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DIREITO CIVIL – PONTO 6

Contratos em espécie: compra e venda; permuta; contrato estimatório; doação; locação;

empréstimo;   prestação   de   serviço;   empreitada;   depósito;   mandato;   comissão;   agência   e

distribuição; corretagem; transporte; seguro; constituição de renda; jogo e aposta; fiança;

transação; compromisso. Atos  unilaterais:  promessa de recompensa; gestão de negócios;

pagamento indevido; enriquecimento sem causa.

CONTRATOS EM ESPÉCIE

CONTRATO DE COMPRA E VENDA

 Conceito:  Trata­se de um negócio jurídico bilateral, por meio do qual o vendedor
     obriga­se
    1  a transferir  a

 propriedade  de coisa móvel ou imóvel ao comprador mediante o pagamento de um preço. 
   A compra

e   venda   por   si   só   já   é   título   suficiente   para   exigir   o   cumprimento   da   obrigação   (simples

 consensualidade).   As   obrigações   são   entregar   a   coisa   (vendedor)


     e   o   pagamento   pela   coisa

 (comprador) .

Art.   481.   Pelo  contrato  de  compra  e   venda,   um   dos   contratantes  se   obriga  a  transferir  o

domínio de certa coisa, e o outro, a pagar­lhe certo preço em dinheiro.

O pagamento pode ser em dinheiro ou valor fiduciário, ou seja, cheque ou cartão de crédito, faltou

1 “A compra e venda possui EFEITO MERAMENTE OBRIGACIONAL. Vale dizer, não transfere a propriedade
da coisa, antes, cria a obrigação de fazê-lo” [Tepedino]
constar essa menção no artigo.

Elementos:

 Consentimento: “Para a perfeição do contrato, o CC exige apenas o acordo 
   sobre a cois
   a e o 
   preço”

[Tepedino]

 coisa: os direitos podem ser negociados, mas o termo correto é a CESSÃO DE DIREITOS.

Art. 483. A compra e venda pode ter por objeto coisa atual ou futura. Neste caso, ficará sem

efeito o contrato se esta não vier a existir,  salvo se a intenção das partes era de concluir

contrato aleatório.

 Preço:  O preço injusto pode ser indício de fraude. O  preço


   fictício 
  descaracteriza o contrato  para

doação, por exemplo, venda de apartamento por R$ 1,00. A lei deixa as partes livres para a fixação

do preço do contrato, inclusive ao arbítrio de terceiro. O que a lei não admite é que uma das partes

tenha o arbítrio exclusivo de fixar o preço (artigos 485 e 489), nesse caso a cláusula e o contrato

serão   nulos.  É  lícito  às   partes  fixar   o   preço  em   função   de  índices   ou   parâmetros,   desde   que

suscetíveis de objetiva determinação (artigo 487). Também poderão deixar a fixação do preço à taxa

de mercado ou de bolsa, em certo e determinado dia e lugar (artigo 486). Neste caso, “dificuldade

que se poderia entrever é a circunstância de variação da cotação no mesmo dia, caso as partes não

tenham definido o horário preciso da verificação. Deve prevalecer o preço médio de mercado na

data” [Tepedino] O art. 488, por sua vez, é uma mitigação da regra de estabelecimento de preços, ele

tem   aplicação   nas   hipóteses   em   que   há  vendas   habituais   do   vendedor.   Ex:   fornecimento   de

refrigerantes em bar; trata­se do preço presumido.

[Cláusula de fixação do preço por terceiro] “Nunca será possível que o juiz se substitua às partes, e, na

falta de entendimento entre elas, designe um perito ou proceda à determinação do preço ou avaliação da

coisa. Sem a fixação do preço por terceiro, a única solução possível é o desfazimento do contrato. Não
cabe, aqui, na ausência de elemento essencial, a integração judicial” [Tepedino]

 Aquisição   da   propriedade:  O
    contrato   de   compra   e   venda   no   direito   brasileiro   gera   apenas   efeitos

OBRIGACIONAIS. Isso significa que, para haver efetiva transferência da propriedade, é necessário,

além   do   contrato,   uma   solenidade   de   transferência   (TRADIÇÃO   para   os   bens   móveis   ou

 REGISTRO para os bens imóveis).  Tepedino afirma que o contrato em análise é TRANSLATIVO

DE   PROPRIEDADE,   “não   no   sentido   de   operar   a   transferência,   mas   no   sentido   de   operar   a

transferência, mas de ser o ato causal desta”.

Art. 482. A compra e venda, quando pura, considerar­se­á obrigatória e perfeita, desde que as

partes acordarem no objeto e no preço.

Características do contrato

a. Contrato típico: é contrato típico ou nominado.

a. Contrato solene ou não­solene: pode ser um contrato solene ou não­solene dependendo do objeto

do contrato.

b. Contrato bilateral:  “criando obrigações tanto para o vendedor (entregar a coisa) quanto para o
comprador (pagar o preço)” [Tepedino]

c. Contrato   oneroso:  “conferindo  vantagens   econômicas   a   ambas   as   partes,   quais   sejam:   para   o
vendedor, o direito de obter o preço, para o comprador, o direito de receber a coisa” [Tepedino]

d. Contrato sinalagmático:

e. Contrato consensual ou formal:  “é consensual, uma vez que se forma pelo simples acordo de
vontade das partes” [Tepedino]

f. Contrato   comutativo  ou   aleatório:  “é,   em   geral,   contrato   comutativo,   com   prestações
determináveis e equivalentes no momento da conclusão. Admite­se, no entanto, a compra e venda

aleatória, quando assim ajustado pelas partes” [Tepedino]. A compra e venda pode ser um contrato

comutativo ou aleatório (por exemplo, compra e venda de coisa futura). “Há venda de esperança se a

existência das coisas futuras depende do acaso; há venda de coisa esperada, se a existência das coisas
futuras está na ordem natural. A venda de coisa futura não pode se referir à herança futura, sob pena

de   nulidade.   É   a   vedação   do   chamado   'pacto   corvina'”   [Tepedino].  Contrato   “emptio   spei”   é   o

contrato aleatório que consiste no risco sobre toda a coisa, inclusive, sobre a essência da coisa.

C Um dos contratantes, na alienação de coisa futura,  toma a si o risco relativo  à

O existência da coisa, ajustando um preço, que será devido integralmente, mesmo que

N EMPTIO nada   se   produza  (artigo   458),   sem   que   haja   culpa   do   alienante;   vende­se   a

SPEI esperança ou a probabilidade de as coisas existirem.
T

R EXEMPLO: comprar de um pescador, por preço certo, os peixes que este retirar de
Dizem
A sua rede, assumindo o risco de nenhum peixe ser apanhado.
respeito  à
T Ocorre   que   a  álea   versar   sobre   quantidade  maior   ou   menor   da   coisa   esperada
coisa
O (artigo 459), o risco assumido pelo adquirente determina o pagamento do preço ao
futura EMPTIO
alienante, mesmo que venha a existir em quantia mínima ou irrisória, basta que a
S
REI
coisa venha a existir em qualquer quantidade.
 
SPERATA
A EXEMPLO: comprar de um pescador o produto do lanço de sua rede, assumindo
E
apenas a álea de ele retirar maior ou menor quantidade de pescado, o adquirente
L
libertar­se­á da obrigação, se a rede nada contiver.
E

A
Para o contrato ser aleatório, deve existir risco de que as coisas se percam, danifiquem­se ou
T
Dizem ainda, sofram depreciação (artigo 460).  E a hipótese de mercadoria embarcada que vendida,
Ó
respeito  à assumindo o comprador a álea de ela chegar ou não ao seu destino, mesmo que ela desapareça
R
coisa por ocasião do contrato, devido a naufrágio do navio, a venda será válida e o vendedor terá
I
existente direito   ao   preço,   se   ignorava   o   sinistro;   se   sabia   do   naufrágio,   anulada   será   a   alienação
O competindo ao adquirente a prova dessa ciência (artigo 461)
S

Responsabilidade pelo risco

“O CC optou por preservar os interesses do vendedor, estabelecendo uma ordem ao cumprimento das
obrigações das partes no contrato: primeiro o comprador paga o preço, depois o vendedor entrega a coisa”

[Tepedino]

Art. 492. Até o
    momento da tradição, os riscos da coisa correm por conta do vendedor, e os do preço
por conta do comprador.

§   1o  Todavia,  os  casos   fortuitos,  ocorrentes   no  ato   de   contar,   marcar   ou   assinalar   coisas,   que

comumente se recebem, contando, pesando, medindo ou assinalando, e que já tiverem sido postas à

disposição do comprador, correrão por conta deste.

§ 2o Correrão também por 
   conta do comprador os riscos das referidas coisas, se estiver em mora de

as receber, quando postas à sua disposição no tempo, lugar e pelo modo ajustados.

“Art. 494: constitui, também,  modalidade peculiar de tradição a entrega da  res vendita  a quem

haja de transportá­la, quando expedida por ordem do comprador. Se, porém, o vendedor contrariar as

instruções do adquirente, suporta os riscos ocorridos durante o transporte, porque, assim procedendo,

age como mandatário infiel” [Tepedino]

Venda de ascendente a descendente

O  CC/16 (artigo 1.132)  protegia a LEGÍTIMA punindo a venda com a  NULIDADE. Entretanto, a

jurisprudência   (STF   494)   e   a   doutrina   adotaram   a   tese   da   ANULABILIDADE,   na   venda   sem   o

consentimento   dos   outros   herdeiros.  O  NCC   incorporou   a   tese   da   anulabilidade,   ou   seja,   a  venda   de

ascendente  a  descendente,  sem   o  consentimento  do  cônjuge   e   dos   demais   descendentes   é   ANULÁVEL

(prazo decadencial de 2 anos).

“Art. 496: proteção da legítima. Não se admite o consentimento tácito, exigindo­se que este seja feito

expressamente. A doutrina, em sua maioria, entende ser o consentimento insuprível pelo juiz, por ser este

uma   prerrogativa   do   cônjuge   ou   do   descendente.   Sendo   algum   dos   descendentes   incapaz,   deverá   ser
nomeado um curador para representá­lo ou assisti­lo no ato, conforme o caso, uma vez que  é patente a

colisão de interesses entre ele e o ascendente” [Tepedino]

Pessoas impedidas de contratar

Art. 497. Sob pena de nulidade, não podem ser comprados, ainda que em hasta pública:

I ­ pelos  tutores, curadores, testamenteiros e administradores, os  bens confiados  à sua guarda ou


administração;

II ­ pelos servidores públicos, em geral, os bens ou direitos da pessoa jurídica a que servirem, ou que
estejam sob sua administração direta ou indireta;

III ­ pelos juízes, secretários de tribunais, arbitradores, peritos e outros serventuários ou auxiliares

da justiça,  os bens ou direitos sobre que se litigar em tribunal, juízo ou conselho, no lugar onde
servirem, ou a que se estender a sua autoridade;

IV ­ pelos leiloeiros e seus prepostos, os bens de cuja venda estejam encarregados.

Parágrafo único. As proibições deste artigo estendem­se à cessão de crédito.

Essas pessoas NÃO têm legitimidade para efetuar o contrato de compra e venda, sob pena de nulidade,

MESMO QUE EM HASTA PÚBLICA.

CONCURSO: qual foi a regra que o NCC não reproduziu? Por quê? Qual a posição do STF? Artigo

1.133, II do CC/16: mandatários e bens dos mandantes. Não há impedimento para que o próprio mandante

adquira o bem.  Essa norma já havia caído, em decorrência da SÚMULA 165, STF2.  Já era uma súmula

contra legem. É a possibilidade de celebração de CONTRATO CONSIGO MESMO.

2165 - A venda realizada diretamente pelo mandante ao mandatário não é atingida pela nulidade do art. 1.133, II, do
Código Civil.
Venda ad corpus e venda ad mensuram

VENDA AD CORPUS VENDA AD MENSURAM

Venda   na   qual   as  dimensões   são   imprecisas, Venda   especificada,  venda   detalhada   por  indicação

simplesmente enunciativas. de preço e medida de extensão.

Presunção enunciativa quando, a diferença não exceder

a1/20 (§ 1o., artigo 500)

Proteção especial do comprador (artigo 500, caput):

a.  AÇÃO  EX EMPTO
    (complemento da área)

b. resolução do contrato

c. abatimento   no   preço  (Estas   duas   últimas,


somente  em   caso   de   não   ser   possível   a

complementação da área, segundo Tepedino)

O § 1o., artigo 500, traduz a idéia de que se a margem

de   erro   é   apenas   de   5%,   o   comprador   não   poderá

ingressar   em   juízo,   salvo   se   provar   que   sem   esse

percentual não teria realizado a compra.

Art. 502: “o adquirente será sujeito passivo apenas das obrigações propter rem nascidas após a alienação. As

dívidas vencidas decorrentes do ônus real se transmitem ao novo titular do direito real. Assim, não seria

possível admitir que o dispositivo abrangesse os ônus reais – a despeito da expressão 'que gravem a coisa' –

uma vez que os ônus reais acompanham a coisa na mudança de titularidade, cabendo ao novo adquirente

arcar com estes deveres” [Tepedino]

Venda a condômino

“Quanto à coisa, indivisível ou divisível, segundo a melhor doutrina, sobre a qual se tenha instaurado

um condomínio, há para os condôminos o direito de preferência em caso de venda, por um deles, da parte

ideal que lhe caiba sobre a coisa” [Tepedino]
Cláusulas especiais da compra e venda

Retrovenda (Arts. 505 e ss) – SÓ IMÓVEIS

“O pacto de retrovenda consiste na  faculdade  que se  reserva o vendedor de


    resolver o contrato de

compra   e   venda,  recuperando   a   coisa   imóvel,   desde   que  pague  ao   comprador   o   preço   original,

monetariamente corrigido, as despesas por ele suportadas e o valor equivalente às benfeitorias necessárias,

bem como às úteis e voluptuárias expressamente consentidas, na forma escrita” [Tepedino]

Somente se aplica a imóveis e no prazo máximo de 3 anos.

“Ainda que os antigos condôminos do imóvel não tenham, todos em conjunto, vendido com o pacto

adjeto de retrovenda, o direito de retrato pode ser exercido por um deles, mesmo que os demais não tenham

interesse em reaver o imóvel” [Tepedino]

Venda a contento e da sujeita à prova (Arts. 509 e ss)

“A venda a contento aplica­se a certas coisas a respeito das quais  o comprador não pode dar seu

consentimento antes de as haver examinado. São as coisas que precisam ou ser pesadas, ou ser medidas ou,

mesmo, provadas e experimentadas” [Tepedino]aqui.

“O   fato   de   a   lei   nova   dispor   que   '[a   venda]   não   se   reputará   perfeita   enquanto   o   adquirente   não

manifestar o seu agrado' apenas reforça seu caráter condicional, não significando que a manifestação de

aprovação da coisa tenha de ser expressa, somente. Esta pode consistir em atos incompatíveis com a vontade

de rejeitar a coisa” [Tepedino]

“O ponto diferenciador da  venda a contento  é exatamente a de  o negócio se consumar a critério do

comprador, independentemente da qualidade da coisa.
 Na venda sujeita a prova o legislador se distanciou deste critério e inseriu uma condição que não está

ligada à satisfação do comprador,  mas sim ao fato de a  coisa ter ou não as qualidades asseguradas pelo

vendedor e ser ou não idônea para o fim a que se destina” [Tepedino]

Preempção ou preferência (arts. 513 e ss)

“A natureza jurídica da preempção é de  promessa unilateral de oferecer a coisa ao vendedor, pelo

preço equivalente ao da oferta feita por terceiro interessado na sua aquisição. No Direito Brasileiro, confere

   DIREITO PESSOAL que, se desrespeitado, gera para o comprador a obrigação de
ao vendedor apenas um 

arcar com as perdas e danos” [Tepedino]

“Podem ser objeto de preempção  tanto as coisas móveis quanto as imóveis  (RETROVENDA:  SÓ

IMÓVEIS)” [Tepedino]

“Há duas espécies de preempção: a convencional e a legal (pode consistir no exercício do direito de

preferência   pelos   entes   federativos,   em   dadas   circunstâncias,   ou   pelo   particular   expropriado,   caso   a

desapropriação não cumpra sua finalidade (CC, art. 519 – retrocessão ou preempção legal) nos termos do

estatuído em lei)” [Tepedino]

“O direito de preferência é considerado personalíssimo (intransmissível)” [Tepedino]

Venda com reserva de domínio (arts. 521 e ss)

Para o bem móvel, a garantia se faz por essa cláusula de reserva de domínio, na qual o vendedor

pode reservar para si a propriedade, até que o preço esteja integralmente pago (artigo 521).
Essa cláusula estabelece uma propriedade resolúvel, porque está submetida a um acontecimento futuro

e incerto para ser realmente transmitido o negócio.

A reserva de domínio é uma cláusula inserida em contrato de compra e venda de bem móvel a prazo.

“A reserva de domínio é o pacto adjeto ao contrato de compra e venda pelo qual o comprador só adquire a

propriedade   da   coisa   ao   integralizar   o   pagamento   do   preço,   não   obstante   investir­se   na   posse   desde   o

momento da celebração do contrato” [Tepedino]

“Poderá recair somente em contratos de compra e venda que tenham por objeto bens móveis. Trata­se

de uma venda sob condição suspensiva (natureza jurídica)” [Tepedino]

“A coisa móvel, objeto da venda com reserva de domínio, não precisa ser infungível, mas deve ser

individualizável” [Tepedino]

A cláusula deve ser escrita e registrada no domicílio do comprador para valer contra terceiros. Para as

partes  a  cláusula  vale mesmo  sem  o registro,  basta  a  cláusula  escrita.  O  registro deve  ser  feito  no

cartório de títulos e documentos.

A regra “res perit domini” (a coisa perece para o dono) é mitigada nessa cláusula, por que se a coisa

perecer, o prejuízo será suportado pelo comprador, mesmo com a propriedade reservada ao vendedor (artigo

524, 2ª parte). Na verdade, essa reserva de propriedade não passa de uma garantia.

Visa a proteger o vendedor de um móvel, que fica sem garantia do pagamento posterior. Para o

bem imóvel, a solução é o compromisso de compra e venda.

RESERVA DE DOMÍNIO ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA

Cláusula no contrato de compra e venda a prazo Garantia real do contrato de mútuo

Contrato de compra e venda à vista
Contrato de compra e venda a prazo
Contrato de mútuo com garantia real

Propriedade resolúvel em favor do vendedor Propriedade resolúvel em favor do banco

Relação   trilateral:   comprador,   vendedor   e


Relação bilateral: comprador e vendedor.
instituição financeira
Se o comprador não pagar o preço, deve ser constituído em mora, mediante protesto do título ou

interpretação judicial (artigo 525); ou seja, diferente da mora “ex re”, que ocorre independentemente

de notificação (nas obrigações a termo, com data de pagamento específica).

Observa­se a súmula do STJ de n 369: “no contrato de arrendamento mercantil (leasing), ainda

que   haja   cláusula   resolutiva   expressa,   é   necessária   a   notificação   prévia   do   arrendatário   para

constituí­lo em mora”.

Estando caracterizada a mora, o vendedor poderá:

1. Cobrar o preço ou

1. Ajuizar a reintegração de posse.

Na alienação fiduciária em garantia a ação cabível é busca e apreensão, que pode ser convertida

em ação de depósito (isso não pode ser feito na venda com reserva de domínio).

A reserva de domínio é uma exceção à regra geral de transmissão da propriedade por tradição.

A   venda   com   reserva   de   domínio  caracteriza­se   pela   transmissão   da   posse  não   correspondente   à

transmissão do domínio, que fica com o vendedor até que o preço esteja integralmente pago.

Venda sobre documentos

Art. 529. Na venda sobre documentos, a tradição da coisa é substituída pela entrega do seu título

representativo e dos outros documentos exigidos pelo contrato ou, no silêncio deste, pelos usos.

Parágrafo   único.   Achando­se   a   documentação   em   ordem,   não   pode   o   comprador   recusar   o

pagamento, a pretexto de defeito de qualidade ou do estado da coisa vendida, salvo se o defeito já

houver sido comprovado.

Art. 530. Não havendo estipulação em contrário, o pagamento deve ser efetuado na data e no lugar
da entrega dos documentos.

Art. 531. Se entre os documentos entregues ao comprador figurar apólice de seguro que cubra os

riscos do transporte, correm estes  à conta do comprador, salvo se, ao ser concluído o contrato,

tivesse o vendedor ciência da perda ou avaria da coisa.

Art. 532. Estipulado o pagamento por intermédio de estabelecimento bancário, caberá a este efetuá­

lo contra a entrega dos documentos,  sem obrigação de verificar a coisa vendida,  pela qual  não

responde.

Parágrafo   único.   Nesse   caso,   somente   após   a   recusa   do   estabelecimento   bancário   a   efetuar   o

pagamento, poderá o vendedor pretendê­lo, diretamente do comprador.

CONTRATO DE TROCA OU PERMUTA

“Troca é o contrato pelo qual as partes se obrigam a dar uma coisa por outra, que não seja dinheiro. É

um contrato consensual. Pressupõe a garantia das coisas que são objeto do contrato” [Tepedino]

Art.   533.   Aplicam­se   à   troca   as   disposições   referentes   à   compra   e   venda,   com   as   seguintes

modificações:

I ­ salvo disposição em contrário, cada um dos contratantes  pagará por metade as despesas com o

instrumento da troca;

II ­ é anulável a troca de valores desiguais entre ascendentes e descendentes, sem consentimento dos

outros descendentes e do cônjuge do alienante.

CONTRATO ESTIMATÓRIO
Houve grande influência do Código Civil Italiano.

Partes:  CONSIGNANTE  (transfere a posse de  bens móveis) e  CONSIGNATÁRIO  (recebe os bens

móveis, tendo um prazo para vendê­los e, não conseguindo a venda, deve restituir os bens).

O consignante estabelece qual o preço de venda.

Note­se  a propriedade da coisa é do CONSIGNANTE.  O CONSIGNATÁRIO possui somente uma

posse legitimada para a venda.

“Trata­se de um negócio já amplamente difundido em nossa cultura, usualmente intitulado 'venda em

consignação' ou, mais precisamente, 'venda mediante consignação'. Por seu intermédio, o dono de um bem

móvel qualquer, com intuito de aliená­lo, deixa­o com uma pessoa que se encarrega de realizar a venda

pretendida. A denominação 'estimatório' decorre do fato de ser o preço, a que faz jus o proprietário do bem,

previamente estimado entre o dono (consignante) e o vendedor (consignatário)” [Tepedino]

“Natureza jurídica do contrato estimatório: obrigação facultativa” [Tepedino]

“O contrato estimatório é contrato real” [Tepedino]

Em geral o consignante pode devolver antes do prazo.

O consignatário pode comprar a coisa.

“Art. 535: Se os bens móveis forem fungíveis, será possível ao consignatário entregar ao consignante

bens rigorosamente equivalentes aos perdidos ou deteriorados, afastando o teor proibitivo do comando

em questão” [Tepedino]

“A faculdade de devolução da coisa consignada só perdura pelo prazo fixado; findo este, a  única

forma   de   cumprimento   admitida,   vendida   ou   não   a   coisa,   tem­se   no   pagamento   do   preço   estimado”

[Tepedino]
Responsabilidade pelo risco

A regra de que a coisa perece para o dono não se aplica ao contrato estimatório, na forma do artigo

535. Assim o consignatário responde por caso fortuito ou força maior,  “ou mesmo pelo fato de terceiro”.

[Tepedino]

“O consignatário responde pelos vícios redibitórios e pelos riscos de evicção. Todavia, com relação à

EVICÇÃO, RESPONDE IGUALMENTE O CONSIGNANTE” [Tepedino]

CONTRATO DE DOAÇÃO

 Conceito:  A doação, prevista nos artigos 538 e seguintes, 
  é o negócio jurídico pelo qual o doador, por

espírito de liberalidade, transfere bens ou valores do seu patrimônio ao donatário, que os aceita.

“Não se deve esquecer que a doação, como contrato, negócio jurídico bilateral por formação, jamais

prescinde do consentimento das partes. Demais disso, a aceitação do donatário existe e é essencial, pois não

se pode impor a outrem que incorpore em seu patrimônio bem que não deseja, hipótese dramatizada nas

doações gravadas com encargos” [Tepedino]

Elementos da doação [Tepedino]:

a. Subjetivo: animus donandi, que tem como conteúdo a liberalidade, isto é, a vontade de enriquecer o
beneficiário às próprias expensas;

a. Objetivo: a diminuição do patrimônio do doador e correspondente enriquecimento do donatário;

b. Realização por  ato
    inter vivos  (no sistema brasileiro, se uma pessoa desejar, por ocasião de sua

morte, contemplar outra, os instrumentos jurídicos de que pode dispor são apenas o testamento e o

codicilo, não a doação);
c. O doador só pode transferir bens que efetivamente estejam em seu patrimônio, vale dizer, de que

possa dispor no momento da execução do contrato (prevalece o entendimento de que seja possível

doar bem alheio ou futuro, desde que, no momento da transferência, se possa cumprir a obrigação de

entrega).

Características

Unilateralidade: “A doação está para o conjunto de contratos unilaterais gratuitos, assim como a compra e

venda está para os bilaterais onerosos. São ambos paradigmáticos”[Tepedino]  A doação com encargo

NÃO torna o contrato bilateral, o contrato continua sendo unilateral, porque o encargo NÃO é uma

contra prestação.

Formalidade: Em geral, é feita por escrito; poderá ser VERBAL quando, versando sobre bens MÓVEIS e

de  PEQUENO  VALOR, se lhe seguir  incontinenti  a tradição. Existe um subjetivismo sobre o que se

define como pequeno valor, a doutrina recomenda que a aferição sobre o que seja pequeno valor leve em

conta  o  patrimônio do doador.  Quando  legislador  exigir  o instrumento  público  para  transferência,  a

doação deverá ser feita por escritura pública (direito real sobre bens imóveis de valor superior a 30 vezes

o maior mínimo vigente no País – artigo 108).

Partes: O nascituro e o incapaz podem ser partes no contrato de doação, desde que aceita pelo representante

legal (nascituro), ou dispensada quando haja a doação pura.

Doação por procuração: A jurisprudência tem admitido a doação por procuração, desde que o mandato não

seja genérico, ou seja, a procuração deve especificar o objeto e o donatário (RT 495/44 e RT 472/95).
 Doação  inoficiosa
       (art. 549):   É uma doação nula por v
   iolação da legítima;
      somente
     os outros herdeiros

poderão   impugná­la.   Qual   o   prazo   para   que   os   herdeiros   ingressem   com   a   ação?   PABLO:   É

 IMPRESCRITÍVEL  a declaração de nulidade, mas os efeitos patrimoniais sofrem limitação, estando

 submetidos ao prazo prescricional geral de 10 anos.   STJ
   : tem entendido que doação inoficiosa é

 ANULÁVEL   estando  submetida   ao   prazo 


  de   anulatória  de
    20  anos   (julgado  no   site),   mas   essa

jurisprudência é anterior ao NCC, no qual não existe mais esse prazo de 20 anos. Adaptando­se essa

 jurisprudência ao NCC, o prazo da anulatória é de  02 ANOS (ARTIGO 179).

Doação   universal   (art.   548):  Está   relacionada   com   o  ESTATUTO   JURÍDICO   DO   PATRIMÔNIO

MÍNIMO, que consiste em uma tese desenvolvida por LUIZ EDSON FACHIN, segundo a qual as normas

civis devem buscar resguardar um mínimo de patrimônio para que cada pessoa tenha uma existência digna.

As normas do bem de família estão relacionadas com esse estatuto. É evidente que se trata de repercussão do

princípio da dignidade da pessoa humana.  “Casos em que se admite a doação da totalidade dos bens: a

primeira hipótese apontada pela doutrina  é a  reserva de renda suficiente  para sua subsistência, o que se

operacionaliza pela constituição de usufruto em favor do próprio doador. A segunda hipótese, sobre a qual

ocorre funda divergência, é a de ser possível, sim, a doação de todos os bens, retirando o doador o necessário

para a subsistência de seus vencimentos, proventos ou subsídios ou de seu salário, havendo quem entenda

que a partir de uma interpretação teleológica se pode afirmar ser plenamente possível a doação universal de

bens quando o doador possuir alguma fonte de renda periódica, o que não afronta o art. 548, CC, tendo em

vista   que   a   finalidade   da   norma   restaria   preservada,   pois   a   subsistência   do   doador   estaria   garantida”

[Tepedino].

Classificação

 Contrato típico: existe um panorama específico de disciplina da modalidade contratual.

 Contrato   unilateral:  não   gera   obrigações   recíprocas   e   concomitantes.   Por   isso,  não   se   pode

reclamar de vício redibitório na doação simples. Na modalidade onerosa, a doação aproxima­se do

regime bilateral (por exemplo, o donatário se obriga a fazer alguma coisa não em prol do doador).

Todo contrato é manifestado por duas vontades (exceção é a sociedade unipessoal).
 Contrato solene:

 Contrato   geralmente   gratuito:  Normalmente   é   um   contrato  gratuito,   porque   um   patrimônio


enriquece e outro empobrece.

 Contrato simplesmente consensual: basta a declaração de doação para produzir efeitos, formando
o título translativo. Simplesmente consensual – é o contrato que decorre somente da vontade das

partes. Real: é o contrato que depende da entrega da coisa. Ex.: entrega de carro no estacionamento

para surgir o dever de guardar. Essa classificação está relacionada aos efeitos jurídicos causados pelo

contrato. “Em determinadas hipóteses, o contrato de doação será real” [Tepedino]

 Aceitação:   “O consentimento, ou aceitação será expresso se o donatário declarar que aceita a doação; tácito,

quando se possa inferi­lo de uma conduta do donatário; será presumido (art. 539) se, assinado um

dado prazo para que o donatário declare se aceita ou não a doação, este se queda inerte, daí sendo

presumível que aceitou; por fim será ficto o consentimento em doações puras feitas a incapazes –

ficção   esta   necessária   para   conformar   à   dogmática,   que   considera   a   doação   um   contrato,   a

possibilidade   de   pessoa   que   não   é   capaz   de   celebrar   negócios   jurídicos   vir   a   aceitar   o   ato   de

liberalidade, sem a participação de seus representantes. Morte (antes da aceitação): do doador –

divergência doutrinária; do donatário – o negócio se resolve. Nas doações com encargo, a aceitação

não se presume” [Tepedino]
 Promessa de doação:  É estranho imaginar que o doador fique obrigado a doar, já que a doação é um
 

contrato que tem por espírito a liberalidade. Mas a doutrina (ANA PRATA e CAIO MÁRIO) aceita

a promessa de doação, afastada a execução específica, entretanto sendo possível o pedido de perdas e

danos. Ou seja, não cabe a execução específica, mas o donatário pode pleitear perdas e danos. O

 NCC   não  prevê,   o  Código  alemão   sim.  “No


    que   toca   à   promessa   de   doação,   majoritariamente,

doutrina e jurisprudência lhe recusam efeitos pela incompatibilidade entre a natureza calcada na

liberalidade  da doação  e  a  possibilidade  de  execução coativa  da  obrigação de  fazer.  Admite­se,

contudo, a promessa de doação quando feita no bojo de um negócio complexo, no qual se possam

entrever múltiplas obrigações para ambas as partes, pela inexistência da incongruência aludida (ex:

promessa  de  doação no âmbito  de um  acordo de  separação  judicial).  Para  Caio Mário da  Silva

Pereira, somente nos casos de doação modal seria possível conceber­se a promessa de contrato, pois

o encargo imposto legitimaria o donatário a exigir o cumprimento da prestação por parte do doador”

[Tepedino]

Espécies de doação

a. doação pura: é doação sem encargo, ou seja, aquela que traduz um simples benefício patrimonial;

a. doação modal, onerosa ou com encargo: como o próprio nome indica, trata­se de doação gravada
com   um   ônus  (encargo).   Disciplinada   no  art.   553.  “Encargo   é   um  dever   anexo   à   doação,   sem

descaracterizá­la, isto é, desde que não configure correspectividade ou contraprestação” [Tepedino]

b. doação contemplativa: trata­se da doação em que o doador declina as razões da sua beneficência.
“É estimulada pelo sentimento pessoal de admiração ou reconhecimento da conduta do donatário.

Consiste em um prêmio ao donatário. Difere da doação remuneratória por apresentar conteúdo mais

sutil, no sentido de não pressupor a recompensa de favor ou serviço recebido”[Tepedino] ;

c. doação   remuneratória:  é   doação   feita  em   retribuição   a   serviços   prestados   pelo   donatário.  “É
motivada por um préstimo anterior do donatário para com o doador:  reflete, pois, uma mostra de

gratidão,   sendo   feita   não   puramente   por   uma   liberalidade,   mas   também   para  atender   a   uma

necessidade moral do doador em compensar o que antes recebeu do donatário. O efeito da doação

remuneratória será de doação pura quanto ao excedente ao valor dos serviços remunerados.  Até o

limite do valor dos serviços remunerados, responde pelos riscos da evicção e pela garantia dos vícios
redibitórios. Por isso que a doutrina classifica a doação remuneratória como imprópria” [Tepedino].

d. doação conjuntiva: trata­se da doação feita a mais de uma pessoa. É disciplinada pelo art. 551 do
Código Civil.

e. doação feita em contemplação a casamento futuro: dispondo sobre esta espécie, temos o art. 546
do Código Civil.

f. doação com cláusula de reversão: prevista esta cláusula, o bem doado pode reverter em benefício
do doador.  Disciplinada no art.  547  do  Código  Civil.  “Esta  cláusula  tem  a  natureza  jurídica  de

condição resolutiva. Se o doador morre antes do donatário, o bem dado permanece, em definitivo, no

patrimônio do donatário, passando aos seus herdeiros” [Tepedino]

g. doação mista (negotium mixtum cum donatione): cuida­se de uma doação híbrida, com matiz de
contrato oneroso: um sujeito paga, livremente, 500 reais por um bem que vale apenas 100.

h. doações mútuas: neste caso, as duas partes realizam, reciprocamente, o ato de liberalidade;

i. doação sob forma de subvenção periódica:  A seu respeito, veja­se o 545 do Código Civil.  “Tal


espécie de doação tem a natureza jurídica de constituição de renda a título gratuito (arts. 803­813)”

[Tepedino]

j. doação real: “quando o bem doado for móvel e de pequeno valor, por seguir­lhe incontinenti  sua
tradição. São os chamados 'dons manuais', como, p. ex., os presentes de aniversário, casamento, de

mero agrado, etc”. [Tepedino]

Doação entre companheiros e concubinos

O NCC faz uma distinção entre:

a. COMPANHEIROS  =  união   estável;   é   forma   de   família  (quando  não   há   impedimento  para   o


casamento);

a. CONCUBINOS = união espúria relacionada ao direito obrigacional;

Tratando­se de COMPANHEIROS (união estável), não há impedimento para a doação; todavia, em se

tratando de CONCUBINOS (relação espúria) incide a restrição do artigo 550, NCC (tal norma consagra uma

ação   anulatória   que   deverá   ser   proposta   em   até   02   anos   depois   de   dissolvida   a   sociedade   conjugal).
“Qualquer que seja o regime de bens do casamento,  é facultado ao cônjuge traído pleitear a anulação da

doação feita pelo seu consorte em favor do cúmplice. A legitimação dos herdeiros necessários surge com o

falecimento do cônjuge traído” [Tepedino]

Doação entre cônjuges e a descendente:

A doação entre cônjuges determina o adiantamento da legítima. “Art. 544: Tal doação será válida até o

limite em que não invada a legítima dos demais dependentes. A norma em tela  é de natureza supletiva,

trazendo em seu bojo um elemento natural que poderá, por sua vez, ser afastado por expressa declaração de

vontade do doador ao esclarecer que a liberalidade advém da parte disponível, não constituindo com isso

adiantamento da legítima” [Tepedino]

Extinção da doação

A forma mais comum é o cumprimento do contrato.

O contrato pode ser extinto por revogação (resilição). O  direito de revogar cabe ao doador, é um

direito personalíssimo e irrenunciável (art. 556).

Mas há hipóteses nas quais cabe a revogação da doação. Cumpre­nos mencionar que o Código Civil

Brasileiro admite a revogação da doação por duas ordens de motivos (art. 555):

a) por inexecução do encargo, na doação modal;

b) por ingratidão do donatário.

“Distinguem­se os efeitos das duas causas de revogação da doação: o descumprimento do encargo tem

a natureza jurídica de condição resolutiva da doação, pelo que seu advento opera efeitos 
   ex tunc, vale dizer,

retroagem   à   data   da   celebração   da   doação;   a  ingratidão   do   donatário   tem   a   natureza   jurídica   de   causa

superveniente, produzindo efeitos 
   ex nunc, isto é, não retroativos”. [Tepedino]

“Não sendo possível a restituição, por as coisas doadas não mais existirem ou terem sido alienadas, o

donatário deverá indenizar o doador pelo meio­termo de seu valor. Vale dizer: 'pela média entre o valor, que

a coisa teve ou podia ter entre a data da tradição ao donatário e da restituição” [Tepedino]
Revogação da doação

Inexecução do encargo:  “A ação do doador será para resolver o contrato  em virtude da condição

resolutiva, em que se traduz o encargo, quando estabelecido em seu favor.   Resolvido o contrato, a coisa

doada será restituída ao doador. A ação do terceiro e a do Ministério Público dirigem­se ao cumprimento do

encargo, que é uma obrigação como outra qualquer. A mesma finalidade terá a ação do doador, quando ele

não for o beneficiado”. [Tepedino]  O prazo para a ação revogatória por inexecução do encargo não está

previsto na lei. O STJ estava entendendo que o prazo seria de 20 anos. PABLO: esse prazo é prescricional e

a ação revogatória é submetida a prazo decadencial, por se tratar de direito potestativo. ATUALMENTE,

NO NCC O PRAZO MÁXIMO DE PRESCRIÇÃO É DE 10 ANOS.

RESP   54720   /   RJ   ;   RECURSO   ESPECIAL   1994/0029503­0   Relator(a)   Ministro   CARLOS

ALBERTO MENEZES DIREITO (1108) Órgão Julgador T3 ­ TERCEIRA TURMA Data do

Julgamento 10/09/2002 Data da Publicação/Fonte DJ 02.12.2002 p.00302 Ementa Doação com

encargo. Revogação.   Prescrição. Falta de motivação. Precedentes da Corte. 1. Já decidiu a

Corte   em   vários   precedentes   que   a   revogação   da   doação   por   descumprimento   do   encargo

prescreve   em   20  anos,   nos   termos   do  art.   177  do   Código   Civil.   2.   A   decisão   que   afastou   a

prescrição está bem fundamentada, relevando a documentação existente nos autos, tal e qual

posta na sentença e confirmada no Acórdão recorrido. 3. Recurso especial não conhecido.

Ingratidão do donatário: para CJF NÃO É TAXATIVO O ROL

  “O  rol do art. 557 é taxativo.  Não fica ao arbítrio nem do doador nem do juiz a definição do que seja

ingratidão; é o próprio CC que taxativamente elenca as hipóteses de ingratidão que dão ensejo à revogação.

A revogação não se efetiva por simples manifestação de vontade do doador. Necessário que se proponha a

ação judicial, pleiteando­a. O direito de ajuizar a ação revocatória é personalíssimo. Deve ser exercitado pelo

doador, permitindo a lei apenas que, ajuizada a ação, venha a ser continuada por seus sucessores. No caso de
homicídio doloso, os herdeiros do doador têm legitimidade para o ajuizamento da ação.  A revogação por

motivo de ingratidão só é possível a respeito das liberalidades puras. Na parte em que a doação excede à

remuneração,   ao   encargo,   ou   à   obrigação   natural,   convertendo­se   em   pura   liberalidade,   é   admitida   a

revogação” [Tepedino]

Art. 557. Podem ser revogadas por ingratidão as doações:

I ­ se o donatário atentou contra a vida do doador ou cometeu crime de homicídio doloso contra ele;
(HOMICÍDIO TENTADO OU CONSUMADO DISPENSADO O TRÂNSITO EM JULGADO DA
 SENTENÇA PENAL 3, OU SEJA O FATO PODE SER VERIFICADO SOMENTE NA ESFERA
CÍVEL).

II ­ se cometeu contra ele ofensa física;

III ­ se o injuriou gravemente ou o caluniou; (O PROJETO DE REFORMA VAI CORRIGIR ISSO
INSERINDO A DIFAMAÇÃO. Tepedino defende que a ingratidão se configurará também no caso

de difamação).

IV ­ se, podendo ministrá­los, recusou ao doador os alimentos de que este necessitava.

CONTRATO DE LOCAÇÃO DE COISAS

3 Tepedino afirma que Caio Mário é contrário a esse entendimento.


“Conceito: O contrato de locação pode ser definido como o negócio jurídico pelo qual uma das partes

transfere o exercício do uso e gozo do bem infungível mediante certa retribuição.

Elementos:

A) essenciais: consentimento, coisa e preço;

A) não­essenciais: prazo e forma.

No   regime  de  locação
      de  imóveis
      urbanos,   regulado  pela  Lei   8.245/91  (art.   3º),   exige­se   a  vênia

conjugal para o contrato de locação celebrado por prazo igual ou superior a 10 anos.

   consensual, em que a tradição da coisa significa execução do negócio.
É contrato 

Não   é   necessário   que   o   locador   tenha   a   propriedade   do   bem,   pois,  basta   ser   possuidor   jurídico,

usufrutuário ou simples administrador.

 Se a coisa cujo uso se concede é  fungível, o contrato degenera em mútuo.

É possível a l  ocação de  BENS INCORPÓREOS (ex.: patente de invenção, fundo de comércio, etc).

Não se exige  que a renda ou aluguel  seja necessariamente em dinheiro, não sendo a pecuniaridade

essencial ao contrato de locação de coisa, excetuadas as locações prediais.

A jurisprudência do STJ entende que o contrato de locação se constitui título executivo extrajudicial,

MESMO QUE NÃO SUBSCRITO POR DUAS TESTEMUNHAS.

No regime do CC, o contrato de locação tem caráter 
   impessoal, não sendo personalíssimo nem para o

locador nem para o locatário. Admite
   , pois, em princípio, 
   cessão, sublocação e sucessão em virtude de morte

de qualquer dos contratantes. As partes podem, porém, convencionar diversamente.

Aplicam­se  ao   contrato   de   locação   as  normas   relativas   aos   vícios   redibitórios,   sendo   possível   ao

locatário rejeitar a coisa defeituosa ou exigir o abatimento do aluguel.

A maioria da doutrina assevera que O LOCATÁRIO NÃO PODERÁ RETER O ALUGUEL OU

DESCONTAR O QUE CONSIDERA TER DIREITO A RECEBER COMO INDENIZAÇÃO.

Art. 567: a  resolução deverá ser decretada pelo juiz,  não se operando de pleno direito,  ainda que o

locatário tenha abandonado a coisa por motivo relevante.
Se a turbação ou o esbulho forem praticados pelo próprio locador, o locatário poderá defender­se,

também, através do desforço imediato e das ações possessórias.

Saliente­se,   contudo,   que   em   casos   como   a  requisição   e   a   desapropriação   do   bem   locado   pela

Administração Pública, não há que se falar em perturbação da posse direta do locatário e violação do direito

ao uso pacífico da coisa, mas sim em motivos de força maior, decorrentes do factum principis  que trazem

cunho de nítida liceidade, por se orientarem no rumo do bem comum, ainda que na sua esteira deixem a

marca da lesão a interesses privados.

 O locador  responde ao locatário pela evicção.

A lei exige, expressamente,  QUE O VÍCIO SEJA OCULTO  para ensejar a responsabilidade do

locador. Todavia,  se o vício for
    aparente,  considera­se que o locatário
      quis o bem viciad o, acertando o

aluguel justo em virtude do defeito. Contudo, parece ser mais razoável não exonerar o locador da garantia

dos vícios aparentes, a não ser que prove que deles o locatário ficou tendo conhecimento, porquanto ele

locador é quem, conhecendo melhor a existência de tais vícios, ou defeitos, deveria para eles chamar a

atenção do locatário.

 
    ou   querable.  Logo,  caberá
 O   aluguel   é   obrigação  quesível
     ao   LOCADOR   PROCURAR   O

LOCATÁRIO  para   realizar   a   cobrança.   As   partes  podem,   entretanto,  convencionar  de  forma   diversa,

transformando­a em portável ou portable.

   NÃO PODE SER RETIDO A PRETEXTO ALGUM, sob pena de incidir
O pagamento de aluguéis 

o  devedor   em   mora;  não pode este,  destarte,  subtrair­se   ao cumprimento  da   referida  obrigação legal,

alegando que a coisa locada se acha em mau estado, que o locador não fez as reformas prometidas ou que ela

não serve aos seus objetivos.

Pelas  deteriorações havidas por caso fortuito ou força maior não responderá o locatário,  bem


como por aquelas naturais do uso regular.

Art. 570: para ensejar a indenização, é indiferente que o dano provenha de ato seu ou de seus prepostos

ou de sublocatários.

Art. 571 (denúncia pelo locatário): se nada dispuser o contrato a respeito da cláusula penal, e se não

houver consenso entre as partes, a solução será o arbitramento judicial da multa.

Em   caso   de  LOCAÇÃO   DE   IMÓVEL   URBANO,  não   é   admitida   a   denúncia   antecipada   do


 contrato  PELO LOCADOR, que deve respeitar o termo final estipulado no contrato. Todavia, ao locatário

é   permitido   despedir­se   antecipadamente  do   negócio   jurídico   pactuado,  com   o   pagamento   de   multa

cominada, seja contratualmente, seja judicialmente (L 8245/91, art. 4º).

 A   mora   constitui­se   de   pleno   direito  com   o   advento   do   termo  contratual;  a    n otificação   serve

exclusivamente para afastar a presunção relativa de que, no silêncio do locador, presume­se prorrogado o

contrato.

Direito de  retenção:  como meio  de autotutela   que   é,   somente   se   admite   nos  casos   expressamente

previstos em lei.

DURANTE O EXERCÍCIO DO DIREITO DE RETENÇÃO PELO LOCATÁRIO, ESTE NÃO

SERÁ   OBRIGADO   A   ARCAR   COM   A   DESPESA   DE   ALUGUEL.  Ademais,   como   corolário   do

principio da gravitação jurídica (v. art. 92, CC), a retenção do bem principal (coisa locada) presume a de seus

acessórios, no caso de seus frutos, dentre os quais se destaca o aluguel.

O exercício do direito de retenção, contudo, traz consigo a imposição de obrigações para o locatário,

tais como a conservação do bem locado, a restituição do bem ao fim da retenção e a indenização dos danos

eventualmente ocasionados ao bem por sua culpa.

Art. 573: a posse do locatário, que durante o contrato é  justa e de boa­fé, depois da constituição em

mora  passa   a   ser  precária,   ensejando   o  direito   ao   locador   de   utilizar­se   dos   interditos   possessórios,

especialmente a reintegração de posse, para defender­se. Ressalte­se que  nos casos de locação de imóvel

urbano, a ação apropriada será a de despejo (L 8245/91, art. 5º).

Duas são as condições, então, para que ocorra a prorrogação do contrato por prazo determinado, uma

vez terminado o termo ajustado: a continuação do locatário na posse do bem e a falta de oposição do locador.

Art. 575 (aluguel­pena): a estipulação de valor totalmente arbitrário acarreta abuso do direito por parte

do   locador  (art.187).   Dois   fatores   importarão   para   a   fixação   do   valor   do   novo   aluguel,   sendo   eles   a

contraprestação e a penalidade.

Art. 576: havendo continuação do contrato, o adquirente sub­roga­se em todos os direitos e obrigações

assumidas pelo locador originário, ou seja, o alienante.

STF:  salvo estipulação contratual  averbada no registro imobiliário,  não responde o adquirente pelas

benfeitorias do locatário.

O contrato por tempo indeterminado, em caso de morte de qualquer das partes, poderá ser denunciado,
aplicando­se o disposto nos arts. 574­575.

Só poderá o locatário exercer o direito de retenção estando quite com as obrigações que lhe competem

e, entre elas, a do pagamento do aluguel e da conservação da coisa locada.

O   direito   de  retenção  será   exercitado   sem   limitação  temporal.  Isso   é,   enquanto   não   indenizado  o

locatário, a retenção será legítima, não importando o decurso de tempo. Em sentido contrário, entende­se que

o direito de retenção termina quando o valor das contraprestações acumuladas durante o prazo da retenção se

equipara ao valor das obras realizadas.

STJ:  não é nula,  nos contratos de locação urbana, a  cláusula que estabelece a renúncia ao direito de

retenção ou indenização por benfeitorias.

Nas relações de consumo, é nula a cláusula que possibilite a renúncia do direito de indenizar por

benfeitorias necessárias”. [Tepedino]

CONTRATO DE EMPRÉSTIMO

A) Comodato: empréstimo de uso;

A) Mútuo: empréstimo de consumo [Tepedino].

“O comodato e o mútuo têm como principal característica a entrega de um bem para que seja utilizado

e posteriormente restituído a seu titular. A  principal distinção entre ambos  se dá em relação à natureza do

bem dado em empréstimo: se o bem for fungível, tratar­se­á de um  contrato de mútuo; se  infungível, será

comodato”. [Tepedino]

CONTRATO DE COMODATO

Conceito:  “É   um   contrato   por   meio   do   qual   o   comodante   entrega   ao   comodatário   determinado  bem

INFUNGÍVEL,  móvel
      ou   imóvel, para que dele se  utilize de forma
    GRATUITA, tendo a obrigação de

restituição a posteriori” [Tepedino]
 Existe   comodato   de  coisas
    fungíveis?  Excepcionalmente,   com   raiz   no   direito   romano,   admite­se,   sob  a

denominação de COMODATO AD POMPAM VEL OSTENTATIONEM. EXEMPLO: pegar emprestado

um peru assado para enfeitar a mesa e devolver o mesmo peru.

Características

A) Contrato real: somente se perfaz com a tradição da coisa. “Não há necessidade de que o comodante
 seja proprietário  do bem, bastando que a ele incumba o uso do mesmo” [Tepedino]

A) Contrato unilateral: somente o comodatário tem obrigação.

B) Contrato gratuito:  o  comodatário não paga  nada  ao comodante, sob pena  de configurar­se um


contrato   de   locação.   Mas   se   não   devolver   no   dia   terá   que   indenizar   o   comodante.  “Somente   o

comodatário obtém vantagens na realização do contrato. Admite­se contrato modal, desde que não

vá ao ponto de erigir­se em contraprestação” [Tepedino]

C) Contrato fiduciário: baseado na confiança.

D) Contrato temporário: (art. 581).

E) “Para Caio Mário, é bilateral imperfeito: a distinção entre os bilaterais imperfeitos e os bilaterais está

em que, nestes, as obrigações recíprocas existem desde a origem e são correlatas, enquanto naqueles

a obrigação de um dos contratantes advém ulteriormente e não guarda correspectividade com a do

outro,   originando­se   de   causação   independente   e   eventual.   Essa   classificação,   contudo,   é

controversa” [Tepedino]

F) “Das circunstâncias do caso concreto é que se deve concluir pela natureza intuitu personae ou não
do contrato” [Tepedino].

Posição do STJ sobre retomada

O  COMODANTE PODE RETOMAR A COISA, porque o comodatário não tem direito real é um

mero possuidor precário da coisa.

   ação de REINTEGRAÇÃO DE POSSE.
O comodante retoma o bem por meio de 

O STJ tem adotado duas posições a respeito disso:
 Comodato por Prazo  Indeterminado: a notificação do comodatário é requisito para a possessória.

RESP   97859   /   MG   ;   RECURSO   ESPECIAL   1996/0036264­5   Ministro   ALDIR

PASSARINHO   JUNIOR   (1110)   Órgão   Julgador   T4   ­   QUARTA   TURMA   Data   do

Julgamento 20/03/2003Data da Publicação/Fonte DJ 23.06.2003 p. 371 RJADCOAS vol. 49

p. 70 Ementa CIVIL E PROCESSUAL.  AÇÕES DE REINTEGRAÇÃO  DE POSSE E

USUCAPIÃO.   DOMÍNIO   RECONHECIDO.   COMODATO   POR   PRAZO

INDETERMINADO EM PARTE DA ÁREA OBJETO DA REINTEGRATÓRIA. FALTA

DE   NOTIFICAÇÃO   PRÉVIA.   IMPOSSIBILIDADE   JURÍDICA   DO   PEDIDO   DE

DESOCUPAÇÃO   SOBRE   O   TERRENO   OBJETO   DO   COMODATO.   MATÉRIA

CONHECÍVEL   DE   OFÍCIO.   VIABILIDADE   DE   SUA   PROVOCAÇÃO   EM

APELAÇÃO   APRESENTADA   À   CORTE   ESTADUAL.   JULGAMENTO   EXTRA

PETITA E REFORMATIO IN PEJUS INOCORRENTES. CC, ARTS. 960, 1.250 E 1.252,

CPC, ART. 267, IV, VI E § 3º. PREQUESTIONAMENTO INSUFICIENTE. MATÉRIA

DE FATO. SÚMULAS NS. 282 E 356­STF, E 211­STJ.

I. Firmado pelas instâncias ordinárias que a área de 5.000m2 onde reside o réu decorreu

de ocupação autorizada pelos autores, é de se reconhecer a existência de comodato verbal,

por prazo indeterminado, de sorte que para a reintegração na posse do bem exigível a

prévia   constituição   em   mora   do   comodatário,   aqui   inexistente,   como   condição

imprescindível ao pedido reintegratório.

II. Tratando­se de condição para a reintegração, possível ao réu suscitá­la em apelação

perante o Tribunal de 2º grau, que deveria, inclusive, conhecê­la de ofício, não podendo a

tanto   escusar­se   ao   argumento   de   que   não   fora   aduzida   na   contestação   a   falta   da

notificação e estaria, assim, preclusa. III. Pedido reintegratório procedente, todavia, em

relação à área restante também alvo da mesma ação, de 15 hectares, fixado esse direito dos

autores com base na prova dos autos, que não tem como ser revista em sede especial, ao

teor da Súmula n. 7 do STJ. IV. Reconhecimento, por igual, da titularidade dos autores

sobre  a   área  de   5.000m2  alvo  do   comodato,   apenas   que,   para  obter   a   posse,   terão  de
promover a prévia notificação e intentar novo procedimento. V. Não configura julgamento

extra petita, nem reformatio in pejus, a explicitação do acórdão da apelação, em sede de

embargos declaratórios, no tocante à definição das áreas compreendidas na decisão da

Corte.   VI.   Ausência   de   prequestionamento   impeditiva   do   conhecimento   do   recurso

especial em toda a extensão pretendida pela parte, em face dos óbices das Súmulas ns. 282

e 356 do C. STF e 211 do STJ. VII. Recurso especial conhecido em parte e parcialmente

provido.

 Comodato   por   Prazo  Determinado:


    a  retomada  do   bem   é  IMEDIATA,  não   há   que   haver

notificação, pode ingressar diretamente com a ação de reintegração de posse.

RESP   71172   /   SP   ;   RECURSO   ESPECIAL   1995/0038113­3   MIN.   SALVIO   DE

FIGUEIREDO   TEIXEIRA   (1088)   Órgão   Julgador   T4   ­   QUARTA   TURMA   Data   do

Julgamento 18/11/1997 Data da Publicação/Fonte DJ 21.09.1998 p. 165 LEXSTJ vol. 114

p. 93 RSTJ vol. 114 p. 272 RT vol. 760 p. 202 Ementa DIREITO CIVIL. COMODATO A

TERMO.   INEXIGIBILIDADE   DA   INTERPELAÇÃO   AO   COMODATÁRIO   PARA

CONSTITUÍ­LO   EM   MORA.   APLICAÇÃO   DO   ART.   960   DO   CÓDIGO   CIVIL.

RECURSO ACOLHIDO. ­ O comodato com prazo certo de vigência constitui obrigação a

termo, que dispensa qualquer ato do credor para constituir o devedor em mora (mora 
   "ex

re"), nos termos do que dispõe o art. 960 do Código civil.

Direitos e obrigações das partes

Art. 582. O comodatário é obrigado a conservar, como se sua própria fora, a coisa emprestada, não

podendo usá­la senão de acordo com o contrato ou a natureza dela, sob pena de responder por perdas

e danos. O comodatário constituído em mora, além de por ela responder, pagará, até restituí­la, o

aluguel da coisa que for arbitrado pelo comodante.
 Se   o   comodatário  estiver
     em   mora   pagará
    “ ALUGUEL
   ”,  MAS   NÃO   SE   CONVERTE   O

COMODATO EM LOCAÇÃO. O que a lei chama de aluguel na verdade são perdas e danos. A parte

final do artigo 582, ao se referir a “aluguel” está, em verdade, referindo­se às perdas e danos devidas ao

comodante em razão da mora.

O que o comodatário gastar no uso e gozo da coisa emprestada não poderá ser restituído (art. 584).

Ou   seja,  as   despesas   do   comodatário   NÃO   são   ressarcidas.    E   as  despesas


   URGENTES
      e

 EXTRAORDINÁRIAS    tais como uma benfeitoria necessária? O  STJ  tem entendido que  nesses casos

pode   ser   ressarcido   o   comodatário.  O   que  a   lei   veda   é   a   cobrança   das   despesas   ordinárias,   mas   as

extraordinárias podem ser cobradas.

CIVIL E PROCESSO CIVIL. CONTRATO DE COMODATO. REFORMA DE IMÓVEL

RESIDENCIAL   PELO   COMODATÁRIO.   MAIS   VALIA.   ART.   1256   DO   CÓDIGO

CIVIL.NECESSIDADE DE REEXAME PROBATÓRIO. ACÓRDÃO ESTADUAL QUE

CONCLUI   PELO   PROPÓSITO   DE   USO   E   GOZO   CONJUNTO   DE   MARIDO   E

MULHER.   IMPOSSIBILIDADE   DE   ALTERAÇÃO   DE   PREMISSA   FÁTICA

ESTABELECIDA   NAS   INSTÂNCIAS   DE   ORIGEM.   RECURSO   ESPECIAL   NÃO

CONHECIDO.

I ­ As despesas feitas pelo comodatário, com a fruição da coisa emprestada, nos termos do

art. 1254 do Código Civil, são as ordinárias, para sua conservação normal e manutenção

regular.

Despesas outras realizadas sem consentimento do comodante, ainda que impliquem na

mais valia do bem, só são indenizáveis se urgentes e necessárias, quando se classificam

como extraordinárias.

II – (...)

(REsp 249.925/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em

23/11/2000, DJ 12/02/2001, p. 113)
CONTRATO DE MÚTUO

Conceito:  “O mútuo é o contrato por meio do qual uma pessoa (mutuante) transfere à outra (mutuário) a

propriedade de determinado bem fungível, sendo obrigação do mutuário a restituição de coisa do mesmo

gênero, quantidade e qualidade”. [Tepedino]

Art. 587. Este empréstimo  transfere o domínio  da coisa emprestada ao mutuário, por cuja conta

correm todos os riscos dela desde a tradição.

Essa responsabilidade é uma exceção geral à regra de que o alienante responde pelos riscos da coisa,

nos termos do artigo 447, NCC.

“Não poderá ter como objeto bens imóveis, apesar da possibilidade que as partes têm de caracterizar

como fungíveis os lotes de um terreno” [Tepedino]

 
“O  MUTUANTE    deve ser proprietário do bem  objeto do contrato, na medida em que  o que se

pretende   com   o   mútuo   é   a   transferência   da   propriedade   dos   bens   fungíveis.  Isso   se   dá  devido   à

incompatibilidade entre a conservação do bem e a faculdade de consumi­lo, essencial ao contrato de mútuo,

por  isso mesmo denominado  empréstimo  de  consumo.  Se  o  mútuo for  realizado  por  pessoa   diversa   do

proprietário do bem mutuado, o negócio será nulo” [Tepedino]

Características

a. Contrato real: somente se torna perfeito (existente) com a entrega da coisa.  “Enquanto no mútuo
feneratício   nada   impede   a   configuração   consensual,   no   mútuo   dito   gratuito,   sem   qualquer

contraprestação correspectiva, somente a efetiva entrega do bem poderá indicar a vontade dirigida à

contratação. Uma das características essenciais do mútuo é a transferência do domínio do bem

mutuado  desde o momento de sua  tradição,  formando­se  o  vínculo  contratual.  O  contrato de

mútuo não se configura como contrato de alienação, como a compra e venda e a doação, na medida

em que a transferência do domínio é apenas uma forma de realizar a finalidade do contrato de

mútuo, que é o uso/consumo do bem mutuado. Por ser a coisa mutuada propriedade do mutuário, não

cabe   a   possibilidade   de   indenização   de   eventuais   benfeitorias   realizadas,   nem   despesas   outras”

[Tepedino]
a. Contrato unilateral: só quem assume obrigações é mutuário.

b. Contrato pode ser gratuito ou oneroso: mesmo sem perder a sua característica de unilateralidade.
Se o mutuário tiver obrigação de devolver exatamente a quantia emprestada,  é contrato gratuito

(é   contrato   benéfico,   porque   o   mutuário   não   sofre   prejuízo   em   seu   patrimônio,   não   tendo   que

remunerar   o  mutuante).  É   diferente   do  que   acontece   com   o  mútuo  a   juros,  que   se   trata   de   um

contrato   oneroso,  mas   com   unilateralidade.   Assim:   o   mútuo   é   gratuito,   quando   o   mutuário,   ao

devolver não sofre qualquer prejuízo; caso, entretanto, tenha que remunerar o mutuante, o mútuo é

unilateral e oneroso. Esse mútuo a juros, que o banco pratica,  é também chamado de  MÚTUO

 FENERATÍCIO .

c. Contrato temporário: não pode ser  eterno,  o  contrato deve  estipular  um  prazo,  não  o  fazendo


aplica­se o artigo 592, NCC.

Restituição:

“NÃO CABEM, PARA A RESTITUIÇÃO DO BEM, AÇÕES POSSESSÓRIAS, na medida em

que  o mutuante não tem sequer a posse indireta sobre o bem mutuado. Em virtude da  transferência de

propriedade, em caso de não restituição do bem mutuado, duas medidas judiciais poderão ser intentadas:

cobrança da obrigação de dar ou fazer e o pagamento de perdas e danos pelo descumprimento de

obrigação” [Tepedino]

Art. 590. O mutuante pode exigir garantia da restituição, se antes do vencimento o mutuário sofrer

notória mudança em sua situação econômica. EXCEÇÃO DE INSEGURIDADE.

Mútuo feito a menor: arts. 588 e 589

CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇO
“Só é objeto da tutela do CC aquelas hipóteses de prestação de serviços entre particulares em qu
   e não

haja um vínculo empregatício e que não perfaça uma relação de consumo.

Se houver dúvidas quanto à configuração da relação jurídica como sendo uma prestação de serviços ou

uma relação empregatícia, deverá  prevalecer o entendimento de que se trata de contrato de trabalho, na

intenção de proteger o hipossuficiente.

Conceito: contrato mediante o qual uma pessoa se obriga a prestar um serviço a outra, eventualmente,

em   troca   de   determinada   remuneração,   excetuando­os   com  independência   técnica  e  sem   subordinação

hierárquica.

O objeto de tal contrato é a atividade humana, tanto física quanto intelectual.  Irá se diferenciar da

empreitada, que também é tipo de prestação de serviço, pois  naquela existirá a atribuição de uma função

específica e a busca de um resultado por uma obra.

Faz parte da essência da prestação de serviços a remuneração. Nada impede que seja estabelecida a

remuneração não pecuniária, como, p. ex., a realização de outra obrigação de fazer, a ser cumprida pelo

tomador do serviço. O contrato, porém, torna­se atípico.

Art. 598: nada impede que após os quatro anos, findo o contrato, este seja renovado pelas partes por

igual prazo. Não se admite a prorrogação tácita do contrato.

Art. 599: não será necessário o aviso prévio ou a denúncia nas hipóteses que configuram a justa causa

para a rescisão contratual, vez que a causa para o rompimento contratual está estabelecida legalmente. A

falta, porém, do aviso prévio, quando se impõe, acarretará o pagamento de perdas e danos por aquele que deu

causa, por inadimplemento da obrigação.

A contratação do prestador de serviço não necessita a ser realizada com a especificação daquilo que

deverá ser prestado.

As obrigações resultantes deste contrato não se transmitem aos herdeiros.

Art. 608: também se pode dizer que se trata de uma forma de defesa e proteção concorrencial. A

limitação da indenização por rompimento do contrato não é absoluta.

Art. 609: mais uma vez apresenta­se a exceção ao princípio da relatividade contratual, na medida em

que   o   novo   proprietário  do  prédio  agrícola   não  poderá   se   opor   à   escolha   do   prestador   de   serviços   em

permanecer neste. Este é um direito potestativo que lhe cabe. Não se rescinde o contrato anterior, sendo ele

aproveitado”. [Tepedino]
CONTRATO DE EMPREITADA

“Conceito:  é   o   contrato   pelo   qual   uma   das   partes,   o  empreiteiro,  se   obriga  a   realizar   uma  obra

especifica e certa  para a outra parte, o proprietário, com  material próprio ou por este fornecido, mediante

remuneração global ou proporcional ao trabalho realizado, sem que haja relação de subordinação ou vínculo

trabalhista entre ambos.

No silêncio do contrato, admite­se que a obra seja executada por terceiro, desde que a contratação não

esteja vinculada a qualidades próprias do empreiteiro (subempreitada).

Ao   contrário   do   contrato   de   prestação   de   serviços,   a  empreitada   se   caracteriza   nitidamente   pela

circunstância de considerar o resultado final – e não a atividade – objeto da relação contratual. Enquanto no

contrato   puro   e   simples   de   prestação   de   serviços   (locatio   operarum)  o   objeto   perseguido   é   o   trabalho

humano, no contrato de empreitada o que se busca é a realização de uma obra (locatio operis), um resultado.

A remuneração (ou preço) é essencial. Não se exige o pagamento em dinheiro, sendo cabível qualquer

outro tipo de remuneração, podendo mesmo consistir em parte da própria obra.

Preço global ou forfaitário: remuneração pela obra inteira.

Empreitada   por   medida:   o   preço   é   fixado   em   função   de   cada   uma   das   partes   ou   etapas   ou   em

determinada medida.

Art.   610:  empreitada   de   lavor   ou   de   mão­de­obra  e  empreitada   de   material   ou   mista.  Na

primeira  hipótese, o empreiteiro contribuiu  exclusivamente com o trabalho, cabendo à outra parte

fornecer   o   material   a   ser   usado   na   obra.  Na   empreitada   mista,   diversamente,   fica  a   cargo   do

empreiteiro, além do trabalho, fornecer o material necessário.

Concluída a obra, o dono é obrigado a recebê­la, desde que executada conforme contratado. Portanto,

se o empreiteiro se afastou das instruções recebidas e dos planos dados, ou das regras técnicas pertinentes,

poderá o dono da obra a rejeitar, por não estar a seu contento, sem incidir em mora, continuando os riscos

por conta do empreiteiro. Só haverá mora do dono da obra caso o não recebimento seja infundado.

Caso nenhuma das partes seja culpada pelo perecimento da coisa, ambas sofrerão conjuntamente os

prejuízos: o dono perde o material entregue e o empreiteiro perde a retribuição pelo trabalho desenvolvido. O

empreiteiro não perderá sua remuneração somente se provar, simultaneamente, que: I) a perda resultou de
defeito dos materiais; e II) em tempo reclamara contra a sua quantidade ou qualidade.

Art. 614: não se devem confundir 'partes distintas' de uma obra, unidades de referência da obra, com

etapas dessas mesmas unidades. No primeiro caso, tem­se, p. ex., cada casa vista em relação a um conjunto

residencial, podendo ser considerada uma unidade de referência, uma parte distinta (uma das 'partes em que

se dividir'), que servirá de base para verificação. Já  as etapas normalmente correspondem a estágios de

execução de cada parte distinta, cada unidade de referência, como o levantamento de paredes, colocação de

lajes ou telhados.

Art. 615: a mora do empreiteiro também pode constituir justa causa para o não recebimento.

Questão bastante debatida diz respeito  à  possibilidade  de o  empreiteiro exercer direito de retenção

sobre a obra realizada se o dono não efetuar o pagamento. Sobre o tema, desenvolveram­se duas correntes

doutrinárias. De acordo com a  primeira, o direito de retenção  só teria cabimento nos casos expressamente

previstos em lei, por sua natureza de instrumento de autotutela, a exigir interpretação restritiva por tratar­se

de exceção. Ausente a previsão legal, não aproveitaria à empreitada. O segundo entendimento, mais flexível,

admite o reconhecimento do direito de retenção, por analogia, em todos os casos em que estejam presentes

seus pressupostos. Serpa Lopes opta pela extensão do jus retentionis.

Art. 616: o abatimento caberá quando, mesmo verificada uma diminuição do valor, houver interesse

do dono da obra. A eventual valorização, não autorizada, não ensejará direito ao aumento da remuneração.

Art. 618: na jurisprudência, o dispositivo abrange também os defeitos que prejudicam a habitalidade

do   edifício,   não   se   limitando   aos   danos   que   acarretem   ruína   da   construção.  A   disposição   se   dirige   às

empreitadas mistas, ou seja, ao empreiteiro que, além de executar a obra, fornece os materiais necessários.

Não se aplica, portanto, esta disposição às empreitadas de lavor. Estabeleceu o CC aqui uma exceção à regra

de que cessa, com a aceitação da obra, a responsabilidade do empreiteiro.

Os  vícios da construção (art. 618) devem ser ocultos e relacionados  à solidez e segurança da obra.

Contra os vícios aparentes, se não ressalvados pelo dono da obra no momento do recebimento da obra, nada

poderá ser requerido, sendo certo que é de se presumirem como aceitos. Devem ser aqui incluídos não só os

vícios que afetem a estabilidade ou a duração da obra, mas também os que a tornem imprópria ao uso a que

se destinava. Para Caio Mário da Silva Pereira, o empreiteiro responde independentemente da idéia de culpa,

visto tratar­se de uma garantia legal, motivo pelo qual o prazo não pode ser alterado pelas partes. Este parece

ser o melhor entendimento, já adotado por nossos tribunais.

O  prazo de 5 anos é de garantia legal; o prazo de 180 dias  é aplicável apenas após o fim do
qüinqüênio, visto que o disposto no parágrafo não tem o condão de afastar a garantia legal de prazo

irredutível de 5 anos prevista no caput.

Em   se   tratando   de   ação   de   reparação   dos   danos,   o   prazo   é   de   natureza   prescricional   (e   não

decadencial), sendo de 3 anos, conforme o art. 206, par. 3º, V, CC. A questão da decadência em 180 dias não

atinge a pretensão do comitente de reparação pelos danos causados pelos defeitos de solidez e segurança que

está sujeita ao prazo prescricional de 3 anos, por se tratar de demanda condenatória. O prazo previsto na

norma em comentário (art. 618) para o exercício do direito é de decadência, se a pretensão for constitutiva,

como na ação de rescisão contratual. Se a pretensão a ser exercida, decorrente do direito previsto na norma,

for de natureza condenatória, caso da ação de responsabilidade civil, o prazo aqui previsto é de prescrição,

devendo­se aplicar o prazo prescricional geral previsto no art. 206, par. 3º, V, CC.

O preço estipulado pode sofrer variação em virtude da alteração do valor de seus componentes, como

materiais e mão­de­obra, caso em que a empreitada se diz com reajustamento. Sendo a empreitada sem

reajustamento, o empreiteiro não terá direito a qualquer acréscimo do preço, ainda que haja modificação do

valor de seus componentes, visto que, sendo o empreiteiro um especialista, presume­se que a terá calculado

na previsão dos acontecimentos, e não pode surpreender a outra parte com a exigência de quantia a maior

que o preço ajustado.

Art.   620:  distancia­se   da   clássica   teoria   da   imprevisão,   ao  dispensar  a   verificação   de  evento

extraordinário,  bem   como   o   injustificado   enriquecimento   da   outra   parte.   Basta   para   a   aplicação   do

dispositivo em comento a verificação objetiva da superveniente diminuição no preço do material ou da mão­

de­obra superior a 1/10 do preço global convencionado.

Art. 621: também a Lei 9.610/98 disciplina a matéria, considerando a obra intelectual protegida, os

projetos, esboços e obras plásticas concernentes à geografia, engenharia, topografia, arquitetura, paisagismo,

cenografia e ciência (art. 7º, X). No caso de projeto arquitetônico, o autor não poderá impedir modificações

em seu projeto. Poderá, contudo, repudiar a autoria de projeto alterado sem o seu consentimento durante a

execução ou após a renúncia (Lei 9.610/98, art. 24). O CC não revoga o disposto na Lei 9.610/98, mas

apenas possibilita ao autor do projeto impedir a execução da obra que está se distanciando do seu projeto,

restando­lhe sempre a opção pelo repúdio e eventual indenização.

Não há previsão de solidariedade entre o autor do projeto e o empreiteiro.

Art.   623:   tem   o   dono   da   obra   o  direito   potestativo  incondicionado   de   pôr   termo   à   empreitada

contratada, sem declinar as razões para tanto.
O   dono   da   obra   tem   o   direito   potestativo   de   resilir   o   contrato,   sem   necessidade   de   declinar   sua

justificativa para tanto, ao passo que o empreiteiro tem, em contraste, o ônus de comprovar justa causa para

suspender a execução do negócio.

No contrato de empreitada, a morte não causa, em regra, o término do contrato. Em qualquer hipótese,

a morte do dono da obra não extinguirá o contrato”. [Tepedino]

CONTRATO DE DEPÓSITO

I – Depósito voluntário:

 Conceito:  Trata­se
    de   um   negócio   jurídico   por   meio   do   qual   o   depositante   transfere   coisa   móvel   ao

depositário para que este guarde, conserve e devolva.

É um contrato originado na Grécia, alguns Estados admitem o depósito de bens imóveis (Portugal).

“O objeto do contrato é sempre um bem móvel e corpóreo” [Tepedino]

Características

A) Unilateral ou bilateral: quanto aos efeitos pode gerar obrigações para somente uma ou para ambas
as   partes.  Na   sua   forma   pura,   o   contrato   de   depósito   é   unilateral.   EXEMPLO:   guarda­volumes

gratuito é unilateral. Mas  há contratos de depósito em que o depositante se obriga a remunerar o

depositário,   o   contrato   será   bilateral.  EXEMPLO:   estacionamento   remunerado.  “Alguns   autores

consideram o depósito contrato bilateral imperfeito” [Tepedino]

A) Fiduciário: baseado na confiança. “É contrato celebrado intuitu personae, já que o depositário será
pessoa de confiança do depositante” [Tepedino]

B) Real: somente se torna perfeito com a entrega da coisa.

“A finalidade precípua do depósito é a guarda do bem para a sua posterior restituição, que pode ser

requerida pelo depositante a qualquer tempo (ad nutum), ainda que haja prazo determinado” [Tepedino]
“A   jurisprudência,   ainda  que  o  tema   não  se   encontre   pacificado,   tende   a  considerar   a  guarda   de

automóveis em garagem como contrato de depósito (Súmula 130, STJ)”  [Tepedino]

AGRAVO   REGIMENTAL   ­   RECURSO   ESPECIAL   ­   INDENIZAÇÃO   POR   PERDAS   E

DANOS ­ FURTO DE VEÍCULO OCORRIDO DURANTE O ESTACIONAMENTO EM VIA

PÚBLICA  EFETUADO   PELO   MANOBRISTA   DA   EMPRESA  ­   ÔNUS   E   RISCO   DA

ATIVIDADE ­ SÚMULA 83/STJ ­ DECISÃO AGRAVADA MANTIDA ­ IMPROVIMENTO.

1.­ O empresário assume o dever de custódia e vigilância dos veículos de seus clientes.

Risco da atividade. Incidência da Súmula 83 desta Corte.

2.­ O agravo não trouxe nenhum argumento novo capaz de modificar a conclusão alvitrada, a

qual se mantém por seus próprios fundamentos.

3.­ Agravo Regimental improvido.

(AgRg no AREsp 74.422/SP, Rel.  Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado

em 13/12/2011, DJe 01/02/2012)

CUIDADO: Há posição recente do STJ no sentido de que o condomínio, assim como os

clubes recreativos, só responde por furtos ocorridos em seu interior se houver previsão

expressa da responsabilidade na respectiva convenção/estatuto! Nesse sentido:

AGRAVO   REGIMENTAL   NO   AGRAVO   EM   RECURSO   ESPECIAL.

RESPONSABILIDADE   DO   CONDOMÍNIO   POR   FURTO   EM   ÁREA   COMUM.

NECESSIDADE   DE   PREVISÃO   EXPRESSA   NA   CONVENÇÃO   DE   CONDOMÍNIO.

AUSÊNCIA   DA   CONVENÇÃO   OU   REGIMENTO   INTERNO   DO   CONDOMÍNIO.

AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.

1. Ausente a Convenção de Condomínio, ou Regimento Interno do mesmo, inviável aferir se há

previsão   expressa   de   responsabilidade   nos   casos   de   furto   em   área   comum.  A   presença   da

cláusula é condição para a responsabilização do condomínio nos termos da jurisprudência

pacífica desta Corte. Precedentes.
2. Agravo regimental a que se nega provimento.

(AgRg no AREsp 9.107/MG, Rel.  Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA,

julgado em 18/08/2011, DJe 24/08/2011)

CIVIL   E   PROCESSUAL.   ACÓRDÃO   ESTADUAL.   NULIDADE   NÃO   CONFIGURADA.

FURTO DE MOTOCICLETA NAS DEPENDÊNCIAS DE CLUBE SÓCIO­RECREATIVO.

ESTACIONAMENTO. INDENIZAÇÃO INDEVIDA.

I.   Não   padece   de   nulidade   o   acórdão   estadual   que   enfrenta,   suficientemente,   as   questões

essenciais ao julgamento da lide, apenas que com conclusões desfavoráveis à parte.

II. Inexistindo expressa previsão estatutária, não é a entidade sócio­recreativa, assim como

por igual acontece nos condomínios, responsável pelo furto de veículos ocorrido em suas

dependências, dada a natureza comunitária entre os filiados, sem caráter lucrativo.

III. Recurso especial conhecido em parte e provido. Ação Improcedente. (REsp 310.953/SP,

Rel. Ministro   ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em 10.04.2007,

DJ 07.05.2007 p. 326)

Outra questão é que o estacionamento não responde por crime de roubo de clientes. Veja:

Terceira Turma

DIREITO   CIVIL   E   DO   CONSUMIDOR.   RESPONSABILIDADE   CIVIL   POR   ROUBO   OCORRIDO   EM

ESTACIONAMENTO PRIVADO.ROUBO DE DINHEIRO DE CONSUMIDOR NO ESTACIOANAMENTO É

DIFERENTE   DO   PRÓPRIO   ROUBO   DO   CARRO.   ASSIM,   QUEM   FOR   ASSALTADO   NO

ESTACIONAMENTO, O MESMO, NÃO É RESPOSNSÁVEL PELO ROUBO.

Não é possível atribuir responsabilidade civil a sociedade empresária responsável por estacionamento particular

e autônomo — independente e desvinculado de agência bancária — em razão da ocorrência, nas

dependências daquele estacionamento, de roubo  à mão armada de valores recentemente sacados na referida

agência   e   de   outros   pertences   que   o   cliente   carregava   consigo   no   momento   do   crime.  Nesses   casos,   o
estacionamento em si consiste na própria atividade fim da sociedade empresária, e não num serviço assessório prestado

apenas   para   cativar   os   clientes   de   instituição   financeira.   Consequentemente,   não   é   razoável   impor   à   sociedade

responsável pelo estacionamento o dever de garantir a segurança individual do usuário e a proteção dos bens portados

por ele, sobretudo na hipótese em que ele realize operação sabidamente de risco consistente no saque de valores em

agência bancária, uma vez que essas pretensas contraprestações não estariam compreendidas por contrato que abranja

exclusivamente a guarda de veículo. Nesse contexto, ainda que o usuário, no seu subconsciente, possa imaginar que,

parando o seu veículo em estacionamento privado, estará protegendo, além do seu veículo, também a si próprio, a

responsabilidade do estabelecimento não pode ultrapassar o dever contratual de guarda do automóvel, sob pena de se

extrair do instrumento consequências que vão além do contratado, com clara violação do pacta sunt servanda. Não se

trata, portanto, de resguardar os interesses da parte hipossuficiente da relação de consumo, mas sim de assegurar ao

consumidor apenas aquilo que ele legitimamente poderia esperar do serviço contratado. Além disso, deve­se frisar que a

imposição de tamanho ônus aos estacionamentos de veículos — de serem responsáveis pela integridade física e

patrimonial dos usuários — mostra­se temerária, inclusive na perspectiva dos consumidores, na medida em que a

sua viabilização exigiria investimentos que certamente teriam reflexo direto no custo do serviço, que hoje já é elevado.

Precedente   citado:   REsp   125.446­SP,   Terceira   Turma,   DJ   de   15/9/2000.  REsp   1.232.795­SP,   Rel.   Min.   Nancy

Andrighi, julgado em 2/4/2013.

“A jurisprudência majoritária não caracteriza como contrato de depósito o estacionamento de veículos

em logradouros públicos”  [Tepedino]

“O depósito de coisa alheia é permitido” [Tepedino]

“A devolução deve ser feita no local da guarda, ainda que o depositário tenha recebido ou retirado a

coisa na casa do depositante” [Tepedino]

“Enquanto  o depositante pode demandar a devolução do bem a qualquer momento,  o depositário

somente poderá devolvê­lo após o decurso do prazo  estabelecido contratualmente. Quando nenhum prazo

tiver   sido   estabelecido,   presume­se   o   tempo   necessário   para   a   realização   da   finalidade   do   contrato,   no

interesse do depositante” [Tepedino]

“Com a morte do depositante, pode o depositário adiar a restituição se não existe prova da qualidade

de herdeiro daqueles que requereram a restituição” [Tepedino]

art. 636: o depositário que não informar ao depositante a perda da coisa e não toma as medidas

cabíveis assume a responsabilidade por prejuízos que, em princípio, não teria. [Tepedino]
art. 640: se o intuito é a custódia da coisa e o uso é permitido para sua melhor conservação, haverá

depósito, podendo o depositante reaver o bem a qualquer momento. Sendo a utilização permitida no interesse

de quem recebe a coisa, haverá comodato, equivocadamente denominado depósito. [Tepedino]

art. 643: despesas indenizáveis são apenas as necessárias, isto é, destinadas à conservação do bem e a

evitar  a  deterioração  da coisa.  As   despesas  de   natureza   útil   e  voluptuária   supõem  o  uso,   que  não é   da

natureza   do   depósito.   Se   autorizado   o   uso,   por   exceção,   não   cabe   exigir   coisa   alguma   do   depositante.

[Tepedino]

O   não   pagamento   da   remuneração,   das   despesas   e   dos   prejuízos   gera   o  direito   de   retenção   do

depositário  (art. 644). Se tais dívidas forem ilíquidas ou não se comprovarem provadas suficientemente:

caução idônea ou remoção da coisa para depósito público. [Tepedino]

   sendo exigida apenas para fins de prova
 A forma escrita não é da substância do ato  (ad solemnitatem), 

 ( ad probationem ) [Tepedino]

 Depósito irregular (art. 645):     “Aquele que tem por objeto bem fungível, sendo o depositário autorizado a

consumi­lo, com a condição de restituir coisa do mesmo gênero, qualidade e quantidade. Tem a

mesma disciplina do contrato de mútuo. Segundo Caio Mário, a fungibilidade do objeto não gera

necessariamente o depósito irregular, uma vez que é possível que se ajuste a devolução da mesma

coisa,   ainda   que   fungível.   Para   ele,   são   dois   os   fatores   que   tornam   irregular   o   depósito:   a

possibilidade   conferida   ao   depositário   de   consumir   a   coisa   (fator   material)   e   o   propósito   de

 beneficiar o depositário (fator anímico)” [Tepedino] . EXEMPLO: depósito bancário.

PROCESSUAL   CIVIL.   EXECUÇÃO.   PENHORA.   INDICAÇÃO   DE   LETRAS

FINANCEIRAS   DO   TESOURO.   INSTITUIÇÃO   FINANCEIRA   EXECUTADA.

SUBSTITUIÇÃO POR DINHEIRO. SÚMULA 328/STJ.

1.   Em   execução   por   quantia   certa   de   valor   não   muito   elevado,   observadas   as

circunstâncias do caso, sendo a executada instituição financeira com solidez reconhecida, é

de rigor que a penhora recaia sobre dinheiro, respeitadas apenas as reservas bancárias

mantidas pelo Banco Central. Súmula n.º 328/STJ.

2. Recurso especial provido.
(REsp 644.279/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado

em 17/06/2010, DJe 29/06/2010)

No que tange a prisão do depositário infiel, o STF, em 23/12/2009, editou a súmula vinculante 25 que

estabelece: “É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade de depósito”.

II – Depósito necessário:

Conceito: “Denomina­se necessário o depósito que se realiza por uma necessidade que atua imperiosa

sobre a vontade do dono da coisa depositada.  Se imposto por lei, diz­se legal;  se de situação imprevista,

miserável.

As hipóteses do inciso II do art. 647, CC, são manifestamente exemplificativas, dando­se o depósito

miserável em quaisquer condições análogas. Indispensável que o depósito seja imposto por acontecimento

imprevisto que não permita ao depositante outra deliberação, sequer a escolha do depositário.

É   miserável   o   depósito   que   se   efetua   por   ocasião   de   alguma   calamidade   pública,   nos   termos   do

art. 647 , II , do CC :

A prova da realização legal é a prevista na lei que o institui, mas o princípio é que deve ser provado

por escrito. Já o depósito miserável admite qualquer meio de prova.

Ao contrário do depósito voluntário, em que se presume a sua gratuidade, nos depósitos necessários a

presunção é de remuneração, na medida em que lhes falta o caráter de liberalidade, de serviço, de amizade ou

relações antigas” [Tepedino]

CONTRATO DE MANDATO
Conceito: “Relação contratual mediante a qual uma das partes (o mandatário) se obriga a praticar, em nome

e  por   conta  da  outra parte  (mandante),   um   ou mais   atos  jurídicos.  O  mandato  é  uma   espécie  de

representação   voluntária,   em   que   o   representante   (mandatário)   atua   em   nome   do   representado

(mandante)”. [Tepedino]“Em diversos sistemas (Itália, Suíça e Alemanha), admite­se o mandato sem

representação.   Contudo,   no   direito   brasileiro,   em   que   o   legislador   inseriu   a   representação   como

elemento essencial do mandato, a atuação do mandatário em nome próprio desnaturaria o mandato”.

[Tepedino]

“A despeito das controvérsias em torno do tema, admite­se que o mandatário possa efetivamente praticar

atos que não revistam a forma de negócio jurídico. Em regra, qualquer ato jurídico poderá ser objeto

 do contrato de mandato,  exceto aqueles que somente pela própria pessoa podem ser praticados,

 em   relação   aos   quais   não   é   admissível   a   representação.  São


     os   denominados  atos
 

 personalíssimos”  [Tepedino]

   pois se celebra em razão da pessoa do mandatário.
 “O mandato é  contrato intuitu personae, 

O   mandato   presume­se   gratuito   se   não   for   estipulada   remuneração.   No   entanto,   caso   o   seu   objeto

corresponda ao  daqueles  que o  mandatário trata  por  ofício  ou profissão  lucrativa,   presumir­se­á

oneroso.

Não há dúvida de que o mandado, sobretudo quando oneroso, produz obrigações recíprocas.

A confiança que o permeia, contudo, impede que o mandatário vincule o cumprimento de sua obrigação ao

cumprimento das obrigações atribuídas ao mandante. Sua natureza unilateral resulta precisamente da

inexistência   de   sinalagma   entre   as   obrigações   de   ambas   as   partes.   Ou   seja,   inexiste   nexo   de

causalidade ou de funcionalidade entre as obrigações, de forma que uma seja a razão jurídica da

outra. Não se aplica, por isso mesmo, no caso do mandato, a exceção do contrato não cumprido,

extinguindo­se o mandado tão­somente nas hipóteses previstas pelo legislador.

Registre­se, ainda, a classificação do mandato como um contrato preparatório, habilitando o  mandatário para

a prática de certos atos que não estão nele contidos, de modo a conferir­lhe poderes para executá­lo.

Repete o CC a autorização para que os menores relativamente incapazes possam atuar como mandatários,

independentemente da assistência de seus representantes legais”. [Tepedino]
 Procuração:    “A   procuração   constitui­se   negócio   jurídico   autônomo,   abstrato   e   unilateral,   pelo   qual   o

 representado outorga ao representante os poderes de representação: é o instrumento   4 de outorga da

representação” [Tepedino]

“A  procuração não cria uma obrigação  para o procurador de praticar atos,  mas o poder de agir em

nome do outorgante, diferenciando­se, nesse aspecto, do mandato, em que o mandatário tem a obrigação de

praticar atos jurídicos no interesse do mandante. A procuração torna­se o expediente pelo qual o mandatário

faz ver a terceiros, com quem contrata, o conteúdo e a extensão dos poderes de representação que lhe foram

conferidos   pelo   mandante.   Em   rigor,  a   procuração   constitui­se   instrumento   da   representação   e   não   do

mandato,   visto   que   objetiva   outorgar   os   poderes   de   representação,   a   fim   de   que   o   ato   praticado   pelo

representante   vincule   o   representado,   como   se   este   próprio   tivesse   realizado   pessoalmente   o   negócio”.

[Tepedino]

A procuração pode ser elaborada por um instrumento particular ou público.  “Nada impede que a

procuração seja verbal. Entretanto,  a procuração se vinculará à forma sob a qual se realiza o ato a que o

contrato de mandato se destina” [Tepedino]. Se o ato tiver que ser celebrado por escrito, não se admitirá

mandato verbal (art. 657).

“O CC estabeleceu, no  art. 657,  a  regra da atração da forma,  determinando que a procuração se

revista da mesma formalidade do ato a ser praticado pelo mandatário. Embora da literalidade do art. 655 se

extraia a idéia de que o substabelecimento poderá revestir a forma particular em qualquer hipótese, deve­se

interpretar   o   dispositivo   sistematicamente   com   o   art.   657,   entendendo   que   o   substabelecimento   poderá

revestir a forma particular tão­somente nas hipóteses em que o ato objeto do mandato e, por conseguinte, a

procuração, não exigir a forma pública, tendo sido ela utilizada apenas facultativamente pelos interessados”

[Tepedino]

Pela  regra   anterior,   somente   a  procuração  judicial   não  precisava   ter   a   assinatura   reconhecida   em

cartório. Atualmente, o NCC não exige que seja feito o reconhecimento de firma. Mas pode o terceiro exigir.

Assim, em regra, a procuração particular não tem mais reconhecimento de firma da assinatura.

4 Instrumento é a materialização do contrato. Em alguns contratos, o instrumento (papel que é escrito o contrato)
tem um nome próprio. EXEMPLO: a apólice é o instrumento do contrato de seguro.
 Contrato consigo mesmo:  “O negócio celebrado consigo mesmo é anulável, salvo se houver autorização da

lei ou do representado. A jurisprudência consagrou o entendimento de que o contrato consigo mesmo

deve ser admitido, desde que não haja patente conflito de interesses ou vedação pelo mandante”.

[Tepedino]

 Mandatário   x   Comissário:   “Ambos   agem   por   conta   de   outrem,   mas   só   o   mandatário   atua   em   nome

alheio”[Tepedino]

 Mandato outorgado por incapaz:   “Há que se regular as hipóteses em que se faz indispensável, para a

melhor   tutela  do  interesse  do  absolutamente   incapaz,   a   celebração  de   contratos   de   mandato  ou,

simplesmente, a outorga de poderes representativos. Nestes casos, com efeito, o representante legal

poderá,   ele   próprio,   atuar   como   mandante,   outorgando   poderes   a   representante   que,   em   última

análise, ao agir em nome e por conta do representante legal, representará e tutelará os interesses do

incapaz. Admite­se, por outro lado, que o relativamente incapaz outorgue poderes representativos,

mas com a imprescindível interveniência de seu representante legal, que o assistirá (concorrência de

vontades) e, juntamente com ele, dará o instrumento de outorga de poderes (procuração). Neste

ponto,   a   maioria   da   doutrina   entende   que   a   procuração   deverá   ser   revestida   da   forma   pública.

Tratando­se   de   mandato   judicial,   outorgado   por   relativa   ou   absolutamente   incapaz,   admite­se   o

instrumento particular” [Tepedino]

Pluralidade de partes

Havendo  pluralidade   de   mandantes,   haverá  solidariedade   entre   eles  (art.   680).   “O   vínculo   de

solidariedade limita­se à relação interna do mandato, ou seja, aos mandantes em relação ao mandatário, não

se   estendendo   à   relação   externa,   isto   é,   aos   terceiros   com   quem   o   mandatário   contrata   em   nome   dos

mandantes” [Tepedino]

Havendo pluralidade de mandatários, há as seguintes situações:

1. MANDATO EM CONJUNTO: todos os mandatários têm que fazer juntos;
1. MANDATO DISJUNTIVO: qualquer um dos mandatários pode cumprir;

2. MANDATO   SUCESSIVO:   somente   poderá   ser   cumprida   a   obrigação   depois   que   uma   primeira

obrigação for cumprida, cada um tem a sua obrigação, mas existe uma ordem de preferência.

Atenção:   nos   termos   do   art.   672,   o   mandato   outorgado   a   vários   mandatários   presume­se   como

solidário, ou seja, “cada mandatário pode agir por si, como se fosse o  único. Desejando dispor de modo

diverso, deverá o mandante consignar expressamente no instrumento” [Tepedino]

Classificação do mandato:

 MANDATO JUDICIAL (CLÁUSULA AD JUDICIA): é o mandato para advogado atuar em juízo.

Pode ser para o foro em geral (artigo 53, CPC) ou para administração geral (artigo 661).

 MANDATO EXTRAJUDICIAL (CLÁUSULA 
   AD NEGOTIA):

 MANDATO ESPECIAL: “aquele que se relaciona à prática de um ou mais negócios determinados e

especificados no instrumento. Não se admite, nesses casos, por analogia, a prática de atos diversos

dos contidos na procuração” [Tepedino]

 MANDATO GERAL: “é o mandato relativo a todos os negócios do mandante, sem especificação.”

[Tepedino]

 MANDATO EM TERMOS GERAIS: “alude à prática de atos genéricos, não especiais. Entende­se

como   expressão   dos   poderes   de   administração   os   atos   necessários   e   suficientes   a   conservar

determinados   bens   ou   patrimônios,   sem   implicar   a   alteração   de   sua   medida   ou   substância”

[Tepedino]

 MANDATO COM PODERES ESPECIAIS: “é aquele outorgado para os fins que ultrapassam a

administração ordinária (alienar, hipotecar, etc)” [Tepedino]

Direitos e obrigações das partes:

“Em regra,  somente os atos praticados dentro dos limites dos poderes outorgados pela procuração

vincularão o representado. Nesse sentido, os atos praticados com excesso de poderes, isto é, sem poder de
representação ou por quem não tenha mandato, serão ineficazes em relação ao mandante, considerando­se o

mandatário mero gestor de negócios. Ressalte­se, ainda, que por estes atos poderá o representante responder

pessoalmente perante terceiros.

Há  abuso  quando o mandatário usa, conscientemente, os poderes que tem, sem os exceder, mas de

forma a infringir as instruções ou a vontade do mandante.

Considera­se  aparente  o   mandato   estipulado   por   alguém   que   se   apresenta   como   mandatário,

suscitando a percepção de agir em nome e no interesse de um mandante.  Uma vez caracterizada como

justificável a confiança do terceiro naquilo que afinal se revelou mera aparência, reputar­se­á válido o ato e

vinculado o suposto mandante ao terceiro. Tal ônus somente se justifica  se o representado contribuiu com

sua ação ou omissão para a produção da situação geradora da confiança.

Tratando­se efetivamente de contrato de mandato, a não atuação em nome do mandante configura

inadimplemento, independentemente de ter o mandatário atuado por conta (e no interesse) do mandante.

Consequentemente, sobrevindo danos ao mandante, por força de tal inadimplemento, o mandatário deverá

indenizá­lo.

O  mandatário  encontra­se  pessoal   e   exclusivamente   obrigado   para   com   o   terceiro  se,   com   este,

celebrar negócio em seu próprio nome.

Da interpretação conjunta destes dispositivos, extrai­se que o mandatário tem o  direito de reter, do

objeto da operação que lhe foi cometida, tudo o que lhe for devido em virtude do mandato, incluindo­se sua

remuneração ajustada e reembolso de despesas.

O dever do mandatário de prestar contas transmite­se aos seus herdeiros.

O  ato praticado  fora  dos  poderes  do  mandato não vincula  o mandante  (art.  662),  embora  este  se

obrigue pelos atos praticados pelo mandatário em desacordo com as instruções recebidas, desde que  nos

limites dos poderes conferidos.

Cuidando­se   de   mandato   oneroso,   a   obrigação   de   pagar   a   remuneração   do   mandatário   subsiste

independentemente da obtenção efetiva dos resultados esperados pelo mandante. O que se exige  é que o

mandatário tenha cumprido bem seus deveres, tais quais as instruções recebidas [obrigação de meio]

Art. 677: entende­se, majoritariamente, que estes juros são compensatórios, correndo, portanto, da data

em que o mandatário demonstrar que fez o desembolso.

Art.   678:   a   obrigação   do   mandante   beneficiará   os   herdeiros   do   mandatário,   caso   este   faleça   em
decorrência de acidente sofrido na execução do mandato.

Pelos atos culposos do mandatário o mandante também responderá perante terceiros, desde que o dano

tenha  sido  provocado  no  cumprimento  do  mandato  e   dentro  dos   limites   deste.  A   hipótese   caracterizará

solidariedade passiva (art. 275), ressalvado para o mandante o direito de regresso em face do mandatário (art.

285)” [Tepedino]

Submandato

O instrumento do submandato é o substabelecimento. O submandato é acessório ao mandato, assim a

nulidade deste determina a nulidade aquele.

Em princípio é possível o submandato, exceto em dois casos:

 existência de vedação na procuração;

 natureza da obrigação, (personalíssima = características pessoais do mandatário).

O EOAB não permite a outorga de mandato para a sociedade de advogados.

O substabelecimento pode ser feito com (tanto o submandante quanto o submandatário podem praticar

o ato) ou sem reserva de poderes (só quem pode praticar o ato é o submandatário).

“Permitindo­se   expressamente   o   substabelecimento   (art.   657,   §2º),   e   uma   vez   substabelecidos   os

poderes,  passa a existir   uma  relação  contratual  direta  entre   o mandante  e   o substabelecido,   que,   assim,

também se torna mandatário. Neste caso, em regra, o  substabelecente ficará isento de responsabilidade no

que diz respeito aos atos praticados exclusivamente pelo substabelecido. Exceção haverá apenas há hipótese

de ter agido o substabelecente com culpa 
   in eligendo.

No silêncio da procuração, não tendo o mandatário poderes expressos para substabelecer, caso o faça,

terá ele responsabilidade perante o mandante pelos atos praticados pelo substabelecido dolosamente.

Existindo vedação expressa pelo mandante a respeito do substabelecimento, o mandatário, caso viole

tal disposição, responderá não só pelos atos do substabelecido, mas também por todos os outros danos, cuja

causa   será   presumidamente   atribuída   ao   substabelecimento,   até   mesmo   pelo   fortuito,   salvo   prova   em

contrário,  cujo  ônus  cabe  exclusivamente  ao  substabelecente.  Indo além  destas  sanções,  inova  o  CC ao

reputar ineficaz, perante o mandante, os atos praticados pelo substabelecido em expressa violação à cláusula
que vedava o substabelecimento”. [Tepedino]

Extinção do mandato

REVOGAÇÃO: o mandato é extinto por determinação do mandante. “O mandante não é obrigado a

explicar os motivos que o levaram à revogação do mandato, nem pode o mandatário insurgir­se, alegando

que ela é injusta, caprichosa, infundada, intempestiva, fruto da cólera e do ressentimento. O único direito que

o mandatário tem é o de receber a competente remuneração, além das eventuais perdas e danos. Não obstante

a faculdade do mandante de revogar  ad nutum  os poderes, aquele que abusivamente o fizer se sujeita a

ressarcir   os   prejuízos   causados   pelo   mandatário.  Podem   as   partes   convencionar   a   irrevogabilidade   dos

poderes outorgados ao mandatário. Contudo, por tratar­se de contrato fundado na confiança, tem o mandante

a faculdade de revogá­lo unilateralmente a qualquer tempo, a despeito da cláusula de irrevogabilidade.  A

procuração geral para todos os negócios não revoga a especial anterior, se a ela, expressamente, não se

referir, e a especial posterior só revoga a geral anterior no que concernir ao seu objeto peculiar” [Tepedino]

RENÚNCIA: o mandato é  extinto por determinação do mandatário.  “A  inoportunidade da renúncia

não tem o condão de torná­la ineficaz, mas sujeita o mandatário renunciante a indenizar o mandante pelos

prejuízos causados. A renúncia será sempre expressa” [Tepedino]

MORTE DE QUALQUER DAS PARTES: “determina a extinção do contrato, não sucedendo em tal

relação contratual os herdeiros da parte falecida. Diante da morte do mandante, são reputados válidos os

negócios firmados com os terceiros de boa­fé enquanto a ignorar o mandatário. Caso se configure, ao revés,

a má­fé do representante, que contrata com terceiros de boa­fé, valerá o ato, mas responderá o mandatário

por perdas e danos perante os herdeiros do mandante. Por outro lado, o mandatário deverá concluir o negócio

já iniciado se houver perigo na demora. Em caso de morte do mandatário, seus herdeiros deverão comunicá­

la   ao   mandante   e   limitar­se­ão   às   medidas   conservatórias   nos   negócios   pendentes.   Deverão   dar­lhes

continuidade caso haja perigo na demora, com observância dos limites de ação a que o próprio de cujus se

encontrava sujeito”. [Tepedino]
Procuração em causa própria (art. 685)

“Instituiu­se   a   procuração  in   rem   propriam.  Por   ela,   o   credor   não   cedia   a   sua   obrigação,   mas

outorgava, a quem desejava transmiti­la, poderes para demandar o devedor o seu adimplemento. Executado e

recebido o débito, o mandatário in rem propriam ficava com o respectivo valor para si. Ou seja, o mandatário

em causa própria constituía­se, a rigor, em um cessionário da ação, possuía o dominus litis.

A maior parte dos autores entende que a procuração em causa própria equivale, em seus efeitos, a uma

cessão de direitos. Investe o mandatário na qualidade de titular dos direitos transferidos, não sendo apta,

evidentemente,   a   transferir   a   propriedade.   Transfere­se,   tão­somente,   o   crédito.   Para   que   se   transfira,

posteriormente, a propriedade, a procuração em causa própria deve conter todos os requisitos exigidos para o

negócio a que se quer dar cabo e deve­se proceder a um especial  modus adquirendi –  a tradição, para os

móveis; a transcrição, para os imóveis.

O mandato “em causa própria”  é absolutamente irrevogável. A  morte  de  qualquer das partes não

significará a extinção do mandato em causa própria. Prescinde o mandato em causa própria de prestação de

contas do mandante.

Art. 690: cuidando­se de mandato em causa própria, os herdeiros sucedem nos direito do mandatário.

Por isso mesmo, não tem necessidade de dar aviso ao mandante, nem a sua ação fica restrita às medidas

conservatórias e de urgência. São donos do negócio por direito de sucessão” [Tepedino]

CONTRATO DE COMISSÃO

“Restringe­se seu objeto à aquisição ou venda de bens, não mais a qualquer negócio mercantil, como o

fazia o art. 165 do Código Comercial.

Ter­se­á por caracterizada a comissão se alguém, à conta de outrem, se obriga a realizar negócio de

compra e venda em nome próprio, independentemente da natureza da operação (comercial ou civil) ou,

ainda, sem considerar a qualidade de comerciante de qualquer das partes.

O   dispositivo   não   exige   habitualidade,   tampouco   que   o  comissário   exerça   profissionalmente   suas

atividades, já que o contrato de comissão pode assumir natureza diversa da mercantil.
Caracteriza­se por ser contrato intuitu personae.

O contrato de comissão diferencia­se do contrato de agência, pois o agente não realiza em seu próprio

nome o negócio, mas apenas promove sua realização. Por outro lado, na agência o âmbito dos negócios a

promover vai além da simples aquisição ou venda de bens, objeto da comissão.

Enquanto  o  corretor  atua  com   imparcialidade,   intermediando  a   avença   que   será   concluída   pelos

contratantes, é o próprio comissário quem celebra o contrato, fazendo­o em nome próprio e no interesse

de outrem.

O comissário atua em nome próprio, ao passo que o mandatário age em nome do mandante.

O comissário, perante terceiros, figura como o único responsável por todas as obrigações assumidas e

goza de todos os direitos resultantes dos contratos celebrados.

O comitente não é parte na relação jurídica que se estabelece entre o comissário e os terceiros com

quem contratar.

Art. 696: há duas espécies de instruções: a de caráter imperativo e as chamadas instruções facultativas

ou meramente indicativas. Enquanto as primeiras são obrigatórias, devendo, necessariamente, ser obedecidas

pelo comissário, as segundas dão liberdade de apreciação ao comissário. Nesse passo, poderá o comissário

seputá­las na medida em que as julgue menos acertadas ou consentâneas ao negócio.

Cláusula del credere (art. 698): trata­se de estipulação de garantia especial do comitente – verdadeiro

pacto  acessório  à   própria  comissão  –  pelo  qual   o  comissário  assume,   pessoalmente,   todos   os   riscos   do

negócio   que   lhe   incumbe   realizar   à   conta   do   comitente.  Com   isso,   o   comissário   responsabiliza­se

solidariamente.

A   responsabilidade   do  comissário,   mesmo  diante   da   cláusula  del   credere,   não  é   ilimitada,   sendo

excluída no caso de culpa do comitente. Na hipótese de força maior, afasta­se, em regra, a responsabilidade

do comissário.

Art. 701: a remuneração não se afigura condicionada à efetiva execução do contrato celebrado pelo

comissário, nascendo o direito deste àquela com a simples conclusão do negócio.

A comissão consiste em geral em uma soma calculada sobre a importância da operação e varia com a

qualidade da negociação.

Cabe ao comitente indenizar o comissário por eventuais prejuízos que este experimentar em razão do
desempenho da comissão.

Qualquer comportamento culposo do comissário que afaste a fidúcia nele depositada pelo comitente

significará, de per se, justa causa para que este revogue, ao seu alvedrio, o contrato de comissão.

Adiantando o comissário, por sua conta, o valor correspondente às despesas com o contrato, caberá ao

comitente ressarci­lo.

O crédito do comissário, relativo a comissões e despesas feitas, goza de privilégio geral, no caso de

falência ou insolvência do comitente.

O comissário terá direito de reter os bens ou valores que estiverem em seu poder por decorrência do

contrato de comissão, até o efetivo pagamento de tudo o que lhe for devido em decorrência do contrato, ou

seja, remuneração, juros e despesas incorridos no desempenho de suas funções” [Tepedino]

CONTRATO DE AGÊNCIA E DISTRIBUIÇÃO

“Para que se configure o contrato de agência, mostra­se indispensável:

a. que uma parte tenha se obrigado a promover certos negócios à conta da outra (o agente, desse modo,

apenas promove as atividades do agenciado, sem necessariamente representá­lo);

a. que a obrigação assumida seja desempenhada de forma habitual (caráter não eventual);

b. que   os   serviços   a   serem   prestados   estejam   circunscritos   à  zona   geograficamente   determinada,

independentemente de sua efetiva extensão, desde que seja certa;

c. que pelos serviços prestados decorra o direito a uma remuneração, por ser o contrato de agência um

contrato oneroso;

d. que   não   haja   qualquer   vínculo   de   dependência   (relação   de   emprego,   prestação   de   serviços,

subordinação hierárquica ou dependência econômica) entre as partes.

A   parte   deve   desenvolver   profissionalmente   a   atividade   objeto   do   contrato   de   agência.  Não   há,

contudo, limitação quanto à natureza dos serviços prestados.

Não é necessário que agente e agenciado ou proponente sejam empresários. Veja­se, p. ex., o agente

de um desportista profissional, de um escritos ou escultor.

O  distribuidor,  tendo   a   mercadoria   à   sua   disposição,   seja   por   tê­la   adquirido,   seja   por   ter   sido
autorizado ­,  age com independência na promoção de negócios e assume, ele próprio, a responsabilidade

pelos negócios que celebra.

Art. 710, par. Único: tal outorga de poderes específicos faz incindir sobre o contrato de agência as

normas referentes à representação (art. 115 e ss) e, em se tratando de atividade empresarial, a disciplina da

Lei 4886/65 (representação comercial), o que, todavia, não desnatura a figura da agência.

Art.   711:  a   prerrogativa   de   exclusividade,   tanto   do   agente,   como   do   proponente,  não   configura

elemento essencial  à relação de agência, pelo que pode existir ou não, sem que, contudo, seja alterada a

figura contratual típica.

A cláusula de exclusividade pressupõe a total identidade dos negócios agenciados.

Se um agente tem sua zona invadida, deverá receber as comissões referentes aos valores dos negócios

ali executados, salvo disposição contratual em sentido contrário.

Art. 714: a remuneração faz­se devida ao agente desde o momento em que se verificar a conclusão do

negócio. Assim, não basta a simples interferência do agente, mesmo que efetiva, em negócios que, ao final,

sejam abandonados.

Presume­se   que,   salvo   justo   motivo,   cumpre   ao   proponente   efetivamente   realizar   os   negócios

encetados pelo agente.

Art. 715: a hipótese do dispositivo não cuida de causa automática de resolução contratual, a qual

poderá ou ão ocorrer, segundo a conveniência do agente.

Art. 718: a força maior não afasta a indenização invocada pelo dispositivo, já que alude à dispensa

sem culpa do agente. Além disso, dificuldades financeiras ou desativação da indústria também não podem

ser vislumbradas como justa causa para a dispensa do agente [Tepedino].

CONTRATO DE CORRETAGEM

“Características típicas do contrato de corretagem:

a. que uma pessoa assuma a obrigação, perante outra, de obter, para esta, um ou mais negócios;

a. que  não   exista   entre   as   partes,   no   que   tange   especificamente   à   obrigação   assumida,  vínculo
decorrente de mandato, de prestação de serviços ou de qualquer outra relação de dependência;

b. que seja estipulada, implícita ou explicitamente, uma remuneração (art. 724), sem o que não haverá,
a   rigor,   contrato   algum   entre   as   partes,   mas   simples   colaboração   entre   pessoas,   movidas   por

interesses sociais próprios e particularizados.

Não se exige do corretor habitualidade ou profissionalidade no desempenho especifico da obrigação

por ele assumida.

O mandatário se investe de poder para praticar atos ou administrar bens em nome do mandante, sendo­

lhe essencial o poder de representação. Já na corretagem, atua o intermediário com independência e em nome

próprio,  não se configurando, deste modo, representação. A representação mostra­se incompatível com a

intermediação, na medida em que o representante defende interesses de um cliente, não podendo estar isento

para expor as qualidades e defeitos do bem a ser negociado.

O corretor atua de forma imparcial e apenas quando  é solicitado, diferentemente do que ocorre no

contrato de agência,  no qual há estabilidade, permanência  e duração intencional da atividade, à conta de

outrem.

 O   corretor   imprime  esforços   por   sua   conta   e   risco,   somente   recebendo  remuneração  se   houver   o

encontro de vontades.  Desse modo,  não faz jus  o corretor ao  ressarcimento  pelas  despesas  realizadas na

busca da conclusão do negócio, que acaba por não se perfazer.

No contrato de corretagem, ainda que tenha sido estipulada a chamada exclusividade, não haverá

necessidade de outorga uxória.

Obrigação de resultado: o corretor assume a obrigação de obter o negócio para o cliente. O contrato de

corretagem   tem  por  objeto,  não  o serviço do  corretor   considerado  nele  próprio,  mas,  a   rigor,   o efetivo

resultado deste mesmo serviço.

O CC sujeita a remuneração do corretor à conclusão do negócio, desvinculando­a da efetiva e regular

execução deste.

 Admite­se a estipulação de remuneração com base em   over price,  que se caracteriza pela diferença

obtida pelo corretor, que extrapola o preço fixado.

As partes podem estabelecer, no contrato de corretagem, a exclusividade de atuação do corretor para a

obtenção  do  negócio.   Assim   procedendo,  uma   vez   obtido  o  negócio,  ao  corretor  caberá   a   remuneração

integral, mesmo que não tenha ele concorrido para sua celebração, afastando­se o direito a tal remuneração
na hipótese de desídia ou ociosidade do corretor” [Tepedino].

CONTRATO DE TRANSPORTE

“O contrato de transporte é aquele pelo qual uma pessoa se obriga, em troca de uma contraprestação, a

receber pessoas ou coisas, animada ou inanimadas, e levá­las até o lugar de destino, com segurança, presteza

e conforto, por meio terrestre, marítimo ou aéreo.

No contrato de fretamento, atribuem­se o uso e a fruição do navio, automóvel, ônibus, aeronave ou

outro meio de transporte.  Por outro lado, no contrato de transporte, o transportador  assume  o dever de

conduzir, de um lugar para outro, pessoas e/ou coisas.

Não se confunde, igualmente, com o contrato de praticagem, o qual consiste no serviço auxiliar do

transporte aquaviário, que tem por fim a condução de embarcações em zonas perigosas à navegação (trechos

de costa, barras, portos, canais, lagoas, rios), realizadas por pessoas conhecedoras do local, denominadas

'práticos'. Trata­se de uma locação de serviços formada pela troca de sinais, que se conclui quando o prático,

percebendo o sinal de chamada do capitão, se dirige ao encontro da embarcação.

Permanecem em vigor, no âmbito do transporte aéreo nacional, o Código Brasileiro Aeronáutico, bem

como, no tocante ao transporte aéreo internacional, a Convenção de Varsóvia.

Do contrato de transporte deflui a obrigação de 
   resultado, recaindo sobre o transportador o dever de

entregar as pessoas ou coisas transportadas no estado em que as recebeu, tomando todas as precauções

possíveis para oferecer transporte seguro e com o mínimo de suscetibilidade possível a riscos.

O   expedidor,   no   transporte  de  coisas,   ou   o  passageiro,   no   transporte   de   pessoas,   se   vinculam   ao

pagamento do frete ou passagem.

As cláusulas de não indenizar são instituídas com o intuito de permitir que uma das partes do contrato

se subtraia das conseqüências patrimoniais advindas de dano que lhe seria imputável, afastando, deste modo,

os efeitos legais que se produziriam na ausência dessa estipulação. Compreendem tanto as cláusulas que

excluem ou exoneram de forma total o dever de reparar, quanto as que limitam parcialmente esse dever, o

que   pode   ocorrer   por   meio   da   fixação   de   determinado   patamar   indenizatório.  Mesmo   anteriormente   à

aprovação do CDC,  a jurisprudência já se voltava contra a celebração de tais estipulações,  em processo


evolutivo que redundaria na Súmula 161 do STF, segundo a qual 'em contrato de transporte é inoperante a

cláusula de não indenizar'. Entretanto, não se encontram indiscriminadamente condenadas todas as cláusulas

de limitação da responsabilidade do fornecedor. Isso porque a violação ao princípio da reparação integral

apenas se configura quando observada a desproporção entre direitos e obrigações, vale dizer, a desvantagem

exagerada pelo consumidor gerada pela limitação da responsabilidade do fornecedor.

Nos   termos   do  entendimento   majoritário,  deve   prevalecer,  no   campo   do   transporte   nacional,   o

princípio constitucional de defesa do consumidor, o que  afasta a aplicabilidade dos artigos do CBA, que

prevêem, em nível infraconstitucional, limites ao dever de indenizar, oriundo da relação de consumo.  Da

mesma   forma,   o   CDC   aplica­se   ao   transporte   aéreo   internacional,   prevalecendo   sobre   a   Convenção   de

Varsóvia em caso de conflito.

1. O Superior Tribunal de Justiça entende que a responsabilidade civil das companhias aéreas

em decorrência da má prestação de serviços, após a entrada em vigor da Lei 8.078/90, não é mais

regulada pela Convenção de Varsóvia e suas posteriores modificações (Convenção de Haia e

Convenção de Montreal), ou pelo Código Brasileiro de Aeronáutica, subordinando­se, portanto,

ao Código Consumerista.  (AgRg no Ag 1380215/SP, Rel.  Ministro RAUL ARAÚJO,  QUARTA

TURMA, julgado em 19/04/2012, DJe 10/05/2012)

RESPONSABILIDADE   CIVIL.   ACIDENTE   AÉREO.   PESSOA   EM   SUPERFÍCIE   QUE   ALEGA

ABALO MORAL EM RAZÃO DO CENÁRIO TRÁGICO. QUEDA DE AVIÃO NAS CERCANIAS

DE   SUA   RESIDÊNCIA.   CONSUMIDOR   POR   EQUIPARAÇÃO.   ART.   17   DO   CDC.   PRAZO

PRESCRICIONAL.   CÓDIGO   CIVIL   DE   1916.   INAPLICABILIDADE.   CONFLITO   ENTRE

PRAZO   PREVISTO   NO   CÓDIGO   BRASILEIRO   DE   AERONÁUTICA   (CBA)   E   NO   CDC.

PREVALÊNCIA DESTE. PRESCRIÇÃO, TODAVIA, RECONHECIDA.

1. A Segunda Seção sufragou entendimento no sentido de descaber a aplicação do prazo prescricional

geral do Código Civil de 1916 (art.177), em substituição ao prazo específico do Código de Defesa do

Consumidor, para danos causados por fato do serviço ou produto (art.27), ainda que o deste seja mais

exíguo   que   o   daquele   (Resp  489.895/SP,   Rel.   Ministro  FERNANDO   GONÇALVES,   SEGUNDA

SEÇÃO, julgado em 10/3/2010).

2.   As   vítimas   de   acidentes   aéreos   localizadas   em   superfície   são   consumidores   por   equiparação


(bystanders), devendo ser a elas estendidas as normas do Código de Defesa do Consumidor relativas a

danos por fato do serviço (art. 17, CDC).

3. O conflito entre o Código de Defesa do Consumidor e o Código Brasileiro de Aeronáutica ­

que é anterior à CF/88 e, por isso mesmo, não se harmoniza em diversos aspectos com a diretriz

constitucional protetiva do consumidor ­, deve ser solucionado com prevalência daquele (CDC),

porquanto é a norma que melhor materializa as perspectivas do constituinte no seu desígnio de

conferir especial proteção ao polo hipossuficiente da relação consumerista. Precedente do STF.

4. Recurso especial provido.

(REsp   1281090/SP,   Rel.   Ministro   LUIS   FELIPE   SALOMÃO,   QUARTA   TURMA,   julgado   em

07/02/2012, DJe 15/03/2012)

Art. 733:  na espécie cumulativa, o  transporte é realizado por diversos transportadores  mediante um

único   bilhete.   Todavia,   mesmo   havendo   um   só   contrato   de   transporte,   cada   transportador   se   vincula

diretamente ao transportado de acordo com o trajeto que lhe incumbiu.

O transporte cumulativo não se confunde com o transporte combinado, também chamado segmentado

ou sucessivo, definido como aquele no qual um dos transportadores, quase sempre o inicial, assume em

nome próprio, perante o cliente, a obrigação relativa ao percurso que lhe cabe, bem como de contratar, por

conta do cliente, outro (s) transporte (s), vinculando, ainda os transportadores sucessivos, que, por sua vez,

obterão   a   vinculação   dos   seguintes.   Em   outras   palavras,   no   transporte   combinado   os   percursos   são

claramente identificáveis e atribuíveis a cada transportador, não ensejando responsabilidade solidária. Cada

dívida de transporte se extingue com a entrega ao transportador seguinte, de modo que não se supõe a mesma

vinculação básica que imponha a unidade do contrato. Já o transporte cumulativo é marcado pela unicidade

do contrato e pluralidade de transportadores, os quais ficam todos vinculados perante o viajante ou titular dos

bens  transportados,  razão  pela qual  respondem   pelo todo,  solidariamente.   Ressalvada   a  ação regressiva,

responderão solidariamente os transportadores pelo dano causado na execução do contrato.

Transporte multimodal de cargas é aquele que, regido por um único contrato, utiliza duas ou mais

modalidades de transporte, desde a origem até o destino, e é executado sob a responsabilidade única de um

operador de transporte multimodal.
I – Do transporte de pessoas:

Art. 734: vedação à cláusula de não indenizar.

A responsabilidade civil do transportador em relação ao transporte de pessoas prescinde da verificação

de culpa, sendo suficiente a demonstração da relação causal entre a atividade e o dano, salvo motivo de força

maior.

O transporte das bagagens do passageiro ou viajante entende­se incluso no preço da passagem, salvo

se houver cláusula em contrário, ou se exceder o máximo em peso do tamanho (usualmente denominado

franquia). Mesmo que haja pagamento à parte, o contrato é um só.

Embora   seja   nula   cláusula   de   não   indenizar,   admite­se   a   limitação   da   responsabilidade   do

transportador, podendo ele exigir a declaração do valor da bagagem, a fim de fixar o limite da indenização, o

qual, malgrado isso, não pode ser reduzido a tal ponto de tornar inócua a reparação, situação essa que,

verificada a relação de consumo, incide na vedação do art. 51, I, CDC.

  A  responsabilidade do transportador, no transporte de pessoas, é  objetiva.  Excluem­na, contudo, o

fortuito ou força maior, a culpa exclusiva da vítima e, em alguns casos, o fato de terceiro, quando este for

equiparável ao fortuito externo.

Art.  735:  porque  o  fato  culposo  de  terceiro  se  liga  ao risco  do  transportador,  relaciona­se  com  a

organização do seu negócio, caracterizando o fortuito interno, que não afasta a sua responsabilidade.  O

mesmo não ocorre com o fato doloso de terceiro, o qual não pode ser considerado fortuito interno, eis que,

além   de  absolutamente  imprevisível,   não   guarda   qualquer   relação  com   o   risco   do   transportador,   em   se

tratando de fato estranho à organização e à atividade do seu negócio, pelo qual não pode responder, diante do

que se caracteriza como fortuito externo, excluindo o próprio nexo causal.

Em eventos como o  arremesso de pedra contra trem ou  ônibus  ou  assalto no curso da viagem, a

jurisprudência prevalecente entende que o fato exclusivo de terceiro, quando doloso, caracteriza o fortuito

externo, estranho aos riscos do transporte. A matéria, entretanto, é polêmica, havendo no STJ acórdãos em

ambos os sentidos.

Os tribunais têm entendido que o fato de a vítima viajar como pingente – pendurada em portas e
janelas de trens e  ônibus – não elide a responsabilidade do transportador, pois este tem a obrigação de

exercer   a   necessária   vigilância   e   dar   as   condições   indispensáveis   para   que   o   s   passageiros   viajem   em

segurança.   Assim,   apenas   em   hipóteses   excepcionais   tal   prática   configurará  fato  exclusivo  da   vítima,   a

exemplo   'surfismo   ferroviário',   quando   o   passageiro,   podendo   viajar   no   interior   do   trem,   se   expõe

voluntariamente a grave risco, optando por viajar no teto e sujeitando­se aos riscos.

Súmula   145,   STJ:   “No  transporte   desinteressado,   de  simples   cortesia,   o  transportador   só   será

civilmente responsável por danos causados ao transportado quando incorrer em dolo ou culpa grave”.

Art. 737: deve prevalecer, no caso de transporte aéreo, o art. 230, CBA, em cujos termos, se houver

atraso da partida por mais de 4 horas, o transportador deverá providenciar o embarque do passageiro em vôo

que ofereça serviço equivalente para o mesmo destino, ou restituirá de imediato, se o passageiro preferir, o

valor do bilhete de passagem.

Art. 739: o regulamento a que faz referência o Código não é aquele elaborado unilateralmente pelo

transportador, de acordo com o seu exclusivo interesse, sob pena de se admitir a prática de abusos. O termo

regulamento é utilizado no sentido de ato normativo. Em face de caso fortuito ou força maior prevalece o

direito do passageiro à restituição do valor da passagem.

Tendo o transportador se obrigado a transportar o passageiro de um lugar para o outro, não poderá se

elidir desta obrigação, mesmo que a impossibilidade de cumpri­la derive de caso fortuito ou força maior.

Art. 742: não se trata de penhor legal, como ocorre em relação aos hoteleiros (art. 1467, I, CC),mas de

direito de retenção sobre a bagagem do passageiro.

II – Do transporte de coisas.

O contrato de transporte de coisas pode ser definido como aquele pelo qual uma das partes (expedidor

ou remetente) encarrega outra (transportador) de deslocar determinada mercadoria de um local para outro e

de entregá­la pontualmente ao destinatário, mediante retribuição.

O   destinatário,   apesar   de   não   ser   parte   integrante   da   relação   contratual,   é   sujeito   de   direitos   e

obrigações, em especial quando observada uma estipulação em favor de terceiros. Tal estipulação não se

presume, sendo necessária anuência inequívoca do destinatário.
O  instrumento do contrato,  em se tratando de transporte de coisas, denomina­se  conhecimento de

transporte, conhecimento de carga ou conhecimento de frete, e é contra a sua apresentação que o bem é

entregue ao expedidor ou ao destinatário, ou qualquer reclamação é atendida. Como  título de crédito,  o

conhecimento de transporte goza dos princípios cambiários da literalidade e autonomia, sendo impróprio, já

que por este se pode exigir a prestação do serviço (CC, arts. 894 e 895). trata­se, normalmente, de título

negociável,   podendo   ser   transferido   por   simples   endosso   ou   por   cessão   de   crédito   quando   contiver   a

expressão 'não à ordem' ou outra equivalente. Como não se trata de contrato solene, contudo, o conhecimento

não é da sua substância, eis que expedido  ad probationem tantum.  Na hipótese de perda ou destruição,

poderá ser emitida uma segunda via, com o mesmo efeito da primeira.

O remetente se responsabiliza pelas declarações inexatas que fizer, diante do que o transportador fará

jus à reparação do prejuízo que eventualmente sofrer, decorrente de tal inexatidão.

Art. 745: o preceito tem dicção confusa. Para se evitar uma interpretação que levaria a uma redução

abrupta   e   injustificada   de   prazo   para   a   ação   de   responsabilidade   civil,   bem   como   a  erro   grosseiro   do

legislador na distinção entre prescrição e decadência, poder­se­ia cogitar de uma ação própria de retificação

de dados, no prazo de 120 dias. Nesta esteira, o legislador teria sobreposto o direito potestativo à apuração da

informação  ou  descrição  verdadeira,   à   pretensão  indenizatória   eventualmente   caracterizada,   caso  fossem

configurados danos decorrentes de informação inexata ou de falsa descrição. Cuidar­se­ia do exercício de um

direito potestativo, ou seja, do poder de alterar a situação jurídica de outrem, independentemente ou mesmo

contra a vontade deste, e que dá ensejo à decadência.

É obrigação do remetente apresentar a coisa devidamente embalada. A embalagem deve ser adequada

à modalidade de transporte e à natureza da coisa.

Art. 746: nos casos previstos nesse artigo, a recusa em contratar não configura prática abusiva (CDC,

art. 39, II), haja vista estar o transportador exercendo regularmente um direito subjetivo que lhe é conferido

para a proteção das pessoas, bem como do veículo de transporte e dos demais bens que lhe foram confiados.

Art. 747: eis a segunda hipótese em que é admitido ao transportador recusar a mercadoria recebida: a

ausência   dos   documentos   exigidos   em   lei   ou   a   coisa   cujo   transporte   ou   comercialização   não   sejam

permitidos, hipótese em que resta patente a ilicitude quanto ao objeto.

O   transportador   tem   a  custódia,  não   é   depositário,   não  se   confundindo   o   transporte   com   o

contrato de depósito.

Assim como no âmbito do transporte de pessoas, debate a jurisprudência acerca do caráter fortuito dos
roubos   de   mercadoria   em   determinadas   vias   ou   cidades   do   país,   onde   tais   práticas   são   reiteradamente

observadas. Nesse sentido,  inclina­se a jurisprudência para reconhecer a responsabilidade do transportador

se, no caso concreto, o evento se deu por falta de cuidados mínimos decorrentes de seu dever de precaução,

vale dizer, em desatenção ao standart de conduta compatível com o transporte realizado. Em outros casos,

contudo,   o   roubo   de   mercadorias   se   assemelhará   a   fortuito   externo,   levando   à   exclusão   do   nexo   de

causalidade por fato exclusivo de terceiro.

Art. 750: este dispositivo encerra cláusula de limitação de responsabilidade, eis que o teto para o dever

de indenizar a cargo do transportador passa a ser o valor constante do conhecimento. Obs: em se tratando de

relação de consumo, prevalece o CDC.

Art. 751: o transportador não deve ser equiparado ao depositário para os efeitos da prisão civil, a qual

é restrita aos contratos de depósito propriamente ditos, sendo norma excepcional.

A entrega em domicílio ou em local diverso do armazém do transportador depende de convenção entre

as partes nesse sentido, como igualmente ocorre em relação à cláusula de aviso – ou seja, a obrigação do

transportador de informar a chegada das mercadorias ­, a qual deve constar do conhecimento de embarque

(obs: em razão do critério da especialidade, prevalecem as normas do regulamento das estradas de ferro e o

art. 243 do CBA, que prevêem da obrigatoriedade da cláusula de aviso” [Tepedino]

CONTRATO DE SEGURO

“O CC passou a definir o contrato de seguro como sendo aquele pelo qual,  mediante a paga de um

prêmio, o segurador obriga­se a garantir um interesse legítimo do segurado.

Com tal definição,  o seguro
   não perde o caráter bilateral
     na hipótese de  não implemento do risco

previsto na apólice, uma vez que  a obrigação do segurador  é de garantia, e  não de simples pagamento

eventual de indenização, esta que tem por antecedente lógico o implemento do risco previsto na apólice, por

definição nem sempre ocorrente (configurando o risco uma simples probabilidade de dano).

Não se confundem o risco, que é imanente, existindo, necessariamente, como elemento essencial do

contrato de seguro, e o sinistro, o qual é eventual, podendo vir ou não a ocorrer.

O seguro é contrato de adesão, eis que, em razão da sua natureza massificada (como o seguro envolve

a pulverização do risco, ele pressupõe a existência de um grupo de segurados sujeitos às mesmas disposições
contratuais),   o   segurado   aceita   cláusulas   impostas   pelo   segurador   na   apólice   impressa,   não   ocorrendo

discussão entre as partes.

 Segundo moderna doutrina (Fábio Ulhoa), o contrato de seguro   é comutativo,  uma vez que  o

prêmio nada mais é senão a fração matemática resultante da repartição do volume estatisticamente estimado

de indenizações decorrentes de danos sofridos durante certo período por uma massa de segurados (titulares

de interesses segurados homogêneos), guardando, neste compasso, perfeita equivalência com a obrigação de

garantia   que   incumbe   à   companhia   seguradora.  Para   a   concepção   tradicional,   o   seguro   é   contrato

aleatório,  uma vez que o segurador assume riscos, sem equivalência entre as prestações recíprocas, ainda

que se conheça o valor global as obrigações do segurado.

Dentre os fundamentos objetivos do contrato de seguro, merecem ser destacados a mutualidade e o

cálculo de probabilidades. A mutualidade verifica­se em razão de haver no seguro um caráter de cooperação,

onde um conjunto de diversas contribuições permite a formação de um fundo de recursos para o pagamento

futuro das indenizações. É mais fácil suportar coletivamente as conseqüências danosas dos riscos individuais

do que deixar o indivíduo só e isolado, exposto a essas conseqüências. Já o cálculo de probabilidades, ao

qual   recorre   o   segurador   para   fixar   o   prêmio   a   ser   pago   pelo   segurado,   permite   estimar,   com   grande

aproximação, o número provável de sinistros de um determinado tipo que pode ocorrer em determinada

localidade, dentro de certo prazo.

Somente entidade para tal fim legalmente autorizada pode figurar como seguradora.

 O CC  não contemplou a figura do resseguro, 
  o qual consiste na  operação pela qual um segurador

descarrega sobre outrem, mediante o pagamento de um prêmio, no todo ou em parte, os riscos de que se fez

garante  (seguro   do   seguro).   Da   mesma   forma,   não   foi   contemplada   a   retrocessão,   consistente   em   um

resseguro em segundo grau, ou seja, a operação pela qual o ressegurador transfere a outros o que exceder da

sua capacidade, o que normalmente ocorre em sede de riscos mais vultosos, que saturem a capacidade do

segurador e do ressegurador.

Como causa suspensiva da prescrição, o STJ firmou entendimento na Súmula 229 no sentido de que a

comunicação do segurado à seguradora, para receber o pagamento do seguro, em virtude da constatação do

fato que lhe deu causa, irá suspender o curso do prazo prescricional até a data da ciência, pelo segurado, da

resposta negativa da seguradora, quando o prazo voltará a correr.
 Empresa de  resseguro
    , que faz o seguro das seguradoras,
    não pode ser condenada a pagar

 diretamente   indenização   ao   segurado.   Com   esse   entendimento,   a   3ª   turma   do   STJ   suspendeu

penhora de bens do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB).

A prova da existência do contrato de seguro deve ser 
   ESCRITA: exibição da apólice ou do bilhete do

seguro, ou, na falta desses, de documento comprobatório do pagamento do respectivo prêmio.

Se o segurador não aceitar acobertar determinado risco constante da proposta de contratação, deverá,

obrigatoriamente, dar ciência deste fato ao segurado, a fim de que este se manifeste sobre a contratação, ou

não, do seguro. A ausência de manifestação por escrito no prazo de 15 dias caracterizará a aceitação tácita da

proposta.

Risco é o perigo que pode correr o objeto segurado, em conseqüência de um acontecimento futuro,

estranho à vontade das partes.

Os riscos devem ser minudentemente descritos e expressamente assumidos pelo segurador.

Consiste a apólice geral, aberta ou flutuante naquela que compreende em abstrato um seguro pactuado

que só entra em vigor quando as coisas consideradas no contrato se acham sujeitas a certos riscos.

As  apólices flutuantes, que admitem a  possibilidade de se efetuarem substituições com relação ao

objeto do seguro e às pessoas seguradas, se contrapõem às apólices simples, as quais fixam com precisão o

objeto   do   seguro,   como   ocorre,   p.   ex.,   no   contrato   incidente   sobre   a   vida   de   uma   pessoa.   Na   apólice

flutuante, o risco não se individualiza de plano, mas mediante atos sucessivos (normalmente designados

'averbações') que se incorporam ao contrato, permanecendo indefinida a quantificação do seguro e a sua

determinação temporal; ocorre, portanto, um risco variável, por oscilar o instante e o volume do risco.

A figura do co­seguro ocorre quando uma pluralidade de seguradores empresta cobertura simultânea

ao mesmo risco (seguro múltiplo). Nessa hipótese, a apólice deverá indicar a seguradora­líder, a qual assume

a administração do contrato e representa as demais para todos os efeitos, inclusive em juízo. Cada um dos

seguradores   assume   uma   porcentagem   do   risco,   e   a   ação   de   cobrança   deve   ser   movida   contra   todos,

representados pela seguradora­líder, nos respectivos limites da obrigação individual.  Não se pode falar em

responsabilidade solidária por todo o valor do contrato, salvo se houver cláusula expressa do contrato que

assim disponha, eis que a solidariedade não se presume, sendo o CC omisso a tal respeito.

Art. 762: a culpa, ainda que grave, não enseja a nulidade do contrato.
Em caso de  inadimplemento
     do segurado  no pagamento do prêmio,  não é devida a indenização por

sinistro ocorrido no intervalo de tempo que perdurar a mora.

A falta de pagamento do prêmio não autoriza o cancelamento automático do seguro, ao contrário do

que prevê aquele regulamento, ficando suspensa a exigibilidade da indenização enquanto não purgada a

mora.  A  jurisprudência  tem entendido que  é possível purgar a mora,  com o pagamento de todos os seus

consectários, inclusive os juros moratórios,  obrigando o segurador ao  pagamento de indenização por

sinistro ocorrido durante o período de mora, contanto que esta se restrinja à última parcela.

Possível purgar se a parcela em atraso for exatamente a última.

 A cláusula de  cancelamento
       automático  do contrato em razão do atraso no pagamento do prêmio tem

 sido caracterizada como   abusiva
      e  inadmissível
      pela jurisprudência, por ser incompatível com a boa­fé e

equidade, além de colocar o segurado em desvantagem exagerada, a teor do art. 51, IV, CDC.

 Prevaleceu na 2ª Seção do STJ o entendimento de que  É NECESSÁRIA A INTERPELAÇÃO DO

 SEGURADO PARA A CONSTITUIÇÃO EM MORA .   (AgRg no REsp 807974 / RS, de 22/05/2012,
 

confirmou esse entendimento)

Não pode o segurado se furtar ao pagamento do prêmio, sob a alegação de que o risco não se verificou

ou se aliviou. Porém,  se o risco não existe,  ou  na hipótese de  perecimento do objeto, de forma a que não

esteja este mais sujeito a risco, o prêmio não é devido.

A  jurisprudência do STJ  tem se inclinado por considerar que o  segurador


    não pode se eximir do

pagamento de indenização sob a alegação da omissão do segurado acerca da doença preexistente,  CASO

NÃO TENHA EXIGIDO EXAMES MÉDICOS PREVIAMENTE  à aceitação da proposta.( AgRg no

AgRg no AREsp 14594 / SP, de 07/02/2012, seguiu esse entendimento)

RECURSO ESPECIAL Nº 1.138.080 - SP


(2009/0084292-3)
RELATOR : MINISTRO JOÃO OTÁVIO DE
NORONHA
RECORRENTE : STYLLUS CAR LOCAÇÃO DE
VEÍCULOS LTDA - MICROEMPRESA
ADVOGADO : PLINIO MACHADO RIZZI E OUTRO
(S)
RECORRIDO : BRADESCO AUTO/RE COMPANHIA
DE SEGUROS
ADVOGADO : DARCIO JOSÉ DA MOTA E OUTRO
(S)
SEGURO DE VEÍCULO. MORA DE SEGURADO.
NECESSIDADE DE INTERPELAÇÃO
PRÉVIA. PAGAMENTO DA INDENIZAÇÃO.
1. O inadimplemento de parcelas do prêmio não
enseja o cancelamento
da apólice, nem a suspensão dos efeitos do contrato de
seguro, se
não foi o segurado previamente interpelado pela
seguradora a fim de
constituí-lo em mora.

Art. 766: a reticência nas declarações do segurado, por si só, não implica necessariamente a aplicação

das penas deste dispositivo, o que somente se verifica quando estas falsas declarações ou reticências possam

ser suscetíveis de induzir o segurador em erro, influindo sobre a previsão do risco ou sobre os cálculos da

taxa do prêmio a cobrar.

Art. 766, parágrafo único: parece que esta dupla opção (resolver o contrato ou adequá­lo ao seu justo

valor) somente poderá ser exercida pelo segurador caso o sinistro ainda não tenha ocorrido; se o risco já se

implementou, então tudo quanto o segurador poderá fazer é cobrar a diferença do prêmio, sendo­lhe vedado

dar por resolvido o contrato.

Seguro   à   conta   de   outrem:   hipótese   que   excepciona   o   princípio   da   relatividade   das   convenções,

pesando   o   risco   do   negócio   não   sobre   o   estipulante,   mas   sobre   interesses   de   outrem,   caso   em   que   o

contratante interfere em negócio que não afeta seu patrimônio ou sua pessoa.
Segundo teoria mais aceita, o estipulante do seguro à conta de outrem figura como um mandatário ou

gestor de negócios  em relação ao segurado, não se confundindo, portanto, com a estipulação em favor de

terceiro,   que   ocorre   freqüentemente   nos   seguros   de   vida,   hipótese   em   que   o   estipulante,   mediante   o

pagamento do prêmio, obtém do segurador a promessa de pagar a um terceiro beneficiário por ele indicado,

em virtude de um sinistro, uma importância em dinheiro. Isso se justifica na medida em que a lei não confere

ao estipulante do seguro à conta de outrem poder de exigir o cumprimento da obrigação, a substituição do

beneficiário ou a exoneração do segurador.

Art. 769: a hipótese, em verdade,  é de  resilição unilateral, ou seja, de afastamento dos efeitos do

contrato ainda não cumprido, ou não totalmente executado, pela atuação da mesma vontade que funcionou

com gênese. A resolução pressupõe ter o devedor faltado ao cumprimento de sua obrigação.

Art. 771: antes mesmo do aviso, o segurado tem a obrigação de proteger os salvados, ou seja, os

despojos da coisa segurada, tomando as medidas para tanto. Os salvados, em regra, pertencem ao segurador,

sendo levados em conta por ocasião do cálculo da taxa de prêmio.

Quando configurar um verdadeiro intermediário independente, isto é, sem nenhum vinculação com o

segurador, o corretor não será considerado um agente daquele, de maneira que o segurador não poderá ser

responsabilizado pelos atos e omissões dolosas ou culposas do corretor, o qual terá responsabilidade própria.

I – Do seguro de dano:

Parecer normativo n. 5, de 11/03/03, da SUSEP: 'fica afastada a possibilidade de se vir a celebrar

contrato de seguro por valor determinado, salvo quanto aos bens cuja natureza não permita aferição no

mercado'.

Art. 779: o segurador não está mais autorizado a suprimir esta categoria de prejuízos, exonerando­se

de arcar com as despesas correspondentes. A não ser em havendo cláusula expressa nesse sentido, não se

poderia   obrigar   o   segurador   a   indenizar   o   segurado   pelos   prejuízos   que   aquele   venha   a   sofrer   como

conseqüência mediata do sinistro, tais quais as perdas resultantes da paralisação da atividade profissional ou

comercial do segurado.

O princípio vigente no contrato de seguro é o indenitário,  fundado na regra de que o segurado não

pode lucrar com o recebimento da indenização, o que significa dizer que o segurado não pode pretender mais
do que a reposição do seu patrimônio à situação anterior à ocorrência do sinistro.

Art. 783: cláusula de rateio. O segurado pode proteger o seu interesse pela totalidade do seu valor ou

por menos do que valha, configurando­se neste último caso, o chamado subseguro. O valor declarado é o

tomado como base para a fixação do montante da indenização. Neste caso, o segurado é considerado co­

segurador da diferença e deverá participar do montante dos prejuízos proporcionalmente à sua participação

nos riscos cobertos, no caso de sinistro parcial. Já se o sinistro for total, o segurador deverá pagar 100% do

limite de cobertura, que, na espécie, não cobrirá o valor integral do interesse segurado, arcando o segurado

com a diferença. Podem as partes afastar a cláusula de rateio, de modo que o segurador ofereça cobertura por

inteiro,   no   limite   da   importância   segurada,   inclusive   no   caso   de   sinistros   parciais.   Esta   modalidade

denomina­se seguro a primeiro risco, absoluto ou relativo, na sua modalidade absoluta, o segurador fica

obrigado ao pagamento total, até o limite da importância segurada, independentemente do valor do sinistro.

Na modalidade relativa, que compreende a hipótese do art. 783, o segurador paga na proporção da perda, até

o limite da apólice.

Art.   784:   o  risco  eventual   a  ser   garantido  pelo  seguro  deve   vir   de   causa   externa,   ou,   ao  menos,

estranha ao objeto do interesse. O vício intrínseco, além de estar na coisa, de não provir de uma causa

externa, deve ser ordinário, ou seja, conhecido do proprietário. Responde o segurador se o contrato menciona

expressamente sua incidência sobre o risco decorrente do vício intrínseco, bem como se este não é a causa

única determinante do dano, mas funciona como concausa, manifestando­se concomitantemente com a causa

externa; o mesmo se verifica se o segurado o ignorava.

 
 O direito à indenização pode ser transmitido, seja  causa mortis –  em relação aos herdeiros e legatários

   quando o segurado tiver alienado a outrem o objeto segurado, a não ser que
 do segurado – seja  inter vivos, 

haja cláusula expressa proibindo essa transferência.

Art. 786: embora o dispositivo em exame preveja a sub­rogação, relativamente ao seguro de danos, o

art.   800   veda   expressamente   a   sub­rogação   nos   seguros   de   pessoa,   atendendo   à   natureza   diversa   dessa

modalidade de seguro, eis que o ofendido continua legitimado a pedir indenização contra o causador do

dano, e o recebimento de pagamento securitário, para tal fim, é irrelevante.

Art. 787; a jurisprudência do STJ tem entendido tratar­se de um seguro em benefício de terceiro, de tal

sorte   que   a   vitima   estaria   legitimada   a   pleitear   diretamente   ao   segurador   o   pagamento   de   indenização,

observadas as restrições constantes da apólice respectiva e, em qualquer hipótese, assegurada ao segurador a

faculdade de opor ao terceiros todas as exceções de que disporia relativamente ao segurado. Não obstante o

clausulado das apólices de seguro de responsabilidade civil normalmente preceitue tratar­se de um seguro de
reembolso   –   isto   é,   o   segurado   paga   e  depois   se   reembolsa   junto   ao   segurador   ­,  o   entendimento   que

propugna a legitimidade do terceiro em face do segurador  é o que se afigura francamente majoritário na

jurisprudência do STJ, sendo, ainda, o que melhor se coaduna com a função social do contrato. (Em 2012,

em   REsp   Repetitivo   a  2ª   Seção  do   STJ   decidiu   “A  Seção   firmou   o  entendimento  de   que,   em   ação   de

reparação de danos movida em face do segurado, a seguradora denunciada e a ele litisconsorciada pode ser

condenada,  direta  e  solidariamente, junto com este, a pagar a indenização devida à vítima nos limites

contratados na apólice” – informativo 490. Deve ser destacado que, no mesmo informativo, a 2ª Seção

também decidiu que, embora a seguradora responda direta e solidariamente, no pólo passivo da ação o

segurado   tem   que   estar   presente:   “A   Seção  firmou  o  entendimento   de   que   descabe   ação  do   terceiro

prejudicado ajuizada, direta e exclusivamente, em face da seguradora do apontado causador do dano,

porque, no seguro de responsabilidade civil facultativo, a obrigação da seguradora de ressarcir os

danos sofridos por terceiros pressupõe a responsabilidade civil do segurado, a qual, de regra, não

poderá ser reconhecida em demanda na qual este não interveio, sob pena de vulneração do devido

processo legal e da ampla defesa.”

Art. 787, §3º: a ciência da ação não significa denunciação da lide, a qual pode ser promovida sem

prejuízo daquela medida.

Art. 788: a obrigatoriedade é estabelecida no interesse de terceiros (vítimas do acidente ou donos das

coisas transportadas), e não do proprietário ou condutor do automóvel que causou o dano.

II – Do seguro de pessoas:

O  seguro de pessoa diferencia­se do seguro de dano  especialmente por  não desempenhar a função

indenizatória própria deste, motivo pelo qual pode ser pactuado em favor de terceiros, bem como seu valor

pode ser livremente pactuado.

Somente   os   seguros   de  vida   e   acidentes   pessoais   podem   ter   o   capital   livremente   estipulado   pelo

proponente. Despesas hospitalares ou de tratamento médico, bem como custeio de despesas de luto e funeral

do segurado, embora possam ser considerados seguros de pessoa, têm regulamentação especial.

Art. 790: o interesse pode ser tanto material, como ocorre no caso do credor, quanto de afeição, sendo

a este último que a lei especialmente atende.
O  beneficiário  designado   pelo   segurado   tem  apenas   uma   expectativa   de   direito,  podendo   ser

substituído   pelo   segurado   a   qualquer   tempo,  até   a   ocorrência   do   óbito,   salvo   os   casos   de   renúncia   do

segurado e de garantia da obrigação.

Art. 792: o benefício tratado no dispositivo ao caracteriza herança.

Art. 793: rejeitam os tribunais a admissão do benefício no caso de relações adulterinas, fazendo a

distinção entre a companheira e a concubina.

As   importâncias   decorrentes   de   seguro   de   vida   ou   de   acidentes   pessoais   são   absolutamente

impenhoráveis.

No   seguro   de   vida,   ocorrido   o   sinistro,   a   importância   segurada   é   devida   integralmente,   não

comportando redução por via de transação.

No caso de seguro de vida, há regra específica: a falta de pagamento do prêmio, nos prazos previstos e

conforme estipulado no contrato, acarreta a resolução do contrato, com a restituição da reserva já formada ou

a redução do capital garantido proporcionalmente ao prêmio pago.

No caso dos seguros coletivos, os segurados não serao prejudicados se o estipulante, responsável pelo

recolhimento   dos   prêmios,   recebendo­os   regularmente,   não   os   verter   à   sociedade   seguradora   no   prazo

devido. Neste caso, importâncias seguradas deverão ser normalmente pagas pela seguradora, que, por sua

vez, poderá lançar mão de todos os meios legais para haver os prêmios indevidamente retidos.

Art. 797, par. Único: caso venha a ocorrer o sinistro no prazo de carência, o segurador é obrigado a

devolver ao beneficiário o montante da reserva técnica já formada. A reserva técnica consiste num capital

garantidor de todas as obrigações do segurador, de conformidade com os critérios fixados pelo Conselho

Nacional   de  Seguros   Privados.   Os   bens   garantidores   da   reserva   técnica   são  registrados   na   SUSEP,   não

podendo ser alienados ou gravados sem prévia e expressa autorização dessa autarquia.

O  suicídio, para  anular  o seguro, deve ser  conscientemente deliberado, porque será igualmente um

modo de procurar o risco,  desnaturando o contrato.  Se, porém, o suicídio resultar de grave perturbação da

inteligência,   não  anulará  o  seguro.  A  morte  não  se   poderá,  nesse   caso,  considerar   voluntária;  será   uma

fatalidade;   o   indivíduo   não   a   quis,   obedeceu   a   forças   irresistíveis.  Havendo,   portanto,   fatores   externos,

alterações de saúde e psiquismo daí decorrentes, provocadores do suicídio, a seguradora não se isenta de

pagar.

Art. 798:  Embora existam decisões em sentido contrário, prevalece no STJ o seguinte entendimento: “O

biênio previsto no art. 798 do CC/02 tem como objetivo evitar infindáveis discussões judiciais a respeito da
premeditação do suicídio do segurado, geralmente ocorrido anos após a celebração do contrato de seguro.

À luz desse novo dispositivo legal, ultrapassado o prazo de 02 anos, presumir­se­á que o suicídio não foi

premeditado, mas o contrário não ocorre: se o ato foi cometido antes desse período, haverá a necessidade

de prova, pela seguradora, da premeditação”( REsp 1188091/MG, REsp 45.143/RJ). “A despeito da nova

previsão legal, estabelecida pelo art. 798 do CC/02, as súmulas 105/STF e 61/STJ permanecem aplicáveis

às hipóteses nas quais o segurado comete suicídio”(REsp 959618/RS)

Art. 799: embora possam as partes excluir determinadas causas da morte do segurado da cobertura do

seguro,   esta   exclusão   será   inválida   com   relação   às   situações   previstas   neste   artigo,   salvo   em   caso   de

transporte proibido ou esporte ilegal.

O seguro de vida ou seguro pessoal em grupo é o negócio que se estabelece entre um estipulante e a

seguradora.   Mediante   contrato,   o   estipulante   se   obriga   ao   pagamento   de   um   prêmio   global   (para   cuja

formação os segurados poderão, ou não, concorrer) e a seguradora a ressarcir pessoas pertencentes a um

grupo determinado (denominado grupo segurado), ligadas por um interesse comum e cuja relação, variável

de momento a momento, é confiada à seguradora. Entre o estipulante e o grupo segurado deve haver um

vínculo, como uma relação de emprego ou profissional, sociedade civil ou comercial, associação religiosa ou

de classe.

Art. 21, par. 2º do DL 73/66: o estipulante deve ser considerado mandatário dos segurados, salvo

cláusula expressa em contrário.

Constituição de Renda.

3. DEFINIÇÃO

Na lição de CLÓVIS BEVILÁQUA,   renda vem a ser “a série de prestações em dinheiro ou em
outros   bens,   que   uma   pessoa   recebe   de   outra,   a   quem   foi   entregue   para   esse   efeito   certo

capital”(DINIZ,2002,pg .488). Logo, a constituição de renda seria o contrato pelo qual uma pessoa

– rendeiro ou censuário – se obriga a fazer certa prestação periódica à outra – o instituidor – por um

prazo determinado, em troca de um capital que lhe é entregue e que pode consistir em bens móveis,

imóveis ou dinheiro.

Nesse contrato, A transfere a B a propriedade de um capital, por não estar seguro de que vai apurar

renda suficiente para a sua sobrevivência; B deverá, então, pagar uma renda, vitalícia ou não, ao

próprio instituidor ou a terceiro, que será o beneficiário. B se comprometerá, portanto, a efetuar

uma série de prestações periódicas, em dinheiro ou em outros bens, durante prazo certo ou incerto.

Será certo, quando o termo final for dies certus, e incerto, se relacionado a um fato certo, mas de

ocorrência incerta, como a hipótese do falecimento do beneficiário. Há uma troca de renda por um

capital.

Portanto, dois são os seus titulares: o censuário ou rendeiro, que recebe o capital com o encargo de 

pagar certa renda; é o devedor da renda e o adquirente do capital; e o censuísta ou instituidor, 

que entrega o capital e constitui renda em benefício próprio ou alheio; é o credor da renda.

O contrato pode adquirir o caráter de plurilateral, pelo desdobrar­se da pessoa do instituidor. Com 

efeito, é possível que o instituidor se proponha a transferir um capital ao censuário, a fim de 

que este pague uma renda vitalícia a terceira pessoa, que assume o nome de beneficiário.

Desse negócio, que em tudo constitui uma estipulação em favor de terceiro, surgem relações 

complexas. Para o censuário o negócio continua a ser oneroso e bilateral, porque lhe cumpre 

fornecer uma renda, em troca de um capital que adquire. Nas relações entre o instituidor e o 

beneficiário, o negócio pode ser oneroso ou gratuito, conforme este último deva, ou não, 

àquele, qualquer contraprestação. Se a estipulação foi feita sem qualquer retribuição, o 

negócio é gratuito, equiparando­se a uma doação. Caso contrário, é oneroso.

Assim é definido esse negócio pelo Novo Código Civil(lei 10.406/2002) no

art.803:  

“Art.803.   Pode   uma   pessoa,   pelo   contrato   de   constituição   de   renda,

obrigar­se para com outra a uma prestação periódica, a título gratuito”.
Complementa o  art. 804, in verbis:

“Art.804. O contrato pode ser também a título oneroso, entregando­se bens

móveis ou imóveis à pessoa que se obriga a satisfazer as prestações a favor

do credor ou de terceiros”.

Só a titulo comparativo, o Código de 1916 assim conceituava esse negócio:

  “Art.   1.424.   Mediante   ato   entre   vivos,   ou   de   última   vontade,   e   título

oneroso,   ou   gratuito,   pode   constituir­se,   por   tempo   determinado,   em

benefício próprio ou alheio, uma renda ao prestação periódica, entregando­se

certo capital, em imóveis ou dinheiro, a pessoa que se obrigue a satisfazê­

la”.

DO JOGO E APOSTA

Consiste o  jogo  no  contrato aleatório  pelo qual duas ou mais pessoas prometem certa soma  àquela

dentre as contraentes a quem for favorável certo azar. A aposta, por sua vez, é o contrato aleatório em que

duas pessoas de opinião diferente sobre qualquer assunto, concordem em perder certa soma, ou certo objeto,

em favor daquele entre os contraentes cuja opinião se verificar ser a verdadeira.

Quem ganhar o jogo ou a aposta  não poderá cobrar judicialmente a quantia ou o objeto ganho. No

entanto, não pode ser recobrada a quantia que voluntariamente se pagou em razão de jogo ou aposta, em se

tratando do cumprimento de  obrigação natural, marcada pela  soluti retentio,  consoante o art. 882 do CC,

havendo, então, um débito, desacompanhado, porém, da sua exigibilidade.

Proibidos são os jogos de azar, em que o fator sorte tem caráter absoluto ou predominante. Tolerados,

por sua vez, são os que não transpõem o limiar da ilicitude, mas nem por isso conquistam os favores da lei,

hipóteses em que o resultado não depende exclusivamente da sorte, como o bridge, a canastra, o biriba, etc.

Art.   815:   a   contaminação   da   inexigibilidade   da   obrigação   somente   se   opera   no   momento   de   ser

praticado o ato do jogo ou da aposta, porque será, então, um incentivo ao desperdício, ou poderá ser uma

exploração do estado de superexcitação em que se encontra o jogador. Contudo, as dívidas contraídas para
obter antecipadamente meios para jogar ou apostar, ou para pagar o débito resultante do jogo ou da aposta,

não se consideram de jogo, sendo, portanto, exigíveis.

CONTRATO DE FIANÇA

O patrimônio do devedor constitui a garantia geral para o cumprimento das obrigações. Ao lado dessa

garantia   geral,   também   é   possível   a   estipulação   de   garantias   especiais,   como   as   reais   e   as   pessoais   ou

fidejussórias.

A fiança é o contrato pelo qual se estabelece um tipo de garantia pessoal, em que alguém (fiador) se

obriga ao cumprimento da obrigação de terceiro (afiançado), se este faltar à sua prestação. Seu fundamento

está na fidúcia, ou seja, na confiança depositada no fiador.

Abonador: subfiança: trata­se de uma garantia oferecida por terceiro ao fiador, de pagar a dívida, se

este não o faça.

A   fiança   é   estabelecida   entre   o   fiador   e   o   credor,   sendo   que   o   afiançado,   devedor   principal   da

obrigação,   não   sendo   parte   nele,  NÃO   PRECISA   NEM   SABER   NEM   CONCORDAR   COM   SUA

EXISTÊNCIA.

Há  que se ressaltar a  necessidade da outorga do cônjuge  para a contratação da fiança. A  falta de

autorização, não suprida pelo juiz, tornará anulável o ato praticado, podendo o cônjuge pleitear a anulação

até 2 anos depois de terminada a sociedade conjugal. Trata­se de prazo decadencial.

A   falta  desse   consentimento,   segundo   entendimento   predominante   no   STJ,  acarreta   a  nulidade   da

garantia por inteiro, não se limitando à meação do cônjuge que não consentiu.  Nesse sentido estabelece a

súmula 332 do STJ: “A fiança prestada sem autorização de um dos cônjuges implica a ineficácia total da

garantia.” Em situações excepcionais, o STJ afasta a referida súmula (p. ex. REsp 1095441 / RS).

 Caráter  subsidiário
    da fiança: o cumprimento da fiança somente será devido se o devedor principal não

adimplir a obrigação que lhe cabe. A subsidiariedade da fiança, embora seja a regra, pode ser afastada por

convenção em sentido contrário que estabeleça a solidariedade entre fiador e devedor principal.

Não há fiança verbal, ainda que o contrato principal o seja, pois é da sua essência a adoção da forma

exigida pela lei, sem a qual o contrato não se forma validamente.
Em caso de dúvida, a interpretação será em favor do que presta a fiança.

Interessante questão diz respeito à possibilidade de a mesma pessoa figurar como devedor­afiançado e

fiador. O STJ já decidiu que isso é inadmissível, o que parece acertado, já que o contrário tornaria a fiança

totalmente irrelevante, contrariando sua natureza de garantia. (REsp 62198 / SP)

Art. 823: a solução adotada pelo dispositivo está em consonância com o princípio da conservação dos

contratos,   porque   não   determina   a   nulidade   da   fiança,   mas   apenas   a   desconsideração   do   excedente,

mantendo, desta forma, o pacto firmado livremente entre as partes.

Art. 824: para Pontes de Miranda, este dispositivo deve ser estendido  à questão da anulabilidade da

obrigação principal, entendendo­se a expressão 'nulas' por 'nulas' e 'anuláveis', de modo que, sendo nula a

obrigação principal, nula será a fiança; sendo aquela anulada, anulada será esta.

O   credor   não   pode   rejeitar   o   indicado   imotivadamente,   sob   pena   de   o   juiz   determinar

compulsoriamente a sua aceitação.

Segundo o STJ, o fiador reputa­se idôneo até prova em contrário, de modo que o credor é que deve

comprovar a sua inidoneidade para fundamentar a recusa.

Art. 826: se a garantia não for reforçada ou substituída, poderá o credor pedir a rescisão do contrato.

Benefício de ordem ou excussão: possibilidade que a lei confere ao fiador, devido à subsidiariedade de

sua obrigação, de exigir que a execução recaia sobre os bens do devedor, em primeiro lugar.

Se puder alegar o benefício de ordem e não o fez, trata­se de renúncia tácita, pois neste caso o fiador

não se recusou a cumprir a obrigação.

Art. 829: a solidariedade se estabelece entre os fiadores, e não entre eles e o devedor principal.

Não há solidariedade entre o fiador e seu cônjuge, apenas pelo fato de este ter concedido anuência para

atender à exigência legal, de forma que, falecendo o fiador, o cônjuge supérstite responderá até a morte do

fiador, nos moldes do estatuído no art. 836.

Art. 830: a doutrina diferencia o caso sob exame do já referido benefício de divisão (art. 829), ao

esclarecer que o que ocorre no art. 830 é uma fiança de parte da dívida, fixada por uma quantia determinada,

ao   contrário   do   que   ocorre   no   benefício   de   divisão,   onde   cada   co­fiador   será   responsável   na   mesma

proporção dos demais.

Art. 831: para que se opere a sub­rogação, o fiador deve pagar integralmente dívida, pois aquele que,
obrigado pela totalidade, paga apenas uma fração, não favorece o benefício da sub­rogação, porque ainda é

devedor.  Sem   dúvida  não   se  lhe   nega  ação   regressiva   contra   o   devedor,   por   quem   ele   pagou  qualquer

quantia;  mas essa ação compete­lhe por direito próprio, porque o devedor não pode locupletar­se com o

alheio. O que não pode é substituir o credor nos seus direitos não plenamente satisfeitos.

Não terá direito, contudo, de regresso contra o afiançado se, não informando ao devedor, este tiver

pago novamente a dívida; se tiver prestado a fiança com animuns donandi; se tiver pago sem ser demandado

(pagamento espontâneo), omitindo a informação ao devedor principal que teria uma causa extintiva a opor ao

pagamento.

Art. 834: Silvio Venosa trata o caso como hipótese de substituição processual, tendo essa intervenção

objetivo de minorar a situação do fiador.

Em   regra,   o   contrato   de   fiança   tem   tempo   determinado,   ficando   o   fiador   obrigado   pelo   prazo

contratual. Neste caso, o fiador não poderá se liberar da obrigação assumida antes do termo final, eis que já

delimitado o tempo de sua responsabilidade. Pode ocorrer a extinção da fiança por outro motivo, mas não

pela exoneração.

Art. 837: não pode o fiador recorrer às exceções pessoais do devedor para pleitear a extinção da fiança.

Não   poderá   o   devedor   opor   ao   credor   as   exceções   do   fiador;   assim   é   que   a   remissão   da   dívida

concedida ao devedor principal extingue a fiança, mas se for dada ao fiador, libera­o, sem fazer cessar a

relação fundamental.

Por moratória entende­se a espera, a concessão de prazo ao devedor, após o vencimento da dívida.

CONTRATO DE TRANSAÇÃO

Requisitos:

a. um acordo entre transatores, por se tratar de negócio bilateral (não há transação por força de lei);

a. o escopo de  evitar  uma controvérsia acerca de uma situação jurídica  ou encerrar  um processo em


curso (Na homologação da transação a sentença não aprecia o mérito do negócio jurídico de direito

material);
b. a reciprocidade das concessões;

c. o direito há de ser duvidoso, isto é, o desfecho da questão deve ser incerto.

Em   regra,   pode  transigir   aquele  que  tem   poder   de   disposição  sobre   a   situação  jurídica   objeto  da

transação.

O   princípio   da   variabilidade   das   estruturas   negociais   na   realização   de   uma   determinada   função

(translativa,   modificativa,   novativa,   etc)   deve   ser   apresentado,   portanto,   não   como   variável   arbitrária   e

subjetiva, mas como dependente da natureza e dos interesses relevantes na concreta relação, em particular

individuando as situações que estão na base dos atos de autonomia. Portanto, não se pode transigir sobre

qualquer situação jurídica, mas apenas naquelas em que se atribui o poder de sacrificá­las por meio de ato de

autonomia privada.

Em princípio, só é possível transigir sobre situações patrimoniais. Nem todas as situações patrimoniais

são suscetíveis de ser objeto de disposição pelos transatores. Excluem­se do âmbito da transação não só os

bens fora do comércio, isto é, aqueles que não podem circular, como aquelas relações jurídicas de caráter

privado que interessam diretamente à ordem pública.

Nesses   casos   (direitos   extra­patrimoniais),   a   valoração   por   parte   do   Poder   Judiciário   revela­se

imprescindível, pois a restrição aqui apontada compreendeu os direitos em si mesmos, sem exclusão dos

efeitos patrimoniais que possam gerar, de sorte que os efeitos econômicos respectivos podem ser por ela

(pela transação) abrangidos.

Pela transação não se transmitem,  apenas  se  declaram   ou reconhecem  direitos.  Parece   que,   nesse

ponto,   o   CC   não   evoluiu,   ao   invés,   manteve­se   estagnado,  muito   embora   a   doutrina   pátria,   desde   a

codificação de 16, bem como a doutrina alienígena entendam que a transação pode constituir direitos.

A   transação   é  res   inter   alios   acta,  ou   seja,   não   aproveita,   nem   prejudica,   senão   os   que   nela

intervieram.

Art. 846: prevalece a disposição deste artigo para os casos não contemplados pela lei dos Juizados

Especiais, que tem fundamento constitucional.

Questão   que   apresenta   controvérsia   na   doutrina   diz   respeito   à   necessidade   ou   não   de   cláusula

resolutória expressa quando ocorre o inadimplemento da obrigação e, por conseguinte, co­renascimento das

obrigações   anteriores   à   celebração   da   transação.  Para   Serpa   Lopes,   como   contrato   e   sem   ofensa   à   sua

natureza de força de sentença, a transação pode conter o princípio geral da cláusula resolutória tácita.
Na transação judicial, só se anula a sentença homologatória mediante a proposição de ação anulatória

prevista  no   art.   486,   CPC,   se   a  mesma   for   meramente   homologatória,   caso   contrário  será   cabível   ação

rescisória. Já a transação extrajudicial impede a reabertura da discussão acerca do objeto sobre o qual se

transigiu, enquanto não anulado o ato negocial.

CONTRATO DE COMPROMISSO

Designa­se   por   compromisso   o   ato   jurídico   pelo   qual   as   partes,   em   vez   de   recorrerem   ao   Poder

Judiciário, escolhem juízes árbitros para decidirem as suas questões.

Na dicção do art. 1º da Lei 9307/96, o compromisso arbitral somente poderá ter por objeto litígio

relativo a direitos patrimoniais disponíveis.

O  compromisso não tem o escopo de obstar o surgimento, bem como o prosseguimento dos conflitos,

através   do   sacrifício   mútuo   de   direitos,   ou   de   parte   de   direitos,   como   ocorre   na   transação.   Ele   apenas

transfere o poder de julgar, que via de regra pertence do Poder Judiciário, ao árbitro. No  compromisso não

há o menor sacrifício dos direitos das partes, as quais precisamente perante os árbitros irão sustentar os seus

próprios direitos.

O     compromisso   apresenta­se   agora   como   um   contrato   típico,   aplicando­se   a   ele   os   princípios   e

requisitos que se apõem aos contratos.

A   lei   9307/96   equiparou   a   sentença   arbitral   à   decisão   judicial,   reconhecendo­lhe   força   de   título

executivo. Deste modo, a decisão arbitral não estará mais sujeita à homologação do Poder Judiciário.

Lei 9307/96: o  compromisso arbitral judicial é aquele celebrado por termo nos autos, perante o juízo

ou tribunal em que tem curso a demanda. O   compromisso arbitral extrajudicial  é aquele celebrado por

escrito particular, assinado por 2 testemunhas ou instrumento público.

Não podem transigir/firmar   compromisso os menores, os absolutamente incapazes, bem como os

relativamente incapazes, salvo se assistidos pelos seus representantes legais e devidamente autorizados pelo

juiz.

Art.  852: os efeitos patrimoniais  do estado são disponíveis,  mas não o estado em  si. Alguns dos

direitos de família têm caráter patrimonial. Há, atualmente, duas categorias de direitos de família: os direitos

patrimoniais de família, que podem ser objeto de contrato e se submetem ao arbítrio da autonomia privada,
fazendo com que as lides relacionadas a eles possam ser solucionadas por via do  compromisso; e também os

direitos   pessoais   de   família,   cujas   pendências   não   são   dirimíveis   pelo     compromisso,   por   se   revelarem

indisponíveis   em   virtude   da   defesa   da   família,   principalmente   pelo   que   ela   representa   para   o

desenvolvimento completo da pessoa humana.

Lei   9307/96:   cláusula   compromissória   é   a   convenção   através   da   qual   as   partes   em   um   contrato

comprometem­se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir, relativamente a tal contrato.

Compromisso arbitral é a convenção através da qual as partes submetem um litígio à arbitragem de uma ou

mais pessoas, podendo ser judicial ou extrajudicial.

A cláusula compromissória é a convenção que vincula plenamente os contratantes à instituição futura

de arbitragem na hipótese de controvérsia que venha a surgir, enquanto o compromisso arbitral designa o

contrato que institui a arbitragem quando já existe um litígio.

A arbitragem poderá basear­se em regras de direito ou apenas na equidade, a critério das partes.

O Poder Judiciário é competente para o exame da existência, validade e eficácia da convenção de

arbitragem.   A   melhor   doutrina   brasileira   já   negava   caráter   absoluto   do   chamado   princípio   do

kompetenz/kompetenz, entendendo que a competência dos Tribunais arbitrais não exclui o exame preliminar

judicial de existência e validade da cláusula compromissória.

O CDC veda a instauração compulsória de arbitragem, mas não exclui a hipótese em que o próprio

consumidor toma a iniciativa de instituir o procedimento arbitral, nos termos da Lei 9307/96”. [Tepedino]

Atos unilaterais: promessa de recompensa; gestão de negócio; pagamento indevido; enriquecimento

sem causa.

1) ATOS UNILATERAIS:

As declarações unilaterais da vontade constituem fontes de obrigações, juntamente com os contratos

e os atos ilícitos.

No CC/02, são considerados atos unilaterais:
 Promessa de Recompensa

 Gestão de Negócios

 Pagamento Indevido

 Enriquecimento Sem Causa

2) PROMESSA DE RECOMPENSA

Uma   vez   emitida   a   promessa,   dirigida   a   pessoa   indeterminada,   o   promitente   fica   vinculado

obrigacionalmente, se não revogá­la com a mesma publicidade com que a fez.

Exemplo: a oferta, veiculada em jornal, de recompensa a quem encontrar determinado objeto. O

cumprimento da promessa de recompensa é obrigatório.

Na teoria geral dos negócios jurídicos, ao lado dos bilaterais, dos quais o contrato é o exemplo mais

marcante,   despontam   os   negócios   unilaterais.   O   negócio   jurídico   unilateral   caracteriza­se   pela   tão­só

manifestação do promitente, independentemente do consentimento da outra parte. Tipifica­se alguém como

credor da recompensa quando realiza o ato anunciado. O fato de terceiro adimplir a promessa não transforma

o negócio em contrato.

Requisitos de validade: a) promitente capaz; b) publicidade; c) objeto lícito.

Conteúdo:

Para que se configure a promessa de recompensa, há de estar ausente a concordância de outrem. Se

alguém, por exemplo, promete pagar R$ 1.000 a outrem se encontrar seu cão perdido e este aceita e se

compromete a procurá­lo, existe contrato e não promessa unilateral.

A promessa é dirigida aos interessados, mas não se lhe exige a recepção. O fato de o anúncio não ter

sido lido ou ouvido não suprime a publicidade inerente do ato. O negócio unilateral opera mesmo se uma só

pessoa tomou conhecimento do anúncio.

A promessa de recompensa não necessita obrigatoriamente de ser dirigida ao público ou a número

indeterminado de pessoas, como aparentemente se referem os art. 854 e 855, mas se pode se restringir a
determinadas pessoas (ex: uma turma de alunos). “O número mínimo para que a promessa seja ao público é

de dois; o máximo, a humanidade.” (Pontes de Miranda).

Não   importa   o   interesse   do   executor   no   momento   de   perfazer   a   conduta   ou   até   mesmo   seu

desconhecimento da promessa de recompensa. Terá sempre direito a esta, nessas condições. Ademais, o fato

de terceiro adimplir a promessa não transforma o negócio em contrato.

O objeto da promessa deve ser determinado, ex: achar coisas perdidas; descobrir o autor do crime,

etc.

Capacidade do promitente:

É necessário que o promitente seja capaz.

Porém, não se faz necessária a capacidade do executante para fazer jus ao prometido. O incapaz faz

jus à recompensa. Porém, não podendo dar quitação válida, o fará por intermédio de quem o represente. Esse

aspecto enfatiza o caráter unilateral do instituto.

Interesse do executor:

Não   importa   averiguar   o  interesse   do  executor   ou   de   seu  conhecimento   da   promessa.   Assim,   a

obrigação é exigível mesmo que o executor desconheça a promessa. Se não deseja receber, opera renúncia.

Ademais, o fato de terceiro adimplir a promessa não transforma o negócio em contrato.

Prêmio ou Recompensa: Exigibilidade

O prêmio ou recompensa pode ser em dinheiro ou dar coisa diversa de dinheiro. Pode também ser

uma atividade positiva ou negativa (obrigação de fazer ou não fazer).

O executante possui ação de cobrança contra o promitente.

Legitimado para o prêmio será o primeiro executante. Se a perfizerem simultaneamente, divide­se

por todos em quinhões iguais. Se a recompensa for indivisível, conferir­se­á por sorteio.

Se forem vários os executantes e não souber o recompensador a quem pagar, deve consignar em

pagamento.
Revogação:

A   supressão   da   oferta   é   admitida,   mas   só   surtirá   efeitos   se   feita   com   a   mesma   publicidade   do

anúncio.

Porém, se já operada a tarefa, houve implemento da promessa, sendo ineficaz a revogação. Enquanto

não praticada a ação, é possível a desistência, desde chegue ao conhecimento dos interessados.

Quando o promitente estipula prazo, entende­se que renunciou ao direito potestativo de retirar a

oferta, dentro daquele prazo.

O candidato de boa­fé, que houver feito despesas, terá direito a reembolso.

Concurso:

Para Silvio Venosa, o concurso não tem a mesma natureza da promessa de recompensa, embora o

CC a considere uma variedade desta. Naquele, vários sujeitos se propõem a realizar conduta ou demonstrar

qualidades, tendo em mira um prêmio que se promete ao melhor. Nesse sentido, o concurso pode ser de

melhor canto, execução musical, arte plástica, etc. Diferentemente da promessa de recompensa, o concurso

pressupõe grupo de pessoas interessadas em participar da seleção e na um número indeterminado e incerto de

pessoas. Na promessa de recompensa, só quando duas ou mais pessoas cumprem a tarefa haverá pluralidade.

No   concurso,   a   pluralidade  de  concorrentes   é   de   sua   natureza.   Realiza­se,   ordinariamente,   por   meio  de

provas, competições, exibições e mostras.

Já Carlos Roberto Gonçalves qualifica o concurso com promessa pública de recompensa.

3) GESTÃO DE NEGÓCIOS

Dá­se   a   gestão   de   negócios   quando   uma   pessoa,  sem   autorização   do   interessado,   intervém   na

administração de negócio alheio, dirigindo­o segundo o interesse e a vontade de seu dono.

Segundo Venosa, modernamente, sua utilidade  é restrita, por exemplo:  o vizinho passa a zelar e

manter a casa de quem se ausentou, sem deixar notícia, paga­lhe as contas, conserva­se o jardim, alimenta

o   animal   de   estimação,   exerce   vigilância.  O  empregado,   sem   que   tenha   poderes   para   tal,  assume   a

direção   da   empresa   do   patrão   que   desapareceu   repentinamente   sem   deixar   notícia,   exerce   a
administração; compra e vende, paga os empregados e encargos sociais, etc.

Conceito:

Trata­se de intervenção em negócio alheio, sem autorização do titular, no interesse e de acordo com

a vontade presumida deste. Cuida­se de fonte unilateral de obrigações, mas é evidente a sua proximidade

com o mandato, embora não possa ser qualificada como contrato.

Negócio alheio = qualquer atividade em prol da vontade presumida do dono do negócio que se dê origem a

obrigações,   sejam   meramente   materiais,   sejam   atos   ou   negócios   jurídicos.   Inclui   qualquer   conduta   em

benefício e na preservação do patrimônio de outrem.

Gestor de negócios –é aquele que intervém.

Dono do negócio – é o respectivo titular.

A   característica   mais   marcante   da   gestão   de   negócios   é   a   vinculação   do   dono   do   negócio   sem

concorrência de sua vontade. Por essa razão, afasta­lhe o conceito de contrato.

Na gestão de negócios, existe uma conduta unilateral do agente que apresenta reflexos patrimoniais

em relação ao dono do negócio. Assim, a gestão de negócio não pode ser qualificada como: representação

sem mandato, ato anulável sujeito à confirmação, ato condicional, estipulação em favor de terceiros, etc.

Natureza jurídica:

No Direito Romano: quase­contrato, devido à falta de acordo de vontades.

CC/16 ­ incluía a gestão de negócios no rol dos contratos nominados.

CC/02 ­ a inseriu, mais adequadamente, no título concernente aos atos unilaterais.

Pressupostos da gestão de negócio:

 tratar­se de negócio alheio;
 falta de autorização do dono;

 atuação do gestor no interesse e vontade presumida do dominus ­ se a gestão for iniciada contra a

vontade  do interessado,  responderá o gestor pelo fortuito, não provando que teria sobrevindo de

qualquer modo.

 limita a atos de natureza patrimonial;

 intervenção motivada por necessidade ou pela utilidade, com a intenção de trazer proveito para o

dono (ex: o despachante que recolhe imposto por cliente de outro negócio

O gestor não interfere objetivando lucro.

Não haverá gestão de negócio alheio se o agente intervém em negócio próprio. No entanto, se os

negócios do gestor estiverem relacionados com os do dono (negócios conexos), estará o gestor agindo na

proteção de interesse próprio, embora envolvendo também do de terceiro. A situação é regulada pelos

princípios de sociedade, considerando­se o gestor sócio daquele, cujos interesses agenciar de envolta com

os seus.

A atitude do gestor deve ser livre de qualquer ingerência de vontade do dono do negócio, porque isso

caracterizaria o mandato, vinculo contratual. Todavia, o gestor não tem como praticar atos que exijam

poderes específicos, nem aqueles que são personalíssimos.

Embora a gestão de negócio se assemelhe ao mandato tácito, deste se distingue pela inexistência de

prévia avença,  por  ser  sempre  gratuito  e  depender  de  ratificação  (aprovação,  pelo  dono  do  negócio,  do

comportamento do gestor).

A ratificação pode ser expressa ou tácita.

A ratificação pura e simples do dono do negócio retroage ao dia do começo da gestão e produz todos

os efeitos do mandato.
 Obrigações do  GESTOR
   :

 comunicar a gestão ao dono do negócio, aguardando­lhe a resposta, se da espera não resultar perigo;

 envidar, nesse mister, a sua diligência  habitual,  ressarcindo  ao dono todo o prejuízo decorrente de

qualquer culpa na gestão;

 não promover operações arriscadas,  ainda que o dono costumasse fazê­las, nem preterir interesses

deste, em proveito de interesses seus, sob pena de responder pelo caso fortuito.

Obrigações do dono do negócio:

 indenizar o gestor das despesas necessárias e dos prejuízos que houver sofrido;

 cumprir   as   obrigações   contraídas  em   seu   nome,  REEMBOLSANDO   AO   GESTOR   AS

DESPESAS   NECESSÁRIAS   OU   ÚTEIS,   QUANDO   A   GESTÃO   FOR   ÚTIL   OU

NECESSÁRIA

­  gestão   útil   ­  o   negócio   for  utilmente  administrado,   devendo   a   utilidade   ser

apreciada não pelo resultado obtido, mas segundo as circunstâncias da ocasião em que se fizerem.

­  gestão necessária­  se a gestão foi realizada para acudir prejuízos iminentes ou

redundar em proveito do dono do negócio ou da coisa

 reembolsar, quando obrigado legalmente a fornecer alimentos a alguém e estiver ausente, ao gestor

que prestá­los, ainda que não tenha ratificado o ato, bem como as despesas do enterro feitas por

terceiros.

4) PAGAMENTO INDEVIDO

Noção geral:

O pagamento indevido constitui um dos modos de enriquecimento sem causa.

O   CC/02  coloca   o   pagamento  indevido  e   o  enriquecimento  sem   causa   entre   os   atos   unilaterais

geradores de obrigações A ideia central é de reequilíbrio patrimonial.
O pagamento indevido é fonte autônoma de obrigação, qualificada como ato unilateral.

Conceito:

É o pagamento efetuado com a intenção de cumprir (animo solvendi) uma obrigação inexistente em

conseqüência de erro.

Do pagamento indevido, surge uma obrigação imposta por lei ao accipiens, que se extinguirá com a

restituição do indevido.

Apesar   de   o   pagamento   ser   forma   de   extinção   de   obrigações,   o   pagamento   indevido   produz

exatamente o inverso, isto  é, titulariza o  solvens  para a ação de repetição, criando uma nova obrigação

(obrigação de restituir).

Situações de pagamento indevido – há obrigação de restituir:

Todo aquele que recebeu o que lhe não era devido fica obrigado a restituir.

Aquele que recebe dívida condicional antes de cumprida a condição fica obrigado a restituir.

Todavia,  não será  obrigado a restituir  aquele  que  recebeu  antes  do termo,  pois  pode  o  devedor

renunciar   a   ele   e   pagar   a   dívida   antes   do   vencimento,   sem   poder   alegar   que   o   credor   enriqueceu

indevidamente.

Se o pagamento indevido tiver constituído no desempenho de obrigação de fazer ou de não fazer,

aquele que recebeu a prestação fica na obrigação de indenizar o que cumpriu, na medida do lucro obtido.

Pressupostos do pagamento indevido:

Para a existência de um pagamento, pressupõe­se: a existência de uma obrigação, a intenção de

pagar, a possibilidade do cumprimento dessa obrigação, a existência de quem paga (o solvens) e  existência

de quem recebe (o accipiens).

Para que ocorra o pagamento indevido, é necessário, inicialmente, o pagamento, o animus solvendi;

em segundo lugar, a inexistência do débito ou o pagamento dirigido a pessoa que não o credor. Além disso, é

preciso que tenha ocorrido erro por parte do solvens.
O direito de repetir o que se pagou emerge do fato de não existir débito a ser pago, ou, havendo,

débito a ser pago, deveria o pagamento ser dirigido a outra pessoa.

No pagamento indevido é ínsita a noção de intenção de cumprir uma obrigação que não existe, em

conseqüência de erro. Desse modo, se o solvens paga, sabendo que não deve, mas, conscientemente, porque

quer fazê­lo, não tem direito à repetição, pois estará fazendo uma liberalidade.

Constitui   requisito   da   ação   de   repetição   de   indébito   que   o   pagamento   tenha   sido  efetuado

voluntariamente e por erro..

Quando se tratar de pagamento de tributo, não se exige a prova do erro, contentando­se com a prova

de sua ilegalidade ou inconstitucionalidade.

Há duas espécies de pagamentos indevidos:

   indébito   objetivo  (o   erro   diz   respeito   à   existência   e   extensão   da   obrigação).

indébito subjetivo (o erro diz respeito a quem paga ou a quem recebe).

O erro, em exame, pode ser tanto de fato como de direito. Ademais, o erro pode ser escusável ou

inescusável (tanto faz), haverá direito de repetição em ambos os casos (aqui, não se exige a qualificação do

erro como escusável para dar ensejo ao direito de repetição). Veja que o erro, aqui, se situa no plano da

execução da obrigação e não no plano de sua formação (como o erro como vício do consentimento na

formação do contrato).

O erro do  accipiens  não figura como pressuposto para caracterização do pagamento indevido, que

tem como conseqüência o dever de restituição. No entanto, haverá repetição com perdas e danos se este agiu

de má­fé. Se agiu com erro também, embora tenha o dever de restituir, ficará afastada a má­fé.

Accipiens de boa­fé e de má­fé:

Aquele que recebe de boa­fé pagamento indevido, é obrigado a restituí­lo, sendo equiparado ao

possuidor de boa­fé, fazendo jus aos frutos da coisa recebida, às benfeitorias necessárias e úteis, ao direito de

retenção. Se de má­fé, não tem direito aos frutos e será ressarcido só pelas benfeitorias necessárias, sem

poder valer­se do recurso da retenção.
Recebimento indevido que teve por objeto um imóvel:

O fato de o pagamento indevido referir­se a um imóvel não altera o direito de repetição. Todavia,

pode ser que o imóvel dado em pagamento já não mais se encontre no domínio do accipiens. Dentre essas

situações, há casos em que o solvens terá direito à reivindicar do bem.

Em síntese, temos que se o pagamento indevido tem por objeto bem imóvel, o proprietário, provado

o erro, terá direito à reivindicação:

 se o bem ainda se encontra em poder do accipiens;

 se o accipiens o alienou a título gratuito (nesse caso independe da boa­fé/má­fé do

terceiro adquirente, ele perderá o imóvel para o proprietário);

 se o accipiens o  alienou a título oneroso  e o  terceiro adquirente agiu de má­fé.

Veja   que   se   o   terceiro   agiu   de   boa­fé,   independentemente   de   o   accipiens   ter   recebido   o

pagamento de má­fé ou boa­fé, incabível será a reivindicação da coisa imóvel. Nessa hipótese,

o legislador visou proteger e dar estabilidade às relações jurídicas, dando valor à aparência,

de modo a não prejudicar o terceiro de boa­fé. Restará ao solvens exigir indenização pelo

valor   do   bem,   cumulado   com   perdas   e   danos,   conforme   tenha   ocorrido   ou   não   má­fe   do

accipiens. De outro lado, se o terceiro é sabedor do pagamento indevido, têm ciência de que

adquire a non domino, o direito à reivindicação não desaparece.  

Pagamento indevido sem direito à repetição:

a) Dívida prescrita e obrigação natural

Art. 882. Não se pode repetir o que se pagou para  solver dívida prescrita, ou cumprir  obrigação

judicialmente inexigível.
Quem paga obrigação natural, judicialmente inexigível, como dívida de jogo e a dívida prescrita,
cumpre um dever moral.

b) Pagamento para fim ilícito, imoral ou proibido por lei

Art. 883. Não terá direito à repetição aquele que deu alguma coisa para obter fim ilícito, imoral, ou

proibido por lei.

Parágrafo único. No caso deste artigo, o que se deu reverterá em favor de estabelecimento local de

beneficência, a critério do juiz.

Isso decorre do fato de que não há direito à repetição quando duas partes se associam em causa
torpe e a ninguém é dado alegar a própria torpeza. Como conseqüência, o pagamento feito se
reverterá em favor de entidade beneficente.

c) Outra hipótese de não­repetição:

Art. 880. Fica isento de restituir pagamento indevido aquele que,  recebendo­o como parte de dívida

verdadeira,   inutilizou   o   título,  deixou   prescrever   a   pretensão  ou  abriu   mão   das   garantias   que

asseguravam seu direito; mas aquele que pagou dispõe de ação regressiva contra o verdadeiro devedor

e seu fiador.

Pagamento indevido no CDC (art. 42, parágrafo único):

O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição do indébito, por valor igual ao

dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de dano

justificável.

5) ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA

É natural (e lícito) que, em certas situações, uma parte se enriqueça (sofra um aumento matrimonial)

em detrimento de outra, por exemplo, num contrato de doação, o doador sofre uma diminuição em seu
patrimônio em contrapartida o donatário experimenta um aumento patrimonial.

Todavia, pode ocorrer que esse enriquecimento opere­se sem fundamento, sem causa jurídica, por

exemplo, quando alguém efetua um pagamento de dívida inexistente ou constrói sobre terreno de outrem.

Tais   situações   configuram   enriquecimento   sem   causa.   Em   síntese,   a   ninguém   é   licito   aumentar   seu

patrimônio sem causa jurídica, à custa de outrem.

Assim,   existe   enriquecimento   injusto   (ou   sem   causa)   quando   houver   uma   vantagem   de   cunho

econômico, sem justa causa, em detrimento de outrem. Um patrimônio aumenta em detrimento de outro, sem

causa jurídica.

Enriquecimento sem causa como fonte de obrigação:

Para a existência da obrigação, há um mínimo necessário: um devedor, um credor e um vínculo

jurídico ligando os dois sujeitos. O objeto da obrigação é a prestação. Para o surgimento desse vínculo

(liame) há necessidade da existência de um fato, ato ou negócio jurídico, os quais são denominados de fontes

das obrigações. Existem três fontes das obrigações: os contratos, a declaração unilateral e o ato ilícito.

O   nosso   atual   CC   coloca   o   enriquecimento   sem   causa   entre   os   atos   unilaterais   geradores   de

obrigações. Trata­se, portanto, de fonte autônoma de obrigação, como ato unilateral

Fundamento da obrigação surgida com enriquecimento sem causa:  princípio da eqüidade.

Tratamento da matéria no Direito Romano:  O princípio que veda o enriquecimento sem causa já era

conhecido do direito romano. As ações destinadas a evitar o locupletamento de coisa alheia, sem causa

jurídica,   recebiam   o   nome   genérico   de  condictiones.   As   condictiones   eram   utilizadas   para   combater

situações injustas, não amparadas por lei, entre elas o enriquecimento indevido.

Tratamento da matéria no Direito Brasileiro:

São várias as ações que têm a finalidade de ressarcimento pelo enriquecimento sem causa no sentido

amplo: ação de repetição de indébito (em caso de pagamento indevido), ação de locupletamento ilícito (para

cobrança de cheque prescrito, representativo de um empréstimo não pago), ação de indenização, etc. Todas

elas constituem espécies do gênero das ações in rem verso.

O CC/16 acolhia o princípio da vedação ao enriquecimento sem causa, não por meio de um capítulo

específico a ele destinado, mas em dispositivos esparsos destinados a afastar o locupletamento de alguém às

custas de outrem. Ademais é preciso frisar que a ação de enriquecimento sem causa deve ser subsidiária,
emergindo   apenas   na   ausência   de   outra   tutela   jurisdicional.   Em   razão   disso,   há   quem   defenda   que   foi

intencional a omissão de um princípio geral do enriquecimento sem causa no CC/16.

O CC/02, por sua vez, dedicou­lhe capítulo específico.

Pressupostos da ação de "in rem verso":

 enriquecimento   do   accipiens   (quem   recebe   ou   lucra)   –   aumento   do   patrimônio   ou   diminuição

evitada;

 empobrecimento do solvens (quem ) = perda que seja apreciável economicamente;

 relação de causalidade ­ o empobrecimento e o enriquecimento são resultantes de um mesmo fato.

 ausência de causa jurídica (contrato ou lei)  ­ configura­se o locupletameto ilícito quando inexiste

contrato ou lei a justificar o proveito de uma dos sujeitos da relação jurídica em detrimento do outro.

A restituição é devida também se a causa jurídica deixou de existir.

 inexistência de ação específica. Não caberá a restituição por enriquecimento, se a lei conferir ao

lesado outros meios para se ressarcir do prejuízo sofrido. Tem a ação de  in rem  verso  caráter

subsidiário.

A   ação  in   rem   verso  objetiva   tão   somente   reequilibrar   dois   patrimônios,   desequilibrados   sem

fundamento   jurídico.   Para   a   utilização   da   denomina   ação   in   rem   verso,   não   deve   existir   uma   ação   de

indenização específica (subsidiariedade).

O CC/02 estabeleceu um prazo de 3 anos para a pretensão do ressarcimento de enriquecimento sem

causa (art. 206, §3º, IV).

Não   se   deve   confundir   aquilo   que   se   concede   a   título   de   ressarcimento   injustificado,   com   a

indenização decorrente de responsabilidade contratual ou aquiliana.

Objeto da restituição: a restituição deve ficar entre dois parâmetros. Não pode ultrapassar o enriquecimento

efetivo recebido pelo beneficiado em detrimento do prejudicado, nem pode ultrapassar o empobrecimento do

prejudicado.
2.6. Direito Civil 

2.6.1. Classificação Dos Contratos. Compromisso. 

2.6.1.1. Questões do TRF1 

1) Diferencie cláusula compromissória e compromisso? 

Resposta: 

O compromisso é uma espécie de contrato cujo regramento encontra­se nos artigos 851 

a 853 do Código Civil. Sua definição encontra­se no artigo 851: ―É admitido compro­ 

164 

misso, judicial ou extrajudicial, para resolver litígios entre pessoas que podem contra­

tar‖. Quando extrajudicial, o contrato de compromisso pode assumir a forma de cláusula 

compromissória ou compromisso arbitral. Segundo o artigo 4º da Lei nº 9.037/96, ―a 

cláusula compromissória é a convenção através da qual as partes em um contrato com­

prometem­se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir relativamente a 

tal contrato‖. A cláusula compromissória, pois, volta­se para litígios futuros e eventuais, 

ou seja, ainda não verificados, ponto que a difere do compromisso arbitral, que é um 

acordo de vontades, de igual teor, só que firmado após o surgimento do conflito de inte­

resses. 

2) O que seria um contrato desinteressado? E um que fosse gratuito não seria não interessa­

do? Doação Pura. O que ocorre na doação pura? Enriquecimento de um lado e um sacrifício do 

outro. 

Resposta: 
Caio Mário da Silva Pereira leciona: ―Encarados quanto ao objeto perseguido pelas par­

tes, os contratos são: Onerosos, aqueles dos quais ambas as partes visam a obter vanta­

gens  ou benefícios, impondo­se  encargos  reciprocamente em benefício uma da outra. 

Gratuitos  ou benéficos, aqueles dos quais somente  uma aufere a vantagem, e a outra 

suporta, só ela, o encargo. Há quem distinga os contratos gratuitos propriamente ditos, 

ou pura liberalidade, dos contratos desinteressados, com a observação de que, naque­

les, há diminuição patrimonial de uma das partes em proveito da outra (como na doa­

ção), enquanto que nos outros um dos contratantes presta um serviço ao outro sem nada 

receber em troca da prestação feita ou prometida, porém sem empobrecer­se, ou sem 

sofrer diminuição no seu patrimônio.‖ Sob este viés, o contrato não interessado ape­

nas pode ser considerado gratuito em sentido amplo, jamais em sentido estrito. A doa­

ção pura, ou seja, sem encargo, é contrato gratuito propriamente dito ­ exemplo, inclusi­

ve, utilizado pelo mencionado autor. 

2.6.1.2. Questões do TRF2 

1) O contrato de Seguro é pluricontratual? 

Resposta: 

Maria Helena Diniz leciona: “Toda convenção, em sua formação, é bilateral ou plurila­

teral, por existirem sempre duas ou mais vontades coincidentes”. O contrato de seguro 

nos parece bilateral (seguradora e segurado), e não pluricontratual. 

2) Pode nesse contrato ocorrer a hipótese de união de contratos?  

165 

 
Resposta: 

Parece­nos possível. Ex: união entre o contrato de compra e venda de um carro e o con­

trato de seguro desse mesmo carro. 

3) Fiança é um contrato multilateral? Este contrato é bilateral perfeito ou imperfeito? Aplica­se 

união de contratos? 

Resposta: 

Maria Helena Diniz leciona: ―Toda convenção, em sua formação, é bilateral ou plurila­

teral, por existirem sempre duas ou mais vontades coincidentes‖. Em relação ao contrato 

de fiança, diz: ―É um negócio entabulado entre credor e fiador, prescindindo da presen­

ça do devedor, podendo até mesmo ser levado a efeito sem o seu consentimento ou con­

tra sua vontade (CC, art. 820). O devedor não é parte na relação jurídica fidejussória.‖ 

Assim, como o devedor não é parte na formação do contrato, conclui­se que a fiança é, 

em sua formação, um contrato bilateral, e não multilateral. Quanto aos seus efeitos, o 

contrato de fiança é, sem dúvida, unilateral (gera obrigação apenas para o fiador), razão 

pela qual não pode ser considerado bilateral perfeito. Pablo Stolze diz: ―Há quem de­

fenda a existência de um tertium genius entre a unilateralidade e a bilateralidade dos 

efeitos do contrato. Seria a figura do contrato bilateral imperfeito, o qual, na sua origem, 

seria  unilateral,  mas,  durante  a  sua  execução,  converter­se­ia  em  bilateral‖.  Não  nos 

parece  possível  que,  durante  a  sua  execução,  a  fiança  gere  encargos  patrimoniais  ao 

credor, razão pela qual deixamos de considerá­la um contrato bilateral imperfeito. Há, 

ao nosso sentir, união de contratos: entre o contrato de fiança e o contrato afiançado. 

2.6.1.3. Questões do TRF3 
 

2.6.1.4. Questões do TRF4 

2.6.1.5. Questões do TRF5

3.6. Direito Civil 

3.6.1. Validade e Invalidade dos Contratos. Contratos Fiduciários e Indiretos 

3.6.1.1. Questões do TRF1 

1) O que é  uma propriedade fiduciária? Dê­me um exemplo. Como se dar a alienação fiduciá­

ria de automóvel? É a regra? Como se adquire a propriedade móvel? Tradição. E porque não 

pode se transferir o automóvel apenas por simples tradição? 

Resposta: 

2) Na alienação fiduciária o que representa o chamado excesso de meio? Se pratica um contra­

to objetivo menor que é apenas a alienação em garantia. 

Resposta: 

3.6.1.2. Questões do TRF2 

1) O contrato de fiança é plurilateral? 

Resposta: 

DESSE PONTO EM DIANTE: RESPOSTAS ELABORADAS POR EMANUEL JO­

SÉ MATIAS GUERRA 

2) O contrato de fiança pode ser caracterizado como união de contratos? 
Resposta:  

204 

Entende­se como união de contratos a circunstância em que dois ou mais ajustes estão 

ligados funcionalmente entre si, ainda que não haja necessariamente relação de ―acessó­

rio X principal‖.  Assim, pela própria configuração do contrato de fiança, em que uma 

pessoa garante ao credor o cumprimento de uma obrigação assumida por outra pessoa (o 

STJ não aceita a ―autofiança‖), pode­se incluí­lo no conceito de união de contratos. 

3.6.1.3. Questões do TRF3 

1) Qual a diferença entre confirmação, convalidação e ratificação? 

Resposta: 

Embora haja bastante controvérsia doutrinária sobre o alcance dos conceitos, entende­

se, em geral, que a convalidação é o ato jurídico que com efeitos retroativos sana vício 

de ato antecedente de tal modo que ele passa a ser considerado como válido desde o seu 

nascimento. 

A ratificação seria uma de suas modalidades, realizada pela mesma pessoa que praticou 

o  ato  a  ser  ratificado,  ao  passo  em  que  a  confirmação  é  realizada  por  outra  pessoa 

(quando no Direito Administrativo, é autoridade superior). 

2) Qual a diferença entre silêncio, vontade tácita e vontade presumida? 

Resposta: 

Embora haja divergência na doutrina acerca do real alcance dos termos, pode­se dizer  

que o silêncio é a ausência completa de manifestação de vontade, que somente produz 

efeitos na medida em que estes sejam reconhecidos pela lei. 
A vontade tácita, por sua vez, ocorre em situações nas quais há manifestação de vonta­

de, mas esta não se dá pela forma escrita, embora se possa efetivamente perceber a real 

intenção do agente. É o caso, por exemplo, do agente que cumpre um contrato mesmo 

sabendo que sobre ele pende vício de anulabilidade, razão pela qual manifesta sua tácita 

vontade de não questionar a validade da avença. 

Já a vontade presumida, conceito bastante próximo do anterior, representa situação em 

que a lei atribui a determinado comportamento um específico significado de um decla­

ração de vontade negocial. É o caso da devolução da coisa empenhada, que presume a 

remissão do penhor. 

    

3) Há produção de efeitos em negócio inexistente e negócio inválido? 

Resposta: 

Há clássica afirmação no sentido de que os atos inválidos são aptos à produção de efei­

tos, enquanto não desconstituídos, ao passo em que os atos inexistentes jamais podem  

205 

produzir efeitos, já que sequer reúnem os requisitos de existência dos atos jurídicos em 

geral, razão pela qual prescindiriam até mesmo de declaração judicial de sua inexistên­

cia. 

Na prática, entretanto, é possível que haja produção de efeitos em atos inexistentes, até 

que sobrevenha manifestação judicial em contrário. Exemplo conhecido dos tribunais 

federais é o caso do aposentado do INSS que tem valores descontados em seu benefício 

por suposto contrato de empréstimo consignado com instituição financeira; o contrato 

não  existe, mas  até  que  haja  determinação  judicial  em  contrário,  haverá  produção  de 
efeitos; se o desconto dos valores não for percebido pelo aposentado, o contrato inexis­

tente produzirá todos os seus efeitos e o ―pagamento‖ será integralmente realizado. 

3.6.1.4. Questões do TRF4 

3.6.1.5. Questões do TRF5 

309 

5.6. Direito Civil 

5.6.1. Compra E Venda. Pactos Adjetos. Compromisso De Compra E Venda 

5.6.1.1. Questões do TRF1 

1) O que se entende por venda ad mensuram? Qual a casuística disto? 

Resposta: 

A venda ad mensuram é aquela em que as partes estipulam o preço do bem imóvel obje­

to da compra e venda por medida de extensão, hipótese em que a medida passa a ser 

condição essencial ao contrato efetivado. Neste caso, a medida do imóvel não é sim­

plesmente enunciativa como ocorre na venda ad corpus, onde um imóvel é vendido co­

mo corpo certo  e  determinado, independentemente das  medidas especificadas no ins­

trumento.  

No caso de venda por extensão, admite­se uma variação de área de até 5%, existindo uma 

resunção  relativa  de  que  tal  variação  é  tolerável  pelo  comprador.  Mas,  este  pode  provar  o 

contrário, requerendo a aplicação das regras do vício redibitório especial.  

Assim, havendo variação superior ao tolerável, o comprador prejudicado poderá exigir: 

i) a complementação da área por meio da ação ex empto; ii) o abatimento proporcional 
do preço por meio da ação quanti minoris; iii) a resolução do contrato, com a devolução 

do  que  foi pago  (ação  redibitória).  Havendo má­fé  por  parte  do  alienante,  este  induz 

culpa, podendo o comprador requerer perdas e danos que o caso concreto indicar.  

Questionamento importante é saber se a ordem apresentada deve ser seguida ou é facu­

dade do comprador escolher que ação ajuizar. Deve­se aplicar o princípio da conserva­

ção contratual, que mantém relação com a função social (Enunciado 22 do CJF). 

Se, em vez de faltar área, houver excesso, o vendedor ajuizará ação na qual deve provar 

que possuía motivos justos para ignorar a medida da área. O comprador, então, terá duas 

opções: i) completar o valor correspondente ao preço; ii) devolver o excesso. No que 

toca  à  devolução do excesso,  surgirão despesas que deverão ser repartidas  de acordo 

com o princípio da boa­fé. Se houver indícios de que o vendedor sabia do vício, deverá 

ele arcar com as despesas de forma integral. Havendo má­fé do comprador, ele deverá 

arcar com as despesas. Caso contrário, elas serão repartidas.    

2) Sistema francês e alemão sobre a compra e venda, qual a eficácia da compra e venda no 

direito francês e faça um contraponto com esta eficácia no direito alemão? No Brasil, pode­se 

dizer que os negócios translativos  de propriedade são negócios de disposição? 

Resposta: 

No direito contemporâneo, o contrato de compra e venda pode ser examinado à luz de 

dois sistemas jurídicos diversos: o francês e o alemão.  

310 

Pelo primeiro o contrato cria ao mesmo tempo o vínculo obrigacional e transfere o do­

mínio da coisa vendida (nudus consensus parit proprietatem). Ou seja, transfere­se o do­
mínio com o próprio contrato, independentemente da tradição da coisa vendida. Somen­

te pelo contrato o comprador torna­se o titular do domínio. Vê­se que o sistema francês 

apartou­se da tradição romana. 

Para  o  sistema  alemão  o  contrato  gera  exclusivamente  uma  obrigação  de  dar,  com  o 

vendedor assumindo somente obrigação ad tradendum. A transferência do domínio veri­

ficar­se­á quando da tradição da coisa vendida. Esse foi o modelo adotado como regra 

pelo Direito Brasileiro. 

Quanto ao exercício de direitos, os negócios jurídicos podem ser classificados como de 

disposição, quando autorizam o exercício de amplos direitos, incluindo a alienação, so­

bre o objeto transferido (ex.: doação); ou negócios de administração, quando admitem 

apenas a simples administração e uso do objeto cedido (ex.: comodato e mútuo). Logo, 

a meu ver, os negócios translativos de propriedade não são negócios jurídicos de dispo­

sição, pois essa distinção só tem utilidade quando há restrição por força de lei ou de 

sentença  dos  poderes  de  gestão  patrimonial  dos  administradores  de  bens  alheios,  de 

bens próprios e alheios, o que não e o caso do negócio translativo de propriedade (pes­

soal, fui tentando construir a resposta, com base em conceitos que encontrei na internet, 

mas não tenho certeza se o negócio translativo é ou não negócio de disposição, pois não 

encontrei nada a respeito nos livros que tenho) 

3)  O que seria a retrovenda? Qual o prazo? Esta recompra é o direito de retrato? É uma nova 

compra e venda? 

Resposta: 

Constitui um pacto inserido no contrato de compra e venda  pelo qual o vendedor reser­

va­se o direito de reaver o imóvel que está sendo alienado, dentro de um certo prazo, 
restituindo o preço e reembolsando todas as despesas feitas pelo comprador no período 

de resgate, desde que previamente ajustadas. Tais despesas inclui as benfeitorias neces­

sárias. Essa cláusula somente é admissível em bens imóveis.  

Na verdade, essa cláusula concede ao vendedor o direito de desfazer a venda – ogo, não 

é uma nova compra e venda – dentro do prazo máximo de 3 anos. Essa cláusula tem o 

condão de tornar a propriedade resolúvel; trata­se de cláusula resolutiva expressa.  

A ação de resgate é constitutiva negativa, de rito ordinário, pela qual o vendedor obtém 

o domínio do imóvel a seu favor, tendo a demanda eficácia erga omnes, diante do cará­

ter real do instituto. Seu prazo decadencial é de 3 anos.   

311 

4) Quais são os elementos essenciais do contrato de compra e venda? Existe alguma forma 

especial para celebrar compra e venda de bem imóvel ou é livre? Pode se comprar imóvel por 

escritura particular? A pessoa tem que fazer o que, tem que fazer aonde? 

Resposta: 

Na  visão  clássica  e  contemporânea,  os  elementos  da  compra  e  venda  são:  i)    partes 

(comprador  e  vendedor),  sendo  implícita  a  vontade  livre,  o  consenso  entre  as  partes, 

sem vícios; ii) coisa (res); iii) preço. As partes devem ser capazes. A coisa deve ser líci­

ta, determinada ou determinável, alienável, ou seja, deve ser consumível no âmbito jurí­

dico.  O  preço  deve  ser  certo,  determinado  e  em  moeda  nacional  corrente,  pelo  valor 

nominal (princípio do nominalismo). O preço não deve ser fixado em moeda estrangeira 

ou em ouro, sob pena de nulidade absoluta do contrato. Exceção deve ser feita para a 

compra e venda internacional, nos termos do Decreto 857/69.  

A compra e venda pode ser negócio formal (solene) ou informal (não solene). Segue­se 
o entendimento segundo o qual a solenidade está relacionada com a escritura pública e 

não  com a  forma  escrita (formalidade é gênero, solenidade  é espécie). O contrato de 

compra e venda exige escritura pública quando o valor do bem imóvel, objeto do con­

trato, for superior a 30 salários mínimos. Mas, em todos os casos de compra e venda de 

bem  imóvel  é  necessária  a  forma  escrita  para  registro  no  CRI,  estando  a  eficácia  no 

mesmo plano da validade do contrato em questão. Nas hipóteses de compra e venda de 

bens  móveis,  não  há  necessidade  de  contrato  escrito,  tampouco  de  escritura  pública, 

pois não há registro.  

A propriedade móvel, portanto, se transfere pela tradição, enquanto a imóvel pelo regis­

tro do contrato no cartório de Registro Imobiliário.     

5) Faça uma distinção entre promessa de compra e venda e compromisso de compra e venda.  

Resposta: 

Nelson Rosenvald apresenta a seguinte distinção: 

Define­se a promessa de compra e venda como espécie de contrato preliminar pelo qual 

as  partes,  ou  uma  delas,  comprometem­se  a  celebrar  adiante  o  contrato  definitivo  de 

compra e venda. É negócio de segurança, destinado a conferir garantias às partes quanto 

à relação substancial em vista. 

Já no contrato de compromisso de compra e venda inexiste possibilidade de exercício de 

direito de arrependimento, configurando um contrato preliminar impróprio. Isto é, com 

a prova do pagamento do preço, o compromissário comprador é dispensado de procurar 

um segundo acordo de vontades, já que o adimplemento integral é justificativa suficien­

te ao alcance do registro do direito de propriedade, dispensando­se a superfetação de se 

promover uma escritura definitiva de compra e venda. Neste sentido, o art. 41, da Lei nº 
6.766/79 aduz que ―...o adquirente do lote, comprovando o depósito de todas as presta­ 

312 

ções do preço avençado, poderá obter o registro de propriedade do lote adquirido, va­

lendo para tanto o compromisso de compra e venda definitivamente firmado‖. 

6) Distinga Título aquirendi e modus aquisicionis.  

Resposta: 

Pelo sistema do Código Civil, a propriedade imobiliária se adquire "pela transcrição do 

título de transferência no registro do imóvel" (art. 530, I do Código Civil de 1916). A 

transmissão exige, pois, dois atos e dois momentos.  

O primeiro realiza­se com o contrato, o titulus adquirendi , isto é, a razão, o motivo, a 

causa da transmissão da propriedade.  

O segundo é o registro, ato formal, ao qual a lei atribui o efeito de transmitir a proprie­

dade imobiliária, o modus aquisicionis. De sorte que, embora o título não seja hábil, por 

si só, para transferir o domínio, é de fundamental importância. A compra e venda de 

bens imóveis, portanto, é ato complexo, que se aperfeiçoa com o registro. 

7) O que é  uma venda a contento?  

Resposta: 

A venda a contento é tratada pelo CC/02 como uma cláusula especial de compra e ven­

da. Em seus termos, a venda não se aperfeiçoa enquanto  o comprador não se declara 

satisfeito com o bem a ser adquirido. Diferencia­se da venda sujeita a prova, pois naque­
la o comprador não conhece ainda o bem que irá adquirir, havendo uma aprovação ori­

ginal. Desse modo, a tradição não gerará a transferência da propriedade, mas tão somen­

te a da posse direta.  Enquanto o comprador não manifestar a sua aprovação, suas obri­

gações serão as de um mero comodatário. Eventual rejeição da coisa pelo comprador 

que  não  a  aprovou funciona como  cláusula resolutiva. A recusa deve ser fundada no 

bom senso, não podendo ser motivada no mero capricho.   

8) O que é  a venda de uma coisa esperada? É igual à venda da esperança? 

Resposta: 

A venda de uma coisa esperada, também conhecida como emptio rei esperatae, é a ven­

da da esperança quanto à coisa esperada. Refere­se a assunçã do risco por um dos con­

tratantes quanto à quantidade da coisa, caso em que o alienante terá direito a todo o pre­

ço, desde que de sua parte não tenha concorrido culpa, ainda que a coisa venha a existir 

e quantidade inferior a esperada. Nesta situação, é fixada uma quantia mínima para a 

compra. O risco, nesse caso, é menor, pois há uma taxa mínima em relação ao objeto.  

313 

Já a venda da esperança, chamada de emptio spei, ocorre quando a assunção de riscos 

por um dos contratantes toca a própria existência da coisa, caso em que o outro terá di­

reito de receber integralmente o que lhe for devido, desde que de sua parte não tenha 

havido dolo ou culpa, ainda que nada do avençado venha a existir. No contrato em ques­

tão, não é fixada nem mesmo uma quantidade mínima como objeto, fazendo que o risco 

seja maior.   

5.6.1.2. Questões do TRF2 
 

5.6.1.3. Questões do TRF3 

5.6.1.4. Questões do TRF4 

5.6.1.5. Questões do TRF5

566 

9.6. Direito Civil 

9.6.1. Mandato. Revisão E Extinção Dos Contratos 

9.6.1.1. Questões do TRF1 

9.6.1.2. Questões do TRF2 

1) No que consiste a gestão de negócios? Exemplifique. 

Resposta: 

Gestão de negócios (arts. 861 a 875, CC/02) é ato jurídico unilateral, não tendo, portan­

to, natureza contratual. Falta­lhe, assim, o consenso, o acordo de vontades entre as par­

tes. Trata­se da intervenção realizada por alguém na gestão de negócio alheio, sem auto­

rização do interessado, devendo dirigi­lo segundo o interesse e a vontade presumível de 

seu dono, ficando responsável a este e às pessoas com que tratar (art. 861, CC/02). Per­

ceba­se que a atuação do gestor se opera espontaneamente e sem mandato, devendo se 

limitar a atos de natureza patrimonial. Como se trata de ingerência na esfera patrimonial 

de outrem, sem autorização expressa deste, a gestão de negócios deve se fundar em ne­

cessidade imperiosa ou por utilidade, com o intuito de trazer proveito para o dono. E­
xemplos legais: arts. 871 e 872, CC/02. Outro exemplo: morador de edifício que arrom­

ba porta do vizinho para fechar torneira, e troca a fechadura arrombada, devendo  ser 

indenizado pelas despesas (art. 869, CC/02). Vale notar que não há aí obrigação de agir, 

atuando o gestor por solidariedade, por puro altruísmo (a gestão é gratuita, ressalvando­

se as hipóteses legais de responsabilidade pelo prejuízo causado), sendo equiparado a 

um mandatário sem procuração (art. 873, CC/02).  

9.6.1.3. Questões do TRF3 

1) Qual elemento essencial para configuração do mandato? 

Resposta: 

Embora haja polêmica na doutrina, pode­se considerar como elemento essencial do con­

trato de mandato a representação do mandante pelo mandatário. Tem­se aí o traço mar­

cante que distingue o mandato de outros institutos como o contrato de sociedade, a lo­

cação de serviços e a gestão de negócios. O mandatário (representante) atua então no 

interesse do mandante (representado), se obrigando, em nome e por conta deste, a prati­

car atos ou administrar interesses (art. 653, CC/02). Perceba­se que, embora o objeto do 

mandato seja a representação, nada obsta que haja representação sem mandato, como na 

hipótese da representação legal dos pais em face dos filhos menores. 

2) Seria possível mandato sem representação?  

567 

Resposta: 

A questão é polêmica. Em princípio, não se poderia cogitar de um contrato de mandato 

em que não houvesse a outorga de poderes de representação do mandante ao mandatá­
rio, até mesmo porque a representação seria o elemento essencial desta espécie contra­

tual. Assim, se o mandatário atua em nome e interesse do mandante, não há dúvidas de 

que o está representando. Por outro lado, se o mandatário atua em nome próprio, mas 

por interesse e ordem do mandante, não se estaria aí diante de um contrato de mandato 

propriamente dito, mas sim de um contrato de comissão (arts. 693 a 709, CC/02). Ocor­

re que, ainda neste caso, poderia se falar em representação, embora de caráter indireto. 

Com base nisso, a conclusão mais adequada seria a de que na essência do contrato de 

mandato estaria a outorga de poderes de representação, não sendo possível vislumbrar, 

nesse diapasão, mandato sem representação. Ocorre que parte da doutrina, interpretando 

o disposto na parte final do art. 663, CC/02, tem entendido ser possível o mandato sem 

representação, isto na situação em que o mandatário, agindo em seu próprio nome e sob 

sua responsabilidade pessoal, ainda que por conta do mandante, estipular negócio em 

favor deste.  

9.6.1.4. Questões do TRF4 

9.6.1.5. Questões do TRF5 

842 

13.5.1.2. Questões do TRF2 

13.5.1.3. Questões do TRF3 

13.5.1.4. Questões do TRF4 

 
13.5.1.5. Questões do TRF5 

13.6. Direito Civil 

13.6.1. Contrato De Seguro. Contrato De Consumo 

13.6.1.1. Questões do TRF1 

1) Diferencie a partir do caso prático, Contrato Comercial, Contrato de Consumo e Contrato 

Civil – exemplo prático – empresa vende 500 computadores a outra empresa, empresa vende 

um computador para um indivíduo, indivíduo vende para indivíduo. Fazer a distinção. 

Resposta:  

Os contratos são mercantis quando os dois contratantes são empresários, com a ressalva 

quanto aos casos em que o empresário comprador se enquadra no conceito de consumi­

dor, hipótese em que terão incidência as normas especiais do CDC. Contrato mercantil é 

aquele celebrado entre empresários, ou ainda, ambos os contratantes exercem atividade 

empresarial.  Já  o  contrato  civil  não  é  realizado  por  empresários,  mas  por  indivíduos 

comuns, sendo que nenhum dos indivíduos está em  situação  de  vulnerabilidade  eco­

nômica  frente  ao  outro. 

2) Depois de um contrato de seguro, se não houver dano, pode se pedir a devolução do dinhei­

ro?  

Resposta:  

Não. Trata­se de um Contrato aleatório. A diferença entre um contrato comutativo, está 

na equivalência entre as prestações, eis que, enquanto os contratos tipicamente comuta­

tivos  são  timbrados  pela  equivalência  real  das  prestações,  nos  contratos  tipicamente 

aleatórios essa equivalência em regra não existe, justo em razão do risco que o caracte­
riza como seu elemento nuclear. O simples fato de o risco ser elemento essencial para a 

existência do contrato de seguro o afasta de qualquer natureza comutativa, até em fun­ 

843 

ção da mutualidade e dos cálculos de probabilidades que o regem, chamando para si a 

estatística e a ciência atuarial para orientarem a sua operação, dispensadas nos contratos 

comutativos. Se fosse comutativo, haveria a ideia de devolução de prêmio em caso de 

não haver sinistro. Todavia, se desde a conclusão do contrato o risco não existir, ou já 

tiver passado, a devolução do prêmio se impõe, por falta de objeto. No último caso, a 

devolução seria até em dobro (art. 773 do CCb), seja comutativo ou aleatório o contrato.  

3) Qual o significado da franquia simples? 

Resposta:  

Franquia é o valor, expresso na apólice, que representa a parte do prejuízo que deverá 

ser arcada pelo segurado por sinistro. Assim, se o valor do prejuízo de determinado si­

nistro  não  superar  a  franquia,  a  seguradora  não  indenizará  o  segurado.  Semelhante  à 

franquia, a POS (Participação Obrigatória do Segurado) é definida como percentual da 

importância segurada ou dos prejuízos indenizáveis que caberão ao segurado. A fran­

quia pode ser simples ou dedutível. Franquia Simples ­ Pela cláusula de franquia sim­

ples, os sinistros, até determinado valor preestabelecido, são suportados, integralmente, 

pelo segurado. Porém, aqueles que excederem o limite contratual serão indenizados pelo 

seu valor total, sem qualquer participação do segurado. Franquia Dedutível ­ É aquela 

cujo valor sempre é deduzido dos prejuízos. Esse tipo de franquia é mais utilizado. O 

sistema  de  franquia  dedutível  objetiva  otimizar  a  situação  preventiva  do  segurado,  já 
que este participa obrigatoriamente dos prejuízos.  

4) Pode ser feito dois seguros de um carro? Qual a razão da vedação? Porque o CC dispõe não 

poder para bens? Pelo CC/2002 há a possibilidade de mais de um seguro de vida, e com rela­

ção bens não pode, por quê?  

Resposta:  

O seguro de bens não pode ser dobrado, pois seu sentido é indenizatório. 

5) O contrato de seguro é formal, solene, ou meramente consensual? 

Resposta:   

O  contrato  de  seguro  é  DE  ADESÃO:  contrato  com  cláusulas  e  condições  pré­

estabelecidas impossibilitando o debate e transigência entre as partes. Dessa forma, no 

momento de sua celebração, apenas caberá ao segurado aderir ao que lhe é proposto. E 

CONSENSUAL: grande parte da doutrina afirma que o contrato de seguro está perfeito  

844 

e acabado quando se der o acordo de vontades (consenso das partes). Numa primeira 

análise do art. 758 do NCC, poder­se­ia concluir  que o seguro  seria  formal devido  à 

necessidade do documento. Todavia, o documento exigido não faz parte da substância 

do ato, possuindo apenas caráter probatório. No entanto, a posição de que o contrato de 

seguro seria contrato FORMAL também é defendida por juristas não menos importan­

tes, como C. M. da Silva Pereira. Maria Helena Diniz, baseada no art. 1.433 do CC, 

afirma "ser obrigatória a forma escrita, já que não obriga antes de reduzido a escrito,…. 

A forma escrita é exigência para a substância do contrato". Parece­nos, todavia, mais 
lógica a posição defendida pela maioria da doutrina de que se trata de contrato consen­

sual. 

6) Contrato Securitário ­ Suicídio não premeditado dar­se­á indenização para o evento morte? 

Havendo suicídio pouco importa, não se cogita mais disto, não se paga a indenização, mas se 

devolve a reserva técnica? 

Resposta:  

A interpretação do artigo 798 do Código Civil era pacificada pelos operadores do Direi­

to, mas o Superior Tribunal de Justiça por meio da 2ª Seção resolveu novamente colocar 

―nova celeuma‖ ao julgar o Agravo de Instrumento 1.244.022/RS. No julgamento, pre­

valeceu o entendimento apresentada pelo ministro Luis Felipe Salomão, no sentido de 

que:  ―o  suicídio cometido  durante os  dois  primeiros  anos  de  vigência  do  contrato  de 

seguro de vida, período de carência, a seguradora só estará isenta do pagamento da in­

denização securitária, se comprovar que o ato do segurado foi premeditado‖ Neste sen­

tido, também foi o entendimento do STJ, através do voto da relatora ministra Fátima 

Nancy Andrighi, ao julgar o Recurso Especial 1.188.091­MG, valendo­se da precedente 

citada no Resp 1.077.342­MG, DJE 3/9/2010, a 3ª Turma deu provimento ao recurso 

por entender que as regras concernentes aos contratos de seguro devem ser interpretadas 

sempre com base nos princípios da boa­fé e da lealdade contratual. Destarte, ― a presun­

ção de boa­fé deverá, segundo a ementa deste recurso especial, prevalecer sobre a exe­

gese literal do referido artigo‖, isto é, do 798 do CC. Ou seja, em síntese apertada, ul­

trapassados os dois anos, presumir­se­á que o suicídio não foi premeditado, mas o con­

trário não ocorre: se o ato foi cometido antes desse período, havendo necessidade da 

seguradora provar a premeditação. Pois, segundo o teor desta decisão ―o planejamento 
do ato suicida, para efeito de fraude contra o seguro, nunca poderá ser presumido, apli­

cando­se o princípio segundo o qual a boa­fé é sempre presumida, enquanto a má­fé 

deve ser comprovada a teor das súmulas 105 do STF e 61 do STJ‖. 

7) Qual seria a causa de contrato de seguro? 

Resposta:    

845 

O contrato de seguro existe em virtude da necessidade de se precaver contra possíveis 

riscos. Com efeito, o objeto do contrato de seguro, segundo C. M. da Silva Pereira é o 

risco, que, por enquanto, limitar­nos­emos a defini­lo como o evento futuro e incerto, o 

qual, em se concretizando, ensejará o cumprimento da contraprestação de "indenizar" 

por parte do segurador.  

8) Discorra sobre a boa­fé objetiva no contrato de seguro? Boa­fé objetiva (correção de com­

portamento). Aqui ela incide bem mais do que em relação a outros contratos. 

Resposta:  

A boa fé é essencial no contrato de seguro.  Então, nada mais acertado que a exigência 

da adoção da boa fé objetiva como pressuposto essencial para segurado e para segura­

dor, durante a conclusão e a execução da avença. Ao tratar de contraprestação futura, 

suportada  por  mútuo  de terceiros, de acordo com o disposto  num contrato  de adesão 

parcial, no qual o segurado não apenas adere aos seus termos, mas interage com a segu­

radora, determinando coberturas, valores, franquias, participações obrigatórias, cláusu­

las e condições, nada mais prudente do que a adoção da boa fé objetiva como balizadora 
da relação. E esta tese tem sido aceita e aplicada para o bom andamento dos contratos 

de seguros durante sua vigência e para a resolução de conflitos, quando necessário. As­

sim, cada contrato de seguro é único. Mas em todos eles, desde a intenção de contratar 

até o término da relação entre o segurado e o segurador, as duas formas de boa fé são de 

aplicação obrigatória. Ademais, as regras concernentes aos contratos de seguro devem 

ser  interpretadas  sempre  com  base  nos  princípios  da  boa­fé  e  da  lealdade  contratual. 

Destarte, ― a presunção de boa­fé deverá, segundo a ementa deste recurso especial, pre­

valecer sobre a exegese literal do referido artigo‖, isto é, do 798 do CC. É a aplicação 

no suicídio perante o contrato de seguro (resposta a questão 6 supra) Vale transcrever a 

regra, prevista no artigo 765: ―O segurado e o segurador são obrigados a guardar, na 

conclusão e na execução do contrato, a mais estrita boa fé e veracidade, tanto a respeito 

do objeto como das circunstâncias e declarações a ele concernentes‖. 

9) Retrocessão, o que seria na operação securitária? 

Resposta:  

Operação feita pelo ressegurador e que consiste na cessão de parte das responsabilida­

des por ele aceitas a outro, ou outros resseguradores. Em outro enfoque: é o resseguro 

de um resseguro.  Os planos de retrocessão são, basicamente, da mesma natureza dos 

utilizados em operações de resseguro, delas diferindo apenas na condição dos partici­

pantes, pois enquanto o segurador direto faz cessões em resseguro, o ressegurador faz 

retrocessões a outros resseguradores. Em qualquer caso, tanto nas operações de ressegu­ 

846 

ro  quanto  nas  de  retrocessão,  o  ressegurador  e  o  retrocessionário  obrigam­se  apenas 
com as entidades que lhes fizeram cessões ou retrocessões, nunca com os segurados. No 

Brasil as seguradoras autorizadas a operar no País são retrocessionárias, obrigatórias, do 

IRB.  

10) Resseguro, o que seria? Seguro do seguro. Operação de retrocessão – resseguro de resse­

guro? 

Resposta:  

É a distribuição parcial do risco assumido pela seguradora, em que esta transfere para 

outras, parte da sua responsabilidade. É a operação de que se vale um ou mais segurado­

res para transferir a resseguradora o excesso de responsabilidade que ultrapassa o limite 

de sua capacidade econômica de indenizar. Resseguro é o seguro do seguro.  É diferente 

do cosseguro, uma vez que a operação de transferência parcial do risco assumido é feita 

entre as seguradoras, sem conhecimento do segurado. As partes contratantes do ressegu­

ro são o segurador e o ressegurador. O ressegurador pode efetuar um repasse de partes 

das responsabilidades recebidas, procedendo assim a uma cessão que recebe o nome de 

retrocessão. Retrocessão  é a operação de que se socorre o ressegurador para repassar ao 

Mercado Segurador Nacional os excessos de responsabilidade que ultrapassarm os seus 

limites de capacidade de indenizar. Retrocessão é o resseguro do resseguro. 

11) Sub­rogação, isto ocorre contra quem nos contrato de seguro? 

Resposta:  

CC ­ Art. 786. Paga a indenização, o segurador sub­roga­se, nos limites do valor respec­

tivo, nos direitos e ações que competirem ao segurado contra o autor do dano. § 1o Sal­

vo dolo, a sub­rogação não tem lugar se o dano foi causado pelo cônjuge do segurado, 
seus descendentes ou ascendentes, consangüíneos ou afins. Com efeito, o CC de 2002 

regulou expressamente, admitindo a sub­rogação, no seguro de dano ressalvados os ca­

sos em que o dano tenha sido causado pelo cônjuge do segurado, seus ascendentes ou 

descendentes consangüíneos ou afins.No seguro de pessoa (o art. 800 do CC) veda ex­

pressamente a sub­rogação em favor do segurador contra o causador do sinistro. Nume­

rosas espécies de seguro surgiram, e assim todo risco criado de qualquer interesse legí­

timo do segurado, em qualquer gênero de atividade. 

12) O que é uma franquia num contrato de seguro?  

847 

Resposta:  

Franquia é o valor, expresso na apólice, que representa a parte do prejuízo que deverá 

ser arcada pelo segurado por sinistro. Assim, se o valor do prejuízo de determinado si­

nistro  não  superar  a  franquia,  a  seguradora  não  indenizará  o  segurado.  Semelhante  à 

franquia, a POS (Participação Obrigatória do Segurado) é definida como percentual da 

importância segurada ou dos prejuízos indenizáveis que caberão ao segurado. A fran­

quia pode ser simples ou dedutível. Franquia Simples ­ Pela cláusula de franquia sim­

ples, os sinistros, até determinado valor preestabelecido, são suportados, integralmente, 

pelo segurado. Porém, aqueles que excederem o limite contratual serão indenizados pelo 

seu valor total, sem qualquer participação do segurado. Franquia Dedutível ­ É aquela 

cujo valor sempre é deduzido dos prejuízos. Esse tipo de franquia é mais utilizado. O 

sistema  de  franquia  dedutível  objetiva  otimizar  a  situação  preventiva  do  segurado,  já 

que este participa obrigatoriamente dos prejuízos.  
13.6.1.2. Questões do TRF2 

1) Falar sobre o risco ficto nos contratos de seguro. 

Resposta:  

Não achei nada específico sobre risco ficto. Segue o que eu achei sobre risco: O risco no 

contrato de seguro consiste  ―no acontecimento futuro e incerto previsto no contrato, 

suscetível de causar dano. Quando este evento ocorre, a técnica securitária o denomina 

sinistro‖ . A obrigação de garantia contida no seguro, só obriga a seguradora a pagar a 

indenização quando o risco se concretiza, de maneira que este acontecimento torna­se 

essencial. Dessa maneira, se o contrato segura determinado interesse frente a determi­

nados riscos, faz­se necessário que eles sejam expressamente declarados na apólice e 

que seja indicado os termos inicial e final de vigência, no qual em ocorrendo o aconte­

cimento ele será indenizado. O risco, sendo essencial ao seguro, é condição da possibi­

lidade do interesse ser segurável. Relembrando que a doutrina moderna aponta como o 

objeto do seguro o interesse segurável, logo, o acontecimento danoso futuro e incerto 

tem que ser possível, sob pena de invalidade do contrato. Isto ocorre, pois a Teoria Ge­

ral dos Negócios Jurídicos determina que, além do objeto ser lícito, ele também há de 

ser possível (art. 82 CC e art. 104, I NCC). Seria inválido, e.g., um seguro visando pro­

teger uma propriedade da invasão de alienígenas. 

2) Discorra sobre os elementos os elementos da relação de consumo. 

Resposta:   

1. Elementos Objetivos:  a) Produto: é todo bem material ou imaterial, móvel ou imó­

vel colocado no mercado de consumo. b) Serviço: é toda atividade prestada mediante 

remuneração, podendo ter natureza bancária, de crédito, financeira e securitário, estando  
848 

excluídas  a  atividades  decorrentes  da  relação  de  trabalho.  Não  obstante,  os  contratos 

bancários serem de consumo não pode o juiz conhecer de ofício da abusividade de suas 

cláusulas (Súmula 381 STJ). 2. Elementos subjetivos:  a) Fornecedor: é toda a pessoa 

física ou jurídica, de direito público ou privado, nacional ou estrangeiro podendo tam­

bém ser um ente despersonalizado que fornece produto ou presta serviços no mercado 

de consumo com profissionalismo e habitualidade. 

b)  Consumidor:  é  consumidor  toda  pessoa  física  ou  jurídica  que  adquire  produto  ou 

serviço como destinatário final fático e econômico. Será destinatário final fático aquele 

que ocupa a última posição na cadeia produtiva, ou seja, adquiriu um produto ou serviço 

para uso próprio ou de sua família e será destinatário final econômico quando não bus­

car lucros com o bem adquirido. Excepcionalmente o STJ afasta a aplicação da teoria 

finalista para proteger aqueles que mesmo buscando lucros com o bem adquirido en­

frentam o mercado de consumo com condição de vulnerabilidade, sendo reconhecida a 

estes a aplicação do CDC (Teoria Finalista mitigada). 

3) Conceitue consumidor e fornecedor. 

Resposta:  

Existe o Consumidor em sentido próprio, chamado pela doutrina de consumidor padrão, 

standard ou stricto sensu é aquele para quem a lei disponibiliza sua tutela integral. O 

Código de Defesa do Consumidor, em seu art. 2º, caput, define: 

consumidor é toda a pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço 

como destinatário final. A lei de defesa do consumidor protege, além do consumidor em 
sentido próprio, outros sujeitos que se encontram em posição de desigualdade frente ao 

fornecedor. Estes indivíduos, grupos ou sujeitos indeterminados são equiparados a con­

sumidor  por  intervirem  nas  relações  de  consumo,  sempre  ocupando  uma  posição  de 

vulnerabilidade.  

Dessa maneira, para efeitos de proteção legal, o CDC equipara a consumidor: a) coleti­

vidade de pessoas, ainda que indetermináveis (art. 2º, parágrafo único, do CDC); b) ví­

timas de acidente de consumo. (art. 17 do CDC) (bystanders); c) pessoas expostas às 

práticas abusivas (art. 29 do CDC). O art. 3º do Código de Defesa do Consumidor con­

ceitua como sendo fornecedor: 

Já o Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, publica ou privada, nacional ou estran­

geira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, 

montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou 

comercialização de produtos ou prestação de serviços.  Através da análise deste concei­

to dado pelo legislador, podemos concluir que fornecedor é o gênero e que as espécies 

são o fabricante, produtor, construtor, importador, exportador, distribuidor e o comerci­

ante, podendo ser qualquer pessoa física ou jurídica. O fornecedor se classifica em:  

849 

­ real: é aquele responsável pelo processo de fabricação e produção, que são o fabrican­

te, construtor e produtor. ­ aparente: são aqueles que não participam do processo de pro­

dução, mas se apresentam como tal, vez que inserem seu nome na marca do produto, 

seria neste caso o comerciante. ­ presumido: é o importador do produto ou aquele que 

vende produtos sem identificação clara, estes são o importador e o comerciante. 

 
4) A proteção à saúde e segurança do consumidor: a responsabilidade solidária dos causadores 

do dano pode ser enquadrada como propter rem? 

Resposta:  

Fiquei em dúvida com relação a essa questão, e, mesmo após muito pesquisar, não en­

contrei  a  resposta.  Todavia,  refletindo  sobre  ela,  responderia  que:  Obrigação  propter 

rem é aquela em que o devedor, por ser titular do direito sobre a coisa, fica sujeito a 

uma determinada prestação decorrente da relação entre o devedor e a coisa. A circuns­

tância por ser titular do direito é o que o faz devedor da determinada prestação.  Na o­

brigação "Propter Rem", a prestação não deriva da vontade do devedor, mas sim de sua 

mera condição de titular do direito real. Assim, a questão seria em tese possível de ser 

enquadrada como propter rem, considerando que eventual alteração na titularidade da 

pessoa jurídica causadora do dano (alienação, incorporação, etc.) não obstaria eventual 

pretensão indenizatória do consumidor (ou seja, o mero fato de ser titular do direito real 

de  propriedade  do  estabelecimento  tornaria  o  indivíduo  responsável  pelo  dano,  ainda 

que p. ex. Ele não fosse proprietario quando o produto defeituoso foi produzido). As­

sim,  tentando  imaginar  o  que  o  examinador  queria  ouvir  como  resposta,  arriscaria  aí 

nessa questão da transferência do passivo.  

5) Quais são as quatro dimensões que conhecemos da figura do consumidor? 

Resposta:     

Existe o Consumidor em sentido próprio, chamado pela doutrina de consumidor padrão, 

standard ou stricto sensu é aquele para quem a lei disponibiliza sua tutela integral. O 

Código de Defesa do Consumidor, em seu art. 2º, caput, define: 

consumidor é toda a pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço 
como destinatário final. A lei de defesa do consumidor protege, além do consumidor em 

sentido próprio, outros sujeitos que se encontram em posição de desigualdade frente ao 

fornecedor. Estes indivíduos, grupos ou sujeitos indeterminados são equiparados a con­

sumidor  por  intervirem  nas  relações  de  consumo,  sempre  ocupando  uma  posição  de 

vulnerabilidade.   

850 

Dessa maneira, para efeitos de proteção legal, o CDC equipara a consumidor: a) coleti­

vidade de pessoas, ainda que indetermináveis (art. 2º, parágrafo único, do CDC); b) ví­

timas de acidente de consumo. (art. 17 do CDC) (bystanders); c) pessoas expostas às 

práticas abusivas (art. 29 do CDC).  

DESSE PONTO EM DIANTE: RESPOSTAS ELABORADAS POR TIAGO BORRÉ 

6) Todas as quatro dimensões são tuteláveis no âmbito dos valores da atividade econômica? 

Resposta: 

Não encontrei na doutrina (Eros Roberto Grau) uma resposta exata. Penso que a defesa 

do consumidor como princípio da ordem econômica diz respeito à sua condição de vul­

nerabilidade, de modo que apenas estaria tutelado o consumidor em sua conceituação 

econômica  (parte  mais  vulnerável  na  relação  contratual).  Segundo  Ada  Pellegrini,  o 

CDC desprezou, na conceituação de consumidor, componentes de ordem sociológica, 

psicológica e filosófica. 

7)  Então, por exemplo, quando o indivíduo está em casa e assiste uma má propaganda, uma 

má publicidade também seria uma forma de violação a este valor?  
Resposta: 

Obs: Impossível compreender o exato contexto em que surgiu esta pergunta, de modo 

que fica difícil elaborar uma resposta exata. 

8) O Estado pode ser sujeito de relação de consumo? Nessa situação, se aplicaria a legislação 

especial, o CDC? 

Resposta: 

De acordo com o artigo 3º do CDC ―Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública 

ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desen­

volvem atividade de produção, montagem [...]‖. Já o 22 do CDC reza que ―Os órgãos 

públicos,  por  si  ou  suas  empresas,  concessionárias,  permissionárias  ou  sob  qualquer 

outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficien­

tes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos‖. O CDC também prevê, dentre os direi­

tos básicos do consumidor, a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral 

(art.6º,  X),  além  da  necessidade  de  racionalização  e  melhoria  dos  serviços  públicos 

(art.4º, VII). Logo, as pessoas jurídicas de Direito Público podem figurar no polo ativo 

da relação de consumo e, quando prestadoras de serviços públicos, sejam de direito pú­

blico, sejam de direito privado, estão submetidas às regras do CDC. No entanto, somen­ 

851 

te os serviços públicos realizados mediante remuneração paga diretamente pelos con­

sumidores (serviços uti singuli), remunerados por tarifa ou preço público) submetem­se 

ao CDC, pois os serviços públicos realizados mediante pagamento de tributos (uti uni­

versi) não se submetem ao CDC. Esse tem sido o entendimento do STJ. 
 

9) Discorra sobre conceito de oferta e mercado de consumo. 

Resposta: 

Em  um  sentido  amplo,  oferta  é  uma  denominação  genérica  para  indicar  o  que  é 

disponibilizado  ao  mercado,  independente  da  sua  natureza,  sendo  utilizada  para 

substituir a expressão "produto" ou "serviço" e também englobar os outros elementos 

que  são  objeto  das  ações  de  marketing.  Como  parâmetro  para  o  estabelecimento  dos 

preços dos produtos pelo mercado, a oferta possui um peso inversamente proporcional 

(quanto  maior  a  oferta,  menor  o  preço).  A  oferta  é  influenciada  diretamente  pela 

demanda  do  produto.  Em  um  sentido  popular,  oferta  indica  uma  condição  de  venda 

especial (promoção de vendas) na qual o valor percebido pelo cliente é maximizado. 

Mercado  de  consumo  é  o  local  onde  se  encontram  a  oferta  e  a  procura  de  bens  e 

serviços. 

10) O que é produto e o que é serviço (à luz do direito consumerista)? 

Resposta: 

Nos termos do artigo 3º do CDC, ―Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material 

ou imaterial‖ e ―Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, medi­

ante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, 

salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.‖. O conceito de produto é trata­

do pelo Código de forma ampla, ao passo que o conceito de serviços envolve necessari­

amente remuneração e não pode açambarcar relação trabalhista. 

11) Um programa de informática é produto ou é serviço? Quando compro uma caixa contendo 
o programa Windows, estou comprando um serviço? 

Resposta: 

(Não tenho certeza porque não achei nada específico sobre o tema, de modo que lastreie 

a resposta de acordo com a lei). Nos termos da conceituação trazida pelo CDC, segundo 

o qual ―Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial‖ e ―Serviço é 

qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusi­

ve as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes  

852 

das relações de caráter trabalhista.‖, um programa de informática caracteriza­se como 

um produto, e não como um serviço. 

13.6.1.3. Questões do TRF3 

1) O CDC é uma forma de intervenção no domínio econômico? 

Resposta: 

O artigo 174 da CF/88 prevê que o Estado poderá intervir na ordem econômica como 

agente normativo e regulador. Trata­se de uma forma de intervenção indireta no domí­

nio econômico, por meio da qual o Estado limita­se a condicionar o exercício da explo­

ração da atividade econômica, sem assumir posição de agente econômico ativo. Cuida­

se de uma intervenção regulatória, agindo o Estado por meio de leis e normas de cunho 

setorial. Como a defesa do consumidor é um dos princípios que regem a Ordem Eco­

nômica, na forma do artigo 170 da Constituição, podemos entender que o CDC repre­

senta, sim, uma forma de intervenção indireta do Estado no domínio econômico. 

 
2) O profissional liberal tem responsabilidade objetiva no CDC? Explique. 

Resposta: 

Não. O CDC tem dispositivo expresso que prevê a responsabilidade subjetiva dos pro­

fissionais liberais (art.14º, parágrafo quarto). Assim, a responsabilidade destes no forne­

cimento de serviços depende da verificação de negligência, imprudência ou imperícia. 

Parcela doutrinária entende que se deve aferir se a obrigação é de meio ou resultado. 

Sendo de meio, a responsabilidade seria subjetiva, mas sendo de resultado, seria objeti­

va. O STJ, no entanto, vem defendendo o entendimento no sentido de que em ambas as 

modalidades de obrigação – meio ou resultado – a responsabilidade dos profissionais 

liberais é subjetiva, mas, sendo de resultado a obrigação, opera­se a inversão do ônus da 

prova em desfavor do profissional. 

3) Aplica­se o CDC nos contratos de SFH? 

Resposta: 

Sim. Conforme jurisprudência pacífica do STJ, o CDC é aplicável aos contratos do Sis­

tema Financeiro de Habitação, incidindo sobre contratos de mútuo. Isso porque existe 

relação de consumo entre o agente financeiro do SFH, que concede empréstimo para 

aquisição de casa própria, e o mutuário. Entretanto, nos contratos de financiamento do 

SFH vinculados ao Fundo de Compensação de Variação Salarial (FCVS), pela presença 

da garantia do governo em relação ao saldo devedor, aplica­se a legislação própria e  

853 

protetiva do mutuário hipossuficiente e do próprio sistema, afastando­se o CDC, se co­
lidentes as regras jurídicas (STJ, AgRg no Ag 1076981/RS, DJe 27/08/2012). A juris­

prudência do TRF1 é no mesmo sentido, ou seja, pela incidência do CDC aos contratos 

do SFH (AC 0000500­58.2006.4.01.3503 / GO, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL 

JOÃO BATISTA MOREIRA, QUINTA TURMA, e­DJF1 p.223 de 25/05/2012). 

13.6.1.4. Questões do TRF4 

13.6.1.5. Questões do TRF5 

1125 

16.6. Direito Civil 

16.6.1. Perguntas Residuais 

16.6.1.1. Questões do TRF1 

16.6.1.2. Questões do TRF2 

1) Como se caracteriza o instituto da gestão de negócios? 

Resposta: 

A gestão de negócios ―ocorre quando alguém age em nome de outrem sem ter mandato 

para tal‖. (RODRIGUES,  Silvio. Direito civil: dos contratos e das declarações unilate­

rais da vontade.  Vol. 3. 29 ed. São Paulo: Saraiva, 2003. P. 399). 

E continua:  

―[...] trata­se, no mais das vezes, de um ato de altruísmo, em que o gestor, com o intuito 

de evitar um prejuízo para o dono do negócio, porventura ausente, embora sem estar por 
ele autorizado, ou pela lei, toma a iniciativa de intervir na órbita de interesses daquele, 

para  preservá­los,  atuando  como  atuaria  o  dono  da  coisa  se  ali  estivesse‖  (RODRI­ 

1126 

GUES,    Silvio.  Direito  civil:  dos  contratos  e  das  declarações  unilaterais  da  vontade.  

Vol. 3. 29 ed. São Paulo: Saraiva, 2003. P. 399). 

Cabe destacar que a posição do referido autor é não considerar esse ato unilateral como 

uma figura contratual, devido à ausência de anuência do ato por parte do interessado. 

2) Gestor sempre vai responder por caso fortuito? 

Resposta: 

Responderá em três hipóteses: 

―[...] em três hipóteses, entretanto, o gestor responde não só por sua culpa, como até 

por caso fortuito: a) quando inicia a gestão contra a vontade real ou presumida do dono 

do negócio, caso em que este último poderá não só reclamar indenização como, sendo 

possível, exigir que o gestor restitua a coisa ao estado anterior (art. 862); b) quando fizer 

operações  arriscadas,  ainda  que  o  dono  do  negócio  costumasse  fazê­las;  c)  quando  o 

gestor preterir interesses do dono do negócio, por amor aos próprios (art. 868)‖ (RO­

DRIGUES,  Silvio. Direito civil: dos contratos e das declarações unilaterais da vontade.  

Vol. 3. 29 ed. São Paulo: Saraiva, 2003. p.405). 

3) Há casos em que não há responsabilidade do gestor? 

Resposta: 

Sim, quando envidar toda diligência habitual na administração do negócio, salvo os da­
nos decorrentes de culpa (art. 866 do CC). Não haverá responsabilização: quando provar 

que  os  danos  seriam  causados  mesmo  sem  a  sua  interferência;  quando  o  interessado 

anui com os negócios arriscados feitos pelo gestor, que terá de ser indenizado pelas des­

pesas e prejuízos decorrentes da operação (parágrafo único, art. 868 CC); quando o ne­

gócio for utilmente administrado (art. 869) – evitar dano eminente ou aproveite lucro ao 

interessado –; e, a ratificação pura e simples do dono do negócio (art. 873), quando a 

gestão produzirá efeitos de mandato. 

4) Tem relevância o fato de ter agido de acordo com a vontade presumida do dono? 

Resposta: 

Sim, a presunção é uma característica da gestão de negócios: ―‗Negócio alheio‘, consta 

no sentido de qualquer atividade em prol da vontade presumida do dono do negócio que 

dê origem a obrigações, sejam atos meramente materiais, sejam atos ou negócios jurídi­ 

1127 

cos [...]‖. (VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: contrato em espécie. 3ª ed. São Pau­

lo: Atlas, 2003, p.195­296).  

Cabe apontar que agir contra a vontade presumida do interessado pode dar causa à res­

ponsabilidade do gestor: ―[...] quando inicia a gestão contra a vontade real ou presumida 

do dono do negócio, caso em que este último poderá não só reclamar indenização como, 

sendo  possível,  exigir  que  o  gestor  restitua  a  coisa  ao  estado  anterior  (art.  862);  [...] 

(RODRIGUES,  Silvio. Direito civil: dos contratos e das declarações unilaterais da von­

tade.  Vol. 3. 29 ed. São Paulo: Saraiva, 2003. P. 399). 

 
5) Promessa de recompensa. Concurso de prêmios. A empresa ofertante do concurso poderia 

utilizar o slogan do vencedor? 

Resposta: 

Em uma interpretação literal do artigo 860 do Código Civil, as ―obras ou serviços‖ 

premiados pertencerão, se vier expressamente previsto na publicação de promessa, ao 

promitente. Assim, estando expressamente previsto na publicação da promessa, presu­

me­se que, na condição de proprietário (promitente), poderá utilizar o slogan utilizado 

pelo vencedor quando ele (slogan) integrar a ―obra premiada‖ ou no caso de ―o slogan‖ 

ser a própria obra premiada. 

6) Enriquecimento sem causa. Foi rescindida a sentença, que transitada em julgado, era causa 

para recebimento. Desaparece a causa do recebimento?  

Resposta: 

Depende,  a  ação  rescisória  possui  dois  efeitos,  a  rescisão  da  coisa  julgada  (iudicium 

rescindens) e o novo julgamento da causa (iudicium rescissorium), que são cumuláveis, 

mas não em todos os casos, sendo dispensável quando ―o pedido de „novo julgamento‟ 

não precisa(r) ser feito quando a mera rescisão do julgado for suficiente, ou quando 

não for possível ao órgão competente para a rescisão proferir novo julgamento‖. (ARE­

NHART, Sérgio Cruz; MARIONI,  Luiz  Guilherme.  Processo  de Conhecimento. 10. 

ed. ver. atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. p. 661). 

A fim de que se possa determinar, de fato, se o efeito executivo da sentença original 

desaparecerá, dependerá da natureza da ação original, pois, a rescisão da coisa julgada, 

em si, pode importar na anulação dos efeitos da sentença. Contudo, quando for necessá­

rio novo julgamento, pode ocorrer de o acordão rescindir o julgamento anterior e man­
ter seu dispositivo, só que com nova fundamentação: 

―Fora a necessária atenção às causas de pedir, é imprescindível tomar os votos dos ma­

gistrados em duas fases, a rescindente (que desconstitui o acordão rescindindo) e a res­ 

1128 

cisória (que realiza o novo julgamento da causa). [...] De modo que o juízo rescindente 

pode ser de procedência e o rescisório de improcedência‖ (ARENHART, Sérgio Cruz; 

MARIONI, Luiz Guilherme. Processo de Conhecimento. 10. ed. ver. atual. São Paulo: 

Revista dos Tribunais, 2011. p. 665).

12) Qual o limite máximo da cláusula penal previsto no Código Civil? Há outras regras que es­

tabelecem limites menores em outras leis? Os exemplos citados (CDC, Lei 6.676, DL 58, Dec. 

22.626) podem ser aplicados por analogia a hipóteses correlatas ou quando não houver previ­

são expressa usaremos sempre o teto do Código Civil? Por exemplo: a atual lei de locação pre­

dial urbana não estabelece limite máximo de cláusula penal para o atraso no pagamento do 

aluguel.  O  locador  pode  ajustar  com  o  locatário,  p.  ex.,  aleatoriamente  uma  cláusula  penal 

moratória de 40% sobre o valor atrasado?  

Resposta: 

―Simples alegação de que a cláusula penal é elevada não autoriza o juiz a reduzi­la. En­

tretanto, a sua redução pode ocorrer em dois casos: a) quando ultrapassar o limite legal; 

b) nas hipóteses do art. 413 do estatuto civil. O limite legal da cláusula penal, mesmo 

sendo  compensatória,  é  o  valor  da  obrigação  principal,  que  não  pode  ser  excedido 

pelo estipulado naquela (...).Quando outras normas fixam determinada limite para a 

cláusula  penal  (Decreto­Lei  58/1937,  Lei  nº.  6.766/79,  Decreto  nº.  22.696/93  e  o 

CDC), Carlos Roberto defende ainda que ―(...) Em qualquer dessas casos, e em mui­
tos outros, o juiz reduzirá, na ação de cobrança, o valor da pena convencional aos re­

feridos  limites (...)” (Gonçalves,  Carlos  Roberto.  Direito  Civil  Brasileiro,  volume  II: 

teoria geral das obrigações­4ª edição, São Paulo, Saraiva­2008­pg­389/390). O TJMG 

entende  que  a  cláusula  penal,  nos contratos  de  locação,  podem  ser  reduzidas  de 

acordo  com  os  arts.  412  e  413,  todos  do  Código  Civil  (Apelação  Cível 

1.0024.05.880162­2/003, Rel. Des.(a) Cláudia Maia, 13ª CÂMARA CÍVEL, julgamen­

to  em  08/04/2010,  publicação  da  súmula  em  28/04/2010);  (Apelação  Cível 

1.0024.08.248512­9/001,  Rel.  Des.(a)  Eduardo  Mariné  da  Cunha,  17ª  CÂMARA  CÍ­

VEL,  julgamento  em  04/02/2010,  publicação  da  súmula  em  26/02/2010). Em  tese,  é 

possível, a  meu  ver, a  cláusula  moratória  de  40%  sobre  o  valor  atrasado  desde 

que não ultrapasse o valor total do contrato e leve em conta eventual cumprimento 

parcial da obrigação. O TJMG assim entendeu: ―(...) No tocante à multa compensató­

ria, pactuada em 30% do valor do contrato, ela também não se releva excessiva ou abu­

siva, vez que, de acordo com o art. 412, do CCB/2002, a cláusula penal terá como único 

limite o valor da própria obrigação principal. Ademais, no caso específico dos autos, a 

própria cláusula penal prevista no contrato de locação já leva em consideração o even­

tual cumprimento parcial da obrigação contratual, estando ali consignado, de forma ex­

pressa‖(Apelação Cível 1.0024.08.248512­9/001).

14) Contrato de transporte é unilateral imperfeito? 

Resposta: 

Alguns autores defendem a existência da classificação do contrato unilateral imperfei­

to que é aquele que tem prestação para ambas as partes, mas uma prestação não é 

causa da outra. Ex: a doação com encargo (o encargo não é condição para doação, mas 
é uma obrigação criada pelo doador que pode levar, em caso de descumprimento, ao 

seu  revogamento).  Alguns  autores  falam  ainda  em  contratos  bilaterais  imperfeitos, 

nos casos em que, tratando­se contratos unilaterais, surgem obrigações para a parte 

que usualmente não as tinha. Pense­se, por exemplo, no caso das despesas extraordi­

nárias realizadas pelo comodatário. Elas devem ser ressarcidas pelo comodante, ge­

rando, inclusive, direito de retenção. Segundo a melhor doutrina, entretanto, o contra­

to bilateral imperfeito não deixa de ser unilateral. Contudo, em relação ao contrato de 

transporte, não encontrei na doutrina apontamento de que o contrato de transporte 

seria unilateral ou bilateral imperfeito, mas apenas que é um contrato puramente bila­

teral, senão vejamos: 

Além de ser contrato de adesão, [...], o contrato de transporte é também bilateral ou 

sinalagmático,  porque  gera  obrigações  recíprocas.  Os  contratos  bilaterais  em  geral 

exigem equivalência das prestações. Essa equivalência, entretanto, tem características 

próprias no contrato de transporte coletivo, pois o preço da passagem pago pelo pas­

sageiro é inferior ao benefício que recebe. A equivalência, na hipótese, não se dá em 

relação a cada uma das pessoas transportadas, mas em relação ao com junto de pes­

soas, fazendo­se o cálculo aturial da renda que determinada linha pede proporcionar. 

Em função desse cálculo é estipulado, então, o preço da passagem. (GONÇALVES, Car­

los Roberto. Direito Civil Brasileiro: Contratos e Atos Unilaterais.6. ed. São Paulo: Sa­

raiva, 2009). 

1137 

direito de preferência. Só se opera nas transmissões onerosas, como na venda, permuta, 
transação ou dação em pagamento. Não há laudêmio ou direito de preferência nas ces­

sões gratuitas, como na doação e dote, bem como na permuta e na transmissão por he­

rança, pois os atos de natureza benéfica visam favorecer determinada pessoa. […] De 

acordo com o Código Civil 2002, será proibida a cobrança de laudêmio nas trans­

missões dos bens aforados (art. 2.038). Contudo, a regência dos foros, laudêmios, e 

taxas  de  ocupação  relativas  aos  imóveis  da  propriedade  da  União  (notadamente  os 

territórios de Marinha), consta do Decreto­Lei 2.398/87, na qual a SPU apoia a exigên­

cia da exação. (FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito 

Civil: Direito Reais. 8. ed. rev. ampl. atual. Salvador: Juspodvim, 2012. p. 779 (vol. V). 

Pelo  exposto, só  incide laudêmio  nas  enfiteuses da União, nos casos de transmissões 

onerosas. Contudo, devido ao art. 2.038 do Código Civil não incide mais laudêmio nas 

transmissões de qualquer natureza de bem aforado quando se tratar de propriedades par­

ticulares e não terrenos de marinha. Ou seja, não há mais, em geral, incidência de lau­

dêmio. 

16.6.1.3. Questões do TRF3 

1) Qual a natureza jurídica da gestão de negócios? 

Resposta: 

tem natureza de ato unilateral, como ensina Venosa: 

―[...] a gestão de negócios surge como fonte de obrigações, decorrente de manifestação 

unilateral de vontade. De início, não existe acordo de vontades. Não há negócio jurídi­

co, mas ato jurídico, apenas atende­se à vontade presumida do dono. Quando este toma 

conhecimento da conduta e a aprova, aparece o vínculo pactício‖. (VENOSA, Sílvio de 

Salvo. Direito civil: contrato em espécie. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 297). 

 
2) Qual a finalidade de ratificação no caso? 

Resposta: 

convalidar os atos práticos na gestão de negócio, pois ―[...] a gestão se extingue, trans­

formando­se  em  mandato.  Por  essa  razão,  cessam  as  responsabilidades  especiais  que 

vinculam o gestor e não mais se cogitará de saber se foi útil, ou não, a gestão.  É como 

se não tivesse havido gestão de negócios, mas apenas mandato‖. (RODRIGUES, Silvio. 

Direito civil: dos contratos e das declarações unilaterais da vontade.  Vol. 3. 29 ed. São 

Paulo: Saraiva, 2003. P. 407). 

3) No que se refere a doação, quando se aperfeiçoa?  

1138 

Resposta: 

―(...) Ao contrário do que constava no art. 1.165 do CC/1916, seu correspondente na 

codificação anterior, o art. 538 deixou de mencionar a locução 'que os aceita', trazendo 

dúvida se a aceitação do donatário é ou não requisito essencial do contrato. A doutrina 

atual encontra­se dividida ante do tema. Maria Helena Diniz entende que a aceitação do 

donatário continua sendo elemento essencial do contrato (...). Porém, para Paulo Luiz 

Netto Lôbo, a aceitação do donatário não é mais elemento essencial do contrato (...). 

Entendemos, com todo o respeito ao posicionamento contrário, que para que o contrato 

seja válido basta a intenção de doar, ou seja, o ânimo do doador em fazer a liberalidade 

(...)". (TARTUCE, Flávio. Direito Civil, Volume 3: teoria geral dos contratos e contra­

tos em espécie. 5ª Edição. Rio de Janeiro. Editora Forense: Método, 2010. p. 321/322). 

 
4) A doação onerosa seria contrato comutativo? 

Resposta: 

A doação onerosa é um contrato comutativo, não importa a espécie de doação, pois será 

comutativo, conforme ensina Flávio Tartuce: "O contrato é ainda comutativo, pois as 

partes já sabem de imediato quais as prestações (...)". (TARTUCE, Flávio. Direito Ci­

vil, Volume 3: teoria geral dos contratos e contratos em espécie. 5ª Edição. Rio de Ja­

neiro. Editora Forense: Método, 2010. p. 324). 

5) Não realizado o encargo qual providência o doador poderia tomar? 

Resposta: 

"(...) a doação modal ou com encargo é aquela gravada com um ônus, havendo liberali­

dade somente no valor que exceder o ônus  (art. 540 do CC). Não atendido o encargo 

cabe a revogação da doação, como forma de resilição unilateral (...)". Apesar de alguns 

doutrinadores  entenderem  que  a  doação  modal  é  um  contrato  bilateral,  opinamos  no 

sentido de que o contrato é unilateral imperfeito. Isso porque o encargo não constitui 

uma contraprestação, um dever jurídico a fazer com que o contrato seja sinalagmático 

(...)". (TARTUCE, Flávio. Direito Civil, Volume 3: teoria geral dos contratos e contra­

tos em espécie. 5ª Edição. Rio de Janeiro. Editora Forense: Método, 2010. p. 326/327). 

6) Seria caracterizada a situação em um enriquecimento sem causa? 

Resposta: 

(...) O instituto está tratado entre os arts. 555 e 564 do atual do Código Civil e é reco­

nhecido  como  um  direito  potestativo  a  favor  do  doador  (...).  (TARTUCE,  Flávio.  

1139 
 

Direito Civil, Volume 3: teoria geral dos contratos e contratos em espécie. 5ª Edição. 

Rio de Janeiro. Editora Forense: Método, 2010.  p. 341). Assim, a meu ver, pode­se 

concluir que, independentemente de eventual cumprimento parcial do encargo, poderá 

haver a revogação da doação, na medida em que o donatário, desde o início, tem conhe­

cimento, ao aceitar a doação, dessa possibilidade.Portanto, não há se falar em eventual 

enriquecimento ilícito pelo fato de o doador receber o bem de volta, diante da revogação 

da doação, mesmo o donatário tendo cumprido parcialmente o encargo. 

7) Conhece a possibilidade de se propor ação “conditio causa non secuta”? 

Resposta: 

A conditio causa non secuta é sinônimo da cláusula rebus sic stantibus, que constitui a 

Teoria da Imprevisão conforme leciona Venosa:  

―[...] É levada em consideração a aplicação da conditio causa data non secuta, segun­

do a qual o contrato devia ser cumprido conforme as condições em que foi ultimado. 

Possibilitava­se a alteração se se modificassem as condições: contractus qui habent trac­

tum sucessivum et dependentiam de futuro rebus sic stantbus interlligentur. Difundiu­se 

a cláusula resumidamente como rebus sic stantbus, nos contratos de trato sucessivo e 

dependentes do futuro, como implícita em todo contrato de trato sucessivo. (VENOSA, 

Silvio de Salvo. Direito Civil: Teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos; 

7ª Ed. São Paulo: Atlas, 2007. (Coleção direito civil; v. 2) 

Pelo exposto, a ação ―conditio causa non secuta‖ é aquela que venha a discutir a ocor­

rência de fato que desiquilibra a relação contratual original. 

 
8) Qual é a natureza jurídica de um depósito de garantia por ordem de magistrado no bojo de 

um processo? 

Resposta:  

Não consegui localizar doutrina ou jurisprudência para embasar a resposta. 

9) Qual a diferença entre usufruto e direito real de moradia? 

Resposta: 

―Ao contrário do usufruto e do direito de uso, que recaem indistintamente sobre móveis 

e imóveis, o direito de habitação tem como objeto exclusivo o bem imóvel de fins 

residenciais, a teor do exposto no art. 1.414 do Código Civil. No mais, as disposições 

aplicáveis ao usufruto estendem­se à habitação, quando não houver ofensa à sua essên­ 

1140 

cia (art. 1.416 do CC). Isso posto, ao contrário do usufruto, a habitação é incessível, mas 

tal qual aquele instituto, incidem os mesmos deveres de guarda, conservação e institui­

ção‖. (FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil: 

Direito Reais. 8. ed. rev. ampl. atual. Salvador: Juspodvim, 2012. p. 855­856. (vol. V)).  

10) Como se compatibiliza a exploração econômica da coisa e a gratuidade do usufruto? 

Resposta: 

É direito do usufrutuário os proveitos econômicos advindos com a instituição do usufru­

to, não sendo tal disposição incompatível com as formas de instituição do usufruto, que 

pode ser gratuito ou oneroso (convencional, judicial (decorrente de dívida), e misto por 

usucapião). Mesmo nos casos de instituição gratuita (legal, voluntário ou convencional, 
quando não oneroso), o proveito econômico é direito, pois pode servir mesmo para a 

subsistência do usufrutuário. (FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. 

Curso  de  Direito  Civil:  Direito  Reais.  8.  ed.  rev.  ampl.  atual.  Salvador:  Juspodvim, 

2012. (vol. V)). 

Quanto à questão convencional, cabe destacar que:  

―Duas são as formas usuais de sua criação: por alienação ou retenção do usufruto. Em 

qualquer das hipóteses de constituição de usufruto por ato inter vivos, nada impede que 

o atributo da onerosidade esteja presente. Malgrado a sua predominância, a gratuidade 

não é da essência do usufruto. Poderia soar estranho para os que se acostumam com a 

imediata associação do usufruto à tutela alimentar de alguém que se encontra em situa­

ção de vulnerabilidade‖. (FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso 

de Direito Civil: Direito Reais. 8. ed. rev. ampl. atual. Salvador: Juspodvim, 2012. p. 

824. (vol. V)). 
CONTRATOS CURSO DAMÁSIO – VITOR KÜMPEL

COMPROMISSO IRRETRATÁVEL DE COMPRA E VENDA

1. Introdução

O contrato de compra e venda não é hábil nas alienações imobiliárias, o que justifica a existência do
contrato de compromisso de compra e venda irretratável. Ora, o mero contrato de compra e venda não
cumpre seu papel, já que as vendas imobiliárias são realizadas em prestações periódicas.

O contrato de compra e venda não é bom instrumento nas relações com prestações periódicas, pois
ele exige escritura pública (imóveis acima de 30 salários mínimos). Não haveria segurança em conceder
escritura pública no momento em que foi paga apenas uma das parcelas.

De 1917 a 1937 houve um dilema no Brasil. Até o advento do decreto-lei 58, era feita uma promessa de
compra e venda com natureza particular nessas situações de prestações periódicas (não sendo dada
escritura até a quitação). Havia duas conseqüências:

a) Arrependimento de vendedor – algumas vezes, a valorização do terreno era superior aos valores
pagos corrigidos.

b) Múltiplas vendas – nesta situação, o vendedor vendia várias vezes o mesmo terreno, e ninguém
tinha conhecimento (instrumento particular).

O decreto lei 58, de 1937, veio para evitar essas conseqüências, estando em vigor até hoje. O objetivo é
evitar o arrependimento do vendedor (o compromisso é irretratável ao vendedor) e conferir publicidade ao
contrato (evitando múltiplas vendas do mesmo bem).

A natureza não é mais de mera promessa, portanto, mas sim de contrato.

2. Conceito

O compromisso irretratável de compra e venda é um contrato no qual o promitente vendedor aliena imóvel
ao compromissário comprador, com a obrigação deste de efetuar o pagamento integral do preço,
ocasião em que terá direito à escritura definitiva ou à sua adjudicação compulsória.

3. Legislação
Em compromisso de compra e venda há dois sistemas diferentes em vigor:

a) Decreto lei 58/1937 + Lei 649/49 – trata de todos os compromissos em imóveis não loteados.

b) Lei 6766/79 (artigos 25 a 36) – trata dos imóveis loteados.

Ambos os sistemas adotam a Lei 6014/73, que trata da adjudicação compulsória (rito sumário).

A Lei 6015/73 também se aplica a ambos os sistemas (artigos 167, I e II). Trata de diversos tipos de
compromisso registráveis e um tipo que deve ser averbado.

A lei 8078/90 (CDC), artigos 52, §1º e art. 53, também se aplicam (ainda que não se trate de relação de
consumo).

Ver súmula 308 do STJ. Há inúmeras súmulas sobre o assunto.

4. Natureza jurídica

Há três situações jurídicas diversas:

a) Compromisso de compra e venda levado a registro (art. 1417 e 1418 do CC) – nesse caso, o
compromisso de compra e venda É DIREITO REAL.

Para que seja direito real, deverá haver cláusula de irretratabilidade (não admitindo arrependimento)
e registro.

b) Compromisso de compra e venda não registrado – trata-se de contrato, sendo aplicado


fundamentalmente o art. 65 da Lei 6766/79.

Para que o compromisso de compra e venda seja contrato, basta que não seja feito o registro.
Nesta hipótese, haverá contrato particular com eficácia real. HÁ SEMPRE O DIREITO À
ADJUDICAÇÃO COMPULSÓRIA, SEGUNDO O STJ (AINDA QUE NÃO LEVADO A REGISTRO).

c) Mera promessa (art. 27 da Lei 6766/79) – é chamado vulgarmente de “contrato de gaveta”, sendo
muito comum no SFH (sistema financeiro de habitação).

Trata-se de mero contrato de gaveta, pois na lei que regulameta o empréstimo no SFH o imóvel é
inalienável (embora tenha sido alienado). Assim, é considerada promessa para proteger o
comprador.

No RS e no MS este contrato é averbado no registro de imóveis, de forma a proteger o cessionário


adquirente do bem (pois a instituição financeira sempre tenta retirar o imóvel deste).

04/10/10

Art. 462 a 466 - trata do contrato preliminar /promessa/ pré-contrato, que é aquele que visa a
celebração de outro contrato superveniente. Há uma carga de vontade a ser emanada de forma
superveniente. Há duas espécies de contrato preliminar:

i) Unilateral – é aquele que só uma das partes pode exigir o contrato definitivo. É a chamada “opção”.
Por exemplo, dentro do contrato de locação há promessa de compra e venda, pois o locatário
poderá fazer a opção pela compra.

ii) Bilateral – é aquele no qual ambas as partes podem exigir o contrato definitivo. Não possui relação
com o compromisso de compra e venda, pois este já é definitivo (não exige outro contrato definitivo
posterior).

Há jurisprudência nos três sentidos.

5. Requisitos do compromisso irretratável de compra e venda

5.1. Forma

O compromisso de compra e venda é contrato plúrimo, podendo ser realizado por escritura pública ou
instrumento particular, INDEPENDENTEMENTE DE SEU VALOR. Não sofre as limitações do art. 108 do
CC.

Conversão substancial é a transformação de um contrato nulo em contrato válido (art. 170). Consiste em
exceção ao art. 169, que prega a impossibilidade de convalidar nulidades, Toda vez que a nulidade for de
forma, e as partes tiverem vontade em relação ao negócio convertido, a nulidade convalesce.

5.2. Irretratabilidade

Consiste na IMPOSSIBILIDADE DE ARREPENDIMENTO. Ora, se o compromisso de compra e venda


fosse retratável, não haveria acesso ao registro de imóveis.

A cláusula de arrependimento é cláusula de resilição contratual.

O STF, na década de 40, estabeleceu a súmula 166, segundo a qual, no silencio, se presume a
irretratabilidade. Esta súmula facilita o acesso ao registro de imóveis no compromisso de compra e venda.

A CLÁUSULA DE ARREPENDIMENTO, PORTANTO, DEVERÁ SER EXPRESSA (não basta o nomem


iuris, devendo haver uma cláusula expressa nesse sentido).

5.3. Pagamento

O compromisso de compra e venda pode ser à vista ou em prestações periódicas (embora seja raro o
compromisso de compra e venda se o pagamento for ocorrer à vista).

No compromisso de compra e venda, o compromissário comprador sempre possui direito à indenização


pelas benfeitorias necessárias e úteis (estas são inafastáveis por cláusula contrária) – art. 34 da Lei
6766/79.

O compromissário comprador sempre tem direito à restituição das prestações pagas (ainda que não se trate
de relação de consumo, aplica-se a regra do art. 53 do CDC).
Se o compromissário comprador estiver em mora, há duas possibilidades:

i) Multa de até 10% (cláusula penal), se tratando de relações civis em geral;

ii) Multa de até 2%, se tratando de relação de consumo.

5.4. Imóvel

O imóvel deve ser regular (deve possuir matrícula). Há dois regimes distintos:

a) Se tratando de loteamento, aplicam-se as regras da Lei 6766/79

b) Não se tratando de loteamento, aplica-se o Decreto lei 58/37

5.5. Capacidade

Consiste na figura da legitimação.

Que efeito gera o casamento superveniente do promitente vendedor ou do compromissário comprador


(casamento/divórcio no curso do compromisso, enquanto estão sendo pagas as parcelas)?

Em princípio, a capacidade é verificada no momento da celebração. Modificações supervenientes só


vinculam se averbadas no registro de imóveis (pois somente nesta caso tais modificações estarão
devidamente publicizadas).

É possível o compromissário comprador usucapir do promitente vendedor?

Não, é impossível. Trata-se de relação precária (nunca haverá usucapião em relação ao promitente
vendedor, ou em relação ao banco em que o imóvel está hipotecado).

Existe outorga uxória / marital em compromisso de compra e venda?

Sim, há previsão expressa tanto no decreto lei, quanto na lei 6766/79.

Ainda que não houvesse tal previsão expressa, a regra é de que todas as situações da compra e venda se
aplicam ao compromisso (direito de preferência, anuência dos herdeiros, tutelado e curatelado, etc.).

A analogia neste caso se aplica, por se tratar de situação de proteção (embora limitativa, a regra se aplica,
se acordo com os tribunais).

5.6. Registro do compromisso de compra e venda no cartório de registro de imóveis

Há dois momentos distintos.

O registro do compromisso gera publicidade e oponibilidade erga omnes (embora só tenha, até então, sido
pago o sinal).
Tratando-se de incorporação imobiliária, o registro possui uma importância ainda maior (embora na prática
não seja realizado), pois ele retira o poder do incorporador modificar sua a obra sem sua autorização. É
importante que o compromisso de compra e venda seja averbado na matrícula do imóvel, vinculando o
registrador a qualquer modificação na planta originária.

Como na prática o compromisso não é registrado, surgiu a súmula 239 do STJ, que garante a adjudicação
compulsória neste caso mesmo sem registro.

6. Efeitos do compromisso de compra e venda

6.1. Compromisso registrado

Neste caso, há efeitos próprios do registro: oponibilidade erga omnes e absoluto direito de seqüela.

Se o compromisso estiver registrado, não entra na matrícula do imóvel ônus, penhora por dívida do
vendedor, superveniente a esse registro.

A súmula 308 do STJ determina que qualquer hipoteca feita entre o empreendedor e o banco não vincula o
compromissário comprador.

6.2. Efeitos gerais (mesmo sem registro)

a) Transmissibilidade

A transmissibilidade pode ser:

i) Causa mortis – o promitente vendedor transfere para o herdeiro os créditos, bem como a
obrigação de outorga da escritura definitiva (sob pena de figurarem no pólo passivo da
adjudicação compulsória).

O falecimento do compromissário comprador transfere aos herdeiros os débitos, e a


obrigação de pagamento superveniente (transferência imediata), bem como o direito à
escritura definitiva.

ii) Inter vivos – por ato inter vivos, o vendedor pode fazer uma cessão formal de crédito. Esta
somente vinculará o comprador para fins de pagamento e de outorga da escritura se for
registrada (a princípio, não vincula o compromissário comprador).

O compromissário comprador pode realizar cessão a terceiro, o que é chamado de


trespasse de compromisso de compra e venda. Este é realizado no verso de uma das vias.

Este trespasse não necessita de autorização do promitente vendedor, pois ele gera
obrigação solidária (permitindo a circulação de riquezas, e dando solvência e liquidez para o
compromisso de compra e venda). É o que dispõe o decreto lei 58/37.

18/10/10

b) Imissão na posse do imóvel

O compromissório comprador tem direito de ser investido na posse do imóvel adquirido, ele tem
direito de ser imitido, e até pode ser reintegrado, excepcionalmente, quando for feita uma cláusula
“constituti” (constituo possessório) no compromisso.

STJ: Despesa condominial só pode ser cobrada do compromissário comprador com a efetiva
imissão na posse, pouco importa o que está escrito no contrato. É uma despesa que decorre do
ato de imissão.

c) Purgação da mora

O compromissário comprador tem direito de pagar as prestações atrasadas, de purgar a mora, ele
tem direito de ser notificado para purgar a mora, que para muitos é condição de rescisão do
compromisso. Se o compromisso for registrado, a purgação da mora se dá por notificação
extrajudicial no cartório do registro de imóveis. Se não for registrado o compromisso, se dará por
notificação extrajudicial via cartório de títulos e documentos.

d) Adjudicação compulsória

Direito de registro da coisa paga, quitada, na outorga da escritura.

6.3. Extinção do Compromisso de compra e venda

Temos a extinção judicial e administrativa. A extinção administrativa depende do registro do


compromisso. Vejamos:

 Ocorre com o pagamento integral. Pago o compromisso, o vendedor faz a outorga da


escritura, que é levada a registro Essa forma de extinção é chamada de adimplemento, ou
execução, ou cumprimento voluntário do contrato.

 Distrato: precisa ter a mesma forma que a lei exige para o contrato. Pode ser feto por
escritura pública ou instrumento particular.

 Rescisão administrativa: novidade. É aferição de mora pelo oficial de registro de imóveis, do


mesmo jeito da alienação fiduciária. Para que ela se opere, é necessário:

a) O registro do compromisso de compra e venda do cartório de registro de imóveis da


circunscrição do bem. O credor (vendedor) deve requerer pelo registrador de imóveis a
constituição em mora do comprador, a notificação se dá pelo registro de imóveis. Para
imóveis lotados o prazo é de 30 dias, se o imóvel não for loteado o prazo é de 15 dias.

b) O oficial faz a prenotação desse pedido e faz a chamada notificação pessoal.


Diante disso, pode haver a localização do devedor, e a purgação da mora; pode ser que o
devedor seja localizado, mas ele não purga a mora; pode ser que o devedor não seja
localizado, nesse caso deverá ser feita a expedição de edital (art. 49,§2º da Lei).

c) Se foi localizado o devedor e ele não pagou, ou não localizou nem por edital, será
necessário certidão do oficial do registro de imóveis que tem força de aferição de culpa e
inadimplemento.

d) Averbação de Cancelamento do compromisso de compra e venda. Só vai haver a


liberação do imóvel para venda se houver nos mesmos autos o depósito das prestações
pagas. Aqui ele só pode fazer a retenção do sinal.

CONTRATO DE MANDATO – ART. 653 A 692, CC:

1. Conceito

Decorre do instituto da representação. A representação é a prática de um ato em nome de alguém. Na


parte geral, estudamos que a representação visa garantir a capacidade de exercício de direitos. A
representação pode ser por lei ou judicial ou voluntária.

1.1. Representação legal: situações de poder familiar

1.2. Representação judicial: curatela, tutela

1.3. Representação voluntária: mandato. Art. 120, CC. Em nosso caso não existe mandato sem
representação, mas existe representação em mandato, pois representação é gênero, espécie é o mandato.

2. Etimologia

2.1. Manus dare – dar as mãos. Tem como essência figura da confiança. A perda da confiança é a principal
forma de rescisão desse instrumento. como regra geral temos a extinção por resilição.

2.2. Mandatum – dar poder. Outorga de poder, por isso que em principio nunca a responsabilidade
ultrapassa o Poder deferido.

25/10/10

O mandato é um vinculo de confiança. Cessada esta, cessa a relação de mandato.

3. Conceito

Mandato é o contrato no qual o mandante (titular de poder) confere poderes para o mandatário representá-
lo na prática de ato junto a terceiro.

Não se pode confundir mandato com procuração. No mandato o mandante outorga poderes ao mandatário,
o qual deverá aceitar tais poderes para praticar os atos junto a terceiros.

4. Natureza jurídica

O contrato de mandato é consensual, portanto, a mera manifestação de vontades já o caracteriza.

Trata-se também de contrato informal. O art. 659 do CC determina que a aceitação pode ser tácita.

O contrato de mandato pode ser bilateral ou unilateral. É bilateral quando há prestação por parte de ambos
os participantes, ou seja, quando for um contrato oneroso (mandante remunera o mandatário pela
realização dos atos, segundo ordens e determinações). Sempre que o contrato de mandato for gratuito, será
unilateral.

No silencio, o entende-se que o contrato de mandato é unilateral, gratuito (art. 658 do CC), exceto se o
objeto for aquele praticado pelo mandatário como ofício ou profissão lucrativa (no caso do advogado, por
exemplo, não se presume que o contrato seja gratuito).

Em princípio, o contrato é pessoal (personalíssimo). Assim, o mandatário não pode prorrogar os poderes
recebidos para terceiro.

O contrato de mandato é um contrato preparatório, pois sempre é utilizado como base para uma nova
preparação. Assim, no contrato de mandato devem constar minuciosamente os poderes do mandatário, em
cláusula expressa.

5. Procuração

Qual a relação entre mandato e procuração?

O art. 653 do CC menciona que a procuração é instrumento do mandato. Porém, não se trata de verdade
inexorável. É possível a existência de procuração sem mandato e de mandato sem procuração.

A procuração é um ato unilateral. O procurador recebe poderes do procurado (este recebe uma outorga de
poder). O mandante faz a outorga de poderes ao mandatário (por meio da procuração), o que pode ser feito
de duas maneiras, por escritura pública ou por instrumento particular. É possível que o mandatário sequer
saiba que está recebendo poderes. O ato do mandante é unilateral, portanto.

Para que este ato unilateral se transforme em contrato de mandato, é necessária a aceitação do mandatário
(art. 659), o que ocorre com o início da execução dos atos. Porém, também é possível que surja o contrato
de mandato por meio da elaboração do instrumento de mandato (que é diverso da procuração, e com ela
não se confunde).

Percebe-se que é possível que haja dois instrumentos distintos, o instrumento de procuração (assinado
unicamente pelo mandante/procurado) e o instrumento de mandato (assinado por mandante e mandatário).

Na procuração há limite de poderes, alcance temporal desses poderes, e todas as suas características. O
instrumento de mandato trata de outros aspectos, por exemplo, qual será o valor recebido pelo mandatário
(se houver). Trata-se de contrato sigiloso. Os poderes já foram estabelecidos na procuração, e não
precisam mais ser mencionados.

Há mandato sem procuração sempre que o instrumento de mandato for realizado antes da outorga de
poderes.

Haverá procuração sem mandato sempre que a procuração não for aceita pelo mandatário.

6. Substabelecimento

Consiste na conferência de poderes do procurador para outro (consiste em prorrogar poderes de um


terceiro). O CC trata de três diferentes situações jurídicas:
a) Cláusula de autorização – é possível que cláusula confira a possibilidade de o procurador dar
poderes a um terceiro (art. 667, §2º). Este dispositivo estabelece a responsabilidade do
mandatário pela culpa in eligendo (é possível que o ato não seja praticado pelo terceiro, e esta
responsabilidade é do mandtário, que escolheu mal).

b) Silêncio - O art. 667, caput, estabelece que a responsabilidade é culposa, em geral.

c) Cláusula de proibição – art. 667, §1º - responsabilidade civil da mora. Se a obrigação de não
substabelecer constar da procuração, não haverá vinculação do mandante originário (procurado),
pois o terceiro passa a não ser mais considerado um terceiro de boa fé.

01/11/10

7. Características

7.1. Representatividade

É a outorga para praticar o ato. Ela pode ser:

a) Legal: decorrente do poder familiar

b) Judicial: curatela

c) Voluntária

A representatividade voluntária pode ser por:

d. Mandato: mais amplo porque nele o mandatário tem total discricionariedade para praticar o ato.

e. Nunciação: é o poder conferido do nunciante ao núncio.o núncio pratica o ato exatamente


(literalmente) como determinado pelo nunciante. Não há qualquer discricionariedade. Ex:
nunciação para o casamento: só para dizer sim.

f. Preposição: o preposto também recebe poderes do preponente, mas o preposto é empregado. Por
isso que advogado não deve ser preposto, porque advogado não é empregado de ninguém, ele
tem discricionariedade.

Obs: na comissão mercantil (chamada de comissão empresarial), o comissário não tem representatividade,
ele pratica o ato em nome próprio (art. 693).
7.2. Revogabilidade

Revogar é extinguir sem motivo e sem culpa. Ë revogável porque cessada a relação de confiança, extingue.

Exceções: situações de irrevogabilidade

g. Cláusula de irrevogabilidade (art. 683 do CC)

Se tiver esta cláusula, pode haver a revogação, porém tem que pagar perdas e danos.

A revogação que é resilição, transformou-se em rescisão.

h. Em causa própria (“In rem suam”)

Distinção de procuração in rem suam e do mandato in rem suam:

A procuração em causa própria é aquela em que uma parte, por ato unilateral, o procurado,
confere o poder para uma pessoa, procurador, alienar seu bem, podendo este pagar o valor
estipulado. A característica dessa procuração é que não tem translatividade. Tem a escritura da
procuração (não gera ITBI, porque não tem certeza se o procurador vai querer o bem) e outra
escritura da compra e venda (só aqui gera o ITBI).

No mandato in rem suam, o mandante já faz a escritura em nome do mandatário (os dois
assinam). Já tem translatividade. Esse documento já vai direto para o registro de imóveis (o
mandatário não precisa fazer nova escritura para compra e venda, pode registrar direto, salvo se
for vender a terceiro). É uma escritura só porque os dois vão juntos ao cartório (o mandatário já
aceitou). Só não vai registrar ainda porque pode ser que queira vender a terceiro. O conselho da
magistratura entende que tem que ter o preço estipulado (tanto da procuração quanto do
mandato).

Essas duas situações são irretratáveis. A revogação não tem eficácia. Além disso, mesmo
morrendo a parte, não extingue.

8. Estrutura jurídica

O sujeito ativo no contrato de mandato é o titular de poderes (mandante). Para que tais poderes possam
ser outorgados, é necessário que seja dotado de capacidade genérica contratual (poder de celebrar
qualquer contrato, ou seja, deve haver ausência das situações do art. 3º e 4º do CC) – art. 654.

O incapaz pode outorgar poderes?

Para a outorga de poderes por instrumento particular, a capacidade deve ser plena.

Se a capacidade for restrita, há necessidade de instrumento público., Portanto, o relativamente incapaz


somente pode outorgar poderes por meio de escritura pública, sempre assistido.

O absolutamente incapaz não pode ser mandante. Em algumas situações se admite a escritura pública
(sendo imprescindível a representação legal) e em outros o alvará judicial.
Pode ser mandatário, ou seja, sujeito passivo do contrato de mandato, o maior de 16 anos e menor de 18
anos. Porém, isso prejudica o mandante, que somente poderá reaver o mandato quando o mandatário agiu
com dolo em relação a terceiro (dolo de aproveitamento) ou quando obteve proveito econômico – art. 666
do CC.

O objeto do mandato são negócios jurídicos em geral, nas relações patrimoniais.

É possível mandato que verse sobre relações não patrimoniais, como por exemplo o mandato para a
celebração do casamento.

É possível mandato para a habilitação para o casamento?

A habilitação deve ser feita pessoalmente, de acordo com o art. 1526, perante o oficial de registro civil, com
audiência do MP. Esta determinação foi introduzida pela Lei 12133/09.

A interpretação que tem sido dada é pela admissão de procuração para a habilitação para o casamento,
até mesmo por instrumento particular com firma reconhecida (em que pese a inserção do termo
“pessoalmente” no dispositivo, que deve ser interpretado de maneira bastante ampla).

Essa interpretação se dá pelo fato de que quem pode o mais, pode o menos. Assim, se é possível casar por
procuração, não será razoável não poder se habilitar para o casamento pela mesma forma.

O mandato não pode ter por objeto atos personalíssimos. Porém, o reconhecimento de filho pode ser
realizado por procuração (não há vedação expressa para tanto), desde que o procurador esteja portanto a
declaração de nascido vivo (que já consta o nome da mãe), a procuração e a firma reconhecida.

São atos personalíssimos:

 Feitura de testamento público – deve ser realizado pessoalmente (as outras modalidades de
testamento podem ser realizadas por procuração). Isso ocorre pelo fato de ser necessário ao
tabelião atestar a higidez mental do testador.

 Benefícios previdenciários – há um controle especial em relação a eles.

 Exercício de poder familiar – trata-se de exercício personalíssimo.

 Sufrágio

 Concurso público

Obs: Reconhecimento de filho pode ser feito por procuração, porque não há vedação.

Forma

Normalmente, o CC determina forma para procuração, porque mandato é contrato (em princípio pode ser
realizado por instrumento particular). A procuração é um efeito do mandato.
Em quais situações é necessário instrumento público como forma da procuração?

d. Procuração in rem suam com natureza de venda indireta ou direta tem que ser sempre por
escritura pública pelo art. 108 (quando o imóvel tiver valor maior de 30 salários mínimos)

e. Celebração de casamento

f. Quando se tratar de absoluta ou relativamente incapaz e estiver representado ou assistido

g. Negócio jurídico formal - a procuração tem que ser formal quando o ato a ser celebrado for
formal (Art. 657)

Exceção: O art. 655 quando houver procuração por instrumento público e o substabelecimento
pode ser por instrumento particular

Se aplicar o principio da unidade, quando se usa a procuração como instrumento do mandato (art.
653). Neste caso, a procuração tem que conter todos os acertos do contrato de mandato. Na
prática, não é muito aconselhável juntar os dois.

03/11/10

A forma do mandato também será o instrumento público nos seguintes casos:

k. Mandato in rem suam

Obs; Substabelecimento tem forma livre (o contrato é de forma livre), ou seja, pode ser por instrumento
particular.

9. Espécies

Espécies de procuração

A procuração pode ser:

b. Ad judicia

c. Ad negotio

d. Apud acta – é aquela realizada para um determinado ato, materializada nos mesmos autos do
processo (geralmente é levrada pelo escrivão).

e. De rato – quando o advogado protesta pela juntada posterior da procuração.


Espécies de mandato

Contrato oneroso X Contrato gratuito

O contrato só é oneroso quando houver cláusula de pagamento, ou quando por costume, por lei ou pela
natureza jurídica do contrato a onerosidade se impuser.

Mandato civil X Mandato empresarial / mercantil

Em regra, o mandato é civil (é o que ocorre com os mandatos judiciais).

Mandato verbal X Mandato escrito

A procuração é obrigatoriamente escrita, diferentemente do mandato, que poderá ser verbal quando o
mandante faz procuração, e esta é aceita pelo mandatário (seria a aceitação verbal do contrato de mandato)
– art. 659 do CC.

Mandato singular X Mandato coletivo

O mandato coletivo é aquele que outorga poderes para dois ou mais mandatários.

O mandato coletivo pode ser conjunto, é aquele que deve ser exercido simultaneamente por todos (art.
672). Deve haver previsão expressa nesse sentido. Isso significa que o mandato coletivo é
presumidamente solidário/simultâneo, ou seja, qualquer um dos mandatários poderá praticar todos os atos.

O contrato coletivo ainda pode ser fracionado, ou seja, poderá conter uma divisão de atribuições, desde que
prevista de forma expressa.

Também há o contrato coletivo sucessivo, que é aquele que vem em cadeia (desencadeamento dos atos a
serem praticados). Quebrada a sucessividade, haverá ineficácia.

Mandato geral X Mandato especial

O mandato geral é aquele que só confere poderes de administração (art. 661), ou seja, é insuscetível de
trazer qualquer prejuízo econômico permanente à parte.

O mandato especial é aquele que traz expressamente poderes especiais (art. 661, §1º). Ex: alienação
onerosa ou gratuita; hipotecar bens ou estabelecer gravames ao bem (direito real sobre coisa alheia);
transação. Estes são os mandatos especiais próprios.

Há, ainda, os mandatos especiais impróprios. Ex: divórcio administrativo, no qual se confere ao advogado
poderes para dissolver o casamento (Lei 11441/07). Os poderes para transigir devem estar previstos de
forma minuciosa, nos termos da resolução 35 do CNJ (deve ser específico, o conteúdo da cláusula deve ser
determinado). O mesmo ocorre no contrato de mandato para autorizar o casamento por procuração (deve
haver especificidade do conteúdo da cláusula – determinar quando, com quem e onde permite que se
realize o casamento).
Mandato bastante

A procuração bastante é aquela suficiente para a prática de todos os atos determinados.

10. Efeitos jurídicos

10.1. Efeitos jurídicos para o mandante

As obrigações do mandante estão prevista nos artigos 675 a 681, bem como seus direitos. Vejamos:

B) Direito de exigir o cumprimento do convencionado

C) Direito de exigir a prestação de contas

D) Direito de responsabilizar o mandatário (art. 662 – excesso, abuso e desvio de poder – nestes
casos, sem a ratificação superveniente do mandante, o mandatário deverá ser responsabilizado).

O terceiro pode ser responsabilizado quando houver excesso, abuso ou desvio de poder pelo
mandatário? De acordo com o art. 673, uma vez que o terceiro está ciente dos poderes conferidos
ao mandatário, não há como acionar a parte na condição de mandatário (desaparece a condição de
mandato em relação ao terceiro).

Na relação entre mandatário e terceiro, como aferir a boa fé do terceiro?

De acordo com o art. 118, caberá ao mandatário informar o terceiro de seus poderes. Se nada for
dito, presume-se o terceiro como de boa fé.

Há algum caso em que o mandante possui responsabilidade civil? Sim, se for adotada a Teoria da
Aparência. Toda vez que o mandante deveria ter ciência do excesso, abuso ou desvio de poder,
responderá pelos danos causados a terceiros (pois não atuou com cautela necessária).

E) Direito de proibir o substabelecimento – o mandante pode exigir a pessoalidade

F) Direito de revogar ad nutum o mandato (não se exige qualquer motivo)

G) Obrigação de remunerar os serviços (art. 675 e 676). O art. 677 trata dos juros da data do
desembolso – a cada gasto do mandatário são imputados juros imediatamente.

H) Obrigação do cumprimento em relação aos terceiros de boa fé (art. 679). Não havendo excesso,
abuso ou desvio de poder, o mandante fica obrigado, ainda que o mandatário atue contrariamente a
sua vontade (isso se deve a discricionariedade do mandato).

10.2. Efeitos jurídicos para o mandatário

B) Direito de remuneração em sentido geral (ressarcimentos, pagamento de despesas, acessórios,


etc.)

Em princípio, não há remuneração propriamente dita, pois o contrato não se presume oneroso.
Somente haverá remuneração quando o mandato for oneroso ou quando a natureza da obrigação
assim determinar.
Se esta remuneração não for paga ou fixada, será arbitrada.

C) Direito de retenção da coisa, até que seja reembolsado (art. 681)

D) Direito de substabelecer (desde que convencionado expressamente) – no silêncio, o mandatário


responde por culpa in eligendo, se houver dano.

E) Obrigação de representatividade, ou seja, de cumprir o convencionado (apesar de haver


discricionariedade para tanto).

F) Obrigação de diligência (pois o mandato envolve o nome do mandante, e o mandatário deve ser
diligente, já que não está atuando em nome próprio).

G) Obrigação de informar (trata-se de obrigação dupla, pois deverá informar não apenas os
mandantes, mas também os terceiros – são sempre presumidamente de boa fé).

H) Obrigação de indenizar o mandante quando do descumprimento da obrigação. Essa obrigação de


indenizar pode ser compensada no seu direito de ressarcimento das despesas e remuneração.

I) Obrigação de prestar contas

10.3. Extinção

O art. 682 do CC traz um rol exemplificativo das causas de extinção do mandato. Este dispositivo não
menciona a principal forma de extinção (a mais usual na prática), qual seja, o distrato.

O distrato é uma resilição bilateral, devendo obedecer a mesma forma que a lei exige para o contrato (e não
especificamente a forma em que o contrato foi realizado). O distrato do mandato, portanto, pode ser
realizado por qualquer instrumento. Se a procuração foi dada por escritura pública, a revogação também
deverá ser por escritura pública.

Outra forma de extinção é a revogação (art. 682, I). Trata-se de resilição unilateral, que opera ou por força
de distrato anterior, ou por ato unilateral do mandante (denúncia contratual – o mandatário deverá ser
formalmente notificado, judicialmente ou por cartório de titulos e documentos).

Os terceiro também deverão ser notificados (por força do art. 686 do CC).

Outra forma de extinção do mandato é a renúncia, que também se trata de resilição unilateral. O
mandatário poderá renunciar aos poderes dados (art. 682, I) – denúncia contratual.

Art. 688 – deve haver antecedência na notificação. Se o mandante se sentir prejudicado, deverá
contranotificar o mandatário, podendo até mesmo pedir indenização.

Outro modo de extinção é pela morte do mandatário (art. 691).

Também é possível citar como modo de extinção a incapacidade de qualquer das partes, Essa
incapacidade se dá em dois sentidos.

G) Incapacidade formal – é a interdição. No próprio ato de interdição já se manda cancelar o mandato e


seus poderes. Art. 682, II.

H) Incapacidade informal – neste caso não há interdição, o que faz surgir um problema. Ora, a
incapacidade não se presume, deverá ser formalizada (art. 682, III). A incapacidade informal não
gera proteção às partes, já que não há presunção de inabilitação.

COMISSÃO (art. 693 a 709)

1. Introdução

Havia discussão sobre a natureza da comissão, se era contrato civil ou comercial (já que era prevista pelo
código comercial de 1850). Com a revogação deste, a comissão passou a ser prevista pelo CC/2002.

Essa discussão perdeu a importâcia, e atualmente há a comissão civil e a comissão empresarial/mercantil. A


comissão será empresarial/mercantil quando o comissário for empresário.

2. Conceito

Contrato de comissão é o mandato sem representação. O art. 709 determina que se aplicam á comissão, no
que couber, as regras sobre o mandato. A pessoa recebe poderes, mas age em nome próprio (pois não há
representação).

Comissão é um contrato no qual o comitente transfere poderes para o comissário adquirir e alienar bens
junto a terceiro, no seu próprio nome e sob sua responsabilidade, recebendo uma remuneração e efetuando
a restituição de valores.

A relação entre comissário e terceiro é direta.

3. Classificação

Há quem diga que existem três espécies de contrato de comissão, quanto aos poderes conferidos ao
comissário:

1.1.Comissões imperativas – é aquela comissão em que o comissário não tem nenhum poder,
nenhuma discricionariedade, cumprindo rigorosamente o que foi determinado.

1.2.Comissões indicativas – nesta comissão existe certa discricionariedade por parte do


comissário, que pode até mesmo receber certo ganho.

1.3.Comissões facultativas – em tais comissões o comissário possui total discricionariedade.


É bastante semelhante à venda em consignação.

4. Natureza jurídica

Diferentemente do que ocorre no mandato, o comissário não é dotado de representatividade,

A comissão é sempre contrato bilateral e oneroso, ou seja, sempre haverá a figura da remuneração (art.
701) – se não estipulada, será arbitrada segundo os usos do local.

Trata-se de contrato sempre personalíssimo (o comissário não pode transferir poderes a terceiro).

Ademais, se trata de contrato consensual, ou seja, informal.


5. Características fundamentais

São elas:

5.1. Intermediação – o comissário é sempre intermediário entre o comitente e o terceiro.

A intermediação pode ser:

d. Própria – nesta, o comissário sequer informa ao terceiro quem é o comitente. Esta é a regra geral.

e. Imprópria – nesta, o comissário se vale do nome do comitente para realizar o negócio (apesar se a
responsabilidade ser apenas sua – comissário) – art. 695.

5.2. Responsabilidade civil própria

Há exceções, como ocorre com a cessão de direitos. Neste caso, é possível gerar responsabilidade para o
comitente (cessão expressa e formal para o comitente – art. 694), o que não ocorre na prática.

Alguns autores entendem que, havendo cessão de direitos para o comitente, há espécie de mandato
impróprio.

Pode haver solidariedade na responsabilidade, entre comissário e comitente?

Somente se houver convenção expressa nesse sentido.

6. Efeitos jurídicos do contrato de comissão

6.1. Efeitos jurídicos em relação ao comitente

a) Direito do comitente de modificar ordens ou instruções do comissário (art. 704)

b) Direito de não responder perante terceiros (art. 693)

c) Direito de responsabilizar terceiros (é o direito de sub-rogação dos direitos assumidos pelo


comissário, responsabilizando os terceiros)

d) Direito de responsabilizar o comissário, toda vez que este não fizer repasse de valores (art. 706)

e) Obrigação de remunerar o comissário (art. 701)

f) Obrigação de fornecer fundos

g) Obrigação de pagar os juros pelo que o comissário tiver adiantado para o cumprimento das ordens
(art. 706, 1ª parte)

6.2. Efeitos jurídicos em relação ao comissário

a) Obrigação de diligência na aquisição e na venda

b) Obrigação do repasse de valores

c) Direito à remuneração, inclusive quanto aos adiantamentos para o cumprimento do encargo


d) Direito de retenção dos valores que devem ser repassados, até que seja remunerado e
reembolsado pelas despesas (art. 708)

7. Cláusula del credere

Trata-se de cláusula que protege o comitente, pois cria uma solidariedade entre o comissário e o terceiro (é
uma cláusula fiduciária).

Assim, o não pagamento por parte do terceiro, ao comissário, obriga o próprio comissário a pagar o
comitente.

Essa cláusula implica no aumento da remuneração do comitente ao comissário (sob pena de a cláusula ser
abusiva). Ela apenas se justifica quando há aumento na remuneração (art. 698).

22/11/10

CONTRATO DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA

1. Introdução

Este contrato veio para substituir as hipotecas.


A alienação fiduciária nasceu da fidúcia cum amico (confiança com amigo), o qual era um negócio jurídico
realizado entre dois titulares, em que uma pessoa transferia o patrimônio para um terceiro, com a obrigação
de restituição (retomada).

Aquele que iria para a guerra transferia o patrimônio a um terceiro. Assim, caso viesse a sofrer sanção de
redução do patrimônio, nada perderia, pois o patrimônio estava no poder do “amigo”. Em seguida, poderia
retomar seus bens.

Criou-se a partir daí a fidúcia cum creditore (a transferência para um credor, que restituía o bem com a
quitação).

2. Conceito

A alienação fiduciária em garantia é o negócio jurídico no qual o devedor transfere determinado bem, móvel
ou imóvel, ao credor, com o direito de restituição por força da quitação.

É o que dispõe o art. 1361 do CC e o art. 22 da Lei 9514.

Porém, este conceito legal é falho, pois não corresponde à realidade. Ora, ninguém transfere o patrimônio
para restituí-lo.

Atualmente, a alienação fiduciária possui uma classificação.

3. Classificação

No início, havia apenas a alienação fiduciária em garantia de bem móvel infungível, a qual era prevista
pela lei 4728/65. Posteriormente, esta modalidade passou a ser regulada pelo decreto lei 911/69.
Atualmente, é regulado pelo CC (artigos 1961 a 1968).

O CC não revogou o decreto lei 911/69, pois disciplina apenas a parte material deste contrato. A parte
processual, prevista no decreto lei, continua em vigor.

Foi criada a alienação fiduciária em garantia de bem imóvel, a qual não é regulada pelo CC. Está prevista
na Lei 9514/97, que trata do sistema financeiro imobiliário (artigos 22 a 33).

Esta lei foi modernizada pela lei 10931/04, que ampliou a alienação para além do sistema financeiro,
podendo ser utilizada por todos (não apenas entre particular e instituição financeira).

A Lei 11481/07 também alterou a Lei 9514/97, trazendo algumas inovações.

4. Natureza jurídica

4.1. Propriedade resolúvel

A alienação fiduciária em garantia, de acordo com o CC, possui natureza jurídica de propriedade resolúvel.
Ou seja, o devedor transfere a propriedade ao credor, tendo poder de retomada.

Este é o conceito previsto no art. 1361 do CC (bens móveis) e no art. 22 da Lei 9514/97 (bens imóveis).

A crítica a esta tese é o fato de o credor não se tornar proprietário do bem com a transmissão. É o que a Lei
9514 determina no art. 26, ao determinar que a propriedade somente se consolida quando houver o não
pagamento da dívida (o inadimplemento consolida a propriedade do credor).

Não se pode falar em propriedade resolúvel se ainda não houver transferência da propriedade ao credor.

4.2. Direito de garantia

Parte da doutrina não concorda com a doutrina de propriedade resolúvel. Isto porque o art. 1367 manda
aplicar os princípios do direito de garantia.

Esta é a posição de MHD, que entende que a alienação fiduciária é uma garantia dada em um mútuo. Seria
um contrato acessório (se dá em garantia um bem, o qual é dado em mútuo, e com a quitação ele retorna
ao patrimônio do devedor).

Porém, não se pode falar também em direito de garantia. O art. 1475 do CC determina ser nula a cláusula
que tire o bem do comércio (ambulatoriedade do bem dado em garantia – deve circular com dívida, de modo
que quem adquire o bem deverá quitar a dívida. No direito de garantia o bem sempre está no comercio, e na
alienação fiduciária o bem está fora do comércio.

4.3. Direito sui generis

Alguns autores entendem que se trata de direito sui generis, com regras próprias e técnica própria.

Esta tese é melhor do que as duas primeiras, mas não se aplica porque se trata de instituto semelhante ao
patrimônio de afetação.

4.4. Patrimônio de afetação

O professor concorda com esta tese, embora ela não seja muito difundida.

Trata-se de patrimônio que sai da pessoa do titular com finalidade própria, sem ingressar no patrimônio de
ninguém.

Na alienação fiduciária, o devedor fiduciante aliena determinado bem móvel ou imóvel, com determinado
fim, junto ao credor fiduciário (o bem é afetado por força de um crédito, junto ao credor, o que deixa o bem
fora do comércio, pois não pertence a nenhum dos sujeitos).

Há duas possibilidades. Com o inadimplemento, o credor poderá levar o bem à hasta pública (até o
inadimplemento o bem não pertence nem ao credor nem ao devedor – na vigência da alienação o bem está
afetado com determinado fim, sem possuir titular certo).

Também é possível que ocorra o adimplemento, de modo que o bem retorna ao patrimônio do devedor.

O CC trata da afetação em relação aos bens incorporados (lei 4591) e em relação ao bem de família
voluntário (é instituído, deixando de ser propriedade da pessoa, e passando para a propriedade da família).

A regra do bem de família voluntário está prevista no art. 1722, que determina a impossibilidade de extinguir
o bem com a mera morte do casal (o bem está afetado).
5. Características

A alienação fiduciária possui as seguintes características:

3. Contratualidade – a alienação fiduciária deverá necessariamente se originar em um contrato.

Trata-se de contrato que se converte em direito real por força do registro no registro de imóveis ou
por força do registro no cartório de títulos e documentos (em relação a bens móveis).

O art. 23 do art. 9514/97 expressamente menciona a contratualidade (na prática, os contratos são
adesivos, o que não descaracteriza a contratualidade).

4. Acessoriedade – o próprio contrato deve fazer remissão ao negócio principal, no caso, o mútuo
(empréstimo). A alienação fiduciária não pode decorrer de nenhum outro vínculo diverso do
mútuo, e a acessoriedade é imprescindível.

5. Onerosidade – deve haver perda patrimonial por ambas as partes.

6. Pessoalidade – os titulares do contrato são muito importantes. Ora, o bem fica fora do comércio,
não pode ser alienado.

7. Formalidade – o contrato é formal, mas não precisa ser realizado por escritura pública (nem em
relação aos imóveis). Sempre se admite instrumento particular, desde que efetuado por escrito.

8. Indivisibilidade – a remição parcial (pagamento parcial) não gera liberação parcial. Somente há
quitação com o pagamento integral.

Assim, se forem dados dois bens em alienação fiduciária por uma única dívida, o pagamento de
90% da mesma não libera qualquer um dos bens.

No caso de incorporação imobiliária, as decisões têm sido no sentido do art. 1498. Bens dados em
incorporação (loteamento, condomínio edilício), cada unidade gera sua própria remissão (cada um
paga apenas pela sua unidade), não importando qual o tipo de garantia dada. Trata-se de mitigação
à regra da indivisibilidade.

6. Estrutura jurídica

6.1. Sujeito

O sujeito ativo é o devedor (fiduciante) – sujeito ativo do direito de garantia, embora seja o sujeito passivo
da dívida. É como se o devedor tivesse transferido o bem imóvel ou móvel.

Exige-se para tanto capacidade, a qual pode ser suprida por ato de representação ou assistência (o menor
pode ser devedor fiduciante, desde que devidamente representado ou assistido).

Nos bens imóveis, o pai necessitaria de alvará para representar o filho menor (não se trata de ato de
simples administração), Em relação aos bens móveis, não há necessidade de alvará.

Durante muito tempo de entendeu que o sujeito passivo deveria necessariamente ser uma instituição
financeira.

Em relação aos bens móveis, o art. 1368 estabelece que o terceiro interessado que paga a dívida se sub-
roga nos direitos do credor. Assim, isso já afastava a instituição financeira da relação.

Com a entrada em vigor da Lei 11481/07, a regra se afastou também em relação aos bens imóveis. Houve a
inclusão do §1º no art. 22 na Lei 9514/97. Determina que a alienação não é privativa de instituições
financeiras, e o sujeito passivo pode ser qualquer pessoa física ou jurídica.

Deve-se sempre haver observância dos juros admitidos por lei (caso contrário, há agiotagem).

6.2. Objeto

Antes a alienação fiduciária apenas se aplicava aos bens móveis infungíveis e aos semoventes. A
infungibilidade pode se caracterizar por natureza ou por vontade, mediante personalização do bem (art.
1361 fala em “coisa móvel infungível”).

O bem imóvel e os direitos foram incluídos ao contrato de alienação fiduciária (art. 22 da Lei 9514/97).

Deste modo, a alienação fiduciária pode recair sobre a propriedade plena ou sobre a propriedade útil
(imóvel enfitêutico) – neste caso, o laudêmio deverá ser pago pelo devedor fiduciante, pois se trata de taxa,
de tributo, a ser paga pelo não exercício do direito de preferência. A obrigação tributária, de acordo com o
STF, é do alienante, e não de adquirente.

No ato de consolidação, o credor vai precisar desse recolhimento, e poderá cobrá-lo do devedor fiduciante.

Com a entrada em vigor da lei 11481/07 os direitos passaram a poder ser objeto de alienação fiduciária. São
eles: direito real de uso, concessão para fins de moradia e direito de superfície.

6.3. Forma

A alienação fiduciária é formal. Além de ser um contrato, é um direito real, o qual exige formalização.

Se a alienação fiduciária recai sobre bem móvel, o art. 1361 do CC determina que seja realizada por escrito,
registrada no cartório de títulos e documentos do domicílio do devedor fiduciante ou na serventia específica
do bem (veículos devem ser registrados no Detran, e aeronaves no instituto aeronáutico brasileiro, por
exemplo).

Se tratando de imóvel, a alienação fiduciária deverá ser feita por escrito, sendo levada a registro na
circunscrição do cartório de registro de imóveis (o registro é constitutivo da alienação fiduciária, e não
meramente declaratório).

7. Efeitos jurídicos

7.1. Em relação ao devedor fiduciante

 Direito à posse direta da coisa (art. 1361 do CC e art. 23, p.u., da Lei 9514/97) – trata-se de
constituto possessório dado por lei, ou seja, a lei desmembra a posse.
 Direito de reaquisição – o professor não concorda com a existência desse direito, pois na alienação
fiduciária não há transferência da propriedade enquanto perdurar o contrato (o bem fica afetado). O
direito seria de retirar o gravame, a afetação, e não de readquirir o bem. É o que determina o art. 25
da lei.

A quitação implica no cancelamento da alienação, mediante averbação, o que demonstra que não
houve transferência alguma (se houvesse, deveria ser realizado novo registro).

e. Direito de consignar em pagamento – em caso de o credor não querer receber, é possível o


depósito (pois a mora é unilateral).

f. Direito de purgar a mora – se tratando de bem móvel, será dado o prazo de 5 dias para
purgar a mora (resposta para prova preambular).

É possível argumentar no sentido do princípio de proteção mínima do consumidor, de modo que lei
superveniente somente revoga lei anterior no que for mais favorável ao consumidor. Como a lei
anterior determinava o prazo de 30 dias para purgar a mora, desde que já houvesse sido pago 40%
do valor, esta regra pode ser aplicada.

Se tratando de bem imóvel, o prazo para purgar a mora é de 15 dias – ccf. STJ É ATÉ A
ARREMATAÇÃO DO IMÓVEL EM HASTA PÚBLICA

c. Direito de cessão – o devedor tem direito de cessão, desde que haja expressa e formal
autorização do credor. A cessão é condicionada a autorização formal do credor.

d. Direito ao saldo credor – na prática este direito não existe (pois o bem é supervalorizado, de
modo que o devedor jamais consegue adquiri-lo no leilão, em caso de inadimplência).

e. Obrigação de conservar a coisa como se fosse sua

f. Obrigação de pagar o preço (quitação) – ao quitar, surge a obrigação de fazer a formal


emissão do termo de quitação ao credor, dentro do prazo de 30 dias (art. 25, §1º, da lei), sob pena
de pagamento de multa.

g. Obrigação de restituir, independentemente de busca a apreensão ou reintegração de posse

h. Obrigação pelo remanescente de dívida (caso haja alguma deterioração)

7.2. Em relação ao credor fiduciário

 Direito à posse indireta da coisa

 Direito de ser proprietário – o professor não concorda com esse direito. Somente será proprietário
no ato de consolidação, ou seja, quando vencida e não paga a dívida (art. 26 da lei).

Na realidade, há o direito de ser titular de direito real de crédito, mas não há direito de propriedade
em si. É o que diz MHD.

 Direito à reivindicação, desde que ocorra o ato de consolidação (pois passa a ser titular da coisa) –
para tanto é necessária a formal constituição em mora (protesto do título se o bem for móvel,
certidão do oficial de registro de imóveis se o bem for imóvel)
 Direito de alienação – após a constituição em mora, surge o direito de alienação (não surge o direito
de virar dono, pois caracterizaria pacto comissório). É obrigatória a realização do leilão judicial ou
extrajudicial (o credor somente se torna proprietário pleno se ninguém adquirir o bem no segundo
leilão).

Art. 2o No caso de inadimplemento ou mora nas obrigações


contratuais garantidas mediante alienação fiduciária, o proprietário
fiduciário ou credor poderá vender a coisa a terceiros,
independentemente de leilão, hasta pública, avaliação prévia ou
qualquer outra medida judicial ou extrajudicial, salvo disposição
expressa em contrário prevista no contrato, devendo aplicar o
preço da venda no pagamento de seu crédito e das despesas
decorrentes e entregar ao devedor o saldo apurado, se houver, com
a devida prestação de contas. (Redação dada pela Lei nº 13.043, de
2014)

 Direito a quitação

 Obrigação de não molestar a posse

 Obrigação de garantir o financiamento, a liquidez

8. Extinção

A extinção pode ser:

8.1 Regular – ocorre quando há quitação

8.2. Irregular

Em relação aos bens móveis, pode se dar mediante a ação de busca e apreensão. Para tanto, deverá haver
a constituição em mora do devedor (protesto ou notificação judicial ou extrajudicial). Uma vez constituído em
mora, é feita a ação de retomada, obtendo-se a liminar de retomada.

Obtida essa liminar, passa a ser garantido o prazo de 5 dias para a liberação sem ônus (basta a mera
quitação do saldo em atraso).

Se há o pagamento, haverá a liberação e o arquivamento (extinção do processo). Não ocorrendo o


pagamento, por qualquer motivo, será realizada a citação para defesa, no prazo de 15 dias.

Por fim, deverá ser proferida sentença no prazo de 10 dias.


Móveis - § 2o A mora decorrerá do simples vencimento do prazo para
pagamento e poderá ser comprovada por carta registrada com aviso de
recebimento, não se exigindo que a assinatura constante do referido
aviso seja a do próprio destinatário.

Em relação aos bens imóveis, utiliza-se o procedimento que era previsto para os compromissos de compra
e venda, no decreto lei 58/37.

O contrato faz a fixação do prazo de mora (nem sempre surge a mora quando vencida a dívida).

Cf. o STJ - Mesmo que já consolidada a propriedade do imóvel dado


em garantia em nome do credor fiduciário, é possível, até a
assinatura do auto de arrematação, a purgação da mora em
contrato de alienação fiduciária de bem imóvel (Lei 9.514/1997).
Deverá haver o comparecimento do credor no CRI, para realizar a prenotação do requerimento de
consolidação (deve ser pedida a consolidação da propriedade, para que possa ser realizado o leilão).

Realizado tal pedido, o oficial de registro de imóveis é obrigado a fazer a intimação do devedor. Em um
primeiro momento, esta intimação deve ser pessoal (por aviso de recebimento, por funcionário, o que é mais
prudente, ou por funcionário do cartório de títulos e documentos). Ora, essa será a oportunidade para o
devedor fazer a purgação da mora.

06/12/10

Impossível a intimação pessoal, será elaborada certidão, e o oficial de registro de imóveis realizará a
intimação por edital. Este será publicado três vezes.

Há duas possibilidades. É possível que o devedor fiduciante compareça no CRI e purgue a mora (art. 26,
§1º), mediante pagamento de juros, encargos contratuais e legais, tributos, etc. Neste caso o credor será
pago em 3 dias e o contrato continuará vigente.

Também é possível que o devedor não compareça, ou compareça sem purgar a mora. Neste caso, será
elaborada certidão de inadimplemento. Certificado o inadimplemento, o oficial de registro de imóveis fará
averbação da consolidação provisória (ora, o credor não pode se tornar dono do bem, sendo necessário
levá-lo à hasta). O credor deverá recolher ITBI para se tornar dono do imóvel.

O primeiro leilão deverá se realizar em 30 dias, contados da averbação da consolidação provisória.


Somente poderá ser adquirido pelo valor do bem (valor contratual, e não valor venal – geralmente o valor
contratual é bem superior).

Se ninguém arrematar o bem, o que geralmente ocorre, 15 dias depois poderá ser realizado novo leilão. O
lance mínimo será o valor da dívida mais os encargos não pagos.
Se, ainda assim, ninguém der lance algum para o bem, ocorrerá a consolidação definitiva, e o credor se
torna dono do bem (geralmente o credor é o banco, que nem quer e nem pode ficar com o bem).

Então, será realizado o registro da aquisição (não se trata mais de bem afetado). Por fim, deverá ser
ajuizada ação de reintegração de posse em face do devedor.

LOCAÇÃO

A Lei 12.112/09 flexibilizou a questão do despejo, criando maior proteção ao locador e ao fiador.

O fiador deverá ser protegido, sendo obrigatoriamente citado na ação de despejo.

1. Conceito

Locação, em sentido geral, é o contrato no qual o locador, mediante remuneração do locatário, se


compromete a fornecer um bem infungível para uso e gozo ou a prestação de um serviço ou a execução de
uma obra.

A locação pode ser:

d. Locação de coisa

e. Prestação de serviço – há uma obrigação de meio

f. Empreitada – há uma obrigação de fim / de resultado

2. Características gerais

As três modalidades de locação possuem as mesmas características gerais. São elas:

1.1. Remuneração

Na locação de coisa é chamada de aluguel; na prestação de serviço é chamada de salário;


na empreitada é chamada de preço.

1.2. Não translatividade

A locação é sempre uma cessão temporária, não havendo transferência de domínio.

1.3. Contratualidade

Os três contratos têm a mesma natureza, a mesma contratualidade. São sinalagmáticos


(são onerosos e bilaterais – a prestação de um está contida na prestação do outro),
informais (podem ser até mesmo verbais) e impessoais (no silêncio, a sub-locação é
absolutamente possível – é possível cláusula restringindo).
3. Estrutura jurídica da locação de coisa

3.1. Sujeito

O locador de imóvel deve ser maior e capaz.

O cônjuge precisa de outorga para locar?

Se o imóvel for comum, deve haver locação comum, conjunta, e não outorga, exceto se houver, no
pacto, estabelecido um administrador (este poderá locar o imóvel sozinho).

Se o imóvel for próprio, de titularidade de um dos cônjuges, só é necessária outorga se a locação for
por prazo igual ou superior a 10 anos (art. 3º da Lei 8245/91).

Ausente a vênia, o cônjuge não está obrigado a observar o prazo excedente. Ou seja, não há eficácia
em relação ao cônjuge que não conferiu a vênia.

Tutor e curador precisam de autorização para locar bem pertencente ao tutelado e curatelado?

Tutor e curador podem locar, desde que prestem contas.

Pai e mãe não devem sequer prestar contas, sendo livres para locar bem do filho.

Também podem locar o usufrutuário, superficiário e usuário. Porém, extinto o direito real, o titular
terá direito de denúncia vazia, desde que o faça no prazo de 90 dias.

3.2. Objeto

O CC e a legislação especial incidem em algumas modalidades de locação.

Na locação de imóvel rural, por exemplo, incide o CC. Na locação de vagas autônomas de garagem
ou de espaço publicitário, também incide o CC (é locação por prazo, findo o prazo, extinto o contrato).
O mesmo ocorre na locação de apart-hotéis e no arrendamento mercantil.

Supletivamente, incide a Lei 8245/91. Esta lei possui três objetos distintos:

 Locação residencial – é possível realizar um contrato igual ou superior a 30 meses, ou


menor do que 30 meses (as regras serão distintas).

Se o contrato for por tempo igual ou superior a 30 meses, é possível a denúncia vazia.

No contrato por prazo inferior, há possibilidade de denuncia cheia (motivada), sob pena de ter
que se respeitar o prazo de 30 meses.

 Locação não residencial – nestas locações, há direito à ação renovatória, desde que
cumpridos os requisitos.

 Locação por temporada – essa é a única possibilidade de cobrar até 3 meses de forma
adiantada, sem que incida a contravenção penal.
Obs: Toda vez que não houver qualquer garantia, será possível cobrar o aluguel vincendo até
o 6º dia útil.

Características do objeto

 Infungibilidade – o imóvel é sempre infungível

 Fruibilidade – o aluguel é fruto.

Aplica-se o princípio da liberdade negocial (arts. 17 e 18 da lei). Há apenas uma exceção: ação
revisional. Esta pode se realizar em 36 meses (art. 19), mitigando a liberdade e se adotando o
valor de mercado.

 Alienabilidade – o bem deve estar no comércio, ser alienável.

3.3. Forma

A locação é um contrato informal e verbal, por natureza.

Há certas situações em que deverá ser, obrigatoriamente formal.:

o Para o exercício do direito à renovatória, o contrato deverá ser realizado por escrito, tendo 5
anos de vigência, 3 anos no mesmo ramo de atividade, sendo requerida após 1 ano e 6
meses.

o Cessão de locação ou sublocação devem ser realizadas por escrito

o Para o exercício de direito de vigência ou direito de preferência o contrato deve ser escrito.
Ora, tais cláusulas devem ser registradas ou averbadas no CRI, devendo ser escritas.

O art. 167, I, da LRP possui um erro.

4. Direitos do locador

a) Receber os alugueres - a ação de cobrança locatícia prescreve em 3 anos, a partir do seu vencimento.
Trata-se de direito superveniente, que não existe de forma antecedente, exceto no caso de locação por
temporada (por até 3 meses) ou na ausência de garantia (em que é possível cobrar o mês vincendo até o 6º
dia).

b) Exigir caução – previamente ao estabelecimento do contrato (art. 37 ao 42 da lei)

c) Mover ação de despejo – a única tutela na relação locatícia é a ação de despejo (art. 5º).

Somente será ação possessória entre locador e locatário se o objeto não compuser o objeto da locação.

Em imóveis residenciais, há denúncia vazia em locações superiores a 30 meses. Por outro lado, a denuncia
deverá ser cheia nas locações inferiores a 30 meses, com o término do prazo (se não houver denúncia
cheia, o contrato se prorroga até 30 meses, quando surge o direito á denuncia vazia).

d) Vistoriar a coisa, desde que comunique a vistoria com antecedência – não há prazo fixo, devendo haver
razoabilidade.
e) Autorizar a sublocação, a cessão de locação ou eventual comodato

A sublocação, para que o locador possa autorizar, necessita de cláusula no contrato (no silencio o locatário
é livre para realizar a sublocação).

A cessão de locação e o comodato sempre devem ser autorizados, por escrito.

f) Direito á revisional – desde que passados 36 meses da vigência inicial do contrato.

5. Obrigações do locador

a) Entregar a coisa em condições de uso – habitabilidade.

b) Manter o uso pacífico – o grande titular da tutela da própria posse é o locador, que deverá proteger o
locatário.

c) Manutenção – nas condições em que a coisa foi entregue. O locador é responsável inclusive pelo caso
fortuito ou de força maior.

d) Responsabilidade civil pelos vícios anteriores, ainda que não constatados no momento da entrega das
chaves e da vistoria inicial

e) Obrigações propter rem, em princípio – impostos, taxas, despesas imobiliárias em geral, condominiais
(ordinárias ou extraordinárias).

A única obrigação que não gera efeitos para o locador são as de tarifa ou preço público (contas de luz,
água, gás).

f) Fornecer recibo

g) Indenizar benfeitorias - Somente são indenizadas as benfeitorias necessárias se o contrato não trouxer
proibição (é possível cláusula proibitiva). Há súmula do STJ nesse sentido.

A benfeitoria útil precisa de autorização do locador para ser realizada (art. 36) – não basta autorização
prévia e genérica no contrato.

As benfeitorias voluptuárias podem ser levantadas pelo locatário, desde que não afete a estrutura e
substância do imóvel, e não serão indenizadas.

h) Obrigação de dar preferência aos locatários e aos sublocatários – esta obrigação está condicionada à
averbação no RI com trinta dias de antecedência (caso contrário, não vinculará terceiros, de modo que o
locatário e o sublocatário não poderão ingressar com ação anulatória).

6. Direitos do locatário

a) Exigir a posse livre e desembaraçada da coisa por todo o período de locação.

b) Inventariar a coisa – deverá averiguar que a coisa está em ordem.

c) Direito de preferência e direito de vigência do contrato – o locatário tem o direito de ver o contrato
respeitado até o final, pelo locador e por qualquer terceiro, Para tanto, se exige o registro no CRI.

Em que casos, mesmo registrada a cláusula, não haverá direito de vigência até o final?
Na extinção do usufruto, do fideicomisso e da alienação fiduciária em garantia.

Quando consolida a alienação fiduciária em garantia, não será necessário aguardar o término da locação )o
banco poderá exigir a saída do locatário do imóvel). Sem esta regra, ninguém conseguiria arrematar o
imóvel

d) Direito de purgar a mora – este direito também é conferido ao fiador.

e) Direito de transferência, com autorização expressa do locador

7. Obrigações do locatário

a) Obrigação de uso, respeitada a destinação (sob pena de denúncia cheia ou despejo)

b) Obrigação de cuidado – como se o bem fosse seu.

c) Obrigação de pagar aluguel – até o 6º dia do m,ês subseqüente, vencendo juros a partir de então

d) Comunicar turbação ou esbulho

e) Obrigação quanto às despesas imputadas a ele

As despesas podem ser ordinárias ou extraordinárias. Somente as despesas ordinárias podem ser
imputadas ao locatário (art. 23 da lei). São aquelas que decorrem do uso imediato da coisa.

f) Obrigação de autorizar a vistoria

g) Obrigação de restituir a coisa no estado em que se encontrava no início da locação

8. Transferibilidade

Há três espécies de transferibilidade na Lei 8245:

8.1. Sublocação – é uma locação dentro da própria locação, é a transferência da qualidade locatária para
terceiro (deve respeitar integralmente as regras da locação).

O silêncio do contrato a autoriza (o locatário passa a ter direito de sublocar, embora mantenha a
responsabilidade civil originária pelos atos do sublocatário).

O exercício de preferência se dá primeiramente em face do sublocatário (e não em face do locatário).

8.2. Cessão de locação – há um desligamento do locatário e assunção do terceiro. Neste caso sempre é
necessária a autorização do locador, por escrito (para que não se presuma esbulho).

8.3. Comodato – é o empréstimo gratuito feito pelo locatário a um terceiro, o qual necessita de autorização
expressa e formal (por escrito) por parte do locador.

9. Garantias (art. 37 a 42 da lei)

 Princípio de proteção ao locador


 Princípio da taxatividade – só se pode exigir garantia fixada por lei (caução real ou fidejussória –
fiança; seguro fiança; cessão fiduciária).

Só se pode ter uma única modalidade de garantia em vigor.

 Princípio da substituibilidade – art. 40. O locador poderá exigir novo fiador ou substituição da
modalidade de garantia, nas hipóteses do art. 40.

 Princípio da extinção – art. 40, p.u. O locador poderá notificar o locatário para apresentar nova
garantia no prazo de 30 dias, sob pena de desfazimento da locação.

10. Extinção do contrato de locação

a) Distrato (art. 9º, I)

b) Extinção dos direitos reais sobre coisa alheia (inclusive da alienação fiduciária em garantia) – o novo
titular deve notificar o locatário em até 90 dias.

c) Alienação do imóvel

d) Rescisão – ocorre nos seguintes casos:

i. Culpa do locatário por rescisão contratual (art. 9º, II)

ii) Falta de pagamento (art. 9º, III)

iii) Necessidade de reparos urgentes

e) Resilição

Pode se dar:

g.i. Pelo locatário – a lei 12.112, no art. 4º, determina que seja paga multa proporcional ao
período de cumprimento do contrato.

g.ii. Pelo locador – são as denúncias, cheia e vazia.


g.iii. DECRETO-LEI N. 911, DE 1.º DE OUTUBRO DE 1969 (*)

Altera a redação do art. 66 da Lei n. 4.728, de 14 de julho de 1965, estabelece normas de processo sobre alienação fiduciária, e dá outras providências.

Os Ministros da Marinha de Guerra, do Exército e da Aeronáutica Militar, usando das atribuições que lhes confere o
art. 1.º do Ato Institucional n. 12, de 31 de agosto de 1969, combinado com o § 1.º do Ato Institucional n. 5, de 13 de
dezembro de 1968, decretam:

Art. 1.º O art. 66, da Lei n. 4.728, de 14 de julho de 1965, passa a ter a seguinte redação:

•• Alteração prejudicada em face da revogação do mencionado artigo pela Lei n. 10.931, de 2-8-2004.

Art. 2.º No caso de inadimplemento ou mora nas obrigações contratuais garantidas mediante alienação fiduciária, o
proprietário fiduciário ou credor poderá vender a coisa a terceiros, independentemente de leilão, hasta pública,
avaliação prévia ou qualquer outra medida judicial ou extrajudicial, salvo disposição expressa em contrário prevista no
contrato, devendo aplicar o preço da venda no pagamento de seu crédito e das despesas decorrentes e entregar ao
devedor o saldo apurado, se houver.
§ 1.º O crédito a que se refere o presente artigo abrange o principal, juros e comissões, além das taxas, cláusulas, pena
e correção monetária, quando expressamente convencionados pelas partes.
§ 2.º A mora decorrerá do simples vencimento do prazo para pagamento e poderá ser comprovada por carta registrada
expedida por intermédio de Cartório de Títulos e Documentos ou pelo protesto do título, a critério do credor.

•• Vide art. 882 do CPC.

• Vide Súmulas 72 e 245 do STJ.

§ 3.º A mora e o inadimplemento de obrigações contratuais garantidas por alienação fiduciária, ou a ocorrência legal
ou convencional de algum dos casos de antecipação de vencimento da dívida, facultarão ao credor considerar, de
pleno direito, vencidas todas as obrigações contratuais, independentemente de aviso ou notificação judicial ou
extrajudicial.

• Vide Súmula 72 do STJ.

Art. 3.º O proprietário fiduciário ou credor poderá requerer contra o devedor ou terceiro a busca e apreensão do bem
alienado fiduciariamente, a qual será concedida liminarmente, desde que comprovada a mora ou o inadimplemento do
devedor.

•• Vide Súmula 284 do STJ.

§ 1.º Cinco dias após executada a liminar mencionada no caput, consolidar-se-ão a propriedade e a posse plena e
exclusiva do bem no patrimônio do credor fiduciário, cabendo às repartições competentes, quando for o caso, expedir
novo certificado de registro de propriedade em nome do credor, ou de terceiro por ele indicado, livre do ônus da
propriedade fiduciária.

•• § 1.º com redação determinada pela Lei n. 10.931, de 2-8-2004.

§ 2.º No prazo do § 1.º, o devedor fiduciante poderá pagar a integralidade da dívida pendente, segundo os valores
apresentados pelo credor fiduciário na inicial, hipótese na qual o bem lhe será restituído livre do ônus.

•• § 2.º com redação determinada pela Lei n. 10.931, de 2-8-2004.

§ 3.º O devedor fiduciante apresentará resposta no prazo de quinze dias da execução da liminar.
•• § 3.º com redação determinada pela Lei n. 10.931, de 2-8-2004.

§ 4.º A resposta poderá ser apresentada ainda que o devedor tenha se utilizado da faculdade do § 2.º, caso entenda ter
havido pagamento a maior e desejar restituição.

•• § 4.º com redação determinada pela Lei n. 10.931, de 2-8-2004.

§ 5.º Da sentença cabe apelação apenas no efeito devolutivo.

•• § 5.º com redação determinada pela Lei n. 10.931, de 2-8-2004.

§ 6.º Na sentença que decretar a improcedência da ação de busca e apreensão, o juiz condenará o credor fiduciário ao
pagamento de multa, em favor do devedor fiduciante, equivalente a cinquenta por cento do valor originalmente
financiado, devidamente atualizado, caso o bem já tenha sido alienado.

•• § 6.º com redação determinada pela Lei n. 10.931, de 2-8-2004.

§ 7.º A multa mencionada no § 6.º não exclui a responsabilidade do credor fiduciário por perdas e
danos.

•• § 7.º com redação determinada pela Lei n. 10.931, de 2-8-2004.

§ 8.º A busca e apreensão prevista no presente artigo constitui processo autônomo e independente de qualquer
procedimento posterior.

•• § 8.º acrescentado pela Lei n. 10.931, de 2-8-2004.

Art. 4.º Se o bem alienado fiduciariamente não for encontrado ou não se achar na posse do devedor, o credor poderá
requerer a conversão do pedido de busca e apreensão, nos mesmos autos, em ação de depósito, na forma prevista no
Capítulo II, do Título I, do Livro IV, do Código de Processo Civil.

•• Artigo com redação determinada pela Lei n. 6.071, de 3-7-1974.

•• Vide arts. 901 a 906 do CPC.

Art. 5.º Se o credor preferir recorrer à ação executiva ou, se for o caso, ao executivo fiscal, serão penhorados, a
critério do autor da ação, bens do devedor quantos bastem para assegurar a execução.
Parágrafo único. Não se aplica à alienação fiduciária o disposto nos incisos VI e VIII do art. 649 do Código de
Processo Civil.

•• Parágrafo único com redação determinada pela Lei n. 6.071, de 3-7-1974.

•• Vide arts. 566 e 585 do CPC.

Art. 6.º O avalista, fiador ou terceiro interessado que pagar a dívida do alienante ou devedor, se sub-rogará, de pleno
direito, no crédito e na garantia constituída pela alienação fiduciária.

Art. 7.º Na falência do devedor alienante, fica assegurado ao credor ou proprietário fiduciário o direito de pedir, na
forma prevista na lei, a restituição do bem alienado fiduciariamente.
Parágrafo único. Efetivada a restituição, o proprietário fiduciário agirá na forma prevista neste Decreto-lei.

•• Lei de Falências: Lei n. 11.101, de 9-2-2005.

Art. 8.º O Conselho Nacional de Trânsito, no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, a contar da vigência do presente
Decreto-lei, expedirá normas regulamentares relativas à alienação fiduciária de veículos automotores.

Art. 8.º-A. O procedimento judicial disposto neste Decreto-lei aplica-se exclusivamente às hipóteses da Seção XIV da
Lei n. 4.728, de 14 de julho de 1965, ou quando o ônus da propriedade fiduciária tiver sido constituído para fins de
garantia de débito fiscal ou previdenciário.

•• Artigo acrescentado pela Lei n. 10.931, de 2-8-2004.

Art. 9.º O presente Decreto-lei entrará em vigor na data de sua publicação, aplicando-se, desde logo, aos processos em
curso, revogadas as disposições em contrário.
Brasília, 1.º de outubro de 1969; 148.º da Independência e 81.º da República.

Augusto Hamann Rademaker

Aurélio De Lyra Tavares

Marcio De Souza E Mello

(*) Publicado no Diário Oficial da União, de 3-10-1969. A Lei n. 4.728, de 14-7-1965, disciplina o mercado de capitais
e estabelece medidas para o seu desenvolvimento.

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