Juventude
e Trabalho
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Apresentação
A o longo de sua história, o Brasil tem enfrentado o problema da exclusão social que
gerou grande impacto nos sistemas educacionais. Hoje, milhões de brasileiros ainda
não se beneficiam do ingresso e da permanência na escola, ou seja, não têm acesso a um
sistema de educação que os acolha.
Educação de qualidade é um direito de todos os cidadãos e dever do Estado; garantir o
exercício desse direito é um desafio que impõe decisões inovadoras.
Para enfrentar esse desafio, o Ministério da Educação criou a Secretaria de Educação
Continuada, Alfabetização e Diversidade – Secad, cuja tarefa é criar as estruturas necessárias
para formular, implementar, fomentar e avaliar as políticas públicas voltadas para os grupos
tradicionalmente excluídos de seus direitos, como as pessoas com 15 anos ou mais que não
completaram o Ensino Fundamental.
Efetivar o direito à educação dos jovens e dos adultos ultrapassa a ampliação da oferta
de vagas nos sistemas públicos de ensino. É necessário que o ensino seja adequado aos que
ingressam na escola ou retornam a ela fora do tempo regular: que ele prime pela qualidade,
valorizando e respeitando as experiências e os conhecimentos dos alunos.
Com esse intuito, a Secad apresenta os Cadernos de EJA: materiais pedagógicos para o
1.º e o 2.º segmentos do ensino fundamental de jovens e adultos. “Trabalho” será o tema da
abordagem dos cadernos, pela importância que tem no cotidiano dos alunos.
A coleção é composta de 27 cadernos: 13 para o aluno, 13 para o professor e um com
a concepção metodológica e pedagógica do material. O caderno do aluno é uma coletânea
de textos de diferentes gêneros e diversas fontes; o do professor é um catálogo de ativi-
dades, com sugestões para o trabalho com esses textos.
A Secad não espera que este material seja o único utilizado nas salas de aula. Ao con-
trário, com ele busca ampliar o rol do que pode ser selecionado pelo educador, incentivan-
do a articulação e a integração das diversas áreas do conhecimento.
Bom trabalho!
Sumário
TEXTO Subtema
Desemprego juvenil
TEXTO 1
PARA
QUEM
NÃO
TEM EXPERIÊNCIA
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P
esquisas divulgadas pelo Depar- cial e de aumento da criminalidade. Basea-
tamento Intersindical de Estatística e dos nestes dados, concluímos que é preciso
Estudos Socioeconômicos – DIEESE, fomentar a economia brasileira e gerar os
sobre emprego e desemprego, denunciam empregos de que o país precisa.
que os jovens representam 45,5% dos Um dos maiores especialistas em
desempregados, quase metade de todos os desemprego do país, Márcio Pochmann, em
desempregados do país. uma entrevista dada em 2000, já alertava
Segundo o DIEESE, dos 3,2 milhões de sobre o assunto dizendo o seguinte:
desempregados pesquisados nas regiões “Como há pessoas disponíveis e não há
metropolitanas de São Paulo, Belo Hori- vagas para serem ocupadas, isso gera um
zonte, Porto Alegre, Salvador, Recife e acirramento da competição no interior do
Distrito Federal, 1,5 milhão são jovens de mercado de trabalho. Os postos de traba-
até 24 anos. lho que eram tradicionalmente ocupados
A população economicamente ativa pelos jovens estão sendo hoje ocupados por
com mais de 16 anos é minoria entre os adultos. É por isso que as empresas dizem
que conquistaram um posto de trabalho. A que o jovem não tem preparação.”
fase mais crítica compreende o período No mundo inteiro, hoje, temos o
entre os 16 e os 24 anos. Justamente por- maior número de adolescentes de toda a
que é esta a fase da vida que coincide com história da humanidade. Por isso, preci-
a conclusão de uma formação e a busca de samos investir nos jovens, promover o seu
uma vaga no mercado de trabalho. desenvolvimento, criar perspectivas favo-
Sabemos que a necessidade de uma ráveis para o seu futuro e apoiar sua
colocação no mercado de trabalho, muitas participação integral na sociedade.
vezes, atrapalha e desestimula a continui-
dade dos estudos, ampliando os números
da evasão escolar.
Neste sentido, a pesquisa demonstra que
os jovens trabalham com uma carga horária Adaptado de discurso pronunciado em 14 de setembro de 2006
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Rotina do jovem
TEXTO 2
Oh, oh, oh, uh, oh, chega junto, fica junto, quebra tudo
8 • Juventude e Trabalho
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POR DOIS
Carolina só estuda o dia todo trancada no seu quarto
O dia passa e nada faz ela olhar o sol
"Eu preciso passar", pensa ela o tempo todo
O stress e o sono não importam
A hora corre mas ela nem olha pro relógio
Quando nota o dia já se foi
E amanhã vai ser tudo outra vez
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Risco social
TEXTO 3
Ana Miranda
A
mãe me ligou desesperada. O filho estava preso na
Papuda, um presídio em Brasília onde ficam os que
cometem crimes os mais horríveis, aqueles que per-
deram os tênues fios que os laçariam para uma vida com-
preendida, aceita por todos. Ah, aquele rapaz é bom, ele é
trabalhador, ele não faz mal a ninguém, é pobre mas não
incomoda! Ah, aquele ali é melhor que desapareça, que
morra! O rapaz tem cerca de 30 anos, mas é como se tives-
se 100 anos, porque muito se gastou. A mãe, essa tem mil
anos (o outro filho caiu na droga, como viver num lugar
assim e preservar os filhos?). Aos 20, o rapaz envolveu-se com
uma gangue que roubava toca-fitas de carros. Mãe e filhos
moram na cidade-satélite do Guará, periferia de Brasília, guará
é o nome de um lobo, lindo, vermelho de pernas altas e negras,
e seu uivo parece o grito de uma pessoa pedindo socorro. Um
dia, a polícia bateu na casa daquela mãe atônita, sem recursos
de nenhuma espécie, e encontrou no quarto do rapaz peças
roubadas. Ele foi preso, sofreu torturas na delegacia – arran-
caram unhas das suas mãos e pés, diz a mãe, com a dor de
uma madona, mas como se expiasse a culpa de ter um filho
errado, de agressor ele passou a vítima, de mãe de um agres-
sor ela se tornou a mãe de uma vítima. Foi bom para ele apren-
der, ela diz, conformada. O filho foi para a prisão. Um rapaz
quieto, que nunca levanta a voz, com cara de sonso.
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Desemprego juvenil
TEXTO 4
FORMACIÓN
Y EMPLEO Un cuarto de los
jóvenes brasileños
no trabaja ni estudia
E
l 27% de los jóvenes brasileños
entre 15 y 24 años que vive en las
grandes regiones urbanas del país
no trabaja ni estudia, según encuestas GLOSARIO
realizadas en las principales regiones
Acceder. ter acesso a, alcançar algo
metropolitanas del país.
Empleo. emprego
Muchas veces, a causa de la dificultad Encuesta. pesquisa de opinião
de encontrar un empleo, los jóvenes se Hasta. até
desaniman y dejan de buscar hasta que la Laboral. de trabalho
situación del país mejore. Otros pueden Mejorar. melhorar
estar estudiando en casa o haciendo cursos Ninguna. nenhuma
esporádicos. Queja. queixa
Una queja común consiste en la
restricción del mercado de trabajo. Sin
inserción laboral posible, nunca se ten-
drá la experiencia solicitada para acce-
Extraído do site http://www.ilo.org/public/spanish/region/ampro/
der a un empleo. cinterfor/temas/youth/rec_dif/jov_bra.htm
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Ser jovem
TEXTO 5
O JOVEM E
O ADOLESCENTE
E
mbora muitas vezes tidas como si- idade, mas aos conceitos, demonstrando
nônimos, juventude e adolescência processos de naturezas distintas.
têm significados distintos, ainda que Mais comum ainda do que falar da
superpostos. adolescência e da juventude como a mesma
A Organização das Nações Unidas coisa é se referir indistintamente aos que
(ONU) define como jovens as pessoas entre vivem esses períodos como adolescentes ou
15 e 24 anos. jovens. Como se observa em reportagens,
A Organização Mundial de Saúde em conversas informais e até mesmo em
(OMS) entende que a adolescência é um textos teóricos. Também pode ser verifica-
processo biológico, que vai dos 10 aos 19 do nas definições encontradas no dicioná-
anos de idade, abrangendo a pré-adoles- rio Aurélio, por exemplo (veja boxe).
cência (10 a 14 anos) e a adolescência Embora a juventude possa ser conside-
propriamente dita (15 a 19 anos). Já a rada uma categoria social que agrupa os
juventude é considerada uma categoria que compartilham a mesma fase de vida, é
sociológica que implica a preparação dos preciso ficar atento à multiplicidade de
indivíduos para o exercício da vida adulta, experiências que se reúnem sob essa deno-
abrangendo a faixa dos 15 aos 24 anos de minação. Será que podemos falar numa
idade. As diferenças entre adolescência e mesma experiência juvenil vivida por um
juventude, portanto, não se limitam à jovem morador do sertão nordestino, e por
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Segundo o mestre
Juventude - 1. Idade moça; mocida-
de, adolescência, Juventa. 2. a gente
moça; mocidade. 3. fase do ciclo de
um lago na qual este recebe mais água
do que perde e por isso tem maior
duração.
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?
Cultura juvenil
TEXTO 6
O QUE É GRAFITE
A arte que embeleza ou enfeia as cidades
tem origem na antiguidade
P
ara muitos, o grafite é apenas uma podem ser vistos em sítios arqueológicos
"pichação evoluída". Para outros, é espalhados pela Itália.
uma arte urbana. O fato é que ele está No final da década de 1960, jovens
presente em diversas partes da cidade: do Bronx, bairro de Nova York, (EUA),
banheiros públicos, fachadas de edifícios, restabeleceram essa forma de arte usan-
muros, casas abandonadas, ônibus, metrô, do tintas spray. O grafite seria uma das
orelhões, postes, monumentos públicos e três manifestações artísticas do hip-hop,
outros lugares expostos. movimento nascido nos guetos ameri-
A palavra grafite tem origem na Itália canos que reúne outras duas modali-
e significa "escrita feita com carvão". dades: o rap e o break.
Os antigos romanos escreviam assim, Os artistas do grafite costumavam
com carvão, manifestações de protesto, ou escrever os próprios nomes em seus traba-
de qualquer outro cunho nas paredes das lhos ou chamar a atenção para problemas
construções. Alguns desses grafites ainda de ordem política ou questões sociais.
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Juventude e Trabalho • 17
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Desemprego juvenil
TEXTO 7
PRIMEIRO
EMPREGO
Como conseguir um primeiro
emprego, quando, naturalmente,
não se tem experiência?
Renato Pompeu
S
egundo as estatísticas governamentais,
os jovens que nunca tiveram um em-
prego, mas que estão à procura de um
lugar no mercado de trabalho, constituem
hoje em dia no Brasil a faixa da população
em que há maior proporção de desempre-
gados. Pois, para ser considerado desempre-
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gado, não basta não ter emprego: é preciso Se, porém, os candidatos ao primeiro
também estar procurando um. E nas gran- emprego estão fazendo curso superior, o
des cidades se contam às centenas de milha- ideal é que busquem formar-se como mes-
res, senão aos milhões, os jovens que estão tres e como doutores e que aperfeiçoem os
procurando seu primeiro emprego. seus conhecimentos de línguas estrangei-
A primeira dificuldade que esses jovens ras – quanto mais títulos a pessoa acumu-
encontram é que, por definição, não têm lar, maiores serão suas chances, principal-
nenhuma experiência de trabalho. E, na fila mente nas maiores e melhores empresas,
dos desempregados candidatos a cada mais exigentes em matéria de qualificação.
emprego, sempre haverá, na atual situação Deve-se estar atento para os empregos
do País, uma ou mais pessoas que tenham oferecidos em anúncios de jornais, inclusi-
experiência em atuar no serviço para o qual ve os jornais de menor expressão, como os
há vagas. Ao contrário do que poderia pare- jornais de bairro. Deve-se enviar currículos
cer à primeira vista, fica mais fácil uma bem-feitos e atraentes para todos os canais
pessoa mais velha conseguir um emprego possíveis e imagináveis, inclusive pela
depois de ter perdido outro, do que uma Internet. Mas aqui é preciso tomar cuida-
pessoa mais nova conseguir um emprego do. Existem empresas que cobram para
pela primeira vez. armazenar currículos, alegando que os
Um dos conselhos que são dados aos divulgam junto aos departamentos respec-
candidatos ao primeiro emprego é que tivos das firmas empregadoras, numa
procurem aperfeiçoar ao máximo a sua verdadeira “bolsa de empregos”. Nem
formação. Se estão no curso secundário, todas essas empresas, entretanto, cumprem
devem procurar formar-se num dos nume- o que prometem. É mais sensato dirigir-se
rosos cursos profissionalizantes oferecidos às próprias firmas empregadoras, ou aos
por entidades do comércio e indústria e por serviços governamentais e sindicais de
ramos específicos, como a hotelaria e o colocação. Acima de tudo, jamais desistir:
design. A formação profissional especializa- insistir sempre em procurar o primeiro
da pode suprir a falta de experiência de emprego, até alcançá-lo.
trabalho, reforçando a situação do candi-
dato no caso de ele procurar emprego
numa área para a qual está especificamen-
te qualificado. Renato Pompeu é escritor e jornalista
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Cultura juvenil
TEXTO 8
THE BRITISH
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ARE COMING! The rediscovery of the garage music: the elegant and
aggressive sound that is beating in the British night clubs
Piers Grimley Evans thing really popular. And I’m sure the rest
of the world will like it. If they like vocals,
there’s vocals there, if they like instruments
like bass there’s bass line, you know. So
I’m sure that the rest of the world is going
to like it. Now it’s already in Europe. You
I
n the 1960’s an enormous quantity of
foreign bands making success in America can hear UK Garage in Amsterdam, in
was known as “the British invasion”. Switzerland, Belgium, places like that, you
Today, the trend has reversed. While know, where people like night clubs. So,
American bands occupy a large part of the you know, that’s a start out of England but
UK pop market, this year – for the first time we expect to go to more and more countries
since 1963 – there were weeks without any and continents.
British artist listed in the US top 100. But a
new style of dance music, UK Garage, could The Cyprus Sound
change things. In the competitive arena of The fast beat, big vocals and heavy bass
urban music, it has triumphed over trans- lines of UK Garage were first heard in 1996
atlantic competition and is currently pre- on the events of innovative DJs like the
pared for global success. Timmi Magic, 1/3 Dreem Teem. An underground scene,
of the influential group of DJs and produc- sustained by illegal pirate radio stations,
ers, the Dreem Teem, explains the reason: then popularized from London to major
Timmi Magic: In the last two years, cities around Britain. By the start of 2000,
we’ve had top tens, number ones and it was regularly in the clubs and many
there’s been a variety of styles that have people went to Cyprus every summer to
changed from basic club music to some- enjoy garage at the vast clubs of Ayia Napa.
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Extraído do site
http://speakup.ig.com.br/stories_b/183_garage.shtml
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Empreendedorismo
TEXTO 9
DESEMPREGADO,
, SIM
DESOCUPADO,
NÃO
A iniciativa pode criar ocupações
produtivas quando o mercado
formal se fecha. Foto Valéria Gonçalvez / AE
P
ara quem ainda acha que ter traba-
lho é ter emprego, a explicação de lho deve proporcionar prazer é comum aos
Verônica Sá, 18 anos, é curta e clara: jovens de todas as camadas sociais, mesmo
“Trabalho é tentar se organizar de forma as mais pobres. “Eles querem trabalho, sim,
criativa para atuar economicamente na não só por causa da necessidade do dinhei-
sociedade”. Com isso, ela demonstra que ro, mas também para crescimento pessoal.
há pelo menos uma parte da juventude Quando peço para que definam trabalho
brasileira que não é apenas produto (ou com uma palavra, um adjetivo, o que ouço
vítima) da era do “fim do emprego”. muito é ‘prazer’, ‘satisfação’, ‘compromisso’.”
Jovens como Verônica também consi-
deram-se agentes, com direito de optar e Por que a gente tem de trabalhar?
criar novas formas de trabalho, nas quais a Muita gente acha que é para ter uma
atividade profissional também proporcione participação ativa na sociedade. E acredita
conhecimento e prazer. Parece discurso de nos princípios do trabalho solidário como
quem tem ótimas condições econômicas e, uma nova forma de participar, de intervir
teoricamente, não são pressionados pela no meio em que vivemos, na comunidade.
necessidade de ganhar dinheiro. Mas, para É o que Verônica Sá pensa e faz: no grupo
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Operário da criação
Conciliar períodos de muito trabalho
com épocas de quase nada também é
comum. “Meu trabalho é prazeroso, mas há
momentos em que me sinto um operário,
tenho de criar e produzir direto. Mas tam-
bém, quando quero, fico em casa. 0 empre-
go formal me impediria isso”, diz o artista
plástico Roberto Carlos Pereira, o Bessa,
Aerógrafos da ONG Revolucionarte pintam
o túnel que liga a Avenida Dr. Arnaldo a
de 25 anos, que tem um ateliê de bonecos
Avenida Paulista, em São Paulo. Na foto, na cidade de Olinda, em Pernambuco.
Edmilson Barbosa (21 anos) pinta a obra Bessa conta que tirou sua carteira de traba-
"Casamento na Roça", de Cândido Portinari
lho aos 16 anos, mas nunca a usou. “Só
entraria em um emprego se fosse algo em
Conexão Solidária, do Liceu de Artes e Ofí- que acreditasse.”
cios da Bahia, ela aplica os seus princípios.
Estudante de relações públicas, acha que a E se não for artista?
faculdade que cursa está muito voltada Nem todo mundo vai ser artista, nem
para a área empresarial, e procura, em seu este pode ser o único caminho. Porém, um
trabalho, romper com as barreiras. misto de trabalho solidário, criativo e de
“Por que a gente tem de trabalhar? qualidade pode ser um ótimo caminho. O
Para ter uma participação economicamente coletivo Êxitos D'Rua, de Recife, por exem-
ativa na sociedade. O trabalho solidário é plo, aproveita o talento dos jovens para
uma nova forma de participar”, diz. criar oportunidades de trabalho. Utiliza
Para Verônica, o Conexão é um espaço técnicas de grafitagem, por exemplo, para
onde ela pode fazer o que gosta, da manei- produzir camisetas, capas de CD, ou para
ra que acredita ser a melhor. Esse prazer no anunciar shows. Com isso, seus jovens e
que faz a ajuda a encarar horários extras criativos trabalhadores também podem
aos sábados, domingos, às vezes, noite manter uma loja solidária, onde cada um
adentro. “Meu trabalho e minha vida pes- coloca os seus produtos de forma que todos
soal estão misturadíssimos, não sei onde possam comprá-los.
começa um e termina o outro”, diz. Essa
mistura é típica dos jovens que podem estar Extraído da revista Onda Jovem – Ano I, no 2, jul/05
desempregados, mas nunca desocupados. Instituto Votorantim
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Cultura juvenil
TEXTO 10
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N
ão tem mais volta: a tendência é – os shows acontecem em praças e nas
mesmo a expansão do movimento escolas – e faltam equipamentos para os
hip-hop. Com ajuda do poder pú- DJs e informação sobre o rap de outros
blico, o movimento ganha força mais estados. Mas o movimento vem crescen-
rápido; se tiver espaço na mídia, aí nem do e hoje se ouve o freestyle – rima de
se fala. No entanto, parece que, se não improviso – na saída das escolas, nos
tiver ajuda de nenhum dos dois, o pessoal intervalos de aulas e até em pontos de
se articula e acontece mesmo assim. ônibus. A batida costuma misturar ele-
Achamos o movimento hip-hop em todas mentos da cultura negra, é o hip-hop afro,
as regiões brasileiras. como faz o grupo Quilombo Vivo, de
Amaralina, em Salvador, que mistura
NORDESTE capoeira e candomblé em suas músicas.
O Nordeste está bem organizado politi- Outros grupos representativos são: Fúria
camente. É em Teresina, por exemplo, que Consciente, Quilombahia, DGS, Simples
fica a sede do MHHOB (Movimento Hip- Rap’ortagem, Juri Racional, Lica, Os
Hop Organizado). A sede, chamada Centro Agentes, Anjos da Rima e Jr-junior.
de Refêrencia da Cultura Hip-Hop, é o maior Em São Luís, a miscelânea é com
espaço dedicado à cultura no país. Lá acon- elementos do folclore, em uma combina-
tecem oficinas de MC, a produção de um ção de rap com tambor-de-crioula e com
fanzine e até um pré-vestibular para negros. tambor-de-minas. O Clã Nordestino, grupo
Em Recife, o pessoal também está a de São Luís, fez uma batida na música
cada dia mais organizado. O movimento Toada do Clã que começa com cantoria de
começou a crescer em 2000 e hoje existe bumba-meu-boi, passa para a batida do rap
a Associação Metropolitana de Hip-Hop, e volta para o bumba-meu-boi: uma mistu-
que une todos os grupos locais. Galo de ra verdadeiramente original. Eles também
Souza, referência do hip-hop pernambu- misturam rap com maracatu. Lamartine, do
cano pela sua atuação política, diz que a Clã, explica que a influência é inevitável.
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Te x t o 7 / Cultura juvenil
O grupo de rap
Racionais mantém
um núcleo de apoio
à juventude no
“A gente se criou ouvindo tambor no Branco – vai durar uma semana e definir
terreiro das nossas casas, ouvindo cantiga, as diretrizes do movimento, estabelecer
ouvindo ladainha, até porque a gente veio uma agenda e agilizar os projetos.
do interior do estado, então essa convivên- Preto Michel, representante do MHF
cia com o tambor-de-crioula e o bumba- no Pará, diz que os grupos costumam
meu-boi é natural”. cantar os problemas de cada região. Em
Belém, o grupo MBC fez uma música
NORTE sobre o massacre de Eldorado dos Cara-
O Norte do Brasil também está arti- jás; um grupo de Macapá fala da pororo-
culado e unido. Há mais de um ano ca, o encontro do rio com o mar; e em Rio
formou-se a rede Movimento Hip-Hop na Branco e Roraima a temática das quei-
Floresta ou MHF, filiada ao MHHOB. O madas é bastante presente.
MHF funde a ideologia hip-hop com O movimento valoriza a cultura ama-
conceitos ecológicos para fortalecer a zônica, as tribos indígenas, os quilombolas
cultura amazônica. Tem MHF no Pará, e as populações ribeirinhas. Por isso, em
Amapá, Acre, Rondônia e Amazonas. Em Manaus misturam rap com bumba-meu-
julho, vai acontecer um encontro chama- boi. Em Macapá, misturam com o mara-
do Ritual do Hip-Hop da Floresta, em Rio baixo, som percussivo das comunidades
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quilombolas. Nesta cidade, o que chama lações no Vale do Paraíba, em São Paulo,
atenção é o número de grupos: apenas onde o hip-hop está presente em todas as
nove. Além disso, tem três grafiteiros, que periferias, embora de maneira desorganiza-
lutam por reconhecimento e apoio. da e desarticulada ainda. Em Jacareí, já
existe a Associação Cultural e Educacional
CENTRO-OESTE Nego Prettu – em vias de se tornar uma
“O rap aqui é do pé rachado.” Foi assim OSCIP (Organização da Sociedade Civil de
que o MC Letal, da banda goiana Teste- Interesse Público). Lá funciona um Centro
munha Ocular, definiu o rap de lá, ou seja, de Juventude onde acontecem diversas ofi-
um rap de raiz, da terra. Eles misturam o cinas. Recentemente, em São José dos
gênero com a congada, catira, folia de reis, Campos, a Câmara Municipal aprovou um
moda de viola. O movimento é um pouco projeto de lei que cria a Semana Hip-Hop,
dividido, não tem sede, e as bandas são que vai acontecer sempre em junho. A parte
poucas; mas não fica fora de cena. musical tem muita influência da capital de
Já o pessoal de Brasília parece prio- São Paulo, tanto na batida como com letras.
rizar mais as letras do que a batida. “Os Como em São Paulo, a cultura hip-hop
rappers se preocupam demais em retratar invadiu Belo Horizonte através do break.
o cotidiano violento e se esqueceram da A dança chegou à cidade com filmes como
musicalidade, o que prejudicou a recep- Break Dance, ao qual os jovens assistiam
tividade em outras regiões do país”, diz a muitas vezes para aprender os passos; de-
jornalista e dançarina de break Bianca pois se reuniam em espaços públicos para
Chiaviatti. Mas a receptividade em mostrar o que já sabiam. Uma curiosi-
Brasília é grande, já que a cidade compor- dade: como os b.boys se instruíam pela
ta grandes festivais, como o Abril pro tela, acabavam invertendo as posições –
Rap, que existe há quatro anos – porém, dançavam espelhado. Essa característica,
só em 2005 é que o graffiti e o break mais a mistura com a capoeira, resultou
ganharam espaço. Os grupos de rap em em um estilo próprio da região. O rap,
evidência são: Vadios Loucos, Atitude hoje em dia, é o elemento com mais visi-
Feminina, Veronika e Código Penal. bilidade em Belo Horizonte, mas o graffiti
é o elemento que mais cresce, com amplo
SUDESTE apoio do governo local.
No Rio de Janeiro e em São Paulo A antropóloga Júnia Torres conseguiu
perde-se a conta de quantos grupos e orga- listar mais de trezentos grupos de rap em
nizações existem. Descobrimos até articu- sua dissertação de mestrado para a Federal
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Te x t o 1 0 / Arte em evolução
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Primeiro emprego
TEXTO 11
O APRENDIZ
É proibido trabalhar antes dos Jovens aprendem
16 anos, mas se pode aprender mecânica em curso
profissionalizante
a trabalhar desde os 14 do SENAI
N
o Brasil, pelo menos na letra da lei,
não é permitido que uma pessoa I - os Serviços Nacionais de Aprendiza-
com menos de 16 anos exerça gem, assim identificados:
emprego. Mas a Lei do Aprendiz, sancio- a) Serviço Nacional de Aprendizagem
nada em 2000 e regulamentada em 2005, Industrial – SENAI;
permite que, a partir de 14 anos, se façam b) Serviço Nacional de Aprendizagem
cursos profissionalizantes, nos quais a pes- Comercial – SENAC;
soa pode ficar até completar 24 anos (se a c) Serviço Nacional de Aprendizagem
pessoa sofre de alguma deficiência, pode Rural – SENAR;
continuar como aprendiz depois dos 24 d) Serviço Nacional de Aprendizagem do
anos de idade. Transporte – SENAT; e
A cada contrato de aprendizagem, que e) Serviço Nacional de Aprendizagem do
tem de ser por escrito e não pode ter prazo Cooperativismo – SESCOOP;
de mais de dois anos, o empregador se com- II – as escolas técnicas de educação,
promete a instruir o aprendiz em tarefas inclusive as agrotécnicas; e
específicas, adequadas para as característi- III – as entidades sem fins lucrativos, que
cas dos jovens, e o aprendiz se compromete tenham por objetivos a assistência ao
a cumprir as tarefas que lhe são designadas. adolescente e à educação profissional,
O contrato deve ser registrado na Carteira registradas no Conselho Municipal dos
de Trabalho do Aprendiz, que, além do trei- Direitos da Criança e do Adolescente.
no profissionalizante, deve freqüentar tam- Os dados estão aí; agora cabe a cada
bém o ensino fundamental até o fim. um decidir se vai ser aprendiz.
Quem dá as aulas? O Artigo 8.o da
Regulamentação da Lei do Aprendiz apre- Renato Pompeu é escritor e jornalista
Jovens no campo
TEXTO 12
JUVENTUDE
RURAL:
AMPLIANDO AS OPORTUNIDADES
Ricardo Abramovay
F
ixar o homem ao campo: poucas ex- nhecimento e favoreça que as novas idéias
pressões são tão populares e, ao mes- tenham chance de se tornar empreendi-
mo tempo, nocivas a uma política de mentos. Uma das maiores doenças de
desenvolvimento rural capaz de mobilizar nosso tempo está exatamente na incapa-
as melhores energias da juventude. "É cidade de as sociedades contemporâneas
poste, e não gente, que fica parado num só oferecerem perspectivas para que a inova-
lugar", gostava de dizer o saudoso José ção se concretize em projetos – privados
Gomes da Silva, nome emblemático da luta ou sociais – construtivos.
pela reforma agrária no Brasil. E em ne- Para isso, o mais importante é que o
nhum outro momento da vida a mobilida- destino dos jovens não esteja traçado
de, o desejo de viver novas experiências e desde seu nascimento, como fatalidade.
correr riscos são maiores que na juventude. Ora, o pressuposto da tão propalada "fixa-
Além de traço característico da juventude, ção do homem ao campo" é que não há
o impulso para a inovação é evidentemente melhor caminho para os jovens rurais que
útil para a sociedade como um todo. sua transformação em agricultores. Há
dois equívocos nessa suposição.
Inovações projetadas
Para que a propensão dos jovens à ino- As sementes da evasão
vação se realize, entretanto, é necessário Estudos mostram que parte importan-
um ambiente social que estimule o co- te dos jovens vivendo hoje em estabeleci-
32 • Juventude e Trabalho
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Cortadores de
cana de Guaíba,
mentos agropecuários – e a grande maio- rais não vivem apenas agricultores. Não se
ria das moças, em especial – não deseja pode ignorar esta realidade elementar e
seguir a profissão dos pais. O trabalho li- hoje sobejamente conhecida: o meio rural é
mita-se ao oeste de Santa Catarina, mas é muito maior do que a agricultura.
certamente representativo: mesmo em uma Uma verdadeira política de desenvol-
das regiões em que a agricultura familiar vimento rural deve associar uma educa-
tem maior expressão social e econômica ção de qualidade e estímulo para proje-
no país, um terço dos rapazes e quase dois tos inovadores que façam do meio rural,
terços das moças declaravam não querer para eles, não uma fatalidade, mas uma
continuar vivendo em estabelecimentos opção de vida.
agropecuários. A política deve contemplar igualmente
os jovens rurais que não querem ser agri-
Agricultores pluriativos cultores, mas gostariam de permanecer em
Uma política de desenvolvimento rural suas regiões de origem, valorizando seus
voltada para a juventude não pode limitar- círculos de amizade, contribuindo para o
se à agricultura. Os futuros agricultores surgimento de novas atividades e evitando,
serão cada vez mais pluriativos, suas ren- na prática, a falsa oposição entre a mono-
das dependerão da agricultura, mas tam- tonia e a pobreza da vida interiorana e os
bém de outras atividades. Quanto mais os conhecidos problemas das periferias das
jovens estiverem preparados para essas grandes cidades.
outras atividades – entre as quais se desta-
cam as voltadas à valorização da própria Ricardo Abramovay é professor titular do Departamento
de Economia da FEA e do Programa de Pós-Graduação em
biodiversidade existente no meio rural – Ciência Ambiental da USP - Pesquisador do CNPq -
maiores suas chances de realização pessoal Organizador de Laços Financeiros na Luta contra a Pobreza
(Annablume/FAPESP, 2004)
e profissional. Além disso, nas regiões ru- Extraído de http://www.econ.fea.usp.br/abramovay/
Juventude e Trabalho • 33
13•CA03BT21P2.qxd 12/13/06 8:24 PM Page 34
Rotina do jovem
TEXTO 13
O TREM
Crônica da arriscada
viagem de todo dia
nos trens de subúrbio
Composição: Rzo
Realidade é muito triste
Mas é no subúrbio sujismundo
O submundo que persiste o crime
Pegar o trem é arriscado
Trabalhador não tem escolha
Então enfrenta aquele trem lotado
Não se sabe quem é quem, é assim
Pode ser ladrão, ou não,
Tudo bem se for pra mim
Se for polícia fique esperto Zé
Pois a lei dá cobertura pra ele
Te socar se quiser
O cheiro é mau de ponta a ponta
Mas assim mesmo normalmente
O que predomina é a maconha
E aos milhares de todos os tipos
De manhã, na neurose, como
Pode ter um dia lindo
Portas abertas mesmo correndo
Lotado até o teto sempre está
Meu irmão vai vendo
Não dá pra agüentar, sim
É o trem que é assim, já estive, eu sei, já estive
Muita atenção, essa é a verdade
Subúrbio pra morrer, vou dizer é mole
Subúrbio pra morrer, vou dizer (é mole)
E agora se liga, você pode crer (é pra gravar, tá ?)
Todo cuidado não basta, porque (um toque)
34 • Juventude e Trabalho
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Juventude e Trabalho • 35
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Te x t o 2 1 / Rotina do jovem
Fonte P http://rappinhood.letras.terra.com.br/letras/70520/
36 • Juventude e Trabalho
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Consumo
TEXTO 14
P
esquisa mostra que o jovem médio Jovens brasileiros são também os que
brasileiro se acha mais considerado pe- mais gostam de televisão e os que menos
lo que adquire do que pelo que ele é. se interessam por política e sociedade.
Os jovens brasileiros se interessam mais Outro dado destacado é o que mostra a
por compras do que os americanos. É o que baixa noção de interdependência das
diz a pesquisa Os Jovens e o Consumo ações do jovem com o mundo em que vive.
Sustentável, feita por dois institutos espe- Quase 60% dos entrevistados disseram
cializados e divulgada pela Fundação Getú- que suas ações não têm impacto no mun-
lio Vargas. O estudo trouxe revelações so- do; 44% opinaram que suas atitudes não
bre como pensa a juventude na hora em influem nem na cidade onde moram; e
que vai às compras, sua percepção da pro- 24% afirmaram que suas ações não cau-
paganda e dos impactos de suas próprias sam impacto nenhum nem em suas pró-
ações – dela, juventude – no meio ambien- prias vidas. Conforme a pesquisa, a gran-
te e na sociedade. de maioria dos jovens brasileiros (59%)
A pesquisa foi elaborada a partir de um acha que o seu trabalho não tem impacto
levantamento realizado pelo Programa das na sociedade, quer dizer, o jovem não se
Nações Unidas para o Meio Ambiente perceberia como parte de um todo. E o
(Pnuma) e pela Organização das Nações consumo seria o principal elo de sua liga-
Unidas para a Educação, Ciência e Cultura ção com o meio em que vive. Finalmente,
(Unesco), no ano 2000, em 24 países. Cer- cerca de 50% disseram que pessoas da
ca de 70% dos jovens brasileiros entrevis- sua idade consomem demais.
tados disseram que se interessam pelo te-
ma compras. Entre os norte-americanos,
país de elevado consumo, o percentual é
menor: 33%. Fonte P http://integracao.fgvsp.br/BancoPesquisa/pesquisas_
Juventude e Trabalho • 37
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Risco social
TEXTO 15
DEUS-DARÁ
O dilema de dar ou
não dar dinheiro aos
meninos no sinal
N
a esquina da minha rua fica sem- do a cabeça e dando um sorriso de con-
pre o mesmo grupo de meninos, fiança, para que eu desça o vidro e ouça.
uns 7 ou 8 anos, com suas caixi- Contam histórias de que precisam de di-
nhas de dropes, ou flanelas amarelas. São nheiro para comprar material escolar, ou
alegres, bonitinhos, a pele queimada, estão sem almoçar, ou vão viajar no fe-
saudáveis, com o corpo de idade indefini- riado. Eles me dizem que estudam, e tra-
da, aquela pequena estatura de criança, balham ali para ajudar a família, e me
mas sem a ingenuidade infantil. Eles dão nomes falsos, mas às vezes escuto os
andam pela cidade sem a companhia de nomes verdadeiros de um ou outro, num
nenhum adulto, parecem rapazinhos, descuido deles. O Fábio, por exemplo, se
mesmo na maneira de andar e falar, bem chama Wellington. Um tem o pai desem-
espertos, astuciosos. Têm agasalhos sur- pregado, outro não tem pai, outro não
rados, mas que dão pro gasto; usam tênis, tem casa, outro não tem nada a não ser a
camisetas, bonés com a aba virada para rua. Quase sempre dou dinheiro. Às vezes,
trás. Quando eles me vêem, correm para compro um iogurte para cada um, outras
a janela do meu carro, na maior alga- vezes cadernos e lápis, ou livros de
zarra. Se o sinal está aberto e passo dire- histórias infantis, ou biscoitos. Mas um
38 • Juventude e Trabalho
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Juventude e Trabalho • 39
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Desemprego juvenil
TEXTO 16
PROCURA-SE TRABALHO
40 • Juventude e Trabalho
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I
nexperiência, indecisão vocacional, bai- anos, aprendeu com a ONG Natal Volun-
xa escolaridade ou falta de oportunida- tários que o caminho é difícil, mas
de. São desafios que a maior parte dos ninguém deve se contentar com menos do
jovens brasileiros tem de enfrentar quan- que deseja. Ele terminou o curso de
do começa a dar os primeiros passos em garçom. “Busquei o setor de turismo,
busca de trabalho. As estatísticas demons- forte na cidade”, conta ele, que antes
tram: só pouco mais da metade dos 34 mi- tentou o mais brasileiro dos sonhos: ser
lhões de jovens entre 15 e 24 anos têm jogador de futebol. Sua meta é ser intér-
algum tipo de ocupação. prete de inglês.
Empregado, subempregado ou de-
sempregado, rico, pobre ou remediado, E a experiência?
nenhum jovem quer ficar onde está. En- A mineira Angelina de Lima Ramos,
tão vamos ver como eles driblam os obstá- 22 anos, passou um ano dando com a
culos para ingressar em um mercado de cara na porta antes de arrumar um
trabalho cada vez mais exigente. emprego: faltava experiência. Conseguiu
o de vendedora de uma loja de luminárias
Iniciativa precoce em Juiz de Fora e faz sua crítica aos obstá-
Alguns têm sorte de encontrar logo o culos: “Como alguém com 16, 17 anos
caminho, como o carioca Edgar Noguei- pode ser experiente se ninguém dá uma
ra. Aos 13 anos de idade ele ganhou um oportunidade? Uma tremenda injustiça”.
computador e inventou um site de busca, “O Brasil tem poucos com muita chan-
o aonde.com. Aos 21 anos, recém-forma- ce e muitos sem nenhuma”, avalia o cario-
do em administração, segue feliz e resol- ca William Sebastião dos Santos Oliveira,
vido com sua empresa e já mantém um 22 anos, que só pôde estudar até a 6a série,
segundo site, o namoro.com. Já a paulis- porque precisou trabalhar cedo para ajudar
ta Débora Tatiana Vilhena, 19 anos, abriu em casa. Agora parece que encontrou sua
mão de alguns sonhos, para preservar vocação. Por meio da Incubadora Afro-
Juventude e Trabalho • 41
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Te x t o 1 6 / Desemprego juvenil
Brasileira, que promove o empreendedoris- vida só tomou outro rumo quando ingres-
mo entre jovens afrodescendentes, desen- sou no Projeto Axé: “O Axé mudou os
volveu sua empresa de grafismo e já vive rumos da minha existência. Percebi poten-
de estampar camisetas e faixas. cialidades em mim mesma que não conhe-
cia. Isso me ajudou a descobrir o que gos-
Vocação elástica tava de fazer. Terminei o curso de moda e
O apicultor gaúcho Francis Leal Batis- virei estilista. Ganhei uma bolsa para estu-
ta, 19 anos, cursa engenharia agrícola dar numa faculdade de moda de Floren-
graças a uma bolsa do Programa Univer- ça, na Itália, e agora quero ser uma profis-
sidade para Todos, do governo federal. sional revolucionária”, conta Luciana.
“Queria ser biólogo, mas não teria condi-
ções de pagar a faculdade. Aqui, encon- Escolha o caminho
trei minha vocação e tenho muito mais Em São Paulo, o projeto Cidade Esco-
mercado”, comemora. la Aprendiz também está dando muito
Com pouco estudo e sem experiência, certo. Participante da primeira turma do
a cearense A. G. F, de 19 anos, sente na Aprendiz, a paulistana Mônica Alves, de
pele as dificuldades de ingressar no merca- 23 anos, formou-se em arquitetura e
do de trabalho. “Fiz até a 7a série e depois trabalha na restauração de prédios no
que engravidei não deu para continuar os centro de São Paulo: “O Aprendiz me fez
estudos. Quando meu filho nasceu, não acreditar que eu poderia conseguir fazer
tinha com quem deixá-lo e por isso não o que gostava. O problema de alunos de
procurei emprego”, diz ela, que conta com escolas públicas, como era o meu caso, é
a ajuda da avó para sobreviver. não saber como concretizar os seus
sonhos”.
Das ruas para o céu
Por muito pouco a baiana Luciana Difícil acesso
Xavier, de 21 anos, não engrossou o triste Os jovens portadores de necessidades
exército de desalentados. Dos 2 aos 14 especiais ainda têm dificuldades maiores.
anos, ela viveu nas ruas de Salvador, pe- Embora a legislação brasileira exija que
dindo esmola, dormindo ao relento. Sua empresas maiores reservem pelo menos 5%
42 • Juventude e Trabalho
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Juventude e Trabalho • 43
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Desemprego juvenil
TEXTO 17
PRIMEIROS
PASSOS
Os jovens têm a
solução, mas
quem os procura?
H
á mais de 1 bilhão de pessoas no Enquanto para alguns a globalização e a
mundo que têm entre 15 e 25 anos tecnologia oferecem novas oportunidades de
de idade. Oitenta e cinco por cento trabalho, para muitos jovens estas mesmas
desses jovens vivem em países em desen- tendências aumentam a dificuldade de
volvimento, como o Brasil, onde muitos arranjar emprego – sendo que a discrimi-
deles estudam, trabalham, e vivem na nação contra jovens mulheres é ainda maior.
extrema pobreza. Jovens pobres ou sem perspectivas
Calcula-se que existam 180 milhões encontram-se em maior risco de serem
de desempregados no planeta, sendo que, atraídos para comportamentos socialmente
desses, 74 milhões são jovens. destrutivos. A sua energia, sua capacidade
Um número ainda maior de pessoas, para a inovação e as suas aspirações são
jovens e adultos, enfrenta longas jornadas bens que a sociedade não pode desperdiçar.
de trabalho informal, lutando para con-
seguir sua subsistência. Adaptado do site: http://www.oitbrasil.org.br
44 • Juventude e Trabalho
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Risco social
TEXTO 18
Fonte P
Saúde do jovem
TEXTO 19
HIV E
TRABALHO
Em outubro de 1998, foi publicada uma
Portaria do Ministério da Saúde, criando o
Conselho Empresarial Nacional de Preven-
ção ao HIV/Aids no Local de Trabalho.
A
epidemia do HIV/Aids está afetando O Conselho tem como objetivo apoiar
profundamente a estrutura social, a resposta nacional frente à epidemia e
cultural e econômica, constituindo- viabilizar ações de sensibilização, mobiliza-
se em uma grave ameaça ao mundo pro- ção, difusão de conhecimento sobre pre-
dutivo, na medida que afeta a força de tra- venção da Aids e a promoção da saúde
balho, impõe altos custos a empresas de junto às empresas.
todos os setores, diminui a produtividade, Ao reconhecer que o problema do HIV/
aumenta os custos trabalhistas e acarreta a Aids é, também, uma questão do local de
perda de capacidades e experiências. Esti- trabalho, a OIT criou, em novembro de
mativas da Organização Internacional do 2000, o “Programa da OIT sobre HIV/Aids
Trabalho indicam que, hoje, pelo menos 25 e o Mundo do Trabalho”. O objetivo do Pro-
milhões de trabalhadores, entre 15 e 49 grama é contribuir para a contenção da
anos de idade, estão infectados com HIV pandemia, sistematizando informações so-
em todo o mundo. bre o seu impacto no mundo do trabalho,
Diante destes fatos, a Coordenação combatendo a discriminação e a exclusão,
Nacional de DST/Aids vem promovendo desenvolvendo campanhas de conscientiza-
ações sobre este tema no local do trabalho. ção e prestando assessoria a seus membros.
46 • Juventude e Trabalho
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Juventude e Trabalho • 47
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Participação política
TEXTO 20
E
nquanto projetamos sobre a juven- juvenil existentes no Brasil. Não se pode
tude o desencanto com as eleições pensar nos grêmios estudantis, nos centros
atuais, presente em uma parcela da acadêmicos, nas juventudes partidárias e
sociedade brasileira, as informações sobre sindicais de hoje com os olhos de décadas
o alistamento eleitoral, divulgadas recen- atrás. Hoje – distinguindo-se e/ou identifi-
temente pelo TSE mostram um aumento cando-se com aqueles espaços usuais da
de 39%, em relação a 2002, do número de política – há posses de Hip-Hop, há jovens
eleitores de 16 e 17 anos, faixa etária em reunidos em diferentes tipos de ONGs e em
que o voto é facultativo. Foi nesta faixa movimentos sociais específicos. Redes de
etária o maior crescimento proporcional de jovens mulheres, da juventude negra e
eleitores. Certamente estes números não indígena, de jovens rurais, de jovens pela
falam por si, mas eles são no mínimo intri- livre orientação sexual, de jovens com defi-
gantes (e fornecem uma pauta e tanto para ciência atuam buscando inscrever seus
meios de comunicação). Com a mesma direitos em diferentes espaços. A Rede dos
indagação na cabeça, vale citar a pesquisa Jovens do Nordeste, que há anos tem feito
Juventudes Brasileiras, recentemente di- uma campanha pelo voto consciente, se
vulgada pela Unesco, que revela que 68,8% organiza através do recorte regional.
dos jovens de 15 a 29 anos acreditam que Grupos culturais, religiosos e esportivos
o voto pode mudar a situação do país e que também fazem parte de um cardápio
66,6% deles afirmaram não ser aceitável amplo e plural. Mas há momentos em que
não votar nas eleições. as fronteiras (sociais e identitárias) exis-
Por outro lado, a despeito das estatísti- tentes entre eles se suspendem produzindo
cas que buscam dar conta do todo, há mui- combinações inéditas e desafiantes inter-
48 • Juventude e Trabalho
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A nova geração de
eleitores: a jovem
Roberta Galvão,
18 anos, votando
pela primeira vez,
nas eleições
nacionais de 2002.
Juventude e Trabalho • 49
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Participação política
TEXTO 21
MUDANÇA DE
ESTILO
Jovens continuam
participando da política,
mas de outras formas,
aponta pesquisa
Foto: Marcelo Ximenez / AE
U
m em cada três jovens brasileiros da Costa, em entrevista ao programa Revis-
participa de algum tipo de organi- ta Brasil, da Rádio Nacional.
zação social. São grupos religiosos, Essa realidade se reflete nos números.
de hip-hop, de grafiti, que não são vistos Dos 8.000 jovens entrevistados, em oito
tradicionalmente como organizações polí- regiões metropolitanas, 28% fazem parte
ticas. Mas atualmente essas têm sido as de algum grupo. Mas apenas 1% desses
formas de participação social dos jovens jovens participam de algum partido políti-
brasileiros. co. E apenas 0,7% está filiado a algum
As avaliações fazem parte de uma sindicato.
pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de A principal forma de participação é em
Análises Sociais e Econômicas (Ibase) e grupos religiosos (15%), seguida das asso-
pelo Instituto Pólis de Estudos e Assessoria ciações esportivas (8%) e de grupos artísti-
em Políticas Públicas. cos (8%). Para Ozanira da Costa, o resultado
“Apesar de se comentar que o jovem mostra a importância dos três temas – reli-
brasileiro está em apatia, a pesquisa aponta gião, esporte e cultura – para a juventude.
um grande nível de participação juvenil”, Um em cada cinco jovens respondeu
destaca Ozanira da Costa, uma das coorde- “sim” à pergunta “Você já participou de
nadoras do estudo. Apesar disso, os jovens algum movimento ou reunião para melho-
têm buscado novas formas de participar da rar a vida do seu bairro ou da sua cidade?”.
vida política, já que há um descontenta- Desse público que já havia participado de
mento grande com as formas tradicionais alguma mobilização, 40% tinha como obje-
de participação, como partidos, sindicatos e tivo melhorar ou criar uma área de lazer
50 • Juventude e Trabalho
21•CA03BT28P2.qxd 12/13/06 8:48 PM Page 51
Grupo que faz trabalho voluntário com crianças na Escola do Retiro, em Pirituba. Na foto, da esquerda
para a direita: Luana dos Santos, Paulo França, DJ Dudu, Domingos Lima e Adevaldo de Souza.
ou esporte. Os outros motivos foram segu- jovens se informam pela televisão. (...) Os
rança (34%), melhora de saneamento jovens não têm acesso e as escolas não esti-
(29%) e de postos de saúde (27%). mulam temas da atualidade”.
Duas das chaves para essa participa- A pesquisa dos institutos Pólis e Ibase
ção, segundo a pesquisadora, são a renda e foi feita em dois períodos: julho de 2004,
o grau de educação dos jovens. A pesquisa pouco antes das eleições municipais, e
revelou que quanto maior a renda do novembro de 2005, período da crise polí-
jovem, maior seu grau de participação em tica que atingiu o Congresso Nacional.
organizações sociais. O mesmo vale para o Foram entrevistadas 8 mil pessoas de 15
grau de instrução. a 24 anos das regiões metropolitanas de
“A grande ligação para que o jovem Belém, Belo Horizonte, Porto Alegre,
possa participar mais da vida política e da Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São
sociedade é a educação”, afirma. “Mas o Paulo e Distrito Federal.
jovem pobre tem uma grande dificuldade Depois da pesquisa quantitativa,
de acesso à educação e não tem estímulo. foram escolhidos 900 jovens para uma
Já o jovem com renda familiar melhor pesquisa qualitativa. Segundo Ozira da
tem condição de ir a uma escola particu- Costa, foi usado um método canadense
lar e lá tem mais acesso à informação e chamado de Grupos de Diálogo. São
mais estímulo para participar da vida formados grupos de discussão sobre
política do país”. alguns temas para descobrir a opinião dos
A falta de acesso à informação é outro entrevistados sobre cada assunto.
obstáculo à participação, segundo a pesqui-
sadora. “A pesquisa mostrou que 85% dos Extraído do site: http://ww.radiobras.gov.br
Juventude e Trabalho • 51
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Participação política
TEXTO 22
52 • Juventude e Trabalho
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Ser jovem
TEXTO 23
SONETO DE
JUVENTUDE
Dessa juventude serei vivente,
A alma eterna da vida, a minha prece,
Que de sonho e conquistas enriquece,
O ontem, o hoje, o amanhã e eternamente.
Se na rebeldia do inconsciente,
Encontra-se o desejo que estremece,
Amar, lutar, vencer, poder ser gente,
Juventude e Trabalho • 53
24•CA03BT29P2.qxd 12/13/06 8:52 PM Page 54
Necessidades Especiais
TEXTO 24
CONSELHO NACIONAL
DE JUVENTUDE APROVA
POR ACLAMAÇÃO CARTA
SOBRE ACESSIBILIDADE
O Conselho Nacional de Juventude aprovou por aclamação a
Carta de Março, que discute a acessibilidade e inclusão social
de jovens com deficiências.
A
partir da situação de discriminação Marcelo Yuka
vivida pelo cantor e compositor
Marcelo Yuka – ex-baterista da banda
O Rappa e hoje membro do Conjuv – em
setembro de 2005, denunciada e documen-
tada pela Escola de Gente – Comunicação
em Inclusão, publicada no jornal O Globo, o
Conselho se mobilizou e solicitou à organi-
zação que redigisse um documento discu-
tindo o tema acessibilidade para pessoas
com deficiência. Abaixo, a carta:
Acessibilidade
A Organização das Nações Unidas
(ONU) aponta que existem 600 milhões de
Foto: Wilon Junior / AE
54 • Juventude e Trabalho
24•CA03BT29P2.qxd 12/13/06 8:52 PM Page 55
palmente crianças e jovens, vivem abaixo cinema, material em braile e sites com aces-
da linha da pobreza. Dados do Banco Mun- sibilidade de acordo com padrões nacional
dial apontam que pelo menos 79 milhões de e internacional.
indivíduos com deficiência estão na Améri- Agências de cooperação internacional,
ca Latina e no Caribe, dos quais 24 milhões programas de investimento social corporati-
no Brasil, de acordo com o Censo 2000 do vo e políticas públicas governamentais e
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísti- não-governamentais continuam apostando
ca (IBGE). primeiro na busca de soluções para a pobre-
Por que, então, atender às necessida- za e, só depois, para a deficiência – enfoque
des específicas de pessoas com deficiên- que não vem trazendo os resultados espera-
cia ainda é considerado custo e não inves- dos. A conseqüência desse modo dicotômi-
timento pela maioria dos especialistas em co de perceber a juventude de um país é a
políticas públicas? falta de convivência de jovens com e sem
Por que as políticas públicas continuam deficiência e a perpetuação de práticas secu-
tratando pobreza e deficiência como ques- lares de discriminação. Grande parte dos
tões isoladas? projetos de juventude no Brasil continua
De que modo as necessidades específi- discriminando jovens com deficiência por
cas da deficiência podem mudar o rumo de absoluta inconsciência e desconhecimento.
programas e projetos de desenvolvimento, No dia 2 de dezembro de 2004, o gover-
como o combate à miséria e à fome? no federal atendeu uma demanda histórica
No Brasil, mais da metade de crianças, dos movimentos sociais que defendem os
adolescentes e jovens com deficiência é direitos de pessoas com deficiência: assinou
pobre (conforme dados da ONU) e rara- o Decreto Federal nº 5.296, regulamentan-
mente consegue participar de programas do as leis nos 10.048/00 e 10.098/00 e esta-
sociais em suas comunidades. Não costuma belecendo normas gerais e critérios básicos
haver previsão de recursos no orçamento para a promoção da acessibilidade das
desses projetos – governamentais, não- pessoas com deficiência ou mobilidade
governamentais e privados – para garantir reduzida (gestantes, pessoas com crianças
a jovens com deficiência, direitos humanos de colo, pessoas com idade igual ou supe-
como o de ir e vir e o de se comunicar. Direi- rior a sessenta anos, pessoas obesas, entre
tos garantidos por meio de ajudas técnicas outras situações).
previstas em leis como intérprete da Língua A regulamentação dessas leis represen-
Brasileira de Sinais (Libras), legendagem tou um passo decisivo para a cidadania e
em programas de televisão e sessões de inclusão de crianças, jovens, adultos (as) e
Juventude e Trabalho • 55
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Te x t o 2 4 / Necessidades Especiais
idosos (as) com deficiência ou mobilidade brasileiros (as) como sujeitos de todo e
reduzida, garantindo que o acesso à educa- qualquer direito, entre eles, direito à parti-
ção, à saúde, ao trabalho, ao lazer, ao turis- cipação em todos os processos que lhes inte-
mo e à cultura contemple a diversidade ressem direta e indiretamente.
humana. O decreto trata de cinco eixos A partir dessa conjuntura, a presidên-
principais: acessibilidade no meio físico; cia da República lançou no ano de 2005
acessibilidade nos sistemas de transportes uma política nacional para a juventude,
coletivos terrestres, aquaviários e aéreos; criando a Secretaria Nacional de Juventude
acessibilidade na comunicação e na infor- e o Conselho Nacional de Juventude. Estas
mação; acesso às ajudas técnicas; e existên- decisões refletem um sistemático processo
cia de um programa nacional de acessibili- de aprendizado e reflexão do governo, so-
dade com dotação orçamentária específica. ciedade civil, parlamento e organismos de
A legislação brasileira é um exemplo mun- cooperação internacional no tema; mas
dial com relação à inclusão de pessoas com crianças, adolescentes e jovens com defici-
deficiência, o principal desafio é divulgá-la ência no nosso país continuam, na maioria
e colocá-la em prática, comprometendo das vezes, invisíveis para profissionais de
todos os segmentos da sociedade brasileira todos esses setores. Não estão assegurados
neste processo. recursos e investimentos federais suficien-
Relacionando as questões da juventude tes em todas as áreas de atuação de políti-
com as específicas da deficiência, temos um cas públicas de modo a criar condições reais
panorama inédito. O país tem no momento de inclusão de pessoas com deficiência na
a maior geração de jovens de todos os saúde, na escola, no trabalho, no transpor-
tempos: são 48 milhões de brasileiros (as) te, na cultura, no esporte, no lazer e no
com idade entre 15 e 29 anos. Ao mesmo acesso à comunicação e à informação.
tempo, cresceu no país a percepção de que O Conselho Nacional de Juventude já
é preciso construir políticas públicas inclusi- se posicionou com relação à acessibilidade
vas para esse segmento, ou seja, abertas à e à inclusão de pessoas com deficiência no
diversidade, contemplando as característi- Brasil a partir da denúncia feita pela Escola
cas e as necessidades inerentes das infinitas de Gente – Comunicação em Inclusão, orga-
juventudes, entre elas aquela formada por nização da sociedade civil que participa do
jovens com qualquer tipo de deficiência, Conselho, publicada no jornal O Globo, na
hoje com baixíssima escolaridade. Nesse coluna Ancelmo Góis, em 27 de setembro
contexto, vem ganhando legitimidade como de 2005. A nota relata atos de discrimina-
assunto estratégico e de relevância nacional ção contra o músico e poeta Marcelo Yuka,
a urgência em reconhecer os (as) jovens também membro do Conselho, durante
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Apresentação de
caopeira com
crianças deficientes
na inauguração da
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Cultura juvenil
TEXTO 25
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Xxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxx • 59
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Risco social
TEXTO 26
A REDUÇÃO
SÓ
COMPLICA
Uma reflexão sobre as propostas de redução
da idade penal em períodos eleitorais
as distorções em torno da responsabiliza-
ção penal dos adolescentes. A medida
Ariel Alves refletiria, necessariamente, no aumento
da criminalidade – e não o contrário, co-
mo pugnam seus defensores. Vejamos sin-
N
os últimos anos, temos visto com
freqüência, principalmente nos teticamente algumas das principais ques-
períodos eleitorais, campanhas e tões que envolvem o polêmico assunto:
projetos de lei sobre a redução da idade
• Um recente levantamento da Secretaria
penal e o aumento do tempo de interna-
de Segurança Pública do Estado de São
ção para adolescentes infratores. Essas
Paulo mostrou que os adolescentes são
campanhas e projetos são patrocinados
responsáveis por apenas 1% dos homicí-
por setores políticos que demonstram
dios praticados no estado e por menos de
notória atuação reacionária e oportunis-
4% do total de crimes;
ta. Também participam familiares de víti-
mas de crimes praticados por adolescen- • Pelo contrário, os jovens são as principa-
tes – que movidas, justificadamente, por is vítimas da violência no Brasil. Confor-
forte emoção e dor, defendem a redução me uma pesquisa realizada em 1999
da inimputabilidade penal ou até a morte pelo Movimento Nacional de Direitos
dos jovens autores de crimes. Humanos, para cada adolescente que
Porém os signatários da campanha comete um crime, outros quatro são víti-
desconhecem ou preferem não conhecer as mas de crimes praticados por adultos
verdadeiras causas da violência no Brasil e contra eles. Um recente relatório da
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Te x t o 2 6 / Risco social
Menores presos
almoçam no
Instituto Padre
Severino, na Ilha
do Governador,
Rio de Janeiro.
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Cultura juvenil
TEXTO 27
A VERDADEIRA DANÇA DO
PATINHO
BNegão
http://www.midiaindependente.org/pt/red/2004/06/283492.shtml
Juventude e Trabalho • 63
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Expediente
Comitê Gestor do Projeto
Timothy Denis Ireland (Secad – Diretor do Departamento da EJA)
Cláudia Veloso Torres Guimarães (Secad – Coordenadora Geral da EJA)
Francisco José Carvalho Mazzeu (Unitrabalho) – UNESP/Unitrabalho
Diogo Joel Demarco (Unitrabalho)
Coordenação do Projeto
Francisco José Carvalho Mazzeu (Coordenador Geral)
Diogo Joel Demarco (Coordenador Executivo)
Luna Kalil (Coordenadora de Produção)
Equipe Pedagógica
Cleide Lourdes da Silva Araújo
Douglas Aparecido de Campos
Eunice Rittmeister
Francisco José Carvalho Mazzeu
Maria Aparecida Mello
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Equipe de Consultores (Câmara Brasileira do Livro. SP, Brasil)
Ana Maria Roman – SP Juventude e trabalho / [coordenação do projeto
Antonia Terra de Calazans Fernandes – PUC-SP Francisco José Carvalho Mazzeu, Diogo Joel Demarco,
Armando Lírio de Souza – UFPA – PA Luna Kalil]. -- São Paulo : Unitrabalho-Fundação
Interuniversitária de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho ;
Célia Regina Pereira do Nascimento – Unicamp – SP Brasília, DF : Ministério da Educação. SECAD-Secretraria de
Eloisa Helena Santos – UFMG – MG Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2007,
Eugenio Maria de França Ramos – UNESP Rio Claro – SP -- (Coleção Cadernos de EJA)
Equipe editorial
Preparação, edição e adaptação de texto: Pesquisa iconográfica e direitos autorais:
Editora Página Viva Companhia da Memória