1º semestre de 2019
Sobre a interpretação
Clínica Psicanalítica – 1º semestre de 2019
Sobre a interpretação
“Os seres humanos são pessoas muito
estranhas e até absurdas. Se você já o
percebeu, acho que andou a terça parte do
caminho para se tornar psicanalista.
Impaciente e indeciso
Arnaldo Antunes
Clínica psicanalítica
• O sofrimento psíquico é trazido como uma
falha a ser compensada ou corrigida, não como
um elemento que inevitavelmente faz parte
das experiências humanas
• Vocabulário de funcionamento, regulação,
manutenção
• Culto da performance
• Centralidade da imagem, ameaça de rejeição
• Apagamento da dimensão desejante
Desejantes
• Sermos desejantes é algo que implica não
termos controle do que desejamos
• Não termos controle do que quem
desejamos deseja
• Quando a vulnerabilidade é vista como
equivalente à fragilidade e à inferioridade
• Desejar tornar-se algo temido, contido,
impedido
• É como se fosse algo errado e
constrangedor demonstrar que sente
Vulnerabilidade
• Admitir a vulnerabilidade não
corresponde a resignar-se diante da
vulnerabilidade
• A compreensão de que, ao nos
relacionarmos, há dimensões que escapam
de nosso controle, de nossas capacidades
de reação e domínio, descontrói a
expectativa de sermos sempre plenamente
racionais, plenamente conscientes,
plenamente controlados(as)
Vulnerabilidade
• Não é incomum atribuirmos a origem dos
sofrimentos àquilo que não podemos controlar.
• No entanto, em toda relação há algo que nos
escapa. Não há encontro que não transforme.
• Não somos apenas formados(as) pelos nossos
vínculos significativos, mas transformados(as)
• Descentrados em qualquer ilusão de fixidez.
A delicadeza psíquica
Walter: É como... Se existisse o Walter Barnet que eu
conhecia, e este outro Walter, que eu nem sabia que
existia.
Paul: Porque não acho que foi essa parte sua que
desmoronou. Acho que é essa parte que quer viver.
“Saúde não é a negação da doença. Ao contrário, saúde engloba a doença,
pois ter saúde é poder adoecer e se recuperar. Saúde significa capacidade
de poder suportar embates, sofrimentos, quedas, limitações e ir adiante,
construindo novas formas de existência. Na verdade, uma experiência na
qual a incerteza, a imprevisibilidade, o fracasso e o sofrimento estivessem
sistematicamente afastados estaria paradoxalmente mais perto da
patologia do que da saúde”
• Hoje?
“Foi a inquietação da falta que deu origem
à invenção da psicanálise. A psicanálise
veio servir para tratar dos impasses
decorrentes disso. Cedo, Freud percebeu
que aquilo que fazia sofrerem as mulheres
que ele atendia, e lhes fazia produzir
sintomas inexplicáveis aos olhos dos
médicos de seu tempo, não eram senão
diferentes expressões de um mal
inexorável: o mal de amor. Cedo, ele se deu
conta, também, de que o tratamento para
isso passava pela fala, pelos efeitos do
acionamento desse fantástico dispositivo
que é a fala. Através dela, nos incluímos
nessa rede que nos envolve e tenta nos
articular uns com os outros”.
“Viver sem se haver com a dor da falta é
simplesmente inumano. Não podemos nos
livrar daquilo que constitui propriamente a
nossa humanidade. O que pode ser alterado
é a maneira como vivemos a experiência da
vida, a posição que ocupamos ao nos
defrontarmos com a falta daquilo que
supostamente iria nos tornar completos”.
“Oi
“Oi
“Oi
Exemplo – Atendimentos Sophie
Sophie: No telefone eu não
te falei que sofri um
acidente?
Paul: Você comentou.
Sophie: Eles falaram que
eu preciso da opinião de um
psicólogo. É que a
companhia de seguros do
carro que bateu em mim
não acredita muito que foi
um acidente... É por isso
que eu estou aqui. Eu
precisa de uma avaliação.
Não preciso de... (silêncio)
Paul: Terapia?
Sophie: É.
Paul: Deixa eu ver se eu
entendi... Você está
pedindo uma indenização
para a companhia de
seguro?
Sophie: É... Eles me
chamaram para falar com
uma mulher da empresa.
Mas a mulher só fazia
pergunta cretina, não dava
para responder aquilo.
Paul: Como foi o acidente?
Sophie: Não sei. Não consigo
lembrar nada do que
aconteceu.
Paul: Nada?
Sophie: Eu estava de
bicicleta, um carro atravessou
na minha frente e bateu em
mim.
Paul: Alguém viu o que
aconteceu? Alguém te contou
como foi?
Sophie: Falaram que eu
estava andando no meio da
rua. Andando de bicicleta no
meio da marginal.
Paul: Sophie... Quer falar de
você?
Sophie: Não estou afim.
- Silêncio - .
Sophie: Eu sou a Sophie. Tenho
15 anos. Sou ginasta desde
criança. Fui campeã brasileira
aos 12. Sul-americana aos 14. É
isso.
Paul: Me fala um pouco da sua
rotina. Além do esporte, como é a
sua vida?
Sophie: Normal, não é um
desenho animado.
Paul: Como assim?
Sophie: Com pessoas sorrindo,
cantando, com passarinhos.
Paul: Você gostaria que
fosse assim?
Sophie: Nós não vamos
falar da avaliação?
Paul: Preciso que me conte
de você.
Sophie: Para quê? Fazer
avaliação não é o seu
trabalho?
Paul: Sophie, o meu
trabalho não é avaliação
física, não dá para medir sua
pressão e dizer que
psicologicamente está tudo
bem com você.
Sophie: Que pena. Melhor
eu ir para casa então.
Paul: Que perguntas a
advogada da empresa te fez?
Sophie: Sei lá.
Paul: Ela te perguntou o que
você pensa sobre a morte?
Sophie: Não.
Paul: E o que você pensa?
Sophie: Sei lá.
Paul: Muita gente pensa que
com o fim da vida, outras coisas
ruins chegariam ao fim. Você
pensa nisso?
Sophie: Por que eu me
mataria com as eliminatórias
chegando?
Sophie: Olha, eu não vim aqui fazer terapia. O que eu
quero é que você faça essa bosta de avaliação e me diga
que eu estou bem. Que eu sou saudável, que eu não sou
a louca da bicicleta como todo mundo fala.
Paul: Eu preciso de mais sessões para poder fazer sua
avaliação. Preciso te conhecer mais para poder colocar
alguma coisa no papel.
O que é o amor?
O que nos faz amar?
O que nos faz amar alguém?
O que amamos em quem amamos?
O que nossa forma de amar expressa sobre nós?
Quem é a pessoa amada?
Espelho psíquico
Não como a superfície do gelo
Mas como um espelho fragmentado
em pedaços móveis de vidro, que
refletem imagens que se combinam
e se confundem
O que é o amor?
“Nunca estamos tão mal protegidos contra o sofrimento como quando amamos,
nunca estamos tão irremediavelmente infelizes como quando perdemos a
pessoa amada ou o seu amor”.
Sobre o amor
Exemplo
Sintoma: a pessoa deixa de comer
Diagnóstico: distúrbio alimentar
Devaneios apaixonados, idealização de um corpo
magro para receber interesse
Temor de envenenamento, crença de que o alimento
pode estar intoxicado
Experiência do próprio corpo como um buraco que
não será preenchido
A escuta em psicanálise
Darian Leader.
A escuta em psicanálise
Exemplo
Timidez, dificuldades que tornam insuportável estar
entre as pessoas, extremo desconforto em situações
sociais
Diagnóstico: fobia social
Desejo de agradar, de receber atenção, de receber
amor
Convicção de que as outras pessoas podem ler seus
pensamentos
A escuta em psicanálise
Esquecimento
Deslocamento
Expulsão
Sintomas
Fobia
Dor física
Mudanças no sono, no apetite, na fala
Ideia repetitiva
Ritual repetitivo
Delírio
Alucinação
“E o esquecimento ainda é memória
Certezas
Defesas neuróticas e psicóticas
Darian Leader
O que é o imaginário?
O que é o imaginário?
O que é o imaginário?
O que é o imaginário?
O que é o imaginário?
O que é o imaginário?
Qual é a relação entre o
imaginário e o simbólico?
Qual é a relação entre o
imaginário e o simbólico?
Função inaugural
Completude
Satisfação total
O que falta para que nada mais falte
Complexo de Édipo
Autorreferência
Relação especular
Sem mediação
Ser a causa: peso
Fantasia
O que quero?
O que quem me importa quer de mim?
O que sou para quem me importa?
O desejo encenado na fantasia não é o do próprio
sujeito, mas o desejo do Outro
Em seu nível mais fundamental, a fantasia me diz o
que eu sou para meus outros
Eu ideal
Eu = amado
Maneira idealizada como eu gostaria de ser
Maneira idealizada como eu gostaria que as outras
pessoas me vissem
Ideal de eu
Eu ideal
Ideal de eu
Supereu
Fantasia