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Clínica psicanalítica

1º semestre de 2019
Sobre a interpretação
Clínica Psicanalítica – 1º semestre de 2019
Sobre a interpretação
“Os seres humanos são pessoas muito
estranhas e até absurdas. Se você já o
percebeu, acho que andou a terça parte do
caminho para se tornar psicanalista.

O segundo terço do caminho consiste em


aprender algumas coisas: o método, a teoria
e a técnica psicanalíticos, de que lhe vou
falar um pouco neste livrinho.

Quanto à última e mais difícil etapa, que é


a de você mesmo descobrir que é também
uma pessoa estranha e absurda, isto é, que
é um ser humano, lamento não poder ajudá-
lo a percorrer, pelo menos escrevendo: é
preciso passar por uma análise”(p.1)
Sobre a interpretação
• Aoque prestamos atenção em uma
conversa cotidiana?
• Aoque prestamos atenção em uma
análise?
“Por mais intransmissíveis que fossem os humanos, eles
sempre tentavam se comunicam através de gestos, de
gaguejos, de palavras mal ditas e malditas

O que é que uma pessoa diz a outra? Fora 'como vai?'

Se desse a loucura da franqueza, o que diriam as pessoas


às outras?

Criar não é imaginação, é correr o grande risco de se ter a


realidade”

Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres –


Clarice Lispector
Sobre a interpretação
• Na clínica psicanalítica, ouvimos alguém contar sobre o
que acontece

• Ouvimos alguém contar sobre o que sente sobre o que


acontece

• Como ela se sente ao contar sobre o que sente?

• Em que posição a pessoa se coloca em relação ao que


conta, ao que vive, o que sente?

• Quais são os pontos de rigidez nessa posição?

• Como esses pontos de rigidez limitam a percepção, a


sensibilidade, a experiência?

• Como construir novas posições, novas perspectivas?


Sobre o sintoma
• Sintoma como perda da liberdade

• Algo que impele: "Tenho que fazer"

• Algo que impede: "Não posso, não consigo"

• Liberdade não corresponde a conseguir tudo o que deseja

• Liberdade corresponde a admitir que deseja, reconhecer-se


como desejante

• O que o sintoma traz que a pessoa não expressa


diretamente, o que o sintoma quer dizer?
Sobre o sofrimento
• O modo como sentimos muda o modo como contamos

• O modo como contamos muda o modo como sentimos

• Ao contrário do adoecimento orgânico, o adoecimento


psíquico muda quando pode ser nomeado

• O sofrimento corresponde à demanda por elaboração, por


reconhecimento

• Toda forma de sofrer, toda forma de sentir, toda forma


de ser, não pode ser generalizada, é uma experiência
única.
• Nós somos complexidades
singulares do ser humano –
tão diferentes nas formas de
nossas personalidades
quanto em nossas
características físicas, por
exemplo, nossas impressões
digitais.
• Cada paciente terá seu
“idioma”.
• A receptividade do(a)
analista à forma idiomática
do(a) analisando(a) pode
libertar uma forma de ser
mais real, mais sincera e
mais espontânea, para
realizar futuros até então
desconhecidos e não
experienciados.
• Facilitar a articulação do
idioma é uma tarefa tênue e
sutil, que torna a profissão
da psicanálise um fascinante
desafio único e infinito.
• O idioma da pessoa não é,
contudo, um roteiro escondido
na biblioteca do inconsciente
esperando pela revelação pelo
mundo.
• É mais um conjunto de
possibilidades únicas daquela
pessoa, um conjunto específico,
sujeito à articulação a partir da
natureza da experiência vivida
no mundo real.
• O idioma será encontrado na
forma como a pessoa
experiencia o mundo, nos
efeitos que suscita nas pessoas
com quem convive e que lhes
são significativas (otherness).
Sobre a interpretação
“(...) seu paciente conta-lhe algo do que fez
ontem, depois comenta um detalhe novo do
consultório, faz uma piada, tosse, lembra-se
de um sonho etc.

Se você fosse uma pessoa bem educada, numa


situação cotidiana, se interessaria
polidamente por cada assunto em separado,
responderia, riria com ele... E perderia o
sentido de conjunto.

Fazer análise é uma espécie de falta de


educação sistemática.

Atrás do paciente, você estará calado,


procurando juntar os pedaços da conversa,
sem se deter no que, de hábito, significaria
uma mudança de assunto” (p. 11).
Sobre a associação livre e a
atenção flutuante
• Incoerências

• Incoerências como ponto de partida

• Dimensão contraditória, conflituosa, ambivalente das


experiências humanas

• Expectativas de ordem, de sequência, de coerência, de


explicações do dia-a-dia

• O que não foi integrado nas explicações coerentes?

• O que escapa? O que destoa? O que se destaca?

• Como a mesmice das palavras e das lembranças que se


repetem serve mais para encobrir e construir barreiras em
torno do que sentimos do que para expressar o que sentimos?
Sobre a interpretação
• Tom de voz
• Silêncios
• Hesitações
• Repetições
• Contradições
• Mudanças de assunto
• Mudanças repentinas de assunto
• Detalhes
• Aspectos que parecem bobos
• Identificações
Sobre a interpretação
• Atentar-se para mudanças no tom de voz, pedir para que
a pessoa associe a partir das palavras com maior ênfase

• Atentar-se para elementos que parecem contraditórios

• Atentar-se para as repetições

• Atentar-se para os silêncios e hesitações

• Atentar-se para o que as negações afirmam

• Atentar-se para as reações intensas e/ou abruptas

• Atentar-se para como a pessoa se dirige a você, qual a


relação que estabelece, que posição lhe é atribuída

• Pensando no idioma do(a) paciente, naquela nova


linguagem a ser conhecida, ter em mente a pergunta: “o
que a palavra dita quer dizer?”
Sobre a interpretação
“Os muitos sentidos das palavras humanas,
se tomados em conjunto, poderiam levar-
nos para quase qualquer lugar.
Sucede, porém, que durante uma sessão
eles se cruzam e descruzam, determinando
pontos de convergência ou nós, para onde se
encaminham porções consideráveis dos
sentidos marginais do discurso.
A essas malhas damos o nome de fantasias”
(p. 14).
Sobre a interpretação
• Relacionar fragmentos das falas que forem mais intensos, que se
repetirem, que se destacarem
• Fazer perguntas abertas (evitar perguntas em que a resposta
seja "sim" ou "não)
• Pedir detalhamento do que parecia ser só um detalhe
• Tomar as palavras uma a uma, sem tanta importância para a
coerência entre elas
• Atentar-se para elementos que parecem contraditórios
• Atentar-se para como a pessoa se dirige a você, qual a relação
que estabelece, que posição lhe é atribuída, buscando implicar a
pessoa no que ela relata
• Pedir para que imagens sejam relatadas
• Pensando no idioma do(a) paciente, naquela nova linguagem a
ser conhecida, ter em mente a pergunta: “o que a palavra dita
quer dizer?”
“Eu tenho à medida que designo - e esse é o
esplendor de se ter uma linguagem. Mas eu tenho
muito mais à medida que não consigo designar. A
realidade é a matéria-prima, a linguagem é o modo
como vou buscá-la - e não como acho. Mas é do
buscar e do não achar que nasce o que eu não
conhecia, e que instantaneamente reconheço”
A paixão segundo G.H. – Clarice Lispector
O que é ressignificação?

“Das várias formas possíveis de infelicidade,


a que me parece mais aflitiva não é
necessariamente a que mais dói. Muito mais
trágico me parece o destino de quem
atravessa a vida sem se molhar, como se os
efeitos (felizes ou nefastos) escorressem
sobre a pele como água sobre as plumas de
um pato” (CALLIGARIS, 2004, p. 79)
O que é ressignificação?

“Qualquer cura tem duas faces: uma,


digamos assim, demolidora, que desfaz as
certezas cristalizadas da história que nos
acua em sintomas que, à vista de nosso
passado, parecem inelutáveis, e outra,
construtiva, que nos permite reinventar ou
modificar um pouco a história da qual
somos fruto” (CALLIGARIS, 2004, p.91)
Sobre a ressignificação
• Há outras maneiras de ver a si próprio(a),
de perceber a si próprio(a), de narrar sobre
si próprio(a). A análise implica essa
dimensão de criação.
“Bem foi avisado que se explicasse ninguém entenderia,
pois explicando como é que um pé segue o outro ninguém
reconhece o andar.

É também verdade que se uma pessoa fizesse apenas o


que entende, jamais avançaria um passo.

No momento em que ela mais queria ser ela própria - com


aquela individualidade idealizada que os anos haviam
criado para si mesma - nesse momento sua personalidade
inteira ruiu como se não fosse verdadeira, e no entanto ela
era, pois essa personalidade inventada seria o máximo
dela mesma”

A mação no escuro – Clarice Lispector


“Ser sincero contradizendo-me a cada minuto.

Orgia intelectual de sentir a vida!

Eu, o investigador solene das coisas fúteis.

Que tantas vezes me sinto real como uma metáfora.

Eu, o contraditório, o fictício, a espuma,

A impossibilidade de exprimir todos os sentimentos

E o que parece não querer dizer nada sempre quer


dizer qualquer coisa...”

Passagem das Horas – Álvaro de Campos


“O mundo é talvez: e só.

Talvez nem seja talvez.

Meu bem, façamos de conta.

De sofrer, de lembrar, de fruir.

De escolher nossas lembranças.

Façamos, meu bem, de conta.

Que é tudo como se fosse.

Ou que, se fora, não era”.

Claro Enigma – Carlos Drummond de Andrade


“Eu tenho à medida que designo - e esse é o
esplendor de se ter uma linguagem. Mas eu tenho
muito mais à medida que não consigo designar. A
realidade é a matéria-prima, a linguagem é o modo
como vou buscá-la - e não como acho. Mas é do
buscar e do não achar que nasce o que eu não
conhecia, e que instantaneamente reconheço”
A paixão segundo G.H. – Clarice Lispector
“E o esquecimento ainda é memória

E lagoas de sono selam o que amamos e fomos um dia

Ou nunca fomos, e contudo arte em nós

À maneira da chama que dorme nos pais da lenha jogados


no galpão

Amar, depois de perder”

Claro Enigma – Carlos Drummond de Andrade


“Por mais intransmissíveis que fossem os humanos, eles
sempre tentavam se comunicam através de gestos, de
gaguejos, de palavras mal ditas e malditas

O que é que uma pessoa diz a outra? Fora 'como vai?'

Se desse a loucura da franqueza, o que diriam as pessoas


às outras?

Criar não é imaginação, é correr o grande risco de se ter a


realidade”

Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres –


Clarice Lispector
Sobre a interpretação
“Os seres humanos são pessoas muito
estranhas e até absurdas. Se você já o
percebeu, acho que andou a terça parte do
caminho para se tornar psicanalista. O
segundo terço do caminho consiste em
aprender algumas coisas: o método, a teoria
e a técnica psicanalíticos, de que lhe vou
falar um pouco neste livrinho. Quanto à
última e mais difícil etapa, que é a de você
mesmo descobrir que é também uma pessoa
estranha e absurda, isto é, que é um ser
humano, lamento não poder ajudá-lo a
percorrer, pelo menos escrevendo: é preciso
passar por uma análise”(p.1)
Sobre a interpretação
• Aoque prestamos atenção em uma
conversa cotidiana?
• Aoque prestamos atenção em uma
análise?
Sobre a interpretação
“(...) seu paciente conta-lhe algo do que fez
ontem, depois comenta um detalhe novo do
consultório, faz uma piada, tosse, lembra-se
de um sonho etc. Se você fosse uma pessoa
bem educada, numa situação cotidiana, se
interessaria polidamente por cada assunto
em separado, responderia, riria com ele... E
perderia o sentido de conjunto. Fazer análise
é uma espécie de falta de educação
sistemática. Atrás do paciente, você estará
calado, procurando juntar os pedaços da
conversa, sem se deter no que, de hábito,
significaria uma mudança de assunto” (p. 11).
Sobre a interpretação
“Os muitos sentidos das palavras humanas,
se tomados em conjunto, poderiam levar-
nos para quase qualquer lugar. Sucede,
porém, que durante uma sessão eles se
cruzam e descruzam, determinando pontos
de convergência ou nós, para onde se
encaminham porções consideráveis dos
sentidos marginais do discurso. A essas
malhas damos o nome de fantasias” (p. 14).
Clínica psicanalítica

 Processo investigativo e interrogativo


 Como formular questões?
 Abertas
 Atenção às palavras
 Atenção a como as palavras condensam muito sentidos
 Atenção a como as palavras podem expressar sentidos que
ultrapassam os sentidos previstos pelo(a) paciente
 O que alguém diz? O que alguém quer dizer?
 O que a palavra quer dizer?
Exercício
Tenho andando distraído

Impaciente e indeciso

Também estou confuso, mas agora é diferente

Estou tão tranquilo e tão contente

Quantas chances desperdicei

Quando o que eu mais queria

Era contar para todo mundo que eu não precisava contar


nada para ninguém

Me fiz em mil pedaços, para você juntas

E queria sempre achar explicações para o que eu sentia.


Exercício
Meu caminho é cada manhã
Não procure saber onde estou
Meu destino não é de ninguém
Eu não deixo meus rastros no chão
Se você não me entende, não vê
Se não me vê, não entende
Não procure saber onde estou
Se meu jeito te surpreende
Se um dia eu pudesse ver meu passado inteiro
E fizesse parar chover nos primeiros erros
Exercício
Eu perco o sono e choro, sei que quase desespero

Mas não sei por quê

A noite é muito longa e eu sou capaz de certas coisas que


eu não quis fazer

Será que alguma coisa nisso tudo faz sentido?

A vida é sempre um risco e eu tenho medo do perigo

A vida é muito injusta e eu estou contando meus


problemas que eu quero esquecer

Será que existe alguém ou algum motivo importante

Que justifique a vida ou pelo menos esse instante?


A delicadeza psíquica
Clínica Psicanalítica
A delicadeza psíquica
• Idealização do prazer, da felicidade e da diversão
• Exigências de produtividade, de aceleração
• Expectativa de eliminação de tristezas, dores e conflitos
• Pressa e pressão para que o bem-estar seja garantido e as
perturbações sejam eliminadas
• Esvaziamento das possibilidades de reconhecimento e
elaboração dos sofrimentos
• A construção de sentidos encontra-se desprovida de sua
principal matéria-prima: a imaginação desejante
“Socorro, não estou sentindo nada

Nem medo, nem calor, nem dor

Não dá mais pra chorar, nem pra rir

Socorro alguma alma, mesmo que penada

Me empreste suas penas

Já não sinto amor nem dor, já não sinto nada

Socorro alguém me dê um coração

Que esse já não bate nem apanha

Por favor! Qualquer emoção pequena, qualquer coisa!

Qualquer coisa que se sinta

Tem tanto sentimento deve ter algum que sirva

Socorro! Alguma rua que me dê sentido

Em qualquer cruzamento, acostamento, encruzilhada

Socorro! Eu já não sinto nada”

Arnaldo Antunes
Clínica psicanalítica
• O sofrimento psíquico é trazido como uma
falha a ser compensada ou corrigida, não como
um elemento que inevitavelmente faz parte
das experiências humanas
• Vocabulário de funcionamento, regulação,
manutenção
• Culto da performance
• Centralidade da imagem, ameaça de rejeição
• Apagamento da dimensão desejante
Desejantes
• Sermos desejantes é algo que implica não
termos controle do que desejamos
• Não termos controle do que quem
desejamos deseja
• Quando a vulnerabilidade é vista como
equivalente à fragilidade e à inferioridade
• Desejar tornar-se algo temido, contido,
impedido
• É como se fosse algo errado e
constrangedor demonstrar que sente
Vulnerabilidade
• Admitir a vulnerabilidade não
corresponde a resignar-se diante da
vulnerabilidade
• A compreensão de que, ao nos
relacionarmos, há dimensões que escapam
de nosso controle, de nossas capacidades
de reação e domínio, descontrói a
expectativa de sermos sempre plenamente
racionais, plenamente conscientes,
plenamente controlados(as)
Vulnerabilidade
• Não é incomum atribuirmos a origem dos
sofrimentos àquilo que não podemos controlar.
• No entanto, em toda relação há algo que nos
escapa. Não há encontro que não transforme.
• Não somos apenas formados(as) pelos nossos
vínculos significativos, mas transformados(as)
• Descentrados em qualquer ilusão de fixidez.
A delicadeza psíquica
Walter: É como... Se existisse o Walter Barnet que eu
conhecia, e este outro Walter, que eu nem sabia que
existia.

Paul: O que aconteceria com o outro Walter?

Walter: Quer que eu me reconecte com essa parte que


está em pedaços? Que desmoronou sob pressão? Por que
deveria fazer isso?

Paul: Porque não acho que foi essa parte sua que
desmoronou. Acho que é essa parte que quer viver.
“Saúde não é a negação da doença. Ao contrário, saúde engloba a doença,
pois ter saúde é poder adoecer e se recuperar. Saúde significa capacidade
de poder suportar embates, sofrimentos, quedas, limitações e ir adiante,
construindo novas formas de existência. Na verdade, uma experiência na
qual a incerteza, a imprevisibilidade, o fracasso e o sofrimento estivessem
sistematicamente afastados estaria paradoxalmente mais perto da
patologia do que da saúde”

Benilton Bezerra Júnior (2009, p. 22).


A importância do
vínculo
A psicanálise está ultrapassada?
• Sigmund Freud: sintomas relacionados às proibições, à
repressão, aos padrões morais

• Hoje: sintomas relacionados aos ideais de felicidade,


prazer, performance

• Sigmund Freud: desejo como o que nos move

• Hoje?
“Foi a inquietação da falta que deu origem
à invenção da psicanálise. A psicanálise
veio servir para tratar dos impasses
decorrentes disso. Cedo, Freud percebeu
que aquilo que fazia sofrerem as mulheres
que ele atendia, e lhes fazia produzir
sintomas inexplicáveis aos olhos dos
médicos de seu tempo, não eram senão
diferentes expressões de um mal
inexorável: o mal de amor. Cedo, ele se deu
conta, também, de que o tratamento para
isso passava pela fala, pelos efeitos do
acionamento desse fantástico dispositivo
que é a fala. Através dela, nos incluímos
nessa rede que nos envolve e tenta nos
articular uns com os outros”.
“Viver sem se haver com a dor da falta é
simplesmente inumano. Não podemos nos
livrar daquilo que constitui propriamente a
nossa humanidade. O que pode ser alterado
é a maneira como vivemos a experiência da
vida, a posição que ocupamos ao nos
defrontarmos com a falta daquilo que
supostamente iria nos tornar completos”.
“Oi
“Oi
“Oi
Exemplo – Atendimentos Sophie
Sophie: No telefone eu não
te falei que sofri um
acidente?
Paul: Você comentou.
Sophie: Eles falaram que
eu preciso da opinião de um
psicólogo. É que a
companhia de seguros do
carro que bateu em mim
não acredita muito que foi
um acidente... É por isso
que eu estou aqui. Eu
precisa de uma avaliação.
Não preciso de... (silêncio)
Paul: Terapia?
Sophie: É.
Paul: Deixa eu ver se eu
entendi... Você está
pedindo uma indenização
para a companhia de
seguro?
Sophie: É... Eles me
chamaram para falar com
uma mulher da empresa.
Mas a mulher só fazia
pergunta cretina, não dava
para responder aquilo.
Paul: Como foi o acidente?
Sophie: Não sei. Não consigo
lembrar nada do que
aconteceu.
Paul: Nada?
Sophie: Eu estava de
bicicleta, um carro atravessou
na minha frente e bateu em
mim.
Paul: Alguém viu o que
aconteceu? Alguém te contou
como foi?
Sophie: Falaram que eu
estava andando no meio da
rua. Andando de bicicleta no
meio da marginal.
Paul: Sophie... Quer falar de
você?
Sophie: Não estou afim.
- Silêncio - .
Sophie: Eu sou a Sophie. Tenho
15 anos. Sou ginasta desde
criança. Fui campeã brasileira
aos 12. Sul-americana aos 14. É
isso.
Paul: Me fala um pouco da sua
rotina. Além do esporte, como é a
sua vida?
Sophie: Normal, não é um
desenho animado.
Paul: Como assim?
Sophie: Com pessoas sorrindo,
cantando, com passarinhos.
Paul: Você gostaria que
fosse assim?
Sophie: Nós não vamos
falar da avaliação?
Paul: Preciso que me conte
de você.
Sophie: Para quê? Fazer
avaliação não é o seu
trabalho?
Paul: Sophie, o meu
trabalho não é avaliação
física, não dá para medir sua
pressão e dizer que
psicologicamente está tudo
bem com você.
Sophie: Que pena. Melhor
eu ir para casa então.
Paul: Que perguntas a
advogada da empresa te fez?
Sophie: Sei lá.
Paul: Ela te perguntou o que
você pensa sobre a morte?
Sophie: Não.
Paul: E o que você pensa?
Sophie: Sei lá.
Paul: Muita gente pensa que
com o fim da vida, outras coisas
ruins chegariam ao fim. Você
pensa nisso?
Sophie: Por que eu me
mataria com as eliminatórias
chegando?
Sophie: Olha, eu não vim aqui fazer terapia. O que eu
quero é que você faça essa bosta de avaliação e me diga
que eu estou bem. Que eu sou saudável, que eu não sou
a louca da bicicleta como todo mundo fala.
Paul: Eu preciso de mais sessões para poder fazer sua
avaliação. Preciso te conhecer mais para poder colocar
alguma coisa no papel.

Sophie: Já está na hora, não é, não é às 10h que


termina a sessão?
Sophie: Você é tão
esquisito. Não dá pra
acreditar que você é pago
para fazer o que você faz.
Paul: Para eu fazer a
avaliação, preciso que você
me conte o que está
acontecendo.
Sophie: Está dizendo que
sou mentirosa?
Paul: Eu não disse isso.
Sophie: Mas está
pensando.
Paul: Avaliação de Sophie:
Tem 15 anos. É ginasta. Me procurou após o seu
acidente. O que me parece, na primeira sessão, é que
ela é muito sensível e madura para a sua idade.
Esperta e inteligente. Muita atenta aos detalhes. Muito
independente.
Sophie: Você acha mesmo tudo isso que escreveu de
mim?
Paul: Cada palavra.
Paul: Mas ainda são
informações gerais. Não
suficientes para uma
avaliação definitiva.
- Silêncio -
Paul: Sabe. Hoje de
manhã. Eu tentei escovar
os dentes como você. Sem
usar os dedos. Mas não
consegui.
Sophie: Por que você
tentou fazer isso?
Paul: Para ver como você
se sente.
Sophie: Eu não tenho para
onde ir.
Sophie: Não consigo lembrar do dia do acidente. Mas eu
lembro que, um pouco depois da batida, o mundo inteiro
ficou sem som. Até a ambulância. Tudo ficou quieto, sabe?
Eu queria saber como era a sensação de estar dentro da
ambulância. Sempre que ela passa estou do lado de fora. Eu
não queria que eles chamassem meus pais. Eu queria aquele
tempo só para mim. Queria ficar sozinha. A única coisa que
passava na minha cabeça era: “os dois braços, Nina. Por que
os dois braços?”.
Sophie: Trouxe uma coisa para você.
Para a sua coleção.
Paul: Muito obrigado.
Sophie: Deve ser muito insípido ouvir
toda hora sobre os problemas das pessoas.
Assim você pode olhar para o barco e
imaginar que está em outro lugar.
Paul: Insípido... É uma palavra
interessante.
Sophie: Não sou louca, ok? Só gosto de
palavras. Mas deve ser mesmo muito
chato ouvir os problemas das pessoas o
dia todo. Você pode ler mentes?
Paul: Não, infelizmente não.
Sophie: Seria muito mais fácil se você
pudesse.
Paul: Seria.
Sophie: Posso sentar na sua cadeira?
Sophie: Posso sentar na sua cadeira?
Paul: Claro.
Sophie: Sente-se. Como você está? Parece cansado.
Paul: Estou ok.
Sophie: Talvez você precise de um cochilo.
Paul: Talvez.
Sophie: Como você se sente sobre isso?
Sophie: O que as pessoas
fazem na terapia? Ficam
sentadas, resmungando e
choramingando sobre os
problemas? Eu nunca faria
isso, de jeito nenhum.

Paul: Por que você não me


conta sobre um lugar em
que se sente segura?
Sophie: Eu te odeio. Você nunca diz o que realmente quer
dizer. Você é como todas as outras pessoas. Só diga: “ela
tentou se matar” ou não. Se você acha que eu tentei então
diga. Qual é o seu problema?
Paul: Há uma diferença entre não ser cuidadosa porque se
sente vulnerável e tentar suicídio.
Sophie: Não! É como o retrato! Eu não tive a intenção, mas
está quebrado!
Paul: Não. É muito diferente. Os problemas que
aconteceram antes do acidente, ainda estarão. Você
precisa conversar sobre eles.
Como receber os pacientes?

“Haverá os pacientes que não conseguem


sentar nem deitar, mas só podem falar
caminhando. Haverá os que devem ficar
silenciosos durante semanas, para se
convencerem de que não é proibido calar-se.
Haverá os que só querem vir de vez em
quando porque não toleram obrigação em
suas vidas. (...) Haverá os que não falam, mas
perguntam o que você acha, porque querem
ouvir sua voz e pouco importa o que você dirá.
Haverá os que se irritam porque você não os
abraça e os que não aguentam ser tocados”
(Calligaris, 2004, p. 154).
Como receber os pacientes?

“Eles querem mudar, e você também junto


com eles, pode querer que eles mudem. Mas
uma mudança não é coisa que possa ser
imposta. Ela não virá da imposição do rigor
abstrato da técnica que você aprendeu (...). Ao
contrário, para que uma mudança aconteça
um dia, é preciso que uma relação comece; e
uma relação só pode começar nas condições
que são irrenunciáveis por seu paciente. Em
suma, avance desarmado” (Calligaris, 2004, p.
155).
Clínica Psicanalítica
O que a psicanálise investiga?

“Ocupa-se de coisas simples, sumamente


simples, que são também imensamente
complexas.
Ocupa-se do amor e do ódio, do desejo e da lei,
dos sofrimentos e do prazer, de nossos atos de
fala, nossos sonhos e nossas fantasias.
A psicanálise ocupa-se das coisas mais simples
e complexas, mas eternamente atuais”
(Nasio, 1999, p. 11).
Atividade

 Qual é a primeira música em que você pensa quando


ouve a palavra “amor”?
Amor, psicanálise e transferência

“O chamado “mal de amor” configura nossos dramas


com o desejo e tece o discurso corrente em grande parte
de nossas produções artísticas e culturais, e também em
nossos divãs psicanalíticos.
Há a aposta de que o amor promova a salvação de nossa
existente. Frente a esse apelo demasiado humano, e
sobretudo demasiado, Freud foi sensível ao que
vivemos, ao que sentimos e ao que sofremos.
A transferência tem a ver com o amor, com a demanda
de ser amado.
E, mais do que isso, articula-se com a forma como a
demanda de amor será acolhida, encaminhada, tratada e
desmontada na experiência psicanalítica”.
Quereres – Caetano Veloso

Eu queria querer-te amar o amor O quereres estares sempre a fim


Construir-nos dulcíssima prisão Do que em mim é de mim tão desigual
Encontrar a mais justa adequação Faz-me querer-te bem, querer-te mal
Tudo métrica e rima e nunca dor Bem a ti, mal ao quereres assim
Mas a vida é real e é de viés Infinitivamente pessoal
E eu querendo querer-te sem ter fim
E vê só que cilada o amor me armou
E, querendo-te, aprender o total
Eu te quero (e não queres) como sou
Do querer que há,
Não te quero (e não queres) como és
e do que não há em mim

Ah, bruta flor do querer... Ah, bruta flor, bruta flor...


Sobre o amor

 O que é o amor?
 O que nos faz amar?
 O que nos faz amar alguém?
 O que amamos em quem amamos?
 O que nossa forma de amar expressa sobre nós?
Quem é a pessoa amada?

 A pessoa amada é uma pessoa


 A pessoa amada é uma pessoa que não
podemos conhecer inteiramente (quem
é, o que pensa, o que sente, o que
deseja)
 A pessoa amada é nossa fantasia, é a
presença da pessoa amada fantasiada
em nós
 A pessoa amada é internalizada em
nossa dinâmica psíquica
 A pessoa amada é a quem nos dirigimos
(objetivamente e, principalmente,
psiquicamente)
Quem é a pessoa amada?

“Quando amamos, amamos sempre um ser híbrido,


constituído ao mesmo tempo pela pessoa exterior com
que convivemos no exterior e pela sua presença
fantasiada e inconsciente em nós.
(...)É por isso que lhes falo da fantasia.
Entretanto, é preciso compreender bem que essa fantasia
não é apenas uma formação intra-subjetiva, mas
intersubjetiva.
O amado é uma parte de nós mesmos, mas essa parte não
está confinada no interior da nossa individualidade, ela se
estende no espaço intermediário que nos liga
intimamente ao seu ser” (p. 47)
Pessoa imaginária

 Espelho psíquico
 Não como a superfície do gelo
 Mas como um espelho fragmentado
em pedaços móveis de vidro, que
refletem imagens que se combinam
e se confundem
O que é o amor?

 Busca de sentido, busca de completude


 Unidade é impossível
 Idealização amorosa: superinvestimento
 Quem ama está no lugar de quem experimenta a
falta
 Amante = desejante
 A pessoa amada está no lugar de quem se espera
que compense a falta
 A pessoa amada suscita a falta
 A pessoa amada não tem o que falta a quem ama
O que é castração?

 A demanda por completude é impossível de ser atendida


 Somos seres incompletos, somos seres faltantes
 A castração é a evidência da impossibilidade da
complementariedade amorosa
Sobre o amor

“Nunca estamos tão mal protegidos contra o sofrimento como quando amamos,
nunca estamos tão irremediavelmente infelizes como quando perdemos a
pessoa amada ou o seu amor”.
Sobre o amor

 Como o amor se expressa em uma análise?


A Transferência
Clínica Psicanalítica
Como é o processo da análise?

“Uma análise ou uma terapia acontecem


pelas palavras trocadas e pelas relações
que elas organizam”
(Contardo Calligaris, 2004, p.52)
O que é a transferência?
 A transferência designa o conjunto dos afetos que
ligam um paciente a seu terapeuta.
 Exemplos: proteção, rejeição, desejo, fantasias,
angústia, temor.
 O psicanalista é como se fosse um imã de afetos.
Qual é a importância da transferência?
“É preciso que o paciente tenha
vontade de vir às sessões e de entregar
a intimidade ao terapeuta, de outra
forma o tratamento não teria nenhuma
chance de florescer.

Em uma relação analítica, a


dependência do paciente é positiva,
necessária e até incortornável, porque
é impossível para um analisando expor
sua parte mais secreta sem se apegar
àquele que o escuta”.
O que é a transferência?
 O amor impulsiona transformações
 A transferência impulsiona curas
 Motivação: desejo de vir para os atendimentos
 Motivação: desejo de mudar, mudanças
testemunhadas pelo(a) analista
 Viver, na relação transferencial, afetos trazidos de
outros vínculos significativos
 Dirigir, ao(à) analista, expectativas, idealizações,
receios, desconfianças e padrões trazidos de outros
vínculos significativos
 Repetir, na relação transferencial, a forma que vigora
de se relacionar
O que é a transferência?
“É como se na primeira consulta,
o paciente dissesse: ‘você está
disposto a se deixar amar,
idealizar, odiar ou temer? Aceita
ser bajulado em um dia e
maltratado no dia seguinte? Está
pronto a se imiscuir em minhas
fantasias e nelas desempenhar
um papel?’. O analista se torna um
destinatário sentimental”.
Como acontece a transferência?
 É preciso sempre lembrar que não se é amado(a) ou
detestado(a), idealizado(a) ou rejeitado(a), pelo que
somos, mas sim, pelo que representamos.
O que é a transferência?

“O terapeuta não é quem a paciente


imagina. A situação leva a paciente a
supor que seu terapeuta detenha o
segredo ou algum segredo de sua vida e
que, graças a esse saber, ele poderá
entendê-la, transformá-la e fazê-la feliz.
Ou seja, a paciente idealiza o terapeuta, e
quem idealiza acaba se apaixonando”
(Calligaris, 2004, p. 45)
Como se dá o manejo da
transferência pelo(a) analista?
 Para poder trabalhar, é fundamental que o analista
saiba em que lugar está sendo colocado pelo
analisando. Que posição está sendo atribuída a ele,
em sua organização subjetiva.
 É da posição que lhe é dada pela transferência que o
analista pode analisar, interpretar, enfim, intervir
sobre a própria transferência.
Exemplo: In Treatment- Caso Mia

Mia é advogada e foi paciente de Paul


há cerca de 20 anos atrás. Os dois se
reencontraram porque Paul está sendo
processado, e ela trabalha no mesmo
escritório do advogado dele. Ela decide
voltar para a terapia. Sua principal
queixa é a dificuldade de encontrar um
parceiro amoroso e a frustração por
ainda não ter tido filhos.
Exemplo Clínico: Mia

 Em que posição Paul está sendo colocado por Mia?


 Como você imagina que é para Paul ser colocado
nessa posição?
Exemplo: In Treatment- Caso Mia

No segundo atendimento, Paul chega


alguns minutos atrasado e Mia precisa
esperá-lo. Está frio e chovendo.
No decorrer da sessão, é abordado
sobre como Mia lida com suas raivas e
sofrimentos.
Alguns fatos de sua infância são
relatados e relacionados a como ela se
sente.
Exemplo Clínico: Mia

 Em que posição Paul está sendo colocado por Mia?


 Como você imagina que é para Paul ser colocado
nessa posição?
Exemplo Clínico: Mia

 Em que posição Paul está sendo colocado por Mia?


 Como você imagina que é para Paul ser colocado
nessa posição?
Como acontece a transferência?

“É como se o sujeito se mantivesse engessado em certos


estereótipos que se reeditam em cada nova relação que
estabelece, do tipo: “Sou o coitadinho e ninguém me
ama, portanto você também não me amará”. Ou: “Sou
aquele que acerta sempre e fico, portanto, aguardando
seus aplausos”. Ou ainda: “Sou sempre o injustiçado e,
com você, sei que a injustiça se repetirá”. E assim
sucessivamente, aparecendo em incontáveis situações.
O sujeito encontra-se preso numa trama que toma
equivocadamente a designação de destino, de sina, de
encosto, de carma –, conforme as crenças de cada um”.
Exemplo: In Treatment- Caso Mia

Quando nasceu, a mãe de Mia teve


depressão pós-parto, o que tornou
necessária a ajuda de outras pessoas.
10 anos depois, quando suas irmãs
gêmeas nasceram, Mia foi levada para a
casa da tia, onde passou alguns meses,
até as bebês crescerem.
Exemplo Clínico: Mia

 De que forma a posição na qual Mia coloca Paul está


relacionada às experiências que viveu em sua
infância?
Exemplo Clínico: Mia

 Sobre o que Mia estava contando enquanto contava


sobre a recepcionista de seu trabalho?
Exemplo: In Treatment- Caso Mia

No terceiro atendimento, Mia chega


com sacolas, trazendo comida para o
café da manhã. Ao invés de sentar-se no
divã, abre a porta do consultório que dá
para a cozinha e senta-se à mesa. Ainda
que Paul sinalize que aquele não é o
espaço adequado para a sessão, Mia
insiste em continuar lá, enquanto conta
como foi seu final de semana.
Como acontece a transferência?
 Quando as pessoas começam uma
análise e se vêem, de certo modo,
sustentadas pela transferência, não é
raro que ousem fazer coisas que jamais
tinham arriscado anteriormente.
Exemplo Clínico: Mia

 Em que posição Paul está sendo colocado por Mia?


 Como você imagina que é para Paul ser colocado
nessa posição?
Exemplo Clínico: Mia

 Em que posição Paul está sendo colocado por Mia?


 Como você imagina que é para Paul ser colocado
nessa posição?
Exemplo Clínico: Mia

 Em que posição o pai de Mia é colocado por ela?


Exemplo Clínico: Mia

 Em que posição Paul está sendo colocado por Mia?


 Como você imagina que é para Paul ser colocado
nessa posição?
Exemplo Clínico: Mia

 Em que posição Paul está sendo colocado por Mia?


 Como você imagina que é para Paul ser colocado
nessa posição?
Exemplo: In Treatment- Caso Mia

O atendimento da semana anterior foi


cancelado devido à morte do pai de
Paul.
Nesta sessão, Mia conta a ele que está
grávida. A gravidez de Mia faz com
emerjam no decorrer da sessão
diferentes conteúdos afetivos dela em
relação ao analista.
Exemplo Clínico: Mia

 Como você imagina que Paul se sente ao ouvir Mia


descrevendo-o como solitário?
Exemplo Clínico: Mia

 Em que posição Paul está sendo colocado por Mia?


Exemplo Clínico: Mia

 Em que posição Paul está sendo colocado por Mia?


 Como você imagina que é para Paul ser colocado
nessa posição?
Exemplo: In Treatment- Caso Mia

Nesta sessão, Mia descreve que viveu


uma situação semelhante a um aborto,
mas, quando consultou o médico,
descobriu que a gravidez nunca
aconteceu. Mia relata como foi acolhida
por sua mãe, situação que leva Paul a
questionar sobre suas relações
familiares.
Exemplo Clínico: Mia

 Como Paul está abordando o relacionamento de Mia


com a mãe e com o pai? O que você pensa sobre essa
abordagem?
Exemplo: In Treatment- Caso Mia

Nesta sessão, Mia relata ter se sentido


muito mal com a sessão anterior,
destacando como as questões
colocadas a deixaram sem referências,
sem rumo.
Exemplo Clínico: Mia

 Como você acredita que Paul se sentiu ao ouvir sobre


a decisão de Mia de deixar a terapia?
 O que você pensa sobre a forma que ele reagiu à
decisão?
Exemplo Clínico: Mia

 Em que posição Paul está sendo colocado por Mia?


 Como você imagina que é para Paul ser colocado
nessa posição?
Exemplo Clínico: Mia

 Como Paul relacionou a escolha profissional de Mia à


relação dela com o pai?
A psicanálise e a escuta do desejo
Clínica psicanalítica
PSICANÁLISE E DESEJO

“A psicanálise é conhecida como uma ciência da


patologia que sabe lidar com o sofrimento
humano quando ele se consolida em sintomas
indesejáveis e quadros psíquicos que inviabilizam
certos aspectos da vida ou ela como um todo.
Porém, essa é apenas uma das suas possibilidades
e talvez a que mais a desvirtua: sua vocação mais
íntima é de interrogar sobre nossos desejos. O
que queremos afinal? Quais os nossos anseios
mais secretos e íntimos?” (p. 1071).
Um dia comum

 Um vizinho nos cumprimenta com um “olá” mal-


humorado
 Nossa chefe conversa com frieza, diferente de como
costuma agir
 Contamos para uma amiga o que aconteceu e
percebemos desatenção
 Ligamos para uma pessoa que amamos e, ao falarmos
que queremos vê-la, percebemos uma mudança no
tom de voz
A escuta em psicanálise

 Atenção para a singularidade de cada paciente


 Atenção para o detalhe, atenção para o valor
 Atenção para a vida íntima
 Atenção para as crenças
 Atenção para os sofrimentos
 Atenção para a maneira singular de lidar com o sofrimento
 O que há de particular na história de cada um
 “Adaptar” à realidade x reconhecer o que, naquela realidade, é
único
A escuta em psicanálise

Exemplo
 Sintoma: a pessoa deixa de comer
 Diagnóstico: distúrbio alimentar
 Devaneios apaixonados, idealização de um corpo
magro para receber interesse
 Temor de envenenamento, crença de que o alimento
pode estar intoxicado
 Experiência do próprio corpo como um buraco que
não será preenchido
A escuta em psicanálise

“É raro o sintoma como tal poder dizer-nos muita


coisa sobre o diagnóstico. O que nos instrui é,
antes, a relação da pessoa com o sintoma, a
maneira de articular o que ele significa para ela.
O que importa é como a pessoa dá voz à sua
experiência, como a situa subjetivamente: em
outras palavras, o que ela diz a respeito”

Darian Leader.
A escuta em psicanálise

Exemplo
 Timidez, dificuldades que tornam insuportável estar
entre as pessoas, extremo desconforto em situações
sociais
 Diagnóstico: fobia social
 Desejo de agradar, de receber atenção, de receber
amor
 Convicção de que as outras pessoas podem ler seus
pensamentos
A escuta em psicanálise

“O diagnóstico não pode ser feito a partir de


uma classificação externa do comportamento,
mas apenas mediante a escuta do que cada
pessoa tem a dizer sobre o que aconteceu em
sua vida, levando a sério a posição que ela
assume em sua própria fala, a lógica de
elaboração que ela mesma desenvolveu”
Darian Leader.
Defesas

 A maioria dos aspectos do sofrimento humano está


ligada ao modo de nos defendermos de pensamentos,
imagens e lembranças perturbadoras
 Há conteúdos que não podem simplesmente ser
mantidos na consciência, não podem simplesmente
continuar a nos afetar
Defesas

 Esquecimento
 Deslocamento
 Expulsão
Sintomas

 Algo que impele


 Algo que impede
 Restrição dos movimentos, das possibilidades
 Engessamento
Sintomas

 Fobia
 Dor física
 Mudanças no sono, no apetite, na fala
 Ideia repetitiva
 Ritual repetitivo
 Delírio
 Alucinação
“E o esquecimento ainda é memória

E lagoas de sono selam o que amamos e fomos um dia

Ou nunca fomos, e contudo arde em nós

À maneira da chama que dorme nos pais da lenha jogados


no galpão

Amar, depois de perder”

Claro Enigma – Carlos Drummond de Andrade


Defesas

 Recalque por esquecimento


 Recalque por deslocamento
 Defesas neuróticas: modos de formular uma
pergunta
Defesas

 Recalque por esquecimento


 Defesa histérica – neurótica
 Recalque por deslocamento
 Defesa obsessiva – neurótica
 Foraclusão
 Defesa psicótica
Defesas neuróticas

 Modos de formular uma pergunta


 Desejo sexual – histeria
 Morte – neurose obsessiva
Defesas psicóticas

 Certezas
Defesas neuróticas e psicóticas

 A chave não está no teor da ideia perturbadora, mas


no mecanismo de rejeição
 A diferença reside menos na ideai em si do que na
certeza e na rigidez com que ela é sustentada e
comunicada, no lugar que ocupa na vida da pessoa
 Independentemente do conteúdo de uma ideia
delirante, o que importa é a relação da pessoa com o
conteúdo
Defesas neuróticas e psicóticas

 Elemento perturbador gera dúvida, gera culpa, gera


questões
 Elemento perturbador vem de fora, com explicações
e convicções sobre o que faz sofrer
 (algo implantado no cérebro, ondas de rádio, uma
máquina instalada, uma perseguição da polícia)
Um dia comum

 Um vizinho nos cumprimenta com um “olá” mal-


humorado
 Nossa chefe conversa com frieza, diferente de como
costuma agir
 Contamos para uma amiga o que aconteceu e
percebemos desatenção
 Ligamos para uma pessoa que amamos e, ao falarmos
que queremos vê-la, percebemos uma mudança no
tom de voz
Um dia comum

“Muitas vezes, esses detalhes são entendidos


estritamente em termos do imaginário, como se o
mundo consistisse apenas no sujeito e na outra
pessoa. O mau humor do vizinho é interpretado
como causado por algo que o sujeito fez, e suas
falhas causariam a frieza do chefe. Não há
referência à possibilidade de que um terceiro seja a
causa, de que a outra pessoa esteja perturbada por
acontecimentos de sua própria vida que não dizem
respeito ao paciente”.

Darian Leader
O que é o imaginário?
O que é o imaginário?
O que é o imaginário?
O que é o imaginário?
O que é o imaginário?
O que é o imaginário?
Qual é a relação entre o
imaginário e o simbólico?
Qual é a relação entre o
imaginário e o simbólico?
Função inaugural

“Sem cuidados físicos intensivos, morremos; sem um


grande investimento materno sobre nós, definhamos
física e psiquicamente.
Nossa gênese é uma interação com os adultos que
nos dão suporte e assim fazendo nos constituem.
Ao nascer estabelecemos uma espécie de
continuidade com a pessoa que desempenha a
função materna em nossa vida.
Vivemos nesse outro ser humano que nos olha,
embala, fala conosco, zela por nós e nos inclui em
seus pensamentos e desejos. Existimos através dele,
a partir dele, na sua continuação”.
Um mais um
INTRODUÇÃO
Skank [Refrão:]
Eu era eu
Quando era nela
Éramos nós (2x) Ela em mim
Um mais um
Como ela era
Éramos mais
Que só dois
Soma sem subtração

Éramos um Múltiplos sem divisão

Feito de dois Dois que se amavam então


Mais que nós dois Éramos multidão
Nunca então sós
E na matemática torta
[Refrão:] Da vida aqui sem ela
Eu era eu
Dois menos um é zero
Quando era nela
Eu não sou nada do que eu era
Ela em mim
Como ela era
Palavras

 Quem sou eu?


 De onde eu vim?
 Como eu nasci?
 Por que eu nasci?
 Onde eu estava antes de nascer?
 Como era o mundo antes de eu nascer?
 Fui desejada?
 Sou desejada?
Palavras

 Onde está a minha mãe?


 Se minha mãe não está aqui, ela volta?
 Por que minha mãe não está aqui?
 Para onde minha mãe vai quando não está aqui?
 O que minha mãe faz quando não está aqui?
 O que minha mãe deseja?
 Por que não sou tudo o que minha mãe deseja?
Palavras

 Quem sou eu?


 Qual é o meu valor?
 Eu importo para quem me importa?
 Sou especial para quem é especial para mim?
 Como posso fazer para ser muito, muito, muito, muito
especial?
Falo

 Completude
 Satisfação total
 O que falta para que nada mais falte
Complexo de Édipo

1) A criança reconhece que mãe está interessada em


algo mais
2) A criança tenta ser mais do que algo mais
3) A criança percebe que não pode ser tudo o que falta
à mãe, tudo o que a mãe deseja, e então renuncia a
esse lugar que eliminaria a falta
Falta

 A parte mais importante desse processo é o


estabelecimento da falta
 É criada uma zona de vazio que, mais tarde, poderá
ser preenchida de muitas formas
 Renunciar à mãe também significa renunciar ao que
imaginávamos ser e ter de ser para ela
 Não somos a única causa, a única referência, o único
desejo
 É, ao mesmo tempo, trágico e libertador
Foraclusão

 Autorreferência
 Relação especular
 Sem mediação
 Ser a causa: peso
Fantasia

“A fantasia é como nos viramos como o insondável, a


resposta que inventamos para o indecifrável enigma
sobre o que quem nos importa deseja, sobre o desejo
do Outro”.
Slavoj Zizek
Fantasia

 O que quero?
 O que quem me importa quer de mim?
 O que sou para quem me importa?
 O desejo encenado na fantasia não é o do próprio
sujeito, mas o desejo do Outro
 Em seu nível mais fundamental, a fantasia me diz o
que eu sou para meus outros
Eu ideal

 Eu = amado
 Maneira idealizada como eu gostaria de ser
 Maneira idealizada como eu gostaria que as outras
pessoas me vissem
Ideal de eu

 Como acredito que devo ser para que possa ser


amado(a), para que possa merecer amor
 Olhar que quero impressionar com a imagem
idealizada que quero alcançar
 Olhar que posiciono como esperando que eu agrade,
que eu me destaque, que eu surpreenda, que eu me
supere, que eu dê o melhor de mim
Supereu

 Instância de avaliação e crítica


 Recrimina, deprecia, condena, exige, debocha,
diminui, duvida, cobra, julga, pune
Fantasia

 Eu ideal
 Ideal de eu
 Supereu
Fantasia

 Vincular-se, seja em que momento da vida for, é um


processo pelo qual um sujeito tenta adivinhar os
desejos do outro e organizar-se para satisfazê-los ou
defender-se dele.
 O contato pessoal sempre resgata, mesmo que em
pequena dimensão, a relação primordial ao outro, no
qual somos interrogados(as) e interrogamos sobre o
desejo, sobre o que falta.
A escuta em psicanálise

 Há em nós o que não somos, o que não temos, o que


buscamos, o que nos falta
 O nome disso que não somos, que não temos, que
buscamos e que nos falta é o desejo
 O nome disso que nos move, nos lança em insistentes
tentativas de compensar essa falta, de preencher essa
falta, é desejo
A escuta em psicanálise

 Não podemos confundir o desejo com metas,


objetivos, planos, vontades
 Que muitas vezes usamos para esquecer do nosso
desejo
 A neurose é esse estado em que a gente adora
ingressar de desconhecimento do desejo, de
esquecimento do desejo
A escuta em psicanálise

 A psicanálise é uma experiência de linguagem


 É uma experiência que cura por uma relação de
linguagem, de transferência
 Uma experiência em que a pessoa é convidada a dizer
do que é feita a verdade de seu desejo

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