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DIÁRIO DE JOHN BARLEYCORN

TOMO 3 – AS MINAS DE PHANDELVER

Legenda

Personagens

Locais

Deuses

Espécies

Itens

Escrituras

Organizações

Eventos

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SOPRO DO DRAGÃO

JOHN – Ranger VARIS – Clérigo TILION – Mago


Humano Elfo da Lua Elfo da Lua

EODION – Feiticeira UTHRED – Guerreiro ENNA – Druida


Meio-elfa Humano Elfa da Floresta

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Sumário

Sumário .............................................................................................................. 4

III – As Minas de Phandelver ................................................................................ 5

05-03-2017 (Caverna do Eco Ondulante – 1º Dia) ................................................. 5

21 de Tarsakh de 1489 ...................................................................................... 5

18-03-2017 (Caverna do Eco Ondulante – 2º Dia) .............................................. 12

22 de Tarsakh de 1489 ................................................................................... 12

23 de Tarsakh de 1489 ....................................................................................25

22-04-2017 (Minas da Loucura – 1º Dia) ........................................................ 26

24 de Tarsakh de 1489 ................................................................................... 33

23-04-2017 (Minas da Loucura - 2º Dia) ......................................................... 39

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III – As Minas de Phandelver

05-03-2017 (Caverna do Eco Ondulante – 1º Dia)

21 de Tarsakh de 1489

Pela manhã acordamos cedo e nos alimentamos, aprontamos armas e equipamentos,

preparamos magias e nos aparelhamos para encontrar Gundren. Guardamos parte das

nossas coisas no armorial da masmorra e o trancamos à chave, que ficou com Varis.

Antes de sairmos vimos que Uthred voltava à sua forma normal, o que foi providencial

para termos a equipe completa. Troquei com ele minha machadinha por uma espada

curta mágica, que me seria mais útil do que para ele.

Às 9 horas encontramos Gundren na loja de Barthen e ele nos guiou pelas matas em

direção a leste, rumo à Caverna do Eco Ondulante. No caminho conversamos com o

anão que nos contou um pouco de sua história com a caverna. Ele e seus irmãos a

encontraram no dia 1 de Ches e começaram a explorá-la, descobrindo veios de um

estranho minério vermelho e posteriormente veios de eléctron. O minério vermelho se

mostrou sem valor comercial, pois se desfazia ao ser retirado da rocha. Nesse tempo

explorando os veios de eléctron, os anões viram uma criatura pavorosa rondando ao

longe nos corredores. Uma caveira envolta em chamas verdes flutuando a alguns

metros do chão parecia vigiar as entranhas da montanha. Por sorte a criatura não os

molestou. Tilion acreditou que se tratava de uma caveira flamejante, e essa foi sua

descrição sobre a monstruosidade:

“A caveira flamejante é um morto-vivo que quando encontra invasores os explode

com raios cauterizantes dos seus olhos e magias terríveis convocadas dos recessos

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sombrios de sua memória. Conjuradores das trevas criam as caveiras flamejantes a

partir dos restos mortais de magos. Quando o ritual é completado, chamas verdes

emergem da caveira para completar sua medonha transformação. Uma caveira

flamejante lembra-se vagamente de sua vida anterior. Apesar de ela poder falar

com sua antiga voz e poder relembrar dos principais eventos do seu passado, ela não

passa de um eco do seu eu anterior. No entanto, sua transformação em morto-vivo

garante a ela acesso total à magia que ela portava em vida, permitindo que ela

conjure magias enquanto ignora os componentes materiais e somáticos que ela não

pode mais realizar. Inteligente e vigilante, uma caveira flamejante serve seu

criador protegendo o local de um tesouro escondido, uma câmara secreta ou um

indivíduo específico. O fogo que envolve a caveira flamejante queima

continuamente, concedendo a luz plena que a criatura controla. Ela usa essas

chamas como arma, focando-a para disparar raios ardentes de suas órbitas

oculares. Os fragmentos de uma caveira flamejante se juntam a não ser que eles

sejam salpicados com água benta ou alvos da magia dissipar magia ou remover

maldição. Se ela não puder mais atender aos seus propósitos, a caveira flamejante

reformada não tem obrigação com mais ninguém e torna-se autônoma”.

Gundren, na ocasião, fez um mapa rudimentar de como retornar à caverna e foi a

Neverwinter no dia 5 de Ches estudar tudo que poderia encontrar sobre a história da

Mina de Phandelver. Enquanto isso, seus irmãos procuraram fazer o registro da mina

na prefeitura e voltar até lá depois de comprar mais provisões em Barthen. Em

Neverwinter, Gundren aprendeu as informações que Hallwinter nos repassou, além de

algumas novidades, como o fato de que os magos à época chamaram a minério vermelho

de krimsonita e que também não obtiveram êxito na comercialização do produto. Tendo

lido tudo que pôde obter sobre a caverna, Gundren preparou seu retornou à Phandalin,

tendo arrumado como companhia para a viagem Sildar Hallwinter que conheceu um

dia antes de nossos caminhos se cruzaram pela primeira vez no pátio da feira de

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Neverwinter, no dia 29 de Ches. Como sabemos, o retorno a Phandalin nunca ocorreu

uma vez que a caravana foi interpelada pelos gnolls de Yorrgh e os hobgoblins de Klarg.

Nesse meio tempo procuramos na mata por folhas de ruibarbo e por uma víbora, que

Tilion necessitava para uma de suas magias, mas infelizmente só encontramos a

planta, deixando-o ainda incapacitado para conjurar tal magia.

E então por volta das 13 horas encontramos finalmente a entrada da caverna.

Adentramos a rocha crua, chegando a uma grande câmara de 9 metros de altura

suportada por uma coluna maciça. O ambiente era supreendentemente frio e arejado

para um lugar nas profundezas da montanha, com três grandes estalagmites e várias

estalactites no teto. Ao fundo havia um desmoronamento que se transformou num

grande buraco de 6 metros de altura levando ainda mais fundo nas entranhas das

rochas. Em algum lugar distante à nordeste soava um som rítmico de ondas quebrando

em margens. À esquerda da entrada um cheiro de carne apodrecida vinha de trás da

coluna e fomos investigar sua origem. Um anão em avançado estado de putrefação,

com marcas de garras e dentes, jazia entre mantimentos e ferramentas de mineração.

Era Tharden, um dos irmãos de Gundren, que entrou em desespero ao ver seu parente

naquele estado. Investigando o cenário encontrei pegadas de gnolls muito rasas na

poeira provenientes de algo entre duas e três semanas passadas. Outras pegadas, essas

com marcas de calçados humanos, seguiam para o buraco arrastando algum peso que

parecia um corpo. Assumimos que seria o outro irmão anão, Nundro, e tivemos

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esperança que ele estaria vivo, do contrário sangue estaria seguindo os rastros. Gundren

nos pediu que o salvasse e anunciou que dali ele retornaria com o corpo de Tharden.

Então era hora de adentrar finalmente a Caverna do Eco Ondulante. Descemos por

uma corda atada a uma coluna. A escuridão me rendeu uma queda, que além de ferir

meu orgulho me causou escoriações leves. Foi necessário acender a lanterna que Eodion

carregava e para isso cedi um de meus frascos de óleo. Agora sim, todos eram capazes de

enxergar. A primeira parte da caverna era formada por uma cadeia de túneis

finamente escavados, diferente de qualquer mina humana que eu já tenha visto.

Aqui o trabalho parecia ter sido feito por verdadeiros artesãos, porém o cheiro ácido era

de podridão. Varis e Enna, capazes de enxergar muito bem no escuro, fizeram uma

rápida investida furtiva nos corredores mais próximos, encontrando no setor mais à

direita uma porta e uma escada - de onde um barulho de ossos sendo roídos se fazia ouvir

- como opções a serem seguidas.

Enquanto aguardávamos os dois fazerem sua vistoria, uma

gosma ocre escorreu do teto, atacando Tilion. A criatura

nojenta causou algum dano, mas após uma breve luta foi

morta pelo próprio mago em meio a chamas mágicas.

Decidimos seguir os corredores à esquerda, onde Gundren

afirmara já ter começado uma pequena exploração de

minérios com seus irmãos. Após alguns corredores sem saída

encontramos em frente uma larga câmara com uma espécie

de lago subterrâneo, que investigamos brevemente e não pareceu oferecer perigos. À

direita da gruta havia uma passagem com alguns degraus para um terreno elevado.

Seguimos por ali e nos deparamos com uma porta estreita a frente, por onde apenas uma

pessoa passaria por vez. À esquerda um outro corredor se estendia. Enquanto

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discutíamos por onde seguir, Varis abriu a porta revelando um dormitório ocupado por

cinco bugbears. Eodion conjurou um feitiço que isolou a porta com adagas voadoras e

conseguimos manter as bestas dentro da sala atacando de fora. Tilion usou uma

sinistra magia em um dos bugbears fazendo-o se virar contra os próprios comparsas

criando o caos entre eles. Vimos que no canto contrário havia uma porta que estava

protegida por muitos escombros, como se para segurar uma perigosa criatura ou magia.

O último bugbear, porém, desesperado com nossa investida, preferiu enfrentar seja lá o

que tivesse lá e começou a derrubar a barricada para fugir pela porta, mas o matamos

antes que pudesse fugir.

Adentramos o recinto e vimos chegando pela porta aberta vários zumbis e a anunciada

caveira flamejante. Varis se pôs à frente da porta com seu escudo e a despeito dos avisos

claros do perigo se recusou a fechar a porta. A resposta foi dolorosa. A cabeça esquelética

lançou uma bola de fogo que adentrou a porta e explodiu no meio de todos nós,

queimando a maioria. Felizmente, todos conseguimos nos manter de pé e continuamos

lutando. Dessa vez levando a sério o risco, fechamos a porta e começamos a lutar numa

estratégia de guerrilha, fazendo ataques rápidos e trancado novamente a porta. Aos

poucos os zumbis desistiram de nos atacar, bem como a caveira voltou para onde estava

anteriormente. Nesse mesmo tempo Conan farejou na porta às nossas costas a chegada

de novos personagens na luta e corri até lá para ver o que seria. Eram quatro bugbears

descendo o corredor e reconheci um deles como o famigerado Rei Grol. Voltei e fechei a

porta. Por algum tempo consegui impedir que eles entrassem, mas devido ao seu grande

número, conseguiram me vencer e entraram. Enna, no entanto, em forma de urso,

estraçalhou o líder e os outros três correram dando um respiro para nós.

Nos poucos momentos de calmaria que se seguiram pusemos barreiras na porta, caso os

bugbears decidissem retornar e procuramos naquela sala, sem sucesso, alguma

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passagem secreta que nos tirasse da arapuca em que nos metemos. Revistei ainda o corpo

de Grol, encontrando 15pc, 13pe e uma poção não identificada. Ao abrir novamente a

porta à frente vimos que a caveira e zumbis faziam nova investida em nossa direção,

mas dessa vez lutamos até o seu fim, quando Varis a atingiu com um martelo mágico

voador, derrubando-a e apagando as suas chamas verdes. E nesse momento os bugbears

retornaram derrubando de um só golpe toda a barricada que construímos e nos deram

mais alguns momentos de tormento. Nesse momento algo curioso ocorreu. Percebemos a

ira incomum e imprudente com que Tilion atacou um dos monstros que havia lhe

atingido. Ignoramos o fato e seguimos até que conseguimos deitar todos os monstros

definitivamente.

Após uma boa hora de necessitado descanso fomos vistoriar o recinto de onde vinham os

mortos-vivos e descobrimos o que a caveira flamejante guardava. Era a fornalha onde

o minério queimava para ser levado à forja mágica. Aqui um sem número de esqueletos

secos jaziam no chão, papéis muito antigos se esfacelavam sobre móveis carcomidos e

restos de minérios se amontoavam pelos cantos. Uma canaleta, agora seca, mostrava

por onde a água passava para girar o mecanismo do fole. O canal vinha da parede ao

norte e sumia na parede ao leste. Esse era um possível caminho que poderíamos tomar

uma vez que estava completamente seco. O ambiente parecia intocado a séculos, exceto

pelos mortos, o que indicava que os nossos facínoras tinham evitado o confronto com a

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medonha sentinela, ou simplesmente ignoraram aquela área da caverna. Nas paredes

leste e sul havia outras passagens e decidimos ir ao sul. Enna foi na frente usando sua

capacidade de enxergar no escuro, mas infelizmente foram os monstros que a viram

primeiro. Ela retornou rápido, narrando o panorama: uma enorme câmara com grandes

mesas estava infestada de carniçais que agora queriam nossos ossos para roer.

E foi nessa hora que percebemos quanto desatentos fomos. Atrás de nós a luz verde

bruxuleando nas paredes nos lembrou das palavras de Tilion: “Os fragmentos de uma

caveira flamejante se juntam a não ser que eles sejam salpicados com água benta ou

alvos da magia dissipar magia ou remover maldição”

E assim novamente estávamos entre duas frentes de ataque. Para nossa sorte, os

carniçais demoraram a chegar, e foi o tempo de derrotar a caveira para em seguida

segurá-los na passagem estreita. Aqui novamente vimos Tilion assumir uma persona

descontrolada contra uma besta que o atacou. Definitivamente ele não estava com

toda as suas estruturas emocionais intactas. E enfim a luta terminou com nosso

guerreiro caído, porém vivo, e todos os mortos-vivos finalmente derrotados.

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18-03-2017 (Caverna do Eco Ondulante – 2º Dia)

Era o fim de nossas forças e fomos descansar escondidos atrás da grande fornalha.

22 de Tarsakh de 1489

Acordamos pela manhã do dia 22 e nos preparamos para esquadrinhar o resto da mina,

porém ouvimos passos vindos da sala de banquetes e nos preparamos para uma nova

batalha. No entanto, quem apareceu à nossa frente foram ninguém menos que Sildar

Hallwinter e Gundren Rockseeker. Apesar das circunstâncias adversas para estarem

ali naquele momento ficamos felizes com sua chegada. Disseram estar preocupados

conosco e que vieram em nosso socorro, apesar de que estávamos ausentes a apenas um

dia. Perguntei a Gundren pelo seu irmão Tharden e ele apenas disse que já o tinha

enterrado, que estava bem com isso. Bem, os anões são conhecidos por serem duros e isso

não soou estranho para ninguém. Aproveitei também para tirar uma dúvida que me

roía a mente nas últimas horas. Com quem ele e seus irmãos conversaram sobre a mina?

Como o Aranha Negra poderia ter vindo a saber que eles a descobriram? Gundren

afirmou só ter conversado com Shanks Hitter e na prefeitura de Phandalin.

Questionei o quanto ele e Sildar confiavam no prefeito Harbin Wester e os dois

pareceram receosos quanto ao salafrário, porém ninguém chegou a nenhuma

conclusão.

Os dois descreveram o caminho que fizeram para chegar até nós e disseram não ter

enfrentado nenhum perigo, e que tinham passado por uma porta e uma larga câmara

bem próximas ainda à entrada da caverna. Decidimos retornar e entrar na tal porta,

a qual pelos nossos cálculos seria do mesmo recinto que a outra porta que achamos no

dia anterior e que ignoramos, o que se provou uma teoria correta. Era um velho

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alojamento com beliches de pedra e novamente corpos e corpos de anões engalfinhados

com orcs provavam que os relatos da batalha que ocorreu ali não eram exagerados. E

aqui mais carniçais se banqueteavam, se contentando em roer ossos secos. Não tardou

para que esses se tornassem novos corpos no chão sob nossas armas.

Aproveitei a calmaria após a luta para analisar melhor a poção que consegui com o

Rei Grol, e pela sua aparência e consistência percebi que era uma poção de vitalidade,

algo que seria muito útil caso necessitasse passar muito tempo na ativa sem descanso.

Então, descemos o corredor em direção à câmara que Hallwinter anunciara e Enna

seguiu, tentando avançar furtivamente. Porém, uma pedra solta a traiu. Uma

nuvem de stirges voou do teto nos atacando, felizmente sem êxito. Com um ataque

fulminante deitamos todas as criaturas aladas no chão. Cortei uma tira de couro de

uma das bestas e entreguei a Enna, que vinha reclamando da necessidade de tal

material para conjurar uma de suas magias.

Agora sem perigos na larga câmara, observamos o ambiente e vimos um corredor

seguindo para sul e outro para leste, de onde um brilho verde era emanado. Desconfiados

de que se tratava de uma nova caveira flamejante, seguimos o corredor ao sul. No fim

do corredor havia uma bifurcação, com um pequeno corredor para cada lado e uma

porta no fim de cada um. Decidimos visitar primeiramente o corredor a oeste. Essa era a

formação de nossa equipe, Uthred e Varis iam na frente, enquanto Hallwinter e

Gundren vinham atrás desses, acompanhados de perto por Tilion e Eodion. Protegendo a

retaguarda estavam Enna, Conan e eu. Assim sendo, foi de longe que vi o que julguei

a mais vil ação ser consumada. No momento em que Uthred abria sorrateiramente a

porta para averiguar o que tinha ali, Hallwinter e Gundren atacaram os dois da

dianteira à traição. Uma punhalada nas costas quase derrubou o guerreiro enquanto

outra lâmina afiada se dirigiu ao clérigo desprotegido de seu escudo. A revolta tomou

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nossos corações, pois havíamos confiado naquelas traíras de dentes afiados, e nos fez

lutar com a ira que cega a razão.

Para completar a cilada, a porta às nossas costas se abriu revelando alguns

Marcarrubras finalmente liderados de perto por seu líder, Cajavidro, também conhecido

como Iarno Albrek. O maldito conjurou uma magia imobilizando Eodion enquanto

seus asseclas atacaram. E então a situação se complicou ainda mais quando da porta

que Uthred abriu, uma pequena horda de esqueletos mortos-vivos atacou. Momentos de

tensão se seguiram. Uthred conseguiu segurar os esqueletos na porta, Cajavidro e seus

Marcarrubras continuaram atacando e Sildar e Gundren se viram cercados por aqueles

que traíram. Porém, mesmo no calor da batalha percebi o absurdo que era aqueles dois

nos terem levado até ali apenas para nos chacinar. Não fazia sentido, e por meio da

minha ligação natural com Conan o fiz farejar aqueles dois e ele correspondeu me

avisando que algo no cheiro dos dois indicava que as coisas não eram o que pareciam. E

assim foi. Quando o primeiro dos dois caiu, sua forma humana deu lugar à gosma

humanoide conhecida como duplo, um monstro metamorfo. Enfim pudemos lutar com

o espírito reestabelecido sabendo que nossos aliados ainda eram nossos aliados. E assim

Enna, novamente em sua forma bestial, esmagou Iarno como o verme que era. Sildar

teria seu traidor e nós nossa recompensa.

Para ter uma prova do cumprimento do nosso acordo, decapitei o bandido e guardei sua

cabeça num saco e o pendurei em meu cinto, para desgosto dos demais presentes. Com os

demais adversários - duplos, Marcarrubras e esqueletos - derrotados, paramos para

limpar as armas e explorar os dois recintos. No recinto oeste, onde estavam os esqueletos,

nada havia além de mais ossos e escombros. Porém, no escritório do mago traidor

encontramos diversas coisas interessantes. Com o próprio Iarno encontramos dois

pergaminhos das magias encantar pessoas e bola de fogo, além do seu famoso cajado de

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vidro. Dada a natureza mágica dos itens, todos ficaram aos cuidados de Tilion. Sobre

uma escrivaninha num canto ao norte encontramos um mapa desenhado à mão da

caverna, provavelmente o mapa de Gundren, além da planta de uma sala ornada com

estátuas e colunas, porém com caracteres totalmente ininteligíveis. E finalmente, sob

um balcão de pedra no centro da sala, havia um cofre trancado que Uthred em sua

brutalidade tentou abrir a golpes de espada, sem obter sucesso, evidentemente. Usei meu

conjunto de chaves mestras e alguma parca habilidade em arrombamento e consegui

acessar o interior do cofre, que continha 600pc, 180pp, 90pe e 60po. E por fim encontramos

a soma de 10po nos bolsos dos demais Marcarrubras.

Descansamos por uma hora para recuperar as forças e nos prepararmos para enfrentar

o que estava por vir.

Voltamos para a câmara anterior e resolvemos que era hora de enfrentar o dono

daquela luz verde que emanava no corredor leste. Para nossa surpresa não era uma

caveira flamejante, e sim uma grande colônia de fungos fosforescentes que iluminava

as paredes com a luz esmeralda. No entanto, entre os inofensivos fungos uma outra

ameaça espreitava. Esporos de gás. Enna e Uthred se arriscaram se embrenhado na sala

e a proximidade com os fungos acionou a armadilha mortal, liberando uma nuvem

tóxica nos dois que voltaram rapidamente. Vendo a impossibilidade de passar por ali

sem sermos atacados, ateei fogo a uma boa quantidade de fungos no canto esquerdo da

sala, o que nos obrigou a retornar para a câmara anterior para esperar a fumaça se

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dissipar, o que só ocorreu após uma hora. Tempo suficiente para um novo e breve ataque

de stirges.

Dissipada a fumaça, entramos em fila indiana, se esgueirando pelas paredes onde os

fungos haviam sido queimados. Porém, mesmo estando muito distantes, os esporos

localizados no outro extremo do recinto expeliram seu venenoso vapor em nossa direção.

Felizmente os danos foram mínimos e conseguimos transpor o obstáculo rapidamente.

Então chegamos a uma extensa abertura na rocha, com vários metros de largura e

profundidade. Abertura grande o suficiente para abrigar duas salas protegidas por

grandes portas duplas, dando-lhes aspectos de recintos importantes. As paredes e o teto

eram cobertos por pequenos cristais que davam uma bela ilusão de um céu estrelado.

Entre as duas portas havia um desnível com uma escada de acesso.

Abrimos a primeira grande porta com dificuldade, pois as fechaduras pareciam

fundidas por uma grande fonte de calor e lá dentro desvendamos a fonte de tal calor

estampada no chão. Uma grande mancha da explosão de uma bola de fogo. Distribuídos

pelo recinto, os móveis ainda se mantinham inteiros e a parede à esquerda era ornada

por uma porta reforçada. Uthred avistou um baú num canto e o abriu atrás de possíveis

tesouros, invocando a ira de um espírito que se materializou como fumaça no centro da

sala. Felizmente o ser se mostrou de bom coração e pudemos nos desculpar pela ação

antes que ele se indignasse. Ao provar que não éramos da corja do Aranha Negra, o

espírito nos viu como seus amigos e abriu sua história conosco. O que hoje era fumaça já

foi um poderoso mago, chamado Mormesk, e estava presente na grande batalha contra

orcs e magos a 200 anos atrás sendo morto naquele momento, agora penando a maldição

de ter o espírito preso ao local em que seu corpo morreu. E essa foi sua versão da histórica

batalha:

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"Um ser de grande poder chefiava os orcs e drows no ano de 1299, O Ano da Garra.

Chamavam-no de Galvorn. Muitos morreram, mas meu amigo, o vice chefe anão

Durgeddin, o Negro conseguiu escapar da Caverna e liderou os exilados

remanescentes de seu clã na busca por um novo lar.

Galvorn, em segredo, usou a Forja das Magias para criar sete joias entre 1300 e 1310.

A forja das magias perdeu praticamente todo seu poder depois disso. Ele usou anões

escravos, inclusive o antigo chefe Udo Dirkschneider para expandir as minas da

Caverna do Eco Ondulante, para criar um local secreto para guardar o que ele

chamava de Pedra da Eternidade, um artefato de poder incomensurável, além de

ser uma joia digna de um tesouro de reis. Essas minas, que se estendem bem além das

minas originais, foram chamadas de Minas da Loucura. Os anões trabalharam até

1312 - O Ano do Grifo. Depois acho que Galvorn matou a todos.

A mina então passou muito tempo novamente abandonada. Quando em 1449 - O

Ano do Convite Divino, magos drows poderosos incrustaram encantos e enigmas nas

Minas da Loucura. Não pude acompanhar, pois emanavam uma aura mágica

densa e profunda e poderiam me identificar. Drows fizeram visitas intermitentes

ao longo de 30 anos, por volta de 1479 - O Ano do Eterno.

No início desse ano a mina foi ocupada por um drow, que chamam de Aranha

Negra. Ele veio com gnolls, bugbears e hobgoblins, além de outros drows. Acredito

que ele não saiba de toda a história das minas, pois só conseguiu enviar uma

pequena equipe a dois dias atrás para as Minas da Loucura. A equipe ainda não

voltou".

E esse foi seu relato, o que fechava algumas contas e abria outras. A informação mais

importante: Aranha Negra estava na Caverna ainda antes de Gundren a encontrar.

Então, qual seria seu interesse nos anões e no seu mapa, a ponto de mover mundos para

o interceptar e o manter prisioneiro por tanto tempo? Posso até imaginar o cenário. Os

bandidos encontram dois anões bisbilhotando sua caverna e os torturam para que

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revelem quem mais sabe do segredo. Os pobres, sob as carícias do ferro quente, entregam

seu irmão e a existência do mapa. Aranha Negra ordena que seus patifes interceptem

o último Rockseeker e manda uma carta para seus parceiros drows que acompanham

Galvorn em seu intento macabro na Tumba dos Mutilados, avisando que está tudo sob

controle. O que não encaixa nesse cenário é o fato de dois daqueles anões ainda estarem

vivos e terem sido mantidos prisioneiros. Teriam suas habilidades de anão usadas para

escavar ainda mais fundo na terra ou alguma diabrura oculta ainda estava

reservada para os dois? Questões que careciam de informações no momento.

Um segundo ponto importante na história de Mormesk era a existência de uma mina

dentro da mina. O mago num esforço incomensurável saiu de sua alcova e nos levou

até o local onde supostamente estaria a entrada secreta da mina, num ponto

justamente entre as duas grandes portas que víamos. Porém nada ali indicava o menor

sinal de que havia algo além de rocha maciça. A resposta era magia, e o mago falou

que viu os bandidos entrarem ali balbuciando palavras arcanas em uma língua de

mundos impensáveis.

Apresentei a estranha planta do salão com colunas e o mago disse não conhecer a

língua ali escrita, mas o desenho retratava uma grande sala localizada no setor

noroeste da mina. Além disso, contamos a ele o evento que presenciamos no Norte,

quando Galvorn tentou sugar a vida do menino Rothrel. Mormesk confessou não fazer

ideia do que esse ritual poderia significar e quais poderiam ser os intentos do poderoso ser,

tampouco se nossa ação o matou ou apenas o expulsou desse plano.

Para encerrar o encontro, Mormesk nos pediu um favor. Eis seu pedido:

"Durgeddin, o Negro liderou os exilados remanescentes de seu clã na busca por um

novo lar. Ele foi até um grande sistema de cavernas sob o Dente de Pedra, um

planalto acidentado e arborizado, com um rochedo íngreme, exposto e sólido no

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centro. Ali, Durgeddin disse que construiria a fortaleza secreta de Khundrukar -

o Salão do Esplendor. Ele deixou um mapa para que eu pudesse segui-lo, caso

conseguisse fugir. Vão até lá e procurem saber o que aconteceu com os anões.

Mandem um grande abraço de Mormesk para Durgeddin”.

Encontramos o mapa do Planalto do Dente de Pedra atrás de livros, na sala adjacente,

indicada por Mormesk. Prometemos cumprir mais essa missão, adicionada por uma

promessa de Varis. Iríamos dar um jeito de acabar com a maldição que prendia seu

espírito naquele local maldito. Como forma de demonstrar boa vontade e

agradecimento o mago nos presenteou com um pergaminho da magia Relâmpago e

então se desmaterializou ante nossos olhos.

Deixamos os aposentos e subimos as escadas para o patamar onde estava a segunda porta

grande no canto leste da caverna. Daqui vimos melhor como terminava a câmara.

Havia dois corredores, um a oeste e o outro seguindo numa escada descendente ao norte.

Além disso, atrás de uma parede, uma porta menor ladeava a grande porta dupla.

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Abrimos essa última, que nos deixou cara a cara com algo saído dos pesadelos de um

louco. Uma bola de carne verde e lamacenta, com um grande olho fitando o além,

fileiras de dentes e quatro tentáculos encimados por olhos menores nos receberam com

um "oi" dito como a essência do mais puro sarcasmo e vilania que fez gelar nossos ossos.

Era um espectador, uma classe mais baixa de observador, conjurado de dimensões além

da realidade. Batemos em retirada para deixar o Elemental da loucura com seus

negócios escusos, porém Uthred num momento de valentia atacou a besta com seu arco

e flecha, que atingiu o infinito atrás do monstro. Varis conjurou uma magia

flamejante, e a criatura mostrou a fragilidade de nossas habilidades, rebatendo a

magia para cima de Uthred como um espelho rebate a luz do sol. Desfalecido no chão, o

valente guerreiro não pôde presenciar a sequência de ataques coordenados que

organizamos para atingir repetidamente a abominação. Em meio a fracassos, que

incluem Eodion desacordada por sua própria investida e a perda de meu precioso fogo

alquímico, o monstro caiu sob uma flecha que desferi me esgueirando pela porta

lateral, que para minha sorte também acessava a sala principal.

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Perigo vencido, pudemos explorar o ambiente. Na salinha lateral encontrei, em um

armário, uma bela armadura polida com um dragão gravado em seu peitoral e um par

de brincos de diamantes. Ambas as peças emanavam magia de sua matéria. Peguei-as

e dei os brincos a Eodion e deixei a armadura para que Uthred ou Varis a reclamassem.

O primeiro ficou com o artefato. Na sala grande havia ainda mais móveis, uma

escrivaninha, duas estantes de livros carcomidos, quadros finamente pintados e no

centro finalmente a forja mágica, flamejando suas eternas chamas verdes. Nas

estantes nada além de papel se esfacelando e atrás delas apenas pó. Na parede ao sul

havia um tríptico com pinturas finas e rebuscadas, muito bem conservadas, mostrando

que os quadros foram levados ali recentemente. Dentro da escrivaninha encontramos

uma palavra escrita em caracteres iguais aos vistos na planta misteriosa, além de um

diagrama que parecia uma forma de decifrar o enigma.

drthoag radago

Estávamos no caminho para encontrar a chave da Mina da Loucura. Por fim

vistoriamos a enigmática forja, que lançava sua luz verde pela sala. Tilion

concentrou-se por alguns momentos e suas forças arcanas o revelaram que aquela era

de fato a Forja Mágica de Phandelver. Embora fosse apenas um arremedo do que já foi,

enfraquecida pela exploração de Galvorn, ainda teria forças suficientes para dar

poderes temporários às nossas armas. Banhamos nossas armas nas chamas mágicas

tornando-as mais poderosas por algumas horas.

Antes de partir para o setor norte da caverna fomos reconhecer uma porta que deixamos

para trás, no corredor por onde o falso Hallwinter nos indicou. Era apenas uma

pequena sala com diversos barris de bebida já carcomidos e vencidos. Ali não havia

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nada que nos interessasse, mas seria um bom ponto protegido para descansarmos dentro

da mina.

Voltamos para a câmara dos cristais celestes e decidimos seguir pela escada que descia

rumo ao norte, de onde cada vez mais alto, retumbava o som das ondas. Não tardou

para que encontrássemos sua fonte. Um gigantesco lago subterrâneo se perdia de vista

dentro da montanha, e de onde estávamos, víamos apenas sua parte às margens de uma

escarpa, onde estávamos no seu cimo. Seguimos beirando o caminho sobre a escarpa e

encontramos dois túneis estreitos à frente. Um estava bloqueado e o outro se estreitava

cada vez mais rumo ao oeste. Decidimos que não estávamos fazendo nada ali e enfim

fomos explorar o setor noroeste, onde deveríamos ter ido desde o começo.

Seguimos pelo corredor onde Rei Grol nos alcançou e novamente o caminho se bifurcava

a leste e oeste. Uma rápida vistoria a leste revelou uma gigantesca câmara dividida

por uma vala profunda, onde um ralo fio de água ainda corria. No outro extremo, dois

buracos jaziam nas rochas, provavelmente tratando-se da desembocadura do túnel

que abandonamos anteriormente. A leste sim, estava nosso objetivo. Guardada por um

pesado portão de ferro, estava a sala ilustrada na planta, com seis colunas segurando

o teto, uma estátua de anão, com grandes pedras brilhantes no lugar das órbitas no

fundo e uma grande águia ladrilhada no piso. E sobre esse piso os peões do jogo. Quatro

aranhas gigantes e um mago drow. Aranha Negra! As aranhas atacaram primeiro,

prendendo três de nós. Uthred, Tilion e eu estávamos presos ao chão, porém não

incapacitados.

Uthred foi o primeiro que se libertou e correu voltando para o corredor por onde viemos.

Eodion foi derrubada por mísseis mágicos lançados pelo odioso drow. Nesse ínterim

bugbears surgiram de uma passagem no canto leste da sala. Ali vi nosso fim se desenhar,

mas dessa vez não tentamos fugir, e sim ficamos para lutar até o fim. Aranha Negra

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enfeitiçou Uthred, tomando o controle de sus ações, fazendo-o atacar Tilion, que

sucumbiu ante sua espada. Repetidamente, ainda presos por teias, Varis e eu lutamos

contra as aranhas e bugbears, enquanto Enna, agora um grande urso marrom, atacou

o Aranha Negra, tirando seu sangue e fazendo-o sofrer até fugir em disparada, pedindo

por sua vida. Por fim apenas ele ainda estava de pé, quando o último bugbear o

abandonou correndo desesperado por uma passagem na rocha.

Na passagem a leste havia uma pequena porta fechada, porém a ignoramos porque o

importante agora seria lidar com Aranha Negra, ou melhor Nezznar, que foi como o

maldito se apresentou. O amordaçamos e o levamos pela masmorra até a sala dos barris,

onde sem nenhum sucesso o interrogamos. O leproso, apesar de sua atitude covarde ao se

ver perto da morte, agora parecia bastante indiferente com o risco de vida que corria, e

apenas debochou de nossas ameaças, repetindo uma macabra conversa de que aquilo

em que estávamos nos metendo era algo muito maior que nossa compreensão. Mencionei

a elfa Hûn Aeglosdûr, mas nada em sua linguagem corporal entregou que ele a

conhecesse. Como por meio de interrogatório não avançamos nada, Eodion mais uma

vez se disfarçou como o inimigo, fazendo-se passar por uma drow que vinha ao resgate

do líder. A amarramos e jogamos junto de Nezznar, porém dessa vez ela não demonstrou

sua usual habilidade em criar histórias e logo entregou a farsa. Cansado daquilo

revistei à força os bolsos do vilão, encontrando um mapa da Mina de Phandelver e um

glossário que era justamente o que faltava para que conseguíssemos decifrar a palavra

mágica. Varis se preparava para lançar uma magia que obrigaria Aranha Negra a

apenas falar a verdade - o que poderia nos oferecer informações valiosas sobre os perigos

que nos aguardavam nas Minas da Loucura - quando Eodion, não vendo mais

utilidade no drow, o executou com uma adaga em seu peito, deixando o clérigo

descontrolado de raiva.

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Uma ruidosa discussão se iniciou, com trocas de acusações e julgamentos sobre decisões

erradas de ambas as partes. Uthred apenas olhava, Tilion e Enna se retiraram para

fumar suas ervas no corredor do lado de fora e eu, não vendo como ajudar naquela briga,

me pus a traduzir os documentos que tínhamos em mãos. Na planta da sala do anão

estava escrito “Pedra da Eternidade”, mas o mais importante foi a tradução da

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palavra-chave, “Dagor Dagorath”, se é que isso era uma palavra. Ao fim do trabalho

os dois elfos ainda brigavam e aos poucos a discussão esfriou quando foi chegada a hora

de nos alimentarmos e descansar. Me prometi que da próxima vez interferiria no

assunto, pois não poderíamos ser uma companhia unida se tais atos se repetissem

constantemente.

23 de Tarsakh de 1489

Varis teve novamente uma noite mal dormida e se levantou suando frio. Nos falou que

tem tido pesadelos apocalípticos nas últimas semanas. Nesta noite sonhou com imagens

do mundo sendo destruído por fumaça fria e sufocante, tempestades de raios, ondas de

ácido e incêndios terríveis. Imagens de pessoas queridas para o clérigo, como Arwen, seu

mestre Cloud Strife e outros em sofrimento atormentava as noites do seguidor de

Bahamut. O pesadelo novamente terminara com dez olhos malignos que o seguiam na

escuridão. Ficamos todos apreensivos se eram visões do futuro, porém, nada como um

novo dia para acalmar os ânimos e recuperar as energias.

Agora, crentes de que havíamos descoberto a palavra mágica para abrirmos os portais

das Minas da Loucura, este seria nosso novo foco. Porém, antes de nos embrenharmos

mais fundo ainda nessa nova arapuca, decidimos fazer uma última vistoria no salão

onde lutamos com Nezznar e sua salinha adjacente.

Dois bugbears saqueavam os corpos e equipamentos dos parceiros quando chegamos.

Matamos os dois rapidamente e recolhemos os pertences que levavam, entre eles o cajado

mágico do Aranha Negra, que ficou com Tilion. Além disso havia uma poção de cura,

uma chave, 190pe, 130po, 15pp, 1 caneca de eléctron e 9 pedras preciosas pequenas (10po).

A ganância nesse momento me falou mais alto que a prudência e trepei na estátua do

anão e com a ajuda de um píton e martelo, me pus a arrancar as joias de seus olhos.

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Quando as pedras foram retiradas do local, a óbvia armadilha foi acionada e todo o

teto veio abaixo, injuriando todos. Felizmente os danos não foram permanentes e agora

tínhamos duas pedras preciosas de alto valor para financiar ainda mais aventuras.

A porta adjacente estava trancada à chave, e usamos aquela capturada com os

bugbears para abri-la. Nada de interessante foi encontrado ali e apenas pudemos

deduzir que aquele era o cárcere onde mantiveram Nundro nesses tempos. E foi para

salvá-lo que nos apressamos em direção ao local onde Mormesk nos indicou a entrada

secreta. Parados em frente à parede lisa, conjurei as palavras “Dagor Dagorath”,

fazendo a rocha se iluminar em belos adornos refinados que emanavam uma luz

vermelha sepulcral. E ali à nossa frente tínhamos um prisioneiro para resgatar, uma

pedra mágica para recuperar e sabe-se lá quantos inimigos mortais para enfrentar.

22-04-2017 (Minas da Loucura – 1º Dia)

Antes de entrar nas Minas da Loucura voltamos para apanhar um pouco de musgo

fosforescente para que Varis pudesse executar seu truque luminoso, além de banhar

novamente nossas armas na Forja da Magia.

Era em torno de 10h da manhã quando finalmente entramos no portal secreto

iluminado pela krimsonita. Um longo corredor se estendia à nossa frente e exatamente

na sua metade escombros cobriam o chão. Investigando as pegadas na poeira percebi que

oito pessoas haviam passado por ali. Com muita cautela revistamos os escombros e sob

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eles encontramos dois corpos de drows, ainda conservados, mostrando que o evento foi

recente. Encontramos 20po em suas bolsas. Seguimos ainda bastante cautelosos e

percebi inscrições gravadas no chão. Baixei para ler e lá estava escrito nos mesmos

caracteres guardados por Nezznar a palavra Torog (torog), além de outros

caracteres ainda mais estranhos que os primeiros (TOROG). Torog, o medonho deus

cultuado pelos drows na Tumba dos Mutilados. Falei o nome em voz alta e a gravura

se acendeu apagando em seguida. Aquele provavelmente era o gatilho arcano para

acionar a armadilha que derrubara aqueles escombros. No fim do corredor estava

novamente o símbolo do deus negro.

O corredor se dividia em três caminhos. O caminho em frente terminava numa descida

em espiral à direita. O caminho à esquerda igualmente apresentava uma descida em

espiral, além de uma pequena câmara em frente. No entanto, quatro pegadas, três

esguias e uma mais arredondada e pequena, se encaminhavam pelo caminho da

direita. De pronto desconfiamos, era Nundro sendo escoltado por três drows e

provavelmente quatro deles ficaram sob os escombros. Então foi por esse terceiro caminho

que seguimos, onde no fim do corredor uma nova espiral descendente seguia para a

direita - de onde um medonho cheiro de troll emanava - e à esquerda um acesso levava

à uma sala de onde os sons de cacarejos e gorgulhos se faziam ecoar. Desconfiados que

eram cocatrizes, monstros cuja bicada podia transformar um homem em pedra, nos

preparamos para um ataque fulminante. Olhando de soslaio pela entrada

encontramos o cenário da próxima batalha. Os três drows já transformados em pedra

olhavam inanimadamente quatro cocatrizes atacarem severamente um carrinho de

mineiro tombado de ponta cabeça. Não havia dúvida que sob a peça, estaria Nundro

protegendo-se dos medonhos galináceos.

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Eodion pôs dois deles para dormir com sua magia, deixando apenas metade dos problemas

para enfrentarmos. Lancei meu frasco de ácido, mas não longe o suficiente para

atingir os monstros. O resto da luta se deu de forma tradicional, e as criaturas foram

massacradas. Amarrei rapidamente um dos cocatrizes adormecidos para que melhor

pudéssemos atacá-lo sem correr o risco de libertá-lo, o que terminou não sendo uma boa

ideia, uma vez que Uthred trespassou o monstro com sua espada, libertando-o e cortando

minha corda em duas. O segundo bicho adormecido foi morto esmagado quando empurrei

umas das estátuas de drow em cima dele. Quebramos também as outras duas estátuas

para evitar futuros problemas.

Sob o carrinho realmente estava Nundro, assombrado por três dias pelos cocatrizes. Nos

apresentamos e o anão nos agradeceu por salvá-lo. Perguntei a ele como havia se dado

sua captura e sua desventura. Como eu havia imaginado, os anões foram surpreendidos

pelos gnolls, no dia 25 de Ches, e enquanto seu irmão foi morto, Nundro foi entregue aos

drows, que o torturaram, fazendo-o entregar seu irmão Gundren, além de buscarem

informações que o próprio não conhecia, a exemplo da Pedra da Eternidade.

Questionamos se o anão gostaria de retornar para Phandalin ou se nos acompanharia

masmorra adentro. O bravo anão revelou que seu único desejo agora era vingar o irmão

morto e dar o troco por seu tormentoso sequestro, e assim enfrentaria os perigos que nos

aguardava.

Num canto da sala havia um pequeno elevador rústico levando a um patamar

inferior. Sobre o elevador, em idioma anão, estava escrito Udo (UDO). Nundro nos

elucidou que era tradição entre os anões que em suas minas, alguns acessos fossem

nomeados em homenagem a seus mestres e líderes. Ignoramos o elevador e seguimos por

um corredor no canto contrário da sala que terminava numa curva à esquerda. Ao

dobrar essa curva a parede tomou vida, nos atacando com uma enorme boca cheia de

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dentes e saliva. Não era de fato uma parede, mas um maldito mímico que ocupara um

vão se camuflando para atacar passantes incautos. Esse mímico, porém, escolheu os

passantes errados e não viveu muito para se arrepender. Após a morte da criatura um

novo corredor se abriu à frente, enquanto o corredor original se estendia ainda alguns

metros, antes de descer numa nova espiral. Seguimos pela nova abertura.

Esta seguia um pequeno corredor que virava à esquerda, dando vez a um longo corredor

com uma passagem na parede à direita na metade da passagem e uma nova descida

espiralada no seu fim. Aqui, no entanto, o corredor espiral era guardado por uma

grande esfera, lisa como vidro, feita de obsidiana, que tinha grande chance de ser uma

armadilha esmagadora e assim sendo, entramos na passagem no meio do corredor.

Havia um novo corredor com esquina à direita seguida de outra à esquerda, onde seguia

uma passagem ladeada por dois novos fossos de elevador, o primeiro intitulado

Durgeddin (DURGEDDIN) e o segundo Mormesk (MORMESK), esse último estando com as

cordas partidas e a base desabada. Novamente ignoramos e seguimos o corredor que

novamente virava à esquerda e depois direita, revelando uma escada espiral

descendente guardada por uma amigável estátua de um anão estendendo a mão para

ser cumprimentado. Apertei a sua mão e de pronto uma voz ecoou de dentro da estátua

proferindo "a gárgula sabe as palavras secretas que fazem abrir a porta". Vendo que o

ato trazia benefícios, todos repetiram o ritual. Tilion recebeu um anel mágico, Uthred

cinco gemas no valor de 50po, Enna recebeu um novo conselho, "não enfrente o golem

sem o martelo ou a picareta, ou melhor, não enfrentem o golem" e Varis e Eodion

obtiveram a mesma resposta que eu. Então descemos a escada em espiral, nos dirigindo

pela primeira vez para o patamar inferior da masmorra.

Ao fim da escadaria havia uma porta. Abrimos e demos de cara com um grande salão

oval, num patamar abaixo de onde estávamos, ladeado por uma pequena escadaria

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onde estávamos e outra no lado oposto, com uma outra porta. O chão era ladrilhado como

uma catedral e no centro daquilo tudo, uma enorme gema pousava sobre um pequeno

altar. Tocando a gema estavam os restos mortais de algum aventureiro ganancioso.

Seus ossos jaziam no chão, com a mão esquálida ainda segurando o fruto de sua

ganância. Descemos os degraus e investigamos a cena. O esqueleto parecia estar ali a

muito tempo, e aparentemente também apertara a mão da estátua e tivera a mesma

sorte de Uthred, pois em sua algibeira havia cinco gemas no valor de 50po. Além disso, o

sujeito usava uma bela armadura dourada, com propriedades mágicas, a qual Varis

não demorou em se apossar, deixando sua antiga armadura para trás. No altar

encontramos novamente o símbolo das duas espadas negras cruzadas, o mesmo que

vimos na Tumba dos Mutilados, porém aqui havia a escritura com o nome do ser. Escrito

tanto na língua que eu próprio batizei de Nezznar (arioch), como num ainda

mais bizarro idioma (ARIOCH), líamos Arioch. Quando nos preparávamos para

seguir, Eodion ignorou o claro aviso de perigo tocando a gema, gerando um efeito de anti-

gravidade, fazendo com que caíssemos para o teto, onde espetos nos esperavam, furando

carne e pele. Pouco tempo depois, o efeito acabou e novamente despencamos para o chão

nos ferindo ainda mais. Aos poucos começamos a entender dolorosamente o porquê de as

minas levarem o nome que levavam.

Machucados e humilhados seguimos pela porta no canto oposto que levava a uma nova

espiral, descendo ainda mais na terra. Ao fim da espiral havia um corredor que

entrava a direita e ali encontramos o fundo dos fossos dos elevadores Durgeddin e

Mormesk. Aguardando nossa passagem dois insetos, grandes como cães, espreitavam. Um

deles atacou Uthred transformando sua imponente espada em ferrugem num piscar de

olhos, revelando que aqueles eram monstros da ferrugem. Por sorte as pragas morreram

antes que pudessem causar novos estragos. Numa entrada nas paredes do corredor uma

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velha mochila desgastada guardava 3 poções de cura, 1 poção

de invisibilidade e 1 poção de escalar. Numa passagem à

esquerda, um longo corredor levava a um portal

amedrontador. Um arco com um cavaleiro prostrado

entalhado na rocha era ornado pelo símbolo de algum deus

maligno, que ainda não tínhamos visto até então, tampouco ninguém o conhecia. Um

olho maligno, sem pálpebras, com três dentes pendendo de suas bordas. Tilion empurrou

a porta que se abriu sem dificuldade, porém Varis e Uthred ao passarem pelo arco foram

atingidos por uma grande descarga elétrica. Lembrando da imagem esculpida me

ajoelhei e prestei uma reverência como a figura fazia, causando a irritação de Varis,

o fiel adorador de Bahamut, que erroneamente em seu fanatismo julgou que eu

prestava homenagem a algum deus das trevas. Infelizmente a atitude não me livrou

de um choque, pois após me ajoelhar, cruzei o arco em pé. Foi Eodion quem, seguindo a

ideia, cruzou todo o caminho ajoelhada, e mostrou-nos que essa era a forma de transpor

a armadilha profana.

Após o portal uma nova descida em espiral levou a um pequeno corredor, com um fosso

no caminho, coberta por uma ripa de madeira. O fosso tinha a inscrição de outro líder

dos anões, Bon (BON), que segundo Nundro, foi o fundador da mina de Phandelver. Ao

passar pelo fosso ouvimos alguém gritar lá em baixo, pedindo por socorro e repetindo que

encontrou o ouro. A coisa toda cheirava à cilada de algum espírito aprisionado e

simplesmente o ignoramos. Seguimos o corredor e, mais uma vez, a mesma estrutura de

corredor espiralado descia ainda mais no interior da terra. Aqui antes do corredor dar

uma volta completa, havia na parede à esquerda, uma porta com um buraco oco em

seu meio, ornada com dentes entalhados, como uma bocarra escancarada e com os dizeres

"veja por mim, veja por ti" (VEJA POR MIM VEJA POR TI). Após tentativas de abri-

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la, de decifrar um possível enigma e de uma longa discussão, onde alguns queriam

seguir enquanto outros insistiam em estudar a porta, enfiei a cabeça pelo buraco,

fazendo com que minha carne e sangue ficassem translúcidos, me dando uma

aparência esquelética, causando o espanto dos demais. Eodion achando interessante o

efeito achou por bem botar o dedo na abertura, tendo também o mesmo efeito em seu

membro. Derrotados pela insistência dos demais, seguimos o corredor deixando para trás

o estranho objeto e eu segui fascinado e aterrorizado pela ideia de, usando um espelho,

poder ver minha própria caveira exposta sem, no entanto, estar morto ainda. Para

abrandar o mal-estar dos demais, enrolei a cabeça com um pano.

No fim da espiral havia um novo portal, esse ainda mais ameaçador. Uma grande

caveira sobre um sol negro, o símbolo do deus Cyric, enfeitava a porta. Varis fez a

descrição desse deus maligno e o que foi revelado não era nada animador:

“O culto a Cyric deriva diretamente da história de sua ascensão à divindade. Cyric

era um mortal durante os Tempos das Perturbações e foi a chave para a resolução

desse período caótico. No entanto, ele também era um traidor egoísta e um assassino.

Quando se tornou um deus, Cyric continuou a tecer várias tramas de engano e

assassinato – o mais famoso deles, segundo a lenda, é que Cyric assassinou Mystra,

assim causando a Spellplague. Aqueles que não adoram Cyric veem-no como um

deus de loucura, do conflito e do engano, embora seus sacerdotes considerem tais

alegações como sendo heresias. Seu Príncipe das Mentiras não é um louco

deturpado, mas um deus da majestade escura que prova que, no final, todas as

relações humanas se corrompem e murcham.

A igreja de Cyric trabalha abertamente em Amn, onde os cidadãos defendem os

princípios da ambição e da autossuficiência. Aqueles que tomam Cyric como seu

patrono tendem a ser sádicos, vigaristas e coisas piores. Outras pessoas rezam para

Cyric quando querem fazer o mal, mas não querem que os outros descubram”.

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Sentindo que ali se encontrava todo o mal da terra retornamos e fomos descansar

trancados na sala de piso ladrilhado. No caminho passamos ainda pelo portal dos

choques, todos ajoelhados, afora Varis, que manteve sua fanática visão do mundo,

preferindo ser atingido por raios a fazer um simples gesto de autopreservação. Um

autêntico mártir.

Nosso descanso foi interrompido no meio da noite pela visita de um perigoso troll, que

demorou, mas tombou ante nossas armas. E enfim conseguimos descansar.

24 de Tarsakh de 1489

Acordamos e fizemos uma rápida refeição, porém necessitávamos de água e Varis por

meio de magia providenciou alguns litros armazenando dentro de um dos carrinhos de

mineiro encontrados na sala onde encontramos Nundro. Assim pudemos matar a sede e

encher nossos cantis.

Descemos pela espiral onde Conan havia sentido cheiro de troll, e após dar voltas e

curvas dentro de corredores encontramos apenas dejetos e sobras de comida do que

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provavelmente era o covil do troll que nos atacou, e por fim desembocamos no corredor

onde tínhamos enfrentado o mímico.

Fomos então até o corredor onde a ameaçadora esfera de obsidiana jazia. Investigando

o piso, vimos que de fato, aquela bola negra desceria sobre nós caso descêssemos por ali.

Eodion conjurou um feitiço, que fez a esfera diminuir de tamanho consideravelmente,

tornando possível que nos esgueirássemos na parede caso ela se lançasse sobre nós. E assim

arriscamos nossas vidas naquele corredor mortal. Como imaginamos, não tardou para

que alguma armadilha arcana fosse disparada e a pesada esfera se precipitasse ladeira

abaixo. Apenas Conan fugiu a tempo, todos os outros foram alcançados pelo monólito

assassino. Alguns conseguiram se esquivar, outros tiveram graves ferimentos, porém

todos se mantiveram vivos no fim das contas. Ao fim do corredor descendente a esfera

atingiu uma área onde uma magia a teleportou de volta para seu canto original.

Nessa área estava gravado o símbolo de Set (set) assim como seu escamoso nome,

mais uma vez em dois caracteres distintos (SET), no entanto aqui escrito com

outra grafia, apenas um S e sem H. Seria um outro deus serpente ou apenas uma nova

interpretação do mesmo mal?

Seguimos em frente pelo corredor e em dado momento Tilion sentiu uma forte aura

arcana vinda de trás de uma parede, que parecia ter sido fechada às pressas.

Derrubamos sob marteladas aquela passagem fragilizada, dando acesso a uma

caverna escura, em formato de crânio, com um teto arredondado de 6 metros de altura.

Levantando-se do chão no meio da sala havia, de forma isolada, um arco retangular

de pedra preta entortada, com 3 metros de altura, cheia de uma névoa púrpura

brilhante e partículas como flocos de neve. Aos poucos a imagem foi tomando a forma

de uma cidade e então conseguimos entender que na verdade tratava-se de um portal.

E havia, ladeando esse primeiro, outros três, cada um apontando para uma direção

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diferente e apresentando uma imagem distinta. Segue a descrição do que víamos em

cada portal interdimensional.

Portal Oeste -
Havia uma cidade de muitas torres, ocupando um vasto recife acima da bifurcação

norte de um rio. A escarpa sobre a qual a cidade foi construída era uma impressionante

e adequada defesa, mas o espaço era escasso no plano, fazendo com que a cidade parecesse

ter mais torres do que qualquer outra cidade de seu tamanho. Era uma cidade apertada

com muitas torres altas, unidas por pontes e com varandas suspensas, de modo que a

maioria das ruas estreitas e sinuosas permanecesse permanentemente nas sombras.

Estábulos, pátios de estoques, prados de caravanas, armazéns e similares se

espalhavam pela área em volta do cume. Tilion se lembrou de ter passado por essa cidade

a não muito tempo atrás. Reconheceu-a como a cidade de Iriaebor, localizada na

bifurcação do Rio Chiontar, a mais de 1500 km dali, a sudeste.

Portal Norte -
Vimos através do portal, a luz da manhã banhar altas torres, fazendo-as cintilar.

Cada torre era de uma tonalidade diferente. Existiam mil cores suaves: rosados intensos,

amarelos cor de pólen, púrpuras e verdes pálidos, malvas, marrons e alaranjados, vagos

azuis, brancos e dourados. Tudo parecia belo à primeira luz do dia. Um grande porto era

protegido por um labirinto de canais. Uma torre se destacava sobre o porto e sobre o imenso

monte que adentrava até o centro da laguna. Era uma torre verde mar, baixa e

robusta em comparação com a maioria das torres, mas ainda assim resultava em uma

edificação formosa e destacada, com amplas janelas de onde se podia avistar todo o

conjunto de instalações portuárias.

Portal Sul -
Aqui restos sombrios de uma outra e esquecida era: enormes pilares quebrados, lançando

seus pináculos entalhados em direção ao céu; longas linhas irregulares de paredes

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caindo aos pedaços; blocos de pedra ciclópicos tombados; ídolos despedaçados, cujas feições

horrendas foram atenuadas pela corrosão dos ventos e tempestades de areia. De

horizonte a horizonte, nenhum sinal de vida; apenas a vastidão assustadora do deserto,

cortada pela tortuosa linha de um rio seco há muito tempo. No meio da imensidão, as

garras pontiagudas das ruínas, as colunas erguidas como mastros rompidos de navios

naufragados. E tudo isso dominado pelo enorme domo de marfim. A base do domo era um

pedestal de mármore gigantesco, erguendo-se do que um dia havia sido um terraço

projetado sobre as margens do antigo rio. Degraus largos conduziam a uma grande porta

de bronze no domo, que repousava sobre sua base como a metade de algum ovo titânico.

O domo em si de puro marfim, brilhante como se mãos desconhecidas o mantivessem

sempre polido. Também reluzia a ponta dourada espiralada do pináculo e a inscrição

que se estendia pela curvatura do domo em metros de hieróglifos dourados indecifráveis,

mas visualmente semelhantes aos encontrados juntos ao símbolo de Set.

Portal Leste -
Uma grande planície, espalhando-se numa escuridão disforme que some de vista.

O vento soprava do Oeste, e as grandes nuvens subiam alto, flutuando para o Leste;

mesmo assim apenas uma luz cinzenta chegava aos campos desolados. Ali a fumaça

subia do chão e espreitava nas concavidades; vapores escapavam das fissuras da terra.

Ainda distante, pelo menos a quarenta milhas, víamos montanhas, com seus pés

ancorados em ruínas de cinza, seus enormes cones subindo a alturas impressionantes,

onde seus topos estavam envoltos em densas nuvens. As montanhas pareciam dormir

num sono sem fogo, ameaçadoras e perigosas como feras adormecidas. Atrás delas

pairavam uma sombra vasta, ominosa como um céu de trovoada, sobre um longo

espinhaço montanhoso que se projetava do Norte. Tudo parecia arruinado e morto, um

deserto queimado e sufocado.

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E era isso. Afora o primeiro portal, os demais não pareciam sequer pertencer à nossa

realidade e ninguém ali foi capaz de reconhecer que lugares eram aqueles. Tilion

alertou que aqueles eram portais que poderiam nos levar para locais muito distantes e

pior ainda, planos diferentes do cosmo, numa viagem só de ida e com certo assombro

deixamos para trás aquela estranha experiência.

Saímos da gruta e seguimos o pequeno corredor, virando à esquerda onde um mais longo

corredor se estendia, com dois fossos no meio do caminho, ambos transpassados por ripas de

madeira a serem usadas como ponte. Varis amarrou uma corda em torno do torso e subiu

no primeiro arremedo de ponte, que não aguentou seu peso fazendo-o despencar

ruidosamente nos cerca de 9 metros de fosso. Uthred, que segurava a corda, não conseguiu

suportar todo o peso e teve suas mãos levemente queimadas como resultado. Eodion por

meio de seu feitiço de mãos mágicas lançou outra corda amarrando o torso do clérigo e

pusemo-nos a içá-lo com pressa uma vez que ele gritou algo sobre um horror gelatinoso

estar tentando atacá-lo. Quando estávamos prestes a salvá-lo, vimos em seu encalço

subindo pelas paredes do fosso um cubo gelatinoso, o horror ao qual ele se referia, um

monstro que engolfa e corrói suas vítimas. Tentando escalar pela corda ao mesmo tempo

que a puxávamos, o clérigo, sem muitas habilidades acrobáticas e pesado por sua

armadura e escudo, despencou, afundando na gosma como um inseto no âmbar. Aquele

seria o fim do nosso companheiro, não fosse um forte puxão na corda que demos,

libertando-o da gelatina e içando-o, já inerte, até o topo do fosso. Infelizmente o

monstro veio atrás dele, tentando atacar a todos nós, e

ao ser duramente atacado, virou-se covardemente

contra Conan, que ficara isolado no corredor atrás da

criatura. Com muita agilidade, o meu fiel felino

desceu o fosso, se machucando um pouco, mas evitando

o ataque corrosivo. Enfim derrotamos o demônio

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gosmento e resgatamos Conan de sua armadilha. Enna curou Varis que levantou

gosmento, mas vivo.

Enfim consegui pular sobre o primeiro fosso e usar a madeira do segundo para fazer com

que todos ultrapassassem o obstáculo e se aproximassem da porta que se apresentava no

fim do fatídico corredor. Ao ser aberta, nos deparamos com a dantesca cena. Uma enorme

câmara apinhada de esqueletos mortos-vivos do que já foram anões, com um deles

parecendo ser o líder, prostrado sobre um barril de madeira, gritando palavras de ordem.

Tentei enganá-lo, afirmando sermos amigos de Udo Dirkschneider, e que estávamos ali

para ajudá-los, mas a resposta foi que aquele era o próprio Udo, que com certeza já

sucumbira à loucura desde os tempos primordiais da caverna. O louco segurava em sua

mão uma picareta e na outra um pergaminho e gritava coisas como "bolas na parede"

e outras sandices, enquanto os outros esqueletos atacavam. A longa batalha se

encerrou com os anões derrotados, mas tivemos a primeira baixa na nossa equipe. Conan

jazia sob meus pés, sangrando e sem vida, dando seu último suspiro em meus braços.

38
23-04-2017 (Minas da Loucura - 2º Dia)

No fundo da caverna havia um poço onde uma lúgubre névoa pairava, cobrindo o chão

e impedindo de saber o quão fundo era aquela névoa. Na parede, distante algo em torno

de 3 metros da névoa, havia um buraco circular como um túnel escavado. Aquela

névoa seria o túmulo de Conan, pois não deixaria seu corpo ali ao relento para ser

comido por mortos-vivos. Fui até a margem do poço sob os olhares inquisidores de Varis,

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que talvez quisesse arrastar o corpo consigo pelos corredores da mina. Os laços que me

unem ao esplendoroso animal ainda estão acesos na minha mente e sei que nos

encontraremos novamente e que os deuses da natureza o trarão de volta. Soltei o corpo

inanimado do meu companheiro, que foi engolfado pela névoa. Consternado pela

despedida, não percebi que a névoa foi levantada pelo movimento e rapidamente

aquilo atingiu meus olhos, me causando imensa dor. De repente, eu estava cego e em

desespero tentei limpar meus olhos com água, o que só causou mais desgraça, pois a

névoa transformou-se num líquido corrosivo, que queimou meus olhos. Era mais uma

desgraça na minha jornada amaldiçoada. Felizmente, essa teve conserto a tempo

quando Enna curou as chagas com uma magia da natureza.

Então nos pusemos a investigar a caverna. Na mão do esqueleto de Udo, estava uma

picareta com ponta de diamante, que poderia ser a picareta anunciada pela estátua

do anão. Na outra mão um pergaminho escrito em idioma anão, com os dizeres

“Angauthur – Espectro de Ferro e Fogo” (ANGAUTHUR ESPECTRO DE FERRO E FOGO). No


chão, encravado próximo ao poço, estava a mão de Kiaransalee, acompanhada de seu

nome escrito em dois idiomas distintos. Como os outros, aqui estava o idioma de Nezznar

(Kiaransalee) e outro diferente de todos (KIARANSALEE). Vimos que a

porta por onde viemos era ladeada por outras duas portas equidistantes e de mesmo

tamanho. E na parede adjacente ao sul, havia um corredor aberto, que foi por onde

seguimos.

Esse corredor subia numa espiral até uma câmara onde havia uma pequena

plataforma. No seu cume jazia uma pequena quantidade de enormes ovos de pássaros

quebrados, como e fosse um ninho abandonado. Numa das paredes havia um túnel

circular com a inscrição anã “escorrego” (Escorrego), e provavelmente levaria até a

abertura no poço das névoas. Definitivamente ninguém entraria ali. Havia dois

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corredores espirais ascendentes, que eram justamente aqueles dois que vimos no primeiro

corredor da entrada da mina, o que significava que finalmente tínhamos varrido toda

aquela área da masmorra. Havia ainda uma pequena câmara, também com um

“escorrego” e algumas gaiolas quebradas, provavelmente onde mantinham os

cocatrizes enjaulados. Então voltamos para a caverna dos esqueletos para averiguar

aquelas portas que deixamos para trás.

Além da porta por onde viemos, havia outras duas. A primeira estava trancada com

espigões de ferro fincados no chão. Uthred retirou-os e abriu a porta, que estranhamente

levavam para um minúsculo cômodo, totalmente vazio. A presença dos espigões

indicava que algo deveria ser mantido preso ali e decidimos não descobrir o que era.

Fechamos a porta, repusemos os espigões e partimos para a outra porta. Nessa, um longo

corredor se estendia por vários metros até uma porta na outra extremidade. No meio do

caminho um elfo e um anão jaziam mortos. Tilion sentiu que ali havia algum tipo

de magia de transmutação, que poderia funcionar como uma armadilha. Seguimos

cautelosamente, e chegando perto dos corpos, vimos que o anão estava crivado de

flechas, enquanto o elfo tinha uma única seta enfiada na cabeça de baixo para cima,

como se tivesse se suicidado. Na parede, desenhado com sangue estava um símbolo de sua

ordem, que segundo Tilion era um dos símbolos dos harpistas, uma organização semi-

secreta milenar dedicada a promover o bem, a preservar a história, incluindo a arte e a

música antiga e a manter um equilíbrio entre a civilização e a natureza.

Funcionam como uma rede dispersa de usuários de magia e

espiões que defendem a igualdade e se opõem ao abuso de poder.

Segundo o mago, eles consideram que o império élfico de Myth

Drannor, antes da queda, foi o pináculo da história

civilizada e se esforçam para recriar o mundo nessa imagem.

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Encravado no chão vimos o símbolo da deusa Lolth, e seguindo o mesmo padrão dos outros

entalhes, seu nome escrito no idioma de Nezznar (lolth) e um segundo idioma

misterioso (LOLTH). Aquele provavelmente era um novo gatilho arcano para

acionar alguma armadilha demoníaca, mas antes que pudéssemos investigar, Uthred

transpassou-a, fazendo com que a porta às nossas costas se fechasse, deixando Enna do

lado de fora e o resto de nós presos naquele local maligno. Encontramos na mão do elfo

uma carta que dizia:

“Que magia vil! Preso nesse corredor escuro e estreito, sem meios de escapar. Helmut

comeu a última das minhas rações, e agora me olha com olhos famintos. Acho que

planeja me matar e me comer. Infelizmente, eu nunca poderia estar tão

desesperado. Comer um anão? Repugnante. Prefiro atirar na minha cabeça”.

E foi isso que ele fez, aparentemente. Varis pegou um manto que o elfo possuía, com ares

de artigo mágico e deu a Eodion. Agachei-me perto de seu corpo, e reconhecendo um

colega patrulheiro encomendei seu caminho a Mielikki e me apossei de seis de suas

flechas restantes, pois teriam mais uso contra o mal agora na minha mão.

Tínhamos agora o problema do maldito corredor. Quando nos movíamos em direção a

qualquer das duas portas, o corredor se esticava, como num pesadelo, e a porta ficava

cada vez mais distante de nós. Tilion concentrou-se naquela magia maligna e

entendeu que aquele era um truque ligado à forma como enxergávamos o mundo. Varis

teve a genial ideia de seguir andando para trás, e em poucos passos suas costas

esbarraram na porta oposta, e assim descobrimos o jeito de deixar aquela cilada.

Chamamos Enna e ela nos acompanhou, todos andando de costas, como uma trupe de

loucos. Cada vez mais aquele lugar fazia jus ao seu nome.

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Abandonando a porta, seguimos um novo corredor estreito que terminava com uma

curva brusca à direita, e justo no local do retorno encontramos a gárgula vigiando a

passagem. Eodion invocou-a e seus olhos acenderam com uma maligna luz vermelha e

proferiu as palavras:

“Depois de matar Mystra, a deusa da magia, causando a

Spellplague, a mais de 100 anos atrás, Cyric foi preso por

Lathander, Sune e Tyr no Trono Supremo para aguardar sua

condenação por Ao. No dia do julgamento, Ao, sabendo que

Cyric era o príncipe das mentiras, disse a ele: ‘Você deve fazer

uma afirmação. Se ela for verdadeira, eu te condenarei à prisão eterna. Se ela for

falsa, te despedaçarei’. Depois que Cyric fez a sua afirmação, Ao decidiu libertá-lo e o

deixou ir embora. O que Cyric disse?”

E a resposta desse enigma seria a chave para abrir o portal de Cyric no patamar abaixo.

Seguimos o corredor abaixo e numa outra curva, emoldurado atrás de um vidro estava

um martelo, o Massakrador de Golens, como indicava a gravura em idioma anão

escrita na rocha (MASSAKRADOR DE GOLENS). Varis quebrou o vidro sem analisar se


havia algum tipo de armadilha, e todos próximos a ele levaram uma pesada descarga

elétrica, incluindo minha pessoa. Ao menos agora estávamos de posse dos artefatos

indicados pela estátua do anão, que poderiam atingir um golem. Seguimos o corredor e

nos deparamos com a porta que translucidou minha carne, agora pelo lado oposto do que

tínhamos visto. Hora de voltar.

Antes de finalmente enfrentarmos o perigo por trás da porta de Cyric, decidimos explorar

o elevador Udo. Então Enna e Tilion subiram na base de madeira e nós os descemos

segurando as grossas cordas de cânhamo. O que ocorreu lá embaixo não sei aos detalhes,

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mas segundo os relatos posteriores havia um corpo coberto de fungos segurando uma bela

espada curta. Tilion com mãos mágicas puxou a espada para si, mas a distância não

era o suficiente para livrá-lo do gás que os fungos expeliram ao serem perturbados,

levando o mago ao chão. Enna gritou que içássemos o elevador e foi o que fizemos. Varis

curou Tilion do envenenamento e Enna guardou a espada. E então era chegada a hora

de entrar na macabra porta de Cyric, o Deus da Mentira!

Novamente em frente ao portão do mal, discutimos por alguns minutos se estávamos

prontos para o que enfrentaríamos ali. Combinamos que seguiríamos o conselho da

estátua e evitaríamos até o fim um confronto com um golem, se de fato ele existisse. E

então concordamos que estávamos prontos. Não podíamos estar mais errados.

Após todo o tempo em que a gárgula jogou seu enigma, fiquei remoendo-o em minha

mente. E por fim cheguei à conclusão que sabia a resposta. Se Ao disse a Cyric que

fizesse uma afirmação, que se fosse verdade, seria preso e se fosse mentira, seria

despedaçado, e se quando proferiu sua afirmação, Ao foi obrigado a libertá-lo, quer

dizer que Cyric afirmou algo que nem poderia ser verdade nem mentira. Cyric afirmou

que Ao o despedaçaria. Se isso fosse mentira, Ao teria que despedaçá-lo, o que tornaria

a afirmação verdadeira, criando um círculo vicioso que enganou o próprio Ao, que para

não ser injusto se viu obrigado a libertar Cyric. E assim foi, proclamei “Despedaçar-

me-ás” perante a porta, que abriu passagem para nós. E assim como se abriu, fechou-se

às nossas costas quando passamos. Dali não havia volta.

Um corredor dando algumas voltas e chegamos à uma sala com um altar de sacrifícios

no seu centro. Sobre o altar um velho corpo esquelético jazia com um punhal fincado

em seu peito. A marca de sangue seco manchava uma canaleta que se perdia num

pequeno buraco que levava sabe-se lá para que inferno. Na parede atrás do altar uma

grande laje de obsidiana pairava como um espelho negro. E escrito na pedra do altar

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estava marcada nossa sentença “O sacrifício é a única entrada e a única saída”. Depois

de muito ponderarmos sobre o que significava aquilo, foi Nundro que proferiu as

palavras que ninguém tinha coragem de dizer em voz alta. Só sairíamos daquelas

paredes sacrificando um de nós sobre o altar. O anão mais uma vez deu prova de sua

bravura, e se ofereceu para a morte, pedindo apenas que nos comprometêssemos a

continuar lutando contra aqueles malditos e limpasse a sua existência da terra, além

de deixar a mina segura para que Gundren pudesse enfim ter paz e alguma

prosperidade. Todos tentaram dissuadi-lo a princípio, para que procurássemos outra

solução, porém ficou cada vez mais claro que aquela era nossa única opção. Uthred

derrubou o esqueleto do altar e Nundro deitou-se. Houve uma comoção geral e Varis fez

uma pantomima se oferecendo para morrer em seu lugar, mas foi logo ignorado. Uthred,

Tilion e eu nos convencemos que aquele era o único caminho a ser tomado, enquanto os

outros três se negavam a consumar o fato. Tilion vendo Nundro deitado no altar se

precipitou, pegou o punhal do corpo e tentou cravá-lo no anão, sendo impedido por Varis.

Mais alguns minutos de tensão se passaram, onde todos se olhavam desconfiados.

Nundro, o único bravo naquele momento, absteve-se e ficou deitado, já entregue ao seu

destino. Agi mais rápido do que alguém pudesse reagir e apunhalei o peito do anão, com

lágrimas intangíveis nos olhos e pesar no coração. E assim o sangue escorreu pelo buraco,

fazendo com que a laje negra recuasse para dentro da parede abrindo um novo corredor.

Do fim do corredor uma luz vermelha e sons de enormes martelos ecoavam como trovões

em nossos ouvidos. Gravado na pedra, o símbolo de Tiamat, bem como seu nome em duas

línguas distintas (tiamat), uma delas em dracônico (TIAMAT).

Furtivamente fomos até a abertura avaliar o que nos esperava e vimos a cena que fez

gelar o sangue nas veias. Um enorme golem de ferro, moldado em ferro e fogo, bruto como

o metal do qual era feito, minerava a krimsonita nas paredes quebrando-as com seus

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próprios punhos, esmagando rocha como alguém esmaga uma batata cozida sobre a

mesa. As paredes reluziam com luz própria iluminando parcamente a grande caverna

de vermelho. No lado contrário da caverna havia uma grande abertura, porém

impedida por um maciço bloco que deixava apenas duas estreitas passagens de cada

lado, insuficientes para uma pessoa passar.

Enna teve a ideia de transformar-se em rato e explorar toda a extensão da caverna. E

assim foi. Transformada em rato, a druida desapareceu pelas estreitas brechas da rocha

e nos deixou esperando alguns longos minutos. Vimos o rato voltar se esgueirando pelas

rochas e transformar-se novamente em Enna no local onde estávamos escondidos

vigiando de longe os movimentos do golem. A druida descreveu sua aventura, dizendo

que após o bloco de pedra havia uma caverna pelo menos três vezes maior que aquela

que víamos, repleta de insetos gigantes, os quais ela não soube identificar. No lado

direito havia uma grande passagem por onde uma enorme criatura roxa passava de

instantes em instantes, como se dando voltas num túnel. Do lado esquerdo havia uma

pequena gruta, onde o corpo de um mago jazia ao lado de seu grimório, que ela trouxe

para entregar a Tilion. O mago deu uma rápida olhada no livro e viu que se tratava

de um grimório menor, de um mago iniciante, mas que dentro dele tinha um

providencial pergaminho da magia arrombar. Talvez fosse nosso passe para fora

daquela arapuca.

Infelizmente nada daquilo servia para nos tirar de onde estávamos no momento.

Teríamos que todos passar pelo golem, e encontrar uma forma de abrir caminho pelo

bloco rochoso. E foi aí que me ocorreu a ideia. Se aquela criatura era um constructo

feito com o único objetivo de servir a um propósito, sem vontade própria e com o poder de

derrubar montanhas, ele seria a chave de saída. Assumi que o nome encontrado no

pergaminho de Udo se referia ao golem. Angauthur – Espectro de Ferro e Fogo. Então

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assim o chamaríamos. Foi acordado que Eodion tinha carisma e poder de atuação certos

para se passar por um mestre, e assim a instruí que tomasse a poção de invisibilidade

que eu carregava e fosse até perto do ser, chamando-o de Angauthur e o ordenasse que

fosse minerar krimsonitas na outra câmara. Assim ela o fez, com exímia maestria

diga-se de passagem. A feiticeira convenceu o constructo a trabalhar na caverna

adjacente, fazendo-o abrir uma imensa passagem na rocha, para nosso regozijo e

deleite.

Demos um tempo para que o golem se acomodasse em sua tarefa e então carregando o

corpo de Nundro nos braços seguimos silenciosamente o caminho aberto. Passando pela

nova abertura pudemos ver que antes de ir minerar no local indicado, o gigante

esmagou todos os insetos além de um morcego gigante banhando o chão da caverna com

patas, sangue e asas negras. Seguimos beirando a parede da caverna e fomos até a

passagem alta onde, num patamar abaixo de nós, víamos a cada minuto um enorme

verme púrpura dar voltas como se procurasse algo em seu caminho para ser devorado. A

saída seria esperar o bicho passar e corrermos atrás dele sem sermos vistos, até encontrar

uma saída pela tangente. Enna, no entanto, achou melhor fazer um prévio

reconhecimento. Transformando-se em gato, um animal veloz, seguiu de perto o verme

dando uma volta completa e retornando até onde esperávamos. Segundo ela havia

uma porta na parede à direita e teríamos tempo de correr até lá e abrir a porta,

escapando daquele inferno. Devido à necessidade de correr rápido, decidi que era hora de

despedir-se de Nundro, e deitei seu corpo sobre a terra, aproveitando a passagem do

nojento animal, para correr, junto aos meus companheiros para alcançarmos a

prometida porta.

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Conseguimos alcançar a porta, porém abri-la era outra coisa. Gravada em sua fronte

estavam os símbolos de Set, Lolth, Kiaransalee, Torog, Tiamat e Arioch, sobrepostos pelo

símbolo que vimos na porta com um homem ajoelhado: Um olho maligno, sem

pálpebras, com três dentes pendendo de suas bordas. Eu me preparava para pronunciar

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os nomes dos seis deuses que conhecia

em voz alta, porém Tilion foi mais

veloz e usou seu pergaminho para

arrombar a porta, abrindo nossa

passagem para a salvação.

Entramos então numa sala oval. Na

parte interior da porta, gravada nos

caracteres de Nezznar, estava essa

invocação: Melkor Morgoth, meu

senhor, eu o liberto da sua prisão no Eterno Vazio. Retorne pela Porta da Noite para dar

início ao Dagor Dagorath. (melkor morgoth meu senhor eu o liberto

da sua prisao no eterno vazio. retorne pela porta da noite para

dar inicio ao dagor dagorath)

Traduzimos o texto e descobrimos que o que estava escrito ali eram justamente os dizeres

que Eodion recitou tocando Rothrel na Tumba dos Mutilados. Ao contrário do que

pensamos na época, não era uma oração de proteção ou abjuração, mas sim uma

invocação de alguma poderosa e antiga entidade nomeada Melkor Morgoth... e fomos

nós os responsáveis pela sua libertação de alguma prisão do além. Na parede sul

haviam gravadas em grandes botões de pedra as letras formando os nomes daqueles seis

deuses negros, unidos por toda aquela rede de intrigas divina. Parecia um código para

abrir uma passagem secreta, e logo deciframos que deveriam ser pressionadas as letras

que formavam o nome MELKOR. Então uma pequena alcova se abriu, revelando uma

bacia de pedra com formato de duas mãos em concha com cerca de 1 metro de diâmetro.

Havia um pequeno buraco no teto através do qual sangue escorria para dentro da

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bacia de pedra, enchendo-a. Devíamos estar bem abaixo do altar e aquele era nada

menos que o sangue quente de Nundro escorrendo para alimentar a pedra.

Eodion aproximou-se da bacia, enfiou a mão no sangue do anão e retirou uma pedra

branca levemente esférica opalescente com um núcleo de diamante astral. Era a coisa

mais linda e perfeita que já vi em minha vida e provavelmente era o mesmo para meus

parceiros. Ela atraía energia para si como um ímã fraco. Dentro de sua superfície

brilhante, havia imagens refletidas de cenas passadas e triunfos. Era com certeza um

tesouro único.

No entanto, pouco depois que Eodion retirou a pedra da bacia de sangue, ainda

admirando-a, a joia começou a queimar em sua mão. Os cristais de krimsonita

acenderam completamente gerando uma terrível luz, deixando a sala completamente

vermelha, bem como nossos corpos e qualquer coisa que ali estivesse. Eodion desfaleceu,

caindo como um boneco sem vida no chão, enquanto sua energia, ou mesmo sua alma,

era sugada pela pedra através de uma névoa negra que saia de seu corpo flácido. Aos

poucos todos nós começamos a nos transformar em pedra, da mesma forma que ocorreu

com Uthred naquela caverna no Norte, meses atrás. A dor era excruciante, todos os meus

sentidos funcionavam perfeitamente, mas eu não conseguia me mover. Presos em nossos

próprios corpos. Então a Pedra tornou-se completamente negra e vimos o resto da vida

ser drenada de Eodion. A feiticeira jazia no chão, completamente pálida e com olhos

opacos.

A pedra escorregou de sua mão e caiu no chão, com um baque surdo, rolando pelo

pavimento liso da sala com um som seco, deixando um rastro de sangue em seu percurso.

Escutamos então sons de passos vindos do Leste, de um lugar que não havia porta

alguma até então. Uma figura feminina esguia, branca como a lua, abaixou-se e

pegou a joia com elegância. Hûn Aeglosdûr! Era óbvio que ela estava enfiada até o

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pescoço naquela trama. A bruxa do além caminhou até Eodion, levantou a cabeça

inerte e sorriu com desdém, deixando escapar em seguida que seria melhor ter arrastado

a feiticeira por aqueles cabelos brancos até ali. A intrigante afirmação, que denotava

um prévio interesse na presença de Eodion naquele local, foi dirigida a alguém

escondido nas sombras, mas que não tardou a se mostrar.

Duas novas peças entraram no jogo, zombando ainda mais de nosso infortúnio,

respondendo à elfa que deuses preferem mover peças em tabuleiros. E era isso o que nós

éramos. O cínico ser era alto, com olhos vermelhos como chamas, trajando uma

armadura negra completa. Acompanhando-o, havia uma criança aparentando 11

anos, também trajando uma armadura negra de metal. Já havíamos visto essa

criança antes, embora parecesse ter crescido bastante desde quando a conhecemos:

Era Rothrel Gommok. Seus olhos estavam agora completamente brancos e não havia

expressão em seu rosto. Depois percebemos que seu nome era um anagrama daquele que

viemos a conhecer como Melkor Morgoth.

Pareciam estar todos mancomunados numa grande conspiração, e nós estávamos no

meio daquela intriga cósmica, manipulados como golens de carne. O ser maior, que

àquelas alturas eu tinha certeza se tratar de Lorde Galvorn, informou Aeglosdûr que

tudo tinha dado certo, uma vez que a pedra havia capturado a essência do sangue

Valar, expressão que ainda é um mistério para mim. Referia-se ao sangue de Nundro,

Eodion ou algo além da nossa visão? Dizendo isso, o ser negro afirmou que apenas um

ingrediente faltava em sua tramoia, retirou um punhal negro da armadura e cortou

a garganta de Aeglosdûr de orelha a orelha. A expressão dela era de completa surpresa

e horror, e assim seria a nossa se pudéssemos expressar algo. Vi a lâmina congelar

enquanto o sangue vermelho escorria pela ferida. Tudo em volta ficou terrivelmente

frio. Antes que a Pedra da Eternidade caísse no chão, a criança a segurou com uma das

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mãos enquanto se atirou sobre o pescoço da moribunda, bebendo o sangue que escorria e

pulsava do pescoço.

O estranho começou a proferir palavras em uma língua desconhecida. No entanto,

estranhamente entendemos tudo o que ele dizia, e as palavras eram a repetição da

invocação que Eodion proferiu antes:

- Melkor Morgoth, meu senhor, eu o liberto da sua prisão no Eterno Vazio. Retorne pela

Porta da Noite para dar início ao Dagor Dagorath.

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A cena era suja e blasfema. Uma escuridão enorme tomou conta da sala, drenando

completamente o brilho dos cristais que a circundavam, canalizando a energia

mágica daquele local para o corpo da criança. Depois de minutos, que pareceram

semanas, Aeglosdûr jazia no chão imóvel enquanto a Pedra da Eternidade voltava à

sua forma original. A criança levantou-se banhada em sangue divino, como uma

montanha que avança sobre o mar e tem seu topo acima das nuvens, revestida com

gelo e coroada de fumaça e fogo. Galvorn ajoelhou-se perante a entidade que crescia em

poder e forma e que com um simples gesto, criou um portal. As duas figuras o

atravessaram, levando junto a Joia. Só sobrou a total escuridão.

Então aos poucos comecei a escutar algo sussurrar no fundo de minha mente.

Reproduzirei aqui o monólogo o melhor que posso lembrar:

“Minha centelha se esvai, mas hoje consegui enganar o príncipe das mentiras, o

que enganou o próprio Oculto. Ele é o meu pai e já teve muitos nomes, nesse plano e

em outros: Annatar, Gorthaur, Galvorn, Cyric, Sauron. Vocês serão a minha

vingança dessa traição. Vocês me devem um pacto de sangue. Todos vocês! Gorthaur

finalizou aqui o ritual, conseguindo resgatar seu mestre, preso a milênios atrás em

outro plano: Melkor - Morgoth Bauglir, o tirano sinistro inimigo do mundo. Ele

precisará de tempo para recuperar seu poder plenamente, talvez meses, talvez

anos, mas é a maior ameaça aos planos de existência do que qualquer evento

anterior. É o Dagor Dagorath e vocês o despertaram...”

Então em meio à total escuridão ouvi Aeglosdûr se arrastar em direção à Eodion. Um

som de gorgolejo de sangue, carne rasgando e o arrastar de pernas. A voz continuava:

“Annatar conseguiu subjugar divindades desse plano e de outros, enganando-as.

Ele não teve o epíteto “enganador” gratuitamente. Tiamat, Lolth, Kiaransalee,

Torog, Arioch, Set. Cada um desses possui atualmente um anel forjado aqui há 200

anos. Só possuindo todos eles Sauron poderá ser derrotado. Quem sabe que novos

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aliados ele poderá conseguir com a chegada de seu mestre? Consegui enganá-lo, ele

acha que vocês estão todos mortos. No entanto, Cyric tomou meus poderes. Por isso,

caso vocês fraquejem em sua vontade, há um risco grande que ele os perceba. Caso

isso aconteça, uma morte lenta e horrível os aguarda”

Nezznar estava certo afinal de contas. Não tínhamos ideia de onde estávamos nos

metendo e fomos meros peões, manipulados por aqueles deuses desde o início, que nos

usaram para concluir seu escabroso intento. Agora tínhamos o dever de impedir que

aquele tenebroso evento, clamado por todos como Dagor Dagorath, se consumasse. E para

isso teríamos que ir atrás desses malditos anéis forjados por Galvorn e espalhados pelos

mais ermos rincões dos mundos.

Aos poucos voltamos a tornar-nos carne, recobrando nossas faculdades físicas e mentais.

Varis iluminou a sala e pude ver Eodion levantando-se com um novo sopro de vida em

seu corpo, bem como o resto de nós sentimos o poder de uma deusa fluir para nossas almas.

Para meu alívio, aparentemente meu rosto havia voltado ao normal, bem como o dedo

mínimo de Eodion. De uma forma estranha, me senti muito mais poderoso do que eu era

a pouco. Soube que meus companheiros sentiram o mesmo. Investigamos o corpo de

Aeglosdûr e encontramos um anel ornado com a gravura de uma porta, 6 estatuetas de

gato preto e 6 diamantes. Nesse momento sob o altar abriu-se uma passagem formada

por uma escada para a sala de sacrifício, resolvendo nossos problemas para sair dali. O

portal de Cyric também se encontrava aberto. Corremos como demônios por entre

corredores sem pestanejar nem pensar duas vezes. Partimos daquela maldita

masmorra, onde jamais deveríamos ter entrado, deixando para trás o corpo de dois bravos

companheiros, além de um pouco de nossa sanidade e esperança.

Às 2h da madrugada do dia 25 finalmente estávamos ao ar livre, depois de 5 dias

respirando o ar vicioso daquelas malditas minas.

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