Contratos em espécie: compra e venda; permuta; contrato estimatório; doação; locação;
distribuição; corretagem; transporte; seguro; constituição de renda; jogo e aposta; fiança;
pagamento indevido; enriquecimento sem causa.
CONTRATOS EM ESPÉCIE
CONTRATO DE COMPRA E VENDA
Conceito: Tratase de um negócio jurídico bilateral, por meio do qual o vendedor
obrigase
1 a transferir a
propriedade de coisa móvel ou imóvel ao comprador mediante o pagamento de um preço.
A compra
(comprador) .
Art. 481. Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga a transferir o
domínio de certa coisa, e o outro, a pagarlhe certo preço em dinheiro.
O pagamento pode ser em dinheiro ou valor fiduciário, ou seja, cheque ou cartão de crédito, faltou
1 “A compra e venda possui EFEITO MERAMENTE OBRIGACIONAL. Vale dizer, não transfere a propriedade
da coisa, antes, cria a obrigação de fazê-lo” [Tepedino]
constar essa menção no artigo.
Elementos:
Consentimento: “Para a perfeição do contrato, o CC exige apenas o acordo
sobre a cois
a e o
preço”
[Tepedino]
coisa: os direitos podem ser negociados, mas o termo correto é a CESSÃO DE DIREITOS.
Art. 483. A compra e venda pode ter por objeto coisa atual ou futura. Neste caso, ficará sem
efeito o contrato se esta não vier a existir, salvo se a intenção das partes era de concluir
contrato aleatório.
doação, por exemplo, venda de apartamento por R$ 1,00. A lei deixa as partes livres para a fixação
do preço do contrato, inclusive ao arbítrio de terceiro. O que a lei não admite é que uma das partes
tenha o arbítrio exclusivo de fixar o preço (artigos 485 e 489), nesse caso a cláusula e o contrato
serão nulos. É lícito às partes fixar o preço em função de índices ou parâmetros, desde que
suscetíveis de objetiva determinação (artigo 487). Também poderão deixar a fixação do preço à taxa
de mercado ou de bolsa, em certo e determinado dia e lugar (artigo 486). Neste caso, “dificuldade
que se poderia entrever é a circunstância de variação da cotação no mesmo dia, caso as partes não
tenham definido o horário preciso da verificação. Deve prevalecer o preço médio de mercado na
data” [Tepedino] O art. 488, por sua vez, é uma mitigação da regra de estabelecimento de preços, ele
tem aplicação nas hipóteses em que há vendas habituais do vendedor. Ex: fornecimento de
refrigerantes em bar; tratase do preço presumido.
[Cláusula de fixação do preço por terceiro] “Nunca será possível que o juiz se substitua às partes, e, na
falta de entendimento entre elas, designe um perito ou proceda à determinação do preço ou avaliação da
coisa. Sem a fixação do preço por terceiro, a única solução possível é o desfazimento do contrato. Não
cabe, aqui, na ausência de elemento essencial, a integração judicial” [Tepedino]
Aquisição da propriedade: O
contrato de compra e venda no direito brasileiro gera apenas efeitos
OBRIGACIONAIS. Isso significa que, para haver efetiva transferência da propriedade, é necessário,
REGISTRO para os bens imóveis). Tepedino afirma que o contrato em análise é TRANSLATIVO
transferência, mas de ser o ato causal desta”.
Art. 482. A compra e venda, quando pura, considerarseá obrigatória e perfeita, desde que as
partes acordarem no objeto e no preço.
Características do contrato
a. Contrato típico: é contrato típico ou nominado.
a. Contrato solene ou nãosolene: pode ser um contrato solene ou nãosolene dependendo do objeto
do contrato.
b. Contrato bilateral: “criando obrigações tanto para o vendedor (entregar a coisa) quanto para o
comprador (pagar o preço)” [Tepedino]
c. Contrato oneroso: “conferindo vantagens econômicas a ambas as partes, quais sejam: para o
vendedor, o direito de obter o preço, para o comprador, o direito de receber a coisa” [Tepedino]
d. Contrato sinalagmático:
e. Contrato consensual ou formal: “é consensual, uma vez que se forma pelo simples acordo de
vontade das partes” [Tepedino]
f. Contrato comutativo ou aleatório: “é, em geral, contrato comutativo, com prestações
determináveis e equivalentes no momento da conclusão. Admitese, no entanto, a compra e venda
aleatória, quando assim ajustado pelas partes” [Tepedino]. A compra e venda pode ser um contrato
comutativo ou aleatório (por exemplo, compra e venda de coisa futura). “Há venda de esperança se a
existência das coisas futuras depende do acaso; há venda de coisa esperada, se a existência das coisas
futuras está na ordem natural. A venda de coisa futura não pode se referir à herança futura, sob pena
contrato aleatório que consiste no risco sobre toda a coisa, inclusive, sobre a essência da coisa.
C Um dos contratantes, na alienação de coisa futura, toma a si o risco relativo à
O existência da coisa, ajustando um preço, que será devido integralmente, mesmo que
N EMPTIO nada se produza (artigo 458), sem que haja culpa do alienante; vendese a
SPEI esperança ou a probabilidade de as coisas existirem.
T
R EXEMPLO: comprar de um pescador, por preço certo, os peixes que este retirar de
Dizem
A sua rede, assumindo o risco de nenhum peixe ser apanhado.
respeito à
T Ocorre que a álea versar sobre quantidade maior ou menor da coisa esperada
coisa
O (artigo 459), o risco assumido pelo adquirente determina o pagamento do preço ao
futura EMPTIO
alienante, mesmo que venha a existir em quantia mínima ou irrisória, basta que a
S
REI
coisa venha a existir em qualquer quantidade.
SPERATA
A EXEMPLO: comprar de um pescador o produto do lanço de sua rede, assumindo
E
apenas a álea de ele retirar maior ou menor quantidade de pescado, o adquirente
L
libertarseá da obrigação, se a rede nada contiver.
E
A
Para o contrato ser aleatório, deve existir risco de que as coisas se percam, danifiquemse ou
T
Dizem ainda, sofram depreciação (artigo 460). E a hipótese de mercadoria embarcada que vendida,
Ó
respeito à assumindo o comprador a álea de ela chegar ou não ao seu destino, mesmo que ela desapareça
R
coisa por ocasião do contrato, devido a naufrágio do navio, a venda será válida e o vendedor terá
I
existente direito ao preço, se ignorava o sinistro; se sabia do naufrágio, anulada será a alienação
O competindo ao adquirente a prova dessa ciência (artigo 461)
S
Responsabilidade pelo risco
“O CC optou por preservar os interesses do vendedor, estabelecendo uma ordem ao cumprimento das
obrigações das partes no contrato: primeiro o comprador paga o preço, depois o vendedor entrega a coisa”
[Tepedino]
Art. 492. Até o
momento da tradição, os riscos da coisa correm por conta do vendedor, e os do preço
por conta do comprador.
§ 1o Todavia, os casos fortuitos, ocorrentes no ato de contar, marcar ou assinalar coisas, que
comumente se recebem, contando, pesando, medindo ou assinalando, e que já tiverem sido postas à
disposição do comprador, correrão por conta deste.
§ 2o Correrão também por
conta do comprador os riscos das referidas coisas, se estiver em mora de
as receber, quando postas à sua disposição no tempo, lugar e pelo modo ajustados.
haja de transportála, quando expedida por ordem do comprador. Se, porém, o vendedor contrariar as
instruções do adquirente, suporta os riscos ocorridos durante o transporte, porque, assim procedendo,
age como mandatário infiel” [Tepedino]
Venda de ascendente a descendente
consentimento dos outros herdeiros. O NCC incorporou a tese da anulabilidade, ou seja, a venda de
ascendente a descendente, sem o consentimento do cônjuge e dos demais descendentes é ANULÁVEL
(prazo decadencial de 2 anos).
“Art. 496: proteção da legítima. Não se admite o consentimento tácito, exigindose que este seja feito
expressamente. A doutrina, em sua maioria, entende ser o consentimento insuprível pelo juiz, por ser este
uma prerrogativa do cônjuge ou do descendente. Sendo algum dos descendentes incapaz, deverá ser
nomeado um curador para representálo ou assistilo no ato, conforme o caso, uma vez que é patente a
colisão de interesses entre ele e o ascendente” [Tepedino]
Pessoas impedidas de contratar
Art. 497. Sob pena de nulidade, não podem ser comprados, ainda que em hasta pública:
II pelos servidores públicos, em geral, os bens ou direitos da pessoa jurídica a que servirem, ou que
estejam sob sua administração direta ou indireta;
III pelos juízes, secretários de tribunais, arbitradores, peritos e outros serventuários ou auxiliares
da justiça, os bens ou direitos sobre que se litigar em tribunal, juízo ou conselho, no lugar onde
servirem, ou a que se estender a sua autoridade;
IV pelos leiloeiros e seus prepostos, os bens de cuja venda estejam encarregados.
Parágrafo único. As proibições deste artigo estendemse à cessão de crédito.
Essas pessoas NÃO têm legitimidade para efetuar o contrato de compra e venda, sob pena de nulidade,
MESMO QUE EM HASTA PÚBLICA.
CONCURSO: qual foi a regra que o NCC não reproduziu? Por quê? Qual a posição do STF? Artigo
1.133, II do CC/16: mandatários e bens dos mandantes. Não há impedimento para que o próprio mandante
contra legem. É a possibilidade de celebração de CONTRATO CONSIGO MESMO.
2165 - A venda realizada diretamente pelo mandante ao mandatário não é atingida pela nulidade do art. 1.133, II, do
Código Civil.
Venda ad corpus e venda ad mensuram
VENDA AD CORPUS VENDA AD MENSURAM
Venda na qual as dimensões são imprecisas, Venda especificada, venda detalhada por indicação
simplesmente enunciativas. de preço e medida de extensão.
Presunção enunciativa quando, a diferença não exceder
a1/20 (§ 1o., artigo 500)
Proteção especial do comprador (artigo 500, caput):
a. AÇÃO EX EMPTO
(complemento da área)
b. resolução do contrato
complementação da área, segundo Tepedino)
O § 1o., artigo 500, traduz a idéia de que se a margem
percentual não teria realizado a compra.
Art. 502: “o adquirente será sujeito passivo apenas das obrigações propter rem nascidas após a alienação. As
dívidas vencidas decorrentes do ônus real se transmitem ao novo titular do direito real. Assim, não seria
possível admitir que o dispositivo abrangesse os ônus reais – a despeito da expressão 'que gravem a coisa' –
uma vez que os ônus reais acompanham a coisa na mudança de titularidade, cabendo ao novo adquirente
arcar com estes deveres” [Tepedino]
Venda a condômino
“Quanto à coisa, indivisível ou divisível, segundo a melhor doutrina, sobre a qual se tenha instaurado
um condomínio, há para os condôminos o direito de preferência em caso de venda, por um deles, da parte
ideal que lhe caiba sobre a coisa” [Tepedino]
Cláusulas especiais da compra e venda
Retrovenda (Arts. 505 e ss) – SÓ IMÓVEIS
compra e venda, recuperando a coisa imóvel, desde que pague ao comprador o preço original,
monetariamente corrigido, as despesas por ele suportadas e o valor equivalente às benfeitorias necessárias,
bem como às úteis e voluptuárias expressamente consentidas, na forma escrita” [Tepedino]
Somente se aplica a imóveis e no prazo máximo de 3 anos.
“Ainda que os antigos condôminos do imóvel não tenham, todos em conjunto, vendido com o pacto
adjeto de retrovenda, o direito de retrato pode ser exercido por um deles, mesmo que os demais não tenham
interesse em reaver o imóvel” [Tepedino]
Venda a contento e da sujeita à prova (Arts. 509 e ss)
“A venda a contento aplicase a certas coisas a respeito das quais o comprador não pode dar seu
consentimento antes de as haver examinado. São as coisas que precisam ou ser pesadas, ou ser medidas ou,
mesmo, provadas e experimentadas” [Tepedino]aqui.
“O fato de a lei nova dispor que '[a venda] não se reputará perfeita enquanto o adquirente não
manifestar o seu agrado' apenas reforça seu caráter condicional, não significando que a manifestação de
aprovação da coisa tenha de ser expressa, somente. Esta pode consistir em atos incompatíveis com a vontade
de rejeitar a coisa” [Tepedino]
comprador, independentemente da qualidade da coisa.
Na venda sujeita a prova o legislador se distanciou deste critério e inseriu uma condição que não está
vendedor e ser ou não idônea para o fim a que se destina” [Tepedino]
Preempção ou preferência (arts. 513 e ss)
“A natureza jurídica da preempção é de promessa unilateral de oferecer a coisa ao vendedor, pelo
preço equivalente ao da oferta feita por terceiro interessado na sua aquisição. No Direito Brasileiro, confere
DIREITO PESSOAL que, se desrespeitado, gera para o comprador a obrigação de
ao vendedor apenas um
arcar com as perdas e danos” [Tepedino]
IMÓVEIS)” [Tepedino]
“Há duas espécies de preempção: a convencional e a legal (pode consistir no exercício do direito de
preferência pelos entes federativos, em dadas circunstâncias, ou pelo particular expropriado, caso a
desapropriação não cumpra sua finalidade (CC, art. 519 – retrocessão ou preempção legal) nos termos do
estatuído em lei)” [Tepedino]
“O direito de preferência é considerado personalíssimo (intransmissível)” [Tepedino]
Venda com reserva de domínio (arts. 521 e ss)
Para o bem móvel, a garantia se faz por essa cláusula de reserva de domínio, na qual o vendedor
pode reservar para si a propriedade, até que o preço esteja integralmente pago (artigo 521).
Essa cláusula estabelece uma propriedade resolúvel, porque está submetida a um acontecimento futuro
e incerto para ser realmente transmitido o negócio.
A reserva de domínio é uma cláusula inserida em contrato de compra e venda de bem móvel a prazo.
“A reserva de domínio é o pacto adjeto ao contrato de compra e venda pelo qual o comprador só adquire a
propriedade da coisa ao integralizar o pagamento do preço, não obstante investirse na posse desde o
momento da celebração do contrato” [Tepedino]
“Poderá recair somente em contratos de compra e venda que tenham por objeto bens móveis. Tratase
de uma venda sob condição suspensiva (natureza jurídica)” [Tepedino]
“A coisa móvel, objeto da venda com reserva de domínio, não precisa ser infungível, mas deve ser
individualizável” [Tepedino]
A cláusula deve ser escrita e registrada no domicílio do comprador para valer contra terceiros. Para as
partes a cláusula vale mesmo sem o registro, basta a cláusula escrita. O registro deve ser feito no
cartório de títulos e documentos.
A regra “res perit domini” (a coisa perece para o dono) é mitigada nessa cláusula, por que se a coisa
perecer, o prejuízo será suportado pelo comprador, mesmo com a propriedade reservada ao vendedor (artigo
524, 2ª parte). Na verdade, essa reserva de propriedade não passa de uma garantia.
Visa a proteger o vendedor de um móvel, que fica sem garantia do pagamento posterior. Para o
bem imóvel, a solução é o compromisso de compra e venda.
RESERVA DE DOMÍNIO ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA
Cláusula no contrato de compra e venda a prazo Garantia real do contrato de mútuo
Contrato de compra e venda à vista
Contrato de compra e venda a prazo
Contrato de mútuo com garantia real
Propriedade resolúvel em favor do vendedor Propriedade resolúvel em favor do banco
interpretação judicial (artigo 525); ou seja, diferente da mora “ex re”, que ocorre independentemente
de notificação (nas obrigações a termo, com data de pagamento específica).
Observase a súmula do STJ de n 369: “no contrato de arrendamento mercantil (leasing), ainda
que haja cláusula resolutiva expressa, é necessária a notificação prévia do arrendatário para
constituílo em mora”.
Estando caracterizada a mora, o vendedor poderá:
1. Cobrar o preço ou
1. Ajuizar a reintegração de posse.
Na alienação fiduciária em garantia a ação cabível é busca e apreensão, que pode ser convertida
em ação de depósito (isso não pode ser feito na venda com reserva de domínio).
A reserva de domínio é uma exceção à regra geral de transmissão da propriedade por tradição.
A venda com reserva de domínio caracterizase pela transmissão da posse não correspondente à
transmissão do domínio, que fica com o vendedor até que o preço esteja integralmente pago.
Venda sobre documentos
Art. 529. Na venda sobre documentos, a tradição da coisa é substituída pela entrega do seu título
representativo e dos outros documentos exigidos pelo contrato ou, no silêncio deste, pelos usos.
pagamento, a pretexto de defeito de qualidade ou do estado da coisa vendida, salvo se o defeito já
houver sido comprovado.
Art. 530. Não havendo estipulação em contrário, o pagamento deve ser efetuado na data e no lugar
da entrega dos documentos.
Art. 531. Se entre os documentos entregues ao comprador figurar apólice de seguro que cubra os
riscos do transporte, correm estes à conta do comprador, salvo se, ao ser concluído o contrato,
tivesse o vendedor ciência da perda ou avaria da coisa.
Art. 532. Estipulado o pagamento por intermédio de estabelecimento bancário, caberá a este efetuá
responde.
Parágrafo único. Nesse caso, somente após a recusa do estabelecimento bancário a efetuar o
pagamento, poderá o vendedor pretendêlo, diretamente do comprador.
CONTRATO DE TROCA OU PERMUTA
“Troca é o contrato pelo qual as partes se obrigam a dar uma coisa por outra, que não seja dinheiro. É
um contrato consensual. Pressupõe a garantia das coisas que são objeto do contrato” [Tepedino]
Art. 533. Aplicamse à troca as disposições referentes à compra e venda, com as seguintes
modificações:
I salvo disposição em contrário, cada um dos contratantes pagará por metade as despesas com o
instrumento da troca;
II é anulável a troca de valores desiguais entre ascendentes e descendentes, sem consentimento dos
outros descendentes e do cônjuge do alienante.
CONTRATO ESTIMATÓRIO
Houve grande influência do Código Civil Italiano.
móveis, tendo um prazo para vendêlos e, não conseguindo a venda, deve restituir os bens).
O consignante estabelece qual o preço de venda.
posse legitimada para a venda.
“Tratase de um negócio já amplamente difundido em nossa cultura, usualmente intitulado 'venda em
consignação' ou, mais precisamente, 'venda mediante consignação'. Por seu intermédio, o dono de um bem
móvel qualquer, com intuito de alienálo, deixao com uma pessoa que se encarrega de realizar a venda
pretendida. A denominação 'estimatório' decorre do fato de ser o preço, a que faz jus o proprietário do bem,
previamente estimado entre o dono (consignante) e o vendedor (consignatário)” [Tepedino]
“Natureza jurídica do contrato estimatório: obrigação facultativa” [Tepedino]
“O contrato estimatório é contrato real” [Tepedino]
Em geral o consignante pode devolver antes do prazo.
O consignatário pode comprar a coisa.
“Art. 535: Se os bens móveis forem fungíveis, será possível ao consignatário entregar ao consignante
bens rigorosamente equivalentes aos perdidos ou deteriorados, afastando o teor proibitivo do comando
em questão” [Tepedino]
“A faculdade de devolução da coisa consignada só perdura pelo prazo fixado; findo este, a única
forma de cumprimento admitida, vendida ou não a coisa, temse no pagamento do preço estimado”
[Tepedino]
Responsabilidade pelo risco
A regra de que a coisa perece para o dono não se aplica ao contrato estimatório, na forma do artigo
535. Assim o consignatário responde por caso fortuito ou força maior, “ou mesmo pelo fato de terceiro”.
[Tepedino]
“O consignatário responde pelos vícios redibitórios e pelos riscos de evicção. Todavia, com relação à
EVICÇÃO, RESPONDE IGUALMENTE O CONSIGNANTE” [Tepedino]
CONTRATO DE DOAÇÃO
Conceito: A doação, prevista nos artigos 538 e seguintes,
é o negócio jurídico pelo qual o doador, por
espírito de liberalidade, transfere bens ou valores do seu patrimônio ao donatário, que os aceita.
“Não se deve esquecer que a doação, como contrato, negócio jurídico bilateral por formação, jamais
prescinde do consentimento das partes. Demais disso, a aceitação do donatário existe e é essencial, pois não
se pode impor a outrem que incorpore em seu patrimônio bem que não deseja, hipótese dramatizada nas
doações gravadas com encargos” [Tepedino]
Elementos da doação [Tepedino]:
a. Subjetivo: animus donandi, que tem como conteúdo a liberalidade, isto é, a vontade de enriquecer o
beneficiário às próprias expensas;
a. Objetivo: a diminuição do patrimônio do doador e correspondente enriquecimento do donatário;
b. Realização por ato
inter vivos (no sistema brasileiro, se uma pessoa desejar, por ocasião de sua
morte, contemplar outra, os instrumentos jurídicos de que pode dispor são apenas o testamento e o
codicilo, não a doação);
c. O doador só pode transferir bens que efetivamente estejam em seu patrimônio, vale dizer, de que
possa dispor no momento da execução do contrato (prevalece o entendimento de que seja possível
doar bem alheio ou futuro, desde que, no momento da transferência, se possa cumprir a obrigação de
entrega).
Características
Unilateralidade: “A doação está para o conjunto de contratos unilaterais gratuitos, assim como a compra e
venda está para os bilaterais onerosos. São ambos paradigmáticos”[Tepedino] A doação com encargo
NÃO torna o contrato bilateral, o contrato continua sendo unilateral, porque o encargo NÃO é uma
contra prestação.
Formalidade: Em geral, é feita por escrito; poderá ser VERBAL quando, versando sobre bens MÓVEIS e
define como pequeno valor, a doutrina recomenda que a aferição sobre o que seja pequeno valor leve em
doação deverá ser feita por escritura pública (direito real sobre bens imóveis de valor superior a 30 vezes
o maior mínimo vigente no País – artigo 108).
Partes: O nascituro e o incapaz podem ser partes no contrato de doação, desde que aceita pelo representante
legal (nascituro), ou dispensada quando haja a doação pura.
Doação por procuração: A jurisprudência tem admitido a doação por procuração, desde que o mandato não
seja genérico, ou seja, a procuração deve especificar o objeto e o donatário (RT 495/44 e RT 472/95).
Doação inoficiosa
(art. 549): É uma doação nula por v
iolação da legítima;
somente
os outros herdeiros
poderão impugnála. Qual o prazo para que os herdeiros ingressem com a ação? PABLO: É
IMPRESCRITÍVEL a declaração de nulidade, mas os efeitos patrimoniais sofrem limitação, estando
submetidos ao prazo prescricional geral de 10 anos. STJ
: tem entendido que doação inoficiosa é
jurisprudência é anterior ao NCC, no qual não existe mais esse prazo de 20 anos. Adaptandose essa
jurisprudência ao NCC, o prazo da anulatória é de 02 ANOS (ARTIGO 179).
Doação universal (art. 548): Está relacionada com o ESTATUTO JURÍDICO DO PATRIMÔNIO
MÍNIMO, que consiste em uma tese desenvolvida por LUIZ EDSON FACHIN, segundo a qual as normas
civis devem buscar resguardar um mínimo de patrimônio para que cada pessoa tenha uma existência digna.
As normas do bem de família estão relacionadas com esse estatuto. É evidente que se trata de repercussão do
princípio da dignidade da pessoa humana. “Casos em que se admite a doação da totalidade dos bens: a
operacionaliza pela constituição de usufruto em favor do próprio doador. A segunda hipótese, sobre a qual
ocorre funda divergência, é a de ser possível, sim, a doação de todos os bens, retirando o doador o necessário
para a subsistência de seus vencimentos, proventos ou subsídios ou de seu salário, havendo quem entenda
que a partir de uma interpretação teleológica se pode afirmar ser plenamente possível a doação universal de
bens quando o doador possuir alguma fonte de renda periódica, o que não afronta o art. 548, CC, tendo em
vista que a finalidade da norma restaria preservada, pois a subsistência do doador estaria garantida”
[Tepedino].
Classificação
Contrato típico: existe um panorama específico de disciplina da modalidade contratual.
Contrato unilateral: não gera obrigações recíprocas e concomitantes. Por isso, não se pode
reclamar de vício redibitório na doação simples. Na modalidade onerosa, a doação aproximase do
regime bilateral (por exemplo, o donatário se obriga a fazer alguma coisa não em prol do doador).
Todo contrato é manifestado por duas vontades (exceção é a sociedade unipessoal).
Contrato solene:
Contrato simplesmente consensual: basta a declaração de doação para produzir efeitos, formando
o título translativo. Simplesmente consensual – é o contrato que decorre somente da vontade das
partes. Real: é o contrato que depende da entrega da coisa. Ex.: entrega de carro no estacionamento
para surgir o dever de guardar. Essa classificação está relacionada aos efeitos jurídicos causados pelo
contrato. “Em determinadas hipóteses, o contrato de doação será real” [Tepedino]
Aceitação: “O consentimento, ou aceitação será expresso se o donatário declarar que aceita a doação; tácito,
quando se possa inferilo de uma conduta do donatário; será presumido (art. 539) se, assinado um
dado prazo para que o donatário declare se aceita ou não a doação, este se queda inerte, daí sendo
presumível que aceitou; por fim será ficto o consentimento em doações puras feitas a incapazes –
ficção esta necessária para conformar à dogmática, que considera a doação um contrato, a
possibilidade de pessoa que não é capaz de celebrar negócios jurídicos vir a aceitar o ato de
liberalidade, sem a participação de seus representantes. Morte (antes da aceitação): do doador –
divergência doutrinária; do donatário – o negócio se resolve. Nas doações com encargo, a aceitação
não se presume” [Tepedino]
Promessa de doação: É estranho imaginar que o doador fique obrigado a doar, já que a doação é um
contrato que tem por espírito a liberalidade. Mas a doutrina (ANA PRATA e CAIO MÁRIO) aceita
a promessa de doação, afastada a execução específica, entretanto sendo possível o pedido de perdas e
danos. Ou seja, não cabe a execução específica, mas o donatário pode pleitear perdas e danos. O
doutrina e jurisprudência lhe recusam efeitos pela incompatibilidade entre a natureza calcada na
contudo, a promessa de doação quando feita no bojo de um negócio complexo, no qual se possam
entrever múltiplas obrigações para ambas as partes, pela inexistência da incongruência aludida (ex:
promessa de doação no âmbito de um acordo de separação judicial). Para Caio Mário da Silva
Pereira, somente nos casos de doação modal seria possível conceberse a promessa de contrato, pois
o encargo imposto legitimaria o donatário a exigir o cumprimento da prestação por parte do doador”
[Tepedino]
Espécies de doação
a. doação pura: é doação sem encargo, ou seja, aquela que traduz um simples benefício patrimonial;
a. doação modal, onerosa ou com encargo: como o próprio nome indica, tratase de doação gravada
com um ônus (encargo). Disciplinada no art. 553. “Encargo é um dever anexo à doação, sem
descaracterizála, isto é, desde que não configure correspectividade ou contraprestação” [Tepedino]
b. doação contemplativa: tratase da doação em que o doador declina as razões da sua beneficência.
“É estimulada pelo sentimento pessoal de admiração ou reconhecimento da conduta do donatário.
Consiste em um prêmio ao donatário. Difere da doação remuneratória por apresentar conteúdo mais
sutil, no sentido de não pressupor a recompensa de favor ou serviço recebido”[Tepedino] ;
c. doação remuneratória: é doação feita em retribuição a serviços prestados pelo donatário. “É
motivada por um préstimo anterior do donatário para com o doador: reflete, pois, uma mostra de
gratidão, sendo feita não puramente por uma liberalidade, mas também para atender a uma
necessidade moral do doador em compensar o que antes recebeu do donatário. O efeito da doação
remuneratória será de doação pura quanto ao excedente ao valor dos serviços remunerados. Até o
limite do valor dos serviços remunerados, responde pelos riscos da evicção e pela garantia dos vícios
redibitórios. Por isso que a doutrina classifica a doação remuneratória como imprópria” [Tepedino].
d. doação conjuntiva: tratase da doação feita a mais de uma pessoa. É disciplinada pelo art. 551 do
Código Civil.
e. doação feita em contemplação a casamento futuro: dispondo sobre esta espécie, temos o art. 546
do Código Civil.
f. doação com cláusula de reversão: prevista esta cláusula, o bem doado pode reverter em benefício
do doador. Disciplinada no art. 547 do Código Civil. “Esta cláusula tem a natureza jurídica de
condição resolutiva. Se o doador morre antes do donatário, o bem dado permanece, em definitivo, no
patrimônio do donatário, passando aos seus herdeiros” [Tepedino]
g. doação mista (negotium mixtum cum donatione): cuidase de uma doação híbrida, com matiz de
contrato oneroso: um sujeito paga, livremente, 500 reais por um bem que vale apenas 100.
h. doações mútuas: neste caso, as duas partes realizam, reciprocamente, o ato de liberalidade;
[Tepedino]
j. doação real: “quando o bem doado for móvel e de pequeno valor, por seguirlhe incontinenti sua
tradição. São os chamados 'dons manuais', como, p. ex., os presentes de aniversário, casamento, de
mero agrado, etc”. [Tepedino]
Doação entre companheiros e concubinos
O NCC faz uma distinção entre:
a. CONCUBINOS = união espúria relacionada ao direito obrigacional;
Tratandose de COMPANHEIROS (união estável), não há impedimento para a doação; todavia, em se
tratando de CONCUBINOS (relação espúria) incide a restrição do artigo 550, NCC (tal norma consagra uma
ação anulatória que deverá ser proposta em até 02 anos depois de dissolvida a sociedade conjugal).
“Qualquer que seja o regime de bens do casamento, é facultado ao cônjuge traído pleitear a anulação da
doação feita pelo seu consorte em favor do cúmplice. A legitimação dos herdeiros necessários surge com o
falecimento do cônjuge traído” [Tepedino]
Doação entre cônjuges e a descendente:
A doação entre cônjuges determina o adiantamento da legítima. “Art. 544: Tal doação será válida até o
limite em que não invada a legítima dos demais dependentes. A norma em tela é de natureza supletiva,
trazendo em seu bojo um elemento natural que poderá, por sua vez, ser afastado por expressa declaração de
vontade do doador ao esclarecer que a liberalidade advém da parte disponível, não constituindo com isso
adiantamento da legítima” [Tepedino]
Extinção da doação
A forma mais comum é o cumprimento do contrato.
O contrato pode ser extinto por revogação (resilição). O direito de revogar cabe ao doador, é um
direito personalíssimo e irrenunciável (art. 556).
Mas há hipóteses nas quais cabe a revogação da doação. Cumprenos mencionar que o Código Civil
Brasileiro admite a revogação da doação por duas ordens de motivos (art. 555):
a) por inexecução do encargo, na doação modal;
b) por ingratidão do donatário.
“Distinguemse os efeitos das duas causas de revogação da doação: o descumprimento do encargo tem
a natureza jurídica de condição resolutiva da doação, pelo que seu advento opera efeitos
ex tunc, vale dizer,
retroagem à data da celebração da doação; a ingratidão do donatário tem a natureza jurídica de causa
superveniente, produzindo efeitos
ex nunc, isto é, não retroativos”. [Tepedino]
“Não sendo possível a restituição, por as coisas doadas não mais existirem ou terem sido alienadas, o
donatário deverá indenizar o doador pelo meiotermo de seu valor. Vale dizer: 'pela média entre o valor, que
a coisa teve ou podia ter entre a data da tradição ao donatário e da restituição” [Tepedino]
Revogação da doação
resolutiva, em que se traduz o encargo, quando estabelecido em seu favor. Resolvido o contrato, a coisa
doada será restituída ao doador. A ação do terceiro e a do Ministério Público dirigemse ao cumprimento do
encargo, que é uma obrigação como outra qualquer. A mesma finalidade terá a ação do doador, quando ele
não for o beneficiado”. [Tepedino] O prazo para a ação revogatória por inexecução do encargo não está
previsto na lei. O STJ estava entendendo que o prazo seria de 20 anos. PABLO: esse prazo é prescricional e
a ação revogatória é submetida a prazo decadencial, por se tratar de direito potestativo. ATUALMENTE,
NO NCC O PRAZO MÁXIMO DE PRESCRIÇÃO É DE 10 ANOS.
ALBERTO MENEZES DIREITO (1108) Órgão Julgador T3 TERCEIRA TURMA Data do
Julgamento 10/09/2002 Data da Publicação/Fonte DJ 02.12.2002 p.00302 Ementa Doação com
encargo. Revogação. Prescrição. Falta de motivação. Precedentes da Corte. 1. Já decidiu a
prescreve em 20 anos, nos termos do art. 177 do Código Civil. 2. A decisão que afastou a
prescrição está bem fundamentada, relevando a documentação existente nos autos, tal e qual
posta na sentença e confirmada no Acórdão recorrido. 3. Recurso especial não conhecido.
Ingratidão do donatário: para CJF NÃO É TAXATIVO O ROL
“O rol do art. 557 é taxativo. Não fica ao arbítrio nem do doador nem do juiz a definição do que seja
ingratidão; é o próprio CC que taxativamente elenca as hipóteses de ingratidão que dão ensejo à revogação.
A revogação não se efetiva por simples manifestação de vontade do doador. Necessário que se proponha a
ação judicial, pleiteandoa. O direito de ajuizar a ação revocatória é personalíssimo. Deve ser exercitado pelo
doador, permitindo a lei apenas que, ajuizada a ação, venha a ser continuada por seus sucessores. No caso de
homicídio doloso, os herdeiros do doador têm legitimidade para o ajuizamento da ação. A revogação por
motivo de ingratidão só é possível a respeito das liberalidades puras. Na parte em que a doação excede à
revogação” [Tepedino]
Art. 557. Podem ser revogadas por ingratidão as doações:
I se o donatário atentou contra a vida do doador ou cometeu crime de homicídio doloso contra ele;
(HOMICÍDIO TENTADO OU CONSUMADO DISPENSADO O TRÂNSITO EM JULGADO DA
SENTENÇA PENAL 3, OU SEJA O FATO PODE SER VERIFICADO SOMENTE NA ESFERA
CÍVEL).
II se cometeu contra ele ofensa física;
III se o injuriou gravemente ou o caluniou; (O PROJETO DE REFORMA VAI CORRIGIR ISSO
INSERINDO A DIFAMAÇÃO. Tepedino defende que a ingratidão se configurará também no caso
de difamação).
IV se, podendo ministrálos, recusou ao doador os alimentos de que este necessitava.
CONTRATO DE LOCAÇÃO DE COISAS
transfere o exercício do uso e gozo do bem infungível mediante certa retribuição.
Elementos:
A) essenciais: consentimento, coisa e preço;
A) nãoessenciais: prazo e forma.
No regime de locação
de imóveis
urbanos, regulado pela Lei 8.245/91 (art. 3º), exigese a vênia
conjugal para o contrato de locação celebrado por prazo igual ou superior a 10 anos.
consensual, em que a tradição da coisa significa execução do negócio.
É contrato
Não é necessário que o locador tenha a propriedade do bem, pois, basta ser possuidor jurídico,
usufrutuário ou simples administrador.
Se a coisa cujo uso se concede é fungível, o contrato degenera em mútuo.
É possível a l ocação de BENS INCORPÓREOS (ex.: patente de invenção, fundo de comércio, etc).
essencial ao contrato de locação de coisa, excetuadas as locações prediais.
A jurisprudência do STJ entende que o contrato de locação se constitui título executivo extrajudicial,
MESMO QUE NÃO SUBSCRITO POR DUAS TESTEMUNHAS.
No regime do CC, o contrato de locação tem caráter
impessoal, não sendo personalíssimo nem para o
locador nem para o locatário. Admite
, pois, em princípio,
cessão, sublocação e sucessão em virtude de morte
de qualquer dos contratantes. As partes podem, porém, convencionar diversamente.
Aplicamse ao contrato de locação as normas relativas aos vícios redibitórios, sendo possível ao
locatário rejeitar a coisa defeituosa ou exigir o abatimento do aluguel.
A maioria da doutrina assevera que O LOCATÁRIO NÃO PODERÁ RETER O ALUGUEL OU
DESCONTAR O QUE CONSIDERA TER DIREITO A RECEBER COMO INDENIZAÇÃO.
locatário tenha abandonado a coisa por motivo relevante.
Se a turbação ou o esbulho forem praticados pelo próprio locador, o locatário poderá defenderse,
também, através do desforço imediato e das ações possessórias.
Salientese, contudo, que em casos como a requisição e a desapropriação do bem locado pela
Administração Pública, não há que se falar em perturbação da posse direta do locatário e violação do direito
ao uso pacífico da coisa, mas sim em motivos de força maior, decorrentes do factum principis que trazem
cunho de nítida liceidade, por se orientarem no rumo do bem comum, ainda que na sua esteira deixem a
marca da lesão a interesses privados.
O locador responde ao locatário pela evicção.
locador. Todavia, se o vício for
aparente, considerase que o locatário
quis o bem viciad o, acertando o
aluguel justo em virtude do defeito. Contudo, parece ser mais razoável não exonerar o locador da garantia
dos vícios aparentes, a não ser que prove que deles o locatário ficou tendo conhecimento, porquanto ele
locador é quem, conhecendo melhor a existência de tais vícios, ou defeitos, deveria para eles chamar a
atenção do locatário.
ou querable. Logo, caberá
O aluguel é obrigação quesível
ao LOCADOR PROCURAR O
LOCATÁRIO para realizar a cobrança. As partes podem, entretanto, convencionar de forma diversa,
transformandoa em portável ou portable.
NÃO PODE SER RETIDO A PRETEXTO ALGUM, sob pena de incidir
O pagamento de aluguéis
alegando que a coisa locada se acha em mau estado, que o locador não fez as reformas prometidas ou que ela
não serve aos seus objetivos.
Art. 570: para ensejar a indenização, é indiferente que o dano provenha de ato seu ou de seus prepostos
ou de sublocatários.
Art. 571 (denúncia pelo locatário): se nada dispuser o contrato a respeito da cláusula penal, e se não
houver consenso entre as partes, a solução será o arbitramento judicial da multa.
cominada, seja contratualmente, seja judicialmente (L 8245/91, art. 4º).
A mora constituise de pleno direito com o advento do termo contratual; a n otificação serve
exclusivamente para afastar a presunção relativa de que, no silêncio do locador, presumese prorrogado o
contrato.
Direito de retenção: como meio de autotutela que é, somente se admite nos casos expressamente
previstos em lei.
DURANTE O EXERCÍCIO DO DIREITO DE RETENÇÃO PELO LOCATÁRIO, ESTE NÃO
principio da gravitação jurídica (v. art. 92, CC), a retenção do bem principal (coisa locada) presume a de seus
acessórios, no caso de seus frutos, dentre os quais se destaca o aluguel.
O exercício do direito de retenção, contudo, traz consigo a imposição de obrigações para o locatário,
tais como a conservação do bem locado, a restituição do bem ao fim da retenção e a indenização dos danos
eventualmente ocasionados ao bem por sua culpa.
Art. 573: a posse do locatário, que durante o contrato é justa e de boafé, depois da constituição em
mora passa a ser precária, ensejando o direito ao locador de utilizarse dos interditos possessórios,
especialmente a reintegração de posse, para defenderse. Ressaltese que nos casos de locação de imóvel
urbano, a ação apropriada será a de despejo (L 8245/91, art. 5º).
Duas são as condições, então, para que ocorra a prorrogação do contrato por prazo determinado, uma
vez terminado o termo ajustado: a continuação do locatário na posse do bem e a falta de oposição do locador.
Art. 575 (aluguelpena): a estipulação de valor totalmente arbitrário acarreta abuso do direito por parte
do locador (art.187). Dois fatores importarão para a fixação do valor do novo aluguel, sendo eles a
contraprestação e a penalidade.
Art. 576: havendo continuação do contrato, o adquirente subrogase em todos os direitos e obrigações
assumidas pelo locador originário, ou seja, o alienante.
benfeitorias do locatário.
O contrato por tempo indeterminado, em caso de morte de qualquer das partes, poderá ser denunciado,
aplicandose o disposto nos arts. 574575.
Só poderá o locatário exercer o direito de retenção estando quite com as obrigações que lhe competem
e, entre elas, a do pagamento do aluguel e da conservação da coisa locada.
O direito de retenção será exercitado sem limitação temporal. Isso é, enquanto não indenizado o
locatário, a retenção será legítima, não importando o decurso de tempo. Em sentido contrário, entendese que
o direito de retenção termina quando o valor das contraprestações acumuladas durante o prazo da retenção se
equipara ao valor das obras realizadas.
retenção ou indenização por benfeitorias.
Nas relações de consumo, é nula a cláusula que possibilite a renúncia do direito de indenizar por
benfeitorias necessárias”. [Tepedino]
CONTRATO DE EMPRÉSTIMO
A) Comodato: empréstimo de uso;
A) Mútuo: empréstimo de consumo [Tepedino].
“O comodato e o mútuo têm como principal característica a entrega de um bem para que seja utilizado
comodato”. [Tepedino]
CONTRATO DE COMODATO
Conceito: “É um contrato por meio do qual o comodante entrega ao comodatário determinado bem
INFUNGÍVEL, móvel
ou imóvel, para que dele se utilize de forma
GRATUITA, tendo a obrigação de
restituição a posteriori” [Tepedino]
Existe comodato de coisas
fungíveis? Excepcionalmente, com raiz no direito romano, admitese, sob a
denominação de COMODATO AD POMPAM VEL OSTENTATIONEM. EXEMPLO: pegar emprestado
um peru assado para enfeitar a mesa e devolver o mesmo peru.
Características
A) Contrato real: somente se perfaz com a tradição da coisa. “Não há necessidade de que o comodante
seja proprietário do bem, bastando que a ele incumba o uso do mesmo” [Tepedino]
A) Contrato unilateral: somente o comodatário tem obrigação.
comodatário obtém vantagens na realização do contrato. Admitese contrato modal, desde que não
vá ao ponto de erigirse em contraprestação” [Tepedino]
C) Contrato fiduciário: baseado na confiança.
D) Contrato temporário: (art. 581).
E) “Para Caio Mário, é bilateral imperfeito: a distinção entre os bilaterais imperfeitos e os bilaterais está
em que, nestes, as obrigações recíprocas existem desde a origem e são correlatas, enquanto naqueles
a obrigação de um dos contratantes advém ulteriormente e não guarda correspectividade com a do
controversa” [Tepedino]
F) “Das circunstâncias do caso concreto é que se deve concluir pela natureza intuitu personae ou não
do contrato” [Tepedino].
Posição do STJ sobre retomada
O COMODANTE PODE RETOMAR A COISA, porque o comodatário não tem direito real é um
mero possuidor precário da coisa.
ação de REINTEGRAÇÃO DE POSSE.
O comodante retoma o bem por meio de
O STJ tem adotado duas posições a respeito disso:
Comodato por Prazo Indeterminado: a notificação do comodatário é requisito para a possessória.
Julgamento 20/03/2003Data da Publicação/Fonte DJ 23.06.2003 p. 371 RJADCOAS vol. 49
INDETERMINADO EM PARTE DA ÁREA OBJETO DA REINTEGRATÓRIA. FALTA
PETITA E REFORMATIO IN PEJUS INOCORRENTES. CC, ARTS. 960, 1.250 E 1.252,
CPC, ART. 267, IV, VI E § 3º. PREQUESTIONAMENTO INSUFICIENTE. MATÉRIA
DE FATO. SÚMULAS NS. 282 E 356STF, E 211STJ.
I. Firmado pelas instâncias ordinárias que a área de 5.000m2 onde reside o réu decorreu
de ocupação autorizada pelos autores, é de se reconhecer a existência de comodato verbal,
por prazo indeterminado, de sorte que para a reintegração na posse do bem exigível a
imprescindível ao pedido reintegratório.
II. Tratandose de condição para a reintegração, possível ao réu suscitála em apelação
perante o Tribunal de 2º grau, que deveria, inclusive, conhecêla de ofício, não podendo a
notificação e estaria, assim, preclusa. III. Pedido reintegratório procedente, todavia, em
relação à área restante também alvo da mesma ação, de 15 hectares, fixado esse direito dos
autores com base na prova dos autos, que não tem como ser revista em sede especial, ao
teor da Súmula n. 7 do STJ. IV. Reconhecimento, por igual, da titularidade dos autores
sobre a área de 5.000m2 alvo do comodato, apenas que, para obter a posse, terão de
promover a prévia notificação e intentar novo procedimento. V. Não configura julgamento
extra petita, nem reformatio in pejus, a explicitação do acórdão da apelação, em sede de
embargos declaratórios, no tocante à definição das áreas compreendidas na decisão da
especial em toda a extensão pretendida pela parte, em face dos óbices das Súmulas ns. 282
e 356 do C. STF e 211 do STJ. VII. Recurso especial conhecido em parte e parcialmente
provido.
notificação, pode ingressar diretamente com a ação de reintegração de posse.
Julgamento 18/11/1997 Data da Publicação/Fonte DJ 21.09.1998 p. 165 LEXSTJ vol. 114
p. 93 RSTJ vol. 114 p. 272 RT vol. 760 p. 202 Ementa DIREITO CIVIL. COMODATO A
RECURSO ACOLHIDO. O comodato com prazo certo de vigência constitui obrigação a
termo, que dispensa qualquer ato do credor para constituir o devedor em mora (mora
"ex
re"), nos termos do que dispõe o art. 960 do Código civil.
Direitos e obrigações das partes
Art. 582. O comodatário é obrigado a conservar, como se sua própria fora, a coisa emprestada, não
podendo usála senão de acordo com o contrato ou a natureza dela, sob pena de responder por perdas
e danos. O comodatário constituído em mora, além de por ela responder, pagará, até restituíla, o
aluguel da coisa que for arbitrado pelo comodante.
Se o comodatário estiver
em mora pagará
“ ALUGUEL
”, MAS NÃO SE CONVERTE O
COMODATO EM LOCAÇÃO. O que a lei chama de aluguel na verdade são perdas e danos. A parte
final do artigo 582, ao se referir a “aluguel” está, em verdade, referindose às perdas e danos devidas ao
comodante em razão da mora.
O que o comodatário gastar no uso e gozo da coisa emprestada não poderá ser restituído (art. 584).
pode ser ressarcido o comodatário. O que a lei veda é a cobrança das despesas ordinárias, mas as
extraordinárias podem ser cobradas.
CIVIL E PROCESSO CIVIL. CONTRATO DE COMODATO. REFORMA DE IMÓVEL
CIVIL.NECESSIDADE DE REEXAME PROBATÓRIO. ACÓRDÃO ESTADUAL QUE
CONHECIDO.
I As despesas feitas pelo comodatário, com a fruição da coisa emprestada, nos termos do
art. 1254 do Código Civil, são as ordinárias, para sua conservação normal e manutenção
regular.
Despesas outras realizadas sem consentimento do comodante, ainda que impliquem na
mais valia do bem, só são indenizáveis se urgentes e necessárias, quando se classificam
como extraordinárias.
II – (...)
(REsp 249.925/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em
23/11/2000, DJ 12/02/2001, p. 113)
CONTRATO DE MÚTUO
Conceito: “O mútuo é o contrato por meio do qual uma pessoa (mutuante) transfere à outra (mutuário) a
propriedade de determinado bem fungível, sendo obrigação do mutuário a restituição de coisa do mesmo
gênero, quantidade e qualidade”. [Tepedino]
correm todos os riscos dela desde a tradição.
Essa responsabilidade é uma exceção geral à regra de que o alienante responde pelos riscos da coisa,
nos termos do artigo 447, NCC.
“Não poderá ter como objeto bens imóveis, apesar da possibilidade que as partes têm de caracterizar
como fungíveis os lotes de um terreno” [Tepedino]
“O MUTUANTE deve ser proprietário do bem objeto do contrato, na medida em que o que se
pretende com o mútuo é a transferência da propriedade dos bens fungíveis. Isso se dá devido à
incompatibilidade entre a conservação do bem e a faculdade de consumilo, essencial ao contrato de mútuo,
por isso mesmo denominado empréstimo de consumo. Se o mútuo for realizado por pessoa diversa do
proprietário do bem mutuado, o negócio será nulo” [Tepedino]
Características
a. Contrato real: somente se torna perfeito (existente) com a entrega da coisa. “Enquanto no mútuo
feneratício nada impede a configuração consensual, no mútuo dito gratuito, sem qualquer
contraprestação correspectiva, somente a efetiva entrega do bem poderá indicar a vontade dirigida à
contratação. Uma das características essenciais do mútuo é a transferência do domínio do bem
mútuo não se configura como contrato de alienação, como a compra e venda e a doação, na medida
em que a transferência do domínio é apenas uma forma de realizar a finalidade do contrato de
mútuo, que é o uso/consumo do bem mutuado. Por ser a coisa mutuada propriedade do mutuário, não
[Tepedino]
a. Contrato unilateral: só quem assume obrigações é mutuário.
b. Contrato pode ser gratuito ou oneroso: mesmo sem perder a sua característica de unilateralidade.
Se o mutuário tiver obrigação de devolver exatamente a quantia emprestada, é contrato gratuito
(é contrato benéfico, porque o mutuário não sofre prejuízo em seu patrimônio, não tendo que
remunerar o mutuante). É diferente do que acontece com o mútuo a juros, que se trata de um
contrato oneroso, mas com unilateralidade. Assim: o mútuo é gratuito, quando o mutuário, ao
devolver não sofre qualquer prejuízo; caso, entretanto, tenha que remunerar o mutuante, o mútuo é
FENERATÍCIO .
Restituição:
“NÃO CABEM, PARA A RESTITUIÇÃO DO BEM, AÇÕES POSSESSÓRIAS, na medida em
propriedade, em caso de não restituição do bem mutuado, duas medidas judiciais poderão ser intentadas:
cobrança da obrigação de dar ou fazer e o pagamento de perdas e danos pelo descumprimento de
obrigação” [Tepedino]
Art. 590. O mutuante pode exigir garantia da restituição, se antes do vencimento o mutuário sofrer
notória mudança em sua situação econômica. EXCEÇÃO DE INSEGURIDADE.
Mútuo feito a menor: arts. 588 e 589
CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇO
“Só é objeto da tutela do CC aquelas hipóteses de prestação de serviços entre particulares em qu
e não
haja um vínculo empregatício e que não perfaça uma relação de consumo.
Se houver dúvidas quanto à configuração da relação jurídica como sendo uma prestação de serviços ou
uma relação empregatícia, deverá prevalecer o entendimento de que se trata de contrato de trabalho, na
intenção de proteger o hipossuficiente.
Conceito: contrato mediante o qual uma pessoa se obriga a prestar um serviço a outra, eventualmente,
hierárquica.
O objeto de tal contrato é a atividade humana, tanto física quanto intelectual. Irá se diferenciar da
empreitada, que também é tipo de prestação de serviço, pois naquela existirá a atribuição de uma função
específica e a busca de um resultado por uma obra.
Faz parte da essência da prestação de serviços a remuneração. Nada impede que seja estabelecida a
remuneração não pecuniária, como, p. ex., a realização de outra obrigação de fazer, a ser cumprida pelo
tomador do serviço. O contrato, porém, tornase atípico.
Art. 598: nada impede que após os quatro anos, findo o contrato, este seja renovado pelas partes por
igual prazo. Não se admite a prorrogação tácita do contrato.
Art. 599: não será necessário o aviso prévio ou a denúncia nas hipóteses que configuram a justa causa
para a rescisão contratual, vez que a causa para o rompimento contratual está estabelecida legalmente. A
falta, porém, do aviso prévio, quando se impõe, acarretará o pagamento de perdas e danos por aquele que deu
causa, por inadimplemento da obrigação.
A contratação do prestador de serviço não necessita a ser realizada com a especificação daquilo que
deverá ser prestado.
As obrigações resultantes deste contrato não se transmitem aos herdeiros.
Art. 608: também se pode dizer que se trata de uma forma de defesa e proteção concorrencial. A
limitação da indenização por rompimento do contrato não é absoluta.
Art. 609: mais uma vez apresentase a exceção ao princípio da relatividade contratual, na medida em
que o novo proprietário do prédio agrícola não poderá se opor à escolha do prestador de serviços em
permanecer neste. Este é um direito potestativo que lhe cabe. Não se rescinde o contrato anterior, sendo ele
aproveitado”. [Tepedino]
CONTRATO DE EMPREITADA
“Conceito: é o contrato pelo qual uma das partes, o empreiteiro, se obriga a realizar uma obra
remuneração global ou proporcional ao trabalho realizado, sem que haja relação de subordinação ou vínculo
trabalhista entre ambos.
No silêncio do contrato, admitese que a obra seja executada por terceiro, desde que a contratação não
esteja vinculada a qualidades próprias do empreiteiro (subempreitada).
circunstância de considerar o resultado final – e não a atividade – objeto da relação contratual. Enquanto no
contrato puro e simples de prestação de serviços (locatio operarum) o objeto perseguido é o trabalho
humano, no contrato de empreitada o que se busca é a realização de uma obra (locatio operis), um resultado.
A remuneração (ou preço) é essencial. Não se exige o pagamento em dinheiro, sendo cabível qualquer
outro tipo de remuneração, podendo mesmo consistir em parte da própria obra.
Preço global ou forfaitário: remuneração pela obra inteira.
Empreitada por medida: o preço é fixado em função de cada uma das partes ou etapas ou em
determinada medida.
fornecer o material a ser usado na obra. Na empreitada mista, diversamente, fica a cargo do
empreiteiro, além do trabalho, fornecer o material necessário.
Concluída a obra, o dono é obrigado a recebêla, desde que executada conforme contratado. Portanto,
se o empreiteiro se afastou das instruções recebidas e dos planos dados, ou das regras técnicas pertinentes,
poderá o dono da obra a rejeitar, por não estar a seu contento, sem incidir em mora, continuando os riscos
por conta do empreiteiro. Só haverá mora do dono da obra caso o não recebimento seja infundado.
Caso nenhuma das partes seja culpada pelo perecimento da coisa, ambas sofrerão conjuntamente os
prejuízos: o dono perde o material entregue e o empreiteiro perde a retribuição pelo trabalho desenvolvido. O
empreiteiro não perderá sua remuneração somente se provar, simultaneamente, que: I) a perda resultou de
defeito dos materiais; e II) em tempo reclamara contra a sua quantidade ou qualidade.
Art. 614: não se devem confundir 'partes distintas' de uma obra, unidades de referência da obra, com
etapas dessas mesmas unidades. No primeiro caso, temse, p. ex., cada casa vista em relação a um conjunto
residencial, podendo ser considerada uma unidade de referência, uma parte distinta (uma das 'partes em que
se dividir'), que servirá de base para verificação. Já as etapas normalmente correspondem a estágios de
execução de cada parte distinta, cada unidade de referência, como o levantamento de paredes, colocação de
lajes ou telhados.
Art. 615: a mora do empreiteiro também pode constituir justa causa para o não recebimento.
sobre a obra realizada se o dono não efetuar o pagamento. Sobre o tema, desenvolveramse duas correntes
previstos em lei, por sua natureza de instrumento de autotutela, a exigir interpretação restritiva por tratarse
de exceção. Ausente a previsão legal, não aproveitaria à empreitada. O segundo entendimento, mais flexível,
admite o reconhecimento do direito de retenção, por analogia, em todos os casos em que estejam presentes
seus pressupostos. Serpa Lopes opta pela extensão do jus retentionis.
Art. 616: o abatimento caberá quando, mesmo verificada uma diminuição do valor, houver interesse
do dono da obra. A eventual valorização, não autorizada, não ensejará direito ao aumento da remuneração.
Art. 618: na jurisprudência, o dispositivo abrange também os defeitos que prejudicam a habitalidade
do edifício, não se limitando aos danos que acarretem ruína da construção. A disposição se dirige às
empreitadas mistas, ou seja, ao empreiteiro que, além de executar a obra, fornece os materiais necessários.
Não se aplica, portanto, esta disposição às empreitadas de lavor. Estabeleceu o CC aqui uma exceção à regra
de que cessa, com a aceitação da obra, a responsabilidade do empreiteiro.
Os vícios da construção (art. 618) devem ser ocultos e relacionados à solidez e segurança da obra.
Contra os vícios aparentes, se não ressalvados pelo dono da obra no momento do recebimento da obra, nada
poderá ser requerido, sendo certo que é de se presumirem como aceitos. Devem ser aqui incluídos não só os
vícios que afetem a estabilidade ou a duração da obra, mas também os que a tornem imprópria ao uso a que
se destinava. Para Caio Mário da Silva Pereira, o empreiteiro responde independentemente da idéia de culpa,
visto tratarse de uma garantia legal, motivo pelo qual o prazo não pode ser alterado pelas partes. Este parece
ser o melhor entendimento, já adotado por nossos tribunais.
O prazo de 5 anos é de garantia legal; o prazo de 180 dias é aplicável apenas após o fim do
qüinqüênio, visto que o disposto no parágrafo não tem o condão de afastar a garantia legal de prazo
irredutível de 5 anos prevista no caput.
decadencial), sendo de 3 anos, conforme o art. 206, par. 3º, V, CC. A questão da decadência em 180 dias não
atinge a pretensão do comitente de reparação pelos danos causados pelos defeitos de solidez e segurança que
está sujeita ao prazo prescricional de 3 anos, por se tratar de demanda condenatória. O prazo previsto na
norma em comentário (art. 618) para o exercício do direito é de decadência, se a pretensão for constitutiva,
como na ação de rescisão contratual. Se a pretensão a ser exercida, decorrente do direito previsto na norma,
for de natureza condenatória, caso da ação de responsabilidade civil, o prazo aqui previsto é de prescrição,
devendose aplicar o prazo prescricional geral previsto no art. 206, par. 3º, V, CC.
O preço estipulado pode sofrer variação em virtude da alteração do valor de seus componentes, como
materiais e mãodeobra, caso em que a empreitada se diz com reajustamento. Sendo a empreitada sem
reajustamento, o empreiteiro não terá direito a qualquer acréscimo do preço, ainda que haja modificação do
valor de seus componentes, visto que, sendo o empreiteiro um especialista, presumese que a terá calculado
na previsão dos acontecimentos, e não pode surpreender a outra parte com a exigência de quantia a maior
que o preço ajustado.
extraordinário, bem como o injustificado enriquecimento da outra parte. Basta para a aplicação do
dispositivo em comento a verificação objetiva da superveniente diminuição no preço do material ou da mão
deobra superior a 1/10 do preço global convencionado.
Art. 621: também a Lei 9.610/98 disciplina a matéria, considerando a obra intelectual protegida, os
projetos, esboços e obras plásticas concernentes à geografia, engenharia, topografia, arquitetura, paisagismo,
cenografia e ciência (art. 7º, X). No caso de projeto arquitetônico, o autor não poderá impedir modificações
em seu projeto. Poderá, contudo, repudiar a autoria de projeto alterado sem o seu consentimento durante a
execução ou após a renúncia (Lei 9.610/98, art. 24). O CC não revoga o disposto na Lei 9.610/98, mas
apenas possibilita ao autor do projeto impedir a execução da obra que está se distanciando do seu projeto,
restandolhe sempre a opção pelo repúdio e eventual indenização.
Não há previsão de solidariedade entre o autor do projeto e o empreiteiro.
Art. 623: tem o dono da obra o direito potestativo incondicionado de pôr termo à empreitada
contratada, sem declinar as razões para tanto.
O dono da obra tem o direito potestativo de resilir o contrato, sem necessidade de declinar sua
justificativa para tanto, ao passo que o empreiteiro tem, em contraste, o ônus de comprovar justa causa para
suspender a execução do negócio.
No contrato de empreitada, a morte não causa, em regra, o término do contrato. Em qualquer hipótese,
a morte do dono da obra não extinguirá o contrato”. [Tepedino]
CONTRATO DE DEPÓSITO
I – Depósito voluntário:
Conceito: Tratase
de um negócio jurídico por meio do qual o depositante transfere coisa móvel ao
depositário para que este guarde, conserve e devolva.
É um contrato originado na Grécia, alguns Estados admitem o depósito de bens imóveis (Portugal).
“O objeto do contrato é sempre um bem móvel e corpóreo” [Tepedino]
Características
A) Unilateral ou bilateral: quanto aos efeitos pode gerar obrigações para somente uma ou para ambas
as partes. Na sua forma pura, o contrato de depósito é unilateral. EXEMPLO: guardavolumes
gratuito é unilateral. Mas há contratos de depósito em que o depositante se obriga a remunerar o
consideram o depósito contrato bilateral imperfeito” [Tepedino]
A) Fiduciário: baseado na confiança. “É contrato celebrado intuitu personae, já que o depositário será
pessoa de confiança do depositante” [Tepedino]
B) Real: somente se torna perfeito com a entrega da coisa.
“A finalidade precípua do depósito é a guarda do bem para a sua posterior restituição, que pode ser
requerida pelo depositante a qualquer tempo (ad nutum), ainda que haja prazo determinado” [Tepedino]
“A jurisprudência, ainda que o tema não se encontre pacificado, tende a considerar a guarda de
automóveis em garagem como contrato de depósito (Súmula 130, STJ)” [Tepedino]
DANOS FURTO DE VEÍCULO OCORRIDO DURANTE O ESTACIONAMENTO EM VIA
ATIVIDADE SÚMULA 83/STJ DECISÃO AGRAVADA MANTIDA IMPROVIMENTO.
1. O empresário assume o dever de custódia e vigilância dos veículos de seus clientes.
Risco da atividade. Incidência da Súmula 83 desta Corte.
2. O agravo não trouxe nenhum argumento novo capaz de modificar a conclusão alvitrada, a
qual se mantém por seus próprios fundamentos.
3. Agravo Regimental improvido.
(AgRg no AREsp 74.422/SP, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado
em 13/12/2011, DJe 01/02/2012)
CUIDADO: Há posição recente do STJ no sentido de que o condomínio, assim como os
clubes recreativos, só responde por furtos ocorridos em seu interior se houver previsão
expressa da responsabilidade na respectiva convenção/estatuto! Nesse sentido:
AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. Ausente a Convenção de Condomínio, ou Regimento Interno do mesmo, inviável aferir se há
cláusula é condição para a responsabilização do condomínio nos termos da jurisprudência
pacífica desta Corte. Precedentes.
2. Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgRg no AREsp 9.107/MG, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA,
julgado em 18/08/2011, DJe 24/08/2011)
FURTO DE MOTOCICLETA NAS DEPENDÊNCIAS DE CLUBE SÓCIORECREATIVO.
ESTACIONAMENTO. INDENIZAÇÃO INDEVIDA.
essenciais ao julgamento da lide, apenas que com conclusões desfavoráveis à parte.
II. Inexistindo expressa previsão estatutária, não é a entidade sóciorecreativa, assim como
por igual acontece nos condomínios, responsável pelo furto de veículos ocorrido em suas
dependências, dada a natureza comunitária entre os filiados, sem caráter lucrativo.
III. Recurso especial conhecido em parte e provido. Ação Improcedente. (REsp 310.953/SP,
Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em 10.04.2007,
DJ 07.05.2007 p. 326)
Outra questão é que o estacionamento não responde por crime de roubo de clientes. Veja:
Terceira Turma
ESTACIONAMENTO PRIVADO.ROUBO DE DINHEIRO DE CONSUMIDOR NO ESTACIOANAMENTO É
ESTACIONAMENTO, O MESMO, NÃO É RESPOSNSÁVEL PELO ROUBO.
Não é possível atribuir responsabilidade civil a sociedade empresária responsável por estacionamento particular
e autônomo — independente e desvinculado de agência bancária — em razão da ocorrência, nas
dependências daquele estacionamento, de roubo à mão armada de valores recentemente sacados na referida
agência e de outros pertences que o cliente carregava consigo no momento do crime. Nesses casos, o
estacionamento em si consiste na própria atividade fim da sociedade empresária, e não num serviço assessório prestado
apenas para cativar os clientes de instituição financeira. Consequentemente, não é razoável impor à sociedade
responsável pelo estacionamento o dever de garantir a segurança individual do usuário e a proteção dos bens portados
por ele, sobretudo na hipótese em que ele realize operação sabidamente de risco consistente no saque de valores em
agência bancária, uma vez que essas pretensas contraprestações não estariam compreendidas por contrato que abranja
exclusivamente a guarda de veículo. Nesse contexto, ainda que o usuário, no seu subconsciente, possa imaginar que,
parando o seu veículo em estacionamento privado, estará protegendo, além do seu veículo, também a si próprio, a
responsabilidade do estabelecimento não pode ultrapassar o dever contratual de guarda do automóvel, sob pena de se
extrair do instrumento consequências que vão além do contratado, com clara violação do pacta sunt servanda. Não se
trata, portanto, de resguardar os interesses da parte hipossuficiente da relação de consumo, mas sim de assegurar ao
consumidor apenas aquilo que ele legitimamente poderia esperar do serviço contratado. Além disso, devese frisar que a
imposição de tamanho ônus aos estacionamentos de veículos — de serem responsáveis pela integridade física e
patrimonial dos usuários — mostrase temerária, inclusive na perspectiva dos consumidores, na medida em que a
sua viabilização exigiria investimentos que certamente teriam reflexo direto no custo do serviço, que hoje já é elevado.
Precedente citado: REsp 125.446SP, Terceira Turma, DJ de 15/9/2000. REsp 1.232.795SP, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 2/4/2013.
“A jurisprudência majoritária não caracteriza como contrato de depósito o estacionamento de veículos
em logradouros públicos” [Tepedino]
“O depósito de coisa alheia é permitido” [Tepedino]
“A devolução deve ser feita no local da guarda, ainda que o depositário tenha recebido ou retirado a
coisa na casa do depositante” [Tepedino]
somente poderá devolvêlo após o decurso do prazo estabelecido contratualmente. Quando nenhum prazo
tiver sido estabelecido, presumese o tempo necessário para a realização da finalidade do contrato, no
interesse do depositante” [Tepedino]
“Com a morte do depositante, pode o depositário adiar a restituição se não existe prova da qualidade
de herdeiro daqueles que requereram a restituição” [Tepedino]
art. 636: o depositário que não informar ao depositante a perda da coisa e não toma as medidas
cabíveis assume a responsabilidade por prejuízos que, em princípio, não teria. [Tepedino]
art. 640: se o intuito é a custódia da coisa e o uso é permitido para sua melhor conservação, haverá
depósito, podendo o depositante reaver o bem a qualquer momento. Sendo a utilização permitida no interesse
de quem recebe a coisa, haverá comodato, equivocadamente denominado depósito. [Tepedino]
art. 643: despesas indenizáveis são apenas as necessárias, isto é, destinadas à conservação do bem e a
evitar a deterioração da coisa. As despesas de natureza útil e voluptuária supõem o uso, que não é da
natureza do depósito. Se autorizado o uso, por exceção, não cabe exigir coisa alguma do depositante.
[Tepedino]
O não pagamento da remuneração, das despesas e dos prejuízos gera o direito de retenção do
depositário (art. 644). Se tais dívidas forem ilíquidas ou não se comprovarem provadas suficientemente:
caução idônea ou remoção da coisa para depósito público. [Tepedino]
sendo exigida apenas para fins de prova
A forma escrita não é da substância do ato (ad solemnitatem),
( ad probationem ) [Tepedino]
Depósito irregular (art. 645): “Aquele que tem por objeto bem fungível, sendo o depositário autorizado a
consumilo, com a condição de restituir coisa do mesmo gênero, qualidade e quantidade. Tem a
mesma disciplina do contrato de mútuo. Segundo Caio Mário, a fungibilidade do objeto não gera
necessariamente o depósito irregular, uma vez que é possível que se ajuste a devolução da mesma
coisa, ainda que fungível. Para ele, são dois os fatores que tornam irregular o depósito: a
beneficiar o depositário (fator anímico)” [Tepedino] . EXEMPLO: depósito bancário.
SUBSTITUIÇÃO POR DINHEIRO. SÚMULA 328/STJ.
circunstâncias do caso, sendo a executada instituição financeira com solidez reconhecida, é
de rigor que a penhora recaia sobre dinheiro, respeitadas apenas as reservas bancárias
mantidas pelo Banco Central. Súmula n.º 328/STJ.
2. Recurso especial provido.
(REsp 644.279/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado
em 17/06/2010, DJe 29/06/2010)
No que tange a prisão do depositário infiel, o STF, em 23/12/2009, editou a súmula vinculante 25 que
estabelece: “É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade de depósito”.
II – Depósito necessário:
Conceito: “Denominase necessário o depósito que se realiza por uma necessidade que atua imperiosa
miserável.
As hipóteses do inciso II do art. 647, CC, são manifestamente exemplificativas, dandose o depósito
miserável em quaisquer condições análogas. Indispensável que o depósito seja imposto por acontecimento
imprevisto que não permita ao depositante outra deliberação, sequer a escolha do depositário.
É miserável o depósito que se efetua por ocasião de alguma calamidade pública, nos termos do
art. 647 , II , do CC :
A prova da realização legal é a prevista na lei que o institui, mas o princípio é que deve ser provado
por escrito. Já o depósito miserável admite qualquer meio de prova.
Ao contrário do depósito voluntário, em que se presume a sua gratuidade, nos depósitos necessários a
presunção é de remuneração, na medida em que lhes falta o caráter de liberalidade, de serviço, de amizade ou
relações antigas” [Tepedino]
CONTRATO DE MANDATO
Conceito: “Relação contratual mediante a qual uma das partes (o mandatário) se obriga a praticar, em nome
e por conta da outra parte (mandante), um ou mais atos jurídicos. O mandato é uma espécie de
(mandante)”. [Tepedino]“Em diversos sistemas (Itália, Suíça e Alemanha), admitese o mandato sem
elemento essencial do mandato, a atuação do mandatário em nome próprio desnaturaria o mandato”.
[Tepedino]
“A despeito das controvérsias em torno do tema, admitese que o mandatário possa efetivamente praticar
atos que não revistam a forma de negócio jurídico. Em regra, qualquer ato jurídico poderá ser objeto
do contrato de mandato, exceto aqueles que somente pela própria pessoa podem ser praticados,
personalíssimos” [Tepedino]
pois se celebra em razão da pessoa do mandatário.
“O mandato é contrato intuitu personae,
O mandato presumese gratuito se não for estipulada remuneração. No entanto, caso o seu objeto
oneroso.
Não há dúvida de que o mandado, sobretudo quando oneroso, produz obrigações recíprocas.
A confiança que o permeia, contudo, impede que o mandatário vincule o cumprimento de sua obrigação ao
cumprimento das obrigações atribuídas ao mandante. Sua natureza unilateral resulta precisamente da
causalidade ou de funcionalidade entre as obrigações, de forma que uma seja a razão jurídica da
outra. Não se aplica, por isso mesmo, no caso do mandato, a exceção do contrato não cumprido,
extinguindose o mandado tãosomente nas hipóteses previstas pelo legislador.
Registrese, ainda, a classificação do mandato como um contrato preparatório, habilitando o mandatário para
a prática de certos atos que não estão nele contidos, de modo a conferirlhe poderes para executálo.
Repete o CC a autorização para que os menores relativamente incapazes possam atuar como mandatários,
independentemente da assistência de seus representantes legais”. [Tepedino]
Procuração: “A procuração constituise negócio jurídico autônomo, abstrato e unilateral, pelo qual o
representado outorga ao representante os poderes de representação: é o instrumento 4 de outorga da
representação” [Tepedino]
nome do outorgante, diferenciandose, nesse aspecto, do mandato, em que o mandatário tem a obrigação de
praticar atos jurídicos no interesse do mandante. A procuração tornase o expediente pelo qual o mandatário
faz ver a terceiros, com quem contrata, o conteúdo e a extensão dos poderes de representação que lhe foram
mandato, visto que objetiva outorgar os poderes de representação, a fim de que o ato praticado pelo
representante vincule o representado, como se este próprio tivesse realizado pessoalmente o negócio”.
[Tepedino]
A procuração pode ser elaborada por um instrumento particular ou público. “Nada impede que a
procuração seja verbal. Entretanto, a procuração se vinculará à forma sob a qual se realiza o ato a que o
contrato de mandato se destina” [Tepedino]. Se o ato tiver que ser celebrado por escrito, não se admitirá
mandato verbal (art. 657).
revista da mesma formalidade do ato a ser praticado pelo mandatário. Embora da literalidade do art. 655 se
extraia a idéia de que o substabelecimento poderá revestir a forma particular em qualquer hipótese, devese
interpretar o dispositivo sistematicamente com o art. 657, entendendo que o substabelecimento poderá
revestir a forma particular tãosomente nas hipóteses em que o ato objeto do mandato e, por conseguinte, a
procuração, não exigir a forma pública, tendo sido ela utilizada apenas facultativamente pelos interessados”
[Tepedino]
Pela regra anterior, somente a procuração judicial não precisava ter a assinatura reconhecida em
cartório. Atualmente, o NCC não exige que seja feito o reconhecimento de firma. Mas pode o terceiro exigir.
Assim, em regra, a procuração particular não tem mais reconhecimento de firma da assinatura.
4 Instrumento é a materialização do contrato. Em alguns contratos, o instrumento (papel que é escrito o contrato)
tem um nome próprio. EXEMPLO: a apólice é o instrumento do contrato de seguro.
Contrato consigo mesmo: “O negócio celebrado consigo mesmo é anulável, salvo se houver autorização da
lei ou do representado. A jurisprudência consagrou o entendimento de que o contrato consigo mesmo
deve ser admitido, desde que não haja patente conflito de interesses ou vedação pelo mandante”.
[Tepedino]
Mandatário x Comissário: “Ambos agem por conta de outrem, mas só o mandatário atua em nome
alheio”[Tepedino]
Mandato outorgado por incapaz: “Há que se regular as hipóteses em que se faz indispensável, para a
melhor tutela do interesse do absolutamente incapaz, a celebração de contratos de mandato ou,
simplesmente, a outorga de poderes representativos. Nestes casos, com efeito, o representante legal
poderá, ele próprio, atuar como mandante, outorgando poderes a representante que, em última
análise, ao agir em nome e por conta do representante legal, representará e tutelará os interesses do
incapaz. Admitese, por outro lado, que o relativamente incapaz outorgue poderes representativos,
mas com a imprescindível interveniência de seu representante legal, que o assistirá (concorrência de
vontades) e, juntamente com ele, dará o instrumento de outorga de poderes (procuração). Neste
ponto, a maioria da doutrina entende que a procuração deverá ser revestida da forma pública.
instrumento particular” [Tepedino]
Pluralidade de partes
Havendo pluralidade de mandantes, haverá solidariedade entre eles (art. 680). “O vínculo de
solidariedade limitase à relação interna do mandato, ou seja, aos mandantes em relação ao mandatário, não
se estendendo à relação externa, isto é, aos terceiros com quem o mandatário contrata em nome dos
mandantes” [Tepedino]
Havendo pluralidade de mandatários, há as seguintes situações:
1. MANDATO EM CONJUNTO: todos os mandatários têm que fazer juntos;
1. MANDATO DISJUNTIVO: qualquer um dos mandatários pode cumprir;
2. MANDATO SUCESSIVO: somente poderá ser cumprida a obrigação depois que uma primeira
obrigação for cumprida, cada um tem a sua obrigação, mas existe uma ordem de preferência.
Atenção: nos termos do art. 672, o mandato outorgado a vários mandatários presumese como
solidário, ou seja, “cada mandatário pode agir por si, como se fosse o único. Desejando dispor de modo
diverso, deverá o mandante consignar expressamente no instrumento” [Tepedino]
Classificação do mandato:
MANDATO JUDICIAL (CLÁUSULA AD JUDICIA): é o mandato para advogado atuar em juízo.
Pode ser para o foro em geral (artigo 53, CPC) ou para administração geral (artigo 661).
MANDATO EXTRAJUDICIAL (CLÁUSULA
AD NEGOTIA):
MANDATO ESPECIAL: “aquele que se relaciona à prática de um ou mais negócios determinados e
especificados no instrumento. Não se admite, nesses casos, por analogia, a prática de atos diversos
dos contidos na procuração” [Tepedino]
MANDATO GERAL: “é o mandato relativo a todos os negócios do mandante, sem especificação.”
[Tepedino]
MANDATO EM TERMOS GERAIS: “alude à prática de atos genéricos, não especiais. Entendese
[Tepedino]
MANDATO COM PODERES ESPECIAIS: “é aquele outorgado para os fins que ultrapassam a
administração ordinária (alienar, hipotecar, etc)” [Tepedino]
Direitos e obrigações das partes:
“Em regra, somente os atos praticados dentro dos limites dos poderes outorgados pela procuração
vincularão o representado. Nesse sentido, os atos praticados com excesso de poderes, isto é, sem poder de
representação ou por quem não tenha mandato, serão ineficazes em relação ao mandante, considerandose o
mandatário mero gestor de negócios. Ressaltese, ainda, que por estes atos poderá o representante responder
pessoalmente perante terceiros.
Há abuso quando o mandatário usa, conscientemente, os poderes que tem, sem os exceder, mas de
forma a infringir as instruções ou a vontade do mandante.
Considerase aparente o mandato estipulado por alguém que se apresenta como mandatário,
suscitando a percepção de agir em nome e no interesse de um mandante. Uma vez caracterizada como
justificável a confiança do terceiro naquilo que afinal se revelou mera aparência, reputarseá válido o ato e
vinculado o suposto mandante ao terceiro. Tal ônus somente se justifica se o representado contribuiu com
sua ação ou omissão para a produção da situação geradora da confiança.
Tratandose efetivamente de contrato de mandato, a não atuação em nome do mandante configura
inadimplemento, independentemente de ter o mandatário atuado por conta (e no interesse) do mandante.
Consequentemente, sobrevindo danos ao mandante, por força de tal inadimplemento, o mandatário deverá
indenizálo.
O mandatário encontrase pessoal e exclusivamente obrigado para com o terceiro se, com este,
celebrar negócio em seu próprio nome.
Da interpretação conjunta destes dispositivos, extraise que o mandatário tem o direito de reter, do
objeto da operação que lhe foi cometida, tudo o que lhe for devido em virtude do mandato, incluindose sua
remuneração ajustada e reembolso de despesas.
O dever do mandatário de prestar contas transmitese aos seus herdeiros.
O ato praticado fora dos poderes do mandato não vincula o mandante (art. 662), embora este se
obrigue pelos atos praticados pelo mandatário em desacordo com as instruções recebidas, desde que nos
limites dos poderes conferidos.
independentemente da obtenção efetiva dos resultados esperados pelo mandante. O que se exige é que o
mandatário tenha cumprido bem seus deveres, tais quais as instruções recebidas [obrigação de meio]
Art. 677: entendese, majoritariamente, que estes juros são compensatórios, correndo, portanto, da data
em que o mandatário demonstrar que fez o desembolso.
Art. 678: a obrigação do mandante beneficiará os herdeiros do mandatário, caso este faleça em
decorrência de acidente sofrido na execução do mandato.
Pelos atos culposos do mandatário o mandante também responderá perante terceiros, desde que o dano
tenha sido provocado no cumprimento do mandato e dentro dos limites deste. A hipótese caracterizará
solidariedade passiva (art. 275), ressalvado para o mandante o direito de regresso em face do mandatário (art.
285)” [Tepedino]
Submandato
O instrumento do submandato é o substabelecimento. O submandato é acessório ao mandato, assim a
nulidade deste determina a nulidade aquele.
Em princípio é possível o submandato, exceto em dois casos:
existência de vedação na procuração;
natureza da obrigação, (personalíssima = características pessoais do mandatário).
O EOAB não permite a outorga de mandato para a sociedade de advogados.
O substabelecimento pode ser feito com (tanto o submandante quanto o submandatário podem praticar
o ato) ou sem reserva de poderes (só quem pode praticar o ato é o submandatário).
poderes, passa a existir uma relação contratual direta entre o mandante e o substabelecido, que, assim,
também se torna mandatário. Neste caso, em regra, o substabelecente ficará isento de responsabilidade no
que diz respeito aos atos praticados exclusivamente pelo substabelecido. Exceção haverá apenas há hipótese
de ter agido o substabelecente com culpa
in eligendo.
No silêncio da procuração, não tendo o mandatário poderes expressos para substabelecer, caso o faça,
terá ele responsabilidade perante o mandante pelos atos praticados pelo substabelecido dolosamente.
Existindo vedação expressa pelo mandante a respeito do substabelecimento, o mandatário, caso viole
tal disposição, responderá não só pelos atos do substabelecido, mas também por todos os outros danos, cuja
causa será presumidamente atribuída ao substabelecimento, até mesmo pelo fortuito, salvo prova em
contrário, cujo ônus cabe exclusivamente ao substabelecente. Indo além destas sanções, inova o CC ao
reputar ineficaz, perante o mandante, os atos praticados pelo substabelecido em expressa violação à cláusula
que vedava o substabelecimento”. [Tepedino]
Extinção do mandato
REVOGAÇÃO: o mandato é extinto por determinação do mandante. “O mandante não é obrigado a
explicar os motivos que o levaram à revogação do mandato, nem pode o mandatário insurgirse, alegando
que ela é injusta, caprichosa, infundada, intempestiva, fruto da cólera e do ressentimento. O único direito que
o mandatário tem é o de receber a competente remuneração, além das eventuais perdas e danos. Não obstante
ressarcir os prejuízos causados pelo mandatário. Podem as partes convencionar a irrevogabilidade dos
poderes outorgados ao mandatário. Contudo, por tratarse de contrato fundado na confiança, tem o mandante
a faculdade de revogálo unilateralmente a qualquer tempo, a despeito da cláusula de irrevogabilidade. A
procuração geral para todos os negócios não revoga a especial anterior, se a ela, expressamente, não se
referir, e a especial posterior só revoga a geral anterior no que concernir ao seu objeto peculiar” [Tepedino]
não tem o condão de tornála ineficaz, mas sujeita o mandatário renunciante a indenizar o mandante pelos
prejuízos causados. A renúncia será sempre expressa” [Tepedino]
MORTE DE QUALQUER DAS PARTES: “determina a extinção do contrato, não sucedendo em tal
relação contratual os herdeiros da parte falecida. Diante da morte do mandante, são reputados válidos os
negócios firmados com os terceiros de boafé enquanto a ignorar o mandatário. Caso se configure, ao revés,
a máfé do representante, que contrata com terceiros de boafé, valerá o ato, mas responderá o mandatário
por perdas e danos perante os herdeiros do mandante. Por outro lado, o mandatário deverá concluir o negócio
já iniciado se houver perigo na demora. Em caso de morte do mandatário, seus herdeiros deverão comunicá
continuidade caso haja perigo na demora, com observância dos limites de ação a que o próprio de cujus se
encontrava sujeito”. [Tepedino]
Procuração em causa própria (art. 685)
“Instituiuse a procuração in rem propriam. Por ela, o credor não cedia a sua obrigação, mas
outorgava, a quem desejava transmitila, poderes para demandar o devedor o seu adimplemento. Executado e
recebido o débito, o mandatário in rem propriam ficava com o respectivo valor para si. Ou seja, o mandatário
em causa própria constituíase, a rigor, em um cessionário da ação, possuía o dominus litis.
A maior parte dos autores entende que a procuração em causa própria equivale, em seus efeitos, a uma
cessão de direitos. Investe o mandatário na qualidade de titular dos direitos transferidos, não sendo apta,
posteriormente, a propriedade, a procuração em causa própria deve conter todos os requisitos exigidos para o
móveis; a transcrição, para os imóveis.
significará a extinção do mandato em causa própria. Prescinde o mandato em causa própria de prestação de
contas do mandante.
Art. 690: cuidandose de mandato em causa própria, os herdeiros sucedem nos direito do mandatário.
Por isso mesmo, não tem necessidade de dar aviso ao mandante, nem a sua ação fica restrita às medidas
conservatórias e de urgência. São donos do negócio por direito de sucessão” [Tepedino]
CONTRATO DE COMISSÃO
“Restringese seu objeto à aquisição ou venda de bens, não mais a qualquer negócio mercantil, como o
fazia o art. 165 do Código Comercial.
Terseá por caracterizada a comissão se alguém, à conta de outrem, se obriga a realizar negócio de
compra e venda em nome próprio, independentemente da natureza da operação (comercial ou civil) ou,
ainda, sem considerar a qualidade de comerciante de qualquer das partes.
O dispositivo não exige habitualidade, tampouco que o comissário exerça profissionalmente suas
atividades, já que o contrato de comissão pode assumir natureza diversa da mercantil.
Caracterizase por ser contrato intuitu personae.
O contrato de comissão diferenciase do contrato de agência, pois o agente não realiza em seu próprio
nome o negócio, mas apenas promove sua realização. Por outro lado, na agência o âmbito dos negócios a
promover vai além da simples aquisição ou venda de bens, objeto da comissão.
Enquanto o corretor atua com imparcialidade, intermediando a avença que será concluída pelos
contratantes, é o próprio comissário quem celebra o contrato, fazendoo em nome próprio e no interesse
de outrem.
O comissário atua em nome próprio, ao passo que o mandatário age em nome do mandante.
O comissário, perante terceiros, figura como o único responsável por todas as obrigações assumidas e
goza de todos os direitos resultantes dos contratos celebrados.
O comitente não é parte na relação jurídica que se estabelece entre o comissário e os terceiros com
quem contratar.
Art. 696: há duas espécies de instruções: a de caráter imperativo e as chamadas instruções facultativas
ou meramente indicativas. Enquanto as primeiras são obrigatórias, devendo, necessariamente, ser obedecidas
pelo comissário, as segundas dão liberdade de apreciação ao comissário. Nesse passo, poderá o comissário
seputálas na medida em que as julgue menos acertadas ou consentâneas ao negócio.
Cláusula del credere (art. 698): tratase de estipulação de garantia especial do comitente – verdadeiro
pacto acessório à própria comissão – pelo qual o comissário assume, pessoalmente, todos os riscos do
negócio que lhe incumbe realizar à conta do comitente. Com isso, o comissário responsabilizase
solidariamente.
A responsabilidade do comissário, mesmo diante da cláusula del credere, não é ilimitada, sendo
excluída no caso de culpa do comitente. Na hipótese de força maior, afastase, em regra, a responsabilidade
do comissário.
Art. 701: a remuneração não se afigura condicionada à efetiva execução do contrato celebrado pelo
comissário, nascendo o direito deste àquela com a simples conclusão do negócio.
A comissão consiste em geral em uma soma calculada sobre a importância da operação e varia com a
qualidade da negociação.
Cabe ao comitente indenizar o comissário por eventuais prejuízos que este experimentar em razão do
desempenho da comissão.
Qualquer comportamento culposo do comissário que afaste a fidúcia nele depositada pelo comitente
significará, de per se, justa causa para que este revogue, ao seu alvedrio, o contrato de comissão.
Adiantando o comissário, por sua conta, o valor correspondente às despesas com o contrato, caberá ao
comitente ressarcilo.
O crédito do comissário, relativo a comissões e despesas feitas, goza de privilégio geral, no caso de
falência ou insolvência do comitente.
O comissário terá direito de reter os bens ou valores que estiverem em seu poder por decorrência do
contrato de comissão, até o efetivo pagamento de tudo o que lhe for devido em decorrência do contrato, ou
seja, remuneração, juros e despesas incorridos no desempenho de suas funções” [Tepedino]
CONTRATO DE AGÊNCIA E DISTRIBUIÇÃO
“Para que se configure o contrato de agência, mostrase indispensável:
a. que uma parte tenha se obrigado a promover certos negócios à conta da outra (o agente, desse modo,
apenas promove as atividades do agenciado, sem necessariamente representálo);
a. que a obrigação assumida seja desempenhada de forma habitual (caráter não eventual);
independentemente de sua efetiva extensão, desde que seja certa;
c. que pelos serviços prestados decorra o direito a uma remuneração, por ser o contrato de agência um
contrato oneroso;
d. que não haja qualquer vínculo de dependência (relação de emprego, prestação de serviços,
subordinação hierárquica ou dependência econômica) entre as partes.
A parte deve desenvolver profissionalmente a atividade objeto do contrato de agência. Não há,
contudo, limitação quanto à natureza dos serviços prestados.
Não é necessário que agente e agenciado ou proponente sejam empresários. Vejase, p. ex., o agente
de um desportista profissional, de um escritos ou escultor.
O distribuidor, tendo a mercadoria à sua disposição, seja por têla adquirido, seja por ter sido
autorizado , age com independência na promoção de negócios e assume, ele próprio, a responsabilidade
pelos negócios que celebra.
Art. 710, par. Único: tal outorga de poderes específicos faz incindir sobre o contrato de agência as
normas referentes à representação (art. 115 e ss) e, em se tratando de atividade empresarial, a disciplina da
Lei 4886/65 (representação comercial), o que, todavia, não desnatura a figura da agência.
Art. 711: a prerrogativa de exclusividade, tanto do agente, como do proponente, não configura
elemento essencial à relação de agência, pelo que pode existir ou não, sem que, contudo, seja alterada a
figura contratual típica.
A cláusula de exclusividade pressupõe a total identidade dos negócios agenciados.
Se um agente tem sua zona invadida, deverá receber as comissões referentes aos valores dos negócios
ali executados, salvo disposição contratual em sentido contrário.
Art. 714: a remuneração fazse devida ao agente desde o momento em que se verificar a conclusão do
negócio. Assim, não basta a simples interferência do agente, mesmo que efetiva, em negócios que, ao final,
sejam abandonados.
Presumese que, salvo justo motivo, cumpre ao proponente efetivamente realizar os negócios
encetados pelo agente.
Art. 715: a hipótese do dispositivo não cuida de causa automática de resolução contratual, a qual
poderá ou ão ocorrer, segundo a conveniência do agente.
Art. 718: a força maior não afasta a indenização invocada pelo dispositivo, já que alude à dispensa
sem culpa do agente. Além disso, dificuldades financeiras ou desativação da indústria também não podem
ser vislumbradas como justa causa para a dispensa do agente [Tepedino].
CONTRATO DE CORRETAGEM
“Características típicas do contrato de corretagem:
a. que uma pessoa assuma a obrigação, perante outra, de obter, para esta, um ou mais negócios;
a. que não exista entre as partes, no que tange especificamente à obrigação assumida, vínculo
decorrente de mandato, de prestação de serviços ou de qualquer outra relação de dependência;
b. que seja estipulada, implícita ou explicitamente, uma remuneração (art. 724), sem o que não haverá,
a rigor, contrato algum entre as partes, mas simples colaboração entre pessoas, movidas por
interesses sociais próprios e particularizados.
Não se exige do corretor habitualidade ou profissionalidade no desempenho especifico da obrigação
por ele assumida.
O mandatário se investe de poder para praticar atos ou administrar bens em nome do mandante, sendo
lhe essencial o poder de representação. Já na corretagem, atua o intermediário com independência e em nome
próprio, não se configurando, deste modo, representação. A representação mostrase incompatível com a
intermediação, na medida em que o representante defende interesses de um cliente, não podendo estar isento
para expor as qualidades e defeitos do bem a ser negociado.
O corretor atua de forma imparcial e apenas quando é solicitado, diferentemente do que ocorre no
outrem.
O corretor imprime esforços por sua conta e risco, somente recebendo remuneração se houver o
busca da conclusão do negócio, que acaba por não se perfazer.
No contrato de corretagem, ainda que tenha sido estipulada a chamada exclusividade, não haverá
necessidade de outorga uxória.
Obrigação de resultado: o corretor assume a obrigação de obter o negócio para o cliente. O contrato de
corretagem tem por objeto, não o serviço do corretor considerado nele próprio, mas, a rigor, o efetivo
resultado deste mesmo serviço.
O CC sujeita a remuneração do corretor à conclusão do negócio, desvinculandoa da efetiva e regular
execução deste.
obtida pelo corretor, que extrapola o preço fixado.
As partes podem estabelecer, no contrato de corretagem, a exclusividade de atuação do corretor para a
obtenção do negócio. Assim procedendo, uma vez obtido o negócio, ao corretor caberá a remuneração
integral, mesmo que não tenha ele concorrido para sua celebração, afastandose o direito a tal remuneração
na hipótese de desídia ou ociosidade do corretor” [Tepedino].
CONTRATO DE TRANSPORTE
“O contrato de transporte é aquele pelo qual uma pessoa se obriga, em troca de uma contraprestação, a
receber pessoas ou coisas, animada ou inanimadas, e leválas até o lugar de destino, com segurança, presteza
e conforto, por meio terrestre, marítimo ou aéreo.
No contrato de fretamento, atribuemse o uso e a fruição do navio, automóvel, ônibus, aeronave ou
conduzir, de um lugar para outro, pessoas e/ou coisas.
Não se confunde, igualmente, com o contrato de praticagem, o qual consiste no serviço auxiliar do
transporte aquaviário, que tem por fim a condução de embarcações em zonas perigosas à navegação (trechos
de costa, barras, portos, canais, lagoas, rios), realizadas por pessoas conhecedoras do local, denominadas
'práticos'. Tratase de uma locação de serviços formada pela troca de sinais, que se conclui quando o prático,
percebendo o sinal de chamada do capitão, se dirige ao encontro da embarcação.
Permanecem em vigor, no âmbito do transporte aéreo nacional, o Código Brasileiro Aeronáutico, bem
como, no tocante ao transporte aéreo internacional, a Convenção de Varsóvia.
Do contrato de transporte deflui a obrigação de
resultado, recaindo sobre o transportador o dever de
entregar as pessoas ou coisas transportadas no estado em que as recebeu, tomando todas as precauções
possíveis para oferecer transporte seguro e com o mínimo de suscetibilidade possível a riscos.
pagamento do frete ou passagem.
As cláusulas de não indenizar são instituídas com o intuito de permitir que uma das partes do contrato
se subtraia das conseqüências patrimoniais advindas de dano que lhe seria imputável, afastando, deste modo,
os efeitos legais que se produziriam na ausência dessa estipulação. Compreendem tanto as cláusulas que
excluem ou exoneram de forma total o dever de reparar, quanto as que limitam parcialmente esse dever, o
que pode ocorrer por meio da fixação de determinado patamar indenizatório. Mesmo anteriormente à
cláusula de não indenizar'. Entretanto, não se encontram indiscriminadamente condenadas todas as cláusulas
de limitação da responsabilidade do fornecedor. Isso porque a violação ao princípio da reparação integral
apenas se configura quando observada a desproporção entre direitos e obrigações, vale dizer, a desvantagem
exagerada pelo consumidor gerada pela limitação da responsabilidade do fornecedor.
Nos termos do entendimento majoritário, deve prevalecer, no campo do transporte nacional, o
princípio constitucional de defesa do consumidor, o que afasta a aplicabilidade dos artigos do CBA, que
prevêem, em nível infraconstitucional, limites ao dever de indenizar, oriundo da relação de consumo. Da
mesma forma, o CDC aplicase ao transporte aéreo internacional, prevalecendo sobre a Convenção de
Varsóvia em caso de conflito.
1. O Superior Tribunal de Justiça entende que a responsabilidade civil das companhias aéreas
em decorrência da má prestação de serviços, após a entrada em vigor da Lei 8.078/90, não é mais
regulada pela Convenção de Varsóvia e suas posteriores modificações (Convenção de Haia e
Convenção de Montreal), ou pelo Código Brasileiro de Aeronáutica, subordinandose, portanto,
TURMA, julgado em 19/04/2012, DJe 10/05/2012)
ABALO MORAL EM RAZÃO DO CENÁRIO TRÁGICO. QUEDA DE AVIÃO NAS CERCANIAS
PREVALÊNCIA DESTE. PRESCRIÇÃO, TODAVIA, RECONHECIDA.
1. A Segunda Seção sufragou entendimento no sentido de descaber a aplicação do prazo prescricional
geral do Código Civil de 1916 (art.177), em substituição ao prazo específico do Código de Defesa do
Consumidor, para danos causados por fato do serviço ou produto (art.27), ainda que o deste seja mais
exíguo que o daquele (Resp 489.895/SP, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, SEGUNDA
SEÇÃO, julgado em 10/3/2010).
danos por fato do serviço (art. 17, CDC).
3. O conflito entre o Código de Defesa do Consumidor e o Código Brasileiro de Aeronáutica
que é anterior à CF/88 e, por isso mesmo, não se harmoniza em diversos aspectos com a diretriz
constitucional protetiva do consumidor , deve ser solucionado com prevalência daquele (CDC),
porquanto é a norma que melhor materializa as perspectivas do constituinte no seu desígnio de
conferir especial proteção ao polo hipossuficiente da relação consumerista. Precedente do STF.
4. Recurso especial provido.
(REsp 1281090/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
07/02/2012, DJe 15/03/2012)
único bilhete. Todavia, mesmo havendo um só contrato de transporte, cada transportador se vincula
diretamente ao transportado de acordo com o trajeto que lhe incumbiu.
O transporte cumulativo não se confunde com o transporte combinado, também chamado segmentado
ou sucessivo, definido como aquele no qual um dos transportadores, quase sempre o inicial, assume em
nome próprio, perante o cliente, a obrigação relativa ao percurso que lhe cabe, bem como de contratar, por
conta do cliente, outro (s) transporte (s), vinculando, ainda os transportadores sucessivos, que, por sua vez,
obterão a vinculação dos seguintes. Em outras palavras, no transporte combinado os percursos são
claramente identificáveis e atribuíveis a cada transportador, não ensejando responsabilidade solidária. Cada
dívida de transporte se extingue com a entrega ao transportador seguinte, de modo que não se supõe a mesma
vinculação básica que imponha a unidade do contrato. Já o transporte cumulativo é marcado pela unicidade
do contrato e pluralidade de transportadores, os quais ficam todos vinculados perante o viajante ou titular dos
responderão solidariamente os transportadores pelo dano causado na execução do contrato.
Transporte multimodal de cargas é aquele que, regido por um único contrato, utiliza duas ou mais
modalidades de transporte, desde a origem até o destino, e é executado sob a responsabilidade única de um
operador de transporte multimodal.
I – Do transporte de pessoas:
Art. 734: vedação à cláusula de não indenizar.
A responsabilidade civil do transportador em relação ao transporte de pessoas prescinde da verificação
de culpa, sendo suficiente a demonstração da relação causal entre a atividade e o dano, salvo motivo de força
maior.
O transporte das bagagens do passageiro ou viajante entendese incluso no preço da passagem, salvo
se houver cláusula em contrário, ou se exceder o máximo em peso do tamanho (usualmente denominado
franquia). Mesmo que haja pagamento à parte, o contrato é um só.
transportador, podendo ele exigir a declaração do valor da bagagem, a fim de fixar o limite da indenização, o
qual, malgrado isso, não pode ser reduzido a tal ponto de tornar inócua a reparação, situação essa que,
verificada a relação de consumo, incide na vedação do art. 51, I, CDC.
fortuito ou força maior, a culpa exclusiva da vítima e, em alguns casos, o fato de terceiro, quando este for
equiparável ao fortuito externo.
Art. 735: porque o fato culposo de terceiro se liga ao risco do transportador, relacionase com a
organização do seu negócio, caracterizando o fortuito interno, que não afasta a sua responsabilidade. O
mesmo não ocorre com o fato doloso de terceiro, o qual não pode ser considerado fortuito interno, eis que,
além de absolutamente imprevisível, não guarda qualquer relação com o risco do transportador, em se
tratando de fato estranho à organização e à atividade do seu negócio, pelo qual não pode responder, diante do
que se caracteriza como fortuito externo, excluindo o próprio nexo causal.
jurisprudência prevalecente entende que o fato exclusivo de terceiro, quando doloso, caracteriza o fortuito
externo, estranho aos riscos do transporte. A matéria, entretanto, é polêmica, havendo no STJ acórdãos em
ambos os sentidos.
Os tribunais têm entendido que o fato de a vítima viajar como pingente – pendurada em portas e
janelas de trens e ônibus – não elide a responsabilidade do transportador, pois este tem a obrigação de
exercer a necessária vigilância e dar as condições indispensáveis para que o s passageiros viajem em
segurança. Assim, apenas em hipóteses excepcionais tal prática configurará fato exclusivo da vítima, a
exemplo 'surfismo ferroviário', quando o passageiro, podendo viajar no interior do trem, se expõe
voluntariamente a grave risco, optando por viajar no teto e sujeitandose aos riscos.
Súmula 145, STJ: “No transporte desinteressado, de simples cortesia, o transportador só será
civilmente responsável por danos causados ao transportado quando incorrer em dolo ou culpa grave”.
Art. 737: deve prevalecer, no caso de transporte aéreo, o art. 230, CBA, em cujos termos, se houver
atraso da partida por mais de 4 horas, o transportador deverá providenciar o embarque do passageiro em vôo
que ofereça serviço equivalente para o mesmo destino, ou restituirá de imediato, se o passageiro preferir, o
valor do bilhete de passagem.
Art. 739: o regulamento a que faz referência o Código não é aquele elaborado unilateralmente pelo
transportador, de acordo com o seu exclusivo interesse, sob pena de se admitir a prática de abusos. O termo
regulamento é utilizado no sentido de ato normativo. Em face de caso fortuito ou força maior prevalece o
direito do passageiro à restituição do valor da passagem.
Tendo o transportador se obrigado a transportar o passageiro de um lugar para o outro, não poderá se
elidir desta obrigação, mesmo que a impossibilidade de cumprila derive de caso fortuito ou força maior.
Art. 742: não se trata de penhor legal, como ocorre em relação aos hoteleiros (art. 1467, I, CC),mas de
direito de retenção sobre a bagagem do passageiro.
II – Do transporte de coisas.
O contrato de transporte de coisas pode ser definido como aquele pelo qual uma das partes (expedidor
ou remetente) encarrega outra (transportador) de deslocar determinada mercadoria de um local para outro e
de entregála pontualmente ao destinatário, mediante retribuição.
O destinatário, apesar de não ser parte integrante da relação contratual, é sujeito de direitos e
obrigações, em especial quando observada uma estipulação em favor de terceiros. Tal estipulação não se
presume, sendo necessária anuência inequívoca do destinatário.
O instrumento do contrato, em se tratando de transporte de coisas, denominase conhecimento de
transporte, conhecimento de carga ou conhecimento de frete, e é contra a sua apresentação que o bem é
entregue ao expedidor ou ao destinatário, ou qualquer reclamação é atendida. Como título de crédito, o
conhecimento de transporte goza dos princípios cambiários da literalidade e autonomia, sendo impróprio, já
que por este se pode exigir a prestação do serviço (CC, arts. 894 e 895). tratase, normalmente, de título
negociável, podendo ser transferido por simples endosso ou por cessão de crédito quando contiver a
expressão 'não à ordem' ou outra equivalente. Como não se trata de contrato solene, contudo, o conhecimento
poderá ser emitida uma segunda via, com o mesmo efeito da primeira.
O remetente se responsabiliza pelas declarações inexatas que fizer, diante do que o transportador fará
jus à reparação do prejuízo que eventualmente sofrer, decorrente de tal inexatidão.
Art. 745: o preceito tem dicção confusa. Para se evitar uma interpretação que levaria a uma redução
abrupta e injustificada de prazo para a ação de responsabilidade civil, bem como a erro grosseiro do
legislador na distinção entre prescrição e decadência, poderseia cogitar de uma ação própria de retificação
de dados, no prazo de 120 dias. Nesta esteira, o legislador teria sobreposto o direito potestativo à apuração da
informação ou descrição verdadeira, à pretensão indenizatória eventualmente caracterizada, caso fossem
configurados danos decorrentes de informação inexata ou de falsa descrição. Cuidarseia do exercício de um
direito potestativo, ou seja, do poder de alterar a situação jurídica de outrem, independentemente ou mesmo
contra a vontade deste, e que dá ensejo à decadência.
É obrigação do remetente apresentar a coisa devidamente embalada. A embalagem deve ser adequada
à modalidade de transporte e à natureza da coisa.
Art. 746: nos casos previstos nesse artigo, a recusa em contratar não configura prática abusiva (CDC,
art. 39, II), haja vista estar o transportador exercendo regularmente um direito subjetivo que lhe é conferido
para a proteção das pessoas, bem como do veículo de transporte e dos demais bens que lhe foram confiados.
Art. 747: eis a segunda hipótese em que é admitido ao transportador recusar a mercadoria recebida: a
ausência dos documentos exigidos em lei ou a coisa cujo transporte ou comercialização não sejam
permitidos, hipótese em que resta patente a ilicitude quanto ao objeto.
contrato de depósito.
Assim como no âmbito do transporte de pessoas, debate a jurisprudência acerca do caráter fortuito dos
roubos de mercadoria em determinadas vias ou cidades do país, onde tais práticas são reiteradamente
observadas. Nesse sentido, inclinase a jurisprudência para reconhecer a responsabilidade do transportador
se, no caso concreto, o evento se deu por falta de cuidados mínimos decorrentes de seu dever de precaução,
vale dizer, em desatenção ao standart de conduta compatível com o transporte realizado. Em outros casos,
causalidade por fato exclusivo de terceiro.
Art. 750: este dispositivo encerra cláusula de limitação de responsabilidade, eis que o teto para o dever
de indenizar a cargo do transportador passa a ser o valor constante do conhecimento. Obs: em se tratando de
relação de consumo, prevalece o CDC.
Art. 751: o transportador não deve ser equiparado ao depositário para os efeitos da prisão civil, a qual
é restrita aos contratos de depósito propriamente ditos, sendo norma excepcional.
A entrega em domicílio ou em local diverso do armazém do transportador depende de convenção entre
as partes nesse sentido, como igualmente ocorre em relação à cláusula de aviso – ou seja, a obrigação do
transportador de informar a chegada das mercadorias , a qual deve constar do conhecimento de embarque
(obs: em razão do critério da especialidade, prevalecem as normas do regulamento das estradas de ferro e o
art. 243 do CBA, que prevêem da obrigatoriedade da cláusula de aviso” [Tepedino]
CONTRATO DE SEGURO
“O CC passou a definir o contrato de seguro como sendo aquele pelo qual, mediante a paga de um
prêmio, o segurador obrigase a garantir um interesse legítimo do segurado.
Com tal definição, o seguro
não perde o caráter bilateral
na hipótese de não implemento do risco
eventual de indenização, esta que tem por antecedente lógico o implemento do risco previsto na apólice, por
definição nem sempre ocorrente (configurando o risco uma simples probabilidade de dano).
Não se confundem o risco, que é imanente, existindo, necessariamente, como elemento essencial do
contrato de seguro, e o sinistro, o qual é eventual, podendo vir ou não a ocorrer.
O seguro é contrato de adesão, eis que, em razão da sua natureza massificada (como o seguro envolve
a pulverização do risco, ele pressupõe a existência de um grupo de segurados sujeitos às mesmas disposições
contratuais), o segurado aceita cláusulas impostas pelo segurador na apólice impressa, não ocorrendo
discussão entre as partes.
prêmio nada mais é senão a fração matemática resultante da repartição do volume estatisticamente estimado
de indenizações decorrentes de danos sofridos durante certo período por uma massa de segurados (titulares
de interesses segurados homogêneos), guardando, neste compasso, perfeita equivalência com a obrigação de
garantia que incumbe à companhia seguradora. Para a concepção tradicional, o seguro é contrato
aleatório, uma vez que o segurador assume riscos, sem equivalência entre as prestações recíprocas, ainda
que se conheça o valor global as obrigações do segurado.
Dentre os fundamentos objetivos do contrato de seguro, merecem ser destacados a mutualidade e o
cálculo de probabilidades. A mutualidade verificase em razão de haver no seguro um caráter de cooperação,
onde um conjunto de diversas contribuições permite a formação de um fundo de recursos para o pagamento
futuro das indenizações. É mais fácil suportar coletivamente as conseqüências danosas dos riscos individuais
do que deixar o indivíduo só e isolado, exposto a essas conseqüências. Já o cálculo de probabilidades, ao
qual recorre o segurador para fixar o prêmio a ser pago pelo segurado, permite estimar, com grande
aproximação, o número provável de sinistros de um determinado tipo que pode ocorrer em determinada
localidade, dentro de certo prazo.
Somente entidade para tal fim legalmente autorizada pode figurar como seguradora.
O CC não contemplou a figura do resseguro,
o qual consiste na operação pela qual um segurador
descarrega sobre outrem, mediante o pagamento de um prêmio, no todo ou em parte, os riscos de que se fez
garante (seguro do seguro). Da mesma forma, não foi contemplada a retrocessão, consistente em um
resseguro em segundo grau, ou seja, a operação pela qual o ressegurador transfere a outros o que exceder da
sua capacidade, o que normalmente ocorre em sede de riscos mais vultosos, que saturem a capacidade do
segurador e do ressegurador.
Como causa suspensiva da prescrição, o STJ firmou entendimento na Súmula 229 no sentido de que a
comunicação do segurado à seguradora, para receber o pagamento do seguro, em virtude da constatação do
fato que lhe deu causa, irá suspender o curso do prazo prescricional até a data da ciência, pelo segurado, da
resposta negativa da seguradora, quando o prazo voltará a correr.
Empresa de resseguro
, que faz o seguro das seguradoras,
não pode ser condenada a pagar
penhora de bens do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB).
A prova da existência do contrato de seguro deve ser
ESCRITA: exibição da apólice ou do bilhete do
seguro, ou, na falta desses, de documento comprobatório do pagamento do respectivo prêmio.
Se o segurador não aceitar acobertar determinado risco constante da proposta de contratação, deverá,
obrigatoriamente, dar ciência deste fato ao segurado, a fim de que este se manifeste sobre a contratação, ou
não, do seguro. A ausência de manifestação por escrito no prazo de 15 dias caracterizará a aceitação tácita da
proposta.
Risco é o perigo que pode correr o objeto segurado, em conseqüência de um acontecimento futuro,
estranho à vontade das partes.
Os riscos devem ser minudentemente descritos e expressamente assumidos pelo segurador.
Consiste a apólice geral, aberta ou flutuante naquela que compreende em abstrato um seguro pactuado
que só entra em vigor quando as coisas consideradas no contrato se acham sujeitas a certos riscos.
As apólices flutuantes, que admitem a possibilidade de se efetuarem substituições com relação ao
objeto do seguro e às pessoas seguradas, se contrapõem às apólices simples, as quais fixam com precisão o
objeto do seguro, como ocorre, p. ex., no contrato incidente sobre a vida de uma pessoa. Na apólice
flutuante, o risco não se individualiza de plano, mas mediante atos sucessivos (normalmente designados
'averbações') que se incorporam ao contrato, permanecendo indefinida a quantificação do seguro e a sua
determinação temporal; ocorre, portanto, um risco variável, por oscilar o instante e o volume do risco.
A figura do coseguro ocorre quando uma pluralidade de seguradores empresta cobertura simultânea
ao mesmo risco (seguro múltiplo). Nessa hipótese, a apólice deverá indicar a seguradoralíder, a qual assume
a administração do contrato e representa as demais para todos os efeitos, inclusive em juízo. Cada um dos
seguradores assume uma porcentagem do risco, e a ação de cobrança deve ser movida contra todos,
representados pela seguradoralíder, nos respectivos limites da obrigação individual. Não se pode falar em
responsabilidade solidária por todo o valor do contrato, salvo se houver cláusula expressa do contrato que
assim disponha, eis que a solidariedade não se presume, sendo o CC omisso a tal respeito.
Art. 762: a culpa, ainda que grave, não enseja a nulidade do contrato.
Em caso de inadimplemento
do segurado no pagamento do prêmio, não é devida a indenização por
sinistro ocorrido no intervalo de tempo que perdurar a mora.
A falta de pagamento do prêmio não autoriza o cancelamento automático do seguro, ao contrário do
que prevê aquele regulamento, ficando suspensa a exigibilidade da indenização enquanto não purgada a
sinistro ocorrido durante o período de mora, contanto que esta se restrinja à última parcela.
Possível purgar se a parcela em atraso for exatamente a última.
A cláusula de cancelamento
automático do contrato em razão do atraso no pagamento do prêmio tem
sido caracterizada como abusiva
e inadmissível
pela jurisprudência, por ser incompatível com a boafé e
equidade, além de colocar o segurado em desvantagem exagerada, a teor do art. 51, IV, CDC.
Prevaleceu na 2ª Seção do STJ o entendimento de que É NECESSÁRIA A INTERPELAÇÃO DO
SEGURADO PARA A CONSTITUIÇÃO EM MORA . (AgRg no REsp 807974 / RS, de 22/05/2012,
confirmou esse entendimento)
Não pode o segurado se furtar ao pagamento do prêmio, sob a alegação de que o risco não se verificou
esteja este mais sujeito a risco, o prêmio não é devido.
pagamento de indenização sob a alegação da omissão do segurado acerca da doença preexistente, CASO
NÃO TENHA EXIGIDO EXAMES MÉDICOS PREVIAMENTE à aceitação da proposta.( AgRg no
AgRg no AREsp 14594 / SP, de 07/02/2012, seguiu esse entendimento)
Art. 766: a reticência nas declarações do segurado, por si só, não implica necessariamente a aplicação
das penas deste dispositivo, o que somente se verifica quando estas falsas declarações ou reticências possam
ser suscetíveis de induzir o segurador em erro, influindo sobre a previsão do risco ou sobre os cálculos da
taxa do prêmio a cobrar.
Art. 766, parágrafo único: parece que esta dupla opção (resolver o contrato ou adequálo ao seu justo
valor) somente poderá ser exercida pelo segurador caso o sinistro ainda não tenha ocorrido; se o risco já se
implementou, então tudo quanto o segurador poderá fazer é cobrar a diferença do prêmio, sendolhe vedado
dar por resolvido o contrato.
Seguro à conta de outrem: hipótese que excepciona o princípio da relatividade das convenções,
pesando o risco do negócio não sobre o estipulante, mas sobre interesses de outrem, caso em que o
contratante interfere em negócio que não afeta seu patrimônio ou sua pessoa.
Segundo teoria mais aceita, o estipulante do seguro à conta de outrem figura como um mandatário ou
gestor de negócios em relação ao segurado, não se confundindo, portanto, com a estipulação em favor de
terceiro, que ocorre freqüentemente nos seguros de vida, hipótese em que o estipulante, mediante o
pagamento do prêmio, obtém do segurador a promessa de pagar a um terceiro beneficiário por ele indicado,
em virtude de um sinistro, uma importância em dinheiro. Isso se justifica na medida em que a lei não confere
ao estipulante do seguro à conta de outrem poder de exigir o cumprimento da obrigação, a substituição do
beneficiário ou a exoneração do segurador.
contrato ainda não cumprido, ou não totalmente executado, pela atuação da mesma vontade que funcionou
com gênese. A resolução pressupõe ter o devedor faltado ao cumprimento de sua obrigação.
Art. 771: antes mesmo do aviso, o segurado tem a obrigação de proteger os salvados, ou seja, os
despojos da coisa segurada, tomando as medidas para tanto. Os salvados, em regra, pertencem ao segurador,
sendo levados em conta por ocasião do cálculo da taxa de prêmio.
Quando configurar um verdadeiro intermediário independente, isto é, sem nenhum vinculação com o
segurador, o corretor não será considerado um agente daquele, de maneira que o segurador não poderá ser
responsabilizado pelos atos e omissões dolosas ou culposas do corretor, o qual terá responsabilidade própria.
I – Do seguro de dano:
Parecer normativo n. 5, de 11/03/03, da SUSEP: 'fica afastada a possibilidade de se vir a celebrar
contrato de seguro por valor determinado, salvo quanto aos bens cuja natureza não permita aferição no
mercado'.
Art. 779: o segurador não está mais autorizado a suprimir esta categoria de prejuízos, exonerandose
de arcar com as despesas correspondentes. A não ser em havendo cláusula expressa nesse sentido, não se
poderia obrigar o segurador a indenizar o segurado pelos prejuízos que aquele venha a sofrer como
conseqüência mediata do sinistro, tais quais as perdas resultantes da paralisação da atividade profissional ou
comercial do segurado.
O princípio vigente no contrato de seguro é o indenitário, fundado na regra de que o segurado não
pode lucrar com o recebimento da indenização, o que significa dizer que o segurado não pode pretender mais
do que a reposição do seu patrimônio à situação anterior à ocorrência do sinistro.
Art. 783: cláusula de rateio. O segurado pode proteger o seu interesse pela totalidade do seu valor ou
por menos do que valha, configurandose neste último caso, o chamado subseguro. O valor declarado é o
tomado como base para a fixação do montante da indenização. Neste caso, o segurado é considerado co
segurador da diferença e deverá participar do montante dos prejuízos proporcionalmente à sua participação
nos riscos cobertos, no caso de sinistro parcial. Já se o sinistro for total, o segurador deverá pagar 100% do
limite de cobertura, que, na espécie, não cobrirá o valor integral do interesse segurado, arcando o segurado
com a diferença. Podem as partes afastar a cláusula de rateio, de modo que o segurador ofereça cobertura por
inteiro, no limite da importância segurada, inclusive no caso de sinistros parciais. Esta modalidade
denominase seguro a primeiro risco, absoluto ou relativo, na sua modalidade absoluta, o segurador fica
obrigado ao pagamento total, até o limite da importância segurada, independentemente do valor do sinistro.
Na modalidade relativa, que compreende a hipótese do art. 783, o segurador paga na proporção da perda, até
o limite da apólice.
Art. 784: o risco eventual a ser garantido pelo seguro deve vir de causa externa, ou, ao menos,
estranha ao objeto do interesse. O vício intrínseco, além de estar na coisa, de não provir de uma causa
externa, deve ser ordinário, ou seja, conhecido do proprietário. Responde o segurador se o contrato menciona
expressamente sua incidência sobre o risco decorrente do vício intrínseco, bem como se este não é a causa
única determinante do dano, mas funciona como concausa, manifestandose concomitantemente com a causa
externa; o mesmo se verifica se o segurado o ignorava.
O direito à indenização pode ser transmitido, seja causa mortis – em relação aos herdeiros e legatários
quando o segurado tiver alienado a outrem o objeto segurado, a não ser que
do segurado – seja inter vivos,
haja cláusula expressa proibindo essa transferência.
Art. 786: embora o dispositivo em exame preveja a subrogação, relativamente ao seguro de danos, o
art. 800 veda expressamente a subrogação nos seguros de pessoa, atendendo à natureza diversa dessa
modalidade de seguro, eis que o ofendido continua legitimado a pedir indenização contra o causador do
dano, e o recebimento de pagamento securitário, para tal fim, é irrelevante.
Art. 787; a jurisprudência do STJ tem entendido tratarse de um seguro em benefício de terceiro, de tal
sorte que a vitima estaria legitimada a pleitear diretamente ao segurador o pagamento de indenização,
observadas as restrições constantes da apólice respectiva e, em qualquer hipótese, assegurada ao segurador a
faculdade de opor ao terceiros todas as exceções de que disporia relativamente ao segurado. Não obstante o
clausulado das apólices de seguro de responsabilidade civil normalmente preceitue tratarse de um seguro de
reembolso – isto é, o segurado paga e depois se reembolsa junto ao segurador , o entendimento que
propugna a legitimidade do terceiro em face do segurador é o que se afigura francamente majoritário na
jurisprudência do STJ, sendo, ainda, o que melhor se coaduna com a função social do contrato. (Em 2012,
em REsp Repetitivo a 2ª Seção do STJ decidiu “A Seção firmou o entendimento de que, em ação de
reparação de danos movida em face do segurado, a seguradora denunciada e a ele litisconsorciada pode ser
contratados na apólice” – informativo 490. Deve ser destacado que, no mesmo informativo, a 2ª Seção
também decidiu que, embora a seguradora responda direta e solidariamente, no pólo passivo da ação o
segurado tem que estar presente: “A Seção firmou o entendimento de que descabe ação do terceiro
prejudicado ajuizada, direta e exclusivamente, em face da seguradora do apontado causador do dano,
porque, no seguro de responsabilidade civil facultativo, a obrigação da seguradora de ressarcir os
danos sofridos por terceiros pressupõe a responsabilidade civil do segurado, a qual, de regra, não
poderá ser reconhecida em demanda na qual este não interveio, sob pena de vulneração do devido
processo legal e da ampla defesa.”
Art. 787, §3º: a ciência da ação não significa denunciação da lide, a qual pode ser promovida sem
prejuízo daquela medida.
Art. 788: a obrigatoriedade é estabelecida no interesse de terceiros (vítimas do acidente ou donos das
coisas transportadas), e não do proprietário ou condutor do automóvel que causou o dano.
II – Do seguro de pessoas:
indenizatória própria deste, motivo pelo qual pode ser pactuado em favor de terceiros, bem como seu valor
pode ser livremente pactuado.
Somente os seguros de vida e acidentes pessoais podem ter o capital livremente estipulado pelo
proponente. Despesas hospitalares ou de tratamento médico, bem como custeio de despesas de luto e funeral
do segurado, embora possam ser considerados seguros de pessoa, têm regulamentação especial.
Art. 790: o interesse pode ser tanto material, como ocorre no caso do credor, quanto de afeição, sendo
a este último que a lei especialmente atende.
O beneficiário designado pelo segurado tem apenas uma expectativa de direito, podendo ser
substituído pelo segurado a qualquer tempo, até a ocorrência do óbito, salvo os casos de renúncia do
segurado e de garantia da obrigação.
Art. 792: o benefício tratado no dispositivo ao caracteriza herança.
Art. 793: rejeitam os tribunais a admissão do benefício no caso de relações adulterinas, fazendo a
distinção entre a companheira e a concubina.
impenhoráveis.
comportando redução por via de transação.
No caso de seguro de vida, há regra específica: a falta de pagamento do prêmio, nos prazos previstos e
conforme estipulado no contrato, acarreta a resolução do contrato, com a restituição da reserva já formada ou
a redução do capital garantido proporcionalmente ao prêmio pago.
No caso dos seguros coletivos, os segurados não serao prejudicados se o estipulante, responsável pelo
recolhimento dos prêmios, recebendoos regularmente, não os verter à sociedade seguradora no prazo
devido. Neste caso, importâncias seguradas deverão ser normalmente pagas pela seguradora, que, por sua
vez, poderá lançar mão de todos os meios legais para haver os prêmios indevidamente retidos.
Art. 797, par. Único: caso venha a ocorrer o sinistro no prazo de carência, o segurador é obrigado a
devolver ao beneficiário o montante da reserva técnica já formada. A reserva técnica consiste num capital
garantidor de todas as obrigações do segurador, de conformidade com os critérios fixados pelo Conselho
Nacional de Seguros Privados. Os bens garantidores da reserva técnica são registrados na SUSEP, não
podendo ser alienados ou gravados sem prévia e expressa autorização dessa autarquia.
inteligência, não anulará o seguro. A morte não se poderá, nesse caso, considerar voluntária; será uma
fatalidade; o indivíduo não a quis, obedeceu a forças irresistíveis. Havendo, portanto, fatores externos,
alterações de saúde e psiquismo daí decorrentes, provocadores do suicídio, a seguradora não se isenta de
pagar.
Art. 798: Embora existam decisões em sentido contrário, prevalece no STJ o seguinte entendimento: “O
biênio previsto no art. 798 do CC/02 tem como objetivo evitar infindáveis discussões judiciais a respeito da
premeditação do suicídio do segurado, geralmente ocorrido anos após a celebração do contrato de seguro.
À luz desse novo dispositivo legal, ultrapassado o prazo de 02 anos, presumirseá que o suicídio não foi
premeditado, mas o contrário não ocorre: se o ato foi cometido antes desse período, haverá a necessidade
de prova, pela seguradora, da premeditação”( REsp 1188091/MG, REsp 45.143/RJ). “A despeito da nova
previsão legal, estabelecida pelo art. 798 do CC/02, as súmulas 105/STF e 61/STJ permanecem aplicáveis
às hipóteses nas quais o segurado comete suicídio”(REsp 959618/RS)
Art. 799: embora possam as partes excluir determinadas causas da morte do segurado da cobertura do
seguro, esta exclusão será inválida com relação às situações previstas neste artigo, salvo em caso de
transporte proibido ou esporte ilegal.
O seguro de vida ou seguro pessoal em grupo é o negócio que se estabelece entre um estipulante e a
seguradora. Mediante contrato, o estipulante se obriga ao pagamento de um prêmio global (para cuja
formação os segurados poderão, ou não, concorrer) e a seguradora a ressarcir pessoas pertencentes a um
grupo determinado (denominado grupo segurado), ligadas por um interesse comum e cuja relação, variável
de momento a momento, é confiada à seguradora. Entre o estipulante e o grupo segurado deve haver um
vínculo, como uma relação de emprego ou profissional, sociedade civil ou comercial, associação religiosa ou
de classe.
Art. 21, par. 2º do DL 73/66: o estipulante deve ser considerado mandatário dos segurados, salvo
cláusula expressa em contrário.
Constituição de Renda.
3. DEFINIÇÃO
Na lição de CLÓVIS BEVILÁQUA, renda vem a ser “a série de prestações em dinheiro ou em
outros bens, que uma pessoa recebe de outra, a quem foi entregue para esse efeito certo
capital”(DINIZ,2002,pg .488). Logo, a constituição de renda seria o contrato pelo qual uma pessoa
– rendeiro ou censuário – se obriga a fazer certa prestação periódica à outra – o instituidor – por um
prazo determinado, em troca de um capital que lhe é entregue e que pode consistir em bens móveis,
imóveis ou dinheiro.
Nesse contrato, A transfere a B a propriedade de um capital, por não estar seguro de que vai apurar
renda suficiente para a sua sobrevivência; B deverá, então, pagar uma renda, vitalícia ou não, ao
próprio instituidor ou a terceiro, que será o beneficiário. B se comprometerá, portanto, a efetuar
uma série de prestações periódicas, em dinheiro ou em outros bens, durante prazo certo ou incerto.
Será certo, quando o termo final for dies certus, e incerto, se relacionado a um fato certo, mas de
ocorrência incerta, como a hipótese do falecimento do beneficiário. Há uma troca de renda por um
capital.
Portanto, dois são os seus titulares: o censuário ou rendeiro, que recebe o capital com o encargo de
pagar certa renda; é o devedor da renda e o adquirente do capital; e o censuísta ou instituidor,
que entrega o capital e constitui renda em benefício próprio ou alheio; é o credor da renda.
O contrato pode adquirir o caráter de plurilateral, pelo desdobrarse da pessoa do instituidor. Com
efeito, é possível que o instituidor se proponha a transferir um capital ao censuário, a fim de
que este pague uma renda vitalícia a terceira pessoa, que assume o nome de beneficiário.
Desse negócio, que em tudo constitui uma estipulação em favor de terceiro, surgem relações
complexas. Para o censuário o negócio continua a ser oneroso e bilateral, porque lhe cumpre
fornecer uma renda, em troca de um capital que adquire. Nas relações entre o instituidor e o
beneficiário, o negócio pode ser oneroso ou gratuito, conforme este último deva, ou não,
àquele, qualquer contraprestação. Se a estipulação foi feita sem qualquer retribuição, o
negócio é gratuito, equiparandose a uma doação. Caso contrário, é oneroso.
Assim é definido esse negócio pelo Novo Código Civil(lei 10.406/2002) no
art.803:
obrigarse para com outra a uma prestação periódica, a título gratuito”.
Complementa o art. 804, in verbis:
“Art.804. O contrato pode ser também a título oneroso, entregandose bens
móveis ou imóveis à pessoa que se obriga a satisfazer as prestações a favor
do credor ou de terceiros”.
Só a titulo comparativo, o Código de 1916 assim conceituava esse negócio:
benefício próprio ou alheio, uma renda ao prestação periódica, entregandose
certo capital, em imóveis ou dinheiro, a pessoa que se obrigue a satisfazê
la”.
DO JOGO E APOSTA
dentre as contraentes a quem for favorável certo azar. A aposta, por sua vez, é o contrato aleatório em que
duas pessoas de opinião diferente sobre qualquer assunto, concordem em perder certa soma, ou certo objeto,
em favor daquele entre os contraentes cuja opinião se verificar ser a verdadeira.
Quem ganhar o jogo ou a aposta não poderá cobrar judicialmente a quantia ou o objeto ganho. No
entanto, não pode ser recobrada a quantia que voluntariamente se pagou em razão de jogo ou aposta, em se
havendo, então, um débito, desacompanhado, porém, da sua exigibilidade.
Proibidos são os jogos de azar, em que o fator sorte tem caráter absoluto ou predominante. Tolerados,
por sua vez, são os que não transpõem o limiar da ilicitude, mas nem por isso conquistam os favores da lei,
hipóteses em que o resultado não depende exclusivamente da sorte, como o bridge, a canastra, o biriba, etc.
praticado o ato do jogo ou da aposta, porque será, então, um incentivo ao desperdício, ou poderá ser uma
exploração do estado de superexcitação em que se encontra o jogador. Contudo, as dívidas contraídas para
obter antecipadamente meios para jogar ou apostar, ou para pagar o débito resultante do jogo ou da aposta,
não se consideram de jogo, sendo, portanto, exigíveis.
CONTRATO DE FIANÇA
O patrimônio do devedor constitui a garantia geral para o cumprimento das obrigações. Ao lado dessa
garantia geral, também é possível a estipulação de garantias especiais, como as reais e as pessoais ou
fidejussórias.
A fiança é o contrato pelo qual se estabelece um tipo de garantia pessoal, em que alguém (fiador) se
obriga ao cumprimento da obrigação de terceiro (afiançado), se este faltar à sua prestação. Seu fundamento
está na fidúcia, ou seja, na confiança depositada no fiador.
Abonador: subfiança: tratase de uma garantia oferecida por terceiro ao fiador, de pagar a dívida, se
este não o faça.
A fiança é estabelecida entre o fiador e o credor, sendo que o afiançado, devedor principal da
obrigação, não sendo parte nele, NÃO PRECISA NEM SABER NEM CONCORDAR COM SUA
EXISTÊNCIA.
autorização, não suprida pelo juiz, tornará anulável o ato praticado, podendo o cônjuge pleitear a anulação
até 2 anos depois de terminada a sociedade conjugal. Tratase de prazo decadencial.
garantia por inteiro, não se limitando à meação do cônjuge que não consentiu. Nesse sentido estabelece a
súmula 332 do STJ: “A fiança prestada sem autorização de um dos cônjuges implica a ineficácia total da
garantia.” Em situações excepcionais, o STJ afasta a referida súmula (p. ex. REsp 1095441 / RS).
Caráter subsidiário
da fiança: o cumprimento da fiança somente será devido se o devedor principal não
adimplir a obrigação que lhe cabe. A subsidiariedade da fiança, embora seja a regra, pode ser afastada por
convenção em sentido contrário que estabeleça a solidariedade entre fiador e devedor principal.
Não há fiança verbal, ainda que o contrato principal o seja, pois é da sua essência a adoção da forma
exigida pela lei, sem a qual o contrato não se forma validamente.
Em caso de dúvida, a interpretação será em favor do que presta a fiança.
Interessante questão diz respeito à possibilidade de a mesma pessoa figurar como devedorafiançado e
fiador. O STJ já decidiu que isso é inadmissível, o que parece acertado, já que o contrário tornaria a fiança
totalmente irrelevante, contrariando sua natureza de garantia. (REsp 62198 / SP)
Art. 823: a solução adotada pelo dispositivo está em consonância com o princípio da conservação dos
contratos, porque não determina a nulidade da fiança, mas apenas a desconsideração do excedente,
mantendo, desta forma, o pacto firmado livremente entre as partes.
Art. 824: para Pontes de Miranda, este dispositivo deve ser estendido à questão da anulabilidade da
obrigação principal, entendendose a expressão 'nulas' por 'nulas' e 'anuláveis', de modo que, sendo nula a
obrigação principal, nula será a fiança; sendo aquela anulada, anulada será esta.
O credor não pode rejeitar o indicado imotivadamente, sob pena de o juiz determinar
compulsoriamente a sua aceitação.
Segundo o STJ, o fiador reputase idôneo até prova em contrário, de modo que o credor é que deve
comprovar a sua inidoneidade para fundamentar a recusa.
Art. 826: se a garantia não for reforçada ou substituída, poderá o credor pedir a rescisão do contrato.
Benefício de ordem ou excussão: possibilidade que a lei confere ao fiador, devido à subsidiariedade de
sua obrigação, de exigir que a execução recaia sobre os bens do devedor, em primeiro lugar.
Se puder alegar o benefício de ordem e não o fez, tratase de renúncia tácita, pois neste caso o fiador
não se recusou a cumprir a obrigação.
Art. 829: a solidariedade se estabelece entre os fiadores, e não entre eles e o devedor principal.
Não há solidariedade entre o fiador e seu cônjuge, apenas pelo fato de este ter concedido anuência para
atender à exigência legal, de forma que, falecendo o fiador, o cônjuge supérstite responderá até a morte do
fiador, nos moldes do estatuído no art. 836.
Art. 830: a doutrina diferencia o caso sob exame do já referido benefício de divisão (art. 829), ao
esclarecer que o que ocorre no art. 830 é uma fiança de parte da dívida, fixada por uma quantia determinada,
ao contrário do que ocorre no benefício de divisão, onde cada cofiador será responsável na mesma
proporção dos demais.
Art. 831: para que se opere a subrogação, o fiador deve pagar integralmente dívida, pois aquele que,
obrigado pela totalidade, paga apenas uma fração, não favorece o benefício da subrogação, porque ainda é
devedor. Sem dúvida não se lhe nega ação regressiva contra o devedor, por quem ele pagou qualquer
quantia; mas essa ação competelhe por direito próprio, porque o devedor não pode locupletarse com o
alheio. O que não pode é substituir o credor nos seus direitos não plenamente satisfeitos.
Não terá direito, contudo, de regresso contra o afiançado se, não informando ao devedor, este tiver
pago novamente a dívida; se tiver prestado a fiança com animuns donandi; se tiver pago sem ser demandado
(pagamento espontâneo), omitindo a informação ao devedor principal que teria uma causa extintiva a opor ao
pagamento.
Art. 834: Silvio Venosa trata o caso como hipótese de substituição processual, tendo essa intervenção
objetivo de minorar a situação do fiador.
Em regra, o contrato de fiança tem tempo determinado, ficando o fiador obrigado pelo prazo
contratual. Neste caso, o fiador não poderá se liberar da obrigação assumida antes do termo final, eis que já
delimitado o tempo de sua responsabilidade. Pode ocorrer a extinção da fiança por outro motivo, mas não
pela exoneração.
Art. 837: não pode o fiador recorrer às exceções pessoais do devedor para pleitear a extinção da fiança.
Não poderá o devedor opor ao credor as exceções do fiador; assim é que a remissão da dívida
concedida ao devedor principal extingue a fiança, mas se for dada ao fiador, liberao, sem fazer cessar a
relação fundamental.
Por moratória entendese a espera, a concessão de prazo ao devedor, após o vencimento da dívida.
CONTRATO DE TRANSAÇÃO
Requisitos:
a. um acordo entre transatores, por se tratar de negócio bilateral (não há transação por força de lei);
material);
b. a reciprocidade das concessões;
c. o direito há de ser duvidoso, isto é, o desfecho da questão deve ser incerto.
Em regra, pode transigir aquele que tem poder de disposição sobre a situação jurídica objeto da
transação.
(translativa, modificativa, novativa, etc) deve ser apresentado, portanto, não como variável arbitrária e
subjetiva, mas como dependente da natureza e dos interesses relevantes na concreta relação, em particular
individuando as situações que estão na base dos atos de autonomia. Portanto, não se pode transigir sobre
qualquer situação jurídica, mas apenas naquelas em que se atribui o poder de sacrificálas por meio de ato de
autonomia privada.
Em princípio, só é possível transigir sobre situações patrimoniais. Nem todas as situações patrimoniais
são suscetíveis de ser objeto de disposição pelos transatores. Excluemse do âmbito da transação não só os
bens fora do comércio, isto é, aqueles que não podem circular, como aquelas relações jurídicas de caráter
privado que interessam diretamente à ordem pública.
Nesses casos (direitos extrapatrimoniais), a valoração por parte do Poder Judiciário revelase
imprescindível, pois a restrição aqui apontada compreendeu os direitos em si mesmos, sem exclusão dos
efeitos patrimoniais que possam gerar, de sorte que os efeitos econômicos respectivos podem ser por ela
(pela transação) abrangidos.
ponto, o CC não evoluiu, ao invés, mantevese estagnado, muito embora a doutrina pátria, desde a
codificação de 16, bem como a doutrina alienígena entendam que a transação pode constituir direitos.
A transação é res inter alios acta, ou seja, não aproveita, nem prejudica, senão os que nela
intervieram.
Art. 846: prevalece a disposição deste artigo para os casos não contemplados pela lei dos Juizados
Especiais, que tem fundamento constitucional.
Questão que apresenta controvérsia na doutrina diz respeito à necessidade ou não de cláusula
resolutória expressa quando ocorre o inadimplemento da obrigação e, por conseguinte, corenascimento das
obrigações anteriores à celebração da transação. Para Serpa Lopes, como contrato e sem ofensa à sua
natureza de força de sentença, a transação pode conter o princípio geral da cláusula resolutória tácita.
Na transação judicial, só se anula a sentença homologatória mediante a proposição de ação anulatória
prevista no art. 486, CPC, se a mesma for meramente homologatória, caso contrário será cabível ação
rescisória. Já a transação extrajudicial impede a reabertura da discussão acerca do objeto sobre o qual se
transigiu, enquanto não anulado o ato negocial.
CONTRATO DE COMPROMISSO
Designase por compromisso o ato jurídico pelo qual as partes, em vez de recorrerem ao Poder
Judiciário, escolhem juízes árbitros para decidirem as suas questões.
Na dicção do art. 1º da Lei 9307/96, o compromisso arbitral somente poderá ter por objeto litígio
relativo a direitos patrimoniais disponíveis.
O compromisso não tem o escopo de obstar o surgimento, bem como o prosseguimento dos conflitos,
através do sacrifício mútuo de direitos, ou de parte de direitos, como ocorre na transação. Ele apenas
transfere o poder de julgar, que via de regra pertence do Poder Judiciário, ao árbitro. No compromisso não
há o menor sacrifício dos direitos das partes, as quais precisamente perante os árbitros irão sustentar os seus
próprios direitos.
requisitos que se apõem aos contratos.
A lei 9307/96 equiparou a sentença arbitral à decisão judicial, reconhecendolhe força de título
executivo. Deste modo, a decisão arbitral não estará mais sujeita à homologação do Poder Judiciário.
Lei 9307/96: o compromisso arbitral judicial é aquele celebrado por termo nos autos, perante o juízo
escrito particular, assinado por 2 testemunhas ou instrumento público.
Não podem transigir/firmar compromisso os menores, os absolutamente incapazes, bem como os
relativamente incapazes, salvo se assistidos pelos seus representantes legais e devidamente autorizados pelo
juiz.
direitos de família têm caráter patrimonial. Há, atualmente, duas categorias de direitos de família: os direitos
patrimoniais de família, que podem ser objeto de contrato e se submetem ao arbítrio da autonomia privada,
fazendo com que as lides relacionadas a eles possam ser solucionadas por via do compromisso; e também os
direitos pessoais de família, cujas pendências não são dirimíveis pelo compromisso, por se revelarem
indisponíveis em virtude da defesa da família, principalmente pelo que ela representa para o
desenvolvimento completo da pessoa humana.
comprometemse a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir, relativamente a tal contrato.
Compromisso arbitral é a convenção através da qual as partes submetem um litígio à arbitragem de uma ou
mais pessoas, podendo ser judicial ou extrajudicial.
A cláusula compromissória é a convenção que vincula plenamente os contratantes à instituição futura
de arbitragem na hipótese de controvérsia que venha a surgir, enquanto o compromisso arbitral designa o
contrato que institui a arbitragem quando já existe um litígio.
A arbitragem poderá basearse em regras de direito ou apenas na equidade, a critério das partes.
O Poder Judiciário é competente para o exame da existência, validade e eficácia da convenção de
kompetenz/kompetenz, entendendo que a competência dos Tribunais arbitrais não exclui o exame preliminar
judicial de existência e validade da cláusula compromissória.
O CDC veda a instauração compulsória de arbitragem, mas não exclui a hipótese em que o próprio
consumidor toma a iniciativa de instituir o procedimento arbitral, nos termos da Lei 9307/96”. [Tepedino]
Atos unilaterais: promessa de recompensa; gestão de negócio; pagamento indevido; enriquecimento
sem causa.
1) ATOS UNILATERAIS:
As declarações unilaterais da vontade constituem fontes de obrigações, juntamente com os contratos
e os atos ilícitos.
No CC/02, são considerados atos unilaterais:
Promessa de Recompensa
Gestão de Negócios
Pagamento Indevido
Enriquecimento Sem Causa
2) PROMESSA DE RECOMPENSA
Uma vez emitida a promessa, dirigida a pessoa indeterminada, o promitente fica vinculado
obrigacionalmente, se não revogála com a mesma publicidade com que a fez.
Exemplo: a oferta, veiculada em jornal, de recompensa a quem encontrar determinado objeto. O
cumprimento da promessa de recompensa é obrigatório.
Na teoria geral dos negócios jurídicos, ao lado dos bilaterais, dos quais o contrato é o exemplo mais
marcante, despontam os negócios unilaterais. O negócio jurídico unilateral caracterizase pela tãosó
manifestação do promitente, independentemente do consentimento da outra parte. Tipificase alguém como
credor da recompensa quando realiza o ato anunciado. O fato de terceiro adimplir a promessa não transforma
o negócio em contrato.
Requisitos de validade: a) promitente capaz; b) publicidade; c) objeto lícito.
Conteúdo:
Para que se configure a promessa de recompensa, há de estar ausente a concordância de outrem. Se
alguém, por exemplo, promete pagar R$ 1.000 a outrem se encontrar seu cão perdido e este aceita e se
compromete a procurálo, existe contrato e não promessa unilateral.
A promessa é dirigida aos interessados, mas não se lhe exige a recepção. O fato de o anúncio não ter
sido lido ou ouvido não suprime a publicidade inerente do ato. O negócio unilateral opera mesmo se uma só
pessoa tomou conhecimento do anúncio.
A promessa de recompensa não necessita obrigatoriamente de ser dirigida ao público ou a número
indeterminado de pessoas, como aparentemente se referem os art. 854 e 855, mas se pode se restringir a
determinadas pessoas (ex: uma turma de alunos). “O número mínimo para que a promessa seja ao público é
de dois; o máximo, a humanidade.” (Pontes de Miranda).
Não importa o interesse do executor no momento de perfazer a conduta ou até mesmo seu
desconhecimento da promessa de recompensa. Terá sempre direito a esta, nessas condições. Ademais, o fato
de terceiro adimplir a promessa não transforma o negócio em contrato.
O objeto da promessa deve ser determinado, ex: achar coisas perdidas; descobrir o autor do crime,
etc.
Capacidade do promitente:
É necessário que o promitente seja capaz.
Porém, não se faz necessária a capacidade do executante para fazer jus ao prometido. O incapaz faz
jus à recompensa. Porém, não podendo dar quitação válida, o fará por intermédio de quem o represente. Esse
aspecto enfatiza o caráter unilateral do instituto.
Interesse do executor:
Não importa averiguar o interesse do executor ou de seu conhecimento da promessa. Assim, a
obrigação é exigível mesmo que o executor desconheça a promessa. Se não deseja receber, opera renúncia.
Ademais, o fato de terceiro adimplir a promessa não transforma o negócio em contrato.
Prêmio ou Recompensa: Exigibilidade
O prêmio ou recompensa pode ser em dinheiro ou dar coisa diversa de dinheiro. Pode também ser
uma atividade positiva ou negativa (obrigação de fazer ou não fazer).
O executante possui ação de cobrança contra o promitente.
Legitimado para o prêmio será o primeiro executante. Se a perfizerem simultaneamente, dividese
por todos em quinhões iguais. Se a recompensa for indivisível, conferirseá por sorteio.
Se forem vários os executantes e não souber o recompensador a quem pagar, deve consignar em
pagamento.
Revogação:
A supressão da oferta é admitida, mas só surtirá efeitos se feita com a mesma publicidade do
anúncio.
Porém, se já operada a tarefa, houve implemento da promessa, sendo ineficaz a revogação. Enquanto
não praticada a ação, é possível a desistência, desde chegue ao conhecimento dos interessados.
Quando o promitente estipula prazo, entendese que renunciou ao direito potestativo de retirar a
oferta, dentro daquele prazo.
O candidato de boafé, que houver feito despesas, terá direito a reembolso.
Concurso:
Para Silvio Venosa, o concurso não tem a mesma natureza da promessa de recompensa, embora o
CC a considere uma variedade desta. Naquele, vários sujeitos se propõem a realizar conduta ou demonstrar
qualidades, tendo em mira um prêmio que se promete ao melhor. Nesse sentido, o concurso pode ser de
melhor canto, execução musical, arte plástica, etc. Diferentemente da promessa de recompensa, o concurso
pressupõe grupo de pessoas interessadas em participar da seleção e na um número indeterminado e incerto de
pessoas. Na promessa de recompensa, só quando duas ou mais pessoas cumprem a tarefa haverá pluralidade.
No concurso, a pluralidade de concorrentes é de sua natureza. Realizase, ordinariamente, por meio de
provas, competições, exibições e mostras.
Já Carlos Roberto Gonçalves qualifica o concurso com promessa pública de recompensa.
3) GESTÃO DE NEGÓCIOS
Dáse a gestão de negócios quando uma pessoa, sem autorização do interessado, intervém na
administração de negócio alheio, dirigindoo segundo o interesse e a vontade de seu dono.
manter a casa de quem se ausentou, sem deixar notícia, pagalhe as contas, conservase o jardim, alimenta
o animal de estimação, exerce vigilância. O empregado, sem que tenha poderes para tal, assume a
direção da empresa do patrão que desapareceu repentinamente sem deixar notícia, exerce a
administração; compra e vende, paga os empregados e encargos sociais, etc.
Conceito:
Tratase de intervenção em negócio alheio, sem autorização do titular, no interesse e de acordo com
a vontade presumida deste. Cuidase de fonte unilateral de obrigações, mas é evidente a sua proximidade
com o mandato, embora não possa ser qualificada como contrato.
Negócio alheio = qualquer atividade em prol da vontade presumida do dono do negócio que se dê origem a
obrigações, sejam meramente materiais, sejam atos ou negócios jurídicos. Inclui qualquer conduta em
benefício e na preservação do patrimônio de outrem.
Gestor de negócios –é aquele que intervém.
Dono do negócio – é o respectivo titular.
concorrência de sua vontade. Por essa razão, afastalhe o conceito de contrato.
Na gestão de negócios, existe uma conduta unilateral do agente que apresenta reflexos patrimoniais
em relação ao dono do negócio. Assim, a gestão de negócio não pode ser qualificada como: representação
sem mandato, ato anulável sujeito à confirmação, ato condicional, estipulação em favor de terceiros, etc.
Natureza jurídica:
No Direito Romano: quasecontrato, devido à falta de acordo de vontades.
CC/16 incluía a gestão de negócios no rol dos contratos nominados.
CC/02 a inseriu, mais adequadamente, no título concernente aos atos unilaterais.
Pressupostos da gestão de negócio:
tratarse de negócio alheio;
falta de autorização do dono;
atuação do gestor no interesse e vontade presumida do dominus se a gestão for iniciada contra a
qualquer modo.
limita a atos de natureza patrimonial;
intervenção motivada por necessidade ou pela utilidade, com a intenção de trazer proveito para o
dono (ex: o despachante que recolhe imposto por cliente de outro negócio
O gestor não interfere objetivando lucro.
Não haverá gestão de negócio alheio se o agente intervém em negócio próprio. No entanto, se os
negócios do gestor estiverem relacionados com os do dono (negócios conexos), estará o gestor agindo na
proteção de interesse próprio, embora envolvendo também do de terceiro. A situação é regulada pelos
princípios de sociedade, considerandose o gestor sócio daquele, cujos interesses agenciar de envolta com
os seus.
A atitude do gestor deve ser livre de qualquer ingerência de vontade do dono do negócio, porque isso
caracterizaria o mandato, vinculo contratual. Todavia, o gestor não tem como praticar atos que exijam
poderes específicos, nem aqueles que são personalíssimos.
Embora a gestão de negócio se assemelhe ao mandato tácito, deste se distingue pela inexistência de
prévia avença, por ser sempre gratuito e depender de ratificação (aprovação, pelo dono do negócio, do
comportamento do gestor).
A ratificação pode ser expressa ou tácita.
A ratificação pura e simples do dono do negócio retroage ao dia do começo da gestão e produz todos
os efeitos do mandato.
Obrigações do GESTOR
:
comunicar a gestão ao dono do negócio, aguardandolhe a resposta, se da espera não resultar perigo;
qualquer culpa na gestão;
não promover operações arriscadas, ainda que o dono costumasse fazêlas, nem preterir interesses
deste, em proveito de interesses seus, sob pena de responder pelo caso fortuito.
Obrigações do dono do negócio:
indenizar o gestor das despesas necessárias e dos prejuízos que houver sofrido;
NECESSÁRIA
apreciada não pelo resultado obtido, mas segundo as circunstâncias da ocasião em que se fizerem.
gestão necessária se a gestão foi realizada para acudir prejuízos iminentes ou
redundar em proveito do dono do negócio ou da coisa
reembolsar, quando obrigado legalmente a fornecer alimentos a alguém e estiver ausente, ao gestor
que prestálos, ainda que não tenha ratificado o ato, bem como as despesas do enterro feitas por
terceiros.
4) PAGAMENTO INDEVIDO
Noção geral:
O pagamento indevido constitui um dos modos de enriquecimento sem causa.
O CC/02 coloca o pagamento indevido e o enriquecimento sem causa entre os atos unilaterais
geradores de obrigações A ideia central é de reequilíbrio patrimonial.
O pagamento indevido é fonte autônoma de obrigação, qualificada como ato unilateral.
Conceito:
É o pagamento efetuado com a intenção de cumprir (animo solvendi) uma obrigação inexistente em
conseqüência de erro.
Do pagamento indevido, surge uma obrigação imposta por lei ao accipiens, que se extinguirá com a
restituição do indevido.
(obrigação de restituir).
Situações de pagamento indevido – há obrigação de restituir:
Todo aquele que recebeu o que lhe não era devido fica obrigado a restituir.
Aquele que recebe dívida condicional antes de cumprida a condição fica obrigado a restituir.
Todavia, não será obrigado a restituir aquele que recebeu antes do termo, pois pode o devedor
renunciar a ele e pagar a dívida antes do vencimento, sem poder alegar que o credor enriqueceu
indevidamente.
Se o pagamento indevido tiver constituído no desempenho de obrigação de fazer ou de não fazer,
aquele que recebeu a prestação fica na obrigação de indenizar o que cumpriu, na medida do lucro obtido.
Pressupostos do pagamento indevido:
Para a existência de um pagamento, pressupõese: a existência de uma obrigação, a intenção de
pagar, a possibilidade do cumprimento dessa obrigação, a existência de quem paga (o solvens) e existência
de quem recebe (o accipiens).
Para que ocorra o pagamento indevido, é necessário, inicialmente, o pagamento, o animus solvendi;
em segundo lugar, a inexistência do débito ou o pagamento dirigido a pessoa que não o credor. Além disso, é
preciso que tenha ocorrido erro por parte do solvens.
O direito de repetir o que se pagou emerge do fato de não existir débito a ser pago, ou, havendo,
débito a ser pago, deveria o pagamento ser dirigido a outra pessoa.
No pagamento indevido é ínsita a noção de intenção de cumprir uma obrigação que não existe, em
conseqüência de erro. Desse modo, se o solvens paga, sabendo que não deve, mas, conscientemente, porque
quer fazêlo, não tem direito à repetição, pois estará fazendo uma liberalidade.
Constitui requisito da ação de repetição de indébito que o pagamento tenha sido efetuado
voluntariamente e por erro..
Quando se tratar de pagamento de tributo, não se exige a prova do erro, contentandose com a prova
de sua ilegalidade ou inconstitucionalidade.
Há duas espécies de pagamentos indevidos:
indébito subjetivo (o erro diz respeito a quem paga ou a quem recebe).
O erro, em exame, pode ser tanto de fato como de direito. Ademais, o erro pode ser escusável ou
inescusável (tanto faz), haverá direito de repetição em ambos os casos (aqui, não se exige a qualificação do
erro como escusável para dar ensejo ao direito de repetição). Veja que o erro, aqui, se situa no plano da
execução da obrigação e não no plano de sua formação (como o erro como vício do consentimento na
formação do contrato).
tem como conseqüência o dever de restituição. No entanto, haverá repetição com perdas e danos se este agiu
de máfé. Se agiu com erro também, embora tenha o dever de restituir, ficará afastada a máfé.
Accipiens de boafé e de máfé:
Aquele que recebe de boafé pagamento indevido, é obrigado a restituílo, sendo equiparado ao
possuidor de boafé, fazendo jus aos frutos da coisa recebida, às benfeitorias necessárias e úteis, ao direito de
retenção. Se de máfé, não tem direito aos frutos e será ressarcido só pelas benfeitorias necessárias, sem
poder valerse do recurso da retenção.
Recebimento indevido que teve por objeto um imóvel:
O fato de o pagamento indevido referirse a um imóvel não altera o direito de repetição. Todavia,
pode ser que o imóvel dado em pagamento já não mais se encontre no domínio do accipiens. Dentre essas
situações, há casos em que o solvens terá direito à reivindicar do bem.
Em síntese, temos que se o pagamento indevido tem por objeto bem imóvel, o proprietário, provado
o erro, terá direito à reivindicação:
se o bem ainda se encontra em poder do accipiens;
se o accipiens o alienou a título gratuito (nesse caso independe da boafé/máfé do
terceiro adquirente, ele perderá o imóvel para o proprietário);
pagamento de máfé ou boafé, incabível será a reivindicação da coisa imóvel. Nessa hipótese,
o legislador visou proteger e dar estabilidade às relações jurídicas, dando valor à aparência,
de modo a não prejudicar o terceiro de boafé. Restará ao solvens exigir indenização pelo
valor do bem, cumulado com perdas e danos, conforme tenha ocorrido ou não máfe do
accipiens. De outro lado, se o terceiro é sabedor do pagamento indevido, têm ciência de que
adquire a non domino, o direito à reivindicação não desaparece.
Pagamento indevido sem direito à repetição:
a) Dívida prescrita e obrigação natural
judicialmente inexigível.
Quem paga obrigação natural, judicialmente inexigível, como dívida de jogo e a dívida prescrita,
cumpre um dever moral.
b) Pagamento para fim ilícito, imoral ou proibido por lei
Art. 883. Não terá direito à repetição aquele que deu alguma coisa para obter fim ilícito, imoral, ou
proibido por lei.
Parágrafo único. No caso deste artigo, o que se deu reverterá em favor de estabelecimento local de
beneficência, a critério do juiz.
Isso decorre do fato de que não há direito à repetição quando duas partes se associam em causa
torpe e a ninguém é dado alegar a própria torpeza. Como conseqüência, o pagamento feito se
reverterá em favor de entidade beneficente.
c) Outra hipótese de nãorepetição:
Art. 880. Fica isento de restituir pagamento indevido aquele que, recebendoo como parte de dívida
verdadeira, inutilizou o título, deixou prescrever a pretensão ou abriu mão das garantias que
asseguravam seu direito; mas aquele que pagou dispõe de ação regressiva contra o verdadeiro devedor
e seu fiador.
Pagamento indevido no CDC (art. 42, parágrafo único):
O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição do indébito, por valor igual ao
dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de dano
justificável.
5) ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA
É natural (e lícito) que, em certas situações, uma parte se enriqueça (sofra um aumento matrimonial)
em detrimento de outra, por exemplo, num contrato de doação, o doador sofre uma diminuição em seu
patrimônio em contrapartida o donatário experimenta um aumento patrimonial.
Todavia, pode ocorrer que esse enriquecimento operese sem fundamento, sem causa jurídica, por
exemplo, quando alguém efetua um pagamento de dívida inexistente ou constrói sobre terreno de outrem.
Tais situações configuram enriquecimento sem causa. Em síntese, a ninguém é licito aumentar seu
patrimônio sem causa jurídica, à custa de outrem.
Assim, existe enriquecimento injusto (ou sem causa) quando houver uma vantagem de cunho
econômico, sem justa causa, em detrimento de outrem. Um patrimônio aumenta em detrimento de outro, sem
causa jurídica.
Enriquecimento sem causa como fonte de obrigação:
Para a existência da obrigação, há um mínimo necessário: um devedor, um credor e um vínculo
jurídico ligando os dois sujeitos. O objeto da obrigação é a prestação. Para o surgimento desse vínculo
(liame) há necessidade da existência de um fato, ato ou negócio jurídico, os quais são denominados de fontes
das obrigações. Existem três fontes das obrigações: os contratos, a declaração unilateral e o ato ilícito.
O nosso atual CC coloca o enriquecimento sem causa entre os atos unilaterais geradores de
obrigações. Tratase, portanto, de fonte autônoma de obrigação, como ato unilateral
Fundamento da obrigação surgida com enriquecimento sem causa: princípio da eqüidade.
Tratamento da matéria no Direito Romano: O princípio que veda o enriquecimento sem causa já era
conhecido do direito romano. As ações destinadas a evitar o locupletamento de coisa alheia, sem causa
jurídica, recebiam o nome genérico de condictiones. As condictiones eram utilizadas para combater
situações injustas, não amparadas por lei, entre elas o enriquecimento indevido.
Tratamento da matéria no Direito Brasileiro:
São várias as ações que têm a finalidade de ressarcimento pelo enriquecimento sem causa no sentido
amplo: ação de repetição de indébito (em caso de pagamento indevido), ação de locupletamento ilícito (para
cobrança de cheque prescrito, representativo de um empréstimo não pago), ação de indenização, etc. Todas
elas constituem espécies do gênero das ações in rem verso.
O CC/16 acolhia o princípio da vedação ao enriquecimento sem causa, não por meio de um capítulo
específico a ele destinado, mas em dispositivos esparsos destinados a afastar o locupletamento de alguém às
custas de outrem. Ademais é preciso frisar que a ação de enriquecimento sem causa deve ser subsidiária,
emergindo apenas na ausência de outra tutela jurisdicional. Em razão disso, há quem defenda que foi
intencional a omissão de um princípio geral do enriquecimento sem causa no CC/16.
O CC/02, por sua vez, dedicoulhe capítulo específico.
Pressupostos da ação de "in rem verso":
evitada;
empobrecimento do solvens (quem ) = perda que seja apreciável economicamente;
relação de causalidade o empobrecimento e o enriquecimento são resultantes de um mesmo fato.
ausência de causa jurídica (contrato ou lei) configurase o locupletameto ilícito quando inexiste
contrato ou lei a justificar o proveito de uma dos sujeitos da relação jurídica em detrimento do outro.
A restituição é devida também se a causa jurídica deixou de existir.
inexistência de ação específica. Não caberá a restituição por enriquecimento, se a lei conferir ao
subsidiário.
A ação in rem verso objetiva tão somente reequilibrar dois patrimônios, desequilibrados sem
fundamento jurídico. Para a utilização da denomina ação in rem verso, não deve existir uma ação de
indenização específica (subsidiariedade).
O CC/02 estabeleceu um prazo de 3 anos para a pretensão do ressarcimento de enriquecimento sem
causa (art. 206, §3º, IV).
Não se deve confundir aquilo que se concede a título de ressarcimento injustificado, com a
indenização decorrente de responsabilidade contratual ou aquiliana.
Objeto da restituição: a restituição deve ficar entre dois parâmetros. Não pode ultrapassar o enriquecimento
efetivo recebido pelo beneficiado em detrimento do prejudicado, nem pode ultrapassar o empobrecimento do
prejudicado.
2.6. Direito Civil
2.6.1. Classificação Dos Contratos. Compromisso.
2.6.1.1. Questões do TRF1
1) Diferencie cláusula compromissória e compromisso?
Resposta:
O compromisso é uma espécie de contrato cujo regramento encontrase nos artigos 851
a 853 do Código Civil. Sua definição encontrase no artigo 851: ―É admitido compro
164
misso, judicial ou extrajudicial, para resolver litígios entre pessoas que podem contra
tar‖. Quando extrajudicial, o contrato de compromisso pode assumir a forma de cláusula
compromissória ou compromisso arbitral. Segundo o artigo 4º da Lei nº 9.037/96, ―a
cláusula compromissória é a convenção através da qual as partes em um contrato com
prometemse a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir relativamente a
tal contrato‖. A cláusula compromissória, pois, voltase para litígios futuros e eventuais,
ou seja, ainda não verificados, ponto que a difere do compromisso arbitral, que é um
acordo de vontades, de igual teor, só que firmado após o surgimento do conflito de inte
resses.
2) O que seria um contrato desinteressado? E um que fosse gratuito não seria não interessa
do? Doação Pura. O que ocorre na doação pura? Enriquecimento de um lado e um sacrifício do
outro.
Resposta:
Caio Mário da Silva Pereira leciona: ―Encarados quanto ao objeto perseguido pelas par
tes, os contratos são: Onerosos, aqueles dos quais ambas as partes visam a obter vanta
gens ou benefícios, impondose encargos reciprocamente em benefício uma da outra.
Gratuitos ou benéficos, aqueles dos quais somente uma aufere a vantagem, e a outra
suporta, só ela, o encargo. Há quem distinga os contratos gratuitos propriamente ditos,
ou pura liberalidade, dos contratos desinteressados, com a observação de que, naque
les, há diminuição patrimonial de uma das partes em proveito da outra (como na doa
ção), enquanto que nos outros um dos contratantes presta um serviço ao outro sem nada
receber em troca da prestação feita ou prometida, porém sem empobrecerse, ou sem
sofrer diminuição no seu patrimônio.‖ Sob este viés, o contrato não interessado ape
nas pode ser considerado gratuito em sentido amplo, jamais em sentido estrito. A doa
ção pura, ou seja, sem encargo, é contrato gratuito propriamente dito exemplo, inclusi
ve, utilizado pelo mencionado autor.
2.6.1.2. Questões do TRF2
1) O contrato de Seguro é pluricontratual?
Resposta:
Maria Helena Diniz leciona: “Toda convenção, em sua formação, é bilateral ou plurila
teral, por existirem sempre duas ou mais vontades coincidentes”. O contrato de seguro
nos parece bilateral (seguradora e segurado), e não pluricontratual.
2) Pode nesse contrato ocorrer a hipótese de união de contratos?
165
Resposta:
Parecenos possível. Ex: união entre o contrato de compra e venda de um carro e o con
trato de seguro desse mesmo carro.
3) Fiança é um contrato multilateral? Este contrato é bilateral perfeito ou imperfeito? Aplicase
união de contratos?
Resposta:
Maria Helena Diniz leciona: ―Toda convenção, em sua formação, é bilateral ou plurila
teral, por existirem sempre duas ou mais vontades coincidentes‖. Em relação ao contrato
de fiança, diz: ―É um negócio entabulado entre credor e fiador, prescindindo da presen
ça do devedor, podendo até mesmo ser levado a efeito sem o seu consentimento ou con
tra sua vontade (CC, art. 820). O devedor não é parte na relação jurídica fidejussória.‖
Assim, como o devedor não é parte na formação do contrato, concluise que a fiança é,
em sua formação, um contrato bilateral, e não multilateral. Quanto aos seus efeitos, o
contrato de fiança é, sem dúvida, unilateral (gera obrigação apenas para o fiador), razão
pela qual não pode ser considerado bilateral perfeito. Pablo Stolze diz: ―Há quem de
fenda a existência de um tertium genius entre a unilateralidade e a bilateralidade dos
efeitos do contrato. Seria a figura do contrato bilateral imperfeito, o qual, na sua origem,
seria unilateral, mas, durante a sua execução, converterseia em bilateral‖. Não nos
parece possível que, durante a sua execução, a fiança gere encargos patrimoniais ao
credor, razão pela qual deixamos de considerála um contrato bilateral imperfeito. Há,
ao nosso sentir, união de contratos: entre o contrato de fiança e o contrato afiançado.
2.6.1.3. Questões do TRF3
2.6.1.4. Questões do TRF4
2.6.1.5. Questões do TRF5
3.6. Direito Civil
3.6.1. Validade e Invalidade dos Contratos. Contratos Fiduciários e Indiretos
3.6.1.1. Questões do TRF1
1) O que é uma propriedade fiduciária? Dême um exemplo. Como se dar a alienação fiduciá
ria de automóvel? É a regra? Como se adquire a propriedade móvel? Tradição. E porque não
pode se transferir o automóvel apenas por simples tradição?
Resposta:
2) Na alienação fiduciária o que representa o chamado excesso de meio? Se pratica um contra
to objetivo menor que é apenas a alienação em garantia.
Resposta:
3.6.1.2. Questões do TRF2
1) O contrato de fiança é plurilateral?
Resposta:
DESSE PONTO EM DIANTE: RESPOSTAS ELABORADAS POR EMANUEL JO
SÉ MATIAS GUERRA
2) O contrato de fiança pode ser caracterizado como união de contratos?
Resposta:
204
Entendese como união de contratos a circunstância em que dois ou mais ajustes estão
ligados funcionalmente entre si, ainda que não haja necessariamente relação de ―acessó
rio X principal‖. Assim, pela própria configuração do contrato de fiança, em que uma
pessoa garante ao credor o cumprimento de uma obrigação assumida por outra pessoa (o
STJ não aceita a ―autofiança‖), podese incluílo no conceito de união de contratos.
3.6.1.3. Questões do TRF3
1) Qual a diferença entre confirmação, convalidação e ratificação?
Resposta:
Embora haja bastante controvérsia doutrinária sobre o alcance dos conceitos, entende
se, em geral, que a convalidação é o ato jurídico que com efeitos retroativos sana vício
de ato antecedente de tal modo que ele passa a ser considerado como válido desde o seu
nascimento.
A ratificação seria uma de suas modalidades, realizada pela mesma pessoa que praticou
o ato a ser ratificado, ao passo em que a confirmação é realizada por outra pessoa
(quando no Direito Administrativo, é autoridade superior).
2) Qual a diferença entre silêncio, vontade tácita e vontade presumida?
Resposta:
Embora haja divergência na doutrina acerca do real alcance dos termos, podese dizer
que o silêncio é a ausência completa de manifestação de vontade, que somente produz
efeitos na medida em que estes sejam reconhecidos pela lei.
A vontade tácita, por sua vez, ocorre em situações nas quais há manifestação de vonta
de, mas esta não se dá pela forma escrita, embora se possa efetivamente perceber a real
intenção do agente. É o caso, por exemplo, do agente que cumpre um contrato mesmo
sabendo que sobre ele pende vício de anulabilidade, razão pela qual manifesta sua tácita
vontade de não questionar a validade da avença.
Já a vontade presumida, conceito bastante próximo do anterior, representa situação em
que a lei atribui a determinado comportamento um específico significado de um decla
ração de vontade negocial. É o caso da devolução da coisa empenhada, que presume a
remissão do penhor.
3) Há produção de efeitos em negócio inexistente e negócio inválido?
Resposta:
Há clássica afirmação no sentido de que os atos inválidos são aptos à produção de efei
tos, enquanto não desconstituídos, ao passo em que os atos inexistentes jamais podem
205
produzir efeitos, já que sequer reúnem os requisitos de existência dos atos jurídicos em
geral, razão pela qual prescindiriam até mesmo de declaração judicial de sua inexistên
cia.
Na prática, entretanto, é possível que haja produção de efeitos em atos inexistentes, até
que sobrevenha manifestação judicial em contrário. Exemplo conhecido dos tribunais
federais é o caso do aposentado do INSS que tem valores descontados em seu benefício
por suposto contrato de empréstimo consignado com instituição financeira; o contrato
não existe, mas até que haja determinação judicial em contrário, haverá produção de
efeitos; se o desconto dos valores não for percebido pelo aposentado, o contrato inexis
tente produzirá todos os seus efeitos e o ―pagamento‖ será integralmente realizado.
3.6.1.4. Questões do TRF4
3.6.1.5. Questões do TRF5
309
5.6. Direito Civil
5.6.1. Compra E Venda. Pactos Adjetos. Compromisso De Compra E Venda
5.6.1.1. Questões do TRF1
1) O que se entende por venda ad mensuram? Qual a casuística disto?
Resposta:
A venda ad mensuram é aquela em que as partes estipulam o preço do bem imóvel obje
to da compra e venda por medida de extensão, hipótese em que a medida passa a ser
condição essencial ao contrato efetivado. Neste caso, a medida do imóvel não é sim
plesmente enunciativa como ocorre na venda ad corpus, onde um imóvel é vendido co
mo corpo certo e determinado, independentemente das medidas especificadas no ins
trumento.
No caso de venda por extensão, admitese uma variação de área de até 5%, existindo uma
resunção relativa de que tal variação é tolerável pelo comprador. Mas, este pode provar o
contrário, requerendo a aplicação das regras do vício redibitório especial.
Assim, havendo variação superior ao tolerável, o comprador prejudicado poderá exigir:
i) a complementação da área por meio da ação ex empto; ii) o abatimento proporcional
do preço por meio da ação quanti minoris; iii) a resolução do contrato, com a devolução
do que foi pago (ação redibitória). Havendo máfé por parte do alienante, este induz
culpa, podendo o comprador requerer perdas e danos que o caso concreto indicar.
Questionamento importante é saber se a ordem apresentada deve ser seguida ou é facu
dade do comprador escolher que ação ajuizar. Devese aplicar o princípio da conserva
ção contratual, que mantém relação com a função social (Enunciado 22 do CJF).
Se, em vez de faltar área, houver excesso, o vendedor ajuizará ação na qual deve provar
que possuía motivos justos para ignorar a medida da área. O comprador, então, terá duas
opções: i) completar o valor correspondente ao preço; ii) devolver o excesso. No que
toca à devolução do excesso, surgirão despesas que deverão ser repartidas de acordo
com o princípio da boafé. Se houver indícios de que o vendedor sabia do vício, deverá
ele arcar com as despesas de forma integral. Havendo máfé do comprador, ele deverá
arcar com as despesas. Caso contrário, elas serão repartidas.
2) Sistema francês e alemão sobre a compra e venda, qual a eficácia da compra e venda no
direito francês e faça um contraponto com esta eficácia no direito alemão? No Brasil, podese
dizer que os negócios translativos de propriedade são negócios de disposição?
Resposta:
No direito contemporâneo, o contrato de compra e venda pode ser examinado à luz de
dois sistemas jurídicos diversos: o francês e o alemão.
310
Pelo primeiro o contrato cria ao mesmo tempo o vínculo obrigacional e transfere o do
mínio da coisa vendida (nudus consensus parit proprietatem). Ou seja, transferese o do
mínio com o próprio contrato, independentemente da tradição da coisa vendida. Somen
te pelo contrato o comprador tornase o titular do domínio. Vêse que o sistema francês
apartouse da tradição romana.
Para o sistema alemão o contrato gera exclusivamente uma obrigação de dar, com o
vendedor assumindo somente obrigação ad tradendum. A transferência do domínio veri
ficarseá quando da tradição da coisa vendida. Esse foi o modelo adotado como regra
pelo Direito Brasileiro.
Quanto ao exercício de direitos, os negócios jurídicos podem ser classificados como de
disposição, quando autorizam o exercício de amplos direitos, incluindo a alienação, so
bre o objeto transferido (ex.: doação); ou negócios de administração, quando admitem
apenas a simples administração e uso do objeto cedido (ex.: comodato e mútuo). Logo,
a meu ver, os negócios translativos de propriedade não são negócios jurídicos de dispo
sição, pois essa distinção só tem utilidade quando há restrição por força de lei ou de
sentença dos poderes de gestão patrimonial dos administradores de bens alheios, de
bens próprios e alheios, o que não e o caso do negócio translativo de propriedade (pes
soal, fui tentando construir a resposta, com base em conceitos que encontrei na internet,
mas não tenho certeza se o negócio translativo é ou não negócio de disposição, pois não
encontrei nada a respeito nos livros que tenho)
3) O que seria a retrovenda? Qual o prazo? Esta recompra é o direito de retrato? É uma nova
compra e venda?
Resposta:
Constitui um pacto inserido no contrato de compra e venda pelo qual o vendedor reser
vase o direito de reaver o imóvel que está sendo alienado, dentro de um certo prazo,
restituindo o preço e reembolsando todas as despesas feitas pelo comprador no período
de resgate, desde que previamente ajustadas. Tais despesas inclui as benfeitorias neces
sárias. Essa cláusula somente é admissível em bens imóveis.
Na verdade, essa cláusula concede ao vendedor o direito de desfazer a venda – ogo, não
é uma nova compra e venda – dentro do prazo máximo de 3 anos. Essa cláusula tem o
condão de tornar a propriedade resolúvel; tratase de cláusula resolutiva expressa.
A ação de resgate é constitutiva negativa, de rito ordinário, pela qual o vendedor obtém
o domínio do imóvel a seu favor, tendo a demanda eficácia erga omnes, diante do cará
ter real do instituto. Seu prazo decadencial é de 3 anos.
311
4) Quais são os elementos essenciais do contrato de compra e venda? Existe alguma forma
especial para celebrar compra e venda de bem imóvel ou é livre? Pode se comprar imóvel por
escritura particular? A pessoa tem que fazer o que, tem que fazer aonde?
Resposta:
Na visão clássica e contemporânea, os elementos da compra e venda são: i) partes
(comprador e vendedor), sendo implícita a vontade livre, o consenso entre as partes,
sem vícios; ii) coisa (res); iii) preço. As partes devem ser capazes. A coisa deve ser líci
ta, determinada ou determinável, alienável, ou seja, deve ser consumível no âmbito jurí
dico. O preço deve ser certo, determinado e em moeda nacional corrente, pelo valor
nominal (princípio do nominalismo). O preço não deve ser fixado em moeda estrangeira
ou em ouro, sob pena de nulidade absoluta do contrato. Exceção deve ser feita para a
compra e venda internacional, nos termos do Decreto 857/69.
A compra e venda pode ser negócio formal (solene) ou informal (não solene). Seguese
o entendimento segundo o qual a solenidade está relacionada com a escritura pública e
não com a forma escrita (formalidade é gênero, solenidade é espécie). O contrato de
compra e venda exige escritura pública quando o valor do bem imóvel, objeto do con
trato, for superior a 30 salários mínimos. Mas, em todos os casos de compra e venda de
bem imóvel é necessária a forma escrita para registro no CRI, estando a eficácia no
mesmo plano da validade do contrato em questão. Nas hipóteses de compra e venda de
bens móveis, não há necessidade de contrato escrito, tampouco de escritura pública,
pois não há registro.
A propriedade móvel, portanto, se transfere pela tradição, enquanto a imóvel pelo regis
tro do contrato no cartório de Registro Imobiliário.
5) Faça uma distinção entre promessa de compra e venda e compromisso de compra e venda.
Resposta:
Nelson Rosenvald apresenta a seguinte distinção:
Definese a promessa de compra e venda como espécie de contrato preliminar pelo qual
as partes, ou uma delas, comprometemse a celebrar adiante o contrato definitivo de
compra e venda. É negócio de segurança, destinado a conferir garantias às partes quanto
à relação substancial em vista.
Já no contrato de compromisso de compra e venda inexiste possibilidade de exercício de
direito de arrependimento, configurando um contrato preliminar impróprio. Isto é, com
a prova do pagamento do preço, o compromissário comprador é dispensado de procurar
um segundo acordo de vontades, já que o adimplemento integral é justificativa suficien
te ao alcance do registro do direito de propriedade, dispensandose a superfetação de se
promover uma escritura definitiva de compra e venda. Neste sentido, o art. 41, da Lei nº
6.766/79 aduz que ―...o adquirente do lote, comprovando o depósito de todas as presta
312
ções do preço avençado, poderá obter o registro de propriedade do lote adquirido, va
lendo para tanto o compromisso de compra e venda definitivamente firmado‖.
6) Distinga Título aquirendi e modus aquisicionis.
Resposta:
Pelo sistema do Código Civil, a propriedade imobiliária se adquire "pela transcrição do
título de transferência no registro do imóvel" (art. 530, I do Código Civil de 1916). A
transmissão exige, pois, dois atos e dois momentos.
O primeiro realizase com o contrato, o titulus adquirendi , isto é, a razão, o motivo, a
causa da transmissão da propriedade.
O segundo é o registro, ato formal, ao qual a lei atribui o efeito de transmitir a proprie
dade imobiliária, o modus aquisicionis. De sorte que, embora o título não seja hábil, por
si só, para transferir o domínio, é de fundamental importância. A compra e venda de
bens imóveis, portanto, é ato complexo, que se aperfeiçoa com o registro.
7) O que é uma venda a contento?
Resposta:
A venda a contento é tratada pelo CC/02 como uma cláusula especial de compra e ven
da. Em seus termos, a venda não se aperfeiçoa enquanto o comprador não se declara
satisfeito com o bem a ser adquirido. Diferenciase da venda sujeita a prova, pois naque
la o comprador não conhece ainda o bem que irá adquirir, havendo uma aprovação ori
ginal. Desse modo, a tradição não gerará a transferência da propriedade, mas tão somen
te a da posse direta. Enquanto o comprador não manifestar a sua aprovação, suas obri
gações serão as de um mero comodatário. Eventual rejeição da coisa pelo comprador
que não a aprovou funciona como cláusula resolutiva. A recusa deve ser fundada no
bom senso, não podendo ser motivada no mero capricho.
8) O que é a venda de uma coisa esperada? É igual à venda da esperança?
Resposta:
A venda de uma coisa esperada, também conhecida como emptio rei esperatae, é a ven
da da esperança quanto à coisa esperada. Referese a assunçã do risco por um dos con
tratantes quanto à quantidade da coisa, caso em que o alienante terá direito a todo o pre
ço, desde que de sua parte não tenha concorrido culpa, ainda que a coisa venha a existir
e quantidade inferior a esperada. Nesta situação, é fixada uma quantia mínima para a
compra. O risco, nesse caso, é menor, pois há uma taxa mínima em relação ao objeto.
313
Já a venda da esperança, chamada de emptio spei, ocorre quando a assunção de riscos
por um dos contratantes toca a própria existência da coisa, caso em que o outro terá di
reito de receber integralmente o que lhe for devido, desde que de sua parte não tenha
havido dolo ou culpa, ainda que nada do avençado venha a existir. No contrato em ques
tão, não é fixada nem mesmo uma quantidade mínima como objeto, fazendo que o risco
seja maior.
5.6.1.2. Questões do TRF2
5.6.1.3. Questões do TRF3
5.6.1.4. Questões do TRF4
5.6.1.5. Questões do TRF5
566
9.6. Direito Civil
9.6.1. Mandato. Revisão E Extinção Dos Contratos
9.6.1.1. Questões do TRF1
9.6.1.2. Questões do TRF2
1) No que consiste a gestão de negócios? Exemplifique.
Resposta:
Gestão de negócios (arts. 861 a 875, CC/02) é ato jurídico unilateral, não tendo, portan
to, natureza contratual. Faltalhe, assim, o consenso, o acordo de vontades entre as par
tes. Tratase da intervenção realizada por alguém na gestão de negócio alheio, sem auto
rização do interessado, devendo dirigilo segundo o interesse e a vontade presumível de
seu dono, ficando responsável a este e às pessoas com que tratar (art. 861, CC/02). Per
cebase que a atuação do gestor se opera espontaneamente e sem mandato, devendo se
limitar a atos de natureza patrimonial. Como se trata de ingerência na esfera patrimonial
de outrem, sem autorização expressa deste, a gestão de negócios deve se fundar em ne
cessidade imperiosa ou por utilidade, com o intuito de trazer proveito para o dono. E
xemplos legais: arts. 871 e 872, CC/02. Outro exemplo: morador de edifício que arrom
ba porta do vizinho para fechar torneira, e troca a fechadura arrombada, devendo ser
indenizado pelas despesas (art. 869, CC/02). Vale notar que não há aí obrigação de agir,
atuando o gestor por solidariedade, por puro altruísmo (a gestão é gratuita, ressalvando
se as hipóteses legais de responsabilidade pelo prejuízo causado), sendo equiparado a
um mandatário sem procuração (art. 873, CC/02).
9.6.1.3. Questões do TRF3
1) Qual elemento essencial para configuração do mandato?
Resposta:
Embora haja polêmica na doutrina, podese considerar como elemento essencial do con
trato de mandato a representação do mandante pelo mandatário. Temse aí o traço mar
cante que distingue o mandato de outros institutos como o contrato de sociedade, a lo
cação de serviços e a gestão de negócios. O mandatário (representante) atua então no
interesse do mandante (representado), se obrigando, em nome e por conta deste, a prati
car atos ou administrar interesses (art. 653, CC/02). Percebase que, embora o objeto do
mandato seja a representação, nada obsta que haja representação sem mandato, como na
hipótese da representação legal dos pais em face dos filhos menores.
2) Seria possível mandato sem representação?
567
Resposta:
A questão é polêmica. Em princípio, não se poderia cogitar de um contrato de mandato
em que não houvesse a outorga de poderes de representação do mandante ao mandatá
rio, até mesmo porque a representação seria o elemento essencial desta espécie contra
tual. Assim, se o mandatário atua em nome e interesse do mandante, não há dúvidas de
que o está representando. Por outro lado, se o mandatário atua em nome próprio, mas
por interesse e ordem do mandante, não se estaria aí diante de um contrato de mandato
propriamente dito, mas sim de um contrato de comissão (arts. 693 a 709, CC/02). Ocor
re que, ainda neste caso, poderia se falar em representação, embora de caráter indireto.
Com base nisso, a conclusão mais adequada seria a de que na essência do contrato de
mandato estaria a outorga de poderes de representação, não sendo possível vislumbrar,
nesse diapasão, mandato sem representação. Ocorre que parte da doutrina, interpretando
o disposto na parte final do art. 663, CC/02, tem entendido ser possível o mandato sem
representação, isto na situação em que o mandatário, agindo em seu próprio nome e sob
sua responsabilidade pessoal, ainda que por conta do mandante, estipular negócio em
favor deste.
9.6.1.4. Questões do TRF4
9.6.1.5. Questões do TRF5
842
13.5.1.2. Questões do TRF2
13.5.1.3. Questões do TRF3
13.5.1.4. Questões do TRF4
13.5.1.5. Questões do TRF5
13.6. Direito Civil
13.6.1. Contrato De Seguro. Contrato De Consumo
13.6.1.1. Questões do TRF1
1) Diferencie a partir do caso prático, Contrato Comercial, Contrato de Consumo e Contrato
Civil – exemplo prático – empresa vende 500 computadores a outra empresa, empresa vende
um computador para um indivíduo, indivíduo vende para indivíduo. Fazer a distinção.
Resposta:
Os contratos são mercantis quando os dois contratantes são empresários, com a ressalva
quanto aos casos em que o empresário comprador se enquadra no conceito de consumi
dor, hipótese em que terão incidência as normas especiais do CDC. Contrato mercantil é
aquele celebrado entre empresários, ou ainda, ambos os contratantes exercem atividade
empresarial. Já o contrato civil não é realizado por empresários, mas por indivíduos
comuns, sendo que nenhum dos indivíduos está em situação de vulnerabilidade eco
nômica frente ao outro.
2) Depois de um contrato de seguro, se não houver dano, pode se pedir a devolução do dinhei
ro?
Resposta:
Não. Tratase de um Contrato aleatório. A diferença entre um contrato comutativo, está
na equivalência entre as prestações, eis que, enquanto os contratos tipicamente comuta
tivos são timbrados pela equivalência real das prestações, nos contratos tipicamente
aleatórios essa equivalência em regra não existe, justo em razão do risco que o caracte
riza como seu elemento nuclear. O simples fato de o risco ser elemento essencial para a
existência do contrato de seguro o afasta de qualquer natureza comutativa, até em fun
843
ção da mutualidade e dos cálculos de probabilidades que o regem, chamando para si a
estatística e a ciência atuarial para orientarem a sua operação, dispensadas nos contratos
comutativos. Se fosse comutativo, haveria a ideia de devolução de prêmio em caso de
não haver sinistro. Todavia, se desde a conclusão do contrato o risco não existir, ou já
tiver passado, a devolução do prêmio se impõe, por falta de objeto. No último caso, a
devolução seria até em dobro (art. 773 do CCb), seja comutativo ou aleatório o contrato.
3) Qual o significado da franquia simples?
Resposta:
Franquia é o valor, expresso na apólice, que representa a parte do prejuízo que deverá
ser arcada pelo segurado por sinistro. Assim, se o valor do prejuízo de determinado si
nistro não superar a franquia, a seguradora não indenizará o segurado. Semelhante à
franquia, a POS (Participação Obrigatória do Segurado) é definida como percentual da
importância segurada ou dos prejuízos indenizáveis que caberão ao segurado. A fran
quia pode ser simples ou dedutível. Franquia Simples Pela cláusula de franquia sim
ples, os sinistros, até determinado valor preestabelecido, são suportados, integralmente,
pelo segurado. Porém, aqueles que excederem o limite contratual serão indenizados pelo
seu valor total, sem qualquer participação do segurado. Franquia Dedutível É aquela
cujo valor sempre é deduzido dos prejuízos. Esse tipo de franquia é mais utilizado. O
sistema de franquia dedutível objetiva otimizar a situação preventiva do segurado, já
que este participa obrigatoriamente dos prejuízos.
4) Pode ser feito dois seguros de um carro? Qual a razão da vedação? Porque o CC dispõe não
poder para bens? Pelo CC/2002 há a possibilidade de mais de um seguro de vida, e com rela
ção bens não pode, por quê?
Resposta:
O seguro de bens não pode ser dobrado, pois seu sentido é indenizatório.
5) O contrato de seguro é formal, solene, ou meramente consensual?
Resposta:
O contrato de seguro é DE ADESÃO: contrato com cláusulas e condições pré
estabelecidas impossibilitando o debate e transigência entre as partes. Dessa forma, no
momento de sua celebração, apenas caberá ao segurado aderir ao que lhe é proposto. E
CONSENSUAL: grande parte da doutrina afirma que o contrato de seguro está perfeito
844
e acabado quando se der o acordo de vontades (consenso das partes). Numa primeira
análise do art. 758 do NCC, poderseia concluir que o seguro seria formal devido à
necessidade do documento. Todavia, o documento exigido não faz parte da substância
do ato, possuindo apenas caráter probatório. No entanto, a posição de que o contrato de
seguro seria contrato FORMAL também é defendida por juristas não menos importan
tes, como C. M. da Silva Pereira. Maria Helena Diniz, baseada no art. 1.433 do CC,
afirma "ser obrigatória a forma escrita, já que não obriga antes de reduzido a escrito,….
A forma escrita é exigência para a substância do contrato". Parecenos, todavia, mais
lógica a posição defendida pela maioria da doutrina de que se trata de contrato consen
sual.
6) Contrato Securitário Suicídio não premeditado darseá indenização para o evento morte?
Havendo suicídio pouco importa, não se cogita mais disto, não se paga a indenização, mas se
devolve a reserva técnica?
Resposta:
A interpretação do artigo 798 do Código Civil era pacificada pelos operadores do Direi
to, mas o Superior Tribunal de Justiça por meio da 2ª Seção resolveu novamente colocar
―nova celeuma‖ ao julgar o Agravo de Instrumento 1.244.022/RS. No julgamento, pre
valeceu o entendimento apresentada pelo ministro Luis Felipe Salomão, no sentido de
que: ―o suicídio cometido durante os dois primeiros anos de vigência do contrato de
seguro de vida, período de carência, a seguradora só estará isenta do pagamento da in
denização securitária, se comprovar que o ato do segurado foi premeditado‖ Neste sen
tido, também foi o entendimento do STJ, através do voto da relatora ministra Fátima
Nancy Andrighi, ao julgar o Recurso Especial 1.188.091MG, valendose da precedente
citada no Resp 1.077.342MG, DJE 3/9/2010, a 3ª Turma deu provimento ao recurso
por entender que as regras concernentes aos contratos de seguro devem ser interpretadas
sempre com base nos princípios da boafé e da lealdade contratual. Destarte, ― a presun
ção de boafé deverá, segundo a ementa deste recurso especial, prevalecer sobre a exe
gese literal do referido artigo‖, isto é, do 798 do CC. Ou seja, em síntese apertada, ul
trapassados os dois anos, presumirseá que o suicídio não foi premeditado, mas o con
trário não ocorre: se o ato foi cometido antes desse período, havendo necessidade da
seguradora provar a premeditação. Pois, segundo o teor desta decisão ―o planejamento
do ato suicida, para efeito de fraude contra o seguro, nunca poderá ser presumido, apli
candose o princípio segundo o qual a boafé é sempre presumida, enquanto a máfé
deve ser comprovada a teor das súmulas 105 do STF e 61 do STJ‖.
7) Qual seria a causa de contrato de seguro?
Resposta:
845
O contrato de seguro existe em virtude da necessidade de se precaver contra possíveis
riscos. Com efeito, o objeto do contrato de seguro, segundo C. M. da Silva Pereira é o
risco, que, por enquanto, limitarnosemos a definilo como o evento futuro e incerto, o
qual, em se concretizando, ensejará o cumprimento da contraprestação de "indenizar"
por parte do segurador.
8) Discorra sobre a boafé objetiva no contrato de seguro? Boafé objetiva (correção de com
portamento). Aqui ela incide bem mais do que em relação a outros contratos.
Resposta:
A boa fé é essencial no contrato de seguro. Então, nada mais acertado que a exigência
da adoção da boa fé objetiva como pressuposto essencial para segurado e para segura
dor, durante a conclusão e a execução da avença. Ao tratar de contraprestação futura,
suportada por mútuo de terceiros, de acordo com o disposto num contrato de adesão
parcial, no qual o segurado não apenas adere aos seus termos, mas interage com a segu
radora, determinando coberturas, valores, franquias, participações obrigatórias, cláusu
las e condições, nada mais prudente do que a adoção da boa fé objetiva como balizadora
da relação. E esta tese tem sido aceita e aplicada para o bom andamento dos contratos
de seguros durante sua vigência e para a resolução de conflitos, quando necessário. As
sim, cada contrato de seguro é único. Mas em todos eles, desde a intenção de contratar
até o término da relação entre o segurado e o segurador, as duas formas de boa fé são de
aplicação obrigatória. Ademais, as regras concernentes aos contratos de seguro devem
ser interpretadas sempre com base nos princípios da boafé e da lealdade contratual.
Destarte, ― a presunção de boafé deverá, segundo a ementa deste recurso especial, pre
valecer sobre a exegese literal do referido artigo‖, isto é, do 798 do CC. É a aplicação
no suicídio perante o contrato de seguro (resposta a questão 6 supra) Vale transcrever a
regra, prevista no artigo 765: ―O segurado e o segurador são obrigados a guardar, na
conclusão e na execução do contrato, a mais estrita boa fé e veracidade, tanto a respeito
do objeto como das circunstâncias e declarações a ele concernentes‖.
9) Retrocessão, o que seria na operação securitária?
Resposta:
Operação feita pelo ressegurador e que consiste na cessão de parte das responsabilida
des por ele aceitas a outro, ou outros resseguradores. Em outro enfoque: é o resseguro
de um resseguro. Os planos de retrocessão são, basicamente, da mesma natureza dos
utilizados em operações de resseguro, delas diferindo apenas na condição dos partici
pantes, pois enquanto o segurador direto faz cessões em resseguro, o ressegurador faz
retrocessões a outros resseguradores. Em qualquer caso, tanto nas operações de ressegu
846
ro quanto nas de retrocessão, o ressegurador e o retrocessionário obrigamse apenas
com as entidades que lhes fizeram cessões ou retrocessões, nunca com os segurados. No
Brasil as seguradoras autorizadas a operar no País são retrocessionárias, obrigatórias, do
IRB.
10) Resseguro, o que seria? Seguro do seguro. Operação de retrocessão – resseguro de resse
guro?
Resposta:
É a distribuição parcial do risco assumido pela seguradora, em que esta transfere para
outras, parte da sua responsabilidade. É a operação de que se vale um ou mais segurado
res para transferir a resseguradora o excesso de responsabilidade que ultrapassa o limite
de sua capacidade econômica de indenizar. Resseguro é o seguro do seguro. É diferente
do cosseguro, uma vez que a operação de transferência parcial do risco assumido é feita
entre as seguradoras, sem conhecimento do segurado. As partes contratantes do ressegu
ro são o segurador e o ressegurador. O ressegurador pode efetuar um repasse de partes
das responsabilidades recebidas, procedendo assim a uma cessão que recebe o nome de
retrocessão. Retrocessão é a operação de que se socorre o ressegurador para repassar ao
Mercado Segurador Nacional os excessos de responsabilidade que ultrapassarm os seus
limites de capacidade de indenizar. Retrocessão é o resseguro do resseguro.
11) Subrogação, isto ocorre contra quem nos contrato de seguro?
Resposta:
CC Art. 786. Paga a indenização, o segurador subrogase, nos limites do valor respec
tivo, nos direitos e ações que competirem ao segurado contra o autor do dano. § 1o Sal
vo dolo, a subrogação não tem lugar se o dano foi causado pelo cônjuge do segurado,
seus descendentes ou ascendentes, consangüíneos ou afins. Com efeito, o CC de 2002
regulou expressamente, admitindo a subrogação, no seguro de dano ressalvados os ca
sos em que o dano tenha sido causado pelo cônjuge do segurado, seus ascendentes ou
descendentes consangüíneos ou afins.No seguro de pessoa (o art. 800 do CC) veda ex
pressamente a subrogação em favor do segurador contra o causador do sinistro. Nume
rosas espécies de seguro surgiram, e assim todo risco criado de qualquer interesse legí
timo do segurado, em qualquer gênero de atividade.
12) O que é uma franquia num contrato de seguro?
847
Resposta:
Franquia é o valor, expresso na apólice, que representa a parte do prejuízo que deverá
ser arcada pelo segurado por sinistro. Assim, se o valor do prejuízo de determinado si
nistro não superar a franquia, a seguradora não indenizará o segurado. Semelhante à
franquia, a POS (Participação Obrigatória do Segurado) é definida como percentual da
importância segurada ou dos prejuízos indenizáveis que caberão ao segurado. A fran
quia pode ser simples ou dedutível. Franquia Simples Pela cláusula de franquia sim
ples, os sinistros, até determinado valor preestabelecido, são suportados, integralmente,
pelo segurado. Porém, aqueles que excederem o limite contratual serão indenizados pelo
seu valor total, sem qualquer participação do segurado. Franquia Dedutível É aquela
cujo valor sempre é deduzido dos prejuízos. Esse tipo de franquia é mais utilizado. O
sistema de franquia dedutível objetiva otimizar a situação preventiva do segurado, já
que este participa obrigatoriamente dos prejuízos.
13.6.1.2. Questões do TRF2
1) Falar sobre o risco ficto nos contratos de seguro.
Resposta:
Não achei nada específico sobre risco ficto. Segue o que eu achei sobre risco: O risco no
contrato de seguro consiste ―no acontecimento futuro e incerto previsto no contrato,
suscetível de causar dano. Quando este evento ocorre, a técnica securitária o denomina
sinistro‖ . A obrigação de garantia contida no seguro, só obriga a seguradora a pagar a
indenização quando o risco se concretiza, de maneira que este acontecimento tornase
essencial. Dessa maneira, se o contrato segura determinado interesse frente a determi
nados riscos, fazse necessário que eles sejam expressamente declarados na apólice e
que seja indicado os termos inicial e final de vigência, no qual em ocorrendo o aconte
cimento ele será indenizado. O risco, sendo essencial ao seguro, é condição da possibi
lidade do interesse ser segurável. Relembrando que a doutrina moderna aponta como o
objeto do seguro o interesse segurável, logo, o acontecimento danoso futuro e incerto
tem que ser possível, sob pena de invalidade do contrato. Isto ocorre, pois a Teoria Ge
ral dos Negócios Jurídicos determina que, além do objeto ser lícito, ele também há de
ser possível (art. 82 CC e art. 104, I NCC). Seria inválido, e.g., um seguro visando pro
teger uma propriedade da invasão de alienígenas.
2) Discorra sobre os elementos os elementos da relação de consumo.
Resposta:
1. Elementos Objetivos: a) Produto: é todo bem material ou imaterial, móvel ou imó
vel colocado no mercado de consumo. b) Serviço: é toda atividade prestada mediante
remuneração, podendo ter natureza bancária, de crédito, financeira e securitário, estando
848
excluídas a atividades decorrentes da relação de trabalho. Não obstante, os contratos
bancários serem de consumo não pode o juiz conhecer de ofício da abusividade de suas
cláusulas (Súmula 381 STJ). 2. Elementos subjetivos: a) Fornecedor: é toda a pessoa
física ou jurídica, de direito público ou privado, nacional ou estrangeiro podendo tam
bém ser um ente despersonalizado que fornece produto ou presta serviços no mercado
de consumo com profissionalismo e habitualidade.
b) Consumidor: é consumidor toda pessoa física ou jurídica que adquire produto ou
serviço como destinatário final fático e econômico. Será destinatário final fático aquele
que ocupa a última posição na cadeia produtiva, ou seja, adquiriu um produto ou serviço
para uso próprio ou de sua família e será destinatário final econômico quando não bus
car lucros com o bem adquirido. Excepcionalmente o STJ afasta a aplicação da teoria
finalista para proteger aqueles que mesmo buscando lucros com o bem adquirido en
frentam o mercado de consumo com condição de vulnerabilidade, sendo reconhecida a
estes a aplicação do CDC (Teoria Finalista mitigada).
3) Conceitue consumidor e fornecedor.
Resposta:
Existe o Consumidor em sentido próprio, chamado pela doutrina de consumidor padrão,
standard ou stricto sensu é aquele para quem a lei disponibiliza sua tutela integral. O
Código de Defesa do Consumidor, em seu art. 2º, caput, define:
consumidor é toda a pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço
como destinatário final. A lei de defesa do consumidor protege, além do consumidor em
sentido próprio, outros sujeitos que se encontram em posição de desigualdade frente ao
fornecedor. Estes indivíduos, grupos ou sujeitos indeterminados são equiparados a con
sumidor por intervirem nas relações de consumo, sempre ocupando uma posição de
vulnerabilidade.
Dessa maneira, para efeitos de proteção legal, o CDC equipara a consumidor: a) coleti
vidade de pessoas, ainda que indetermináveis (art. 2º, parágrafo único, do CDC); b) ví
timas de acidente de consumo. (art. 17 do CDC) (bystanders); c) pessoas expostas às
práticas abusivas (art. 29 do CDC). O art. 3º do Código de Defesa do Consumidor con
ceitua como sendo fornecedor:
Já o Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, publica ou privada, nacional ou estran
geira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção,
montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou
comercialização de produtos ou prestação de serviços. Através da análise deste concei
to dado pelo legislador, podemos concluir que fornecedor é o gênero e que as espécies
são o fabricante, produtor, construtor, importador, exportador, distribuidor e o comerci
ante, podendo ser qualquer pessoa física ou jurídica. O fornecedor se classifica em:
849
real: é aquele responsável pelo processo de fabricação e produção, que são o fabrican
te, construtor e produtor. aparente: são aqueles que não participam do processo de pro
dução, mas se apresentam como tal, vez que inserem seu nome na marca do produto,
seria neste caso o comerciante. presumido: é o importador do produto ou aquele que
vende produtos sem identificação clara, estes são o importador e o comerciante.
4) A proteção à saúde e segurança do consumidor: a responsabilidade solidária dos causadores
do dano pode ser enquadrada como propter rem?
Resposta:
Fiquei em dúvida com relação a essa questão, e, mesmo após muito pesquisar, não en
contrei a resposta. Todavia, refletindo sobre ela, responderia que: Obrigação propter
rem é aquela em que o devedor, por ser titular do direito sobre a coisa, fica sujeito a
uma determinada prestação decorrente da relação entre o devedor e a coisa. A circuns
tância por ser titular do direito é o que o faz devedor da determinada prestação. Na o
brigação "Propter Rem", a prestação não deriva da vontade do devedor, mas sim de sua
mera condição de titular do direito real. Assim, a questão seria em tese possível de ser
enquadrada como propter rem, considerando que eventual alteração na titularidade da
pessoa jurídica causadora do dano (alienação, incorporação, etc.) não obstaria eventual
pretensão indenizatória do consumidor (ou seja, o mero fato de ser titular do direito real
de propriedade do estabelecimento tornaria o indivíduo responsável pelo dano, ainda
que p. ex. Ele não fosse proprietario quando o produto defeituoso foi produzido). As
sim, tentando imaginar o que o examinador queria ouvir como resposta, arriscaria aí
nessa questão da transferência do passivo.
5) Quais são as quatro dimensões que conhecemos da figura do consumidor?
Resposta:
Existe o Consumidor em sentido próprio, chamado pela doutrina de consumidor padrão,
standard ou stricto sensu é aquele para quem a lei disponibiliza sua tutela integral. O
Código de Defesa do Consumidor, em seu art. 2º, caput, define:
consumidor é toda a pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço
como destinatário final. A lei de defesa do consumidor protege, além do consumidor em
sentido próprio, outros sujeitos que se encontram em posição de desigualdade frente ao
fornecedor. Estes indivíduos, grupos ou sujeitos indeterminados são equiparados a con
sumidor por intervirem nas relações de consumo, sempre ocupando uma posição de
vulnerabilidade.
850
Dessa maneira, para efeitos de proteção legal, o CDC equipara a consumidor: a) coleti
vidade de pessoas, ainda que indetermináveis (art. 2º, parágrafo único, do CDC); b) ví
timas de acidente de consumo. (art. 17 do CDC) (bystanders); c) pessoas expostas às
práticas abusivas (art. 29 do CDC).
DESSE PONTO EM DIANTE: RESPOSTAS ELABORADAS POR TIAGO BORRÉ
6) Todas as quatro dimensões são tuteláveis no âmbito dos valores da atividade econômica?
Resposta:
Não encontrei na doutrina (Eros Roberto Grau) uma resposta exata. Penso que a defesa
do consumidor como princípio da ordem econômica diz respeito à sua condição de vul
nerabilidade, de modo que apenas estaria tutelado o consumidor em sua conceituação
econômica (parte mais vulnerável na relação contratual). Segundo Ada Pellegrini, o
CDC desprezou, na conceituação de consumidor, componentes de ordem sociológica,
psicológica e filosófica.
7) Então, por exemplo, quando o indivíduo está em casa e assiste uma má propaganda, uma
má publicidade também seria uma forma de violação a este valor?
Resposta:
Obs: Impossível compreender o exato contexto em que surgiu esta pergunta, de modo
que fica difícil elaborar uma resposta exata.
8) O Estado pode ser sujeito de relação de consumo? Nessa situação, se aplicaria a legislação
especial, o CDC?
Resposta:
De acordo com o artigo 3º do CDC ―Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública
ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desen
volvem atividade de produção, montagem [...]‖. Já o 22 do CDC reza que ―Os órgãos
públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer
outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficien
tes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos‖. O CDC também prevê, dentre os direi
tos básicos do consumidor, a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral
(art.6º, X), além da necessidade de racionalização e melhoria dos serviços públicos
(art.4º, VII). Logo, as pessoas jurídicas de Direito Público podem figurar no polo ativo
da relação de consumo e, quando prestadoras de serviços públicos, sejam de direito pú
blico, sejam de direito privado, estão submetidas às regras do CDC. No entanto, somen
851
te os serviços públicos realizados mediante remuneração paga diretamente pelos con
sumidores (serviços uti singuli), remunerados por tarifa ou preço público) submetemse
ao CDC, pois os serviços públicos realizados mediante pagamento de tributos (uti uni
versi) não se submetem ao CDC. Esse tem sido o entendimento do STJ.
9) Discorra sobre conceito de oferta e mercado de consumo.
Resposta:
Em um sentido amplo, oferta é uma denominação genérica para indicar o que é
disponibilizado ao mercado, independente da sua natureza, sendo utilizada para
substituir a expressão "produto" ou "serviço" e também englobar os outros elementos
que são objeto das ações de marketing. Como parâmetro para o estabelecimento dos
preços dos produtos pelo mercado, a oferta possui um peso inversamente proporcional
(quanto maior a oferta, menor o preço). A oferta é influenciada diretamente pela
demanda do produto. Em um sentido popular, oferta indica uma condição de venda
especial (promoção de vendas) na qual o valor percebido pelo cliente é maximizado.
Mercado de consumo é o local onde se encontram a oferta e a procura de bens e
serviços.
10) O que é produto e o que é serviço (à luz do direito consumerista)?
Resposta:
Nos termos do artigo 3º do CDC, ―Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material
ou imaterial‖ e ―Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, medi
ante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária,
salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.‖. O conceito de produto é trata
do pelo Código de forma ampla, ao passo que o conceito de serviços envolve necessari
amente remuneração e não pode açambarcar relação trabalhista.
11) Um programa de informática é produto ou é serviço? Quando compro uma caixa contendo
o programa Windows, estou comprando um serviço?
Resposta:
(Não tenho certeza porque não achei nada específico sobre o tema, de modo que lastreie
a resposta de acordo com a lei). Nos termos da conceituação trazida pelo CDC, segundo
o qual ―Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial‖ e ―Serviço é
qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusi
ve as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes
852
das relações de caráter trabalhista.‖, um programa de informática caracterizase como
um produto, e não como um serviço.
13.6.1.3. Questões do TRF3
1) O CDC é uma forma de intervenção no domínio econômico?
Resposta:
O artigo 174 da CF/88 prevê que o Estado poderá intervir na ordem econômica como
agente normativo e regulador. Tratase de uma forma de intervenção indireta no domí
nio econômico, por meio da qual o Estado limitase a condicionar o exercício da explo
ração da atividade econômica, sem assumir posição de agente econômico ativo. Cuida
se de uma intervenção regulatória, agindo o Estado por meio de leis e normas de cunho
setorial. Como a defesa do consumidor é um dos princípios que regem a Ordem Eco
nômica, na forma do artigo 170 da Constituição, podemos entender que o CDC repre
senta, sim, uma forma de intervenção indireta do Estado no domínio econômico.
2) O profissional liberal tem responsabilidade objetiva no CDC? Explique.
Resposta:
Não. O CDC tem dispositivo expresso que prevê a responsabilidade subjetiva dos pro
fissionais liberais (art.14º, parágrafo quarto). Assim, a responsabilidade destes no forne
cimento de serviços depende da verificação de negligência, imprudência ou imperícia.
Parcela doutrinária entende que se deve aferir se a obrigação é de meio ou resultado.
Sendo de meio, a responsabilidade seria subjetiva, mas sendo de resultado, seria objeti
va. O STJ, no entanto, vem defendendo o entendimento no sentido de que em ambas as
modalidades de obrigação – meio ou resultado – a responsabilidade dos profissionais
liberais é subjetiva, mas, sendo de resultado a obrigação, operase a inversão do ônus da
prova em desfavor do profissional.
3) Aplicase o CDC nos contratos de SFH?
Resposta:
Sim. Conforme jurisprudência pacífica do STJ, o CDC é aplicável aos contratos do Sis
tema Financeiro de Habitação, incidindo sobre contratos de mútuo. Isso porque existe
relação de consumo entre o agente financeiro do SFH, que concede empréstimo para
aquisição de casa própria, e o mutuário. Entretanto, nos contratos de financiamento do
SFH vinculados ao Fundo de Compensação de Variação Salarial (FCVS), pela presença
da garantia do governo em relação ao saldo devedor, aplicase a legislação própria e
853
protetiva do mutuário hipossuficiente e do próprio sistema, afastandose o CDC, se co
lidentes as regras jurídicas (STJ, AgRg no Ag 1076981/RS, DJe 27/08/2012). A juris
prudência do TRF1 é no mesmo sentido, ou seja, pela incidência do CDC aos contratos
do SFH (AC 000050058.2006.4.01.3503 / GO, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL
JOÃO BATISTA MOREIRA, QUINTA TURMA, eDJF1 p.223 de 25/05/2012).
13.6.1.4. Questões do TRF4
13.6.1.5. Questões do TRF5
1125
16.6. Direito Civil
16.6.1. Perguntas Residuais
16.6.1.1. Questões do TRF1
16.6.1.2. Questões do TRF2
1) Como se caracteriza o instituto da gestão de negócios?
Resposta:
A gestão de negócios ―ocorre quando alguém age em nome de outrem sem ter mandato
para tal‖. (RODRIGUES, Silvio. Direito civil: dos contratos e das declarações unilate
rais da vontade. Vol. 3. 29 ed. São Paulo: Saraiva, 2003. P. 399).
E continua:
―[...] tratase, no mais das vezes, de um ato de altruísmo, em que o gestor, com o intuito
de evitar um prejuízo para o dono do negócio, porventura ausente, embora sem estar por
ele autorizado, ou pela lei, toma a iniciativa de intervir na órbita de interesses daquele,
para preserválos, atuando como atuaria o dono da coisa se ali estivesse‖ (RODRI
1126
GUES, Silvio. Direito civil: dos contratos e das declarações unilaterais da vontade.
Vol. 3. 29 ed. São Paulo: Saraiva, 2003. P. 399).
Cabe destacar que a posição do referido autor é não considerar esse ato unilateral como
uma figura contratual, devido à ausência de anuência do ato por parte do interessado.
2) Gestor sempre vai responder por caso fortuito?
Resposta:
Responderá em três hipóteses:
―[...] em três hipóteses, entretanto, o gestor responde não só por sua culpa, como até
por caso fortuito: a) quando inicia a gestão contra a vontade real ou presumida do dono
do negócio, caso em que este último poderá não só reclamar indenização como, sendo
possível, exigir que o gestor restitua a coisa ao estado anterior (art. 862); b) quando fizer
operações arriscadas, ainda que o dono do negócio costumasse fazêlas; c) quando o
gestor preterir interesses do dono do negócio, por amor aos próprios (art. 868)‖ (RO
DRIGUES, Silvio. Direito civil: dos contratos e das declarações unilaterais da vontade.
Vol. 3. 29 ed. São Paulo: Saraiva, 2003. p.405).
3) Há casos em que não há responsabilidade do gestor?
Resposta:
Sim, quando envidar toda diligência habitual na administração do negócio, salvo os da
nos decorrentes de culpa (art. 866 do CC). Não haverá responsabilização: quando provar
que os danos seriam causados mesmo sem a sua interferência; quando o interessado
anui com os negócios arriscados feitos pelo gestor, que terá de ser indenizado pelas des
pesas e prejuízos decorrentes da operação (parágrafo único, art. 868 CC); quando o ne
gócio for utilmente administrado (art. 869) – evitar dano eminente ou aproveite lucro ao
interessado –; e, a ratificação pura e simples do dono do negócio (art. 873), quando a
gestão produzirá efeitos de mandato.
4) Tem relevância o fato de ter agido de acordo com a vontade presumida do dono?
Resposta:
Sim, a presunção é uma característica da gestão de negócios: ―‗Negócio alheio‘, consta
no sentido de qualquer atividade em prol da vontade presumida do dono do negócio que
dê origem a obrigações, sejam atos meramente materiais, sejam atos ou negócios jurídi
1127
cos [...]‖. (VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: contrato em espécie. 3ª ed. São Pau
lo: Atlas, 2003, p.195296).
Cabe apontar que agir contra a vontade presumida do interessado pode dar causa à res
ponsabilidade do gestor: ―[...] quando inicia a gestão contra a vontade real ou presumida
do dono do negócio, caso em que este último poderá não só reclamar indenização como,
sendo possível, exigir que o gestor restitua a coisa ao estado anterior (art. 862); [...]
(RODRIGUES, Silvio. Direito civil: dos contratos e das declarações unilaterais da von
tade. Vol. 3. 29 ed. São Paulo: Saraiva, 2003. P. 399).
5) Promessa de recompensa. Concurso de prêmios. A empresa ofertante do concurso poderia
utilizar o slogan do vencedor?
Resposta:
Em uma interpretação literal do artigo 860 do Código Civil, as ―obras ou serviços‖
premiados pertencerão, se vier expressamente previsto na publicação de promessa, ao
promitente. Assim, estando expressamente previsto na publicação da promessa, presu
mese que, na condição de proprietário (promitente), poderá utilizar o slogan utilizado
pelo vencedor quando ele (slogan) integrar a ―obra premiada‖ ou no caso de ―o slogan‖
ser a própria obra premiada.
6) Enriquecimento sem causa. Foi rescindida a sentença, que transitada em julgado, era causa
para recebimento. Desaparece a causa do recebimento?
Resposta:
Depende, a ação rescisória possui dois efeitos, a rescisão da coisa julgada (iudicium
rescindens) e o novo julgamento da causa (iudicium rescissorium), que são cumuláveis,
mas não em todos os casos, sendo dispensável quando ―o pedido de „novo julgamento‟
não precisa(r) ser feito quando a mera rescisão do julgado for suficiente, ou quando
não for possível ao órgão competente para a rescisão proferir novo julgamento‖. (ARE
NHART, Sérgio Cruz; MARIONI, Luiz Guilherme. Processo de Conhecimento. 10.
ed. ver. atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. p. 661).
A fim de que se possa determinar, de fato, se o efeito executivo da sentença original
desaparecerá, dependerá da natureza da ação original, pois, a rescisão da coisa julgada,
em si, pode importar na anulação dos efeitos da sentença. Contudo, quando for necessá
rio novo julgamento, pode ocorrer de o acordão rescindir o julgamento anterior e man
ter seu dispositivo, só que com nova fundamentação:
―Fora a necessária atenção às causas de pedir, é imprescindível tomar os votos dos ma
gistrados em duas fases, a rescindente (que desconstitui o acordão rescindindo) e a res
1128
cisória (que realiza o novo julgamento da causa). [...] De modo que o juízo rescindente
pode ser de procedência e o rescisório de improcedência‖ (ARENHART, Sérgio Cruz;
MARIONI, Luiz Guilherme. Processo de Conhecimento. 10. ed. ver. atual. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2011. p. 665).
12) Qual o limite máximo da cláusula penal previsto no Código Civil? Há outras regras que es
tabelecem limites menores em outras leis? Os exemplos citados (CDC, Lei 6.676, DL 58, Dec.
22.626) podem ser aplicados por analogia a hipóteses correlatas ou quando não houver previ
são expressa usaremos sempre o teto do Código Civil? Por exemplo: a atual lei de locação pre
dial urbana não estabelece limite máximo de cláusula penal para o atraso no pagamento do
aluguel. O locador pode ajustar com o locatário, p. ex., aleatoriamente uma cláusula penal
moratória de 40% sobre o valor atrasado?
Resposta:
―Simples alegação de que a cláusula penal é elevada não autoriza o juiz a reduzila. En
tretanto, a sua redução pode ocorrer em dois casos: a) quando ultrapassar o limite legal;
b) nas hipóteses do art. 413 do estatuto civil. O limite legal da cláusula penal, mesmo
sendo compensatória, é o valor da obrigação principal, que não pode ser excedido
pelo estipulado naquela (...).Quando outras normas fixam determinada limite para a
cláusula penal (DecretoLei 58/1937, Lei nº. 6.766/79, Decreto nº. 22.696/93 e o
CDC), Carlos Roberto defende ainda que ―(...) Em qualquer dessas casos, e em mui
tos outros, o juiz reduzirá, na ação de cobrança, o valor da pena convencional aos re
feridos limites (...)” (Gonçalves, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, volume II:
teoria geral das obrigações4ª edição, São Paulo, Saraiva2008pg389/390). O TJMG
entende que a cláusula penal, nos contratos de locação, podem ser reduzidas de
acordo com os arts. 412 e 413, todos do Código Civil (Apelação Cível
1.0024.05.8801622/003, Rel. Des.(a) Cláudia Maia, 13ª CÂMARA CÍVEL, julgamen
to em 08/04/2010, publicação da súmula em 28/04/2010); (Apelação Cível
1.0024.08.2485129/001, Rel. Des.(a) Eduardo Mariné da Cunha, 17ª CÂMARA CÍ
VEL, julgamento em 04/02/2010, publicação da súmula em 26/02/2010). Em tese, é
possível, a meu ver, a cláusula moratória de 40% sobre o valor atrasado desde
que não ultrapasse o valor total do contrato e leve em conta eventual cumprimento
parcial da obrigação. O TJMG assim entendeu: ―(...) No tocante à multa compensató
ria, pactuada em 30% do valor do contrato, ela também não se releva excessiva ou abu
siva, vez que, de acordo com o art. 412, do CCB/2002, a cláusula penal terá como único
limite o valor da própria obrigação principal. Ademais, no caso específico dos autos, a
própria cláusula penal prevista no contrato de locação já leva em consideração o even
tual cumprimento parcial da obrigação contratual, estando ali consignado, de forma ex
pressa‖(Apelação Cível 1.0024.08.2485129/001).
14) Contrato de transporte é unilateral imperfeito?
Resposta:
Alguns autores defendem a existência da classificação do contrato unilateral imperfei
to que é aquele que tem prestação para ambas as partes, mas uma prestação não é
causa da outra. Ex: a doação com encargo (o encargo não é condição para doação, mas
é uma obrigação criada pelo doador que pode levar, em caso de descumprimento, ao
seu revogamento). Alguns autores falam ainda em contratos bilaterais imperfeitos,
nos casos em que, tratandose contratos unilaterais, surgem obrigações para a parte
que usualmente não as tinha. Pensese, por exemplo, no caso das despesas extraordi
nárias realizadas pelo comodatário. Elas devem ser ressarcidas pelo comodante, ge
rando, inclusive, direito de retenção. Segundo a melhor doutrina, entretanto, o contra
to bilateral imperfeito não deixa de ser unilateral. Contudo, em relação ao contrato de
transporte, não encontrei na doutrina apontamento de que o contrato de transporte
seria unilateral ou bilateral imperfeito, mas apenas que é um contrato puramente bila
teral, senão vejamos:
Além de ser contrato de adesão, [...], o contrato de transporte é também bilateral ou
sinalagmático, porque gera obrigações recíprocas. Os contratos bilaterais em geral
exigem equivalência das prestações. Essa equivalência, entretanto, tem características
próprias no contrato de transporte coletivo, pois o preço da passagem pago pelo pas
sageiro é inferior ao benefício que recebe. A equivalência, na hipótese, não se dá em
relação a cada uma das pessoas transportadas, mas em relação ao com junto de pes
soas, fazendose o cálculo aturial da renda que determinada linha pede proporcionar.
Em função desse cálculo é estipulado, então, o preço da passagem. (GONÇALVES, Car
los Roberto. Direito Civil Brasileiro: Contratos e Atos Unilaterais.6. ed. São Paulo: Sa
raiva, 2009).
1137
direito de preferência. Só se opera nas transmissões onerosas, como na venda, permuta,
transação ou dação em pagamento. Não há laudêmio ou direito de preferência nas ces
sões gratuitas, como na doação e dote, bem como na permuta e na transmissão por he
rança, pois os atos de natureza benéfica visam favorecer determinada pessoa. […] De
acordo com o Código Civil 2002, será proibida a cobrança de laudêmio nas trans
missões dos bens aforados (art. 2.038). Contudo, a regência dos foros, laudêmios, e
taxas de ocupação relativas aos imóveis da propriedade da União (notadamente os
territórios de Marinha), consta do DecretoLei 2.398/87, na qual a SPU apoia a exigên
cia da exação. (FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito
Civil: Direito Reais. 8. ed. rev. ampl. atual. Salvador: Juspodvim, 2012. p. 779 (vol. V).
Pelo exposto, só incide laudêmio nas enfiteuses da União, nos casos de transmissões
onerosas. Contudo, devido ao art. 2.038 do Código Civil não incide mais laudêmio nas
transmissões de qualquer natureza de bem aforado quando se tratar de propriedades par
ticulares e não terrenos de marinha. Ou seja, não há mais, em geral, incidência de lau
dêmio.
16.6.1.3. Questões do TRF3
1) Qual a natureza jurídica da gestão de negócios?
Resposta:
tem natureza de ato unilateral, como ensina Venosa:
―[...] a gestão de negócios surge como fonte de obrigações, decorrente de manifestação
unilateral de vontade. De início, não existe acordo de vontades. Não há negócio jurídi
co, mas ato jurídico, apenas atendese à vontade presumida do dono. Quando este toma
conhecimento da conduta e a aprova, aparece o vínculo pactício‖. (VENOSA, Sílvio de
Salvo. Direito civil: contrato em espécie. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 297).
2) Qual a finalidade de ratificação no caso?
Resposta:
convalidar os atos práticos na gestão de negócio, pois ―[...] a gestão se extingue, trans
formandose em mandato. Por essa razão, cessam as responsabilidades especiais que
vinculam o gestor e não mais se cogitará de saber se foi útil, ou não, a gestão. É como
se não tivesse havido gestão de negócios, mas apenas mandato‖. (RODRIGUES, Silvio.
Direito civil: dos contratos e das declarações unilaterais da vontade. Vol. 3. 29 ed. São
Paulo: Saraiva, 2003. P. 407).
3) No que se refere a doação, quando se aperfeiçoa?
1138
Resposta:
―(...) Ao contrário do que constava no art. 1.165 do CC/1916, seu correspondente na
codificação anterior, o art. 538 deixou de mencionar a locução 'que os aceita', trazendo
dúvida se a aceitação do donatário é ou não requisito essencial do contrato. A doutrina
atual encontrase dividida ante do tema. Maria Helena Diniz entende que a aceitação do
donatário continua sendo elemento essencial do contrato (...). Porém, para Paulo Luiz
Netto Lôbo, a aceitação do donatário não é mais elemento essencial do contrato (...).
Entendemos, com todo o respeito ao posicionamento contrário, que para que o contrato
seja válido basta a intenção de doar, ou seja, o ânimo do doador em fazer a liberalidade
(...)". (TARTUCE, Flávio. Direito Civil, Volume 3: teoria geral dos contratos e contra
tos em espécie. 5ª Edição. Rio de Janeiro. Editora Forense: Método, 2010. p. 321/322).
4) A doação onerosa seria contrato comutativo?
Resposta:
A doação onerosa é um contrato comutativo, não importa a espécie de doação, pois será
comutativo, conforme ensina Flávio Tartuce: "O contrato é ainda comutativo, pois as
partes já sabem de imediato quais as prestações (...)". (TARTUCE, Flávio. Direito Ci
vil, Volume 3: teoria geral dos contratos e contratos em espécie. 5ª Edição. Rio de Ja
neiro. Editora Forense: Método, 2010. p. 324).
5) Não realizado o encargo qual providência o doador poderia tomar?
Resposta:
"(...) a doação modal ou com encargo é aquela gravada com um ônus, havendo liberali
dade somente no valor que exceder o ônus (art. 540 do CC). Não atendido o encargo
cabe a revogação da doação, como forma de resilição unilateral (...)". Apesar de alguns
doutrinadores entenderem que a doação modal é um contrato bilateral, opinamos no
sentido de que o contrato é unilateral imperfeito. Isso porque o encargo não constitui
uma contraprestação, um dever jurídico a fazer com que o contrato seja sinalagmático
(...)". (TARTUCE, Flávio. Direito Civil, Volume 3: teoria geral dos contratos e contra
tos em espécie. 5ª Edição. Rio de Janeiro. Editora Forense: Método, 2010. p. 326/327).
6) Seria caracterizada a situação em um enriquecimento sem causa?
Resposta:
(...) O instituto está tratado entre os arts. 555 e 564 do atual do Código Civil e é reco
nhecido como um direito potestativo a favor do doador (...). (TARTUCE, Flávio.
1139
Direito Civil, Volume 3: teoria geral dos contratos e contratos em espécie. 5ª Edição.
Rio de Janeiro. Editora Forense: Método, 2010. p. 341). Assim, a meu ver, podese
concluir que, independentemente de eventual cumprimento parcial do encargo, poderá
haver a revogação da doação, na medida em que o donatário, desde o início, tem conhe
cimento, ao aceitar a doação, dessa possibilidade.Portanto, não há se falar em eventual
enriquecimento ilícito pelo fato de o doador receber o bem de volta, diante da revogação
da doação, mesmo o donatário tendo cumprido parcialmente o encargo.
7) Conhece a possibilidade de se propor ação “conditio causa non secuta”?
Resposta:
A conditio causa non secuta é sinônimo da cláusula rebus sic stantibus, que constitui a
Teoria da Imprevisão conforme leciona Venosa:
―[...] É levada em consideração a aplicação da conditio causa data non secuta, segun
do a qual o contrato devia ser cumprido conforme as condições em que foi ultimado.
Possibilitavase a alteração se se modificassem as condições: contractus qui habent trac
tum sucessivum et dependentiam de futuro rebus sic stantbus interlligentur. Difundiuse
a cláusula resumidamente como rebus sic stantbus, nos contratos de trato sucessivo e
dependentes do futuro, como implícita em todo contrato de trato sucessivo. (VENOSA,
Silvio de Salvo. Direito Civil: Teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos;
7ª Ed. São Paulo: Atlas, 2007. (Coleção direito civil; v. 2)
Pelo exposto, a ação ―conditio causa non secuta‖ é aquela que venha a discutir a ocor
rência de fato que desiquilibra a relação contratual original.
8) Qual é a natureza jurídica de um depósito de garantia por ordem de magistrado no bojo de
um processo?
Resposta:
Não consegui localizar doutrina ou jurisprudência para embasar a resposta.
9) Qual a diferença entre usufruto e direito real de moradia?
Resposta:
―Ao contrário do usufruto e do direito de uso, que recaem indistintamente sobre móveis
e imóveis, o direito de habitação tem como objeto exclusivo o bem imóvel de fins
residenciais, a teor do exposto no art. 1.414 do Código Civil. No mais, as disposições
aplicáveis ao usufruto estendemse à habitação, quando não houver ofensa à sua essên
1140
cia (art. 1.416 do CC). Isso posto, ao contrário do usufruto, a habitação é incessível, mas
tal qual aquele instituto, incidem os mesmos deveres de guarda, conservação e institui
ção‖. (FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil:
Direito Reais. 8. ed. rev. ampl. atual. Salvador: Juspodvim, 2012. p. 855856. (vol. V)).
10) Como se compatibiliza a exploração econômica da coisa e a gratuidade do usufruto?
Resposta:
É direito do usufrutuário os proveitos econômicos advindos com a instituição do usufru
to, não sendo tal disposição incompatível com as formas de instituição do usufruto, que
pode ser gratuito ou oneroso (convencional, judicial (decorrente de dívida), e misto por
usucapião). Mesmo nos casos de instituição gratuita (legal, voluntário ou convencional,
quando não oneroso), o proveito econômico é direito, pois pode servir mesmo para a
subsistência do usufrutuário. (FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson.
Curso de Direito Civil: Direito Reais. 8. ed. rev. ampl. atual. Salvador: Juspodvim,
2012. (vol. V)).
Quanto à questão convencional, cabe destacar que:
―Duas são as formas usuais de sua criação: por alienação ou retenção do usufruto. Em
qualquer das hipóteses de constituição de usufruto por ato inter vivos, nada impede que
o atributo da onerosidade esteja presente. Malgrado a sua predominância, a gratuidade
não é da essência do usufruto. Poderia soar estranho para os que se acostumam com a
imediata associação do usufruto à tutela alimentar de alguém que se encontra em situa
ção de vulnerabilidade‖. (FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso
de Direito Civil: Direito Reais. 8. ed. rev. ampl. atual. Salvador: Juspodvim, 2012. p.
824. (vol. V)).
CONTRATOS CURSO DAMÁSIO – VITOR KÜMPEL
1. Introdução
O contrato de compra e venda não é hábil nas alienações imobiliárias, o que justifica a existência do
contrato de compromisso de compra e venda irretratável. Ora, o mero contrato de compra e venda não
cumpre seu papel, já que as vendas imobiliárias são realizadas em prestações periódicas.
O contrato de compra e venda não é bom instrumento nas relações com prestações periódicas, pois
ele exige escritura pública (imóveis acima de 30 salários mínimos). Não haveria segurança em conceder
escritura pública no momento em que foi paga apenas uma das parcelas.
De 1917 a 1937 houve um dilema no Brasil. Até o advento do decreto-lei 58, era feita uma promessa de
compra e venda com natureza particular nessas situações de prestações periódicas (não sendo dada
escritura até a quitação). Havia duas conseqüências:
a) Arrependimento de vendedor – algumas vezes, a valorização do terreno era superior aos valores
pagos corrigidos.
b) Múltiplas vendas – nesta situação, o vendedor vendia várias vezes o mesmo terreno, e ninguém
tinha conhecimento (instrumento particular).
O decreto lei 58, de 1937, veio para evitar essas conseqüências, estando em vigor até hoje. O objetivo é
evitar o arrependimento do vendedor (o compromisso é irretratável ao vendedor) e conferir publicidade ao
contrato (evitando múltiplas vendas do mesmo bem).
2. Conceito
O compromisso irretratável de compra e venda é um contrato no qual o promitente vendedor aliena imóvel
ao compromissário comprador, com a obrigação deste de efetuar o pagamento integral do preço,
ocasião em que terá direito à escritura definitiva ou à sua adjudicação compulsória.
3. Legislação
Em compromisso de compra e venda há dois sistemas diferentes em vigor:
a) Decreto lei 58/1937 + Lei 649/49 – trata de todos os compromissos em imóveis não loteados.
Ambos os sistemas adotam a Lei 6014/73, que trata da adjudicação compulsória (rito sumário).
A Lei 6015/73 também se aplica a ambos os sistemas (artigos 167, I e II). Trata de diversos tipos de
compromisso registráveis e um tipo que deve ser averbado.
A lei 8078/90 (CDC), artigos 52, §1º e art. 53, também se aplicam (ainda que não se trate de relação de
consumo).
4. Natureza jurídica
a) Compromisso de compra e venda levado a registro (art. 1417 e 1418 do CC) – nesse caso, o
compromisso de compra e venda É DIREITO REAL.
Para que seja direito real, deverá haver cláusula de irretratabilidade (não admitindo arrependimento)
e registro.
Para que o compromisso de compra e venda seja contrato, basta que não seja feito o registro.
Nesta hipótese, haverá contrato particular com eficácia real. HÁ SEMPRE O DIREITO À
ADJUDICAÇÃO COMPULSÓRIA, SEGUNDO O STJ (AINDA QUE NÃO LEVADO A REGISTRO).
c) Mera promessa (art. 27 da Lei 6766/79) – é chamado vulgarmente de “contrato de gaveta”, sendo
muito comum no SFH (sistema financeiro de habitação).
Trata-se de mero contrato de gaveta, pois na lei que regulameta o empréstimo no SFH o imóvel é
inalienável (embora tenha sido alienado). Assim, é considerada promessa para proteger o
comprador.
04/10/10
Art. 462 a 466 - trata do contrato preliminar /promessa/ pré-contrato, que é aquele que visa a
celebração de outro contrato superveniente. Há uma carga de vontade a ser emanada de forma
superveniente. Há duas espécies de contrato preliminar:
i) Unilateral – é aquele que só uma das partes pode exigir o contrato definitivo. É a chamada “opção”.
Por exemplo, dentro do contrato de locação há promessa de compra e venda, pois o locatário
poderá fazer a opção pela compra.
ii) Bilateral – é aquele no qual ambas as partes podem exigir o contrato definitivo. Não possui relação
com o compromisso de compra e venda, pois este já é definitivo (não exige outro contrato definitivo
posterior).
5.1. Forma
O compromisso de compra e venda é contrato plúrimo, podendo ser realizado por escritura pública ou
instrumento particular, INDEPENDENTEMENTE DE SEU VALOR. Não sofre as limitações do art. 108 do
CC.
Conversão substancial é a transformação de um contrato nulo em contrato válido (art. 170). Consiste em
exceção ao art. 169, que prega a impossibilidade de convalidar nulidades, Toda vez que a nulidade for de
forma, e as partes tiverem vontade em relação ao negócio convertido, a nulidade convalesce.
5.2. Irretratabilidade
O STF, na década de 40, estabeleceu a súmula 166, segundo a qual, no silencio, se presume a
irretratabilidade. Esta súmula facilita o acesso ao registro de imóveis no compromisso de compra e venda.
5.3. Pagamento
O compromisso de compra e venda pode ser à vista ou em prestações periódicas (embora seja raro o
compromisso de compra e venda se o pagamento for ocorrer à vista).
O compromissário comprador sempre tem direito à restituição das prestações pagas (ainda que não se trate
de relação de consumo, aplica-se a regra do art. 53 do CDC).
Se o compromissário comprador estiver em mora, há duas possibilidades:
5.4. Imóvel
O imóvel deve ser regular (deve possuir matrícula). Há dois regimes distintos:
5.5. Capacidade
Não, é impossível. Trata-se de relação precária (nunca haverá usucapião em relação ao promitente
vendedor, ou em relação ao banco em que o imóvel está hipotecado).
Ainda que não houvesse tal previsão expressa, a regra é de que todas as situações da compra e venda se
aplicam ao compromisso (direito de preferência, anuência dos herdeiros, tutelado e curatelado, etc.).
A analogia neste caso se aplica, por se tratar de situação de proteção (embora limitativa, a regra se aplica,
se acordo com os tribunais).
O registro do compromisso gera publicidade e oponibilidade erga omnes (embora só tenha, até então, sido
pago o sinal).
Tratando-se de incorporação imobiliária, o registro possui uma importância ainda maior (embora na prática
não seja realizado), pois ele retira o poder do incorporador modificar sua a obra sem sua autorização. É
importante que o compromisso de compra e venda seja averbado na matrícula do imóvel, vinculando o
registrador a qualquer modificação na planta originária.
Como na prática o compromisso não é registrado, surgiu a súmula 239 do STJ, que garante a adjudicação
compulsória neste caso mesmo sem registro.
Neste caso, há efeitos próprios do registro: oponibilidade erga omnes e absoluto direito de seqüela.
Se o compromisso estiver registrado, não entra na matrícula do imóvel ônus, penhora por dívida do
vendedor, superveniente a esse registro.
A súmula 308 do STJ determina que qualquer hipoteca feita entre o empreendedor e o banco não vincula o
compromissário comprador.
a) Transmissibilidade
i) Causa mortis – o promitente vendedor transfere para o herdeiro os créditos, bem como a
obrigação de outorga da escritura definitiva (sob pena de figurarem no pólo passivo da
adjudicação compulsória).
ii) Inter vivos – por ato inter vivos, o vendedor pode fazer uma cessão formal de crédito. Esta
somente vinculará o comprador para fins de pagamento e de outorga da escritura se for
registrada (a princípio, não vincula o compromissário comprador).
Este trespasse não necessita de autorização do promitente vendedor, pois ele gera
obrigação solidária (permitindo a circulação de riquezas, e dando solvência e liquidez para o
compromisso de compra e venda). É o que dispõe o decreto lei 58/37.
18/10/10
O compromissório comprador tem direito de ser investido na posse do imóvel adquirido, ele tem
direito de ser imitido, e até pode ser reintegrado, excepcionalmente, quando for feita uma cláusula
“constituti” (constituo possessório) no compromisso.
STJ: Despesa condominial só pode ser cobrada do compromissário comprador com a efetiva
imissão na posse, pouco importa o que está escrito no contrato. É uma despesa que decorre do
ato de imissão.
c) Purgação da mora
O compromissário comprador tem direito de pagar as prestações atrasadas, de purgar a mora, ele
tem direito de ser notificado para purgar a mora, que para muitos é condição de rescisão do
compromisso. Se o compromisso for registrado, a purgação da mora se dá por notificação
extrajudicial no cartório do registro de imóveis. Se não for registrado o compromisso, se dará por
notificação extrajudicial via cartório de títulos e documentos.
d) Adjudicação compulsória
Distrato: precisa ter a mesma forma que a lei exige para o contrato. Pode ser feto por
escritura pública ou instrumento particular.
c) Se foi localizado o devedor e ele não pagou, ou não localizou nem por edital, será
necessário certidão do oficial do registro de imóveis que tem força de aferição de culpa e
inadimplemento.
1. Conceito
1.3. Representação voluntária: mandato. Art. 120, CC. Em nosso caso não existe mandato sem
representação, mas existe representação em mandato, pois representação é gênero, espécie é o mandato.
2. Etimologia
2.1. Manus dare – dar as mãos. Tem como essência figura da confiança. A perda da confiança é a principal
forma de rescisão desse instrumento. como regra geral temos a extinção por resilição.
2.2. Mandatum – dar poder. Outorga de poder, por isso que em principio nunca a responsabilidade
ultrapassa o Poder deferido.
25/10/10
3. Conceito
Mandato é o contrato no qual o mandante (titular de poder) confere poderes para o mandatário representá-
lo na prática de ato junto a terceiro.
Não se pode confundir mandato com procuração. No mandato o mandante outorga poderes ao mandatário,
o qual deverá aceitar tais poderes para praticar os atos junto a terceiros.
4. Natureza jurídica
Trata-se também de contrato informal. O art. 659 do CC determina que a aceitação pode ser tácita.
O contrato de mandato pode ser bilateral ou unilateral. É bilateral quando há prestação por parte de ambos
os participantes, ou seja, quando for um contrato oneroso (mandante remunera o mandatário pela
realização dos atos, segundo ordens e determinações). Sempre que o contrato de mandato for gratuito, será
unilateral.
No silencio, o entende-se que o contrato de mandato é unilateral, gratuito (art. 658 do CC), exceto se o
objeto for aquele praticado pelo mandatário como ofício ou profissão lucrativa (no caso do advogado, por
exemplo, não se presume que o contrato seja gratuito).
Em princípio, o contrato é pessoal (personalíssimo). Assim, o mandatário não pode prorrogar os poderes
recebidos para terceiro.
O contrato de mandato é um contrato preparatório, pois sempre é utilizado como base para uma nova
preparação. Assim, no contrato de mandato devem constar minuciosamente os poderes do mandatário, em
cláusula expressa.
5. Procuração
O art. 653 do CC menciona que a procuração é instrumento do mandato. Porém, não se trata de verdade
inexorável. É possível a existência de procuração sem mandato e de mandato sem procuração.
A procuração é um ato unilateral. O procurador recebe poderes do procurado (este recebe uma outorga de
poder). O mandante faz a outorga de poderes ao mandatário (por meio da procuração), o que pode ser feito
de duas maneiras, por escritura pública ou por instrumento particular. É possível que o mandatário sequer
saiba que está recebendo poderes. O ato do mandante é unilateral, portanto.
Para que este ato unilateral se transforme em contrato de mandato, é necessária a aceitação do mandatário
(art. 659), o que ocorre com o início da execução dos atos. Porém, também é possível que surja o contrato
de mandato por meio da elaboração do instrumento de mandato (que é diverso da procuração, e com ela
não se confunde).
Percebe-se que é possível que haja dois instrumentos distintos, o instrumento de procuração (assinado
unicamente pelo mandante/procurado) e o instrumento de mandato (assinado por mandante e mandatário).
Na procuração há limite de poderes, alcance temporal desses poderes, e todas as suas características. O
instrumento de mandato trata de outros aspectos, por exemplo, qual será o valor recebido pelo mandatário
(se houver). Trata-se de contrato sigiloso. Os poderes já foram estabelecidos na procuração, e não
precisam mais ser mencionados.
Há mandato sem procuração sempre que o instrumento de mandato for realizado antes da outorga de
poderes.
Haverá procuração sem mandato sempre que a procuração não for aceita pelo mandatário.
6. Substabelecimento
c) Cláusula de proibição – art. 667, §1º - responsabilidade civil da mora. Se a obrigação de não
substabelecer constar da procuração, não haverá vinculação do mandante originário (procurado),
pois o terceiro passa a não ser mais considerado um terceiro de boa fé.
01/11/10
7. Características
7.1. Representatividade
b) Judicial: curatela
c) Voluntária
d. Mandato: mais amplo porque nele o mandatário tem total discricionariedade para praticar o ato.
f. Preposição: o preposto também recebe poderes do preponente, mas o preposto é empregado. Por
isso que advogado não deve ser preposto, porque advogado não é empregado de ninguém, ele
tem discricionariedade.
Obs: na comissão mercantil (chamada de comissão empresarial), o comissário não tem representatividade,
ele pratica o ato em nome próprio (art. 693).
7.2. Revogabilidade
Revogar é extinguir sem motivo e sem culpa. Ë revogável porque cessada a relação de confiança, extingue.
Se tiver esta cláusula, pode haver a revogação, porém tem que pagar perdas e danos.
A procuração em causa própria é aquela em que uma parte, por ato unilateral, o procurado,
confere o poder para uma pessoa, procurador, alienar seu bem, podendo este pagar o valor
estipulado. A característica dessa procuração é que não tem translatividade. Tem a escritura da
procuração (não gera ITBI, porque não tem certeza se o procurador vai querer o bem) e outra
escritura da compra e venda (só aqui gera o ITBI).
No mandato in rem suam, o mandante já faz a escritura em nome do mandatário (os dois
assinam). Já tem translatividade. Esse documento já vai direto para o registro de imóveis (o
mandatário não precisa fazer nova escritura para compra e venda, pode registrar direto, salvo se
for vender a terceiro). É uma escritura só porque os dois vão juntos ao cartório (o mandatário já
aceitou). Só não vai registrar ainda porque pode ser que queira vender a terceiro. O conselho da
magistratura entende que tem que ter o preço estipulado (tanto da procuração quanto do
mandato).
Essas duas situações são irretratáveis. A revogação não tem eficácia. Além disso, mesmo
morrendo a parte, não extingue.
8. Estrutura jurídica
O sujeito ativo no contrato de mandato é o titular de poderes (mandante). Para que tais poderes possam
ser outorgados, é necessário que seja dotado de capacidade genérica contratual (poder de celebrar
qualquer contrato, ou seja, deve haver ausência das situações do art. 3º e 4º do CC) – art. 654.
Para a outorga de poderes por instrumento particular, a capacidade deve ser plena.
O absolutamente incapaz não pode ser mandante. Em algumas situações se admite a escritura pública
(sendo imprescindível a representação legal) e em outros o alvará judicial.
Pode ser mandatário, ou seja, sujeito passivo do contrato de mandato, o maior de 16 anos e menor de 18
anos. Porém, isso prejudica o mandante, que somente poderá reaver o mandato quando o mandatário agiu
com dolo em relação a terceiro (dolo de aproveitamento) ou quando obteve proveito econômico – art. 666
do CC.
É possível mandato que verse sobre relações não patrimoniais, como por exemplo o mandato para a
celebração do casamento.
A habilitação deve ser feita pessoalmente, de acordo com o art. 1526, perante o oficial de registro civil, com
audiência do MP. Esta determinação foi introduzida pela Lei 12133/09.
A interpretação que tem sido dada é pela admissão de procuração para a habilitação para o casamento,
até mesmo por instrumento particular com firma reconhecida (em que pese a inserção do termo
“pessoalmente” no dispositivo, que deve ser interpretado de maneira bastante ampla).
Essa interpretação se dá pelo fato de que quem pode o mais, pode o menos. Assim, se é possível casar por
procuração, não será razoável não poder se habilitar para o casamento pela mesma forma.
O mandato não pode ter por objeto atos personalíssimos. Porém, o reconhecimento de filho pode ser
realizado por procuração (não há vedação expressa para tanto), desde que o procurador esteja portanto a
declaração de nascido vivo (que já consta o nome da mãe), a procuração e a firma reconhecida.
Feitura de testamento público – deve ser realizado pessoalmente (as outras modalidades de
testamento podem ser realizadas por procuração). Isso ocorre pelo fato de ser necessário ao
tabelião atestar a higidez mental do testador.
Sufrágio
Concurso público
Obs: Reconhecimento de filho pode ser feito por procuração, porque não há vedação.
Forma
Normalmente, o CC determina forma para procuração, porque mandato é contrato (em princípio pode ser
realizado por instrumento particular). A procuração é um efeito do mandato.
Em quais situações é necessário instrumento público como forma da procuração?
d. Procuração in rem suam com natureza de venda indireta ou direta tem que ser sempre por
escritura pública pelo art. 108 (quando o imóvel tiver valor maior de 30 salários mínimos)
e. Celebração de casamento
g. Negócio jurídico formal - a procuração tem que ser formal quando o ato a ser celebrado for
formal (Art. 657)
Exceção: O art. 655 quando houver procuração por instrumento público e o substabelecimento
pode ser por instrumento particular
Se aplicar o principio da unidade, quando se usa a procuração como instrumento do mandato (art.
653). Neste caso, a procuração tem que conter todos os acertos do contrato de mandato. Na
prática, não é muito aconselhável juntar os dois.
03/11/10
Obs; Substabelecimento tem forma livre (o contrato é de forma livre), ou seja, pode ser por instrumento
particular.
9. Espécies
Espécies de procuração
b. Ad judicia
c. Ad negotio
d. Apud acta – é aquela realizada para um determinado ato, materializada nos mesmos autos do
processo (geralmente é levrada pelo escrivão).
O contrato só é oneroso quando houver cláusula de pagamento, ou quando por costume, por lei ou pela
natureza jurídica do contrato a onerosidade se impuser.
A procuração é obrigatoriamente escrita, diferentemente do mandato, que poderá ser verbal quando o
mandante faz procuração, e esta é aceita pelo mandatário (seria a aceitação verbal do contrato de mandato)
– art. 659 do CC.
O mandato coletivo é aquele que outorga poderes para dois ou mais mandatários.
O mandato coletivo pode ser conjunto, é aquele que deve ser exercido simultaneamente por todos (art.
672). Deve haver previsão expressa nesse sentido. Isso significa que o mandato coletivo é
presumidamente solidário/simultâneo, ou seja, qualquer um dos mandatários poderá praticar todos os atos.
O contrato coletivo ainda pode ser fracionado, ou seja, poderá conter uma divisão de atribuições, desde que
prevista de forma expressa.
Também há o contrato coletivo sucessivo, que é aquele que vem em cadeia (desencadeamento dos atos a
serem praticados). Quebrada a sucessividade, haverá ineficácia.
O mandato geral é aquele que só confere poderes de administração (art. 661), ou seja, é insuscetível de
trazer qualquer prejuízo econômico permanente à parte.
O mandato especial é aquele que traz expressamente poderes especiais (art. 661, §1º). Ex: alienação
onerosa ou gratuita; hipotecar bens ou estabelecer gravames ao bem (direito real sobre coisa alheia);
transação. Estes são os mandatos especiais próprios.
Há, ainda, os mandatos especiais impróprios. Ex: divórcio administrativo, no qual se confere ao advogado
poderes para dissolver o casamento (Lei 11441/07). Os poderes para transigir devem estar previstos de
forma minuciosa, nos termos da resolução 35 do CNJ (deve ser específico, o conteúdo da cláusula deve ser
determinado). O mesmo ocorre no contrato de mandato para autorizar o casamento por procuração (deve
haver especificidade do conteúdo da cláusula – determinar quando, com quem e onde permite que se
realize o casamento).
Mandato bastante
As obrigações do mandante estão prevista nos artigos 675 a 681, bem como seus direitos. Vejamos:
D) Direito de responsabilizar o mandatário (art. 662 – excesso, abuso e desvio de poder – nestes
casos, sem a ratificação superveniente do mandante, o mandatário deverá ser responsabilizado).
O terceiro pode ser responsabilizado quando houver excesso, abuso ou desvio de poder pelo
mandatário? De acordo com o art. 673, uma vez que o terceiro está ciente dos poderes conferidos
ao mandatário, não há como acionar a parte na condição de mandatário (desaparece a condição de
mandato em relação ao terceiro).
De acordo com o art. 118, caberá ao mandatário informar o terceiro de seus poderes. Se nada for
dito, presume-se o terceiro como de boa fé.
Há algum caso em que o mandante possui responsabilidade civil? Sim, se for adotada a Teoria da
Aparência. Toda vez que o mandante deveria ter ciência do excesso, abuso ou desvio de poder,
responderá pelos danos causados a terceiros (pois não atuou com cautela necessária).
G) Obrigação de remunerar os serviços (art. 675 e 676). O art. 677 trata dos juros da data do
desembolso – a cada gasto do mandatário são imputados juros imediatamente.
H) Obrigação do cumprimento em relação aos terceiros de boa fé (art. 679). Não havendo excesso,
abuso ou desvio de poder, o mandante fica obrigado, ainda que o mandatário atue contrariamente a
sua vontade (isso se deve a discricionariedade do mandato).
Em princípio, não há remuneração propriamente dita, pois o contrato não se presume oneroso.
Somente haverá remuneração quando o mandato for oneroso ou quando a natureza da obrigação
assim determinar.
Se esta remuneração não for paga ou fixada, será arbitrada.
F) Obrigação de diligência (pois o mandato envolve o nome do mandante, e o mandatário deve ser
diligente, já que não está atuando em nome próprio).
G) Obrigação de informar (trata-se de obrigação dupla, pois deverá informar não apenas os
mandantes, mas também os terceiros – são sempre presumidamente de boa fé).
10.3. Extinção
O art. 682 do CC traz um rol exemplificativo das causas de extinção do mandato. Este dispositivo não
menciona a principal forma de extinção (a mais usual na prática), qual seja, o distrato.
O distrato é uma resilição bilateral, devendo obedecer a mesma forma que a lei exige para o contrato (e não
especificamente a forma em que o contrato foi realizado). O distrato do mandato, portanto, pode ser
realizado por qualquer instrumento. Se a procuração foi dada por escritura pública, a revogação também
deverá ser por escritura pública.
Outra forma de extinção é a revogação (art. 682, I). Trata-se de resilição unilateral, que opera ou por força
de distrato anterior, ou por ato unilateral do mandante (denúncia contratual – o mandatário deverá ser
formalmente notificado, judicialmente ou por cartório de titulos e documentos).
Os terceiro também deverão ser notificados (por força do art. 686 do CC).
Outra forma de extinção do mandato é a renúncia, que também se trata de resilição unilateral. O
mandatário poderá renunciar aos poderes dados (art. 682, I) – denúncia contratual.
Art. 688 – deve haver antecedência na notificação. Se o mandante se sentir prejudicado, deverá
contranotificar o mandatário, podendo até mesmo pedir indenização.
Também é possível citar como modo de extinção a incapacidade de qualquer das partes, Essa
incapacidade se dá em dois sentidos.
H) Incapacidade informal – neste caso não há interdição, o que faz surgir um problema. Ora, a
incapacidade não se presume, deverá ser formalizada (art. 682, III). A incapacidade informal não
gera proteção às partes, já que não há presunção de inabilitação.
1. Introdução
Havia discussão sobre a natureza da comissão, se era contrato civil ou comercial (já que era prevista pelo
código comercial de 1850). Com a revogação deste, a comissão passou a ser prevista pelo CC/2002.
2. Conceito
Contrato de comissão é o mandato sem representação. O art. 709 determina que se aplicam á comissão, no
que couber, as regras sobre o mandato. A pessoa recebe poderes, mas age em nome próprio (pois não há
representação).
Comissão é um contrato no qual o comitente transfere poderes para o comissário adquirir e alienar bens
junto a terceiro, no seu próprio nome e sob sua responsabilidade, recebendo uma remuneração e efetuando
a restituição de valores.
3. Classificação
Há quem diga que existem três espécies de contrato de comissão, quanto aos poderes conferidos ao
comissário:
1.1.Comissões imperativas – é aquela comissão em que o comissário não tem nenhum poder,
nenhuma discricionariedade, cumprindo rigorosamente o que foi determinado.
4. Natureza jurídica
A comissão é sempre contrato bilateral e oneroso, ou seja, sempre haverá a figura da remuneração (art.
701) – se não estipulada, será arbitrada segundo os usos do local.
Trata-se de contrato sempre personalíssimo (o comissário não pode transferir poderes a terceiro).
São elas:
d. Própria – nesta, o comissário sequer informa ao terceiro quem é o comitente. Esta é a regra geral.
e. Imprópria – nesta, o comissário se vale do nome do comitente para realizar o negócio (apesar se a
responsabilidade ser apenas sua – comissário) – art. 695.
Há exceções, como ocorre com a cessão de direitos. Neste caso, é possível gerar responsabilidade para o
comitente (cessão expressa e formal para o comitente – art. 694), o que não ocorre na prática.
Alguns autores entendem que, havendo cessão de direitos para o comitente, há espécie de mandato
impróprio.
d) Direito de responsabilizar o comissário, toda vez que este não fizer repasse de valores (art. 706)
g) Obrigação de pagar os juros pelo que o comissário tiver adiantado para o cumprimento das ordens
(art. 706, 1ª parte)
Trata-se de cláusula que protege o comitente, pois cria uma solidariedade entre o comissário e o terceiro (é
uma cláusula fiduciária).
Assim, o não pagamento por parte do terceiro, ao comissário, obriga o próprio comissário a pagar o
comitente.
Essa cláusula implica no aumento da remuneração do comitente ao comissário (sob pena de a cláusula ser
abusiva). Ela apenas se justifica quando há aumento na remuneração (art. 698).
22/11/10
1. Introdução
Aquele que iria para a guerra transferia o patrimônio a um terceiro. Assim, caso viesse a sofrer sanção de
redução do patrimônio, nada perderia, pois o patrimônio estava no poder do “amigo”. Em seguida, poderia
retomar seus bens.
Criou-se a partir daí a fidúcia cum creditore (a transferência para um credor, que restituía o bem com a
quitação).
2. Conceito
A alienação fiduciária em garantia é o negócio jurídico no qual o devedor transfere determinado bem, móvel
ou imóvel, ao credor, com o direito de restituição por força da quitação.
Porém, este conceito legal é falho, pois não corresponde à realidade. Ora, ninguém transfere o patrimônio
para restituí-lo.
3. Classificação
No início, havia apenas a alienação fiduciária em garantia de bem móvel infungível, a qual era prevista
pela lei 4728/65. Posteriormente, esta modalidade passou a ser regulada pelo decreto lei 911/69.
Atualmente, é regulado pelo CC (artigos 1961 a 1968).
O CC não revogou o decreto lei 911/69, pois disciplina apenas a parte material deste contrato. A parte
processual, prevista no decreto lei, continua em vigor.
Foi criada a alienação fiduciária em garantia de bem imóvel, a qual não é regulada pelo CC. Está prevista
na Lei 9514/97, que trata do sistema financeiro imobiliário (artigos 22 a 33).
Esta lei foi modernizada pela lei 10931/04, que ampliou a alienação para além do sistema financeiro,
podendo ser utilizada por todos (não apenas entre particular e instituição financeira).
4. Natureza jurídica
A alienação fiduciária em garantia, de acordo com o CC, possui natureza jurídica de propriedade resolúvel.
Ou seja, o devedor transfere a propriedade ao credor, tendo poder de retomada.
Este é o conceito previsto no art. 1361 do CC (bens móveis) e no art. 22 da Lei 9514/97 (bens imóveis).
A crítica a esta tese é o fato de o credor não se tornar proprietário do bem com a transmissão. É o que a Lei
9514 determina no art. 26, ao determinar que a propriedade somente se consolida quando houver o não
pagamento da dívida (o inadimplemento consolida a propriedade do credor).
Não se pode falar em propriedade resolúvel se ainda não houver transferência da propriedade ao credor.
Parte da doutrina não concorda com a doutrina de propriedade resolúvel. Isto porque o art. 1367 manda
aplicar os princípios do direito de garantia.
Esta é a posição de MHD, que entende que a alienação fiduciária é uma garantia dada em um mútuo. Seria
um contrato acessório (se dá em garantia um bem, o qual é dado em mútuo, e com a quitação ele retorna
ao patrimônio do devedor).
Porém, não se pode falar também em direito de garantia. O art. 1475 do CC determina ser nula a cláusula
que tire o bem do comércio (ambulatoriedade do bem dado em garantia – deve circular com dívida, de modo
que quem adquire o bem deverá quitar a dívida. No direito de garantia o bem sempre está no comercio, e na
alienação fiduciária o bem está fora do comércio.
Alguns autores entendem que se trata de direito sui generis, com regras próprias e técnica própria.
Esta tese é melhor do que as duas primeiras, mas não se aplica porque se trata de instituto semelhante ao
patrimônio de afetação.
O professor concorda com esta tese, embora ela não seja muito difundida.
Trata-se de patrimônio que sai da pessoa do titular com finalidade própria, sem ingressar no patrimônio de
ninguém.
Na alienação fiduciária, o devedor fiduciante aliena determinado bem móvel ou imóvel, com determinado
fim, junto ao credor fiduciário (o bem é afetado por força de um crédito, junto ao credor, o que deixa o bem
fora do comércio, pois não pertence a nenhum dos sujeitos).
Há duas possibilidades. Com o inadimplemento, o credor poderá levar o bem à hasta pública (até o
inadimplemento o bem não pertence nem ao credor nem ao devedor – na vigência da alienação o bem está
afetado com determinado fim, sem possuir titular certo).
Também é possível que ocorra o adimplemento, de modo que o bem retorna ao patrimônio do devedor.
O CC trata da afetação em relação aos bens incorporados (lei 4591) e em relação ao bem de família
voluntário (é instituído, deixando de ser propriedade da pessoa, e passando para a propriedade da família).
A regra do bem de família voluntário está prevista no art. 1722, que determina a impossibilidade de extinguir
o bem com a mera morte do casal (o bem está afetado).
5. Características
Trata-se de contrato que se converte em direito real por força do registro no registro de imóveis ou
por força do registro no cartório de títulos e documentos (em relação a bens móveis).
O art. 23 do art. 9514/97 expressamente menciona a contratualidade (na prática, os contratos são
adesivos, o que não descaracteriza a contratualidade).
4. Acessoriedade – o próprio contrato deve fazer remissão ao negócio principal, no caso, o mútuo
(empréstimo). A alienação fiduciária não pode decorrer de nenhum outro vínculo diverso do
mútuo, e a acessoriedade é imprescindível.
6. Pessoalidade – os titulares do contrato são muito importantes. Ora, o bem fica fora do comércio,
não pode ser alienado.
7. Formalidade – o contrato é formal, mas não precisa ser realizado por escritura pública (nem em
relação aos imóveis). Sempre se admite instrumento particular, desde que efetuado por escrito.
8. Indivisibilidade – a remição parcial (pagamento parcial) não gera liberação parcial. Somente há
quitação com o pagamento integral.
Assim, se forem dados dois bens em alienação fiduciária por uma única dívida, o pagamento de
90% da mesma não libera qualquer um dos bens.
No caso de incorporação imobiliária, as decisões têm sido no sentido do art. 1498. Bens dados em
incorporação (loteamento, condomínio edilício), cada unidade gera sua própria remissão (cada um
paga apenas pela sua unidade), não importando qual o tipo de garantia dada. Trata-se de mitigação
à regra da indivisibilidade.
6. Estrutura jurídica
6.1. Sujeito
O sujeito ativo é o devedor (fiduciante) – sujeito ativo do direito de garantia, embora seja o sujeito passivo
da dívida. É como se o devedor tivesse transferido o bem imóvel ou móvel.
Exige-se para tanto capacidade, a qual pode ser suprida por ato de representação ou assistência (o menor
pode ser devedor fiduciante, desde que devidamente representado ou assistido).
Nos bens imóveis, o pai necessitaria de alvará para representar o filho menor (não se trata de ato de
simples administração), Em relação aos bens móveis, não há necessidade de alvará.
Durante muito tempo de entendeu que o sujeito passivo deveria necessariamente ser uma instituição
financeira.
Em relação aos bens móveis, o art. 1368 estabelece que o terceiro interessado que paga a dívida se sub-
roga nos direitos do credor. Assim, isso já afastava a instituição financeira da relação.
Com a entrada em vigor da Lei 11481/07, a regra se afastou também em relação aos bens imóveis. Houve a
inclusão do §1º no art. 22 na Lei 9514/97. Determina que a alienação não é privativa de instituições
financeiras, e o sujeito passivo pode ser qualquer pessoa física ou jurídica.
Deve-se sempre haver observância dos juros admitidos por lei (caso contrário, há agiotagem).
6.2. Objeto
Antes a alienação fiduciária apenas se aplicava aos bens móveis infungíveis e aos semoventes. A
infungibilidade pode se caracterizar por natureza ou por vontade, mediante personalização do bem (art.
1361 fala em “coisa móvel infungível”).
O bem imóvel e os direitos foram incluídos ao contrato de alienação fiduciária (art. 22 da Lei 9514/97).
Deste modo, a alienação fiduciária pode recair sobre a propriedade plena ou sobre a propriedade útil
(imóvel enfitêutico) – neste caso, o laudêmio deverá ser pago pelo devedor fiduciante, pois se trata de taxa,
de tributo, a ser paga pelo não exercício do direito de preferência. A obrigação tributária, de acordo com o
STF, é do alienante, e não de adquirente.
No ato de consolidação, o credor vai precisar desse recolhimento, e poderá cobrá-lo do devedor fiduciante.
Com a entrada em vigor da lei 11481/07 os direitos passaram a poder ser objeto de alienação fiduciária. São
eles: direito real de uso, concessão para fins de moradia e direito de superfície.
6.3. Forma
A alienação fiduciária é formal. Além de ser um contrato, é um direito real, o qual exige formalização.
Se a alienação fiduciária recai sobre bem móvel, o art. 1361 do CC determina que seja realizada por escrito,
registrada no cartório de títulos e documentos do domicílio do devedor fiduciante ou na serventia específica
do bem (veículos devem ser registrados no Detran, e aeronaves no instituto aeronáutico brasileiro, por
exemplo).
Se tratando de imóvel, a alienação fiduciária deverá ser feita por escrito, sendo levada a registro na
circunscrição do cartório de registro de imóveis (o registro é constitutivo da alienação fiduciária, e não
meramente declaratório).
7. Efeitos jurídicos
Direito à posse direta da coisa (art. 1361 do CC e art. 23, p.u., da Lei 9514/97) – trata-se de
constituto possessório dado por lei, ou seja, a lei desmembra a posse.
Direito de reaquisição – o professor não concorda com a existência desse direito, pois na alienação
fiduciária não há transferência da propriedade enquanto perdurar o contrato (o bem fica afetado). O
direito seria de retirar o gravame, a afetação, e não de readquirir o bem. É o que determina o art. 25
da lei.
A quitação implica no cancelamento da alienação, mediante averbação, o que demonstra que não
houve transferência alguma (se houvesse, deveria ser realizado novo registro).
f. Direito de purgar a mora – se tratando de bem móvel, será dado o prazo de 5 dias para
purgar a mora (resposta para prova preambular).
É possível argumentar no sentido do princípio de proteção mínima do consumidor, de modo que lei
superveniente somente revoga lei anterior no que for mais favorável ao consumidor. Como a lei
anterior determinava o prazo de 30 dias para purgar a mora, desde que já houvesse sido pago 40%
do valor, esta regra pode ser aplicada.
Se tratando de bem imóvel, o prazo para purgar a mora é de 15 dias – ccf. STJ É ATÉ A
ARREMATAÇÃO DO IMÓVEL EM HASTA PÚBLICA
c. Direito de cessão – o devedor tem direito de cessão, desde que haja expressa e formal
autorização do credor. A cessão é condicionada a autorização formal do credor.
d. Direito ao saldo credor – na prática este direito não existe (pois o bem é supervalorizado, de
modo que o devedor jamais consegue adquiri-lo no leilão, em caso de inadimplência).
Direito de ser proprietário – o professor não concorda com esse direito. Somente será proprietário
no ato de consolidação, ou seja, quando vencida e não paga a dívida (art. 26 da lei).
Na realidade, há o direito de ser titular de direito real de crédito, mas não há direito de propriedade
em si. É o que diz MHD.
Direito à reivindicação, desde que ocorra o ato de consolidação (pois passa a ser titular da coisa) –
para tanto é necessária a formal constituição em mora (protesto do título se o bem for móvel,
certidão do oficial de registro de imóveis se o bem for imóvel)
Direito de alienação – após a constituição em mora, surge o direito de alienação (não surge o direito
de virar dono, pois caracterizaria pacto comissório). É obrigatória a realização do leilão judicial ou
extrajudicial (o credor somente se torna proprietário pleno se ninguém adquirir o bem no segundo
leilão).
Direito a quitação
8. Extinção
8.2. Irregular
Em relação aos bens móveis, pode se dar mediante a ação de busca e apreensão. Para tanto, deverá haver
a constituição em mora do devedor (protesto ou notificação judicial ou extrajudicial). Uma vez constituído em
mora, é feita a ação de retomada, obtendo-se a liminar de retomada.
Obtida essa liminar, passa a ser garantido o prazo de 5 dias para a liberação sem ônus (basta a mera
quitação do saldo em atraso).
Em relação aos bens imóveis, utiliza-se o procedimento que era previsto para os compromissos de compra
e venda, no decreto lei 58/37.
O contrato faz a fixação do prazo de mora (nem sempre surge a mora quando vencida a dívida).
Realizado tal pedido, o oficial de registro de imóveis é obrigado a fazer a intimação do devedor. Em um
primeiro momento, esta intimação deve ser pessoal (por aviso de recebimento, por funcionário, o que é mais
prudente, ou por funcionário do cartório de títulos e documentos). Ora, essa será a oportunidade para o
devedor fazer a purgação da mora.
06/12/10
Impossível a intimação pessoal, será elaborada certidão, e o oficial de registro de imóveis realizará a
intimação por edital. Este será publicado três vezes.
Há duas possibilidades. É possível que o devedor fiduciante compareça no CRI e purgue a mora (art. 26,
§1º), mediante pagamento de juros, encargos contratuais e legais, tributos, etc. Neste caso o credor será
pago em 3 dias e o contrato continuará vigente.
Também é possível que o devedor não compareça, ou compareça sem purgar a mora. Neste caso, será
elaborada certidão de inadimplemento. Certificado o inadimplemento, o oficial de registro de imóveis fará
averbação da consolidação provisória (ora, o credor não pode se tornar dono do bem, sendo necessário
levá-lo à hasta). O credor deverá recolher ITBI para se tornar dono do imóvel.
Se ninguém arrematar o bem, o que geralmente ocorre, 15 dias depois poderá ser realizado novo leilão. O
lance mínimo será o valor da dívida mais os encargos não pagos.
Se, ainda assim, ninguém der lance algum para o bem, ocorrerá a consolidação definitiva, e o credor se
torna dono do bem (geralmente o credor é o banco, que nem quer e nem pode ficar com o bem).
Então, será realizado o registro da aquisição (não se trata mais de bem afetado). Por fim, deverá ser
ajuizada ação de reintegração de posse em face do devedor.
LOCAÇÃO
A Lei 12.112/09 flexibilizou a questão do despejo, criando maior proteção ao locador e ao fiador.
1. Conceito
d. Locação de coisa
2. Características gerais
1.1. Remuneração
1.3. Contratualidade
3.1. Sujeito
Se o imóvel for comum, deve haver locação comum, conjunta, e não outorga, exceto se houver, no
pacto, estabelecido um administrador (este poderá locar o imóvel sozinho).
Se o imóvel for próprio, de titularidade de um dos cônjuges, só é necessária outorga se a locação for
por prazo igual ou superior a 10 anos (art. 3º da Lei 8245/91).
Ausente a vênia, o cônjuge não está obrigado a observar o prazo excedente. Ou seja, não há eficácia
em relação ao cônjuge que não conferiu a vênia.
Tutor e curador precisam de autorização para locar bem pertencente ao tutelado e curatelado?
Pai e mãe não devem sequer prestar contas, sendo livres para locar bem do filho.
Também podem locar o usufrutuário, superficiário e usuário. Porém, extinto o direito real, o titular
terá direito de denúncia vazia, desde que o faça no prazo de 90 dias.
3.2. Objeto
Na locação de imóvel rural, por exemplo, incide o CC. Na locação de vagas autônomas de garagem
ou de espaço publicitário, também incide o CC (é locação por prazo, findo o prazo, extinto o contrato).
O mesmo ocorre na locação de apart-hotéis e no arrendamento mercantil.
Supletivamente, incide a Lei 8245/91. Esta lei possui três objetos distintos:
Se o contrato for por tempo igual ou superior a 30 meses, é possível a denúncia vazia.
No contrato por prazo inferior, há possibilidade de denuncia cheia (motivada), sob pena de ter
que se respeitar o prazo de 30 meses.
Locação não residencial – nestas locações, há direito à ação renovatória, desde que
cumpridos os requisitos.
Locação por temporada – essa é a única possibilidade de cobrar até 3 meses de forma
adiantada, sem que incida a contravenção penal.
Obs: Toda vez que não houver qualquer garantia, será possível cobrar o aluguel vincendo até
o 6º dia útil.
Características do objeto
Aplica-se o princípio da liberdade negocial (arts. 17 e 18 da lei). Há apenas uma exceção: ação
revisional. Esta pode se realizar em 36 meses (art. 19), mitigando a liberdade e se adotando o
valor de mercado.
3.3. Forma
o Para o exercício do direito à renovatória, o contrato deverá ser realizado por escrito, tendo 5
anos de vigência, 3 anos no mesmo ramo de atividade, sendo requerida após 1 ano e 6
meses.
o Para o exercício de direito de vigência ou direito de preferência o contrato deve ser escrito.
Ora, tais cláusulas devem ser registradas ou averbadas no CRI, devendo ser escritas.
4. Direitos do locador
a) Receber os alugueres - a ação de cobrança locatícia prescreve em 3 anos, a partir do seu vencimento.
Trata-se de direito superveniente, que não existe de forma antecedente, exceto no caso de locação por
temporada (por até 3 meses) ou na ausência de garantia (em que é possível cobrar o mês vincendo até o 6º
dia).
c) Mover ação de despejo – a única tutela na relação locatícia é a ação de despejo (art. 5º).
Somente será ação possessória entre locador e locatário se o objeto não compuser o objeto da locação.
Em imóveis residenciais, há denúncia vazia em locações superiores a 30 meses. Por outro lado, a denuncia
deverá ser cheia nas locações inferiores a 30 meses, com o término do prazo (se não houver denúncia
cheia, o contrato se prorroga até 30 meses, quando surge o direito á denuncia vazia).
d) Vistoriar a coisa, desde que comunique a vistoria com antecedência – não há prazo fixo, devendo haver
razoabilidade.
e) Autorizar a sublocação, a cessão de locação ou eventual comodato
A sublocação, para que o locador possa autorizar, necessita de cláusula no contrato (no silencio o locatário
é livre para realizar a sublocação).
5. Obrigações do locador
b) Manter o uso pacífico – o grande titular da tutela da própria posse é o locador, que deverá proteger o
locatário.
c) Manutenção – nas condições em que a coisa foi entregue. O locador é responsável inclusive pelo caso
fortuito ou de força maior.
d) Responsabilidade civil pelos vícios anteriores, ainda que não constatados no momento da entrega das
chaves e da vistoria inicial
e) Obrigações propter rem, em princípio – impostos, taxas, despesas imobiliárias em geral, condominiais
(ordinárias ou extraordinárias).
A única obrigação que não gera efeitos para o locador são as de tarifa ou preço público (contas de luz,
água, gás).
f) Fornecer recibo
g) Indenizar benfeitorias - Somente são indenizadas as benfeitorias necessárias se o contrato não trouxer
proibição (é possível cláusula proibitiva). Há súmula do STJ nesse sentido.
A benfeitoria útil precisa de autorização do locador para ser realizada (art. 36) – não basta autorização
prévia e genérica no contrato.
As benfeitorias voluptuárias podem ser levantadas pelo locatário, desde que não afete a estrutura e
substância do imóvel, e não serão indenizadas.
h) Obrigação de dar preferência aos locatários e aos sublocatários – esta obrigação está condicionada à
averbação no RI com trinta dias de antecedência (caso contrário, não vinculará terceiros, de modo que o
locatário e o sublocatário não poderão ingressar com ação anulatória).
6. Direitos do locatário
c) Direito de preferência e direito de vigência do contrato – o locatário tem o direito de ver o contrato
respeitado até o final, pelo locador e por qualquer terceiro, Para tanto, se exige o registro no CRI.
Em que casos, mesmo registrada a cláusula, não haverá direito de vigência até o final?
Na extinção do usufruto, do fideicomisso e da alienação fiduciária em garantia.
Quando consolida a alienação fiduciária em garantia, não será necessário aguardar o término da locação )o
banco poderá exigir a saída do locatário do imóvel). Sem esta regra, ninguém conseguiria arrematar o
imóvel
7. Obrigações do locatário
c) Obrigação de pagar aluguel – até o 6º dia do m,ês subseqüente, vencendo juros a partir de então
As despesas podem ser ordinárias ou extraordinárias. Somente as despesas ordinárias podem ser
imputadas ao locatário (art. 23 da lei). São aquelas que decorrem do uso imediato da coisa.
8. Transferibilidade
8.1. Sublocação – é uma locação dentro da própria locação, é a transferência da qualidade locatária para
terceiro (deve respeitar integralmente as regras da locação).
O silêncio do contrato a autoriza (o locatário passa a ter direito de sublocar, embora mantenha a
responsabilidade civil originária pelos atos do sublocatário).
8.2. Cessão de locação – há um desligamento do locatário e assunção do terceiro. Neste caso sempre é
necessária a autorização do locador, por escrito (para que não se presuma esbulho).
8.3. Comodato – é o empréstimo gratuito feito pelo locatário a um terceiro, o qual necessita de autorização
expressa e formal (por escrito) por parte do locador.
Princípio da substituibilidade – art. 40. O locador poderá exigir novo fiador ou substituição da
modalidade de garantia, nas hipóteses do art. 40.
Princípio da extinção – art. 40, p.u. O locador poderá notificar o locatário para apresentar nova
garantia no prazo de 30 dias, sob pena de desfazimento da locação.
b) Extinção dos direitos reais sobre coisa alheia (inclusive da alienação fiduciária em garantia) – o novo
titular deve notificar o locatário em até 90 dias.
c) Alienação do imóvel
e) Resilição
Pode se dar:
g.i. Pelo locatário – a lei 12.112, no art. 4º, determina que seja paga multa proporcional ao
período de cumprimento do contrato.
Altera a redação do art. 66 da Lei n. 4.728, de 14 de julho de 1965, estabelece normas de processo sobre alienação fiduciária, e dá outras providências.
Os Ministros da Marinha de Guerra, do Exército e da Aeronáutica Militar, usando das atribuições que lhes confere o
art. 1.º do Ato Institucional n. 12, de 31 de agosto de 1969, combinado com o § 1.º do Ato Institucional n. 5, de 13 de
dezembro de 1968, decretam:
Art. 1.º O art. 66, da Lei n. 4.728, de 14 de julho de 1965, passa a ter a seguinte redação:
•• Alteração prejudicada em face da revogação do mencionado artigo pela Lei n. 10.931, de 2-8-2004.
Art. 2.º No caso de inadimplemento ou mora nas obrigações contratuais garantidas mediante alienação fiduciária, o
proprietário fiduciário ou credor poderá vender a coisa a terceiros, independentemente de leilão, hasta pública,
avaliação prévia ou qualquer outra medida judicial ou extrajudicial, salvo disposição expressa em contrário prevista no
contrato, devendo aplicar o preço da venda no pagamento de seu crédito e das despesas decorrentes e entregar ao
devedor o saldo apurado, se houver.
§ 1.º O crédito a que se refere o presente artigo abrange o principal, juros e comissões, além das taxas, cláusulas, pena
e correção monetária, quando expressamente convencionados pelas partes.
§ 2.º A mora decorrerá do simples vencimento do prazo para pagamento e poderá ser comprovada por carta registrada
expedida por intermédio de Cartório de Títulos e Documentos ou pelo protesto do título, a critério do credor.
§ 3.º A mora e o inadimplemento de obrigações contratuais garantidas por alienação fiduciária, ou a ocorrência legal
ou convencional de algum dos casos de antecipação de vencimento da dívida, facultarão ao credor considerar, de
pleno direito, vencidas todas as obrigações contratuais, independentemente de aviso ou notificação judicial ou
extrajudicial.
Art. 3.º O proprietário fiduciário ou credor poderá requerer contra o devedor ou terceiro a busca e apreensão do bem
alienado fiduciariamente, a qual será concedida liminarmente, desde que comprovada a mora ou o inadimplemento do
devedor.
§ 1.º Cinco dias após executada a liminar mencionada no caput, consolidar-se-ão a propriedade e a posse plena e
exclusiva do bem no patrimônio do credor fiduciário, cabendo às repartições competentes, quando for o caso, expedir
novo certificado de registro de propriedade em nome do credor, ou de terceiro por ele indicado, livre do ônus da
propriedade fiduciária.
§ 2.º No prazo do § 1.º, o devedor fiduciante poderá pagar a integralidade da dívida pendente, segundo os valores
apresentados pelo credor fiduciário na inicial, hipótese na qual o bem lhe será restituído livre do ônus.
§ 3.º O devedor fiduciante apresentará resposta no prazo de quinze dias da execução da liminar.
•• § 3.º com redação determinada pela Lei n. 10.931, de 2-8-2004.
§ 4.º A resposta poderá ser apresentada ainda que o devedor tenha se utilizado da faculdade do § 2.º, caso entenda ter
havido pagamento a maior e desejar restituição.
§ 6.º Na sentença que decretar a improcedência da ação de busca e apreensão, o juiz condenará o credor fiduciário ao
pagamento de multa, em favor do devedor fiduciante, equivalente a cinquenta por cento do valor originalmente
financiado, devidamente atualizado, caso o bem já tenha sido alienado.
§ 7.º A multa mencionada no § 6.º não exclui a responsabilidade do credor fiduciário por perdas e
danos.
§ 8.º A busca e apreensão prevista no presente artigo constitui processo autônomo e independente de qualquer
procedimento posterior.
Art. 4.º Se o bem alienado fiduciariamente não for encontrado ou não se achar na posse do devedor, o credor poderá
requerer a conversão do pedido de busca e apreensão, nos mesmos autos, em ação de depósito, na forma prevista no
Capítulo II, do Título I, do Livro IV, do Código de Processo Civil.
Art. 5.º Se o credor preferir recorrer à ação executiva ou, se for o caso, ao executivo fiscal, serão penhorados, a
critério do autor da ação, bens do devedor quantos bastem para assegurar a execução.
Parágrafo único. Não se aplica à alienação fiduciária o disposto nos incisos VI e VIII do art. 649 do Código de
Processo Civil.
Art. 6.º O avalista, fiador ou terceiro interessado que pagar a dívida do alienante ou devedor, se sub-rogará, de pleno
direito, no crédito e na garantia constituída pela alienação fiduciária.
Art. 7.º Na falência do devedor alienante, fica assegurado ao credor ou proprietário fiduciário o direito de pedir, na
forma prevista na lei, a restituição do bem alienado fiduciariamente.
Parágrafo único. Efetivada a restituição, o proprietário fiduciário agirá na forma prevista neste Decreto-lei.
Art. 8.º O Conselho Nacional de Trânsito, no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, a contar da vigência do presente
Decreto-lei, expedirá normas regulamentares relativas à alienação fiduciária de veículos automotores.
Art. 8.º-A. O procedimento judicial disposto neste Decreto-lei aplica-se exclusivamente às hipóteses da Seção XIV da
Lei n. 4.728, de 14 de julho de 1965, ou quando o ônus da propriedade fiduciária tiver sido constituído para fins de
garantia de débito fiscal ou previdenciário.
Art. 9.º O presente Decreto-lei entrará em vigor na data de sua publicação, aplicando-se, desde logo, aos processos em
curso, revogadas as disposições em contrário.
Brasília, 1.º de outubro de 1969; 148.º da Independência e 81.º da República.
(*) Publicado no Diário Oficial da União, de 3-10-1969. A Lei n. 4.728, de 14-7-1965, disciplina o mercado de capitais
e estabelece medidas para o seu desenvolvimento.