Anda di halaman 1dari 11

PROCURADORIA-GERAL FEDERAL

PROCURADORIA-SECCIONAL FEDERAL EM DOURADOS/MS


PROCURADORIA FEDERAL ESPECIALIZADA DA FUNAI EM DOURADOS/MS

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR FEDERAL PRESIDENTE DO TRIBUNAL


REGIONAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO

Processo nº 0000035-46.1992.403.6005 – 1ª Vara Federal de Ponta Porã/MS


Agravantes: FUNAI e Comunidade Indígena Guarani-Kaiowá (Jaguari)
Agravados: Constâncio de Almeida Moraes, Maria Clara dos Santos Moraes, José Soares de Moraes,
Delpilar de Almeida Moraes e Ramona de Almeida Moraes.

A FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO – FUNAI e a COMUNIDADE


INDÍGENA GUARANI-KAIOWÁ – JAGUARI, neste ato representadas pela ADVOCACIA-GERAL DA
UNIÃO, pelos Procuradores Federais, que assinam ao final, vem à presença de Vossa Excelência,
com fulcro nos arts. 522 e seguintes, do Código de Processo Civil, interpor:

AGRAVO DE INSTRUMENTO
COM PEDIDO SUSPENSIVO ( TUTELA ANTECIPADA)

contra decisão interlocutória proferida nos autos da ação de


manutenção de posse nº 0000035-46.1992.403.6005, requerendo que Vossa Excelência receba e
processe este recurso, distribuindo o presente a uma das Colendas Turmas deste Egrégio Tribunal.
Outrossim, atendendo às exigências previstas no art. 525, do
Código de Processo Civil, apresenta cópia das peças obrigatórias e das indispensáveis para
compreensão do caso, para a devida formação do instrumento, dentre elas:
a) petição inicial (fls. 03/37);
b) procurações e substabelecimentos (fls. 38/41, 227/229,
338/343 e 1286/1292;
c) primeiro laudo pericial arqueológico – 28.01.1998: 457/801;
d) segundo laudo pericial arqueológico – 03.05.2001: 768/790;
e) decisão que determinou a citação da Comunidade Indígena e
deferiu a produção de perícia histórico-antropológica: 1274/1276 e 1396/1397;

Avenida Weimar Gonçalves Torres, 3215, Dourados - Estado de Mato Grosso do Sul
CEP 79.800-023 – Tel. 67-34215274

1
PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
PROCURADORIA-SECCIONAL FEDERAL EM DOURADOS/MS
PROCURADORIA FEDERAL ESPECIALIZADA DA FUNAI EM DOURADOS/MS

f) decisão que acolheu a nulidade de citação da Comunidade


Indígena, determinou nova citação e designou perito, e respectivas intimações (fls. 1782/1804);
g) decisão de retratação em agravo retido que revoga a
designação de perícia histórico-antropológica: 1806/1809.
i) intimação FUNAI e da Comunidade Indígena: 1810/1816.

Os advogados atuantes no processo são:


a) FUNAI: E.R. da PGF – Av. Weimar Gonçalves Torres, 3215-C,
Centro, Dourados/MS;
b) Comunidade Indígena Jaguari: Procuradoria Federal
Especializada na FUNAI, com endereço na Rua Guia Lopes,
1671, Centro, Ponta Porã/MS;
c) União: Procuradoria da União, com endereço na Av. Afonso
Pena, 6134, Chácara Cachoeira, Campo Grande/MS;
d) Agravados: Wellington Morais Salazar – OAB/MS 9.414,
Marcelo Rodrigues Silva - OAB/MS 9.415 Karla Juvêncio
Morais Salazar– OAB/MS 12.192-B, todos no endereço
Avenida Barão do Rio Branco, 561 – Centro, Caarapó/MS, CEP
79.940-000, conforme: fls. 1286

Termos em que pede e espera deferimento.

Ponta Porã/MS. 27 de janeiro de 2016.

RAFAEL GUSTAVO DE MARCHI


Procurador Federal
FUNAI

RONALD FERREIRA SERRA


Procurador Federal
Comunidade Indígena Jaguari

Avenida Weimar Gonçalves Torres, 3215, Dourados - Estado de Mato Grosso do Sul
CEP 79.800-023 – Tel. 67-34215274

2
PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
PROCURADORIA-SECCIONAL FEDERAL EM DOURADOS/MS
PROCURADORIA FEDERAL ESPECIALIZADA DA FUNAI EM DOURADOS/MS

RAZÕES DO AGRAVO DE INSTRUMENTO

Egrégio Tribunal,
Colenda Turma,
Nobres Julgadores,

I - SÍNTESE DO PROCESSO

Trata-se de ação de manutenção de posse cumulada com pedido


declaratório de nulidade da Portaria 516 de 11/10/1991. As partes autoras alegam serem
proprietárias dos imóveis rurais localizados na região da TI Jaguari, localizado no Município de
Amambai/MS.

Verifica-se que a área objeto de litígio já foi reconhecida como


terra indígena, tendo sido homologada por Decreto de 21 de maio de 1992 e registrada em Cartório,
conforme matrícula 12.571 de 09/06/1992, contando com uma superfície de 404 hectares e 7055
m2 (quatrocentos e quatro hectares e sete mil e cinquenta e cinco metros quadrados).

O Ministério Público Federal pugnou pela elaboração de


perícia histórico-antropológica com o escopo de verificar se a terra ocupada possui
tradicionalidade indígena, o que fora deferido pelo Juiz (fls. 1274/1276).

Entretanto, posteriormente, em sede de juízo de retratação de


agravo retido, foi revogada esta decisão, afirmando ser prescindível a elaboração de perícia
histórico-antropológica (fls. 1806/1809).

Eis a síntese dos fatos e da decisão concedida, cujas


consequências, caso não seja reformada, causarão manifesto prejuízo ao interesse público, além de
lesão à ordem e à segurança pública.

II - DOS REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE DO RECURSO

Trata-se de agravo de instrumento, manejado no prazo legal,


contra decisão emitida nos autos da ação de manutenção de posse cumulada com nulidade nº
0000035-46.1992.403.6005, que tramita perante a 1ª Vara Federal da 5ª Subseção Judiciária do

Avenida Weimar Gonçalves Torres, 3215, Dourados - Estado de Mato Grosso do Sul
CEP 79.800-023 – Tel. 67-34215274

3
PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
PROCURADORIA-SECCIONAL FEDERAL EM DOURADOS/MS
PROCURADORIA FEDERAL ESPECIALIZADA DA FUNAI EM DOURADOS/MS

Estado de Mato Grosso do Sul – Ponta Porã, com a finalidade de obter a reforma da decisão que
indeferiu a produção de perícia histórico-antropológica nos autos.

Ademais, saliente-se a tempestividade do recurso, eis que a


intimação da FUNAI ocorreu no dia 21/01/2016, após carga ao Procurador Federal (fl. 1816).

Portanto, é o meio adequado, oportuno e útil para o fim a que se


destina, de modo que deve ser recebido, por estarem presentes seus requisitos de admissibilidade,
e, no mérito, provido pelas razões adiante relatadas.

III – DO CABIMENTO DO AGRAVO NA MODALIDADE POR INSTRUMENTO

Na hipótese, impõe-se o conhecimento do recurso na modalidade


por instrumento, porquanto enquadrada na norma processual civil que circunscreve o cabimento
dessa espécie de agravo às decisões suscetíveis de ocasionar lesão grave e de difícil reparação (art.
527, inciso II, do Código de Processo Civil).

Isto porque a decisão, sem mantida, pode gerar odioso


precedente.

IV – DA OCUPAÇÃO INDÍGENA E DA NECESSIDADE DE PERÍCIA HISTÓRICO-ANTROPOLÓGICA

A Portaria Demarcatória 516 de 11/10/1991, bem com o


Decreto da Presidência da República datado de 21/05/1992 apontam que a região é
tradicionalmente ocupada pelos indígenas. Os índios a denominam tekoha, conforme a
literatura disponível sobre o grupo.
Tratando-se de questão possessória envolvendo indígenas, deve
ser salientada a natureza da posse dos índios e a "matriz constitucional” do tema, sendo certo que a
referência do constituinte a eles se deu com o desiderato inequívoco de favorecê-los. As terras
tradicionalmente ocupadas pelos índios incluem-se no domínio constitucional da União Federal. As
áreas por elas abrangidas são inalienáveis, indisponíveis e insuscetíveis de prescrição aquisitiva.
A Carta Política, com a outorga dominial atribuída à União, criou
uma propriedade vinculada ou reservada, que se destina a garantir aos índios o exercício dos
direitos que lhes foram reconhecidos constitucionalmente (CF, art. 231, §§ 2º, 3º e 7º), visando,
desse modo, proporcionar às comunidades indígenas bem-estar e condições necessárias à sua
reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.

Avenida Weimar Gonçalves Torres, 3215, Dourados - Estado de Mato Grosso do Sul
CEP 79.800-023 – Tel. 67-34215274

4
PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
PROCURADORIA-SECCIONAL FEDERAL EM DOURADOS/MS
PROCURADORIA FEDERAL ESPECIALIZADA DA FUNAI EM DOURADOS/MS

De fato, com o advento da Carta Magna, foram reconhecidos os


direitos originários dos índios sobre as terras que ocupavam, independente de título ou
reconhecimento formal, sobre as terras que ocupam ou ocuparam. Dentro deste contexto, o
processo de demarcação das terras indígenas em si, não possui natureza constitutiva, mas sim
declaratória, com o desiderato de delimitar espacialmente os referidos territórios,
possibilitando o exercício das prerrogativas constitucionais conferidas aos índios.
Com a constatação de que a demarcação administrativa tem o
caráter meramente declaratório (porquanto declara uma situação pré-existente e especialmente
protegida), de modo que são eivadas de vício de nulidade as ocupações e títulos de domínio
eventualmente existentes e incidentes sobre a Terra Indígena, é de se ressaltar que eventual
ocupação dos autores sobre a área indígena, ainda que de boa-fé, irá sujeitar-se ao comando
constitucional, que determina, tão somente a indenização das benfeitorias de boa-fé. Trata-se de
sujeição do indivíduo a situação constitucional especialmente prevista pelo constituinte originário
e, portanto, não é passível de outros efeitos que não os ali disciplinados.
Verifica-se, portanto, que a posse indígena, por ser originária, é
legítima por si só, e se sobrepõe a qualquer outro direito que, eventualmente, possa ter se
constituído sobre tais terras, ainda que amparado por título de propriedade registrado em cartório.
Em se tratando de direito originário, não subsiste quaisquer títulos constitutivos de propriedade
particular, bem como atos ou contratos, ainda que anteriores ao procedimento de demarcação.
No caso em tela, os imóveis dos autores incidem sobre a área
devidamente homologada e registrada em Cartório, de ocupação tradicional indígena Guarani
Kaiowá denominada Jaguari.

Não é demais lembrar que o ato administrativo de demarcação


possui presunção de legitimidade que, no presente caso, não merece ser afastada.

Entretanto, no âmbito do presente processo judicial, a parte


ré está sendo impedida de produzir perícia histórico-antropológica capaz de esclarecer que
a terra é de ocupação tradicional indígena.

Verifica-se que esta prova é imprescindível para o deslinde da


controvérsia, sob pena de não se conseguir provar, por outros modos, a tradicionalidade indígena e
de se cometer injustiça com a população que vive na região. Somente com a perícia histórico-
antropológica se esclarecerá que os índios são os primeiros ocupantes daquela terra.

As duas perícias elaborados nos autos NÃO SÃO PERÍCIAS


HISTÓRICO-ANTROPOLÓGICAS, MAS SIM ARQUEOLÓGICAS.

Avenida Weimar Gonçalves Torres, 3215, Dourados - Estado de Mato Grosso do Sul
CEP 79.800-023 – Tel. 67-34215274

5
PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
PROCURADORIA-SECCIONAL FEDERAL EM DOURADOS/MS
PROCURADORIA FEDERAL ESPECIALIZADA DA FUNAI EM DOURADOS/MS

É sabido que os indígenas da etnia Guarani Kaiowa não são


ceramistas e, portanto, é bem provável que nenhuma evidência arqueológica fosse encontrada,
como de fato não o foi. Essa etnia é marcada por movimentos de traslado dentro dos espaços
por eles considerados apropriados como territórios de ocupação. Assim, somente é possível
aferir se os índios da etnia Guarani Kaiowa estavam anteriormente na terra mediante
perícia histórico-antropológica.

Os fundamentos adotados pelo Juízo de primeira instância para


indeferir a produção da perícia histórico-antropológica não merecem prosperar, senão vejamos.

O fato de ter havido produção de outras provas no processo não é


o bastante para se indeferir uma prova essencial como a perícia histórico-antropológica. É sabido
que o processo civil busca a verdade formal, mas a produção de prova deve ser compatível com a
finalidade do processo. Por exemplo, seria inimaginável apenas a produção de prova oral para um
caso de falsificação de assinatura. O correto seria o deferimento de perícia grafológica. Da mesma
forma, julgar um processo complexo de demarcação de terra indígena sem perícia histórico-
antropológica seria negar a existência e a efetividade dos princípios do contraditório e da
ampla defesa (art. 5º, LV, da CF).

Ademais, o fato de os profissionais das duas perícias


arqueológicas terem alguma formação em antropologia não tem o condão de mudar o objeto da
perícia. Quando se determinou a produção de perícia arqueológica, o profissional baseou seu
estudo nos princípios e métodos da arqueologia, embora tivesse conhecimento em outras áreas do
saber. O mesmo seria, por exemplo, se um profissional com formação acadêmica em química e
matemática fosse realizar uma perícia química. Por certo, ele utilizaria os princípios e métodos da
química e não da matemática. Percebe-se que são ciências diferentes.

Assim, no presente caso, pensar de outra maneira seria entender


que as duas ciências, arqueológica e antropologia, são a mesma coisa e, de fato, não o são. Em
apertada síntese, aquela é a ciência que estuda as culturas antigas por meios de fósseis, escavações,
monumentos etc. Esta é a ciência que estuda o homem no sentido geral, englobando origens,
evolução, desenvolvimentos, fisiologia, psicologia, características raciais, costumes sociais, crenças
etc. Logo, as ciências não se confundem e, portanto, merece ser deferida a perícia mais propícia
para o caso, qual seja, histórico-antropológica.

Outrossim, embora os presentes autos já se encontrem


tramitando desde o ano de 1992, a mora do desenvolver processual não pode ser imputada,
absolutamente, à parte ré, mormente à Comunidade Indígena Jaguari.

Avenida Weimar Gonçalves Torres, 3215, Dourados - Estado de Mato Grosso do Sul
CEP 79.800-023 – Tel. 67-34215274

6
PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
PROCURADORIA-SECCIONAL FEDERAL EM DOURADOS/MS
PROCURADORIA FEDERAL ESPECIALIZADA DA FUNAI EM DOURADOS/MS

Verifica-se nos autos que a Comunidade Indígena apenas foi


citada validamente para contestar a ação no dia 14/01/2016, após quase 24 anos (fl. 1802),
mesmo o processo tramitando desde 1992. A título de informação, a Comunidade Indígena está
alegando, em sede de contestação, a prescrição.

Nesse sentido, e mesmo sabendo que o processo judicial já tramita


por bastante tempo, a Comunidade Indígena não pode ser penalizada pela não produção da prova
pericial, mormente o laudo histórico-antropológico, sob pena de ofensa aos princípios do
contraditório e da ampla defesa.

Por fim, em homenagem ao princípio da tramitação razoável do


processo (art. 5º, LXXVIII, da CF), é preferível que se defira a elaboração de perícia histórico-
antropológica e o processo corra sem qualquer vício a suprimir o direito de defesa da
Comunidade Indígena. Se este fato ocorrer, certamente será objeto de alegação de nulidade
por cerceamento do direito de defesa, o que poderá retornar o processo novamente à
primeira instância, causando mais demora no encerramento da lide.
Se não bastasse isso, o Tribunal Regional Federal da 3ª Região, no
julgamento do agravo de instrumento 2001.33.00.029599-3 já decidiu que “a orientação
jurisprudencial é no sentido da necessidade de produção de estudo histórico-antropológico para
quaisquer questões acerca da posse de imóvel que estaria localizado em região tradicionalmente
ocupada por indígenas”.

E, ainda, verbis:

“PROCESSUAL CIVIL. PERÍCIA. REINTEGRAÇÃO DE POSSE.


CONVENIÊNCIA.
1. É conveniente a produção de prova pericial de natureza
etno-histórica e antropológica para dirimir controvérsia
acerca da caracterização de terra em litígio como
tradicionalmente ocupada por indígenas (TRF da 3ª Região, AI
n. 2009.03.00.014015-7, Rel. Des. Fed. Henrique Herkenhoff, j.
09.02.10; AC n. 1999.60.02.001074-1, Rel. Juiz Fed. Conv. Ferreira
da Rocha, j. 18.04.06).
2. No caso dos autos, não se verifica impedimento à realização
da perícia antropológica, considerando-se que a FUNAI afirma
não pretender comprovar o domínio, mas a ocupação tradicional
da área por indígenas.

Avenida Weimar Gonçalves Torres, 3215, Dourados - Estado de Mato Grosso do Sul
CEP 79.800-023 – Tel. 67-34215274

7
PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
PROCURADORIA-SECCIONAL FEDERAL EM DOURADOS/MS
PROCURADORIA FEDERAL ESPECIALIZADA DA FUNAI EM DOURADOS/MS

3. A alegação dos agravados de que a área não seria de ocupação


tradicional e que teria sido invadida somente por motivos
políticos (para chamar a atenção do poder público para a
interrupção das demarcações em Douradina - MS), é matéria que
diz respeito ao mérito da demanda e indica a necessidade de
dilação probatória.
4. A circunstância de os arts. 926 a 930 do Código de Processo
Civil não disporem sobre a prova pericial não impede sua
realização, considerando-se que ao processo de reintegração de
posse será aplicado o procedimento ordinário (CPC, art. 931). 5. A
ausência de requerimento de produção de provas pela FUNAI
(CPC, art. 327), não impede a realização da prova pericial, no caso
de o juiz ou Tribunal, destinatários da prova, entenderem
necessário o concurso de técnico especializado para a
compreensão de fatos que, alegados por uma parte, tenham sido
contrariados por outra. 6. Os estudos realizados em sede
administrativa não substituem a prova pericial, a ser realizada sob
o crivo do contraditório e por perito do juízo. 7. O mandado de
reintegração foi cumprido em 11.09.09, razão pela qual a
realização da perícia, por si só, não configura impedimento à
permanência dos agravados na posse do imóvel. 8. Agravo de
instrumento provido (AI 21707/MS - 2010.03.00.021707-7, Rel.
Des. Federal ANDRÉ NEKATSCHALOW, 5ª Turma, Julgamento
28/02/2011)

Não é outro o ensinamento do JUIZ FEDERAL ROBERTO LEMOS


DOS SANTOS FILHO, em “Apontamentos sobre o Direito Indigenista”, pg. 96:

“Considerando que a posse tradicional a que se refere o art. 231


da Constituição não se confunde com a posse do Direito Civil, ao
contrário do sustentado por J. Cretella Jr., entende-se que, para
que sejam reconhecidas como terras tradicionais indígenas, é
impositiva a realização de perícia histórico-antropológica,
meio hábil a possibilitar conclusão científica de serem
determinadas terras habitat natural dos índios, merecendo, dessa
forma, garantia para o futuro, tornando-se inalienáveis,
imprescritíveis e indisponíveis para sempre”.

Avenida Weimar Gonçalves Torres, 3215, Dourados - Estado de Mato Grosso do Sul
CEP 79.800-023 – Tel. 67-34215274

8
PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
PROCURADORIA-SECCIONAL FEDERAL EM DOURADOS/MS
PROCURADORIA FEDERAL ESPECIALIZADA DA FUNAI EM DOURADOS/MS

Portanto, como se pode concluir, é imprescindível a elaboração de


perícia histórico antropológica.

V – DA PERÍCIA HISTÓRICO-ANTROPOLÓGICA E DOS PRINCÍPIOS DA ISONOMIA PROCESSUAL, DO


CONTRADITÓRIO, DA AMPLA DEFESA

A decisão de fl. 1782/1783 acolheu a alegação de nulidade de


citação da Comunidade Indígena e determinou nova citação para apresentar contestação nos autos.

Como dito acima, a Comunidade Indígena apenas foi citada


validamente para contestar a ação no dia 14/01/2016, após quase 24 anos (fl. 1802).

É sabido que a citação é o ato processual em que se chama em


Juízo o réu para apresentar defesa (art. 213 do CPC). Ademais, para que o processo seja válido, é
imprescindível a citação do réu (art. 214 do CPC).

Infere-se dos dispositivos que o legislador processual trouxe à


baila os princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa (art. 5º, LV, da CF).

Em suma, emergem destes princípios que o réu tem direito de


INFLUIR NOS FATOS, NAS PROVAS E NO PRÓPRIO DIREITO antes de a ação ser julgada. Em
outras palavras, o réu tem direito de produzir provas e, em se tratando de perícia, formular
quesitos e indicar assistente técnico (art. 421, § 1º, I e II, do CPC).

Pois bem, verifica-se que no momento em que as perícias


foram realizadas – a primeira em janeiro de 1998 (fls. 457/526) e a segunda em maio de
2001 (fls. 769/801) – a Comunidade Indígena sequer havia sido citada para se defender nos
autos.

Nesse sentido, não pôde influenciar na produção da prova


pericial, seja formulando quesitos, seja indicando assistente técnico para acompanhar a
perícia.

Nota-se que, a despeito de ter havido a citação da União e da


FUNAI, é a Comunidade Indígena Jaguari que tem o maior interesse na causa, porquanto eventual
sentença procedente (o que não se espera) gerará a sua completa remoção da área.

Por fim, mesmo que se conceda vista da perícia para que a


Comunidade Indígena se manifeste, em claro contraditório diferido, haverá ferimento ao
princípio da isonomia processual (art. 125, I, do CPC), uma vez que todas as partes do

Avenida Weimar Gonçalves Torres, 3215, Dourados - Estado de Mato Grosso do Sul
CEP 79.800-023 – Tel. 67-34215274

9
PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
PROCURADORIA-SECCIONAL FEDERAL EM DOURADOS/MS
PROCURADORIA FEDERAL ESPECIALIZADA DA FUNAI EM DOURADOS/MS

processo puderam realizar contraditório contemporâneo e somente a Comunidade Indígena


realizará contraditório diferido, sem a possibilidade de apresentar quesitos e indicar
assistente técnico.

Logo, faz-se imprescindível a designação de perícia histórico-


antropológica para se elucidar a questão levantada nos autos, facultando à Comunidade Indígena
formular quesitos e indicar assistente técnico, tudo em homenagem aos princípios da isonomia, do
contraditório e da ampla defesa.

VI. DA PRESENÇA DOS REQUISITOS LEGAIS PARA A CONCESSÃO DA ANTECIPAÇÃO DE TUTELA

A situação trazida nestes autos evidencia a necessidade de serem


imediatamente suspensos os efeitos da decisão atacada, diante da presença dos requisitos legais
para tanto, determinando-se, de pronto, a produção da perícia-histórico antropológica.

A verossimilhança das alegações decorre dos fundamentos de fato


e de direito do recurso já expendidos acima, porquanto tais argumentos conduzem à inexorável
conclusão de necessidade de reforma da r. decisão agravada, a fim de que se possa produzir a
perícia histórico-antropológica, podendo a Comunidade Indígena formular quesitos e indicar
assistente técnico.
O perigo de dano irreparável é manifesto, haja vista que a não
produção da perícia histórico-antropológica impedirá que a Comunidade Indígena comprove a
ocupação tradicional, violando os princípios do contraditório e da ampla defesa (art. 5º, LV, da CF).

Assim, a não reforma da r. decisão agravada acarretará sérios


prejuízos à Comunidade Indígena.

Outrossim, não há risco de irreversibilidade da decisão


impugnada, haja vista que pode o Juízo, se assim entender o E. Tribunal, desconsiderar o teor de
eventual perícia histórico-antropológica.

Por todo o exposto, requer seja deferida a tutela antecipada


recursal.

VII - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, requer as agravantes :

Avenida Weimar Gonçalves Torres, 3215, Dourados - Estado de Mato Grosso do Sul
CEP 79.800-023 – Tel. 67-34215274

10
PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
PROCURADORIA-SECCIONAL FEDERAL EM DOURADOS/MS
PROCURADORIA FEDERAL ESPECIALIZADA DA FUNAI EM DOURADOS/MS

a) a concessão da tutela antecipada recursal para determinar


a produção da perícia histórico-antropológica;

b) o provimento do recurso para cassar a decisão interlocutória e


determinar que seja produzida a perícia histórico-antropológica;

c) caso de ser mantida a decisão agravada, a manifestação do


egrégio Tribunal acerca das matérias acima argumentadas, que ficam desde já prequestionadas.

Informa que o Juízo a quo será comunicado do presente agravo,


nos termos do art. 526 do Código de Processo Civil, com pedido de reconsideração da decisão
interlocutória proferida;

Por fim, os Procuradores Federais infra-assinados atestam a


autenticidade de todas as cópias de peças que formam o instrumento, nos termos do art. 544, § 1º,
do Código de Processo Civil.

Termos em que pede e espera deferimento.

De Dourados-MS para São Paulo-SP, 27 de janeiro de 2016.

RAFAEL GUSTAVO DE MARCHI


Procurador Federal
FUNAI

RONALD FERREIRA SERRA


Procurador Federal
Comunidade Indígena Jaguari

Avenida Weimar Gonçalves Torres, 3215, Dourados - Estado de Mato Grosso do Sul
CEP 79.800-023 – Tel. 67-34215274

11

Anda mungkin juga menyukai