou pela
marginalização.

O espaço da dominação política está relacionado à tendência do poder


público em produzir espaços voltados às classes de maior poder aquisitivo e,
consequentemente, de maior poder político. Também pode haver o investimento de
espaços públicos em lugares mais “visíveis”, como espaços centrais e turísticos, com
o intuito de embelezar a cidade, de formar uma imagem da cidade a ser exibida e
consumida como uma mercadoria (SERPA, 2007). De acordo com Serpa (2007)
muitas dessas intervenções são efetuadas como se o espaço fosse um monumento,
43

que implicam numa ligação entre visibilidade e espaço público, tem gosto pelo
gigantismo e pelo “grande espetáculo”.

Na concepção da acumulação do capital, vale frisar que muitos parques


públicos foram criados com o intuito de multiplicar o consumo, que se torna uma
atividade de lazer, por exemplo, quando restaurantes e bares são a principal atração
de um lugar. Outro fator que deve ser frisado consiste nos espaços produzidos para a
classe de maior poder aquisitivo, que são fundamentalmente espaços privados ou de
acesso restrito, como os “enclaves fortificados” voltados ao lazer (shoppings, clubes,
etc.). Portanto, haveria uma propensão para que o espaço público passe a representar
um espaço de exclusão e segregação socioespacial, pois a parcela da população que
não pode pagar pelo espaço, não pode usufruí-lo. Como afirma Serpa (2007, p.20)
“[...] a acessibilidade ao espaço público da/na cidade contemporânea é, em última
instância, ‘hierárquica’”.

Em contraponto à dominação, está a apropriação do espaço, que se refere às


relações socioespaciais produzidas pelo uso, pelas práticas cotidianas que
configuram o plano do vivido e que criam a identidade e o sentimento de
pertencimento dos indivíduos. Como afirma Sobarzo (2006, p.103), as pessoas no seu
dia-a-dia “constróem (e são construídas), modificam (e são modificadas) e dão
(encontram) sentidos ao (no) espaço público”. Um grupo se apropria de um espaço
na medida em que modifica o espaço natural para servir às suas necessidades
(LEFEBVRE, 2000) e as pessoas o fazem por meio de seu corpo, de seus sentidos
(CARLOS, 2007). Dessa forma fala-se de apropriação dos espaços públicos mediante
o uso, para a realização da vida das pessoas no seu cotidiano (SORBARZO, 2006).

Lefebvre (2002) pondera sobre o conceito de apropriação e afirma que ela e


a dominação do espaço são opostas, mas inseparáveis, e que a dominação se impõe
sobre a apropriação, mas esta última não desaparece. No campo da vida cotidiana
tais conceitos se manifestam e podem ser observados claramente na sua inter-relação
(LEFEBVRE, 2002). Como aborda Carlos (2007, P.81) “o cotidiano não se restringe
às atividades de rotina, nem tão pouco a atos isolados, isto porque no cotidiano se
realizam as coações e se gestam as possibilidades”. Nesse caso, as coações estão
relacionadas à dominação, e as possibilidades estão ligadas com a apropriação e o
potencial a insurgência que, por meio do uso, são prováveis de se contraporem a essa
tentativa de dominação.
44

A produção do cotidiano na vida moderna vincula-se com a difusão do


consumo em massa e da constituição de um modo de vida, que acabam por produzir
valores, um modo de consumo e necessidades. Por outro lado, o cotidiano, também
inclui a possibilidade de transformação, da superação das necessidades, é o lugar da
criação novo (CARLOS, 2007). Sobarzo (2006), baseado nos estudos de Certeau 11
sobre cotidiano, afirma que os usuários ao se apropriarem do espaço a partir de
diversas práticas, formam uma superação da racionalidade planejada e dominante
que busca se impor na cidade.

Para uma melhor compreensão de cotidiano faz-se necessário elucidar o


conceito de “lugar”, Carlos (2007, p.17), analisa o lugar partindo da tríade habitante-
indentidade-lugar e o define como “porção do espaço apropriável para a vida, [...] é o
bairro é a praça é a rua”, ou seja, consiste no mundo do vivido, onde se desenvolve a
vida em todas as suas dimensões. São os lugares que o homem utiliza que dizem
respeito a seu cotidiano e a seu modo de vida, por exemplo, como se locomove, onde
trabalha, caminha, se diverte.

Os modos de apropriação do lugar tornam-se perceptível no banal, no


familiar, refletindo e elucidando as transformações ou a sociedade urbana que se
estabelece na contemporaneidade.

Vale salientar que os benefícios gerados pelos espaços públicos são


inúmeros para a melhoria de vida do ambiente urbano, como possibilidade de
acontecimentos das práticas sociais, momentos de lazer, possibilidade de encontros
ao ar livre e manifestação dos modos de vida, que estimulam o desenvolvimento
urbano e o relacionamento entre as pessoas. Nessa conjuntura o poder público tem o
dever de criar espaços públicos coletivos que possuam qualidades que permitam sua
apropriação e também tem o dever de localizá-los de maneira igualitária para que
todos tenham o direito de usufrui-lo.

1.4.1. Classificação dos espaços públicos

Os espaços públicos podem ser classificados entre o parque e a praça e a


rua. O parque e a praça foram criados na cidade ocidental como um equipamento

11
DE CERTEAU, Michel. A invenção do cotidiano: 1. artes de fazer. 9. ed. Petrópolis: Vozes, 2003. [L’invention
du quotidien. 1a. arts de faire, 1990]
45

urbano recreativo, onde ocorrem as práticas sociais e manifestações de vida. Silva


(2009) defende que a facilidade de acesso, suscitada pela proximidade dos locais de
trabalho e das residências, predispõe o uso prolongado nesses espaços, pois são
considerados como principais atrativos. Fatores referentes à qualidade de espaços
públicos de lazer, como iluminação pública e locais adequados que predisponham as
pessoas a sentar, são importantes fatores para a permanência mais prolongada
nesses locais (BASSO, 2001).

O parque está ligado, principalmente, a uma vontade política, pois o parque é


gerado a partir de decisões políticas, baseadas em interesses específicos, de cunho
político e econômico. Como afirma Serpa (2007, p.69) “todos os parques públicos
representam alegorias do tempo e dos poderes que o conceberam”. Os parques são
vitrines que demonstram a boa imagem da cidade e dos poderes públicos, que
optaram pela implantação de espaços de “natureza” no interior da cidade, são como
espetáculos. Tais espaços evocam a imagem de “paraíso social” (SERPA, 2007,
p.85), ilesa contra o estresse da vida cotidiana. Dessa forma os parques valorizam a
imagem de determinadas áreas da cidade, contribuindo para sua especulação
imobiliária.

A rua é o elemento que delimita e configura o espaço urbano e, de acordo


com Jacobs (2000), tanto as ruas quanto as calçadas servem muito mais do que a
passagem de veículos e o caminhar dos pedestres, respectivamente, elas são os
principais espaços públicos de uma cidade, que permitem que contatos sejam
estabelecidos entre as pessoas. Em relação aos usuários de distintos meios de
locomoção os pedestres possuem um conhecimento mais profundo dos lugares do
que os motoristas e os usuários de transporte coletivos, sendo os mais aptos a
aproveitar as atividades ligadas ao ficar no espaço (BASSO, 2001).

Tanto a rua quanto as áreas livres de lazer necessitam dispor de qualidades


que permitam que as pessoas possam se apropriar desses espaços e aumentar o
tempo de permanência nesses locais.

1.4.2. A qualidade como elemento determinante à apropriação do espaço


público
46

O espaço público possui uma função, e esta presume um uso, e sua forma
influencia como é utilizado pelas pessoas e também pode favorecer ou inibir as
práticas. Quanto mais adequado o ambiente construído, em termos de qualidade de
infraestrutura e de existência de equipamentos e serviços próximos a residência que
apoiem as necessidades dos moradores, maior será a intensidade de apropriação da
área (GAMBIM, 2007). A qualidade de infraestrutura se refere à acessibilidade, à
aparência, à segurança, à imagem do local, que são fatores que influenciam o uso
dos espaços públicos (FRANCIS, 198712 apud OLIVEIRA, 2012).

A acessibilidade remete ao acesso generalizado e irrestrito aos espaços de


uso coletivo que ultrapassa o conceito de simples acesso físico, sendo tanto física
quanto simbólica (SERPA, 2007). A acessibilidade física permite que as pessoas
neles adentrem e se movam em seu interior. É compreendida em termos de distância
e percepção do espaço disponível para a realização de atividades (GEHL, 1987),
apresenta as facilidades de acesso, com layout prezando a acessibilidade universal,
vias de acesso adequadas, etc.; também se relaciona a localização, no que tange a
configuração do espaço na malha urbana. A acessibilidade simbólica diz respeito ao
usuário identificar sinais (pessoas ou objetos) indicativos que não é bem-vindo ao
espaço (CARR et. all., 199213 apud OLIVERIA, 2012). No que tange ao espaço público
das habitações de interesse social, esses espaços devem ser criados com facilidade
de acesso físico, vinculados à malha urbana existente e deve haver uma nítida
separação entre o público e o privado (OLIVERIA, 2012).
Jacobs (2010) defende a diversidade de usos no ambiente como
dinamizadora do uso dos espaços e Gambim (2007) afirma que a existência de
estabelecimentos de comércio e serviços básicos, instituições de ensino, praças e
parques favorecem as caminhadas pela vizinhança para a realização das atividades
desejadas. Essas caminhadas intensificam o contato entre as pessoas.

A diversidade de usos influencia na variedade de usuários e proporciona uma


sustentação econômica e social, pois as pessoas tendem a usar mais e ficar mais
tempo nos espaços públicos, o que colabora para a segurança no espaço público
(JACOBS, 2010). Nesse âmbito, a autora afirma que a paz nas calçadas e nas ruas

12
FRANCIS, Mark. Urban Open Space. In : ZUBE, E.; MOORE, G. (Eds). Advances in evironment, behaviorand
Design. New York: Planum Press, 1987.
13
CARR, Stephen; FRANCIS, Mark; Rivlin, Leane ; STONE, Andrew M. Public Space. New York : Cambridge, University Press,
1992.
47

não é mantida somente pela polícia, também é mantida pela vigilância exercida,
muitas vezes de forma inconsciente, pelas pessoas. Assim a sensação de segurança
em um lugar corresponde a um importante pré-requisito para o uso dos espaços
públicos, a autora defende três principais aspectos para se ter segurança nas ruas e
calçadas: o primeiro refere-se na nítida separação entre espaço público e espaço
privado; segundo diz respeito aos olhos para as ruas, na qual os edifícios deve estar
voltados para a rua; terceiro, a calçada deve ter usuários transitando constantemente,
para aumentar o número de olhos atentos e para induzir as pessoas de dentro do
edifício a olhar para a rua.

Além da dinamização das vias, é importante levar em consideração o


vandalismo exercido aos bens públicos, a delinquência juvenil, a prostituição e o
tráfico de drogas, tendo isso em vista Borja (1998, p.187) afirma que “cultura e arte
são excelentes meios de combate a violência urbana, muito mais eficientes que
grades, muros ou policiamento reforçado”. Programas sociais que estimulem a arte e
a cultura e que sejam exercidos de forma contínua são importantes instrumentos de
prevenção à exclusão e combate à violência pública, pois retira os jovens de um ciclo
de isolamento falta de oportunidades e os expõem a novos horizontes de subjetividade
e sensibilidade.

A imagem do local também influencia na percepção de segurança, pois, de


acordo com Lynch (1980), a organização simbólica do ambiente e a possibilidade de
leitura do espaço, por meio de imagens claras e reconhecíveis, podem suscitar no
usuário maior sensação de segurança, menor ansiedade e maior confiança,
intensificando o pertencimento e a familiaridade com o lugar para o grupo.

A aparência também interfere na segurança e na permanência no lugar, pois


espaços atrativos convidam as pessoas a permanecerem mais tempo no lugar,
influenciado na vigilância inconsciente exercia pelos usuários. Essa atratividade se
refere às questões projetuais do espaço e à qualidade do ambiente físico que
favorecem seu uso.

Portanto, o espaço público necessita ter certas qualidades e diversidade de


usos que possam permitir o acontecimento das práticas cotidianas e a permanência
das pessoas nesse espaço. No que tange, especificamente, os espaços públicos de
lazer, Basso (2001) afirma que investimentos no planejamento físico destes, baseados
48

no conhecimento das reais necessidades da população alvo, resultam em maior uso


do espaço.

Dessa forma serão investigados aspectos relativos à qualidade dos espaços


públicos na área de implantação do projeto e de seu entorno. Por conseguinte, o
projeto dos espaços públicos deve contemplar as necessidades e os anseios dos seus
usuários, de forma que não mude muito seu cotidiano, além de induzir a ininterrupta
dinâmica nas ruas, a fim de passar a sensação de segurança ao lugar.
49

2. METODOLOGIA
2.1. O TIPO DE PESQUISA

O método a utilizado corresponde ao descritivo, seu objetivo primordial


consiste na ‘descrição das características de determinada população ou fenômeno ou
o estabelecimento de relações entre variáveis’ (GIL, 2010, p.28). O mesmo autor
salienta que esse tipo de pesquisa também pode se aproximar da explicativa 14, a partir
do momento em que se identifica a natureza da relação entre as variáveis, ou seja,
quando se identifica os fatores determinantes para a ocorrência de determinado
fenômeno.

A partir de tais descrições o estudo visa analisar como o modo de vidados


moradores da ressaca das Pedrinhas são influenciados e influenciam o espaço social
no qual se inserem. Para tanto, constrói-se uma análise, baseada, principalmente, no
aporte teórico de Bourdieu sobre o conceito habitus. Esse conceito não será utilizado
dentro de um método de pesquisa antropológica, mas servirá para orientar, dentro do
possível em uma monografia, as reflexões dos resultados orientados pelo estudo in
loco e pelos questionários.

2.2. TÉCNICAS DE COLETAS DE DADOS

As técnicas de coletas de dados serão a pesquisa bibliográfica, o estudo in


loco e a entrevista. A pesquisa bibliográfica está voltada aos estudos realizados nas
temáticas: habitação de interesse social no Brasil, segregação socioespacial, habitus
e ocupação das áreas de ressaca em Macapá.

A pesquisa in loco ocorreu por meio a observação simples para compreensão


das dinâmicas sociais do assentamento subnormal, sua relação com o entorno, a
infraestrutura local, assim como a qualidade dos espaços públicos de seu entrono
imediato. De acordo com Gerhardt e Silveira (2009, p. 74), nesse tipo de procedimento

14
A pesquisa explicativa torna inteligível a razão da ocorrência de determinados fenômenos. Nas
ciências naturais, a pesquisa explicativa utiliza, primordialmente, o método experimental. Já nas
ciências sociais, se utiliza mais o método observacional e nem sempre é possível a realização de
pesquisas rigidamente explicativas, devido, muitas vezes, haver baixo grau de controle dos fenômenos
(GIL, 2010).
50

teórico “o pesquisador permanece abstraído da situação estudada, apenas observa


de maneira espontânea como os fatos ocorrem e controla os dados obtidos". Mediante
a observação simples foi efetuado mapas temáticos e suas análises.

Também foram efetuadas entrevistas, para compreender melhor as


especificidades dos moradores, suas rotinas, suas disposições, suas necessidades,
seu estilo de vida, assim como a situação física de seus domicílios. Gil (2010, p.109,
apud Selltiz et al.,1972, p.273)15 afirma que:

A entrevista é bastante adequada para a obtenção de informações


acerca do que as pessoas sabem, crêem, esperam, sentem ou
desejam, pretendem fazer, fazem ou fizeram, bem como acerca das
suas explicações ou razões a respeito das coisas precedentes.

A entrevista envolveu indicadores socioambientais e indicadores baseados na


perspectiva do habitus, com perguntas relacionadas a renda, escolaridade, migração,
moradia, segurança, percepção de condições de vida, existência de equipamentos
urbanos na localidade, entre outros. Tais indicadores terão variáveis qualificáveis e
quantificáveis.

Foram aplicados 30 questionários pela manhã nos dias 24 e 25 de julho de


2014, na qual foram escolhidos domicílios aleatoriamente na ressaca.

A entrevista é semiestruturada, na qual o pesquisador organiza um roteiro de


questões, mas permite que o entrevistado fale livremente sobre diversos assuntos.
Neste âmbito, Bourdieu (1987) indica alguns conselhos para a realização da
transcrição das entrevistas, alertando para que o pesquisador acrescente em sua
escrita os silêncios, os gestos, os risos, a entonação da voz, do informante durante a
entrevista. Dessa forma o pesquisador deve transcrever com fidelidade tudo o que o
pesquisado falou e sentiu durante a entrevista.

2.3. TÉCNICAS DE ANÁLISE DE DADOS

A pesquisa foi estruturada pelas referências da abordagem qualitativa, pois


se trata de investigar indicativos subjetivos, como o modo de vida dos moradores da

15
SELLTIZ, Claire et all. Métodos de pesquisa nas relações sociais. São Paulo: Herder, 1972.
51

ressaca e as dificuldades enfrentadas por viver em tal situação; e, também, pela


quantitativa, pois traduz em números algumas informações dos questionários.

Os dados obtidos pelas entrevistas foram tabulados através do software


Excel, por conseguinte foram organizados em gráficos e tabelas, com o objetivo de
serem, posteriormente, analisados em seus respectivos agrupamentos. A partir das
observações simples e do levantamento fotográfico foram elaborados mapas
conceituais referentes à infraestrutura da área estudada e de seu entorno.

2.4. ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO DE ESTUDO

A metodologia foi dividida em quatro etapas, que correspondem ao


levantamento bibliográfico, a visita in loco, a análise dos dados e a proposta.

A primeira etapa corresponde ao levantamento bibliográfico referente à


questão da segregação e da habitação social no Brasil e em Macapá, ao habitus, ao
espaço público como, também, na coleta de dados nos órgãos municipais referentes
à ressaca das Pedrinhas. Tal etapa permite conhecer e analisar as principais
contribuições existentes sobre o tema.

Na segunda etapa foi feita obtenção de dados físicos e sociais mediante a


realização de pesquisa in locu, com aplicação de questionários semiestruturados, pela
observação simples e por levantamento fotográfico.

Na terceira etapa foi realizada a análise dos dados obtidos, a formação de


banco de dados e a criação de mapas e diagramas.

A quarta etapa consistiu na formulação da proposta arquitetônica, com o


objetivo de solucionar as necessidades atinadas no decorrer da pesquisa. Ao nível de
anteprojeto, com memorial justificativo e detalhamento.
52

3. ANÁLISE DA ÁREA DE ESTUDO

Embasada nas informações apresentadas nos capítulos anteriores referentes


ao estilo de vida, as qualidades do espaço público e sua apropriação foi realizada a
análise da área de estudo e de seu entorno.

3.1. ÁREA DE INTERVENÇÃO

A área de intervenção corresponde à ocupação irregular na ressaca das


Pedrinhas, situada na Zona Sudoeste da cidade de Macapá-AP, no bairro Jardim
Marco Zero, que faz divisa com os bairros Pedrinhas, Araxá, Universidade, Jardim
Equatorial, Muca, Novo Buritizal e Congós.

Figura 4 – Localização da área de estudo.

Fonte: a autora.
Base cartográfica: Plano Diretor de Macapá, 2004. Lei complementar nº 077/2011
53

O Zoneamento Ecológico Econômico classificou a ocupação informal ressaca


das Pedrinhas como Zona em Processo de Ocupação Urbana (Z3) e estabeleceu
cenários desejados, proibições, tolerâncias e incentivos para essa zona, como
recuperação da beleza cênica; o desenvolvimento de projetos de recuperação das
margens das ressacas; a promoção da recuperação ambiental, revertendo os
processos de degradação das condições físicas, químicas e biológicas do ambiente;
e proibição de ocupações dentro da ressaca (TAKYAMA at al., 2012, grifo nosso). A
partir de tais indicações, fica claro que esta ressaca pode ser recuperada
ambientalmente e, com isso, se adéqua ao artigo 135 do Plano Diretor de
Desenvolvimento Urbano e Ambiental de Macapá (PDDUA, 2004) que afirma que os
moradores de áreas passíveis de recuperação ambiental estarão sujeitos a
reassentamento com o intuito de garantir a segurança da população residente no local
e na vizinhança ou a preservação ambiental.

Com o objetivo de criar um plano de reassentamento aos moradores da


ressaca das Pedrinhas, dotar a infraestrutura necessária, projetar equipamentos
urbanos que supram as maiores necessidades desses habitantes, foi escolhido dois
terrenos adjacentes que situam-se próximos a ressaca, de forma a tentar manter o
cotidiano desses habitantes e, através das decisões projetuais, preservar seu modo
de vida. Estes terrenos estão localizados na rodovia Juscelino Kubitschek a 550
metros de distância da ressaca, totalizando área de 90671m². Eles não possuem
nenhum investimento de equipamento ou construção, são subutilizados, que de
acordo com o art. 5° do Estatuto da Cidade, consiste em um terreno cujo
aproveitamento seja inferior ao mínimo definido no plano diretor ou em legislação.
Esses terrenos serão desapropriados para fins sociais, na qual deverá ser paga a justa
indenização.

A proposta arquitetônica e urbanística será projetada de acordo com os


parâmetros propostos pelo PDDUA (2004). Os terrenos em questão estão localizados
nas áreas de abrangência correspondente ao setor de lazer 3 (SL3). A Lei
Complementar n° 077/2011 – do Uso e Ocupação do Solo do Município de Macapá
que dispõe os parâmetros urbanísticos de ocupação do solo – prediz para essa zona
o uso residencial uni e multifamiliar, proposto por este estudo, e estabelece as
diretrizes que podem ser observadas no quadro 1.
54

Quadro 1 – Parâmetros de ocupação do solo para o setor lazer 3.


Parâmetros de ocupação do solo
Diretrizes de
Setor intensidade de CAT Altura de Taxa de Taxa de
N máximo
ocupação referência da ocupação permeabilida
Básico Máximo de pavtos
edificação máxima de máxima
31,70 (pé-
Baixa densidade direito 3,0m)
Verticalização 10 50% 25%
1,5 - 29,00m (pé-
Alta, Média e direito 2,70m)
Baixa
Afastamentos mínimos
Densidade bruta
Lazer Observações Frontal Laterais e lados
- DB
3 Setor propício para o 3,00m – Ocupação 1,50m – Ocupação
60 hab/hectare atendimento a
horizontal (resid.) horizontal (resid.)
demanda por
Densidade loteamentos e 0,10 x H – verticalização 0,10 x H – verticalização
líquida condomínios alta 2 e média alta 2 e média
residenciais
horizontais e verticais 0,15 x H – verticalização 0,15 x H – verticalização
180 hab/hectare com sistema isolado baixa baixa
de água e esgotos.
Fonte: Plano diretor de Macapá, 2004. Lei complementar nº 077/2011

3.2. ANÁLISE HISTÓRICA

O elevado fluxo de imigrantes para a cidade de Macapá desencadeou numa


expansão urbana acelerada. No final da década de 1980 e início da década de 1990
a malha urbana de Macapá se expandiu no sentido zona norte e zona sul sem ter
ocupações devidamente loteada e urbanizada. Nessa conjuntura, em 1990, surge o
bairro Jardim Marco Zero.

Posteriormente as ocupações nas áreas de terra firme do referente bairro,


houve a ocupação da área da ressaca das Pedrinhas. De acordo com questionários
levantados pelo ZEEU (TAKIYAMA et al., 2012), os ocupantes mais antigos residem
de 11 a 15 anos na ressaca, sendo que a maioria vive há 5 anos na ressaca.

Por meio das imagens se pode observar que a ocupação se iniciou na borda
da ressaca, próximo à Avenida Equatorial e que durante dez anos houve um elevado
aumento do quantitativo de residências no interior da ressaca, que, atualmente,
totalizam cerca de 250 residências (estimativa realizada por meio da visita in loco).
55

Figura 05 – Ocupação na ressaca das Figura 06 – Ocupação na ressaca das


Pedrinhas em 2003. Pedrinhas em 2013.

Fonte: Google earth, 2014. Fonte: Google earth, 2014.

3.3. ANÁLISE DO ENTORNO

Para se propor um projeto de habitação de interesse social que respeite o


modo de vida dos habitantes, é necessário compreender as relações entre o indivíduo
e o meio na qual se inserem. Também se faz necessário analisar o local a ser inserido
o conjunto habitacional, que deve dotar de infraestrutura necessária e, através do
projeto, predispor de qualidades que contemplem as necessidades da população,
para que não mude tanto seu cotidiano, sua relação com o entorno e com a
vizinhança. O espaço público do conjunto também deve predispor de qualidades que
permitam a apropriação do espaço por parte dos moradores do conjunto habitacional
e do entorno. Para tanto compreender as maiores debilidades do entorno, quanto suas
potencialidades são fundamentais para contemplar as necessidades latentes dos
moradores.

A análise foi realizada no entorno da ocupação informal na ressaca das


Pedrinhas e no entorno do lote proposto para o reassentamento. O estudo,
dependendo da situação, contempla desde a escala da vizinhança até a escala de
bairro.
56

Figura 7 – Mapa da abrangência do entorno da área de estudo.

Fonte: a autora.
Base cartográfica: Plano Diretor de Macapá, 2004. Lei complementar nº 077/2011.

3.3.1. Morfologia urbana

A malha urbana pode ser compreendida como o estudo das formas urbanas,
levando em conta seu conteúdo e processos formadores. Em relação a forma urbana
do bairro, seu traçado predominante é ortogonal, com vias paralelas ao rio amazonas,
seguindo o traçado que prevaleça na cidade de Macapá, entretanto próximo ao lote
escolhido, as vias se tornam perpendiculares a rodovia e os quarteirões não estão
bem definidos.

Figura 8 – Mapa da morfologia urbana Macapá e o tamanho dos lotes

Fonte: A autora.
Base cartográfica:Plano Diretor de Macapá, 2004. Lei complementar n° 077/2011.
57

Os quarteirões definidos possuem dimensões de 168 por 60 metros, ideal


para as pessoas se locomoverem a pé pela vizinhança, e os menores lotes possuem
dimensões de 12 por 30 metros, são dimensões boas no sentido de permitir os
afastamentos necessários para se ter ventilação entre as casas.
No que tange os processos formadores, essas áreas surgiram com a ausência
do planejamento, na qual o mercado imobiliário agiu/age livremente, e que muitas
vezes o zoneamento urbano não foi levado em consideração, como pode ser
observado na ocupação em área de preservação ambiental.

3.3.2. Uso e ocupação do solo

Jacobs (2010) defende a diversidade de usos no ambiente como


dinamizadora do uso dos espaços, Gambim (2007) afirma que a existência de
estabelecimentos de comércio e serviços básicos, instituições de ensino, praças e
parques favorecem as caminhadas pela vizinhança para a realização das atividades
desejadas. Essas caminhadas intensificam o contato entre as pessoas.

A ocupação do solo na área de análise é predominantemente residencial e a


avenida equatorial predispõe de maior diversidade de uso, com comércios, serviços e
usos mistos, que funcionam como apoio local às moradias, com uma frequência de
uso diária. São açougues, quitandas, botecos, mercadinhos, que acabam
influenciando no movimento de pedestres nas calçadas. Dos usos mais marcantes na
área vale salientar o Monumento Marco Zero do Equador, o Estádio do Zerão e o
Sambódromo, que estão próximos e caracterizam o perímetro como área voltada à
cultura e ao esporte, um pouco mais distante situa-se o Atacadão, a universidade
Federal do Amapá e o Shopping Amapá Garden.
58

Figura 9 – Mapa do uso do solo

Fonte: A autora.
Base cartográfica: Plano Diretor de Macapá, 2004. Lei complementar n° 077/2011.
59

É importante frisar a quantidade de lotes vazios na área, que podem ser


utilizados para a criação de equipamentos públicos que atendam à demanda das
pessoas do bairro.

Próximo a ressaca há poucas lanchonetes e restaurantes e em seu interior


esse uso é inexistente. O que predomina no interior da ressaca é uso residencial e há
poucos usos mistos pulverizados na ocupação, que correspondem a residências atrás
do terreno e na frente, mercadinhos, vendas de açaí ou sala de costura. Também
existe uma Igreja evangélica.

Figura 10 – Ocupações no interior da ressaca. Figura 11 – Casa de dois pavimentos no


interior da ressaca.

Fonte: A autora. Fonte: A autora.

Os comércios e serviços servem de apoio imediato à vida das pessoas, eles


tendem a ter uma frequência diária ou semanal, sendo assim, devem ter fácil acesso
às casas dos moradores para tornar suas vidas mais cômodas. A diversidade de usos
também colabora para a segurança no espaço público, onde se deve tentar promover
o movimento das pessoas em todos os horários de forma que a rua não fique vazia.
Dessa forma, próximos ao lote escolhido existem poucos usos comerciais, mistos e
de serviços, com casas de muros elevados sem visibilidade à rua e sem outros
atrativos, a rua é pouco movimentada, transmitindo a sensação de insegurança.
Dentro da ressaca, a quantidade de comércios é insuficiente fazendo com que as
pessoas tenham que ir até a avenida equatorial.
60

Figura 12 – Mapa que mostra a ocupação e os usos no interior da ressaca das Pedrinhas.

Fonte: A autora.
Base cartográfica:Plano Diretor de Macapá, 2004. Lei complementar n° 077/2011.
61

3.3.3. Equipamentos urbanos

De acordo com a norma brasileira NBR 9284, equipamentos públicos


correspondem aos serviços públicos que exigem áreas ou edificações próprias para
funcionarem, como escolas, praças, postos de saúde, rodoviária, dentre outros.

Santos (1988) afirma que existem equipamentos que abrangem bairros e


vizinhanças e que estes equipamentos devem estar pulverizados no território urbano.

O mapa de equipamentos públicos foi feito nos bairros Marco Zero, Pedrinhas,
Araxá e parte do Jardim Equatorial e Universidade, por conta de alguns equipamentos
englobarem o acesso ao público de mais de um bairro (figura 13).

No perímetro de estudo existe um edifício de assistência social, um terminal


de ônibus, um edifício do correio, um posto policial, três equipamentos de saúde,
alguns espaços voltados ao esporte e lazer, seis escolas e a Universidade Federal do
Amapá. Dentre os três equipamentos de saúde, um equivale ao hospital Sarah
Kubitschek – voltado à reabilitação de pacientes – e dois postos de saúde, um está
localizado no bairro Universidade e atende a este bairro e ao bairro Zerão, o outro
corresponde ao posto de saúde das Pedrinhas, localizado no bairro Jardim Equatorial,
que abrange a população destes dois bairros, e também presta serviço à população
dos bairros Araxá e Marco Zero, já que estes não possuem posto de saúde. Sendo
assim conclui-se que o bairro Marco Zero necessita de um posto de saúde que atenda
a demanda existente.

No que tange às escolas pode-se afirmar que a proximidade desse


equipamento em relação à moradia é desejável, de forma a permitir que uma criança
com idade suficiente para andar sozinha possa caminhar de sua casa à escola em
pouco tempo e de forma segura. Filho (2012) sugere 800m como a distância máxima
definida como cômoda para se andar a pé.
62

Figura 13 – Mapa de equipamentos urbanos .

Fonte: A autora.
Base cartográfica:Plano Diretor de Macapá, 2004. Lei complementar n° 077/2011.
63

Quadro 2 – Raio de abrangencia dos serviços educacionais (distância em metros).

Educação
Acessibilidade Educação Infantil Ensino Médio
fundamental

Ótima Até 500 Até 500 Até 1000

Regular 500 – 800 500 – 800 1000 – 2000

Baixa 800 – 1000 800 – 1000 2000 – 3000

Fonte: Brau, Mercê e Tarrago (1980). Adaptado pela autora.

Brau, Mercê e Tarrago (1980) determinam a relação da distância e da


acessibilidade dos serviços educacionais, os dividindo em educação infantil,
fundamental e médio. As escolas de ensino médio possuem um raio de abrangência
maior, pois seus alunos têm idade suficiente para andar em transporte coletivo. Com
base nesse quadro elaboramos mapas de abrangência das escolas (figura 14 e 15).

No bairro Marco Zero só existe a escola Municipal Maria Bernadete A. do


Nascimento, que é uma escola de ensino fundamental, sua distância da área de
estudo está entre regular e baixo. Não há escolas de educação infantil, nem creches
no bairro Marco Zero, a escola de educação infantil mais próxima localiza-se no bairro
Jardim Equatorial, mas seu raio de influência não chega na ocupação da ressaca, o
que deve refletir no transtorno de levar os filhos a escola. As outras escolas de ensino
fundamental localizam-se no bairro das Pedrinhas e Zerão (figura 14). A escola de
ensino médio Profª Raimundo Virgulino situa-se no bairro das Pedrinhas e possui um
raio de abrangência que absorve os moradores do bairro Marco Zero (figura 15). No
que tange ao ensino superior público, ele está situado no bairro universidade, diante
da rodovia, sendo de fácil acessibilidade à boa parte da cidade, por conta das rotas
de ônibus.
64

Figura 14 – Mapa dos raios de abrangência de escolas.

Fonte: A autora.
Nota: Base cartográficaPlano Diretor de Macapá, 2004. Lei complementar n° 077/2011.
65

Figura 15 – Mapa dos raios de abrangencia de escolas de ensino médio.

Fonte: A autora.
Base cartográfica:Plano Diretor de Macapá, 2004. Lei complementar n° 077/2011.
66

No que tange aos parques e áreas de lazer, o bairro Jardim Marco Zero possui
o Monumento Marco Zero do Equador, que corresponde à área de lazer contemplativa
e um ponto de atração turística. O bairro também possui a praça que fica na frente na
Unimed e ao espaço livre diante da bacia de acumulação de água, ambas podem ser
classificadas como campos de vizinhança por conta de seu tamanho com raio de
abrangência de 800 metros (NÁDIA, IOSHIAQUI, 2005). Sendo assim, sua
abrangência não chega à ocupação informal da ressaca das pedrinhas, nem no lote
proposto para o reassentamento, vale salientar que tais praças não possuem
playground e que seus mobiliários estão deteriorados. Em uma parte da Avenida
Equatorial existe um canteiro central com bancos e arborização, entretanto de dia não
é muito movimentado, pela falta de mobiliários urbanos e de atrativos, como
playground (figura 16).

No interior da ressaca não há espaço livres de lazer, com isso as crianças


brincam e jogam futebol na ponte e as pessoas têm o costume de sentar na varanda
ou na própria ponte e interagir com os vizinhos, já que os mobiliários públicos são
inexistentes, sendo assim, de dia, as vias são bem movimentadas.

Conclui-se que existe carência de escolas de ensino infantil e de creches no


bairro. Tampouco existe áreas livres de lazer que contemplem as necessidades da
população, como praças com mobiliários, atrativos e playground.
67

Figura 16 – Mapa dos raios de abrangencia de espaços livre de lazer.

Fonte: A autora.
Base cartográfica:Plano Diretor de Macapá, 2004. Lei complementar n° 077/2011.
68

3.3.4. Mobilidade urbana

A mobilidade urbana se refere à facilidade de deslocamentos de pessoas e


bens no espaço, esses deslocamentos são feitos por meio de veículos, bicicletas e
por meio de caminhadas. Dessa forma compreender a hierarquia viária, a ligação de
um bairro com outro, a garantia de transporte público, os fluxos exercidos nas vias,
são importantes ferramentas para a compreensão da mobilidade urbana e de seus
reflexos no cotidiano das pessoas.

A principal via de acesso ao bairro se constitui na rodovia Juscelino


Kubitschek, considerada pelo Plano Diretor de Macapá (2004) como eixo de
estruturação urbana. Próximo à ressaca as vias caracterizam-se por serem locais, por
se tratar de um bairro predominantemente residencial.
O transporte público no bairro Marco Zero supre as maiores necessidades da
população. A rodovia é servida por mais de seis linhas de ônibus e possui paradas de
ônibus com abrigo, a Avenida Equatorial também é servida pelo transporte público,
entretanto apenas o ônibus Pedrinhas faz essa linha e não passa por toda a avenida.
A parada de ônibus da Avenida Equatorial está próxima à ocupação da ressaca. Os
abrigos de ônibus da rodovia estão um pouco distantes da ocupação e estão
inadequados.

Figura 17 – Mapa da tragetória de ônibus Figura 18 – Foto do abrigo de ônibus.

Fonte: ZEEU, 2011. Adaptado pela autora. Fonte: A autora.


69

Figura 19– Mapa da hierarquia viária.

Fonte: A autora.
Base cartográfica:Plano Diretor de Macapá, 2004. Lei complementar n° 077/2011.
70

No que tange aos fluxos das vias, a rodovia possui um elevado fluxo de
veículos, entretanto não apresenta passarelas para a travessia, tornando esse
processo perigoso, principalmente para crianças que vão sozinhas à escola. A
Avenida Equatorial apresenta um fluxo médio de veículos, pois é uma via de ligação
interbairros e está conectada com a rodovia, por isso acaba atraindo comércios e
serviços diversificados o que influencia em um maior fluxo de veículos e de pedestres,
principalmente de dia.

Figura 20– Fluxo de carros e pessoas. Figura 21 – Foto da Avenida Equatorial.

Fonte: ZEEU, 2011. Adaptado pela autora. Fonte: A autora.

Sendo assim, a necessidade de passarelas na rodovia é imprescindível para


se ter melhor segurança e acessibilidade na travessia. Também existe a necessidade
de implantar e melhorar abrigos de ônibus.

3.3.5. Imagem do bairro

De acordo com Lynch (1980) os elementos que fazem a imagem de


determinando local são: os bairros, os caminhos, os limites, os pontos nodais e os
marcos. O bairro é um limite administrativo, já a ideia de bairro proposta por Lynch
(1980) utiliza um critério visual e perceptivo e se refere a partes de uma cidade que
possuem alguma característica comum que a identifica. Partindo desse pressuposto
a rodovia, os grandes espaços vazios ao redor do Monumento Marco Zero e as
distintas características dos edifícios e do gabarito dividem visualmente o bairro
71

Jardim Marco Zero em duas partes. Nesse tópico se abordará a imagem que é
passada pela parte do bairro que situa-se no entorno da avenida Equatorial.

Esse trecho do bairro é caracterizado pela horizontalidade dos edifícios, tendo


baixo gabarito, sendo em sua maioria residências de um pavimento. A existência de
maiores gabaritos corresponde à faculdade Meta e a construção de um prédio
comercial na Avenida Equatorial (figura 23).

No que tange os materiais utilizados na construção dos edifícios, as casas


situadas mais próximas da Avenida Equatorial e da rodovia são de alta renda,
predominantemente de alvenaria; as casas situadas próximas à ressaca são de baixa
renda e de madeira; já entre a avenida Equatorial e a ressaca existe uma área de
transição de materiais, não tendo predominância. A Avenida Equatorial, próximo do
bairro das pedrinhas e do Araxá, fica mais estreita e não tendo mais o canteiro central,
nessa parcela as casas são tanto de classe média e baixa, sendo tanto de madeira
quanto de alvenaria, sendo predominantemente de usos mistos, com comércios e
serviços.

Figura 22 – Mapa de materiais.

Fonte: a autora.
Base catografica: ZEEU,2011.
72

Figura 23 – Mapa de gabarito.

Fonte: a autora.
Base cartográfica: Plano Diretor de Macapá, 2004. Lei complementar nº 077/2011
73

O caminho, que pode ser as ruas e as calçadas, é o elemento que delimita e


configura o espaço urbano e pode ser considerado como o principal elemento que
permite a percepção do lugar pelas pessoas. De acordo com Jacobs (2000), é o
principal espaço público de uma cidade, que permite que contatos sejam
estabelecidos entre as pessoas. Nesse âmbito a avenida equatorial é uma importante
via com usos diversificados que dependendo de seu trecho evoca uma ideia de
tranquilidade ou de movimento, as outras vias são tranquilas, pela predominância do
uso residencial.

Os limites da área podem ser considerados como a ressaca das Pedrinhas,


que em alguns trechos esta murada para impedir a ocupação informal; o muro que
delimita o lote para reassentamento, que torna a via menos atrativa; a rodovia, pois
configura uma quebra de continuidade do bairro, sendo pouca a circulação de
pedestres entre os lados.

Figura 24 – Foto do muro do terreno do projeto à Figura 25 – Foto da via diante do terreno do
esquerda. projeto.

Fonte: Adaptado pela autora Fonte: Adaptado pela autora

Como marcos são considerados o Monumento Marco Zero do Equador, o


estádio Zerão e o Sambódromo, pois eles têm características singulares e
estabelecem um contraste com o entorno. Eles estão situados próximos e juntos
formam uma zona de lazer e de esporte. O monumento é considerado como área de
lazer contemplativa e está aberta ao público, já o estádio e o Sambódromo possuem
usos esporádicos.
74

Figura 26 – Mapa da imagem do entorno.

Fonte: a autora.
Base cartografica: ZEEU, 2011.

A imagem de um lugar deve ser levada em conta no partido de um projeto de


habitação de interesse social, pois o projeto não deve contrastar com o padrão
predominante do entorno, para que não haja grande diferenciação entre as áreas de
moradores de maior renda e de menor renda, influenciando no sentimento de
pertencimento do lugar que ocupa pelo morador do conjunto habitacional.

3.3.6. Infraestrutura

A infraestrutura é um elemento estratégico que valoriza o solo urbano e


consiste em um conjunto de sistemas de equipamentos e serviços necessários ao
desenvolvimento das funções urbanas, é composto por diversos subsistemas como o
viário, esgoto, água, lixo, entre outros.

O lixo produzido pela população tem várias destinações, como a coleta e o


tratamento de lixo ou se jogar em qualquer lugar. Em geral a coleta de lixo por parte
do poder público já apresenta dificuldades em Macapá as quais se agravam nas áreas
de ressaca em virtude do ambiente ser alagado. Assim se observa grande quantidade
de lixo jogado a céu aberto pelos moradores que vivem na ressaca das Pedrinhas,
fato comum nas outras ressacas.
75

Figura 27 – Acúmulo de lixo no interior da ressaca.

Fonte: Plano Diretor de Macapá, 2004.CAESA, 2007. Adaptado pela autora.

A rede de abastecimento de água engloba o centro da cidade e parte do bairro


Jardim Marco Zero (figura 28), o lote proposto para o projeto não é servido pela rede
de abastecimentos de água, entretanto seu entorno é, além de que próximo ao lote
existe uma caixa d’água da CAESA.. O abastecimento de água das casas do interior
da ressaca é efetuado por meio de poço amazonas e poço artesiano (TAKIYAMA,
2012).

A rede de esgoto em Macapá (figura 29) abrange um número reduzido de


domicílios, se concentrando no centro, dessa forma o local de deposição dos dejetos
humanos usado numa residência é feito de acordo com a renda e a cultura de seus
moradores. O bairro Marco Zero não dispõe de rede de esgoto. Em entrevistas
expostas pelo ZEEU (TAKIYAMA, 2012) na ressaca das Pedrinhas constatou-se que
16,67% não havia fossa, 53,33% possuía fossa negra e, apenas, 30% apresentava
fossa séptica, vale salientar que a fossa séptica proporciona poucos impactos
negativos ambientais, sendo as outras formas citadas prejudiciais ao meio ambiente.
76

Figura 28 – Rede de abastecimento de água na cidade de Macapá.

Fonte: a autora.
Base cartográfica: Plano Diretor de Macapá, 2004. Lei complementar nº 077/2011
77

Figura 29 – Rede de esgoto na cidade de Macapá.

Fonte: adaptado pela autora.


Base cartográfica: Plano Diretor de Macapá, 2004. Lei complementar nº 077/2011
78

A maior parte da área é servida de energia elétrica e iluminação pública. Em


alguns trechos não há postes e a iluminação advém das próprias casas, tornando a
via escura, logo, pouco atrativa para caminhadas. Existe iluminação pública em alguns
trechos da ocupação na ressaca, algumas casas situadas no interior da ressaca são
cadastradas pela companhia de energia elétrica, mas boa parte não são cadastradas,
fato que acarreta diversos problemas, como constante queda de tensão, fios
aparentes e baixos ao lado das pontes, nas quais as pessoas podem, facilmente,
sofrer choque elétrico.

Figura 30 – Áreas sem iluminação pública

Fonte:a autora.
Base cartografica: ZEEU,2011.

Figura 31 – Foto via carente em Figura 32 – Foto de postes no interior da ressaca.


posteamento.

Fonte: A autora. Fonte: A autora.


79

No que tange às vias, a maioria são de mão-dupla, não dispõem de faixa de


pedestres e algumas possuem dimensões mínimas, principalmente as que não são
pavimentadas. As vias sem pavimentação são as mais próximas da ressaca. As
calçadas existem na Avenida Equatorial e nas avenidas pavimentadas onde as casas
são de maior poder aquisitivo, mesmo assim essas calçadas apresentam desníveis e
mobiliários ou árvores que dificultam a acessibilidade física. Nas vias sem
pavimentação a calçada é praticamente inexistente, estando dispostas diante de
poucas casas, tornando o local com pouca acessibilidade. No interior das ressacas as
vias corresponde a passarelas feitas de madeira, chamadas de pontes. Elas são os
lugares com menor acessibilidade, pois muitas estão quebradas, são estreitas e
podem fazer com que uma pessoa desatenta caia.

Figura 33 – Mapa de pavimentação de vias e calçadas.

Fonte: ZEEU, 2011. Adaptado pela autora.

Figura 35 – Foto início da ocupação da


Figura 34 – Foto de ponte quebrada.
ressaca.

Fonte: A autora. Fonte: A autora.


80

3.3.7. Aspectos naturais

No que tange aos aspectos naturais foram observados a topografia do lugar,


a vegetação existente, os ventos predominantes e a trajetória solar. A topografia varia
de 0 a 10 metros, sendo as áreas mais baixas propensas à inundação, como na
ressaca. O lote escolhido para a implantação do projeto situa-se na parte mais
elevada, de 5 a 9,9 metros, estando em solo plano, o que corresponde a um ponto
positivo em relação a implantação do conjunto habitacional, por conta de menores
gastos com a fundação.

A área já está antropizada e apresenta vegetação de cerrado de forma


arbórea e arbustiva e de campo limpo associado, na ressaca e próximo ao rio
caracteriza-se por ser floresta de várzea de alto porte com grande influência de
palmeiras e na beira do rio há a predominância de siriubal (planta de mangue). O solo
possui sedimentos síltico-argiloso, influenciados diariamente total ou parcialmente
pelas marés.

Levar em conta a influência da trajetória solar, dos ventos dominantes e o


clima local, é imprescindível para se ter um edifício confortável para seus moradores.
Sendo assim, Macapá se enquadra no clima quente úmido, com ventos dominantes
provindos do nordeste. Para esse clima é necessário a utilização de ventilação
cruzada permanente, a refrigeração artificial necessária e a proteção solar.
81

Figura 36 – Hipsometria

Fonte: a autora.
Base cartográfica: Plano Diretor de Macapá, 2004. Lei complementar nº 077/2011
82

3.4. ANÁLISE DO RESULTADO DOS QUESTIONÁRIOS

Foram aplicados 30 questionários aos moradores da ressaca das Pedrinhas.


Eles foram aplicados com o intuito de explanar as problemáticas da população
residente da área de estudo, hábitos de convívio, de onde vieram, por que vieram,
antiga forma de viver, sua escolaridade, que influencia no trabalho que exerce, como
em seu habitus, compreender o modo como vivem, suas percepções em relação à
moradia, suas vontades no que tange de melhorar de vida, de melhorar a casa, sua
satisfação em relação aos equipamentos públicos, os lugares que costumam conviver,
sua percepção do bairro em que vivem.

Como já foi explicitado, pessoas de outros estados vinham para Macapá em


busca de melhores condições de vida e acabavam ocupando as áreas de ressaca, na
maioria das vezes por falta de opção. Os dados levantados confirmam esse fato, pois
dos entrevistados 34% nasceram em Macapá, 63% nasceram no Pará e 3% no
Amazonas, vale destacar que 47% das pessoas provêm de Breves no Pará. Os
motivos citados para a migração foram a busca de melhorias de vida, como serviços
de saúde e de ensino, a busca de trabalho e para acompanhar a família.

Figura 37 – Gráfico cidade em que nasceu.

3% 3%

10% Macapá
3%
34% Breves
Manaus
Afuá
Portel
Monte Alegre
47%

Fonte: a autora.

Considerando o aspecto da escolaridade o índice de analfabetos equivale a


18%, correspondendo a pessoas com idade superior a 49 anos. Em relação ao ensino
fundamental, 22% dos entrevistados não o completaram e 15% o completaram. Dos
entrevistados que cursaram o ensino médio, 26% alegaram que o terminaram e 15%
não o terminaram. Quanto ao ensino superior, apenas uma pessoa está cursando. A
83

condição de baixa escolaridade tem reflexos na inserção no mercado de trabalho que


está cada vez mais competitivo e exigente no que tange à formação acadêmica.

Figura 38 – Gráfico Escolaridade.

4% 0%
Analfabeto
18% Ensino fundamental incompleto
26%
Ensino fundamental completo
Ensino médio incompleto
22%
Ensino médio completo
15%
15% Ensino superior incompleto
Ensino superior completo

Fonte: a autora.

A falta de renda e trabalho são os principais fatores que impelem pessoas a


ocupar áreas inadequadas à habitação, pois não possuem renda para comprar ou
alugar uma moradia em outras áreas. Essa realidade foi confirmada com as
entrevistas, na qual 23% dos entrevistados estão desempregados, 34% são donas de
casa e não trabalham – vale salientar que muitas não trabalham porque não há
creches na qual possam deixar os filhos –, 20% são autônomos, ou seja, desenvolvem
atividades informais (mercadinhos, diárias, venda de açaí), 17% são funcionários de
firmas, 3% são estudantes e 3% são aposentados.

Figura 39 – Gráfico ocupação exercida.

17% 20% Autônomo


Desempregado
Estudante

30% 23% Aposentado


Dona de casa
7% Funcionários de firma
3%

Fonte: a autora.

Considerando a quantidade de pessoas que moram na casa, 5 e 6 pessoas


por casa foi a quantidade mais dita, com 20% cada, seguida de 17% com 4 e 5
84

pessoas cada. No que tange à composição familiar dos entrevistados, 47% compõem
uma família de pai, mãe e filho, 23% é composto por mãe e filho e 17% apresentam
agregados na casa. Vale salientar que muitas mulheres foram abandonadas pelo
cônjuge, portanto trabalham e cuidam dos filhos, ou simplesmente vivem às custas do
governo, pois, dentre outros fatores, não há creches para deixar as crianças.

Figura 40 – Gráfico quantidade de pessoas Figura 41 – Gráfico composição familiar.


por casa.

3%
2 3% Pai/mãe
7% 10% 3%
3 7% Pai/mãe e filhos
6%
4
17% Pai/filhos
17%
5
20% Mãe/filhos
6 47%
8 Família e
17% 23%
agregados
10 Mãe e/ou pai,
20% filhos e avós
15 0%
Outros

Fonte: a autora. Fonte: a autora.

As casas situadas no interior das ressacas são simples e com poucos ou


nenhum adorno. Quanto ao material utilizado nas construções, todas as casas no
interior da ressaca são de madeira com cobertura de fibrocimento, a utilização desses
materiais está relacionada com seu custo mais baixo. Em relação ao número de
cômodos, grande parte dos entrevistados (23%) habitam residências com cinco
cômodos, incluindo sala, cozinha, banheiro e dois quartos ou sala, cozinha, banheiro,
quarto e varanda. 20% vivem em casas com três cômodos, com quarto, cozinha e
banheiro ou varanda, sala e banheiro. Normalmente, quando há poucos cômodos,
estes são conjugados. Aqueles que vivem em casas com mais de seis cômodos
totalizaram aproximadamente 36%, que também inclui área de trabalho ou uma maior
quantidade de quartos. Vale salientar a importância dada a construção das varandas
nestas casas, provenientes tanto da cultura ribeirinha, como também, destinado a um
espaço para relaxar, atar uma rede, contemplar o movimento das pessoas nas pontes,
interagir com os vizinhos.
85

Figura 42 – Gráfico número de cômodos.

3% 0% Um
7% Dois
3% 10%
Três
20% Quatro

20% Cinco

14% Seis
Sete
23% Oito
Nove

Fonte: a autora.

Figura 43 – Residências com varanda. Figura 44 – Varanda de uma residência.

Fonte: a autora. Fonte: a autora.

Questionados sobre suas condições de moradia, 4% afirmaram que acham


ótimo o modo em que vivem, 30% acham bom, 23% acham regular, 20% acham ruim,
23% acham péssimo. Acredita-se que alguns já se acostumaram a viver na ponte,
outros têm vergonha de responder sobre sua real condição, alguns ficavam “sem
graça” e tentavam amenizar os problemas do lugar, destacando pontos positivos de
morar ali, como a tranquilidade que ali existe. Tal reação pode ser explicada pelo fato
de não se identificarem com o entrevistador (habitus diferentes), já que este possui
uma posição social e história diferenciada e acaba sendo visto como um ser estranho
àquele ambiente.
86

Figura 45 – Gráfico condições de moradia.

4%

23% Ótimo
30% Bom
Regular

20% Ruim
Péssimo
23%

Fonte: a autora.

Quando questionados sobre o que mudariam na casa, a maioria dos


entrevistados afirmaram que reformariam um ambiente ou toda a casa, 4 afirmaram
que fariam uma ampliação, 1 aterraria o lugar onde mora, 1 derrubaria a casa e a
construiria de alvenaria, 2 pessoas não responderam, pois ficaram “sem graça”, 2
afirmaram que não mudariam nada pois gostariam de se mudar e 5 afirmaram que
não mudariam nada, ou por que consideravam a casa boa ou por que não se achavam
no direito de desejar uma mudança na casa, já que não trabalhavam e não tinham
condições de reformar o lugar.

Quadro 3 – Vontade de melhorar a residência.


O que mudaria em sua casa? Número de pessoas
que deram a
mesma resposta
Reformaria o banheiro 2
Reformaria toda a casa 8
Reformaria o banheiro e a 1
cozinha
Reformar a cozinha 1
Ampliação 4
Aterrar 1
Tudo, faria de alvenaria 1
Nada, gostaria de se mudar 2
Nada, gostaria de morar em 1
ap.
Nada 5
Não respondeu 2
Fonte: a autora.
87

Questionados sobre a satisfação em relação a segurança, 20% alegaram que


o consideram bom, 13% consideram regular e 67% consideram ruim. Vale salientar
que muitos dos que consideraram o lugar perigoso afirmavam que de dia o lugar era
tranquilo, sendo a noite e nos finais de semana perigoso, e que o maior perigo não
estava relacionado a assaltos, e sim a brigas e tiros.

Figura 46 – Satisfação em relação a segurança pública.

20%

Bom
13% Regular
67% Ruim

Fonte: a autora.

No que tange à satisfação aos equipamentos públicos todos os entrevistados


afirmaram que não utilizavam a creche, pois não há creches próximas. Em relação às
escolas,46% afirmaram que acham o ensino bom, 30% regular, 7% ruim e 17% não
utilizam. Sobre os postos de saúde, os entrevistados afirmaram que utilizam o posto
das Pedrinhas e às vezes o do Muca, sendo que 20% afirmaram que consideram o
atendimento bom, 17% regular, 56% ruim e 7% não utilizam; a maior reclamação foi
a falta de remédio no posto das Pedrinhas.

Em relação ao posto policial, 17% não utilizam, 20% acham bom, 23% acham
regular e 40% acham ruim, afirmando que não há postos próximos e que os policiais
não entram na ponte e demoram para chegar quando são solicitados. Sobre as áreas
de lazer, 27% não utilizam, 33% acham ruim, 23% acham regular, e 17% acham bom,
as maiores reclamações foram sobre a falta de áreas de lazer próximas, na violência
que existe nesses ambientes, na falta de playgrounds, na falta de mobiliário e na falta
de manutenção dessas áreas. Sobre os mercados e comércios 7% não o utilizam,
apenas 3% o acham ruim, 27% acham regular e 63% acham bom, os resultados
positivos se referem à proximidade desses lugares, situados tanto dentro da ressaca
quanto na avenida equatorial.
88

Figura 47 – Gráfico de satisfação com equipamentos pulblicos e mercado.

100%
90%
80%
70%
60% Não utilizam
50%
40% Ruim
30% Regular
20%
10% Bom
0%

Fonte: a autora.

Considerando a distância dos equipamentos públicos, a metade dos


entrevistados afirmaram que há escolas situadas próximas, 33% afirmaram que estão
distantes e 33% não souberam informar. Em relação ao posto de saúde, 50% dos
entrevistados afirmaram que está localizado próximo, 43% garantiram que estava
distante e 3% não souberam informar, o posto mais próximo é o das Pedrinhas que
está localizado no bairro Jardim Equatorial. Em relação ao posto policial, a grande
maioria dos entrevistados informou que está situado distante, no bairro do Araxá. No
que tange às áreas de lazer, 40% afirmaram que estavam situadas próximas, 43%
afirmaram que estava distante e 17% não souberam informar, o que permite
conjecturar que as pessoas não souberam informar por falta de conhecimento de
áreas livres na proximidade e por não ter o costume de usar tais espaços. A grande
maioria dos entrevistados afirmou que existiam mercados próximos.
Em relação a áreas de lazer e convívio, os entrevistados costumam utilizar
mais a igreja, que foi citada 17 vezes16, seguida da praça que foi citada 12 vezes,
dessas, 2 pessoas citaram o Monumento Marco Zero.

16
Existe apenas uma edificação religiosa no interior do bairro, entretanto existe uma igreja que realiza os cultos
nas casas das pessoas.
89

Figura 48 – Gráfico proximidades de equipamentos púlblicos e de comercio.

100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30% Não sabe
20%
10% Próximo
0%
Distante

Fonte: a autora.

As condições de vida de cada classe impõem maneiras de classificar, de


perceber o necessário, dessa forma pode-se indagar que o monumento, como área
de lazer contemplativo, passa despercebido para essas pessoas, pois se torna
irrelevante diante das problemáticas que elas enfrentam. A própria casa foi citada 7
vezes, a casa dos vizinhos 4 vezes, a rua, casa dos familiares e outros lugares foram
citados 3 vezes. As pessoas se apropriam das pontes, pois a utilizam para se
locomover e interagir com os vizinhos, o que a torna um local que permite ter
momentos de lazer. A maioria dos entrevistados costumam ter lazer nas proximidades
de onde vivem e interagem com os amigos e vizinhos nas proximidades, podendo ser
na ponte, na rua, na praça, nas varandas das casas. O fato de não gastarem com
lazer pode ser explicado pelo fato de terem habitus parecido. Bourdieu (1983) afirma
que “o habitus exprime, [...] sob a forma de preferencias sistemáticas, as
necessidades objetivas das quais ele é o produto” dessa forma observa-se que
necessidades dos moradores da ressaca são urgentes, pois não são luxos. Por
exemplo, quem tem pouca renda gasta com prioridades como a alimentação.

Os moradores do interior da ressaca tendem a não interagir com os moradores


de fora da ressaca, pois tem um habitus distinto, já que a classe social é distinta e
possuem gostos distintos. Portanto não se apropriam do espaço da mesma forma e
não se relacionam. Também não interagem por conta dos enclaves fortificados e da
segregação do medo (CALDEIRA, 2000). Vale salientar que grande parcela da
população da cidade encara essa ocupação no sentido pejorativo, como por exemplo,
na caracterização dessas populações como ‘moradores de ponte”.
90

Figura 49 – Gráfico área de convívio dos habitantes.

18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
Comunidade Própia casa Praça Outros Rua Casa dos Casa
religiosa vizinhos familiares

Fonte: a autora.

As crianças costumam brincar mais na ponte/rua e na própria casa, seguida


pela casa dos vizinhos que foi citada nove vezes, já a praça foi citado apenas uma
vez, fato que comprova a falta de espaços específicos para as crianças brincarem.
Vale salientar que as crianças brincam na ponte e muitas vezes acabam caindo na
água contaminada e isso é considerado “normal” por elas, pois já se acostumaram a
isso.

Figura 50 – Gráfico área de convívio e lazer das crianças.

14
12
10
8
6
4
2
0
Praças/áreas Rua/ponte Casa dos Própria casa Não tem Outro
verdes do seu vizinhos criança
bairro

Fonte: a autora.

Quando questionados sobre o cultivo de hortas ou criação de animais para


alimentação antes de morar na ressaca, a maioria dos entrevistados (54%) afirmou
que não o fazia, 23% cultivava plantas e criava animais, 13% criava animais e 10%
cultivava plantas, os 46% que cultivavam e/ou criavam animais provinham do interior
e possuíam esse costume. Atualmente, mesmo com as dificuldades do lugar que se
91

inserem, 13% mantém esse antigo costume, sendo que 87% não faz isso.
Questionados se teriam vontade de criar animais ou cultivar horta 79% afirmaram que
sim, se houvesse um espaço para fazê-lo.

Figura 51 – Gráfico cultivo de plantas ou criações Figura 52 – Gráfico cultivo de plantas e criações
de ainimais antes de morar na ressaca das de animais, atualmente.
pedrinhas.

Cultivava
plantas Cultiva plantas
3%
10% 10%
0%
13% Criava animais Cria animais

54% Cultiva plantas


23% Cultivava e cria animais
plantas e criava 87%
Não faz
animais
Não fazia

Fonte: a autora. Fonte: a autora.

Figura 53 – Gráfico vontade de ter uma


horta ou criar animais.

0%

21%
Sim
Não
Não sabe
79%

Fonte: a autora.

Quanto aos pontos negativos e positivos do bairro, 15 pessoas afirmaram que


não havia nada de bom no bairro e 3 afirmaram que não haviam problemas. Dos
pontos positivos mais citados, vale destacar a tranquilidade do lugar, a boa vizinhança,
a estar próximo da parada de ônibus e de equipamentos de comércio e serviços. Os
pontos negativos mais marcantes foram relacionados à água e às pontes.
92

Quadro 4 – Pontos negativos e positivos do bairro Marco Zero.


Número
Pontos negativos do Número de
Pontos positivos do bairro de
bairro pessoas
pessoas
Próximo a equipamentos de
Não há problemas 3 3
comércio e serviços
Abastecimento de água 13 Ventilado 1
Pontes 11 Tranquilo 4
Segurança 8 Boa vizinhança 3
Energia 5 Próximo a parada de ônibus 3
Falta de posto médico 2 Próximo ao centro 1
Fiação elétrica 2 Bares 1
Mau cheiro no lago 2 Oferta de empregos 1
Falta de policiamento 2 Próximo a escola 1
Lixo 1 Fim de ano, natal 1
Distante do centro 1 Nenhum 15
Vizinhança 1 - -
Falta de delegacia 1 - -
Distante das coisas 1 - -
Barulho 1 - -
Ruas com buracos 1 - -
Falta de sinalização nas
1 - -
ruas
Casas caindo 1 - -
Falta de investimentos
1 - -
pelo poder público
O lago transborda,
1 - -
quando chove
Fonte: a autora.

Questionados se gostariam de viver em outro local 83% afirmaram que sim, a


maioria se referiu a um lugar de terra firme e 14% afirmaram que não gostariam de
morar em outro lugar.

Figura 54 – Gráfico morar em outro lugar.

0% 3%

14%

Sim
Não
Talvez

83% Não sabe

Fonte: a autora.
93

Essas pessoas vieram para a cidade buscando, principalmente, melhorias de


vida, mas não foi isso que aconteceu, elas tiveram que se acostumar a ter um
cotidiano difícil, ocasionado pela falta de infraestrutura, de saneamento e de
segurança, mas mesmo com dificuldades elas possuem identidade com o lugar, pois
possuem relações de vizinhança, parentesco, proximidade do trabalho e gostam da
tranquilidade do lugar.

Alguns dos moradores já estão acostumados a viver na ponte, tendo em


vista que a maioria de seus habitantes vive há cinco anos nela, sendo que os
moradores mais antigos residem de 11 a 15 anos no local (TAKIYAMA, 2012). Neste
período, eles criaram identidade com o lugar, já que formaram laços com seus
vizinhos, que possuem um modo de vida e um cotidiano parecido. Essas pessoas
possuem habitus parecido, por terem uma história de vida análogas, já que a maioria
são imigrantes em busca de melhores condições de vida e que por falta de opção
foram morar em áreas alagadas, somado ao fato de morarem num ambiente que
detém diversos problemas, de terem as mesmas pretensões, que consiste em
melhorar de vida, faz com que se aproximem e se relacionem. Tal fato faz com que
se aproximem e se relacionem. Vale salientar que apesar de todos os problemas
referentes a infraestrutura elencados anteriormente, estes moradores percebem
pontos positivos do local onde vivem, como a tranquilidade do lugar e a proximidade
do trabalho.

Com base nas entrevistas e na análise física foi elaborado um quadro resumo
das necessidades mais latentes dos moradores da ressaca e do entorno do lote
escolhido. Em relação aos equipamentos públicos são necessários um posto policial,
uma creche, uma escola de jardim de infância, um posto de saúde, um centro
comunitário, áreas de lazer, com playground e área esportiva, lanchonetes. Sobre a
infraestrutura urbana, os arredores do lote escolhido e da ressaca necessitam de
calçamento, pavimentação e arborização. No que tange as maiores necessidades
referentes à habitação, a partir das entrevistas compreende-se que esse moradores
querem, principalmente, ter uma casa em terra firme que disponha de toda a
infraestrutura necessária e que seja funcional no sentido de atender suas
necessidades, que possa dispor de varanda, item comum nas habitações, área que
se possa criar horta, habitação com dois ou três quartos, para se adequar a
94

composição familiar, um ambiente comercial, para desenvolverem as atividades


necessárias ao sustento familiar, que pode ou não estar atrelado a residência.

Quadro 5 – Quadro resumo.

Equipamentos urbanos Habitação


Posto policial Varanda
Creche Área para criação de horta
Escola de jardim de infância Habitação com 2 quartos
Posto de saúde Habitação com 3 quartos
Centro comunitário Ambiente para pequenos comércios e
serviços
Áreas de lazer: playground, área Funcionalidade
esportiva, área de descanso.
Lanchonetes Terra firme
Infraestrutura urbana -
Pavimentação, calçada e arborização no -
entorno do lote escolhido
Fonte: a autora.
95

4. PROPOSIÇÃO URBANISTICA E ARQUITETÔNICA

Com base nas informações apresentadas nos capítulos anteriores foi


elaborado o plano de realocação, incluindo todos os equipamentos comunitários
necessários e o projeto das novas unidades habitacionais.

4.1. PARTIDO E PROGRAMA DE NECESSIDADES

Realocar famílias para HIS não soluciona todos os problemas enfrentados


pelos beneficiários, devem haver políticas públicas referentes a inclusão social, para
que possam participar do mercado de trabalho e de estabelecer relações humanas
que enriqueçam sua existência. Por tanto, as soluções abordadas neste trabalho
contemplaram o projeto arquitetônico e urbanístico.

A partir da análise física e das entrevistas formou-se o programa de


necessidades necessário ao plano de realocação, que consiste nos equipamentos
urbanos, as habitações e a infraestrutura necessária. Também foi elencando a
abrangência dos equipamentos que influenciou na sua implantação.

Quadro 6 – Programa de necessidades do plano de realocação.


Programa de necessidades Abrangência
Infraestrutura urbana -
Uma creche Vizinhança
Uma escola de jardim de infância Entorno
Um posto policial Bairro
Um posto de saúde Bairro
Habitações -
Comércios/serviços Vizinhança
2 Igrejas Vizinhança
Centro comunitário Bairro
Praças Vizinhança, entorno e bairro
Fonte: a autora.

Além do plano de realocação, também foi proposto os projetos das


habitações, do centro comunitário, das áreas livres de lazer, das salas comerciais e
da infraestrutura necessária. As habitações possuem dois ou três quartos, atendendo
a composição familiar, na qual dois quartos corresponde a famílias com dois filhos e
três quartos com mais filhos. O centro comunitário, espaço de congregação da
comunidade, possui o desenvolvimento de atividades de lazer, assistência, educação
e profissionalização e estará diretamente ligado a praça principal. Os comércios
servem de suporte a vizinhança, e os habitantes que já possuem um espaço comercial
96

em suas casas na ressaca tenham um espaço específico no conjunto habitacional.


Também foram criadas diversas áreas livres de lazer, de pequeno e médio porte, que
possuem área esportiva – pista de skate, slackline e futebol –, playground e áreas de
descanso. Após a decisão do programa de necessidades, foi efetuada o pré-
dimensionamento das unidades habitacionais e dos equipamentos propostos.

Quadro 7 – Programa de necessidades e pré-dimensionamento.

Unidade habitacional dois quartos


Espaço Mobiliário Área (m²)
Sala de estar e Poltronas, sofás, estante, televisão, mesa para 4
refeições pessoas, mesa de estudo, mesa de estudo 13
Cozinha Pia, fogão, geladeira, armário 5,75
Banheiro Lavatório, vaso sanitário, box 2,90
Área de serviço Tanque, lava roupa 3,50
Dormitório 1 Cama de casal, criado mudo, guarda-roupa 8
Dormitório 2 2 camas de solteiro, criado-mudo, guarda-roupa 8
Varanda - -
Total 41,15
Unidade habitacional três quartos
Sala de estar e Poltronas, sofás, estante, televisão, mesa para 4
refeições pessoas, mesa de estudo 13
Cozinha Pia, fogão, geladeira, armário 5,75
Banheiro Lavatório, vaso sanitário, box 2,90
Área de serviço Tanque, lava roupa 3,50
Dormitório 1 Cama de casal, criado mudo, guarda-roupa 8
Dormitório 2 2 camas de solteiro, criado-mudo, guarda-roupa 8
Dormitório 3 2 camas de solteiro, criado-mudo, guarda-roupa 8
Varanda - -
Total 49,15
Comércio/serviços
Balcão de atendimento, balcão de exposições,
Loja estantes, mesas. 20
Estoque Estantes e armários 5
Lavatório, vaso sanitário, pia de cozinha,
Sanit./copa armário, frigobar 10
Total 35
Centro comunitário
Hall Balcão, cadeiras, quadro de informes 15
Mesa, cadeira, computadores, impressores,
Administração mesa de reuniões, armários e estantes 18
Sala dos professores Mesa, cadeiras, sofás 11
Sala de reunião Mesa, cadeiras, quadro, estante 30
Biblioteca Estantes, livros, armários, mesas e cadeiras 40
Sanitários Bancada, pias, vaso sanitário, mictórios 20
97

Cozinha comunitária Fogão, freezer, geladeira, pias, armários. 30


Salas multiuso Mesa, cadeiras, quadro 120 (4 x 30)
Mesa de som, cadeiras, mesa para quatro
Rádio comunitária pessoas, armários 27,50
Total 321,5
Áreas livres de lazer
Área esportiva Quadra de vôlei, de futebol, pista de skate -
Playground Gangorra, escorrega-bunda, balanço -
Área de descanso Bancos -
Área de cinema ao ar
- -
livre

Posto de saúde* -
300
Posto policial -
100
Creche** -
1575
Escola*** -
2800
Igreja -
480
Fonte: a autora.
Obs.: * dimensão mínima estabelecida pelo projeto padrão do Ministério da Saúde.
** Dimensão mínima do terreno estabelecida pelo projeto padrão do FNDE de educação infantil
para 60 alunos.
*** Dimensão mínima do terreno estabelecida pelo projeto padrão do FNDE de educação infantil
para 120 alunos.

O partido arquitetônico esteve atrelado a três escalas, baseadas no estudo


coordenado por Ferreira (2012) sobre habitação: a inserção urbana, a implantação e
as unidades habitacionais. A primeira escala relaciona o conjunto habitacional à
cidade e ao bairro na qual está inserido, levando em conta os equipamentos urbanos,
a localização, a infraestrutura e a articulação à morfologia. A segunda escala se refere
a relação entre o conjunto habitacional e o entorno imediato levando em conta a
adequação à topografia, o paisagismo, as formas de ocupação no terreno, as áreas
comuns e de lazer e a densidade e dimensão do empreendimento. A terceira escala
está ligada ao dimensionamento das habitações, a funcionalidade, o conforto
ambiental, a priorização do modo de vida da população, a heterogeneidade e o
sistema construtivo. A funcionalidade remete ao dimensionamento, que permite que
se exerça as funções de moradia, a flexibilidade e a adaptação do projeto, para se
adequar às mudanças no perfil e composição familiar. Todas essas escalas se
interligam com a especificidade dos moradores.
98

Quadro 8 – Escalas de atuação.

Especificidade dos moradores

Modo de vida e Cotidiano


Inserção urbana Implantação Habitabilidade

Infraestrutura Adequação à topografia Funcionalidade


Serviços urbanos Paisagismo Conforto ambiental
Localização Formas de ocupação no terreno Custo
Articulação com a Áreas comuns e de lazer Heterogeneidade
morfologia Densidade e dimensão Sistema
construtivo
Aparência
Fonte: adaptação de Ferreira, 2012.

O terreno escolhido está bem inserido na cidade, por conta de sua localização,
da infraestrutura e do transporte público existentes, necessitando, apenas, de alguns
equipamentos comunitários.

O primeiro princípio da implantação das habitações consiste em manter as


redes sociais existentes e o cotidiano dessas pessoas, por conta disso o terreno
escolhido foi um vazio urbano localizado próximo a ressaca. A estruturação das
famílias nas habitações deve manter a relação de vizinhança existente atualmente,
mas para que isso ocorra deveria ser realizado entrevistas com todas as famílias e o
mapeamento das habitações.

A topografia é praticamente plana, o que diminui os custos quanto ao


nivelamento do solo. As ruas foram traçadas levando em conta o sentido das vias
existentes no entorno e também foram dispostas paralelas à rodovia. Em um terreno
vazio adjacente ao conjunto habitacional foi criada a extensão da via, para melhorar a
integração com o entorno. As vias existentes no entorno do conjunto habitacional que
não dispõem de calçamento, nem de rua pavimentada devem seguir o modelo de
pavimentação do conjunto habitacional. Dessa forma há uma maior integração visual
do conjunto com a vizinhança.
99

Figura 55 – Criação das vias.

Fonte: a autora.

A rodovia foi alargada, ficando com três faixas, para dar prosseguimento ao
alargamento existente diante do Atacadão. Ao lado da rodovia, foi proposto uma via
local, estando separadas através de um canteiro, com o intuito de separar o trânsito
da rodovia desta via local e tornar o ambiente mais seguro, além de diminuir os ruídos
provocado pelo intenso trânsito da rodovia.

A escolha dos terrenos para implantação dos equipamentos urbanos levou


em conta uma série de fatores, primeiramente se estabeleceu âncoras urbanas, que
consistem em usos que atraem as pessoas a usar e movimentar o local. Com isso se
estabeleceu três eixos: a da rodovia, próximo a ressaca e duas vias que as interligam.
Na primeira, se privilegiou o uso misto, com o intuito de formar uma área comercial
100

local e da vizinhança, além de dar continuidade ao uso comercial existente por conta
do Atacadão. Uma praça com o centro comunitário foi locada no quarteirão mais
próximo ao Monumento Marco Zero, pois este equipamento se integra a área de lazer
e cultura existente atualmente, por conta do Monumento Marco Zero e do
Sambódromo.

Figura 56 – Acesso ao conjunto habitacional e vias principais.

Fonte: a autora.

Figura 57 – Âncoras e abrangência imediata.

Fonte: a autora.

Na via próxima a ressaca foram locados equipamentos comunitários, como o


posto policial, uma igreja e uma praça. Os equipamentos que contemplam a
vizinhança foram localizados em vias locais, já os equipamentos que contemplam o
entorno ou o bairro foram locados nas principais vias do conjunto, com o intuito de
terem um acesso mais rápido aos outros moradores do bairro.
101

Figura 58 – Mapa conceitual: proposta de uso do solo.

Fonte: a autora.
102

A calçada do corredor comercial terá cerca de dezessete metros de largura,


para comportar diversos usos, como mobiliários, arborização, arbustos, bancadas de
comércios, mesas de restaurantes, etc. Essa área serve como “porta de entrada” do
conjunto, além de ser um espaço de convívio feito para o bairro.

Além das áreas livres maiores, também foram locadas outras de menor porte.
Tais áreas possuem diversas funções, como esportiva, descanso, playground,
contemplação, cinema ao ar livre e passagem. Estes espaços públicos propiciam ao
pedestre várias possibilidades de caminhos além da calçada, possuindo sempre
pontos de atração. Vale salientar que tanto as áreas de lazer, como áreas de
passagem possuem edifícios voltados para as mesmas, com acessos e/ou janelas
para se ter “olhos para a rua” e, assim, oferecer o sentimento de segurança às
pessoas. As áreas comuns de lazer levam em conta a acessibilidade, a aparência, a
imagem e a diversidade de uso criando ambientes propícios para os acontecimentos
das práticas sociais, possibilitando encontros ao ar livre e as manifestações dos
modos de vida.

Figura 59 – Mapa áreas verdes e dos possiveis caminhos feitos por pedestres.

Fonte: a autora.
103

Quanto as estratégias de microclima, as vias favorecem a passagem de


ventilação natural, pois estão no sentido da ventilação predominante, o nordeste.

Figura 60 – Mapa estratégias microclimáticas.

Fonte: a autora.

4.2. REPERTÓRIO

4.2.1. Heliópolis – gleba A

Heliópolis é a maior favela de São Paulo, localizada na região sudeste do


município de São Paulo, a oito quilômetros do centro da cidade, no Distrito Sacomã,
administrado pela Subprefeitura Ipiranga. O complexo Heliópolis pertence à
Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo (Cohab-SP), possui área de
966.822m², dividida em 14 glebas denominadas por letras (A, B, C, D, E, F, G, H, I, J,
K, L, M, N), abrigando uma população de cerca de 100.000 habitantes
(ALBUQUERQUE, 2006).
104

Figura 61 – Implantação do conjunto habitacional

Fonte: www.archdaily.com

A gleba A, objeto de estudo, possui uma área de aproximadamente 89.000m²,


com cerca de 1.545 imóveis e 9000 habitantes. Em 2004 o escritório Vigliecca &
Associados fez um projeto de urbanização desta gleba, que faz parte do Programa de
Reurbanização de Favelas da Prefeitura do Município de São Paulo, através da
Secretaria de Habitação. Este projeto foi executado em 2007, na qual foram
construídas 537 unidades habitacionais, 29 boxes comerciais e a Canalização do
Córrego Sacomã, com área de intervenção de 60.000m² e área construída de
30000m². Os beneficiários das moradias são originais da gleba A, na qual viviam de
forma precária e em área de risco.

O projeto teve como premissa a ideia de que desenho urbano e a arquitetura


possuem o objetivo de estabelecer um suporte físico adequado para a apropriação do
espaço público e privado, a incorporação do sentido de lugar e a legibilidade urbana.
105

Figura 62 – Vista do conjunto habitacional.

Fonte: www.archdaily.com

Dentre outros aspectos projetuais, vale destacar a criação dos espaços


condominiais, que foram feitos de forma que estejam sempre sob o olhar dos próprios
habitantes, com o intuito de dar maior segurança ao local, e a utilização de varandas
escalonadas, que permite um maior contato entre os moradores.

Figura 63 – Varandas no Figura 64 – Fachada do conjunto habitacional.


conjunto habitacional.

Fonte: www.archdaily.com Fonte: www.archdaily.com


106

4.2.2. Parque Novo Santo Amaro V

Figura 65 – Vista do conjunto habitacional Parque Novo Santo Amaro V.

Fonte: www.archdaily.com

As unidades habitacionais localizam-se na zona sul do município de São


Paulo, na região da bacia de Guarapiranga, em área de proteção aos mananciais. A
área se caracteriza por ser uma zona de fundo de vale, com um curso d’água central
e ladeiras laterais de grande declive, ocupadas por habitações precárias. Tendo isso
em vista, em 2010, foi realizado um projeto de habitação social e de criação de
espaços públicos por Vigliecca & Associados. A área de intervenção consiste em 5,4
hectares, e a proposta previu a realocação dos moradores de área de risco para os
novos edifícios situados na mesma área. O projeto ainda contemplou uma quantidade
maior de apartamentos, que atende a demanda de outros setores da região.

A diretriz geral do projeto consiste na criação de um parque linear onde existe


um curso d’água, que tem como objetivo estruturar todo o conjunto das intervenções.
O parque funciona como eixo de animação que qualifica a área, estimulando o uso e
a apropriação do espaço. Vale salientar que os equipamentos de educação e de lazer
foram instalados nas extremidades desse eixo, funcionando como pontos de atração
e induzindo as pessoas a circularem pelo parque garantindo a segurança. Em um dos
extremos se localizam o campo de futebol, o clube, a associação de moradores e a
107

Escola Estadual José Porphyrio da Paz; neste local já consistia em um local de


encontro, que foi consoli
dado no projeto de intervenção.

Figura 66 – Implantação do conjunto habitacional Parque Novo Santo Amaro V.

Fonte: www.archdaily.com

No outro extremo foram projetados anfiteatros abertos, playgrounds e pista de


skate, além de patamares, degraus, bancos e arborização adequada, que estão de
acordo com o grande desnível existente.

Figura 67 – Vista do conjunto habitacional Parque Novo Santo Amaro V.

Fonte: www.archdaily.com
108

Tendo em vista melhorar o acesso do conjunto habitacional com seu entorno,


foram construídos vários “portais”, que são aberturas por entre as unidades
habitacionais até o interior das áreas verdes, que também estão conectados as vias
mais movimentadas.

É relevante frisar que foram realizadas três tipologias de habitação: o conjunto


1 consiste em unidades de 50m² com dois dormitórios, cozinha, sala de jantar,
banheiro, alguns possuem varanda; o conjunto 2 são unidades de 60m², também
contemplando planta para deficientes; o conjunto 3 consiste em duplex de 64m² com
três quartos. As áreas de serviço são espaçosas, o que não permite que as fachadas
se tornem varais.

Para promover maior proteção solar foram postos elementos vazados e/ou
brises nas varandas e nas áreas de serviço que recebem maior insolação solar.

Figura 68 – Tipologias das unidades habitacionais do Parque Novo Santo Amaro V.

Fonte: www.archdaily.com
109

4.2.3. Biselli e Katchborian – Heliopolis

Figura 69 – Implantação do conjunto habitacional Heliópolis.

Fonte: www.archdaily.com

Este projeto de HIS foi realizado pelo escritório de arquitetura e urbanismo


Biselli e Katchborian na maior favela de São Paulo, Heliópolis. Esta intervenção faz
parte do Programa de Reurbanização de Favelas da Prefeitura do Município de São
Paulo, através da Secretaria de Habitação.

Este projeto está localizado na entrada da comunidade de Heliópolis, em uma


posição de conexão entre a cidade formal e a cidade informal. Em uma área de um
antigo alojamento provisório foram construídas 420 unidades habitacionais de 50m²
cada, totalizando cerca de 31.000m² de construção.

Este projeto privilegia os espaços públicos de interesse do morador, protegido


da rua, e a adoção de programa comercial e de serviços no nível térreo. A relação
edifício/cidade se baseia no modelo da quadra europeia, com implantação dos
edifícios sem recuos e com pátio interno, na qual o acesso ocorre por meio dos
pórticos, criando fluida conexão potencializada pelo desenho paisagístico.

Os desníveis naturais do lugar permitiram a construção chegar até 8 metros


de altura sem o uso de elevadores, por conta disso o projeto demandou a construção
de passarelas-pontes de conexão entre os blocos.
110

Em relação a volumetria, os blocos das unidades habitacionais levam a


interpretação que são edifícios separados e independentes, por conta das distintas
cores, formas e recuos. Dessa forma, conseguiram a racionalidade do projeto para
baixar os custos, sem prejuízo da expressividade da arquitetura como um todo.

Figura 70 – Comércios e serviços no conjunto Figura 71 – Acessos ao conjunto habitacional


habitacional de Heliópolis. de Heliópolis.

Fonte: www.archdaily.com Fonte: www.archdaily.com

Os pórticos também interligam os dois conjuntos criados e o projeto de


paisagismo contempla distintos pisos e vegetações, além de equipamentos de
ginástica e recreativos, visando potencializar o espaço do pátio interno.

Figura 72 – Vista do conjunto habitacional de Figura 73 – Vista do pátio interno e do


Heliópolis. conjunto habitacional de Heliópolis.

Fonte: www.archdaily.com Fonte: www.archdaily.com

As unidades habitacionais possuem dois ou três dormitórios e garantem


flexibilidade. Contam com espaços para pequenos trabalhos, como costureiras,
pequenos consertos, já que muitas famílias o fazem como renda complementar.
111

Figura 74 – Planta baixa do apartamento tipo B Figura 75– Planta baixa do apartamento tipo A
do conjunto habitacional de Heliópolis. do conjunto habitacional de Heliópolis.

Fonte: www.archdaily.com Fonte: www.archdaily.com

4.2.4. Tetris, Paris

Figura 76 – Planta baixa do conjunto habitacional Tetris.

Fonte: www.archdaily.com

Este projeto faz parte de um programa que visa regenerar bairros carentes no
norte de Paris. O projeto foi executado em 2010 pelo escritório Moussafir Architects.
Foram construídos dois edifícios de uso misto, contemplando nove residências e três
estúdios artísticos. O projeto teve a participação de artistas, dos moradores do bairro
e do governo.
112

Figura 77 – Vista do conjunto habitacional Figura 78 – Vista da via e do conjunto habitacional


Tetris. Tetris.

Fonte: www.archdaily.com Fonte: www.archdaily.com

Figura 79 – Interior de um Figura 80 – Volumetria do conjunto habitacional Tetris.


apartamento do conjunto
habitacional Tetris.

Fonte: www.archdaily.com Fonte: www.archdaily.com

O projeto teve como premissa a harmonia com o entorno, no que tange a


densidade e a fachada e maximizando a captação de energia solar. Os dois edifícios
possuem jardins internos e a sala de estar possui abertura tanto para a rua, quanto
113

para o jardim interno, fato que aumenta a quantidade da capitação de luz solar, além
de permitir ao morador olhar para ambos lugares, interagindo com estes e melhorando
o sentimento de segurança. Diante da sala de estar situa-se uma varanda que pode
ser agregada a esta se as portas estiverem abertas, formando um grande ambiente.
Os volumes que saem da fachada, que contém as varandas, tornam a fachada
dinâmica e permitem a visão da rua e uma maior interação com esta.

4.2.5. Síntese

Tendo como repertório quatro projetos de habitação social, foram elencados


pontos interessantes destas intervenções que contribuem para a proposta de uma
habitação de interesse social de qualidade.

Quadro 9 – Aspectos projetuais relevantes do repertório.

Varandas
Heliópolis – Gleba A Quadra europeia com jardim interno
Uso misto

Elementos vazados
Parque Novo Santo Amaro V Área esportiva
Pontos de atração
Boa interação com o entorno

Edifício sem recuo


Pátio interno
Heliópolis Uso misto
Mais de uma tipologia de edifícios
Integração com os acessos do entorno
Quadra europeia com jardim interno
Varandas
Quadra europeia com jardim interno
Tetris, Paris Edifício de até três pavimentos
Uso misto
Boa integração com as vias

Tais pontos elencados contemplam questões como conforto ambiental,


apropriação do espaço público, as necessidades dos moradores das habitações,
integração do conjunto habitacional à malha urbana e boa visibilidade às vias.
114

4.3. PROJETO URBANO

No lote de 90671m² foram locados vinte e nove edifícios seguindo o modelo


de quadra europeia com jardim interno. Foram totalizados 355 unidades habitacionais
e 55 salas comerciais. O número de unidades habitacionais acima do número de
casas existentes na ressaca levou em conta a questão da coabitação das famílias.

Figura 81 – Mapa de reassentamento

Fonte: a autora.

Em relação aos materiais utilizados no conjunto, as calçadas e as vias serão


pavimentadas com blocos intertravados de concreto e terão distintas cores. O meio
fio, guia e sarjeta serão de concreto pré-moldados.

Os estacionamentos terão sombreamentos de árvores de médio porte como


Oiti, ipê-amarelo e mangabeira e de pequeno porte, como a aroeira. Que além de
sombrear o estacionamento, melhora o microclima local, pois protege os pedestres da
insolação direta. Também protege as fachadas dos edifícios e sendo de médio porte,
não atrapalha a visibilidade da via.
115

Figura 82 – Implantação.

Fonte: a autora.

No que tange o escoamento das águas pluviais, além da sarjeta, os canteiros


das árvores ajudam na infiltração da água no solo, além do próprio bloco de concreto
intertravado que permite boa absorção.

A implantação do conjunto habitacional irá gerar impactos quanto ao trânsito


na rodovia, uma solução para tal problema seria a implantação de um semáforo e faixa
de pedestres na via ao lado da praça do centro comunitário. Vale salientar que esta
solução é pontual e que deveria ser melhor discutida no âmbito do plano de
desenvolvimento urbano integrado (BRASIL. Lei nº 13089, de 12 de janeiro de 2015).

4.4. PROJETO ARQUITETÔNICO

Baseada na pesquisa efetuada com os moradores da ressaca, com o


arcabouço teórico, com o programa de necessidades e com o repertório foram
efetuadas o projeto de quatro tipologias de habitação social. A escolha de quatro
116

tipologias está relacionada a não ter muitos padrões repetitivos e com isso não tornar
o ambiente monótono.

Figura 83 – Setorização dos apartamentos.

Fonte: a autora.

A disposição dos ambientes e as dimensões das unidades habitacionais foram


pensadas em espaços flexíveis para que o morador possa realizar atividades do
cotidiano, como estudar, fazer refeições, descansar na rede, entre outras.

Os edifícios apresentam forma alongada para que haja possibilidade do vento


atravessar por todas as unidades habitacionais. As divisões internas possibilitam a
circulação de ar nas unidades.

O projeto se adequa a realidade dos moradores, por serem mistas, de dois a


três quartos, terem espaços flexíveis, que permitem diversos layouts por parte dos
usuários, ter varandas para que possam interagir com os vizinhos, olhar para a rua.
Também há a possiblidade de plantar pequenas hortas na varanda ou no espaço
público, fato que depende da vontade dos moradores.

Em relação aos materiais, as áreas molhadas das habitações serão de


cerâmica esmaltada e as outras áreas, de cimento queimado. As janelas são de dois
modelos, de madeira e vidro. Optou-se pela madeira por conta dos moradores já
estarem acostumados a este tipo de material. As áreas de serviço possuem elemento
vazado.

A pintura das fachadas será de pintura em látex sob massa corrida em tons
claros. As áreas molhadas se localizam próximas para diminuir os gastos de materiais
do sistema hidráulico.

4.4.1. Tipologia 1
117

A tipologia 1 consiste em um edifício de três pavimentos, com unidades


habitacionais de 60m², com dois quartos. A unidade habitacional é a mesma e se
repete de forma espelhada e contrária para criar ideia de movimento na fachada. As
varandas saem do edifício e dessa forma se aproximam mais da rua.

Figura 84 – Croqui da unidade habitacional.

Fonte: a autora.

Foi projetado em módulos de 3,40 x 2,85m, de forma que facilite no processo


construtivo e na estrutura. Este módulo foi escolhido por se tratar das dimensões do
dormitório somado ao eixo da parede.

Figura 85 – Perspectiva do conjunto habitacional tipo 1.

Fonte: a autora.
118

O acesso ao térreo ocorrem pela fachada principal. As diversas varandas se


localizam na fachada principal, na lateral e uma na posterior. Os acessos aos
pavimentos superiores ocorrem por uma longa varanda localizada na fachada
posterior, dessa forma se cria um espaço de convivência e encontro, além de
movimentar tal área. Existem aberturas em todas as fachadas para sempre ter “olhos
para a rua”.

4.4.2. Tipologia 2

Esta tipologia segue o modelo da unidade habitacional da tipologia 1,


entretanto possui apenas dois pavimentos e no térreo possui salas comerciais de dois
tamanhos, de 34m² e de 55m², que dependerão do uso exercido. Esses edifícios ficam
locados diante da rodovia formando o corredor comercial.

Figura 86 – Perspectivas do conjunto habitacional tipo 2.

Fonte: a autora.
119

A principal proposta desse edifício consiste nos próprios moradores que vivem
no pavimento superior trabalharem na sala comercial locada ao térreo, o que leva em
conta os usos mistos situados na ressaca e a proximidade da habitação e do trabalho.
O edifício também engloba outras salas que podem ser ocupadas por moradores de
outros edifícios. Diversos usos podem ser efetuados em tais salas, como restaurantes,
lanchonetes, costura, artesanato, mercado, quitanda. Por conta dessa diversidade de
usos, pontos de água devem ser deixados em todas as salas, ficando a cargo do dono
do imóvel instalar outras pias.

O acesso às habitações do andar superior ocorre pela fachada principal do


edifício, dessa forma se torna mais fácil e rápido o acesso do trabalhador a sua
residência.

4.4.3. Tipologia 3

Essa tipologia é residencial de dois pavimentos, com habitações de três e de


dois quartos e com apartamentos acessíveis. As áreas das habitações variam de
59,80m² a 73m². A primeira corresponde a habitações de dois quartos e a segunda, a
habitações de três quartos.

Figura 87 – Croqui da unidade habitacional no Figura 88 – Croqui da unidade habitacional,


térreo. no pavimento superior.

Fonte: a autora. Fonte: a autora.

Figura 89 – Croqui da unidade habitacional Figura 90 – Croqui da unidade habitacional,


acessível. no térreo, com tres quartos.
120

Fonte: a autora. Fonte: a autora.

As varandas são escalonadas, o que permite um maior contato entre os


moradores. As menores varandas são cobertas.

Na esquina do edifício, no térreo, pode existir uma sala comercial de 56,80m².


Esta possui o salão comercial, copa e lavabo e possui portas de enrolar manual em
aço.

Figura 91 – Perspectiva do conjunto habitacional tipo 2.

Fonte: a autora.

4.4.4. Tipologia 4

Este edifício residencial de dois pavimentos possui habitações de dois a três


quartos e com apartamentos acessíveis. Ele é espelhado, dessa forma possui duas
fachadas principais. Este edifício foi pensado para ser locado diante das praças
internas nos quarteirões, para dessa forma ter habitações voltadas tanto para a praça
quanto para a rua e a partir de então, movimentar ambos locais.
121

Figura 92 – Croqui da unidade habitacional Figura 93 – Croqui da unidade habitacional,


acessível. no térreo.

Fonte: a autora. Fonte: a autora.

Figura 94 – Croqui da unidade habitacional,


três quartos no térreo.

Fonte: a autora.

As unidades habitacionais de dois quartos possuem área de 59m² e a de três


quartos, 71,40m². O acesso a varanda ocorre por meio de portas de correr de madeira
e vidro, para que haja o aproveitamento da iluminação natural.

Figura 95 – Corte esquemático com as vistas do pátio interno e da via.

Fonte: a autora.
122

Na imagem acima pode-se observar o corte esquemático do pátio interno que


possui uma pista de skate e dois edifícios habitacionais. Os moradores podem usar
as varandas para observar tanto as vias, quanto a praça.

A unidade habitacional de três quartos que se situa na esquina do edifício,


também pode ser uma sala comercial de 71,40m². Esta possui o salão comercial, copa
e lavabo. Possui portas de enrolar manual em aço.

4.4.5. Centro comunitário

O centro comunitário possui uma planta funcional, que seja de fácil percepção
para os usuários. Possui uma forma mais contemporânea com materiais regionais,
como o uso da treliça de madeira e do cobogó. Na fachada principal está locado a tela
para o cinema ao ar livre.

Possui um pátio coberto na qual podem ser efetuadas reuniões, festividades


e tem acesso direto a cozinha comunitária, que também possui acesso pelo interior
do edifício.

Figura 96 – Perspectiva da praça do centro comunitário.

Fonte: a autora.

4.5. PROJETO DAS PRAÇAS


123

As praças foram pensadas para necessitar de pouca manutenção, por conta


disso se privilegiou o piso de blocos intertravado de concreto e pequenos espaços
com grama batatais. No que tange as vegetações se privilegiou as rústicas, que
necessitam de pouca manutenção, como as árvores oiti, ipê-amarelo e aroeira.

Figura 97 – Pespectiva da praça com quadra de volei.

Fonte: a autora.
A praça do centro comunitário possui o centro comunitário, a academia ao ar
livre, um playground e áreas de descanso. Foi pensado como área de transição entre
o centro comercial, o conjunto habitacional e o entorno. Dispõem de mobiliários,
ambiente agradável com arborização, além de diversos usos para que as pessoas
possam usufruí-lo.

Figura 98 – Croqui da praça do centro comunitário.

Fonte: a autora.
124

A área do cinema ao ar livre é gramada para que as pessoas possam se


sentar na grama, assistir a programação e fazer um piquenique. A tela utilizada para
o cinema esta acoplada ao centro comunitário. Existe um leve desnível no terreno
para favorecer a visibilidade. O formato da grama foi baseada no nascer do sol, com
seus “raios” que saem do centro comunitário e também induz o olhar do transeunte a
este. O playground foi inserido afastado da rodovia e dispõem de cerca para proteger
as crianças, ao redor existem bancos abaixo de árvores, para que os pais descansem
e observem seus filhos. A academia ao ar livre foi locada próximo à rodovia, por
considerar tanto a população que se exercita na rodovia, caminhando ou andando de
bicicleta, quanto os moradores da vizinhança.

Figura 99 – Corte esquemático da praça do centro comunitário.

Fonte: a autora.

A praça próxima à escola de jardim de infância possui playground e áreas de


descanso. O piso utilizado consiste no bloco de concreto intertravado em distintas
cores, estando postas no mesmo nível. O piso no tom bege possui o formato que
remete as pontes utilizadas nas ressacas, tendo um acesso principal conectado a
outros acessos menores.

Também pode-se destacar a praça que possui uma pista de skate. Esta pode
ser utilizada tanto pelos moradores do conjunto quanto pelos skatistas de Macapá, já
que existe carência de espaços adequados ao esporte na cidade de Macapá.
125

Figura 100 – Praça proxima ao jardim de infancia.

Fonte: a autora.

Figura 101 – Praça que possui pista de skate.

Fonte: a autora.

Os moradores da ressaca não têm o hábito de andar de skate, mas isso não os
impede de aprender e gostar do esporte. Portanto a existência de uma praça com
pista de skate somada a aulas que ensinem a modalidade é um estimulo para jovens
e crianças começarem a pratica-lo, a gostar da modalidade e se apropriar desse
espaço. Essa praça também possui área de descanso sombreada.
126

Figura 102 – Volumetria da praça que possui pista de skate.

Fonte: a autora.

A praça criada próxima a ressaca possui área esportiva com campo de futebol,
lanchonete, playground, áreas de descanso e de contemplação da ressaca.

Figura 103 – Praça próxima a ressaca.

Fonte: a autora.

Por meio desta praça se faz uma transição entre a área protegida e as
edificações. Em relação às vegetações, a grama utilizada consiste na batatais,
existem árvores de diversos portes e vegetações rasteiras.
127

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho se originou com a intenção de elaborar um projeto de habitação


e interesse social que mantenha o modo de vida dos moradores da ressaca das
Pedrinhas e que proporcione inserção urbana com o entorno.

Por tanto foi necessário estudar como vem ocorrendo a produção de


habitação de interesse social no Brasil. Por meio dos estudos referentes aos projetos
habitacionais no Brasil observa-se com clareza que a maioria destas são
insatisfatórias em diversos quesitos, como conforto, inserção urbana, flexibilidade,
qualidade dos materiais, na qual as habitações são produzidas pensando no
quantitativo de unidades habitacionais e não em sua qualidade. Vale salientar que o
custo das habitações limita sua qualidade. Portanto foi necessário formular um modelo
de habitação alternativo, que seja mais adequado aos usuários e que disponham de
qualidade projetual e de materiais.

Também foi necessário compreender como analisar o modo de vida de uma


população e como proporcionar um espaço público de qualidade que possa ser
apropriado pelas pessoas. Tais aspectos foram analisados por meio das entrevistas e
da visita in locu e a partir de então foi possível compreender as necessidades mais
latentes da população. Dos resultados obtidos pode-se citar a carência de
equipamentos comunitários, como creche, escola de jardim de infância, posto policial
e posto de saúde; a falta de infraestrutura, como iluminação pública e pavimentação
das vias; e de espaços públicos que disponham de mobiliários, como playgrounds,
áreas de convívio, campos de futebol. Também é importante salientar as
necessidades destas pessoas em morar em um ambiente que ofereça habitabilidade,
que disponham de ambientes que possam conviver com seus vizinhos ou
simplesmente olhar para a rua, como as varandas. Tais resultados foram abordados
na proposição do conjunto habitacional.

É imprescindível compreender o modo de vida dos habitantes e suas


necessidades mais latentes, para assim, poder propor um projeto de habitação social
que ofereça qualidade, conforto e significado. Além de poder propor um espaço
público que na qual o morador possa se apropriar do espaço e se identificar com o
lugar, garantido sua satisfação e sentimento de pertencimento ao lugar.
128

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APÊNDICES
APÊNDICE A

1. IDENTIFICAÇÃO DA ÁREA: _________________________ DATA:___/____/____


2. Características do entrevistado:
a) Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino b) Idade: __________ anos. c) Local de
nascimento:_____________
d) Escolaridade:
( ) Analfabeto ( ) E.F.I. ( ) E.F.C. ( ) E.M.I. ( ) E.M.C.
( ) Superior Completo ( ) Superior Incompleto ( ) Pós-graduação

3. Tempo de Moradia
Em que cidade o Sr. (a) morava antes de vir para
Macapá?________________________________________
Qual a razão de ter vindo morar
aqui?_________________________________________________________
Há quanto tempo mora na casa? ( ) anos ( ) meses

4. Composição Familiar
Quantas pessoas moram na casa? ( ) pessoas
( ) pai ( ) mãe ( ) filhos ( ) Irmãos ( ) Netos ( ) Avós ( )
outros:_________________________

5. Renda Familiar
Qual seu trabalho? ( ) Autônomo ( )Desempregado ( ) Estudante ( ) Aposentado ( )Dona de casa
( )Funcionário de firma

6. Características Habitacionais e Preferência e Uso da Casa


Quantos cômodos tem a casa? ( ) Sala ( ) Quarto ( )Cozinha ( )Banh. (
)Outros:___________________
Como o Sr. (a ) considera as suas condições de moradia? Por quê?
( ) ótimo ( ) bom ( ) regular ( ) ruim ( ) péssima. Por
que:______________________________________
O que mudaria em sua
casa?_________________________________________________________________
Gostaria de morar em outro lugar? Para onde?
( ) Sim ( ) Não ( ) Talvez ( ) Não sei ( ) Outros
__________________________________________________________________________________
Como é seu relacionamento com os vizinhos?
__________________________________________________________________________________
8.Características de equipamentos urbanos
Como você qualifica os seguintes Não
Bom Regular Ruim Distante Próximo
serviços e equipamentos: utiliza
a) Creche
b) Escolas Públicas de Educação Infantil
c) Postos de Saúde/Hospital
d) Posto policial
e) Espaço de Recreação/Praças/Áreas de
lazer
g) Supermercados/ Mercadinhos

9. Segurança
Você acha que é perigoso andar na vizinhança (assalto)? ( )Sim ( ) Mais ou menos ( ) Não

10. Áreas de convivência


Em caso de criança, onde elas costumam brincar?
( ) Praças/áreas verdes do seu bairro ( ) Rua/ponte ( ) Casa dos vizinhos ( )Não tem criança
( )outro:________
Para atividades de lazer e convívio, você costuma usar:
( ) Praças/áreas verdes do seu bairro ( ) Rua/ponte ( ) Casa dos vizinhos ( ) Própria casa
( ) Voluntariado ( ) Clube social ou esportivo ( ) Comunidade religiosa
( ) Associação de moradores do seu bairro ( ) outro:_________________

10. Outros
Antes de morar aqui, o Sr. (a) cultivava horta ou criava animais para o próprio consumo ou venda?
( ) cultivava plantas ( ) criava animais ( )cultivava plantas e criava animais ( )não fazia
Atualmente, o Sr. (a) cultiva horta ou cria pequenos animais para consumo?
( )não cultiva ( )Não cria animais ( ) cultiva ( ) Cria animais ( ) cultiva plantas e cria
animais
-----Tem vontade? ( ) Sim ( ) Não ( ) Talvez ( ) Não sabe
Mencione as coisas boas de morar nesse bairro.
__________________________________________________________________________________
Quais são os maiores problemas desse bairro?
__________________________________________________________________________________
APÊNDICE B
MEMORIAL JUSTIFICATIVO

Este memorial tem por objetivo elucidar brevemente o conceito e o partido


arquitetônico e urbano adotado neste Trabalho de Conclusão de Curso.

CONCEITUAÇÃO DO PROJETO
Trata-se de uma intervenção urbano e arquitetônica, om o intuito de remanejar
os moradores da ressaca das Pedrinhas e realoca-los para um vazio urbano que se
localiza próximo da área de ressaca, diante da Rodovia J.K. a proposta urbana e
arquitetônica foi elaborada de tal maneira que contemplem as necessidades dos
moradores, que preservem seu modo de vida, que sejam de qualidade, que possuam
espaços públicos de qualidade para a qual estes possam apropria-los.
Para tanto foram criadas quatro tipologias de edifícios. Três tipologias são de
dois pavimentos e uma tipologia é de três pavimentos, com isso há uma dinâmica
quanto a visibilidade de um pedestre, que torna o lugar mais interessante e aumenta
o sentimento de pertencimento ao lugar. A verticalização baixa foi utilizada por conta
do espaço necessário para a implantação das edificações.
A disposição dos ambientes e as dimensões das unidades habitacionais foram
pensadas em espaços flexíveis para que o morador possa realizar atividades do
cotidiano, como estudar, fazer refeições, descansar na rede, entre outras.

Os edifícios apresentam forma alongada para que haja possibilidade do vento


atravessar por todas as unidades habitacionais. As divisões internas possibilitam a
circulação de ar nas unidades.

Além das habitações foram destinados espaços para os equipamentos


comunitários, como escola e creche, e também para áreas livres destinadas ao lazer,
como playgrounds, academia ao ar livre. Tais equipamentos foram pulverizados na
área do conjunto para que haja a diversificação de usos e o movimento constante de
pedestres.

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