I. A ORIGEM DO PECADO.
O problema do mal sempre foi considerado um dos mais profundos problemas da filosofia e
da teologia. É um problema que se nos impõe naturalmente, porque o poder do mal é forte e
universal, ou seja, faz parte da experiência diária na vida de todos os homens.
Para o gnosticismo, que considerava o mal inerente à matéria. O contato da alma humana com
a matéria imediatamente a tornou pecaminosa, privando o conceito de pecado do seu caráter
voluntário e ético. Orígenes influenciado pelo gnosticismo, alegava que as almas dos homens
pecaram voluntariamente numa existência anterior (pre-existencialismo), entrando no mundo
numa condição já pecaminosa.
Os ensinos da igreja oriental culminaram no pelagianismo, que negava a existência de alguma
relação vital entre Adão e seus descendentes, enquanto que os da igreja ocidental chegaram ao
agostinianismo, que acentuava o fato de que somos culpados e corruptos em Adão.
O semipelagianismo admitia a conexão adâmica, mas sustentava que isso explica apenas a
corrupção do pecado, não a culpa.
A Escritura define o mal moral como pecado, isto é, como transgressão ética e voluntária da
lei de Deus. Nela o homem sempre aparece como transgressor por natureza. Surge
naturalmente a questão: Como O homem se tornou pecador? O que a Bíblia revela sobre esse
ponto?
O decreto eterno de Deus evidentemente deu a certeza da entrada do pecado no mundo, mas
não se pode interpretar isso de modo que faça de Deus a causa do pecado no sentido de ser Ele
o seu autor responsável (aquele que pratica o pecado). Esta idéia é claramente excluída pela
Escritura. Deus não pratica a perversidade e nem comete injustiça (Jó 34.10). Ele é o santo
Deus (Is 6.3), e absolutamente não há falta de retidão nele (Dt 32.4; Sl 92.16). Ele não pode
ser tentado pelo mal, e não tenta a ninguém (Tg 1.13). Ele criou o homem bom, à Sua imagem.
Ele positivamente odeia o pecado (Dt 25.16; Sl 5.4; 11.5; Zc 8.17; Lc 16.15), e em Cristo fez
provisão para libertar o homem do mesmo. À luz disso tudo, seria blasfemo falar de Deus
como o autor (“praticador”) do pecado. E por essa razão, todos os conceitos deterministas que
representam o pecado como uma necessidade inerente à própria natureza das coisas devem ser
rejeitados, porque fazem de Deus o autor do pecado, contrariando, tanto a Escritura, como
também a voz da consciência, que atesta a responsabilidade do homem.
Deus criou um grande número de anjos, e estes eram todos bons (Gn 1.31). Mas ocorreu uma
queda no mundo angélico, na qual legiões de anjos se apartaram de Deus. A ocasião exata
dessa queda não é indicada, mas em João 8.44 Jesus fala do diabo como assassino desde o
princípio (kat’archês), e 1 João 3.8 diz que o diabo peca desde o princípio. A expressão kai’
archês significa “desde o começo da história do homem”. Muito pouco se diz sobre o pecado
que ocasionou a queda dos anjos. Segundo Paulo, nenhum neófito deveria ser designado bispo,
“para não suceder que se ensoberbeça, e incorra na condenação do diabo”, De 1 Timóteo 3.6
conclui-se que foi o pecado do orgulho, de desejar ser como Deus em poder e autoridade que
fez o diabo cair. Judas 6 diz que os anjos que caíram “não guardaram o seu estado original,
mas abandonaram o seu próprio domicílio”. Se o desejo de serem semelhantes a Deus foi a
tentação peculiar que sofreram, isto explica por que tentaram o homem nesse ponto particular.
A Bíblia ensina que o pecado teve início com a transgressão de Adão e, portanto, com um ato
perfeitamente voluntário de sua parte. O tentador veio com a sugestão de que o homem,
colocando-se em oposição a Deus, poderia tornar-se semelhante a Ele. Adão se rendeu à
tentação e cometeu o primeiro pecado, comendo do fruto proibido. Mas a coisa não parou aí,
pois com esse primeiro pecado Adão passou a ser escravo do pecado. Esse pecado trouxe
consigo corrupção permanente, que, dada a solidariedade da raça humana, teve efeito sobre
Adão, e também, sobre todos os seus descendentes.
Como resultado da Queda, o pecado foi transmitido a todos os descendentes de Adão,
corrompendo tudo e todos. Jó pergunta: “Quem da imundícia poderá tirar cousa pura?
Ninguém” (Jó 14.4). Adão pecou como o pai da raça humana, e também como chefe
representativo de todos os seus descendentes. Por essa causa, a culpa do seu pecado é posta na
conta deles, pelo que todos são passíveis de punição e morte. É primariamente nesse sentido
que o pecado de Adão é o pecado de todos (Rm 5.12). Romanos 5.12 só pode significar que
todos nós pecamos em Adão, de modo que nos tornamos sujeitos ao castigo e à morte. Não se
trata do pecado considerado meramente como corrupção, mas como culpa que leva consigo o
castigo.
1. Quanto à sua forma, o primeiro pecado do homem consistiu em comer ele da árvore
do conhecimento do bem e do mal.
Não é dito que árvore era, poderia ser qualquer árvore frutífera. Nada havia de ofensivo no
fruto da árvore como tal. Comê-lo não era pecaminoso per se, pois não era uma transgressão
da lei moral. Quer dizer que não seria pecaminoso, se Deus não tivesse dito: “da árvore do
conhecimento do bem e do mal não comerás”. É muito provável que a árvore recebeu esse
nome porque fora destinada a revelar (a) se o estado futuro do homem seria bom ou mal; e (b)
se o homem deixaria que Deus lhe determinasse o que era bom ou mau, ou se encarregaria de
determiná-lo por si e para si. Mas, independente disso, a ordem de Deus para não comer do
fruto da árvore tinha como propósito pôr à prova a obediência do homem. Foi um teste de pura
obediência, desde que Deus de modo nenhum procurou justificar ou explicar a proibição. Adão
tinha que mostrar sua disposição para submeter a sua vontade à vontade do seu Deus com
obediência implícita.
Conclusão parcial:
(1) O pecado é um intruso, não faz parte da criação e propósito originais de Deus para o
homem.
(2) O pecado sempre se manifestou como rebelião contra a vontade de Deus, tanto entre os
anjos como entre os homens.
(3) O pecado nos afasta da vontade santa de Deus para nossas vidas.