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Juventude
e Trabalho
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Apresentação

A o longo de sua história, o Brasil tem enfrentado o problema da exclusão social que
gerou grande impacto nos sistemas educacionais. Hoje, milhões de brasileiros ainda
não se beneficiam do ingresso e da permanência na escola, ou seja, não têm acesso a um
sistema de educação que os acolha.
Educação de qualidade é um direito de todos os cidadãos e dever do Estado; garantir o
exercício desse direito é um desafio que impõe decisões inovadoras.
Para enfrentar esse desafio, o Ministério da Educação criou a Secretaria de Educação
Continuada, Alfabetização e Diversidade – Secad, cuja tarefa é criar as estruturas necessárias
para formular, implementar, fomentar e avaliar as políticas públicas voltadas para os grupos
tradicionalmente excluídos de seus direitos, como as pessoas com 15 anos ou mais que não
completaram o Ensino Fundamental.
Efetivar o direito à educação dos jovens e dos adultos ultrapassa a ampliação da oferta
de vagas nos sistemas públicos de ensino. É necessário que o ensino seja adequado aos que
ingressam na escola ou retornam a ela fora do tempo regular: que ele prime pela qualidade,
valorizando e respeitando as experiências e os conhecimentos dos alunos.
Com esse intuito, a Secad apresenta os Cadernos de EJA: materiais pedagógicos para o
1.º e o 2.º segmentos do ensino fundamental de jovens e adultos. “Trabalho” será o tema da
abordagem dos cadernos, pela importância que tem no cotidiano dos alunos.
A coleção é composta de 27 cadernos: 13 para o aluno, 13 para o professor e um com
a concepção metodológica e pedagógica do material. O caderno do aluno é uma coletânea
de textos de diferentes gêneros e diversas fontes; o do professor é um catálogo de ativi-
dades, com sugestões para o trabalho com esses textos.
A Secad não espera que este material seja o único utilizado nas salas de aula. Ao con-
trário, com ele busca ampliar o rol do que pode ser selecionado pelo educador, incentivan-
do a articulação e a integração das diversas áreas do conhecimento.

Bom trabalho!

Secretaria de Educação Continuada,


Alfabetização e Diversidade – Secad/MEC
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Sumário

TEXTO Subtema

1. Para quem não tem experiência Relicostumes 6


2. Cinco dias por dois 8
3. A fome do lobo Diversidades regionais 10
4. Formación y empleo Maturidade social 13
5. O jovem e o adolescente Miscigenação 14
6. O que é grafite? Crítica social 16
7. O primeiro emprego Trabalhadores 18
8. The british are coming! Cultura suburbana 20
9. Desempregado, sim, desocupado, nãoa luta dos negros 24
10. De norte a sul Ambiente de trabalho 26
11. O aprendiz Identidade nacional 31
12. Juventude rural: ampliando as oportunidades Ambiente de trabalho 32
13. O trem Índios do Brasil 34
14. O jovem e suas comprasImigração e culinária 37
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15. Deus-dará Direitos civis 38


16. Procura-se trabalho Origens dos trabalhadores 40
17. Primeiros passosÍndios do Brasil 44
18. Se liga, mano! 45
19. HIV e trabalho Olhos da alma 46
20. Para além dos ovos e tomates Arte culinária 48
21. Mudança de estiloArte culinária 50
22. Nada é impossível de mudarArte culinária 52
23. Soneto de juventude Arte culinária 53
24. Conselho nacional de juventude aprova por aclamação carta

sobre acessibilidade Arte culinária 54


25. Ensaio: Bruno Miranda Arte culinária 58
26. A redução só complica Arte culinária 60
27. A verdadeira dança do patinho Arte culinária 63
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Desemprego juvenil
TEXTO 1

PARA
QUEM
NÃO
TEM EXPERIÊNCIA
6 • Juventude e Trabalho
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Desempregados de até 24 anos acima do limite legal, colaborando para o


enfrentam dificuldades na hora afastamento dos bancos escolares. Além do
de entrar no mercado de trabalho que, o rendimento recebido pelos jovens
varia entre um e dois salários mínimos.
A falta de uma perspectiva profissional
Paulo Paim para os milhares de jovens brasileiros é um
fator preponderante de desagregação so-

P
esquisas divulgadas pelo Depar- cial e de aumento da criminalidade. Basea-
tamento Intersindical de Estatística e dos nestes dados, concluímos que é preciso
Estudos Socioeconômicos – DIEESE, fomentar a economia brasileira e gerar os
sobre emprego e desemprego, denunciam empregos de que o país precisa.
que os jovens representam 45,5% dos Um dos maiores especialistas em
desempregados, quase metade de todos os desemprego do país, Márcio Pochmann, em
desempregados do país. uma entrevista dada em 2000, já alertava
Segundo o DIEESE, dos 3,2 milhões de sobre o assunto dizendo o seguinte:
desempregados pesquisados nas regiões “Como há pessoas disponíveis e não há
metropolitanas de São Paulo, Belo Hori- vagas para serem ocupadas, isso gera um
zonte, Porto Alegre, Salvador, Recife e acirramento da competição no interior do
Distrito Federal, 1,5 milhão são jovens de mercado de trabalho. Os postos de traba-
até 24 anos. lho que eram tradicionalmente ocupados
A população economicamente ativa pelos jovens estão sendo hoje ocupados por
com mais de 16 anos é minoria entre os adultos. É por isso que as empresas dizem
que conquistaram um posto de trabalho. A que o jovem não tem preparação.”
fase mais crítica compreende o período No mundo inteiro, hoje, temos o
entre os 16 e os 24 anos. Justamente por- maior número de adolescentes de toda a
que é esta a fase da vida que coincide com história da humanidade. Por isso, preci-
a conclusão de uma formação e a busca de samos investir nos jovens, promover o seu
uma vaga no mercado de trabalho. desenvolvimento, criar perspectivas favo-
Sabemos que a necessidade de uma ráveis para o seu futuro e apoiar sua
colocação no mercado de trabalho, muitas participação integral na sociedade.
vezes, atrapalha e desestimula a continui-
dade dos estudos, ampliando os números
da evasão escolar.
Neste sentido, a pesquisa demonstra que
os jovens trabalham com uma carga horária Adaptado de discurso pronunciado em 14 de setembro de 2006

Juventude e Trabalho • 7
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Rotina do jovem
TEXTO 2

CINCO DIAS Rhun a | Co mp os içã o: Al ex Ma rtinho/Rafael de Castro

Carlos é um cara ocupado com a vida


Que rala todo dia pelo pão de cada dia
E não tem tempo pra nada, só estudo e trabalho
Cada hora é apenas mais uma volta do relógio
Que ele olha apressado pra ver se tá na hora da aula do cursinho
Que ele acredita possa trazer uma nova vida
E só deve trazer ainda mais agulhação

Mas quando chega o fim de semana é hora de tudo mudar


Põe a camisa sem manga, expõe a tattoo e sai pra provocar

Ele vai arrepiar


Se der mole quebra tudo, quer extravasar
Ela chega e vem pra provocar
Sai de baixo, ele não perdoa, chega junto

Oh, oh, oh, uh, oh, chega junto, fica junto, quebra tudo

8 • Juventude e Trabalho
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POR DOIS
Carolina só estuda o dia todo trancada no seu quarto
O dia passa e nada faz ela olhar o sol
"Eu preciso passar", pensa ela o tempo todo
O stress e o sono não importam
A hora corre mas ela nem olha pro relógio
Quando nota o dia já se foi
E amanhã vai ser tudo outra vez

Mas quando chega o fim de semana é hora de tudo mudar


Põe a maquiagem, o vestido colado, e parte pra night pra provocar

As máscaras caem no fim de semana


É hora do show particular

Extraído do site: http://rhuna.letras.com.br/letras/513896/

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Risco social
TEXTO 3

A FOME DO LOBO A polícia e a justiça transformam


infratores em criminosos e vítimas

Ana Miranda

A
mãe me ligou desesperada. O filho estava preso na
Papuda, um presídio em Brasília onde ficam os que
cometem crimes os mais horríveis, aqueles que per-
deram os tênues fios que os laçariam para uma vida com-
preendida, aceita por todos. Ah, aquele rapaz é bom, ele é
trabalhador, ele não faz mal a ninguém, é pobre mas não
incomoda! Ah, aquele ali é melhor que desapareça, que
morra! O rapaz tem cerca de 30 anos, mas é como se tives-
se 100 anos, porque muito se gastou. A mãe, essa tem mil
anos (o outro filho caiu na droga, como viver num lugar
assim e preservar os filhos?). Aos 20, o rapaz envolveu-se com
uma gangue que roubava toca-fitas de carros. Mãe e filhos
moram na cidade-satélite do Guará, periferia de Brasília, guará
é o nome de um lobo, lindo, vermelho de pernas altas e negras,
e seu uivo parece o grito de uma pessoa pedindo socorro. Um
dia, a polícia bateu na casa daquela mãe atônita, sem recursos
de nenhuma espécie, e encontrou no quarto do rapaz peças
roubadas. Ele foi preso, sofreu torturas na delegacia – arran-
caram unhas das suas mãos e pés, diz a mãe, com a dor de
uma madona, mas como se expiasse a culpa de ter um filho
errado, de agressor ele passou a vítima, de mãe de um agres-
sor ela se tornou a mãe de uma vítima. Foi bom para ele apren-
der, ela diz, conformada. O filho foi para a prisão. Um rapaz
quieto, que nunca levanta a voz, com cara de sonso.

10 • Juventude e Trabalho
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Como teve bom comportamento, deixaram que cumpris-


se a pena em casa, e ele não se apresentou mais à Justiça,
sendo considerado foragido. A mãe teve um longo e árduo
trabalho para recuperar o filho, sem a ajuda de ninguém,
só a do próprio filho. Com o tempo foram conseguindo. O
filho não arrumava emprego em lugar nenhum, mas passou
a vender cachorro-quente na porta de uma escola, a prepa-
rar churrascos em sítios, ah, se os burgueses soubessem que
o churrasqueiro era um “foragido”, e acabou por comprar
ele mesmo uma carrocinha de cachorro-quente, casou, teve
filhos, tornou-se um pai, um marido, um trabalhador. Há
pouco tempo conseguiu afinal o dinheiro para seu sonho,
que era comprar um carro. Encontrou um com preço ótimo
e o comprou, mas, quando foi atrás dos documentos, soube
que o carro tinha problemas, talvez fosse roubado. Ele e a
mãe procuraram a mulher que lhes vendera o carro, ele
exigiu o dinheiro de volta, mas a mulher negava que o carro
fosse roubado e não quis desfazer o negócio. Ao passar por
uma blitz numa das ruas de Brasília, o rapaz se lembrou de

Juventude e Trabalho • 11
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Te x t o 3 / Risco social

sua condição, e sem os documentos do carro apavorou-se,


acelerou, tentou escapar. Perseguido pela polícia, detido,
acabou numa delegacia. Foi bom para ele aprender, repetiu
a mãe. Constataram sua condição diante da Justiça e o
enviaram para a Papuda. Então, a mãe me ligou.

Essa história é a história mais comum nas nossas peri-


ferias. Com a diferença de que o rapaz foi recuperado para
viver na sociedade sem incomodar ninguém, tornou-se uma
pessoa útil. O mais comum é que os jovens se enredem cada
vez mais na trama do crime, nesse submundo que permeia
todas as nossas classes sociais, mas principalmente nos
lugares onde os lobos gritam por socorro. Eu soube, dias
atrás, que o rapaz conseguiu a prisão domiciliar e está
novamente vendendo seus cachorros-quentes e fazendo
churrascos, vivendo com a família, mas dorme na prisão.
Essa história faz pensar em quantos outros jovens devem
estar em situação semelhante, com histórias de vida pare-
cidas, mas sem alguém para lhes dar um oriente. Fiquei
sabendo que existe em Brasília uma organização ligada a
direitos humanos que trata desses casos, e com muita
competência. Existe uma fronteira entre o criminoso e o
quase criminoso, digamos assim, e é este último quem mais
merece atenção e apoio, não somente as penas alternati-
vas, mas um trabalho diário e extenuante, como o daquela
mãe que aprendeu a conhecer a fome do lobo.

Extraído da revista Caros Amigos nº 91.


Ana Miranda é escritora, autora de Boca do Inferno,
Desmundo, Amrik, Dias & Dias, Deus-dará, entre outros livros.

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Desemprego juvenil
TEXTO 4

FORMACIÓN
Y EMPLEO Un cuarto de los
jóvenes brasileños
no trabaja ni estudia

E
l 27% de los jóvenes brasileños
entre 15 y 24 años que vive en las
grandes regiones urbanas del país
no trabaja ni estudia, según encuestas GLOSARIO
realizadas en las principales regiones
Acceder. ter acesso a, alcançar algo
metropolitanas del país.
Empleo. emprego
Muchas veces, a causa de la dificultad Encuesta. pesquisa de opinião
de encontrar un empleo, los jóvenes se Hasta. até
desaniman y dejan de buscar hasta que la Laboral. de trabalho
situación del país mejore. Otros pueden Mejorar. melhorar
estar estudiando en casa o haciendo cursos Ninguna. nenhuma
esporádicos. Queja. queixa
Una queja común consiste en la
restricción del mercado de trabajo. Sin
inserción laboral posible, nunca se ten-
drá la experiencia solicitada para acce-
Extraído do site http://www.ilo.org/public/spanish/region/ampro/
der a un empleo. cinterfor/temas/youth/rec_dif/jov_bra.htm

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Ser jovem
TEXTO 5

O JOVEM E
O ADOLESCENTE
E
mbora muitas vezes tidas como si- idade, mas aos conceitos, demonstrando
nônimos, juventude e adolescência processos de naturezas distintas.
têm significados distintos, ainda que Mais comum ainda do que falar da
superpostos. adolescência e da juventude como a mesma
A Organização das Nações Unidas coisa é se referir indistintamente aos que
(ONU) define como jovens as pessoas entre vivem esses períodos como adolescentes ou
15 e 24 anos. jovens. Como se observa em reportagens,
A Organização Mundial de Saúde em conversas informais e até mesmo em
(OMS) entende que a adolescência é um textos teóricos. Também pode ser verifica-
processo biológico, que vai dos 10 aos 19 do nas definições encontradas no dicioná-
anos de idade, abrangendo a pré-adoles- rio Aurélio, por exemplo (veja boxe).
cência (10 a 14 anos) e a adolescência Embora a juventude possa ser conside-
propriamente dita (15 a 19 anos). Já a rada uma categoria social que agrupa os
juventude é considerada uma categoria que compartilham a mesma fase de vida, é
sociológica que implica a preparação dos preciso ficar atento à multiplicidade de
indivíduos para o exercício da vida adulta, experiências que se reúnem sob essa deno-
abrangendo a faixa dos 15 aos 24 anos de minação. Será que podemos falar numa
idade. As diferenças entre adolescência e mesma experiência juvenil vivida por um
juventude, portanto, não se limitam à jovem morador do sertão nordestino, e por

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Segundo o mestre
Juventude - 1. Idade moça; mocida-
de, adolescência, Juventa. 2. a gente
moça; mocidade. 3. fase do ciclo de
um lago na qual este recebe mais água
do que perde e por isso tem maior
duração.

Adolescência - 1. 0 período da vida


humana que sucede à infância, come-
ça com a puberdade, e se caracteriza
por uma série de mudanças corporais
e psicológicas (estende-se aproxima-
damente dos 12 aos 20 anos).

Jovem - 1. Que é moço, que está na


um jovem que reside num grande centro
Foto: Xxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxx
idade juvenil; juvenil. 2. produzido ou
urbano? Certamente não. criado pelos jovens, pela juventude. 3.
A classe social, a condição étnica e de diz-se do animal de tenra idade.
gênero, a presença ou não no mercado de
trabalho e na escola, a moradia – urbano Adolescente - 1. Que está na adoles-
cência. 2. Fig. Que está no começo, no
ou rural – a situação familiar e a orientação
início; que ainda não atingiu todo o
religiosa são fatores que vão diferenciando
vigor. 3. De pouco tempo; novo: "Plan-
internamente esse grupo que chamamos de tei, com a minha mão ingênua e
juventude. Afinal, dois jovens negros, por mansa, / Uma linda amendoeira ado-
exemplo, que possuam diferentes condições lescente". (Raul de Leoni, Luz Medi-
econômicas terão provavelmente experiên- terrânea, p. 65). 4. Próprio do adoles-
cias juvenis muito diferentes. cente: "D. Camila prolongou, quanto
Por isso, ao falar das experiências de pôde, os vestidos adolescentes da
filha." (Machado de Assis, Histórias
vida juvenis propriamente ditas, é preciso
sem data, p. 122). 5. Pessoa que está
reconhecer uma multiplicidade – o que nos
na adolescência.
leva a falar de juventudes, no plural.

Extraído do site: http://www2.uol.com.br/aurelio


Extraído do livro Diálogos com o mundo juvenil / Ana Paula
Corti e Raquel Souza / Ação educativa, 2005

Juventude e Trabalho • 15
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?
Cultura juvenil
TEXTO 6

O QUE É GRAFITE
A arte que embeleza ou enfeia as cidades
tem origem na antiguidade

P
ara muitos, o grafite é apenas uma podem ser vistos em sítios arqueológicos
"pichação evoluída". Para outros, é espalhados pela Itália.
uma arte urbana. O fato é que ele está No final da década de 1960, jovens
presente em diversas partes da cidade: do Bronx, bairro de Nova York, (EUA),
banheiros públicos, fachadas de edifícios, restabeleceram essa forma de arte usan-
muros, casas abandonadas, ônibus, metrô, do tintas spray. O grafite seria uma das
orelhões, postes, monumentos públicos e três manifestações artísticas do hip-hop,
outros lugares expostos. movimento nascido nos guetos ameri-
A palavra grafite tem origem na Itália canos que reúne outras duas modali-
e significa "escrita feita com carvão". dades: o rap e o break.
Os antigos romanos escreviam assim, Os artistas do grafite costumavam
com carvão, manifestações de protesto, ou escrever os próprios nomes em seus traba-
de qualquer outro cunho nas paredes das lhos ou chamar a atenção para problemas
construções. Alguns desses grafites ainda de ordem política ou questões sociais.

Grafite: Os Gêmeos – Foto: Ruy Fraga

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Pode-se dividir o grafite


em seis modalidades:
Grafite 3D: desenhos concebidos a par-
Grafite: Binho – Foto: Ruy Fraga tir de idéias visuais de profundidade, sem
contornos. Exige domínio técnico do grafi-
teiro na combinação de cores e formas.
No Brasil, as críticas ao grafite se
WildStyle: tem o formato de letras dis-
devem às pichações de fachadas, monu- torcidas, em forma de setas, que quase
mentos, igrejas, e mesmo de residências. cobrem o desenho.
Para reverter esse problema, algumas ci- Bomber: são letras gordas e que pare-
dades estão convidando artistas do grafite cem vivas, geralmente feitas com duas
a participar de projetos que visam em- ou três cores.
belezar os locais públicos. Por exemplo, a Letras grafitadas: incorporação das
Universidade de São Paulo (USP) decidiu técnicas do grafite à pichação. As letras
organizar a primeira cooperativa brasi- grafitadas representam a assinatura do
leira de grafiteiros, muitos deles ex-picha- grupo.
dores. O objetivo é profissionalizá-los com Artístico ou livre figuração: nesse
estilo vale tudo: caricaturas, perso-
orientação de professores de artes plásti-
nagens de história em quadrinhos, figu-
cas e designers, de forma a exibirem seus
rações realistas e elementos abstratos.
trabalhos em painéis e muros especial-
Com máscaras e spray: facilita a rápi-
mente destinados a esse fim. da execução e disseminação de uma
Extraído e adaptado do site: marca individual ou de grupo.
http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/datas/desenhista/grafite.html

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Desemprego juvenil
TEXTO 7

PRIMEIRO
EMPREGO
Como conseguir um primeiro
emprego, quando, naturalmente,
não se tem experiência?

Renato Pompeu

S
egundo as estatísticas governamentais,
os jovens que nunca tiveram um em-
prego, mas que estão à procura de um
lugar no mercado de trabalho, constituem
hoje em dia no Brasil a faixa da população
em que há maior proporção de desempre-
gados. Pois, para ser considerado desempre-

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gado, não basta não ter emprego: é preciso Se, porém, os candidatos ao primeiro
também estar procurando um. E nas gran- emprego estão fazendo curso superior, o
des cidades se contam às centenas de milha- ideal é que busquem formar-se como mes-
res, senão aos milhões, os jovens que estão tres e como doutores e que aperfeiçoem os
procurando seu primeiro emprego. seus conhecimentos de línguas estrangei-
A primeira dificuldade que esses jovens ras – quanto mais títulos a pessoa acumu-
encontram é que, por definição, não têm lar, maiores serão suas chances, principal-
nenhuma experiência de trabalho. E, na fila mente nas maiores e melhores empresas,
dos desempregados candidatos a cada mais exigentes em matéria de qualificação.
emprego, sempre haverá, na atual situação Deve-se estar atento para os empregos
do País, uma ou mais pessoas que tenham oferecidos em anúncios de jornais, inclusi-
experiência em atuar no serviço para o qual ve os jornais de menor expressão, como os
há vagas. Ao contrário do que poderia pare- jornais de bairro. Deve-se enviar currículos
cer à primeira vista, fica mais fácil uma bem-feitos e atraentes para todos os canais
pessoa mais velha conseguir um emprego possíveis e imagináveis, inclusive pela
depois de ter perdido outro, do que uma Internet. Mas aqui é preciso tomar cuida-
pessoa mais nova conseguir um emprego do. Existem empresas que cobram para
pela primeira vez. armazenar currículos, alegando que os
Um dos conselhos que são dados aos divulgam junto aos departamentos respec-
candidatos ao primeiro emprego é que tivos das firmas empregadoras, numa
procurem aperfeiçoar ao máximo a sua verdadeira “bolsa de empregos”. Nem
formação. Se estão no curso secundário, todas essas empresas, entretanto, cumprem
devem procurar formar-se num dos nume- o que prometem. É mais sensato dirigir-se
rosos cursos profissionalizantes oferecidos às próprias firmas empregadoras, ou aos
por entidades do comércio e indústria e por serviços governamentais e sindicais de
ramos específicos, como a hotelaria e o colocação. Acima de tudo, jamais desistir:
design. A formação profissional especializa- insistir sempre em procurar o primeiro
da pode suprir a falta de experiência de emprego, até alcançá-lo.
trabalho, reforçando a situação do candi-
dato no caso de ele procurar emprego
numa área para a qual está especificamen-
te qualificado. Renato Pompeu é escritor e jornalista

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Cultura juvenil
TEXTO 8

THE BRITISH
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ARE COMING! The rediscovery of the garage music: the elegant and
aggressive sound that is beating in the British night clubs

Piers Grimley Evans thing really popular. And I’m sure the rest
of the world will like it. If they like vocals,
there’s vocals there, if they like instruments
like bass there’s bass line, you know. So
I’m sure that the rest of the world is going
to like it. Now it’s already in Europe. You

I
n the 1960’s an enormous quantity of
foreign bands making success in America can hear UK Garage in Amsterdam, in
was known as “the British invasion”. Switzerland, Belgium, places like that, you
Today, the trend has reversed. While know, where people like night clubs. So,
American bands occupy a large part of the you know, that’s a start out of England but
UK pop market, this year – for the first time we expect to go to more and more countries
since 1963 – there were weeks without any and continents.
British artist listed in the US top 100. But a
new style of dance music, UK Garage, could The Cyprus Sound
change things. In the competitive arena of The fast beat, big vocals and heavy bass
urban music, it has triumphed over trans- lines of UK Garage were first heard in 1996
atlantic competition and is currently pre- on the events of innovative DJs like the
pared for global success. Timmi Magic, 1/3 Dreem Teem. An underground scene,
of the influential group of DJs and produc- sustained by illegal pirate radio stations,
ers, the Dreem Teem, explains the reason: then popularized from London to major
Timmi Magic: In the last two years, cities around Britain. By the start of 2000,
we’ve had top tens, number ones and it was regularly in the clubs and many
there’s been a variety of styles that have people went to Cyprus every summer to
changed from basic club music to some- enjoy garage at the vast clubs of Ayia Napa.

Juventude e Trabalho • 21
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Te x t o 8 / Cultura juvenil

The music is a mix of House, R&B and Not So Solid


Drum’n’bass. The attitude, explains Simon In 2002 UK Garage has a higher profile
Long, the music manager at London radio than ever, but it has also attracted a lot of
station, Kiss 100 FM, is new and distinctive. controversy, with the explosive arrival of 30
Simon Long: It’s an urban experience. south London garagists named The So
It’s an urban attitude. It’s lots of different Solid Crew. Until they appeared, UK Garage
cultures together, lots of different musical had more melodic pop music. The lyrics, in
styles together, people with different inter- the words of Timmi Magic, were about
ests, it’s not important if it’s drum’n’ bass, “getting out on the dancefloor”. The So
ragga, reggae. It’s a predominantly black Solid Crew produce less melodic music and
experience. The attitude is very urban. It’s much darker lyrics. One track includes the
very aspirational too, because people are expression “to beat your ass up and take
interested in this music and the DJs like to you to the morgue”. There are rumours of
dress in nice clothes, fashion, etc. This was a division in UK Garage and of hostility
not common before. You know, you see between successful artists and a confronta-
people going to clubs in suits and they tional younger generation. Timmi Magic
drink the most expensive champagne. It’s says it is not true, although he has some
called “The Bling Bling,” you know. It’s all reservations and critics about The So Solid
about the gold and the flashy jewellery and Crew as a Garage group:
it’s all about image. So I would say that’s Timmi Magic: We’ve always believed
the attitude. It’s streetwise. It’s sassy. In that any music that’s in the name of UK
that, it’s very exhibitionist too. Garage, or anything that we can play on the

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dance floor, we’re going to support. Some


people say, “You know, that the music The
So Solid produces isn’t really UK Garage.
It’s more like UK Hip-hop”, and I sometimes GLOSSARY
agree, because the elements that we Arrival. chegada
believed were garage (US Garage, UK Bass. contra-baixo
Garage and others), are the vocals and Beat. batida, ritmo
melodies, but these songs have more Confrotational. agressiva.
Currently. atualmente
rhythm and breaks and rapping, and that
Getting out on the dancefloor. soltar-se na
is more related to the hip-hop category. So
pista
you never know, maybe it is the evolution Lyrics. letra.
of a new type of music. Only time can tell Morgue. necrotério
if UK Garage is going to be remembered as Sassy. atrevida.
a goodtime dance music, or as something Streetwise. com conhecimentos da rua
darker. The British record industry hopes Trend. tendência
that young people will be hearing a lot The flashy jewellery. jóias reluzentes
To beat your ass up. "quebrar sua cara"
more of both, particularly, of course, in
America.

Extraído do site
http://speakup.ig.com.br/stories_b/183_garage.shtml

Juventude e Trabalho • 23
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Empreendedorismo
TEXTO 9

DESEMPREGADO,
, SIM
DESOCUPADO,
NÃO
A iniciativa pode criar ocupações
produtivas quando o mercado
formal se fecha. Foto Valéria Gonçalvez / AE

Iara Biderman a socióloga Lívia de Tommasi, coordenado-


ra do projeto Rede de Juventude, que atua
no Nordeste do Brasil, a separação entre
trabalho e emprego e a visão de que traba-

P
ara quem ainda acha que ter traba-
lho é ter emprego, a explicação de lho deve proporcionar prazer é comum aos
Verônica Sá, 18 anos, é curta e clara: jovens de todas as camadas sociais, mesmo
“Trabalho é tentar se organizar de forma as mais pobres. “Eles querem trabalho, sim,
criativa para atuar economicamente na não só por causa da necessidade do dinhei-
sociedade”. Com isso, ela demonstra que ro, mas também para crescimento pessoal.
há pelo menos uma parte da juventude Quando peço para que definam trabalho
brasileira que não é apenas produto (ou com uma palavra, um adjetivo, o que ouço
vítima) da era do “fim do emprego”. muito é ‘prazer’, ‘satisfação’, ‘compromisso’.”
Jovens como Verônica também consi-
deram-se agentes, com direito de optar e Por que a gente tem de trabalhar?
criar novas formas de trabalho, nas quais a Muita gente acha que é para ter uma
atividade profissional também proporcione participação ativa na sociedade. E acredita
conhecimento e prazer. Parece discurso de nos princípios do trabalho solidário como
quem tem ótimas condições econômicas e, uma nova forma de participar, de intervir
teoricamente, não são pressionados pela no meio em que vivemos, na comunidade.
necessidade de ganhar dinheiro. Mas, para É o que Verônica Sá pensa e faz: no grupo

24 • Juventude e Trabalho
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Operário da criação
Conciliar períodos de muito trabalho
com épocas de quase nada também é
comum. “Meu trabalho é prazeroso, mas há
momentos em que me sinto um operário,
tenho de criar e produzir direto. Mas tam-
bém, quando quero, fico em casa. 0 empre-
go formal me impediria isso”, diz o artista
plástico Roberto Carlos Pereira, o Bessa,
Aerógrafos da ONG Revolucionarte pintam
o túnel que liga a Avenida Dr. Arnaldo a
de 25 anos, que tem um ateliê de bonecos
Avenida Paulista, em São Paulo. Na foto, na cidade de Olinda, em Pernambuco.
Edmilson Barbosa (21 anos) pinta a obra Bessa conta que tirou sua carteira de traba-
"Casamento na Roça", de Cândido Portinari
lho aos 16 anos, mas nunca a usou. “Só
entraria em um emprego se fosse algo em
Conexão Solidária, do Liceu de Artes e Ofí- que acreditasse.”
cios da Bahia, ela aplica os seus princípios.
Estudante de relações públicas, acha que a E se não for artista?
faculdade que cursa está muito voltada Nem todo mundo vai ser artista, nem
para a área empresarial, e procura, em seu este pode ser o único caminho. Porém, um
trabalho, romper com as barreiras. misto de trabalho solidário, criativo e de
“Por que a gente tem de trabalhar? qualidade pode ser um ótimo caminho. O
Para ter uma participação economicamente coletivo Êxitos D'Rua, de Recife, por exem-
ativa na sociedade. O trabalho solidário é plo, aproveita o talento dos jovens para
uma nova forma de participar”, diz. criar oportunidades de trabalho. Utiliza
Para Verônica, o Conexão é um espaço técnicas de grafitagem, por exemplo, para
onde ela pode fazer o que gosta, da manei- produzir camisetas, capas de CD, ou para
ra que acredita ser a melhor. Esse prazer no anunciar shows. Com isso, seus jovens e
que faz a ajuda a encarar horários extras criativos trabalhadores também podem
aos sábados, domingos, às vezes, noite manter uma loja solidária, onde cada um
adentro. “Meu trabalho e minha vida pes- coloca os seus produtos de forma que todos
soal estão misturadíssimos, não sei onde possam comprá-los.
começa um e termina o outro”, diz. Essa
mistura é típica dos jovens que podem estar Extraído da revista Onda Jovem – Ano I, no 2, jul/05
desempregados, mas nunca desocupados. Instituto Votorantim

Juventude e Trabalho • 25
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Cultura juvenil
TEXTO 10

DE NORTE Grafite: Titi Freak – Foto: Ruy Fraga

A SUL Um estilo quase musical que


serve de veículo a textos em
geral libertários e de protesto

26 • Juventude e Trabalho
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Júlia Contier associação pensa ações para estruturar o


hip-hop na região.
Em Salvador, a infra-estrutura é frágil

N
ão tem mais volta: a tendência é – os shows acontecem em praças e nas
mesmo a expansão do movimento escolas – e faltam equipamentos para os
hip-hop. Com ajuda do poder pú- DJs e informação sobre o rap de outros
blico, o movimento ganha força mais estados. Mas o movimento vem crescen-
rápido; se tiver espaço na mídia, aí nem do e hoje se ouve o freestyle – rima de
se fala. No entanto, parece que, se não improviso – na saída das escolas, nos
tiver ajuda de nenhum dos dois, o pessoal intervalos de aulas e até em pontos de
se articula e acontece mesmo assim. ônibus. A batida costuma misturar ele-
Achamos o movimento hip-hop em todas mentos da cultura negra, é o hip-hop afro,
as regiões brasileiras. como faz o grupo Quilombo Vivo, de
Amaralina, em Salvador, que mistura
NORDESTE capoeira e candomblé em suas músicas.
O Nordeste está bem organizado politi- Outros grupos representativos são: Fúria
camente. É em Teresina, por exemplo, que Consciente, Quilombahia, DGS, Simples
fica a sede do MHHOB (Movimento Hip- Rap’ortagem, Juri Racional, Lica, Os
Hop Organizado). A sede, chamada Centro Agentes, Anjos da Rima e Jr-junior.
de Refêrencia da Cultura Hip-Hop, é o maior Em São Luís, a miscelânea é com
espaço dedicado à cultura no país. Lá acon- elementos do folclore, em uma combina-
tecem oficinas de MC, a produção de um ção de rap com tambor-de-crioula e com
fanzine e até um pré-vestibular para negros. tambor-de-minas. O Clã Nordestino, grupo
Em Recife, o pessoal também está a de São Luís, fez uma batida na música
cada dia mais organizado. O movimento Toada do Clã que começa com cantoria de
começou a crescer em 2000 e hoje existe bumba-meu-boi, passa para a batida do rap
a Associação Metropolitana de Hip-Hop, e volta para o bumba-meu-boi: uma mistu-
que une todos os grupos locais. Galo de ra verdadeiramente original. Eles também
Souza, referência do hip-hop pernambu- misturam rap com maracatu. Lamartine, do
cano pela sua atuação política, diz que a Clã, explica que a influência é inevitável.

Juventude e Trabalho • 27
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Te x t o 7 / Cultura juvenil

O grupo de rap
Racionais mantém
um núcleo de apoio
à juventude no

Foto: Vivi Zanatta


bairro proletário de
Capão Redondo,
na periferia de
São Paulo.

“A gente se criou ouvindo tambor no Branco – vai durar uma semana e definir
terreiro das nossas casas, ouvindo cantiga, as diretrizes do movimento, estabelecer
ouvindo ladainha, até porque a gente veio uma agenda e agilizar os projetos.
do interior do estado, então essa convivên- Preto Michel, representante do MHF
cia com o tambor-de-crioula e o bumba- no Pará, diz que os grupos costumam
meu-boi é natural”. cantar os problemas de cada região. Em
Belém, o grupo MBC fez uma música
NORTE sobre o massacre de Eldorado dos Cara-
O Norte do Brasil também está arti- jás; um grupo de Macapá fala da pororo-
culado e unido. Há mais de um ano ca, o encontro do rio com o mar; e em Rio
formou-se a rede Movimento Hip-Hop na Branco e Roraima a temática das quei-
Floresta ou MHF, filiada ao MHHOB. O madas é bastante presente.
MHF funde a ideologia hip-hop com O movimento valoriza a cultura ama-
conceitos ecológicos para fortalecer a zônica, as tribos indígenas, os quilombolas
cultura amazônica. Tem MHF no Pará, e as populações ribeirinhas. Por isso, em
Amapá, Acre, Rondônia e Amazonas. Em Manaus misturam rap com bumba-meu-
julho, vai acontecer um encontro chama- boi. Em Macapá, misturam com o mara-
do Ritual do Hip-Hop da Floresta, em Rio baixo, som percussivo das comunidades

28 • Juventude e Trabalho
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quilombolas. Nesta cidade, o que chama lações no Vale do Paraíba, em São Paulo,
atenção é o número de grupos: apenas onde o hip-hop está presente em todas as
nove. Além disso, tem três grafiteiros, que periferias, embora de maneira desorganiza-
lutam por reconhecimento e apoio. da e desarticulada ainda. Em Jacareí, já
existe a Associação Cultural e Educacional
CENTRO-OESTE Nego Prettu – em vias de se tornar uma
“O rap aqui é do pé rachado.” Foi assim OSCIP (Organização da Sociedade Civil de
que o MC Letal, da banda goiana Teste- Interesse Público). Lá funciona um Centro
munha Ocular, definiu o rap de lá, ou seja, de Juventude onde acontecem diversas ofi-
um rap de raiz, da terra. Eles misturam o cinas. Recentemente, em São José dos
gênero com a congada, catira, folia de reis, Campos, a Câmara Municipal aprovou um
moda de viola. O movimento é um pouco projeto de lei que cria a Semana Hip-Hop,
dividido, não tem sede, e as bandas são que vai acontecer sempre em junho. A parte
poucas; mas não fica fora de cena. musical tem muita influência da capital de
Já o pessoal de Brasília parece prio- São Paulo, tanto na batida como com letras.
rizar mais as letras do que a batida. “Os Como em São Paulo, a cultura hip-hop
rappers se preocupam demais em retratar invadiu Belo Horizonte através do break.
o cotidiano violento e se esqueceram da A dança chegou à cidade com filmes como
musicalidade, o que prejudicou a recep- Break Dance, ao qual os jovens assistiam
tividade em outras regiões do país”, diz a muitas vezes para aprender os passos; de-
jornalista e dançarina de break Bianca pois se reuniam em espaços públicos para
Chiaviatti. Mas a receptividade em mostrar o que já sabiam. Uma curiosi-
Brasília é grande, já que a cidade compor- dade: como os b.boys se instruíam pela
ta grandes festivais, como o Abril pro tela, acabavam invertendo as posições –
Rap, que existe há quatro anos – porém, dançavam espelhado. Essa característica,
só em 2005 é que o graffiti e o break mais a mistura com a capoeira, resultou
ganharam espaço. Os grupos de rap em em um estilo próprio da região. O rap,
evidência são: Vadios Loucos, Atitude hoje em dia, é o elemento com mais visi-
Feminina, Veronika e Código Penal. bilidade em Belo Horizonte, mas o graffiti
é o elemento que mais cresce, com amplo
SUDESTE apoio do governo local.
No Rio de Janeiro e em São Paulo A antropóloga Júnia Torres conseguiu
perde-se a conta de quantos grupos e orga- listar mais de trezentos grupos de rap em
nizações existem. Descobrimos até articu- sua dissertação de mestrado para a Federal

Juventude e Trabalho • 29
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Te x t o 1 0 / Arte em evolução

de Minas Gerais. Entre os de maior des- Em Curitiba, o movimento também


taque estão A Fuga, Retrato Radical e NUC cresceu depois que conquistou um espaço
– Negros da Unidade Consciente, que mis- maior na mídia – hoje há três programas de
tura no seu rap samba e cantiga de roda, rádio destinados ao do público rap. Os inte-
além de levar para o palco apresentações grantes da banda Consciência Suburbana
de capoeira. contam que o movimento está se profissio-
nalizando, mas tende para a polarização:
SUL enquanto alguns assumem o discurso políti-
Parece que em Porto Alegre o hip-hop co-social, que eles chamam de “rap raiz”,
está bem ligado ao PT, que ajudou o movi- com trabalhos que levam o hip-hop para as
mento durante seus anos de governo. O escolas e para as comunidades, outros
Bazi, da banda Da Guedes, de Porto Alegre, fazem o rap underground, mais dançante e
revela: “Ganhamos um programa de tele- com temas mais alegres.
visão, o Hip-Hop Sul, do PT, há alguns anos Em Florianópolis, o hip-hop ainda
atrás, porque o hip-hop gaúcho se aliou ao engatinha, como diz o grafiteiro Laídio, mas
partido para auxiliá-lo na campanha. Em já conquistou muito espaço. Existem algu-
troca, disseram que gostariam de ter um mas organizações como a CH2F (Conexão
espaço melhor e acabaram tendo”. Mas e Hip-Hop Floripa), Nação Hip-Hop e Hip-
agora que o PT não é mais governo? “Agora Hop Rua. O Nação Hip-Hop faz o Cinema
não tinha mais como tirar isso da gente. O na Favela, promovendo mostras de filmes
espaço já está conquistado.” O fato é que o nacionais e, depois da exibição, debates
hip-hop se expandiu em todas as classes com alguns atores dos elencos. MV Bill
sociais. Tem muita gente fazendo rap em costuma aparecer por lá, pois essa organi-
Porto Alegre – Nitrodi, Odisséia, Depen- zação é filiada à Cufa – Central Única das
dentes, Manos do Rap, Polêmica... são mais Favelas. As outras organizações também
de sessenta grupos. O que prevalece nas desenvolvem trabalhos sociais, com oficinas
letras é a situação da periferia em geral. sobre a cultura hip-hop.
Poucas letras falam da raça negra especifi-
camente, já que em Porto Alegre a maioria
Julia Contier é estudante de jornalismo.
da população é branca. Extraído da revista Caros Amigos, Edição especial Hip-Hop Hoje

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Primeiro emprego
TEXTO 11

O APRENDIZ
É proibido trabalhar antes dos Jovens aprendem
16 anos, mas se pode aprender mecânica em curso
profissionalizante
a trabalhar desde os 14 do SENAI

Renato Pompeu Art. 8o Consideram-se entidades quali-


ficadas em formação técnico-profissional
metódica:

N
o Brasil, pelo menos na letra da lei,
não é permitido que uma pessoa I - os Serviços Nacionais de Aprendiza-
com menos de 16 anos exerça gem, assim identificados:
emprego. Mas a Lei do Aprendiz, sancio- a) Serviço Nacional de Aprendizagem
nada em 2000 e regulamentada em 2005, Industrial – SENAI;
permite que, a partir de 14 anos, se façam b) Serviço Nacional de Aprendizagem
cursos profissionalizantes, nos quais a pes- Comercial – SENAC;
soa pode ficar até completar 24 anos (se a c) Serviço Nacional de Aprendizagem
pessoa sofre de alguma deficiência, pode Rural – SENAR;
continuar como aprendiz depois dos 24 d) Serviço Nacional de Aprendizagem do
anos de idade. Transporte – SENAT; e
A cada contrato de aprendizagem, que e) Serviço Nacional de Aprendizagem do
tem de ser por escrito e não pode ter prazo Cooperativismo – SESCOOP;
de mais de dois anos, o empregador se com- II – as escolas técnicas de educação,
promete a instruir o aprendiz em tarefas inclusive as agrotécnicas; e
específicas, adequadas para as característi- III – as entidades sem fins lucrativos, que
cas dos jovens, e o aprendiz se compromete tenham por objetivos a assistência ao
a cumprir as tarefas que lhe são designadas. adolescente e à educação profissional,
O contrato deve ser registrado na Carteira registradas no Conselho Municipal dos
de Trabalho do Aprendiz, que, além do trei- Direitos da Criança e do Adolescente.
no profissionalizante, deve freqüentar tam- Os dados estão aí; agora cabe a cada
bém o ensino fundamental até o fim. um decidir se vai ser aprendiz.
Quem dá as aulas? O Artigo 8.o da
Regulamentação da Lei do Aprendiz apre- Renato Pompeu é escritor e jornalista

senta as entidades qualificadas:


Juventude e Trabalho • 31
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Jovens no campo
TEXTO 12

JUVENTUDE
RURAL:
AMPLIANDO AS OPORTUNIDADES

Ricardo Abramovay

F
ixar o homem ao campo: poucas ex- nhecimento e favoreça que as novas idéias
pressões são tão populares e, ao mes- tenham chance de se tornar empreendi-
mo tempo, nocivas a uma política de mentos. Uma das maiores doenças de
desenvolvimento rural capaz de mobilizar nosso tempo está exatamente na incapa-
as melhores energias da juventude. "É cidade de as sociedades contemporâneas
poste, e não gente, que fica parado num só oferecerem perspectivas para que a inova-
lugar", gostava de dizer o saudoso José ção se concretize em projetos – privados
Gomes da Silva, nome emblemático da luta ou sociais – construtivos.
pela reforma agrária no Brasil. E em ne- Para isso, o mais importante é que o
nhum outro momento da vida a mobilida- destino dos jovens não esteja traçado
de, o desejo de viver novas experiências e desde seu nascimento, como fatalidade.
correr riscos são maiores que na juventude. Ora, o pressuposto da tão propalada "fixa-
Além de traço característico da juventude, ção do homem ao campo" é que não há
o impulso para a inovação é evidentemente melhor caminho para os jovens rurais que
útil para a sociedade como um todo. sua transformação em agricultores. Há
dois equívocos nessa suposição.
Inovações projetadas
Para que a propensão dos jovens à ino- As sementes da evasão
vação se realize, entretanto, é necessário Estudos mostram que parte importan-
um ambiente social que estimule o co- te dos jovens vivendo hoje em estabeleci-

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Cortadores de
cana de Guaíba,

Foto: Vidal Cavalcante / AE


região de Ribeirão
Preto – SP, estão
abandonando
o trabalho por
causa dos baixos
salários do setor.

mentos agropecuários – e a grande maio- rais não vivem apenas agricultores. Não se
ria das moças, em especial – não deseja pode ignorar esta realidade elementar e
seguir a profissão dos pais. O trabalho li- hoje sobejamente conhecida: o meio rural é
mita-se ao oeste de Santa Catarina, mas é muito maior do que a agricultura.
certamente representativo: mesmo em uma Uma verdadeira política de desenvol-
das regiões em que a agricultura familiar vimento rural deve associar uma educa-
tem maior expressão social e econômica ção de qualidade e estímulo para proje-
no país, um terço dos rapazes e quase dois tos inovadores que façam do meio rural,
terços das moças declaravam não querer para eles, não uma fatalidade, mas uma
continuar vivendo em estabelecimentos opção de vida.
agropecuários. A política deve contemplar igualmente
os jovens rurais que não querem ser agri-
Agricultores pluriativos cultores, mas gostariam de permanecer em
Uma política de desenvolvimento rural suas regiões de origem, valorizando seus
voltada para a juventude não pode limitar- círculos de amizade, contribuindo para o
se à agricultura. Os futuros agricultores surgimento de novas atividades e evitando,
serão cada vez mais pluriativos, suas ren- na prática, a falsa oposição entre a mono-
das dependerão da agricultura, mas tam- tonia e a pobreza da vida interiorana e os
bém de outras atividades. Quanto mais os conhecidos problemas das periferias das
jovens estiverem preparados para essas grandes cidades.
outras atividades – entre as quais se desta-
cam as voltadas à valorização da própria Ricardo Abramovay é professor titular do Departamento
de Economia da FEA e do Programa de Pós-Graduação em
biodiversidade existente no meio rural – Ciência Ambiental da USP - Pesquisador do CNPq -
maiores suas chances de realização pessoal Organizador de Laços Financeiros na Luta contra a Pobreza
(Annablume/FAPESP, 2004)
e profissional. Além disso, nas regiões ru- Extraído de http://www.econ.fea.usp.br/abramovay/

Juventude e Trabalho • 33
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Rotina do jovem
TEXTO 13

O TREM
Crônica da arriscada
viagem de todo dia
nos trens de subúrbio

Composição: Rzo
Realidade é muito triste
Mas é no subúrbio sujismundo
O submundo que persiste o crime
Pegar o trem é arriscado
Trabalhador não tem escolha
Então enfrenta aquele trem lotado
Não se sabe quem é quem, é assim
Pode ser ladrão, ou não,
Tudo bem se for pra mim
Se for polícia fique esperto Zé
Pois a lei dá cobertura pra ele
Te socar se quiser
O cheiro é mau de ponta a ponta
Mas assim mesmo normalmente
O que predomina é a maconha
E aos milhares de todos os tipos
De manhã, na neurose, como
Pode ter um dia lindo
Portas abertas mesmo correndo
Lotado até o teto sempre está
Meu irmão vai vendo
Não dá pra agüentar, sim
É o trem que é assim, já estive, eu sei, já estive
Muita atenção, essa é a verdade
Subúrbio pra morrer, vou dizer é mole
Subúrbio pra morrer, vou dizer (é mole)
E agora se liga, você pode crer (é pra gravar, tá ?)
Todo cuidado não basta, porque (um toque)

34 • Juventude e Trabalho
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Subúrbio pra morrer, vou dizer (é mole)


Confira de perto, é bom conhecer (é mole)
E agora se liga, você pode crer (é pra gravar, tá ?)
Todo cuidado não basta, porque (um toque)
Subúrbio pra morrer, vou dizer...
Todos os dias mesma gente
É sempre andando, viajando,
Surfando, mais a mais não teme
Vários malucos, movimento quente
Vários moleques pra vender,
Vêm comprar, é aqui que vende
Quem diz que é surfista, é
Então fica de pé, boto mó fé, assim que é
Se cair vai pro saco
Me lembro de um irmão, troço chato
Subia, descia por sobre o trem, sorria
Vinha da Barra Funda há dois anos todo dia
Em cima do trem com os manos
Surfistas, assim chamados são popularmente
Se levantou e encostou naquele fio,
Tomou um choque
Mas tão forte que nem sentiu, foi às nuvens
Tá com Deus, mano Biro sabe
Subúrbio pra morrer, vou dizer é mole
(Refrão)

Juventude e Trabalho • 35
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Te x t o 2 1 / Rotina do jovem

...E eu peço a Oxalá e então,


sempre vai nos guardar
Dai-nos forças pra lutar, sei vai precisar
No trem, meu bom, é assim, é o que é
Então centenas vão sentados e
Milhares vão em pé
E em todas as estações, ali preste
Atenção aos PFs
O trem pára, o povo entra e sai
Depois disso, o trem já se vai
Mas o que é isto? Esquisito
E várias vezes assisti
Trabalhador na porta tomando borrachadas
Marmitas amassadas, fardas, isso é a lei?
Vejam vocês, são cães, só querem humilhar toda vez
Aconteceu o ano passado em Perus
Um maluco estava na paz, sem dever
Caminhava na linha do trem sim, a uns cem metros
Dessa estação, preste atenção, repressão
Segundo testemunhas dali, ouvi
Foi na cara dura assassinado, mas não foi divulgado
E ninguém está, não está, ninguém viu
As mortes na estrada de ferro Santos-Jundiaí
E ninguém tá nem aí, Osasco-Itapevi,
do Brás a Mogi ou Tamanduateí
É o trem que é assim, já estive, eu sei, já estive
Muita atenção, essa é a verdade
Subúrbio pra morrer, vou dizer é mole
(Refrão)

Fonte P http://rappinhood.letras.terra.com.br/letras/70520/

36 • Juventude e Trabalho
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Consumo
TEXTO 14

O JOVEM E SUAS COMPRAS


Desvendado o engano contido na frase “você é o que tem”.

P
esquisa mostra que o jovem médio Jovens brasileiros são também os que
brasileiro se acha mais considerado pe- mais gostam de televisão e os que menos
lo que adquire do que pelo que ele é. se interessam por política e sociedade.
Os jovens brasileiros se interessam mais Outro dado destacado é o que mostra a
por compras do que os americanos. É o que baixa noção de interdependência das
diz a pesquisa Os Jovens e o Consumo ações do jovem com o mundo em que vive.
Sustentável, feita por dois institutos espe- Quase 60% dos entrevistados disseram
cializados e divulgada pela Fundação Getú- que suas ações não têm impacto no mun-
lio Vargas. O estudo trouxe revelações so- do; 44% opinaram que suas atitudes não
bre como pensa a juventude na hora em influem nem na cidade onde moram; e
que vai às compras, sua percepção da pro- 24% afirmaram que suas ações não cau-
paganda e dos impactos de suas próprias sam impacto nenhum nem em suas pró-
ações – dela, juventude – no meio ambien- prias vidas. Conforme a pesquisa, a gran-
te e na sociedade. de maioria dos jovens brasileiros (59%)
A pesquisa foi elaborada a partir de um acha que o seu trabalho não tem impacto
levantamento realizado pelo Programa das na sociedade, quer dizer, o jovem não se
Nações Unidas para o Meio Ambiente perceberia como parte de um todo. E o
(Pnuma) e pela Organização das Nações consumo seria o principal elo de sua liga-
Unidas para a Educação, Ciência e Cultura ção com o meio em que vive. Finalmente,
(Unesco), no ano 2000, em 24 países. Cer- cerca de 50% disseram que pessoas da
ca de 70% dos jovens brasileiros entrevis- sua idade consomem demais.
tados disseram que se interessam pelo te-
ma compras. Entre os norte-americanos,
país de elevado consumo, o percentual é
menor: 33%. Fonte P http://integracao.fgvsp.br/BancoPesquisa/pesquisas_

Juventude e Trabalho • 37
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Risco social
TEXTO 15

DEUS-DARÁ
O dilema de dar ou
não dar dinheiro aos
meninos no sinal

Ana Miranda to, eles correm para o outro quarteirão,


em bando, e me pegam no sinal da aveni-
da, bem mais demorado. Me chamam de
tia, fazem sinal com dois dedos, abanan-

N
a esquina da minha rua fica sem- do a cabeça e dando um sorriso de con-
pre o mesmo grupo de meninos, fiança, para que eu desça o vidro e ouça.
uns 7 ou 8 anos, com suas caixi- Contam histórias de que precisam de di-
nhas de dropes, ou flanelas amarelas. São nheiro para comprar material escolar, ou
alegres, bonitinhos, a pele queimada, estão sem almoçar, ou vão viajar no fe-
saudáveis, com o corpo de idade indefini- riado. Eles me dizem que estudam, e tra-
da, aquela pequena estatura de criança, balham ali para ajudar a família, e me
mas sem a ingenuidade infantil. Eles dão nomes falsos, mas às vezes escuto os
andam pela cidade sem a companhia de nomes verdadeiros de um ou outro, num
nenhum adulto, parecem rapazinhos, descuido deles. O Fábio, por exemplo, se
mesmo na maneira de andar e falar, bem chama Wellington. Um tem o pai desem-
espertos, astuciosos. Têm agasalhos sur- pregado, outro não tem pai, outro não
rados, mas que dão pro gasto; usam tênis, tem casa, outro não tem nada a não ser a
camisetas, bonés com a aba virada para rua. Quase sempre dou dinheiro. Às vezes,
trás. Quando eles me vêem, correm para compro um iogurte para cada um, outras
a janela do meu carro, na maior alga- vezes cadernos e lápis, ou livros de
zarra. Se o sinal está aberto e passo dire- histórias infantis, ou biscoitos. Mas um

38 • Juventude e Trabalho
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Foto: Cleber Bontato / AE


Leandro dos Santos Ribeiro (de camiseta azul), 11 anos, cursando a 6ª série, vende
doces no trânsito de Caieiras, na Grande São Paulo, para comprar material escolar.

amigo meu, especialista em questões de eles ainda tentaram me convencer a dar


meninos de rua, me disse que não devo algum dinheiro, pediam cada vez quan-
dar dinheiro aos meninos, para não tias mais ínfimas. Hoje passo na esquina,
estimular o trabalho infantil, e que eu eles me vêem, eu os vejo, sentados na
ajudaria muito mais se desse uma quan- grama, na murada do restaurante, num
tia mensal para uma associação que cuida caixote de madeira, eles acenam, confor-
de crianças. Um dia abri o vidro do carro mados, alegres, e eu sigo com o coração
e expliquei para o chefe deles, o Fábio, o opresso por dúvidas. Eles ainda estão ali,
que meu amigo havia dito, e que estava em bando, vivendo a vida em seu dia-a-
dando o dinheiro deles para uma creche. dia, crescendo de qualquer maneira, ao
Ele ficou pensativo. No dia seguinte, veio deus-dará.
me perguntar, mesmo, o que o meu amigo
havia me dito, por que não se podia dar Ana Miranda é escritora
dinheiro para eles. Nas vezes seguintes, Extraído da revista Caros Amigos no 42

Juventude e Trabalho • 39
16•CA03BT01P2.qxd 12/13/06 8:36 PM Page 40

Desemprego juvenil
TEXTO 16

PROCURA-SE TRABALHO

Foto: Caio Gautel

Como os jovens enfrentam o desafio de um mundo que exige


formação escolar cada vez melhor e ainda espírito empreendedor

40 • Juventude e Trabalho
16•CA03BT01P2.qxd 19.01.07 09:52 Page 41

Ao lado: Jovens aguardam à outros. Pobre, arranjou emprego de


procura de emprego no Palácio empacotadora de supermercado. “Preci-
do Trabalhador em São Paulo.
sava trabalhar logo”, diz ela, que abando-
nou o sonho da universidade. “Particular
é muito cara; pública, muito difícil.
O potiguar Neilton de Freitas, 21

I
nexperiência, indecisão vocacional, bai- anos, aprendeu com a ONG Natal Volun-
xa escolaridade ou falta de oportunida- tários que o caminho é difícil, mas
de. São desafios que a maior parte dos ninguém deve se contentar com menos do
jovens brasileiros tem de enfrentar quan- que deseja. Ele terminou o curso de
do começa a dar os primeiros passos em garçom. “Busquei o setor de turismo,
busca de trabalho. As estatísticas demons- forte na cidade”, conta ele, que antes
tram: só pouco mais da metade dos 34 mi- tentou o mais brasileiro dos sonhos: ser
lhões de jovens entre 15 e 24 anos têm jogador de futebol. Sua meta é ser intér-
algum tipo de ocupação. prete de inglês.
Empregado, subempregado ou de-
sempregado, rico, pobre ou remediado, E a experiência?
nenhum jovem quer ficar onde está. En- A mineira Angelina de Lima Ramos,
tão vamos ver como eles driblam os obstá- 22 anos, passou um ano dando com a
culos para ingressar em um mercado de cara na porta antes de arrumar um
trabalho cada vez mais exigente. emprego: faltava experiência. Conseguiu
o de vendedora de uma loja de luminárias
Iniciativa precoce em Juiz de Fora e faz sua crítica aos obstá-
Alguns têm sorte de encontrar logo o culos: “Como alguém com 16, 17 anos
caminho, como o carioca Edgar Noguei- pode ser experiente se ninguém dá uma
ra. Aos 13 anos de idade ele ganhou um oportunidade? Uma tremenda injustiça”.
computador e inventou um site de busca, “O Brasil tem poucos com muita chan-
o aonde.com. Aos 21 anos, recém-forma- ce e muitos sem nenhuma”, avalia o cario-
do em administração, segue feliz e resol- ca William Sebastião dos Santos Oliveira,
vido com sua empresa e já mantém um 22 anos, que só pôde estudar até a 6a série,
segundo site, o namoro.com. Já a paulis- porque precisou trabalhar cedo para ajudar
ta Débora Tatiana Vilhena, 19 anos, abriu em casa. Agora parece que encontrou sua
mão de alguns sonhos, para preservar vocação. Por meio da Incubadora Afro-

Juventude e Trabalho • 41
16•CA03BT01P2.qxd 12/13/06 8:36 PM Page 42

Te x t o 1 6 / Desemprego juvenil

Brasileira, que promove o empreendedoris- vida só tomou outro rumo quando ingres-
mo entre jovens afrodescendentes, desen- sou no Projeto Axé: “O Axé mudou os
volveu sua empresa de grafismo e já vive rumos da minha existência. Percebi poten-
de estampar camisetas e faixas. cialidades em mim mesma que não conhe-
cia. Isso me ajudou a descobrir o que gos-
Vocação elástica tava de fazer. Terminei o curso de moda e
O apicultor gaúcho Francis Leal Batis- virei estilista. Ganhei uma bolsa para estu-
ta, 19 anos, cursa engenharia agrícola dar numa faculdade de moda de Floren-
graças a uma bolsa do Programa Univer- ça, na Itália, e agora quero ser uma profis-
sidade para Todos, do governo federal. sional revolucionária”, conta Luciana.
“Queria ser biólogo, mas não teria condi-
ções de pagar a faculdade. Aqui, encon- Escolha o caminho
trei minha vocação e tenho muito mais Em São Paulo, o projeto Cidade Esco-
mercado”, comemora. la Aprendiz também está dando muito
Com pouco estudo e sem experiência, certo. Participante da primeira turma do
a cearense A. G. F, de 19 anos, sente na Aprendiz, a paulistana Mônica Alves, de
pele as dificuldades de ingressar no merca- 23 anos, formou-se em arquitetura e
do de trabalho. “Fiz até a 7a série e depois trabalha na restauração de prédios no
que engravidei não deu para continuar os centro de São Paulo: “O Aprendiz me fez
estudos. Quando meu filho nasceu, não acreditar que eu poderia conseguir fazer
tinha com quem deixá-lo e por isso não o que gostava. O problema de alunos de
procurei emprego”, diz ela, que conta com escolas públicas, como era o meu caso, é
a ajuda da avó para sobreviver. não saber como concretizar os seus
sonhos”.
Das ruas para o céu
Por muito pouco a baiana Luciana Difícil acesso
Xavier, de 21 anos, não engrossou o triste Os jovens portadores de necessidades
exército de desalentados. Dos 2 aos 14 especiais ainda têm dificuldades maiores.
anos, ela viveu nas ruas de Salvador, pe- Embora a legislação brasileira exija que
dindo esmola, dormindo ao relento. Sua empresas maiores reservem pelo menos 5%

42 • Juventude e Trabalho
16•CA03BT01P2.qxd 12/13/06 8:36 PM Page 43

de suas vagas a trabalhadores com esses


A luta por um emprego
problemas, a situação é complexa: a pessoa
tem dificuldade para entrar no mercado O subemprego é outra faceta do drama de
não apenas por causa de suas limitações, muitos jovens, principalmente os pobres e
mas também pelo preconceito e pelas defi- com pouco estudo. Eles pulam de emprego
ciências na capacitação e atendimento a em emprego, exercendo funções mínimas e
essas pessoas. corriqueiras. O mineiro A.L., de 16 anos, de
O Instituto Brasileiro de Defesa dos Ipatinga, é exemplo. Há um ano largou a esco-
Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência la e foi trabalhar em um mercadinho do bair-
(IBDD), do Rio de Janeiro, trabalha em ro. “É muito cansativo trabalhar o dia todo e
favor da colocação de portadores de neces- ainda estudar à noite”, diz. E o emprego no
sidades especiais. A carioca e estudante de mercadinho, sem carteira assinada, não foi o
direito Joana de Montenegro Roquete, 22 primeiro. Ele começou aos 14 anos numa ofi-
anos, se beneficiou. Ela tem uma doença cina mecânica, já foi ajudante de pedreiro e
degenerativa, precisa usar cadeira de rodas balconista de bar. “Decidi trabalhar porque
e conseguiu trabalho na consultoria jurí- meus pais não tinham condições de me dar
dica da companhia Furnas Centrais Elétri- coisas que eu queria. Precisava ter meu
próprio dinheiro, ganho salário mínimo. A situ-
cas, como empregada terceirizada. “A lei
ação não está fácil. Lá no mercado chega
que obriga as empresas a contratarem defi-
muita gente procurando trabalho. Por isso, eu
cientes facilitou minha entrada no merca-
tento de fazer tudo certinho, senão vem outro
do, mas a maior dificuldade do portador de
e toma minha vaga”, constata o garoto.
deficiência não é obter uma vaga e sim boa
qualificação, principalmente pela dificulda-
de de acesso físico às instituições de ensi-
no”, diz Joana.

Extraído do Portal Onda Jovem


http://ondajovem.terra.com.br/manchete. asp?ID_Edicao=8

Juventude e Trabalho • 43
17•CA03BT05P2.qxd 12/13/06 8:41 PM Page 44

Desemprego juvenil
TEXTO 17

PRIMEIROS
PASSOS
Os jovens têm a
solução, mas
quem os procura?

H
á mais de 1 bilhão de pessoas no Enquanto para alguns a globalização e a
mundo que têm entre 15 e 25 anos tecnologia oferecem novas oportunidades de
de idade. Oitenta e cinco por cento trabalho, para muitos jovens estas mesmas
desses jovens vivem em países em desen- tendências aumentam a dificuldade de
volvimento, como o Brasil, onde muitos arranjar emprego – sendo que a discrimi-
deles estudam, trabalham, e vivem na nação contra jovens mulheres é ainda maior.
extrema pobreza. Jovens pobres ou sem perspectivas
Calcula-se que existam 180 milhões encontram-se em maior risco de serem
de desempregados no planeta, sendo que, atraídos para comportamentos socialmente
desses, 74 milhões são jovens. destrutivos. A sua energia, sua capacidade
Um número ainda maior de pessoas, para a inovação e as suas aspirações são
jovens e adultos, enfrenta longas jornadas bens que a sociedade não pode desperdiçar.
de trabalho informal, lutando para con-
seguir sua subsistência. Adaptado do site: http://www.oitbrasil.org.br

44 • Juventude e Trabalho
18•CA03BT27P2.qxd 12/13/06 8:42 PM Page 45

Risco social
TEXTO 18

SE LIGA, MANO! Angeli

— Você fica se perguntando o que vai ser quando crescer?


— Se liga, mano! Não raciocino sobre hipóteses!

Fonte P

Segurança e Saúde no Trabalho • 45


19•CA03BT09P2.qxd 12/13/06 10:49 PM Page 46

Saúde do jovem
TEXTO 19

HIV E
TRABALHO
Em outubro de 1998, foi publicada uma
Portaria do Ministério da Saúde, criando o
Conselho Empresarial Nacional de Preven-
ção ao HIV/Aids no Local de Trabalho.

A
epidemia do HIV/Aids está afetando O Conselho tem como objetivo apoiar
profundamente a estrutura social, a resposta nacional frente à epidemia e
cultural e econômica, constituindo- viabilizar ações de sensibilização, mobiliza-
se em uma grave ameaça ao mundo pro- ção, difusão de conhecimento sobre pre-
dutivo, na medida que afeta a força de tra- venção da Aids e a promoção da saúde
balho, impõe altos custos a empresas de junto às empresas.
todos os setores, diminui a produtividade, Ao reconhecer que o problema do HIV/
aumenta os custos trabalhistas e acarreta a Aids é, também, uma questão do local de
perda de capacidades e experiências. Esti- trabalho, a OIT criou, em novembro de
mativas da Organização Internacional do 2000, o “Programa da OIT sobre HIV/Aids
Trabalho indicam que, hoje, pelo menos 25 e o Mundo do Trabalho”. O objetivo do Pro-
milhões de trabalhadores, entre 15 e 49 grama é contribuir para a contenção da
anos de idade, estão infectados com HIV pandemia, sistematizando informações so-
em todo o mundo. bre o seu impacto no mundo do trabalho,
Diante destes fatos, a Coordenação combatendo a discriminação e a exclusão,
Nacional de DST/Aids vem promovendo desenvolvendo campanhas de conscientiza-
ações sobre este tema no local do trabalho. ção e prestando assessoria a seus membros.

46 • Juventude e Trabalho
19•CA03BT09P2.qxd 12/13/06 10:49 PM Page 47

Uma das primeiras atividades do 7. garantia de confidencialidade sobre as


Programa da OIT foi a produção do informações relativas ao HIV/Aids de can-
“Repertório de Recomendações Práticas didatos e empregados;
sobre o HIV/Aids e o Mundo do Traba- 8. manutenção da relação de emprego;
lho”, elaborado em parceria com gover- 9. desenvolvimento de ações de preven-
nos, empregadores e trabalhadores. O ção; e
Repertório foi lançado pelo diretor geral 10. garantia de assistência e apoio aos
da OIT na Sessão Especial das Nações empregados e suas famílias.
Unidas sobre HIV/Aids, realizada em
Nova York em junho de 2001. Este docu-
mento incentiva a prevenção e a assistên- Recomendações
cia aos trabalhadores e suas famílias.
A partir dos princípios básicos de prote- Promover o conhecimento acerca das questões
biológicas, psicológicas e socioculturais que
ção dos direitos dos trabalhadores, de
envolvem a Aids de modo a preparar as empre-
promoção do emprego, de proteção social e
sas ou locais de trabalho para:
do diálogo social da OIT, o documento • reconhecer a Aids como um problema no local
cobre temas como a prevenção, o treina- de trabalho como qualquer outra enfermidade;
mento, a testagem anti-HIV e a confiden-
• não exigir a apresentação do diagnóstico de
cialidade, a assistência e o apoio aos empre- HIV tanto para os futuros contratados quanto
gados infectados e afetados pelo HIV/Aids. para os funcionários efetivos;
São eles: • respeito às necessidades dos portadores;
1. reconhecimento do HIV/Aids como um
• garantir uma política de trabalho na perspec-
problema do local de trabalho;
tiva dos Direitos Humanos e em cidades como
2. não-discriminação e estigmatização das São Paulo e Rio de Janeiro, ser jovem e ter o
pessoas que vivem com HIV/Aids; primeiro trabalho é muito difícil, e se não tiver
3. promoção da igualdade de gênero; o primeiro trabalho não se tem experiência, por-
4. manutenção de um ambiente de traba- que não se tem experiência, não se consegue
lho saudável e seguro; trabalho.
5. promoção do diálogo social para estabe- Tudo isso gera uma roda-viva muito complicada.
lecer programas e ações conjuntas entre Quando a questão da Aids vem se juntar ao con-
governos, empregadores e trabalhadores; texto, a tal roda-viva se agrava tremendamente.
6. proibição de exames (screening) para
os candidatos a emprego ou pessoas
contratadas; Extraído dos Cadernos da Unesco Brasil – 2002.

Juventude e Trabalho • 47
20•CA03BT15P2.qxd 12/13/06 8:47 PM Page 48

Participação política
TEXTO 20

PARA ALÉM DOS


E OVOS TOMATES
Cresce em número e qualidade o universo de eleitores jovens

Regina Novaes ta informação qualitativa disponível. São


múltiplas as experiências de participação

E
nquanto projetamos sobre a juven- juvenil existentes no Brasil. Não se pode
tude o desencanto com as eleições pensar nos grêmios estudantis, nos centros
atuais, presente em uma parcela da acadêmicos, nas juventudes partidárias e
sociedade brasileira, as informações sobre sindicais de hoje com os olhos de décadas
o alistamento eleitoral, divulgadas recen- atrás. Hoje – distinguindo-se e/ou identifi-
temente pelo TSE mostram um aumento cando-se com aqueles espaços usuais da
de 39%, em relação a 2002, do número de política – há posses de Hip-Hop, há jovens
eleitores de 16 e 17 anos, faixa etária em reunidos em diferentes tipos de ONGs e em
que o voto é facultativo. Foi nesta faixa movimentos sociais específicos. Redes de
etária o maior crescimento proporcional de jovens mulheres, da juventude negra e
eleitores. Certamente estes números não indígena, de jovens rurais, de jovens pela
falam por si, mas eles são no mínimo intri- livre orientação sexual, de jovens com defi-
gantes (e fornecem uma pauta e tanto para ciência atuam buscando inscrever seus
meios de comunicação). Com a mesma direitos em diferentes espaços. A Rede dos
indagação na cabeça, vale citar a pesquisa Jovens do Nordeste, que há anos tem feito
Juventudes Brasileiras, recentemente di- uma campanha pelo voto consciente, se
vulgada pela Unesco, que revela que 68,8% organiza através do recorte regional.
dos jovens de 15 a 29 anos acreditam que Grupos culturais, religiosos e esportivos
o voto pode mudar a situação do país e que também fazem parte de um cardápio
66,6% deles afirmaram não ser aceitável amplo e plural. Mas há momentos em que
não votar nas eleições. as fronteiras (sociais e identitárias) exis-
Por outro lado, a despeito das estatísti- tentes entre eles se suspendem produzindo
cas que buscam dar conta do todo, há mui- combinações inéditas e desafiantes inter-

48 • Juventude e Trabalho
20•CA03BT15P2.qxd 12/13/06 8:47 PM Page 49

Foto: Monica Zarattini / AE

A nova geração de
eleitores: a jovem
Roberta Galvão,
18 anos, votando
pela primeira vez,
nas eleições
nacionais de 2002.

locuções. Alguns destes momentos surgem sete regiões metropolitanas brasileiras.


e ecoam no interior do Conselho Nacional Nesta pesquisa, amplamente divulgada, a
de Juventude, onde se busca valorizar as grande maioria dos jovens entrevistados
diferentes formas de participação juvenil. diz desacreditar dos políticos, mas acredi-
De fato, são múltiplas as expectativas tar na política e dela querer participar. Esta
da juventude brasileira. O convite é para última frase pode parecer um mero jogo de
que se conheça mais sobre as criativas e palavras ou um enigma. Mas pode ser vista
pouco divulgadas experiências em curso. também como um convite dos jovens para
Conhecendo, fica difícil dizer, a priori, que que não se economize reflexão e para que
estes grupos não estejam produzindo em faça um debate que possa resgatar o senti-
uma “linguagem jovem”, a não ser que se do mais profundo da política. Para além
considere que tal linguagem seja mono- dos ovos, tomates e eleições.
pólio de alguém ou de algum canal.
Para terminar, vale citar uma pesquisa
realizada sob a coordenação do Ibase e Regina Novaes é antropóloga, secretária nacional adjunta de
Juventude e presidente do Conselho Nacional de Juventude
Polis, em conjunto com outras ONGs, em Fonte P Agência Carta Maior (http://www.cartamaior.com.br)

Juventude e Trabalho • 49
21•CA03BT28P2.qxd 19.01.07 09:53 Page 50

Participação política
TEXTO 21

MUDANÇA DE
ESTILO
Jovens continuam
participando da política,
mas de outras formas,
aponta pesquisa
Foto: Marcelo Ximenez / AE

Daniel Merli entidades estudantis. “A própria realidade


do país não estimula esse jovem a partici-
par da política tradicional”, lamenta Ozira

U
m em cada três jovens brasileiros da Costa, em entrevista ao programa Revis-
participa de algum tipo de organi- ta Brasil, da Rádio Nacional.
zação social. São grupos religiosos, Essa realidade se reflete nos números.
de hip-hop, de grafiti, que não são vistos Dos 8.000 jovens entrevistados, em oito
tradicionalmente como organizações polí- regiões metropolitanas, 28% fazem parte
ticas. Mas atualmente essas têm sido as de algum grupo. Mas apenas 1% desses
formas de participação social dos jovens jovens participam de algum partido políti-
brasileiros. co. E apenas 0,7% está filiado a algum
As avaliações fazem parte de uma sindicato.
pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de A principal forma de participação é em
Análises Sociais e Econômicas (Ibase) e grupos religiosos (15%), seguida das asso-
pelo Instituto Pólis de Estudos e Assessoria ciações esportivas (8%) e de grupos artísti-
em Políticas Públicas. cos (8%). Para Ozanira da Costa, o resultado
“Apesar de se comentar que o jovem mostra a importância dos três temas – reli-
brasileiro está em apatia, a pesquisa aponta gião, esporte e cultura – para a juventude.
um grande nível de participação juvenil”, Um em cada cinco jovens respondeu
destaca Ozanira da Costa, uma das coorde- “sim” à pergunta “Você já participou de
nadoras do estudo. Apesar disso, os jovens algum movimento ou reunião para melho-
têm buscado novas formas de participar da rar a vida do seu bairro ou da sua cidade?”.
vida política, já que há um descontenta- Desse público que já havia participado de
mento grande com as formas tradicionais alguma mobilização, 40% tinha como obje-
de participação, como partidos, sindicatos e tivo melhorar ou criar uma área de lazer

50 • Juventude e Trabalho
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Grupo que faz trabalho voluntário com crianças na Escola do Retiro, em Pirituba. Na foto, da esquerda
para a direita: Luana dos Santos, Paulo França, DJ Dudu, Domingos Lima e Adevaldo de Souza.

ou esporte. Os outros motivos foram segu- jovens se informam pela televisão. (...) Os
rança (34%), melhora de saneamento jovens não têm acesso e as escolas não esti-
(29%) e de postos de saúde (27%). mulam temas da atualidade”.
Duas das chaves para essa participa- A pesquisa dos institutos Pólis e Ibase
ção, segundo a pesquisadora, são a renda e foi feita em dois períodos: julho de 2004,
o grau de educação dos jovens. A pesquisa pouco antes das eleições municipais, e
revelou que quanto maior a renda do novembro de 2005, período da crise polí-
jovem, maior seu grau de participação em tica que atingiu o Congresso Nacional.
organizações sociais. O mesmo vale para o Foram entrevistadas 8 mil pessoas de 15
grau de instrução. a 24 anos das regiões metropolitanas de
“A grande ligação para que o jovem Belém, Belo Horizonte, Porto Alegre,
possa participar mais da vida política e da Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São
sociedade é a educação”, afirma. “Mas o Paulo e Distrito Federal.
jovem pobre tem uma grande dificuldade Depois da pesquisa quantitativa,
de acesso à educação e não tem estímulo. foram escolhidos 900 jovens para uma
Já o jovem com renda familiar melhor pesquisa qualitativa. Segundo Ozira da
tem condição de ir a uma escola particu- Costa, foi usado um método canadense
lar e lá tem mais acesso à informação e chamado de Grupos de Diálogo. São
mais estímulo para participar da vida formados grupos de discussão sobre
política do país”. alguns temas para descobrir a opinião dos
A falta de acesso à informação é outro entrevistados sobre cada assunto.
obstáculo à participação, segundo a pesqui-
sadora. “A pesquisa mostrou que 85% dos Extraído do site: http://ww.radiobras.gov.br

Juventude e Trabalho • 51
22•CA03BT22P2.qxd 20.01.07 12:18 Page 52

Participação política
TEXTO 22

Desconfiai do mais trivial ,


NADA É na aparência singelo.
E examinai, sobretudo,

IMPOSSÍVEL o que parece habitual.


Suplicamos expressamente:

DE MUDAR não aceiteis o que é de hábito


como coisa natural,
Brecht pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada,
de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural
nada deve parecer impossível de mudar.

52 • Juventude e Trabalho
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Ser jovem
TEXTO 23

SONETO DE
JUVENTUDE
Dessa juventude serei vivente,
A alma eterna da vida, a minha prece,
Que de sonho e conquistas enriquece,
O ontem, o hoje, o amanhã e eternamente.

Quero vivê-la sempre intensamente,


Nos momentos de glória envaidece,
Na inquietação que a vida oferece,
No rosto que traz um sorriso ausente.

Se na rebeldia do inconsciente,
Encontra-se o desejo que estremece,
Amar, lutar, vencer, poder ser gente,

Ser um jovem que luta e não esmorece,


E mesmo que na ânsia se faz carente,
De viver o sonho nunca se esquece.

Dairi José Antônio Duarte


Cordeiros – BA

Juventude e Trabalho • 53
24•CA03BT29P2.qxd 12/13/06 8:52 PM Page 54

Necessidades Especiais
TEXTO 24

CONSELHO NACIONAL
DE JUVENTUDE APROVA
POR ACLAMAÇÃO CARTA
SOBRE ACESSIBILIDADE
O Conselho Nacional de Juventude aprovou por aclamação a
Carta de Março, que discute a acessibilidade e inclusão social
de jovens com deficiências.

A
partir da situação de discriminação Marcelo Yuka
vivida pelo cantor e compositor
Marcelo Yuka – ex-baterista da banda
O Rappa e hoje membro do Conjuv – em
setembro de 2005, denunciada e documen-
tada pela Escola de Gente – Comunicação
em Inclusão, publicada no jornal O Globo, o
Conselho se mobilizou e solicitou à organi-
zação que redigisse um documento discu-
tindo o tema acessibilidade para pessoas
com deficiência. Abaixo, a carta:

Acessibilidade
A Organização das Nações Unidas
(ONU) aponta que existem 600 milhões de
Foto: Wilon Junior / AE

pessoas com deficiência no planeta – 400


milhões nos países em desenvolvimento.
Ainda, segundo a ONU, a deficiência é tanto
causa como efeito da pobreza: 82% das
pessoas com deficiência do mundo, princi-

54 • Juventude e Trabalho
24•CA03BT29P2.qxd 12/13/06 8:52 PM Page 55

palmente crianças e jovens, vivem abaixo cinema, material em braile e sites com aces-
da linha da pobreza. Dados do Banco Mun- sibilidade de acordo com padrões nacional
dial apontam que pelo menos 79 milhões de e internacional.
indivíduos com deficiência estão na Améri- Agências de cooperação internacional,
ca Latina e no Caribe, dos quais 24 milhões programas de investimento social corporati-
no Brasil, de acordo com o Censo 2000 do vo e políticas públicas governamentais e
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísti- não-governamentais continuam apostando
ca (IBGE). primeiro na busca de soluções para a pobre-
Por que, então, atender às necessida- za e, só depois, para a deficiência – enfoque
des específicas de pessoas com deficiên- que não vem trazendo os resultados espera-
cia ainda é considerado custo e não inves- dos. A conseqüência desse modo dicotômi-
timento pela maioria dos especialistas em co de perceber a juventude de um país é a
políticas públicas? falta de convivência de jovens com e sem
Por que as políticas públicas continuam deficiência e a perpetuação de práticas secu-
tratando pobreza e deficiência como ques- lares de discriminação. Grande parte dos
tões isoladas? projetos de juventude no Brasil continua
De que modo as necessidades específi- discriminando jovens com deficiência por
cas da deficiência podem mudar o rumo de absoluta inconsciência e desconhecimento.
programas e projetos de desenvolvimento, No dia 2 de dezembro de 2004, o gover-
como o combate à miséria e à fome? no federal atendeu uma demanda histórica
No Brasil, mais da metade de crianças, dos movimentos sociais que defendem os
adolescentes e jovens com deficiência é direitos de pessoas com deficiência: assinou
pobre (conforme dados da ONU) e rara- o Decreto Federal nº 5.296, regulamentan-
mente consegue participar de programas do as leis nos 10.048/00 e 10.098/00 e esta-
sociais em suas comunidades. Não costuma belecendo normas gerais e critérios básicos
haver previsão de recursos no orçamento para a promoção da acessibilidade das
desses projetos – governamentais, não- pessoas com deficiência ou mobilidade
governamentais e privados – para garantir reduzida (gestantes, pessoas com crianças
a jovens com deficiência, direitos humanos de colo, pessoas com idade igual ou supe-
como o de ir e vir e o de se comunicar. Direi- rior a sessenta anos, pessoas obesas, entre
tos garantidos por meio de ajudas técnicas outras situações).
previstas em leis como intérprete da Língua A regulamentação dessas leis represen-
Brasileira de Sinais (Libras), legendagem tou um passo decisivo para a cidadania e
em programas de televisão e sessões de inclusão de crianças, jovens, adultos (as) e

Juventude e Trabalho • 55
24•CA03BT29P2.qxd 19.01.07 09:55 Page 56

Te x t o 2 4 / Necessidades Especiais

idosos (as) com deficiência ou mobilidade brasileiros (as) como sujeitos de todo e
reduzida, garantindo que o acesso à educa- qualquer direito, entre eles, direito à parti-
ção, à saúde, ao trabalho, ao lazer, ao turis- cipação em todos os processos que lhes inte-
mo e à cultura contemple a diversidade ressem direta e indiretamente.
humana. O decreto trata de cinco eixos A partir dessa conjuntura, a presidên-
principais: acessibilidade no meio físico; cia da República lançou no ano de 2005
acessibilidade nos sistemas de transportes uma política nacional para a juventude,
coletivos terrestres, aquaviários e aéreos; criando a Secretaria Nacional de Juventude
acessibilidade na comunicação e na infor- e o Conselho Nacional de Juventude. Estas
mação; acesso às ajudas técnicas; e existên- decisões refletem um sistemático processo
cia de um programa nacional de acessibili- de aprendizado e reflexão do governo, so-
dade com dotação orçamentária específica. ciedade civil, parlamento e organismos de
A legislação brasileira é um exemplo mun- cooperação internacional no tema; mas
dial com relação à inclusão de pessoas com crianças, adolescentes e jovens com defici-
deficiência, o principal desafio é divulgá-la ência no nosso país continuam, na maioria
e colocá-la em prática, comprometendo das vezes, invisíveis para profissionais de
todos os segmentos da sociedade brasileira todos esses setores. Não estão assegurados
neste processo. recursos e investimentos federais suficien-
Relacionando as questões da juventude tes em todas as áreas de atuação de políti-
com as específicas da deficiência, temos um cas públicas de modo a criar condições reais
panorama inédito. O país tem no momento de inclusão de pessoas com deficiência na
a maior geração de jovens de todos os saúde, na escola, no trabalho, no transpor-
tempos: são 48 milhões de brasileiros (as) te, na cultura, no esporte, no lazer e no
com idade entre 15 e 29 anos. Ao mesmo acesso à comunicação e à informação.
tempo, cresceu no país a percepção de que O Conselho Nacional de Juventude já
é preciso construir políticas públicas inclusi- se posicionou com relação à acessibilidade
vas para esse segmento, ou seja, abertas à e à inclusão de pessoas com deficiência no
diversidade, contemplando as característi- Brasil a partir da denúncia feita pela Escola
cas e as necessidades inerentes das infinitas de Gente – Comunicação em Inclusão, orga-
juventudes, entre elas aquela formada por nização da sociedade civil que participa do
jovens com qualquer tipo de deficiência, Conselho, publicada no jornal O Globo, na
hoje com baixíssima escolaridade. Nesse coluna Ancelmo Góis, em 27 de setembro
contexto, vem ganhando legitimidade como de 2005. A nota relata atos de discrimina-
assunto estratégico e de relevância nacional ção contra o músico e poeta Marcelo Yuka,
a urgência em reconhecer os (as) jovens também membro do Conselho, durante

56 • Juventude e Trabalho
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Apresentação de
caopeira com
crianças deficientes
na inauguração da

Foto: Sérgio Castro / AE


sede da Associação
de Assistência à
Criança Deficiente,
em Osasco, na
Grande São Paulo

embarque no aeroporto de Brasília. Partin- nadas a esse público. O objetivo é reverter


do do princípio de que governo, empresas e o quadro atual de ausência de políticas
organizações da sociedade civil não devem específicas para tratar do tema com
impedir ou prejudicar o acesso de pessoas propostas concretas de mudança alinha-
com deficiência a bens, serviços e direitos, das com a legislação brasileira e filosofi-
para não ferir os princípios de legalidade, camente inspiradas na força mobilizado-
eficiência e moralidade, o Conselho Nacio- ra e transformadora da juventude.
nal de Juventude trabalha para garantir às Há pressa em disseminar o conceito
pessoas com e sem deficiência o pleno exer- de uma sociedade inclusiva entre jovens
cício de direitos humanos e fundamentais, que se preparam e iniciam sua entrada na
como o de ir e vir. O caso de Marcelo Yuka vida adulta – pessoal e profissional. O
não é exceção, e sim regra. Não foi um objetivo desta carta é tornar público para
acontecimento isolado. Diariamente, uma o Brasil o compromisso assumido pelo
lista de pessoas com deficiência enfrenta Conselho Nacional de Juventude de traba-
situações de constrangimento e violação de lhar para a criação de políticas públicas de
seus direitos. juventude inclusivas, que simultaneamen-
O Conselho Nacional de Juventude te ratifiquem a diversidade humana como
vem, desde sua criação, estabelecendo um valor e combatam a desigualdade
mecanismos de acompanhamento e avalia- econômica e social.
ção dos programas governamentais desti- Conselho Nacional de Juventude
nados aos (às) jovens brasileiros(as),
buscando aprimorar e integrar ações desti- Fonte: DefNet/Escola de Gente

Juventude e Trabalho • 57
25•CA03BT31L1.qxd 12/13/06 8:54 PM Page 58

Cultura juvenil
TEXTO 25

ENSAIO: BRUNO MIRANDA


Quando pensei pela primeira vez em
fotografar o movimento Hip-hop, uma coisa
não saía da minha cabeça... Como vou fazer
para me aproximar dessa galera tão ressen-
tida com a vida? Escutei Racionais a minha
adolescência toda. Sentia o desprezo que
tinham por brancos nascidos em berço de
ouro criados à base de sustagem e leite
ninho coisa e tal. Eu não podia negar
minhas raízes, fingir que era malandrão,
sendo que nunca passara de um jovem de
classe média que sempre teve acesso a tudo.
Depois de entrar na faculdade e
alguns professores cheios de mestrados e
doutorados me ensinarem a antropologia
social estrutural aplicada na periferia,
resolvi voltar, mas agora com um olhar

58 • Xxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxx
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mais crítico. Muitas coisas escritas nos


livros eu joguei fora antes de pegar o
ônibus para dar um rolê.
Quando me encontrei com a galera
do movimento capixaba, fiquei de cara:
todos me receberam muito bem. Lógico
que não rolou babação nem nada, mas
me respeitaram e eu fiz o mesmo. Com o
tempo, viram que eu não estava ali para
brincar. Levava a sério, tentava ser um
quinto elemento, e aos poucos conquistei
meu espaço (e venho conquistando!).
Muito mais do que belas fotos e histó-
rias interessantes, esse trabalho me fez
ver a vida de outro jeito, alimentou minha
alma artística, viver pela arte, pelo amor
a uma causa, no meu caso a fotografia.
Bruno Miranda é formado em jornalismo, nascido em 1982.
Extraído da revista Caros Amigos

Xxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxx • 59
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Risco social
TEXTO 26

A REDUÇÃO

COMPLICA
Uma reflexão sobre as propostas de redução
da idade penal em períodos eleitorais
as distorções em torno da responsabiliza-
ção penal dos adolescentes. A medida
Ariel Alves refletiria, necessariamente, no aumento
da criminalidade – e não o contrário, co-
mo pugnam seus defensores. Vejamos sin-

N
os últimos anos, temos visto com
freqüência, principalmente nos teticamente algumas das principais ques-
períodos eleitorais, campanhas e tões que envolvem o polêmico assunto:
projetos de lei sobre a redução da idade
• Um recente levantamento da Secretaria
penal e o aumento do tempo de interna-
de Segurança Pública do Estado de São
ção para adolescentes infratores. Essas
Paulo mostrou que os adolescentes são
campanhas e projetos são patrocinados
responsáveis por apenas 1% dos homicí-
por setores políticos que demonstram
dios praticados no estado e por menos de
notória atuação reacionária e oportunis-
4% do total de crimes;
ta. Também participam familiares de víti-
mas de crimes praticados por adolescen- • Pelo contrário, os jovens são as principa-
tes – que movidas, justificadamente, por is vítimas da violência no Brasil. Confor-
forte emoção e dor, defendem a redução me uma pesquisa realizada em 1999
da inimputabilidade penal ou até a morte pelo Movimento Nacional de Direitos
dos jovens autores de crimes. Humanos, para cada adolescente que
Porém os signatários da campanha comete um crime, outros quatro são víti-
desconhecem ou preferem não conhecer as mas de crimes praticados por adultos
verdadeiras causas da violência no Brasil e contra eles. Um recente relatório da

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Unesco demonstra que os jovens são as • As pesquisas que divulgam a defesa da


principais vítimas da falta de oportunida- redução da idade penal pela maioria da
des, do desemprego, da exclusão social população partem de uma indagação
e, principalmente, da violência. Quase equivocada e que induz a erro os entre-
metade de todos os homicídios que ocor- vistados: “Você acha que os jovens com
rem no país é praticada contra jovens menos de 18 anos devem ser responsabi-
com idades entre 15 e 24 anos. Esse é o lizados?”, partindo do pressuposto de que
mesmo perfil da maioria das vítimas da eles ficariam impunes. Na realidade, eles
violência policial e dos grupos de exter- são devidamente responsabilizados, mas
mínio em São Paulo: além de jovens, são não pela lei penal e sim pela legislação
negros e pobres; especial (Lei 8. 069/90 – Estatuto da
Criança e do Adolescente), que prevê no
• Os jovens com idades entre 18 e 25 anos
artigo 112 as medidas socioeducativas,
representam 70% da população prisional
que não vislumbram só a punição, mas
brasileira, evidenciando que o Código
principalmente a reeducação e socializa-
Penal e suas punições não inibem os adul-
ção dos adolescentes infratores;
tos jovens da prática de crimes. Portanto,
também não serviria para intimidar os • Os crimes graves atribuídos a adoles-
adolescentes entre 16 e 18 anos; centes no Brasil não ultrapassam 10%
do total de infrações. A grande maioria
• A questão da inimputabilidade é conside-
(mais de 70%) dos atos infracionais,
rada “cláusula pétrea”, se tratando de di-
são contra o patrimônio, demonstrando
reito e garantia fundamental das crian-
que os casos de infratores considerados
ças e dos adolescentes, sendo, portanto,
de alta periculosidade e autores de
inconstitucional qualquer emenda visan-
homicídios são isolados e o ECA já
do à modificação, conforme pode-se veri-
prevê tratamento específico para eles;
ficar nos artigos 5o, 228 e 60, parágrafo
4o, inciso IV da Constituição Federal; • A reincidência criminal no sistema peni-
tenciário brasileiro é de 60%, já no siste-
• O Brasil ratificou a Convenção da ONU
ma de internação da Febem (Fundação
(Organização das Nações Unidas) de
Estadual do Bem-Estar do Menor) de São
1989, que define como crianças e adoles-
Paulo, apesar da crise permanente da
centes todas as pessoas com menos de 18
instituição descumpridora do ECA, a rein-
anos de idade, que devem receber trata-
cidência infracional é de 16%, segundo
mento especial e totalmente diferenciado
fontes oficiais. Isso demonstra que os
dos adultos;

Juventude e Trabalho • 61
26•CA03BT33L1.qxd 12/15/06 7:21 PM Page 62

Te x t o 2 6 / Risco social

Menores presos
almoçam no
Instituto Padre
Severino, na Ilha
do Governador,
Rio de Janeiro.

adolescentes, por esforço próprio e apoio Tendo em vista as informações acima,

Foto: Tasso Marcelo / AE


de entidades, estão mais propícios a será que vale a pena investir na formação
serem recuperados. Nos Estados que de criminosos cada vez mais precoces ou
cumprem o ECA, os índices são ainda cumprir o que dispõe o Estatuto da Criança
menores, entre 1 e 5%; e do Adolescente, garantindo a inclusão
social e os direitos da infância e juventude
• Alguns países que reduziram a idade
brasileiras? Vale uma reflexão!
penal, como a Espanha e Alemanha, veri-
ficaram um aumento da criminalidade
entre os adolescentes e acabaram voltan-
do a estabelecer a idade penal em 18
anos (como mais de 70% dos países do
Ariel de Castro Alves (ariel.alves@uol.com.br) é advogado, conselheiro
mundo) e um tratamento especial, com nacional do Movimento Nacional de Direitos Humanos, vice-presidente
do Projeto Meninos e Meninas de Rua, diretor do Sindicato
medidas socioeducativas, para os jovens dos Advogados de São Paulo e colaborador da Justiça Global.
de 18 a 21 anos. Extraído de www.rets.org.br

62 • Juventude e Trabalho
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Cultura juvenil
TEXTO 27

A VERDADEIRA DANÇA DO

PATINHO
BNegão

Eles traçam e destraçam o seu caminho – É a dança – dança do patinho


Eles mandam uma qualquer e tu leva fé direitinho – É a dança – dança do patinho
Dança do patinho (a verdadeira!)
Você que assina contrato sem ler
Acha que a ONU se importa com você
Você que acredita no ouro nacional
Chegou a sua hora isso é fenomenal
Você que acredita no que falam na TV
Dá seu dinheiro pro pastor pra fazer sua fé valer (eh, eh…)
E pra você que acredita no velho azul-marinho, essa é sua dança
Dança do patinho (a verdadeira!)
Você que acredita na mega-sena, toto-bola, raspadinha e na garota de Ipanema
Você que acredita nos caras pintadas, acredita que o Brasil vai tá ganhando com a ALCA
Acreditou em inflação zero, no salário-desemprego
Mas não viu que o governo tava botando no seu…
Parabéns, você é perfeito, foi feito pra isso
Pra dançar a dança, a verdadeira…
Dança do patinho (a verdadeira!)
Você que toma volta quando quer ficar ligado
Acredita no bicho-papão e no aumento de salário
Você que paga seus impostos religiosamente, esperando algum dia uma aposentadoria decente
Você que acredita em alguma punição pros que roubam e colocam no… da população
E pra você que acredita que nunca foi lesado, cante comigo esse hino, esse é o meu recado:
braço em forma de asa, alterna pé e faz biquinho tu entrou na dança
Dança do patinho (a verdadeira!)

http://www.midiaindependente.org/pt/red/2004/06/283492.shtml

Juventude e Trabalho • 63
eja_expediente_Juventude_2379.qxd 1/26/07 3:25 PM Page 64

Expediente
Comitê Gestor do Projeto
Timothy Denis Ireland (Secad – Diretor do Departamento da EJA)
Cláudia Veloso Torres Guimarães (Secad – Coordenadora Geral da EJA)
Francisco José Carvalho Mazzeu (Unitrabalho) – UNESP/Unitrabalho
Diogo Joel Demarco (Unitrabalho)

Coordenação do Projeto
Francisco José Carvalho Mazzeu (Coordenador Geral)
Diogo Joel Demarco (Coordenador Executivo)
Luna Kalil (Coordenadora de Produção)

Equipe de Apoio Técnico


Adan Luca Parisi
Adriana Cristina Schwengber
Andreas Santos de Almeida
Jacqueline Brizida
Kelly Markovic
Solange de Oliveira

Equipe Pedagógica
Cleide Lourdes da Silva Araújo
Douglas Aparecido de Campos
Eunice Rittmeister
Francisco José Carvalho Mazzeu
Maria Aparecida Mello
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Equipe de Consultores (Câmara Brasileira do Livro. SP, Brasil)
Ana Maria Roman – SP Juventude e trabalho / [coordenação do projeto
Antonia Terra de Calazans Fernandes – PUC-SP Francisco José Carvalho Mazzeu, Diogo Joel Demarco,
Armando Lírio de Souza – UFPA – PA Luna Kalil]. -- São Paulo : Unitrabalho-Fundação
Interuniversitária de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho ;
Célia Regina Pereira do Nascimento – Unicamp – SP Brasília, DF : Ministério da Educação. SECAD-Secretraria de
Eloisa Helena Santos – UFMG – MG Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2007,
Eugenio Maria de França Ramos – UNESP Rio Claro – SP -- (Coleção Cadernos de EJA)

Giuliete Aymard Ramos Siqueira – SP Vários colaboradores.


Lia Vargas Tiriba – UFF – RJ Bibliografia.
ISBN 85-296-0059-2 (Unitrabalho)
Lucillo de Souza Junior – UFES – ES
ISBN 978-85-296-0059-8 (Unitrabalho)
Luiz Antônio Ferreira – PUC-SP
Maria Aparecida de Mello – UFSCar – SP 1. Juventude 2. Livros-texto (Ensino Fundamental)
3. Trabalho I. Mazzeu, Francisco José Carvalho.
Maria Conceição Almeida Vasconcelos – UFS – SP II. Demarco, Diogo Joel. III. Kalil, Luna. IV. Série.
Maria Márcia Murta – UNB – DF 07-0386 CDD-372.19
Maria Nezilda Culti – UEM – PR Índices para catálogo sistemático:
Ocsana Sonia Danylyk – UPF – RS 1. Ensino integrado : Livros-texto :
Osmar Sá Pontes Júnior – UFC – CE Ensino fundamental 372.19

Ricardo Alvarez – Fundação Santo André – SP


Rita de Cássia Pacheco Gonçalves – UDESC – SC
Selva Guimarães Fonseca – UFU – MG
Vera Cecilia Achatkin – PUC-SP

Equipe editorial
Preparação, edição e adaptação de texto: Pesquisa iconográfica e direitos autorais:
Editora Página Viva Companhia da Memória

Revisão: Fotografias não creditadas:


Ivana Alves Costa, Marilu Tassetto, iStockphoto.com
Mônica Rodrigues de Lima,
Apoio
Sandra Regina de Souza e Solange Scattolini
Editora Casa Amarela
Edição de arte, diagramação e projeto gráfico:
A+ Desenho Gráfico e Comunicação

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