Notas de Aula
Contato:
Prof. Dr. Erinaldo Hilário Cavalcante
Área de Geotecnia e Pavimentação
Av. Mal. Rondon, S/N – Cidade Universitária
Aracaju – SE
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e-mail: erinaldo@ufs.br
ÍNDICE
1.0 Definição 3
2.0 Tipos de Empuxos 3
3.0 Cálculos dos Coeficientes de Empuxo Ativo e Passivo 5
4.0 Métodos para Cálculo do Empuxo 6
4.1 Método de Rankine 6
4.1.1 O efeito da água 9
4.1.2 Situações possíveis de perfis de tensão horizontal 11
4.1.3 Efeito de uma Sobrecarga 12
4.2 Método de Coulomb 12
4.2.1 Solução analítica do método de Coulomb para solos granulares 13
4.3 Solo Coesivo 15
4.4 Comentários Sobre os Métodos de Rankine e Coulomb 18
4.5 Métodos Gráficos 18
4.5.1 Método gráfico de Poncelet 18
4.5.1.1 Terrenos inclinados e sobrecarga 19
5.0 Estabilidade de Muros de Arrimo 21
5.1 Estruturas de Arrimo 21
5.2 Condições de Estabilidade dos Muros de Arrimo 25
5.2.1 1ª condição: Segurança contra o tombamento 25
5.2.2 2ª condição: Segurança contra o escorregamento 26
5.2.3 3ª condição: Segurança contra deformação excessiva no terreno de 27
fundação
5.2.4 4ª condição: Segurança contra ruptura global 28
6.0 Exemplos de Aplicação 31
7.0 Bibliografia Consultada 33
2
1.0 Introdução
Denomina-se Empuxo a ação produzida por um maciço de terra (Empuxo de Terra) ou por
uma massa de água (Empuxo de água) sobre as obras em contato com tais maciços,
projetadas para suportar os esforços decorrentes desses elementos. Os empuxos de terra,
assim como as fundações, também dependem da interação solo – estrutura.
Algumas vezes, na engenharia civil, não se dispõe de espaço suficiente para fazer uma
transição gradual das elevações do terreno onde se quer implantar uma determinada obra.
Nestes casos, os taludes necessários podem ser suficientemente altos ou inclinados, de modo
que a estabilidade dos mesmos não é assegurada em longo prazo. As estruturas de contenção
são projetadas para prover suporte para estas massas de solo instáveis.
O cálculo dos empuxos de terra constitui uma das mais antigas preocupações da engenharia
civil, tratando-se de um problema de elevado valor prático, de ocorrência freqüente e de
determinação complexa. As teorias clássicas sobre empuxo de terra foram formuladas por
Coulomb (1773) e Rankine (1856).
Os muros de arrimo, os escoramentos de escavações, os encontros de pontes, os problemas
de capacidade de carga de fundações, pressão de grãos sobre as paredes de silos, entre
outras, são as obras que exigem, em seus dimensionamentos e análises de estabilidade, o
conhecimento das tensões laterais desenvolvidas e, conseqüentemente, dos valores dos
empuxos.
3
(a) (b)
Figura 1.1 – Condições de deslocamento relativo maciço-muro nos casos (a) ativo e (b) passivo.
Em todos os casos apresentados acima existe uma relação entre as tensões horizontais
efetivas desenvolvidas (σ´h) e as tensões verticais efetivas (σ´v) atuantes. A relação entre estas
tensões denomina-se coeficiente de empuxo (K). No caso ativo, tem-se o coeficiente de
empuxo ativo (Ka). No caso passivo, recebe o nome coeficiente de empuxo passivo (Kp),
enquanto que na situação de repouso a denominação é coeficiente de empuxo em repouso
(K0).
σ ´h
K= (1)
σ ´v
Na situação de repouso existe a conhecida equação de Jaki, professor húngaro, para a
estimativa de K0 em função apenas do ângulo de atrito interno efetivo do solo (φ): K0 = (1-sinφ´)
para areias e K0 = (1-sinφ´)x(OCR)senφ´ para o caso de argilas com história de préadensamento.
O empuxo em um ponto é, portanto, calculado em função da tensão vertical naquele ponto
multiplicada pelo valor do coeficiente de empuxo específico.
4
3.0 Cálculos dos Coeficientes de Empuxo Ativo e Passivo
Figura 1.3 – Círculos de Mohr inicial e final de tensões para os estados ativo, passivo e em repouso.
em que
φ
Nφ = tg 2 45° + (2A)
2
No estado ativo, a tensão horizontal, σha, corresponde à tensão principal menor, σ3. Se o solo
for granular (c=0), pode-se demonstrar que :
σ´
K = h = 1 = tg 2 45° − φ (3)
a σ´ N 2
v φ
5
No estado passivo, a tensão horizontal, σhp, corresponde à tensão principal maior, σ1. Se o solo
for granular (c=0), pode-se facilmente demonstrar também que :
σ´
K = h = Nφ = tg 2 45° + φ (4)
p σ´ 2
v
Das Equações 3 e 4 observa-se que os valores de Ka são sempre inferiores a 1, ao passo que
os valores de Kp, por serem o inverso dos do coeficiente de empuxo ativo, são sempre
superiores à unidade.
Os processos clássicos utilizados para a determinação dos empuxos de terra são métodos de
equilíbrio limite. Nestes métodos admite-se que a cunha de solo situada em contato com a
estrutura de suporte esteja num dos possíveis estados de plastificação, ativo ou passivo. Esta
cunha tenta deslocar-se da parte fixa do maciço e sobre ela são aplicadas as análises de
equilíbrio dos corpos rígidos. A análise de Rankine se apóia nas equações de equilíbrio interno
do maciço. Estas equações são definidas para um elemento infinitesimal do meio e estendida a
toda a massa plastificada através de integração. Esta análise enquadra-se no teorema da
região inferior (TRI) da teoria da plasticidade.
Como filosofia básica, este teorema defende, em primeiro lugar, o equilíbrio de tensões entre
os campos externos e internos que se estabelecem sobre a cunha plastificada. As tensões
externas são despertadas por solicitações aplicadas na superfície do terreno pela ação do peso
próprio da cunha. As solicitações internas são as reações que se desenvolvem na cunha, em
conseqüência das solicitações externas. Para resolução das equações de equilíbrio, todos os
pontos dentro da cunha de ruptura são supostos em estado limite e as tensões se relacionam
pelo critério de ruptura de MÖHR – COULOMB.
A solução de Rankine, estabelecida para solos granulares e estendida por Rèsal para solos
coesivos, constitui a primeira contribuição ao estudo das condições de equilíbrio limite dos
maciços, tendo em conta as equações de equilíbrio interno do solo. Em razão disso, essas
equações são conhecidas como estados de plastificação de Rankine.
O método de Rankine, que consiste na integração, ao longo da altura do elemento de suporte,
das tensões horizontais atuantes, calculadas a partir do sistema de equações estabelecido
para o maciço, fundamenta-se nas seguintes hipóteses:
6
ii) O solo no interior da cunha de ruptura se encontra nos estados de plastificação de
Rankine.
iii) A inserção do muro não interfere nos resultados obtidos.
Embora teoricamente a solução de Rankine só seja válida para muro de parede vertical,
perfeitamente lisa, que é quando se atingem os estados de plastificação de Rankine (superfície
de escorregamento fazendo um ângulo igual a 45° + φ/2 ou 45° - φ/2 com o plano principal
maior, para as condições ativa e passiva, respectivamente, conforme mostrado na Figura 1.4),
ela é estendida também aos casos em que o tardoz do muro faz um ângulo β com a vertical.
7
Figura 1.5 – Efeito do atrito solo–estrutura sobre as direções das cunhas de plastificação.
Sobre o procedimento do método de Rankine existe a desvantagem de que a obtenção dos
valores de Ka e Kp para geometrias complexas e/ou outras formas de carregamento, que não
carregamento extenso, conduz a procedimentos de cálculos bastante árduos.
Para os solos não coesivos, a variação das tensões horizontais é linear com a profundidade. O
diagrama resultante será triangular e o empuxo consistirá na integração das tensões laterais ao
longo da altura. A Figura 1.6 ilustra a obtenção do empuxo ativo sobre uma estrutura de
contenção pelo método de Rankine, para os casos de solos não coesivos e coesivos.
Figura 1.6 – Aplicação do método de Rankine para cálculo do empuxo ativo sobre estruturas de
contenção (Machado e Machado, 2002).
Conforme se pode observar, para o caso dos solos coesivos, os valores de empuxo obtidos até
uma profundidade z = z0 são negativos. A ocorrência de empuxo negativo sobre a estrutura de
contenção é pouco provável, pois neste caso haveria uma tendência do solo se “descolar” do
muro. Além disto, até a profundidade de z = z0, é provável a ocorrência de trincas de tração no
solo. Deste modo o empuxo negativo sobre a estrutura de contenção é geralmente
desprezado, calculando-se o empuxo a partir da altura reduzida do muro, h = H – z0, conforme
mostrado na Figura 1.6.
8
A integração das tensões horizontais ao longo do muro de arrimo representa o empuxo ativo
atuando sobre a estrutura de contenção, conforme a equação seguinte:
h 1
E a = ∫ K a γ ⋅ z ⋅ dz = .γ .h 2 .K a (5)
0 2
9
Figura 1.7 – Efeito da água no empuxo do solo sobre estruturas de contenção (Machado e
Machado, 2002).
Neste caso, há uma mudança no peso específico do solo, que passa a γsat, e que as tensões
neutras devem subtraídas das tensões horizontais do solo sobre a estrutura, pois os
coeficientes de empuxo devem sempre ser utilizados em termos de tensão efetiva. Caso o
nível d’ água se eleve até à superfície do terreno, o que consiste na situação mais
desfavorável, o empuxo ativo sobre a estrutura de contenção será calculado através da
Equação 8:
1 h 2γ w
E a = .γ sub .h 2 .K a + (8)
2 2
No caso de talude onde exista uma inclinação β do terrapleno com o plano horizontal, os
coeficientes de empuxo ativo e passivo são dados pelas Equações 9 e 10, respectivamente. Os
valores dos empuxos resultantes sobre as estruturas de contenção são obtidos através das
Equações 11 e 12, respectivamente.
1
E = .γ .h 2 .K a (11)
a 2
1
Ep = .γ .h 2 .K P (12)
2
10
Os valores de Ka e Kp se encontram tabelados para facilitar a obtenção, conforme apresentado
nas Tabelas 1.1 e 1.2.
A Figura 1.8 mostra três situações que podem ser encontradas na prática: no caso a, tem-se a
superfície horizontal (β=0°), na qual o valor de Ea é a própria componente horizontal; na
situação b, o terreno se apresenta inclinado de um valor β>0, onde a resultante do empuxo
será também inclinada de mesmo ângulo, enquanto que no caso c além da inclinação existe
uma sobrecarga distribuída na superfície do terreno. Os valores das tensões horizontais e suas
respectivas distribuições estão apresentados nas próprias ilustrações.
11
4.1.3 Efeito de uma Sobrecarga
Quando sobre a superfície do maciço atua um sobrecarga uniformemente distribuída, q,
conforme mostrado na Figura 1.9, as tensões horizontais podem ser calculadas pela
expressão:
σ h = (γ .z + q ) ⋅ K (13)
onde K é o coeficiente de empuxo ativo ou passivo do solo, conforme o caso que se considere.
A sobrecarga ainda pode ser transformada em uma altura equivalente de terra, h0, em que:
q
h0 = (14)
γ
em que γ é o peso específico do solo. A tensão horizontal, a uma profundidade z, será então:
σ h = (γ .z + γ .h0 ) ⋅ K (15)
Conforme mostrado na Figura 1.9, o diagrama de tensões horizontais, neste caso, será
trapezoidal, e a resultante estará acima do terço inferior da altura da parede.
O método de C. A. Coulomb é um dos mais antigos para o cálculo do empuxo de terra, tendo
sido enunciado por volta de 1776 (Bowles, 1998). O método de Coulomb é baseado no
Teorema da Região Superior (TRS) da teoria da Plasticidade, a qual estabelece o equilíbrio de
uma massa de solo partindo do pressuposto que, para um deslocamento arbitrário, o trabalho
realizado pelas forças externas é menor que o das forças internas. Do contrário, o maciço
entrará em processo de instabilidade ou de plastificação. Este método admite as seguintes
hipóteses:
i) O solo é isotrópico, homogêneo e possui atrito interno e coesão.
ii) A superfície de ruptura é considerada plana
iii) É atendida a condição de deformação plana ao longo do eixo do muro (bidimensional).
12
iv) Ao longo da superfície de deslizamento o material se encontra em estado de equilíbrio
limite (critério de Mohr-Coulomb).
v) Ocorre deslizamento relativo entre o solo e o muro, resultando em tensões cisalhantes na
interface, cuja direção depende do movimento relativo solo-estrutura. O coeficiente de
atrito é dado por f = tan(φ).
Empuxo Ativo: A Equação 16 apresenta o valor do coeficiente de empuxo ativo obtido pelo
método de Coulomb. Nas Figuras 1.10 e 1.11 estão apresentadas todas as variáveis contidas
na Equação 16, para o caso de empuxo passivo. No caso de empuxo ativo, a resultante R do
solo atuará desviada também de φ’ da normal à cunha, mas agora em sentido oposto. Do
mesmo modo, devido ao movimento descendente da cunha no caso ativo, Ea será inclinada da
normal à contenção também de δ, mas em sentido contrário àquele apresentado na Figura
13
1.10. Deste modo, no uso das Equações 16 e 17, deve-se atentar para a convenção de sinais
adotada nas Figuras 1.10 e 1.11.
sen 2 (α + φ´)
Ka = (16)
sen(φ´+δ ) ⋅ sen(φ ´− β )
2
sen 2 (α ) ⋅ sen(α − δ )1 +
sen(φ´−δ ) ⋅ sen(φ´+ β )
sen 2 (α − φ´)
KP = (17)
sen(φ´+δ ) ⋅ sen(φ´+ β )
2
sen 2 (α ) ⋅ sen(α + δ )1 −
sen(φ´+δ ) ⋅ sen(φ´+ β )
14
É importante lembrar que as componentes horizontal e vertical (Eah, Eav) dos empuxos são
calculadas pelos métodos de Rankine e Coulomb de formas diferentes. No método de Rankine,
as componentes são função do ângulo de inclinação da superfície do terreno (β):
E AH = E ⋅ cos( β ) (18)
a
E AV = E ⋅ sen( β ) (19)
a
No caso do método de Coulomb, as componentes horizontal e vertical dependem do ângulo de
atrito solo-estrutura (δ):
E AH = E ⋅ cos(δ ) (20)
a
E AV = E ⋅ sen(δ ) (21)
a
De forma análoga são obtidas as componentes do empuxo no caso passivo. O valor de δ é
Segundo Bowles (1988), nem no método de Rankine nem no de Coulomb foi introduzida a
coesão como um parâmetro de entrada em suas equações de empuxo. Bell (1915) foi o
primeiro autor a publicar a solução para este problema, partindo de uma aplicação direta do
círculo de Möhr. Neste caso, a coesão atua favoravelmente à estabilidade do maciço,
reduzindo o valor da tensão horizontal ativa, numa espécie de empuxo passivo, conforme a
Equação 19:
σ ha = γzK a − 2c K a (22)
2c K a
0 = γzK a − 2c K a ⇒ z = (23)
γK a
Para o caso de argilas moles, onde φ = 0°, tem-se:
1 2 4c
Ea = γh − 2c e zc = (24)
2 γ
15
Tabela 1.3 – Valores de KA para aplicação do método de Coulomb (Bowles, 1988).
16
Tabela 1.4 – Valores de KP para aplicação do método de Coulomb (Bowles, 1988).
17
4.4 Comentários Sobre os Métodos de Rankine e Coulomb
Tanto a equação de Rankine quanto a de Coulomb são amplamente usadas para problemas
envolvendo empuxos de terra. A solução de Rankine é, talvez, a mais empregada por causa da
sua simplicidade e por ser mais conservativa que a de Coulomb (por exemplo, Rankine
despreza o atrito solo-muro). Todavia, padece de algumas limitações. De acordo com Bowles
(1988), não é recomendável a aplicação da equação de Rankine no cálculo de EP quando β >
0, visto que na Tabela 1.2 se observa que o valor de KP diminui com o aumento da inclinação
da superfície do terreno, o que não está correto, ao contrário do que ocorre com os valores de
KA.
Já as equações de Coulomb podem ser usadas tanto para valores de β positivos quanto para
valores negativos.
Finalmente, ressalta-se em relação que o método de Rankine, que desconsidera o atrito entre
o solo e o muro, fornece soluções do lado da segurança. Entretanto, o método de Coulomb
considera o atrito e fornece soluções mais realistas. O emprego de uma ou de outra teoria está
associado, inclusive, à geometria do problema. As obras dimensionadas pelo método de
Rankine tendem a ser mais caras em razão deste método fornecer valores mais conservativos
do empuxo.
São procedimentos gráficos baseados na hipótese de Coulomb, na qual o plano em que ocorre
o deslizamento é aquele que limita um prisma de empuxo máximo sobre o suporte. Nesses
métodos encontra-se uma relação geométrica entre a área da seção do prisma deslizante e a
área de um triângulo definido por três retas traçadas no problema, cujas direções dependem da
inclinação do terreno, da existência de sobrecarga, da inclinação do tardoz, de φ e δ. Os
métodos mais comuns são os de Poncelet e o de Culmann. Como ambos são muito
semelhantes, neste trabalho será abordado apenas o primeiro. O leitor deverá recorrer à
bibliografia indicada para consultar outros métodos.
18
i) traçar BT fazendo um ângulo φ com a horizontal;
ii) traçar AS paralela a BO, fazendo o ângulo φ + δ com a linha AB;
iii) tendo BT com diâmetro, traçar uma semicircunferência;
iv) traçar por S a reta perpendicular SL a BT;
v) rebater L em D, com centro em B e raio BL;
vi) finalmente, traçar DC paralela a AS e rebater o ponto C, assim obtido, em G.
1 ____ ____
Ea = γ ⋅ ⋅ CD⋅ CN (25)
2
Para casos envolvendo pequenos valores de φ ou grandes inclinações do terreno torna-se mais
adequada a construção gráfica descrita a seguir (ver Figura 1.13):
i) traçar BT fazendo um ângulo φ com a horizontal;
ii) traçar AS formando o ângulo φ + δ com AB;
iii) pelo ponto S traçar SS0 paralela à superfície livre do terreno;
iv) por S0 traçar a perpendicular S0L0 a AB, até encontrar a circunferência de diâmetro
AB;
v) rebater BL0 sobre AB e marcar o ponto D0;
vi) traçar por D0 uma paralela a SS0, obtendo-se assim o ponto D;
vii) finalmente, traçar por D uma paralela a AS até encontrar a superfície do terreno, em
C, que é o ponto procurado.
19
Figura 1.13 – Solução gráfica de Poncelet para casos de φ muito pequeno.
Figura 1.14 – Solução gráfica de Poncelet para casos de superfície inclinada com sobrecarga.
Empuxo Passivo: para determinação gráfica do empuxo passivo o procedimento está descrtio a
seguir, de acordo com a Figura 1.15.
20
i) traçar BT fazendo um ângulo φ com a horizontal;
ii) prolongar a superfície livre AC até interceptar em E o prolongamento da reta BT;
iii) traçar por A a reta AF formando com AB o ângulo φ + δ;
iv) sobre BE como diâmetro obter a semicircunferência de círculo BHE;
v) pelo ponto F traçar a perpendicular a FH até o ponto H sobre a semicircunferência;
vi) rebater o ponto H em D, com centro em B;
vii) por D traçar a paralela DC a AF até cortar a superfície livre em C;
viii) a reta BC representa a superfície de ruptura mais crítica;
ix) rebatendo-se C em G, com centro em D, obtém-se o triângulo CDG, de área S;
x) finalmente, o valor do empuxo passivo, Ep, será igual a γS.
21
Em obras definitivas, como no caso dos muros de arrimo, é normal proceder-se à escavação,
deixar um espaço livre atrás de onde será implantada a estrutura, para facilidade de trabalho,
e, uma vez completada a estrutura, procede-se ao reaterro do espaço deixado livre. Deve-se
observar, entretanto, que estas não são regras gerais para estruturas temporárias e definitivas,
havendo comumente exceções.
As estruturas de contenção são basicamente divididas em flexíveis e rígidas. Estas podem ser
de vários tipos e proporcionam estabilidade de diversas maneiras. Existem os muros de arrimo
de gravidade, de gravidade aliviada, muros de flexão, muros de contraforte, cortinas de estacas
prancha, cortinas de estacas secantes ou justapostas, cortinas de perfis metálicos combinados
com pranchões de madeira, paredes diafragma e eventualmente partes de estruturas
projetadas para outro fim, que têm por finalidade retenção, como por exemplo, os subsolos dos
edifícios e os encontros de pontes. A Figura 1.16 mostra três casos típicos onde se justifica a
necessidade da execução de estruturas de contenção.
Com o progresso dos métodos construtivos, tem se empregado cada vez mais a construção de
estruturas de contenção utilizando-se geotêxteis (Figura 1.21 ou outros elementos estruturais.
Este é o caso dos muros de arrimo construídos utilizando-se as técnicas de terra armada ou
solo “envelopado”. Embora esteja fora do propósito deste trabalho a apresentação detalhada
dos princípios de funcionamento destas estruturas, pode-se dizer que, nestes casos, há a
incorporação de elementos estruturais ao solo no sentido de conferir a este resistência à
tração. Em ambos os casos, trabalha-se com o atrito entre o solo e os elementos estruturais,
de modo que o uso de solos granulares é sempre preferível. No caso destas estruturas e
mesmo no caso dos muros de arrimo em gabiões (Figura 1.21), além das verificações de
estabilidade normalmente realizadas, deve-se também realizar análises no sentido de verificar
a estabilidade interna da estrutura de contenção.
Figura 1.21 – Muro de gabião com uso de geotêxtil e muro de contraforte (Machado e Machado, 2002).
24
5.2 Condições de Estabilidade dos Muros de Arrimo
Para melhor entendimento, são apresentados na Figura 1.22 os principais esforços atuando
sobre um muro de arrimo. Os critérios de estabilidade serão analisados individualmente:
A condição para que o muro não tombe em torno da extremidade externa “A” da base, é que o
momento gerado pelo peso do muro seja maior que o momento gerado pelo empuxo
resultante, ambos tomados em relação ao ponto A, mostrado na Figura 1.23. Ou seja:
M res
F= ≥ Fmín = 1,5 (26)
M atua
em que Mres é o momento devido ao peso do muro e Matua é o momento gerado pelo empuxo
resultante.
25
Figura 1.22 – Esforços sobre um muro de arrimo (Machado e Machado, 2002).
Aconselha-se que a resultante das forças atuantes, R, passe dentro do núcleo central (terço
médio, da base AB), e o mais próximo quanto possível do ponto médio “O” quando o muro se
apóia sobre terreno muito compressível.
Esta condição de estabilidade do muro não permite que o mesmo sofra uma transladação
motivada pela resultante dos esforços horizontais atuantes, ∑H atua . Dessa forma, tem-se:
F=
∑H res
≥ Fmín = 1,5 (27)
∑H atua
26
onde ∑H res é a resultante das forças horizontais resistentes. De acordo com a Figura 1.22,
1,5 ⋅ H ≤ V ⋅ µ´ (28)
em que µ varia de 0,67tgφ´ a tgφ´ (coeficiente de atrito solo-muro), sendo φ´ o ângulo de atrito
interno do solo. Na falta de dados medidos podem ser adotados os valores indicados a seguir.
φ´ ≅ 30° para areia grossa pura
φ´ ≅ 25° para areia grossa argilosa ou siltosa
φ´ ≅ 35° solo de alteração de rocha
φ´ ≅ 25° para solo arenoso
Esta condição possibilita comparar a tensão aplicada pela base do muro (σ1 ou σ2) com a
tensão admissível do solo que o serve de apoio (σadm), conforme mostrado na Figura 1.23.
Para o cálculo das tensões atuantes no solo de fundação, primeiramente é preciso calcular o
ponto de aplicação da força normal V, usada na verificação do deslizamento. Para este cálculo
é feito o equilíbrio dos momentos resistente (MRES) e ativo (MAt) em relação ao ponto A,
resultando em:
_MRes − M at
x= (29)
V
Da Equação 29, se obtém facilmente a
excentricidade, e, ou seja:
B _
e= −x (29A)
2
V 6e
σ1 = 1 + (30)
B B
27
V 6e
σ2 = 1− (31)
B B
ii) Força R caindo fora do núcleo central da base, ou seja, e > B/6: o diagrama de tensões na
base terá uma distribuição triangular, mas limitada à parte que gera compressão (ver Figura
1.25). O valor da tensão máxima será:
2V
σ1 = (32)
3e´
A situação (ii) deve ser evitada sempre que possível, visto que o aparecimento de tensões de
tração na base do muro poderá causar trincamento na sua estrutura, o que não é desejável.
Para a estimativa da tensão admissível (σadm) do terreno onde se apóia o muro, diversos
métodos são disponíveis na literatura, a exemplo da equação de capacidade de carga de
Terzaghi, para sapatas corridas (ver Capítulo 4).
Deve ser investigada sempre que se achar necessário a estabilidade do conjunto formado pelo
maciço e o muro projetado. Há diversos métodos na literatura que permitem este tipo de
análise, dentre eles o método de Bishop Simplificado, muito empregado em análises de
estabilidade de barragens de terra. Superfícies circulares de ruptura típicas são mostradas na
Figura 1.26 (superfície ABC).
28
(a) (b)
Figura 1.26 – Forma típica de uma superfície de ruptura global do conjunto maciço de terra e muro: a –
gravidade comum; b – gravidade escalonado.
O método de Bishop adota superfícies de ruptura cilíndricas, conforme mostrado nas Figuras
1.26(a e b). Dessa forma, são verificados possíveis arcos de ruptura que cruzam o terrapleno e
o solo de fundação, contornando todo o muro de arrimo.
Para aplicar o método, a parte do maciço delimitada por cada um desses arcos é dividida em
fatias ou lamelas, do que se calcula o coeficiente de segurança contra a ruptura ao longo dessa
superfície. Inicialmente é admitida uma superfície de ruptura cilíndrica aleatória e o material
delimitado por esta superfície é dividido em lamelas, conforme mostrado na Figura 1.26b. As
forças que agem sobre cada uma dessas fatias são mostradas na Figura 1.27, as quais são
listadas a seguir:
P = peso da lamela
b = largura
α = inclinação da superfície de ruptura de cada uma das lamelas
N = força normal agindo na superfície de ruptura
T = força tangencial que age na superfície de ruptura
H1, H2 = forças horizontais agindo nas faces laterais das lamelas
V1, V2 = forças verticais agindo nas faces laterais das lamelas
29
Figura 1.27 – Forças agindo em cada lamela (a); parâmetros de uma superfície de ruptura cilíndrica (b)
A partir do equilíbrio das forças agindo nas lamelas, obtém-se o coeficiente de segurança
contra a ruptura global do sistema solo-muro, a partir da seguinte equação:
c ⋅ b + P ⋅ tan φ
∑ senα ⋅ tan α
cos α +
FS
FS = (33)
∑ (P ⋅ senα )
onde c e φ são a coesão e o ângulo de atrito interno do solo, respectivamente.
Caso o nível d´água passe no interior da lamela, o peso desta é calculado utilizando-se o peso
específico saturado para a parte abaixo dele e também é determinada a poropressão (u) que
age na superfície de ruptura.
Como o coeficiente de segurança (FS) aparece nos dois lados da Equação 33, sua
determinação é iterativa. Para cada muro, devem ser pesquisadas várias superfícies de ruptura
até se encontrar a mais crítica, ou seja, aquela com o menor coeficiente de segurança. Como
para identificação de uma superfície de ruptura são necessários três parâmetros (coordenadas
horizontal e vertical do ponto “O” e um valor do raio do círculo), essa pesquisa é bastante
trabalhosa quando é feita manualmente. Por sorte, com as facilidades da informática, essa
tarefa se torna muito prática e rápida, através de algoritmos devidamente programados.
Diversos programas estão disponíveis no mercado para atender a essa necessidade.
30
6.0 Exemplos de Aplicação
6.1 Determinar o valor do empuxo ativo e seu ponto de aplicação para o caso apresentado na
figura a seguir.
b) para z=0 , σh = γ z Ka = 0
d) ponto de aplicação
6.2 Determinar o valor do empuxo ativo e seu ponto de aplicação para o caso apresentado na
figura a seguir.
31
c) Ea1 = (6,1)(3) = 18,3 kN/m
Ea2 = ½. (21,6 – 6,1)(3) = 23,3 kN/m
d) ponto de aplicação
6.3 Verificar a estabilidade do muro de arrimo a seguir apresentado. A tensão admissível do terreno onde
o muro se apóia é igual a 200kPa.
Ea = ½. γ z2 Ka = ½. (19)(5)2(0,278) = 66 kPa
Eav = Ea.senδ = (66)(sen300) = 33 kPa
Eah = Ea.cosδ = (66)(cos300) = 57,2 kPa
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c) cálculo do momento atuante, Ma
Ma = ΣH . y = Eah. ya = (57,2).(1,67) = 95,5 kN.m/m
d) verificação da segurança ao tombamento
F.S. = Mr / Ma = (273,6) / (95,5) = 2,9 > 1,5 ⇒ OK
e)verificação da segurança ao deslizamento
F.S. = (ΣV)tgδ / ΣH = [(203)(tg30)] / 57,2 = 2,0 > 1,5 ⇒ OK
f) Verificação da segurança quanto ao terreno de fundação ponto de aplicação da resultante:
Mr − Ma 273,6 − 95,5
x= = ≅ 0,88m
ΣV 203
B 2
e = − x = − 0,88 = 0,12m
2 2
Se e ≤ B/6, a resultante passa no terço médio, B/6 = 2/6 = 0,33 > e, logo, a resultante passa no terço
médio, portanto:
⇒ OK!
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