social, polít
e comprometi
contribuições
pesquisa soc
ica
tica Por uma Bioética
social, política
ida: e comprometida:
contribuições da
s da pesquisa social
cial
CAMILA CLAUDIANO QUINA PEREIRA
Universidade do Vale do Sapucaí
RONALDO TRINDADE
Universidade do Vale do Sapucaí
Pereira, C. C. Q. | Trindade, Ronaldo
Ronaldo Trindade2
ronaldotrindade@gmail.com
Para tanto, atua na esfera pública e co- põe a tratar das situações persistentes
letiva, responsabilizando o Estado pela e das situações emergentes. A primeira
situação social dos excluídos e margi- se relaciona com as questões estrutu-
nalizados, mas também propondo es- rais dos países e que atravessam gera-
tratégias de proteção das pessoas vul- ções, tais como a desigualdade social,
neradas em decorrência do contexto a miséria, a violência, a violação de di-
econômico e social. A ideia é realizar reitos; a segunda se propõe a discutir
uma análise mais ampla e complexa do questões decorrentes do avanço das
contexto socioeconômico a partir de biotecnologias, como, por exemplo,
uma lógica coletiva, tendo por base os as pesquisas que envolvem o genoma
direitos humanos (Porto 2014). humano, células-tronco ou tecnologias
Uma nova fase da Bioética, portanto, reprodutivas. Tal abordagem reforça a
teve seu marco cronológico com a ho- importância de considerar as especi-
mologação, em 2005, da Declaração ficidades históricas, culturais e sociais
Universal sobre Bioética e Direitos de cada país (Nascimento & Garrafa
Humanos (Garrafa 2005) que se de- 2011; Garrafa 2006).
dica a discutir questões que afetam os Segundo Nascimento e Garrafa (2011),
países chamados periféricos3, aqueles nos países periféricos, importa dar des-
cuja população luta por condições mí- taque aos aspectos persistentes que
nimas de sobrevivência e apresentam têm como efeito intensas desigualda-
extrema desigualdade na distribuição des sociais. Para os autores, é necessá-
de renda, por sua vez produtora de mi- rio promover uma reflexão política so-
séria, exclusão e vulnerabilidade social. bre as questões morais decorrentes do
Para que isso seja possível, argumenta contexto de vulnerabilidade que afe-
Garrafa (2005), é necessário que se po- tam a maior parte da população, como
litize a Bioética, visto que a os inúme- ocorre no Brasil.
ros conflitos éticos relacionados à vida, A vulnerabilidade não é apenas uma
para além do campo biomédico, devem questão inerente à condição huma-
transpor o debate para o campo no na, mas também uma relação que se
qual são tomadas as grandes decisões estabelece entre indivíduos, grupos
que envolvem o destino da população, e sociedades, com diferentes luga-
qual seja, “[...] a seara das decisões polí- res de poder. Somos, em todo caso,
ticas”. Nessa perspectiva, o que se des- vulneráveis diante de algo que nos
taca é a “[...] politização das questões retira o poder (Nascimento & Gar-
morais abordadas pela Bioética desde rafa 2011: 297).
um referencial que seja adequado para De acordo com Porto (2014: 214),
o contexto de exclusão dos países do “[...] não se faz Bioética em pesquisa
Hemisfério Sul, e, sobretudo, para o de bancada nem em estudos de valida-
contexto latino-americano” (Nasci- ção de medicamentos”. Para exercer
mento & Garrafa 2011: 288). uma Bioética social, a autora preconiza
Na América Latina, ganha destaque a três aspectos. O primeiro diz respeito
Bioética de Intervenção, que se pro- à necessidade de fortalecer e exercer
aspectos da vida dos povos que estu- tigada. As ferramentas de trabalho usa-
dam. A etnografia tem uma perspecti- das pelos/as antropólogos/as são ba-
va mais holística e pretende revelar um sicamente o caderno de campo, onde
conjunto mais amplo e mais complexo devem ser anotadas as informações do
da vida dos/as interlocutores/as. Tra- campo de forma cronológica, as ob-
ta-se, por isso mesmo, de um método servações e ideias ocorridas in loco, mas
muito ambicioso e que demanda mais que deve ser feito com disciplina e de
tempo de campo. O objetivo final é a forma sistemática; o diário de campo,
escrita de uma etnografia, onde se de- no qual se anotam os pensamentos e
talha em profundidade o passo a passo sentimentos subjetivos do/a autor/a a
do trabalho de campo realizado e, com respeito da comunidade que está sen-
base nesse material, elaborar uma análise. do investigada e que pode ser útil para
situar o/a antropólogo/a no momento
Algumas técnicas de aproximação e in-
da escrita da etnografia sobre as ques-
serção no campo podem ser úteis. Na
tões vividas no campo; um gravador
maioria dos casos, uma rede de inter-
de som, usado para captar o discurso
locutores/as se produz por meio do
dos interlocutores em suas próprias
esquema bola de neve, no qual se chega a
palavras, já que transmitir as vozes de
um/a informante que por sua vez indi-
nossos sujeitos da maneira como elas
ca outro/a. Trata-se de uma estratégia
se expressam é de extrema importância
utilizada por muitos/as pesquisadores/
para o etnógrafo, independente da in-
as por ser uma via rápida de acesso a
terpretação que possa vir a fazer delas.
comunidades que não conhecemos de
antemão. Mas é possível também que Alguns surveys de pequena escala com
essa entrada no grupo se dê de variadas um número mais amplo de infor-
formas e simultaneamente para obter um mantes podem servir de subsídios às
conjunto mais variado de informantes, informações mais qualitativas, mas é
ao invés de uma só entrada no campo. por meio da observação participante,
em que o/a pesquisador/a não ape-
Informantes chaves ou privilegiados/
nas observa, mas também participa do
as podem significar um melhor aces-
cotidiano da comunidade investigada,
so às representações e significados do
que a pesquisa é efetivamente produzi-
grupo. Mas é fundamental saber sele- da. Os/as antropólogos/as não detêm
cionar tais interlocutores/as, ou seja, o monopólio do método etnográfico,
priorizar aqueles/as que possuem um pois os/as psicólogos/as sociais e so-
discurso articulado e que demonstrem ciólogos/as urbanos/as, por exemplo,
um conhecimento privilegiado sobre também podem se valer desse méto-
sua comunidade, sua cultura e, se pos- do de pesquisa. Vale ressaltar também
sível, que tenham reflexões críticas so- que existem distintos modos de parti-
bre elas. cipação na observação participante, o
O/a etnógrafo/a deve lançar mão de que sempre depende do acesso do/a
variadas técnicas de investigação para pesquisador/a, o tempo disponível
apreender a cultura da sociedade inves- para a pesquisa, etc.
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