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A Escola dos Annales e a construção do conhecimento histórico

Esta corrente historiográfica que ficou conhecida como “Escola dos Annales”, surgiu
na França na década de 1920, encabeçada pelos historiadores Marc Bloch e Lucien Febvre.
Surgiu, inicialmente, como uma tendência oposta ao positivismo defendido, principalmente,
por Leopold Von Ranke, criticando o enfoque dado por esta corrente à História Política e à
redução do processo histórico à ação de alguns poucos homens “grandes”, tais como
presidentes, reis, generais, etc. Da mesma forma, eram contrários à concepção positivista de
tentar encontrar “leis imutáveis e universais” que explicassem o processo histórico, bem como
sua pretensão em escrever uma história plenamente objetiva e “neutra”, imparcial. A trajetória
desta corrente historiográfica foi dividida em três fases para melhor ser estudada e
compreendida, deixando importantes contribuições para a história enquanto ciência humana.
Cabe a nós, deste modo, pensar em que esta Escola contribuiu para a construção do
conhecimento no que tange à teoria e metodologia?
Ciro Flamarion Cardoso na introdução da coletânea “Domínios da História”
destacou que essa nova corrente historiográfica se caracterizou pela crença no caráter
cientifico da história, pela problematização dos temas históricos, bem como pelo abandono
definitivo de uma história centrada em fatos isolados (eventos, acontecimentos). Além disso
ela se aproximou de uma antropologia histórica, ao colocar o homem no centro da pesquisa.
Assim, conforme apontou Bloch em seu livro “Apologia da história”, o objeto de estudo do
historiador já não seria mais os grandes fatos, mas sim o homem, mas especificamente o
“homem no tempo”. Em suma, as multidões foram inseridas na história, vistas como
responsáveis pelas mudanças históricas no longo do tempo.
Também o caráter científico da história, que impelia positivistas a buscarem leis
universais e imutáveis para a explicação do processo histórico, passou a ser dotado de certo
relativismo. A história, outrora considerada uma “ciência do passado”, passa também a
preocupar-se com o tempo presente, levando em consideração que o historiador, ao escrever, é
dotado de certa subjetividade, escrevendo enquanto um homem de seu tempo. De igual forma,
abandona-se a ideia de pensar a história enquanto uma “ciência autônoma”, havendo uma
tendência crescente à interdisciplinaridade, aproximando-se assim da sociologia, antropologia,
arqueologia, literatura, psicologia, e outras áreas do conhecimento humano. Ainda, é
interessante citar a questão da “crítica documental” presente nas problematizações de Bloch e
Febvre. Abandona-se a ideia de que os “documentos oficiais” são neutros e objetivos,
portadores da “verdade absoluta”. Neste sentido, Jacques Le Goff, em sua obra “História e
Memória”, expressa bem esta discussão presente na Escola dos Annales. Segundo o autor,
todo documento é também um monumento, uma vez que foi produzido sob dadas
circunstâncias e com a intenção (consciente ou inconsciente) de deixar para a posteridade
impressões daquela realidade social. Também Bloch, nesse sentido, defende que as fontes
devem ser “questionadas”, tentando-se extrair delas até mesmo aquilo que não intentam, a
priori, expressar.
A Escola dos Annales é fundada oficialmente com a publicação da revista “Annales
de história econômica e social”, pretendendo inovar a história em diversos aspectos. Seus
editores, Marc Bloch e Lucien Febvre, deixaram importantes legados à historiografia durante
suas carreiras. Bloch, ao longo de sua vida acadêmica, desenvolveu importantes trabalhos
sobre a história rural e medieval. Explorou principalmente a questão econômica em suas
abordagens históricas, mas não ficou preso a esta, abordando também a questão das
mentalidades e representações coletivas. Teve como principal obra “Os Reis Taumaturgos”.
Inovou também escrevendo uma história de longa duração e utilizando diferentes fontes.
Lucien Febvre, por sua vez, também deixou-nos importantes contribuições, abordando temas
relacionados ao Renascimento e à Reforma Protestante. Produziu trabalhos com ênfase na
“história social”, abordando também a “psicologia histórica”. Teve como principal obra “O
Renascimento e a Reforma”, na qual aborda diversos fatores sociais e econômicos deste
momento histórico, contudo sem cair no reducionismo determinista.
Nas décadas de 1930 e 1940, a Escola dos Annales vai se fortalecendo aos poucos,
adquirindo diversos adeptos. Contudo, A Segunda Grande Guerra que estoura interrompe
bruscamente a carreira de um dos seus fundadores. Em 1939, Bloch alista-se no exército
francês, morrendo em 1944 em uma resistência antifascista em Paris, fuzilado pelos alemães.
Enquanto estava na resistência, contudo, escreve sua magnífica obra “Apologia da História”,
que serve de referência para diversas problematizações do nosso ofício. Com a morte de
Bloch, Lucien Febvre assume por completo a liderança da Escola, estando já esta um tanto
forte e influente na historiografia. Em 1956, Lucien Febvre morre, deixando a liderança do
movimento ao seu fiel discípulo Fernand Braudel, iniciando a segunda fase da Escola dos
Annales.
Braudel, após assumir a liderança do movimento, tornar-se-ia o historiador mais
importante e influente de toda a França até sua morte, em 1985. Ainda na prisão durante a
segunda guerra, Braudel começa a escrever sua tese de doutorado, que posteriormente viria a
ser sua mais importante obra, intitulada “O Mediterrâneo e Felipe II”. Defendida em 1947 e
publicada em 1949, esta tese trouxe ricas contribuições à historiografia. Dentre elas, podemos
citar a questão das “temporalidades” (longa, média e curta duração), a importância dada à
geografia, à economia, à sociedade, bem como a tentativa de realizar uma “história total”.
Esta obra, dividida em três partes, faz alusão também às três temporalidades citadas. A
primeira parte é constituída pela história da relação entre o ser humano e seu ambiente
(estrutura); a segunda parte ela história econômica e social (conjuntura); e a terceira parte,
finalmente, a história política (acontecimentos). Peter Burke, em sua obra “A escola dos
Annales (1929-1989)” discorre um pouco a respeito desta tendência. Segundo o historiador,
esta obra, marcada por um determinismo mais forte que diferenciava Braudel da primeira
geração dos Annales, viria a priorizar as estruturas e conjunturas antes dos acontecimentos
políticos. Não que Braudel não valorizasse os sujeitos históricos, mas seu enfoque era, antes
de tudo, as estruturas e conjunturas, considerando tal determinação mais forte que o
“voluntarismo” individual.
Segundo Ronaldo Vainfas, foi durante esta segunda geração que ocorreu uma certa
aproximação entre alguns historiadores da Escola dos Annales e o marxismo, mesmo que
Braudel não cultivasse simpatia por esta corrente historiográfica. Dentre os historiadores que
aderiram ao marxismo, podemos citar principalmente Pierre Villar e Ernest Labrousse. Este
último, estudioso da Revolução Francesa e focado na história econômica, também trouxe
grandes inovações à historiografia. Dentre estas, podemos citar a “história quantitativa”, que
posteriormente daria origem à “história serial”, “história demográfica” e à “história regional”.
Tudo isto abriu a possibilidade de uso de novas fontes, tais como gráficos e dados estatísticos,
que permitiam visualizar a situação econômica de determinada conjuntura, tais como períodos
de “crises” e “interciclos”. Apesar de priorizar questões econômicas, Labrousse também
possuía certa proximidade com a história social e a história das mentalidades.
Em 1968, durante as manifestações estudantis que rondavam a capital francesa,
iniciou-se um processo que causaria grandes mudanças ao movimento conhecido como Escola
dos Annales. Com a finalidade de renovar a Escola, Braudel recruta uma série de jovens
historiadores, dentre eles Georges Duby, Jacques Revel, Le Roy Ladurie, Jacques Le Goff e
Marc Ferro. Tal processo culmina em 1975 com a aposentadoria de Braudel, assumindo seu
lugar o jovem Le Goff. Segundo este historiador, em seu livro “História e Memória”, uma das
principais características desta terceira geração foi justamente o abandono de qualquer
determinismo. Nesta fase, em detrimento da segunda, ocorre uma “priorização da
superestrutura em detrimento da base socioeconômica”, havendo uma aproximação entre a
história e a antropologia simbólica, a política, a cultura, etc.
Com isso, ocorre uma reviravolta na concepção histórica que traz de volta à tona os
“acontecimentos”, a “política” e a “narrativa”, desenvolvendo tendências como a “Micro
História” e a “Nova História Política”. Outros objetos passam a ser também de interesse dos
historiadores, dentre eles a infância, o odor, a morte, o mito, o inconsciente, a loucura, o
corpo, dentre outros. Alguns continuam a valorizar a história quantitativa, enquanto outros a
negam. No mais, devemos destacar um forte apego à chamada “História Cultural” bem como
à “História das Mentalidades”, que aproximaram a história da psicologia.
No decorrer de seus anos de existência, a Escola dos Annales calcou uma posição de
grande importância na historiografia francesa e, após a segunda guerra, mundial. Tais
concepções foram recebidas de modo diferente de país para pais, bem como entre os
marxistas. Alguns destes eram avessos às suas concepções, porém em alguns países, como na
Inglaterra, ocorre uma aproximação amistosa, tal como retrata Eric Hobsbawm em sua
coletânea “Sobre História”. Com o tempo, contudo, o sucesso desta Escola torna-se tão
grande e esta expande-se tanto que chega ao ponto de esfacelar-se. A existência de grandes
diferenças e tendências no seio de tal movimento foi tamanho que não possibilitou que este
continuasse como uma “Escola”. Deste modo, não apenas na França, mas no mundo inteiro, a
influência dos Annales fez-se presente.
Com base no que fora exposto até aqui, podemos realizar a seguinte pergunta: em
que a Escola dos Annales, apesar das divergências entre suas fases, contribuiu para a
construção do conhecimento histórico? Mesmo sempre pendendo entre o determinismo e o
voluntarismo no decorrer de sua trajetória, o movimento abriu possibilidades únicas de
valorização da história enquanto uma “ciência humana”. Diferentemente dos positivistas, que
buscavam “leis imutáveis” de compreensão do processo histórico, os Annales esforçaram em
conciliar ciência e relativismo. Segundo Bloch, em sua obra “Apologia da História”, as
inovações e mudanças ocorridas na ciência no decorrer do século XX possibilitaram que a
ciência abrisse suas portas ao relativismo. Dentre tais inovações, podemos citar a teoria
cinética dos gases, a teoria dos quanta e a mecânica einsteniana. Da mesma forma, tais
possibilidadaes de abordar a relatividade também estenderam-se a história. De igual forma, os
Annales, longe de afastarem-se de outras áreas do conhecimento, buscaram a
interdisciplinaridade como forma de terem maiores possibilidades de compreender seu grande
objeto de estudo: o homem. Reconhecendo que um determinado momento histórico só
poderia ser reconhecido dentro da sua temporalidade, e que todo historiador escreve enquanto
um homem do seu tempo, reconheceu-se também a dose de subjetividade existente na
história. Deste modo, chega-se ao consenso de que o conhecimento humano, segundo Adam
Schaff em sua obra “História e verdade”, possui caráter objetivo-subjetivo. Se assim não
fosse, tal conhecimento só poderia ser ou “sobre-humano” ou “a-humano”.

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