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Estruturas de Madeira e Alvenaria

Parte 1 – Estruturas de Madeira

Instituto Superior de Engenharia do Porto

Mestrado em Engenharia Civil

Ap ontamentos da disciplina por

Alexandre A. Costa

Versão 2.0

2015
Instituto Superior de Engenharia do Porto Mestrado em Engenharia Civil

Nota prévia

Os apontamentos aqui apresentados resultam de uma complicação de diferentes fontes, estando a


transcrição dessas mesmas devidamente referenciadas. No entanto, poderão existir transcrições não
referenciadas que deverão ser referenciadas nas próximas versões.

As fontes principais encontram-se na bibliografia apresentada na ficha da disciplina.

Estes apontamentos devem ser lidos juntamente com os diapositivos preparados e apresentados durante
as aulas teóricas.

Eventuais erros e/ou omissões nestes apontamentos deverão ser confirmados com outras fontes.

Alexandre A. Costa 3
Instituto Superior de Engenharia do Porto Mestrado em Engenharia Civil

Índice

1 Conceitos gerais associados às estruturas de madeira ...................................................................................... 7


1.1 Vida útil das construções: .................................................................................................................................. 7
1.2 Classes de serviço ................................................................................................................................................ 7
1.3 Classe de duração das acções ............................................................................................................................ 7
1.4 Modelos de cálculo estrutural .......................................................................................................................... 8
1.5 Pontos principais no dimensionamento das estruturas de madeira ....................................................... 8
1.6 Dimensionamento de estruturas...................................................................................................................... 9
1.6.1 Propriedades dos materiais ..................................................................................................................... 9
1.6.2 Estados limites de utilização .................................................................................................................. 9
1.6.3 Estados limite últimos ............................................................................................................................. 9
1.7 Verificação de segurança ................................................................................................................................. 10
1.7.1 Estados-limite último ............................................................................................................................. 10
1.7.2 Estados limites de utilização ................................................................................................................ 10
1.8 Classificação e propriedades físicas e mecânicas........................................................................................ 10
2 Dimensionamento aos estados-limite últimos .................................................................................................. 13
2.1 Tracção paralela ao fio ..................................................................................................................................... 13
2.2 Tracção perpendicular ao fio .......................................................................................................................... 13
2.3 Compressão paralela ao fio.............................................................................................................................. 13
2.4 Compressão perpendicular ao fio .................................................................................................................. 13
2.5 Flexão ................................................................................................................................................................... 14
2.5.1 Flexão simples.......................................................................................................................................... 14
2.5.2 Flexão composta com tracção .............................................................................................................. 15
2.5.3 Flexão composta com compressão ...................................................................................................... 15
2.5.4 Instabilidade lateral-torsional (bambeamento)................................................................................ 15
2.5.5 Travamento ao bambeamento em vigas ou asnas........................................................................... 19
2.6 Corte ..................................................................................................................................................................... 21
2.6.1 Verificação com entalhes ....................................................................................................................... 22
2.6.2 Reforço de entalhes ................................................................................................................................. 23
2.7 Torção .................................................................................................................................................................. 24
2.7.1 Interacção corte-torção.......................................................................................................................... 25
2.8 Pilares e encurvadura ....................................................................................................................................... 25
2.8.1 Considerações gerais .............................................................................................................................. 25
2.8.2 Verificação de segurança ....................................................................................................................... 26
2.8.3 Comprimento de encurvadura ............................................................................................................. 28
2.8.4 Travamento .............................................................................................................................................. 28
3 Estados-limite de utilização ................................................................................................................................... 31
3.1 Estado-limite de deformação .......................................................................................................................... 31

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3.2 Estado-limite de vibração ................................................................................................................................ 33


3.2.1 Verificação para vibrações de baixa frequência ............................................................................... 33
3.2.2 Verificação para vibrações de alta frequência .................................................................................. 34
4 Verificação de segurança em estruturas correntes .......................................................................................... 37
4.1 Pavimentos .......................................................................................................................................................... 37
4.2 Coberturas ........................................................................................................................................................... 37
5 Ligações ...................................................................................................................................................................... 39
5.1 Introdução ........................................................................................................................................................... 39
5.2 Parafusos.............................................................................................................................................................. 39
5.2.1 Funcionamento ao corte ........................................................................................................................ 40
5.2.2 Funcionamento ao arranque ................................................................................................................. 40
5.2.3 Interacção corte e arranque .................................................................................................................. 42
5.3 Cavilhas e parafusos de rosca ......................................................................................................................... 42
5.3.1 Corte ........................................................................................................................................................... 42
5.3.2 Carregamento axial em parafusos de rosca ...................................................................................... 44
6 Regras de dimensionamento (Teoria de Johansen) ......................................................................................... 47
6.1 Modos de rotura ................................................................................................................................................ 47
6.1.1 Ligações madeira-madeira .................................................................................................................... 47
6.1.2 Ligações aço-madeira ............................................................................................................................. 50
6.1.3 Outros aspectos a considerar ............................................................................................................... 51
7 Ligações tradicionais ............................................................................................................................................... 55
7.1 Entalhes ............................................................................................................................................................... 55
7.1.1 Entalhes à compressão ........................................................................................................................... 55
7.2 Empalmes ............................................................................................................................................................ 56
7.3 Cálculo de entalhes ........................................................................................................................................... 57
8 Bibliografia geral ...................................................................................................................................................... 60

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1 Conceitos gerais associados às estruturas de madeira

1.1 Vida útil das construções:


Tabela 1.1. Categoria de projectos de estruturas (EC0)

Categoria do tempo de Valor indicativo do tempo de Exemplos


vida útil de projecto vida útil de projecto (anos)
1 10 Estruturas provisórias (1)
2 10 a 25 Componentes estruturais substituíveis, por
exemplo, vigas-carril, apoios, etc.
3 15 a 30 Estruturas agrícolas e semelhantes
4 50 Estruturas de edifícios e outras estruturas
correntes
5 100 Estruturas de edifícios monumentais, pontes e
outras estruturas de engenharia civil
(1) As estruturas ou componentes estruturais que podem ser desmontados, tendo em vista a sua
realização, não deverão ser considerados como provisórios

1.2 Classes de serviço

Destinam-se fundamentalmente a definir as propriedades mecânicas dos materiais e a permitir o cálculo


das deformações, em determinadas condições ambientais. As estruturas devem ser incluídas numa das
classes de serviço indicadas seguidamente:

- Classe de serviço 1, ambiente interior protegido, caracterizada por um teor de água dos materiais
correspondentes ao teor de água de equilíbrio para um ambiente caracterizado por uma temperatura de
20ºC e uma humidade relativa do ar ambiente excedendo 65% somente durante algumas semanas por
ano (locais cobertos e fechados);

- Classe de serviço 2, ambiente interior não protegido ou exterior não sujeito à acção directa da água das
chuvas e com contactos esporádicos com água líquida. Caracterizada por um teor de água dos materiais
correspondentes ao teor de água de equilíbrio para um ambiente caracterizado por uma temperatura de
20ºC e uma humidade relativa do ar ambiente excedendo 85% somente durante algumas semanas por
ano (locais cobertos e piscinas);

- Classe de serviço 3, ambiente exterior com contactos frequentes com água das chuvas, muitas vezes em
períodos longos. Caracterizada por condições climáticas conduzindo a valores do teor de água dos
materiais superiores aos que se verificam na classe de serviço 2 (locais ao ar livre).

1.3 Classe de duração das acções


Tabela 1.2. Classes de duração das acções

Classe de duração Ordem de grandeza da duração acumulada do valor


das acções característico da acção
Permanente superior a 10 anos
Longa duração 6 meses - 10 anos
Média duração 1 semana - 6 meses
Curta duração inferior a uma semana
Instantânea

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Os coeficientes de segurança a usar na verificação da estabilidade são definidos em função de dois


coeficientes escolhidos para cada situação concreta em função da classe de serviço e da duração da acção
(kmod e kdef) e dos coeficientes de segurança a considerar para os materiais utilizados (γm). A Tabela 1.3 e
Tabela 1.4 apresentam os valores utilizados em projecto para elementos em madeira maciça e lamelados
colados. Para os outros derivados da madeira (p. ex., OSB, LVL, contraplacado, MDF, etc.), consultar o
Eurocódigo 5.

Tabela 1.3. Valores de kmod

Classe de duração das acções


Classe de
Material serviço Longa Média Curta Instantânea
Permanente
duração duração duração
1 0,60 0,70 0,80 0,90 1,10
Madeira 1,10
2 0,60 0,70 0,80 0,90
maciça
3 0,50 0,55 0,65 0,70 0,90
1 0,60 0,70 0,80 0,90 1,10
Madeira 1,10
2 0,60 0,70 0,80 0,90
lamelada colada
3 0,50 0,55 0,65 0,70 0,90

Tabela 1.4. Valores de kdef

Classe de serviço
Material 3
1 2
Madeira maciça 0,60 0,80 2,00

Madeira lamelada colada 0,60 0,80 2,00

1.4 Modelos de cálculo estrutural

O projectista tem de identificar com muito rigor todas as situações de solicitação no plano perpendicular
ao fio ou fazendo ângulos com o fio, já que a capacidade resistente das peças, nesses casos, baixa muito.

É necessário também ter em conta o efeito que o modo de ligar as peças tem no comportamento
estrutural das estruturas globais. Dado que existe sempre alguma ductilidade e deformabilidade
localizada de qualquer ligação entre duas peças de madeira, não é possível conhecer com rigor se uma
ligação é rígida ou articulada. Qualquer ligação será sempre capaz de transmitir algum momento flector
mas não será nunca totalmente rígida, ou seja, o modelo de cálculo contínuo não será representativo dos
esforços actuantes reais. Uma solução passa por utilizar simultaneamente modelos contínuos e
articulados para a mesma estrutura, utilizando as envolventes de esforços obtidos pelas duas vias.

1.5 Pontos principais no dimensionamento das estruturas de madeira

• Análise obrigatória de vibrações (estado limite de utilização);


• Análises lineares de 2ª ordem em algumas estruturas, como em pórticos;
• Cálculo de ligações;
• Importância das ligações e do modelo de cálculo escolhido para estas;
• Deformação muitas vezes é crítica no dimensionamento das estruturas;

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• Variações dimensionais por efeito de temperatura e humidade;


• Anisotropia da madeira e influência desta na forma de construir a estrutura.

1.6 Dimensionamento de estruturas

1.6.1 Propriedades dos materiais


Nas estruturas de madeira, aparecem os conceitos de factor de deformação (kdef) e de módulo de
deslizamento (Kser), associados ao material de construção madeira.

Aparece também o factor de modificação kmod, associado à resistência para as classes de serviço e para as
classes de duração das acções. Se uma combinação de acções for composta por acções pertencentes a
diferentes classes de duração, o valor de kmod deverá ser escolhido como o correspondente à acção de
mais curta duração; por exemplo, para uma combinação de uma acção permanente e uma acção de curta
duração, deverá adoptar-se para kmod o valor correspondente à acção de curta duração.

No dimensionamento de alguns sistemas estruturais, como coberturas, muitas vezes as acções


permanentes e o associado valor de kmod são condicionantes no dimensionamento, devido ao reduzido
valor da acção de curta duração (sobrecarga).

1.6.2 Estados limites de utilização


A verificação aos estados limites de utilização de estruturas de madeira obriga à verificação da
deformação dos elementos, sendo esse cálculo realizado tendo em conta a deformação instantânea das
peças (uinst), sendo a deformação a longo prazo (ufin) calculada em função desta primeira. Esse cálculo é
realizado separadamente para cada acção actuante, conforme será explicado na secção 3.1.

No caso de pavimentos em madeira, devem também ser verificadas as vibrações destes, garantindo
critérios de segurança e conforto.

1.6.3 Estados limite últimos


O valor de cálculo Xd de uma propriedade de resistência (X) deve ser calculado de acordo com:

Xk
X d = kmod (1.1)
γm

Em que Xk é o valor característico de uma propriedade de resistência, γm é o valor do coeficiente parcial


para uma propriedade de um material, kmod é o factor de modificação que tem em conta o efeito da
duração das acções e do teor em água.

Em peças sujeitas a esforço de tracção ou flexão, onde a presença de defeitos influencia


significativamente a resistência, é possível afectar a resistência das peças de um coeficiente denomidade
efeito de volume, kh. Este coeficiente pretende representar a probabilidade de uma peça ter defeitos em
função da altura da mesma, h, e é diferenciado em função do tipo de madeira utilizada.

,
Para madeira maciça: = ; 1,3 , ℎ ≤ 150

,
Para madeira lamelada colada: = ; 1,1 , ℎ ≤ 600

O valor de cálculo de uma propriedade de rigidez (E ou G), deve também ser calculado segundo:

Emean
Ed = (1.2)
γm

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Gmean
Gd = (1.3)
γm

Em que Emean é o valor médio do módulo de elasticidade e Gmean é o valor médio do módulo de distorção.

No cálculo de ligações, o módulo de deslizamento de uma ligação em relação aos estados limites últimos,
Ku, deverá ser considerado igual a 2/3 Kser, onde Kser é o módulo de deslizamento.

1.7 Verificação de segurança

1.7.1 Estados-limite último


As diferentes verificações de segurança em estados-limite último que são necessárias de realizar aos
elementos de madeira são:

• Tracção paralela e perpendicular ao fio;


• Compressão paralela e perpendicular ao fio;
• Flexão (simples, composta, desviada);
• Corte;
• Torção;
• Instabilidade (bambeamento e encurvadura).

1.7.2 Estados limites de utilização

• Deformação;
• Vibração;

1.8 Classificação e propriedades físicas e mecânicas

Tabela 1.5. Propriedades físicas e mecânicas de madeiras de espécies resinosas, EN 338 (adaptado de
Negrão e Faria, 2009)

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Tabela 1.6. Propriedades físicas e mecânicas de madeiras de espécies folhosas, EN 338 (adaptado de Negrão
e Faria, 2009)

Tabela 1.7. Propriedades físicas e mecânicas de madeira lamelada colada, NP EN 1194 (adaptado de Negrão
e Faria, 2009)

Tabela 1.8. Classe de Qualidade/Classe de Resistência para algumas madeiras maciças correntemente
utilizadas em Portugal (NP EN 1912, 2003)

Madeira Classe de qualidade (norma) Classe de resistência


Pinho bravo (Pinus pinaster Ait.) E (NP 4305) C18
SS (BS 4978) C24
Casquinha (Pinus Silvestris L.) GS (BS 4978) C16
S13 (DIN 4074) C30
Abeto (Picea abies Karst.) S10 (DIN 4074) C24
S7 (DIN 4074) C16

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Tabela 1.9. Classe de resistência a usar no cálculo de estruturas de madeira portuguesa existentes (madeira
antiga sem defeitos importantes)

Espécie fm (MPa) E0,m (GPa) ρk (kg/m3) Classe EN 338


Castanho (Castanea sativa, Mill) 97 10 540 D30
Carvalho (Quercus faginea, Lam.) 122 10 700 D30
Eucalipto (Eucaliptus globulus, Labill) 137 10 700 D30
Choupo branco ou faia branca(Populus 80 10 420 C22
Alba, L.)

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2 Dimensionamento aos estados-limite últimos

2.1 Tracção paralela ao fio

Deve ser satisfeita a seguinte expressão:

σ t,0,d ≤ f t,0,d (2.1)

em que:

σt,0,d valor de cálculo da tensão actuante de tracção paralela ao fio;

ft,0,d valor de cálculo da tensão resistente de tracção paralela ao fio.

2.2 Tracção perpendicular ao fio

Deve ser evitado ao máximo através de um adequado esquema e dimensionamento estrutural.

2.3 Compressão paralela ao fio

Deve ser satisfeita a seguinte expressão:

σ c,0,d ≤ f c,0,d (2.2)

em que:

σc,0,d valor de cálculo da tensão actuante de compressão paralela ao fio;

fc,0,d valor de cálculo da tensão resistente de compressão paralela ao fio.

2.4 Compressão perpendicular ao fio

Deve ser satisfeita a seguinte expressão:

σ c,90,d ≤ kc,90 f c,90,d (2.3)

em que:

σc,90,d valor de cálculo da tensão de compressão na zona de contacto perpendicular ao fio;

fc,90,d valor de cálculo da resistência à compressão perpendicular ao fio;

kc,90 factor que tem em conta a configuração do carregamento, a possibilidade de fendimento e o grau
de deformação por compressão.

Em função da área de contacto do esforço de compressão normal às fibras, o dimensionamento deverá ter
em conta o aumento da resistência através do parâmetro kc,90 , assim como a área efectiva de contacto,
calculada através de um aumento no máximo de 30mm para cada lado do apoio, até ao máximo do
mínimo dos valores de a, l e l1/2.

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Figura 2.1. Determinação da área efectiva de contacto

2.5 Flexão

2.5.1 Flexão simples


Devem ser satisfeitas as seguintes expressões:

σ m,y,d σ m,z,d
+ km ≤1 (2.4)
f m,y,d f m,z,d

σ m,y,d σ m,z,d
km + ≤1 (2.5)
f m,y,d f m,z,d

em que:

σm,y,d e σm,z,d valores de cálculo das tensões actuantes de flexão em relação aos eixos principais, como
se representam na Figura 6.1;

fm,y,d e fm,z,d valores de cálculo das correspondentes tensões resistentes de flexão.

O coeficiente km traduz uma margem para uma redistribuição de tensões, assim como o efeito da
heterogeneidade do material numa secção.

O valor do coeficiente km deverá ser considerado igual a:

Para madeira maciça, madeira lamelada colada e LVL:

– para secções rectangulares: km = 0,7

– para outras secções: km = 1,0

Para outros produtos estruturais com base em madeira e para todas as secções: km = 1,0

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2.5.2 Flexão composta com tracção


Traduz-se num efeito directo e linear no cálculo das tensões actuantes, resultantes do assumido
comportamento linear elástico da madeira.

Devem ser satisfeitas as seguintes expressões:

σ t,0,d σ m,y,d σ m,z,d


+ + km ≤1 (2.6)
f f f
t,0,d m,y,d m,z,d

σ t,0,d σ m,y,d σ m,z,d


+ km + ≤1 (2.7)
f f f
t,0,d m,y,d m,z,d

2.5.3 Flexão composta com compressão


Existe uma relação marcadamente não-linear, expressa através de uma relação quadrática, traduzindo-se
num aumento de resistência de cálculo da secção.

Devem ser satisfeitas as seguintes expressões:

2
σ  σ σ m,z,d
 c,0,d  + m,y,d + k ≤1 (2.8)
 f  f m f
 c,0,d  m,y,d m,z,d

2
σ  σ m,y,d σ m,z,d
 c,0,d  +k + ≤1 (2.9)
 f  m
f f
 c,0,d  m,y,d m,z,d

Aplicam-se os valores de km indicados em 6.1.6.

Apesar de não aparecer explicitamente no EC5, a possibilidade de encurvadura poderá ser desprezada
para valores de esbelteza relativa (calculada para esforços de compressão) inferiores a 0,30 nas duas
direcções principais. Na quantificação dos valores das esbeltezas relativas para as diferentes direcções,
normalmente z-z’ e y-y’, deverá ser utilizada a equação:

f c,0,k
λ rel = (2.10)
σ c,crit

Onde fc,0,k é o valor da tensão resistente à compressão, e σ é a tensão crítica de Euler, dada por:
c,crit

π 2 E0,05
σ c,crit = (2.11)
λ2
Em que E0,05 é o valor característico do módulo de elasticidade na direcção paralela ao fio e λ é a
esbelteza da peça na direcção pretendida. O estudo da encurvadura será referido posteriormente.

2.5.4 Instabilidade lateral-torsional (bambeamento)


A verificação da resistência ao bambeamento deverá ser verificada em ambos os casos: momento My em
relação ao eixo de maior resistência y; combinação de momento My e força de compressão Nc.

Para um determinado carregamento e condições de apoio de uma viga, o momento crítico é o valor do
momento flector máximo para o qual a viga entra em bambeamento. Tomando como referência uma viga

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simplesmente apoiada, actuada por momentos de extremidade, o carregamento a que corresponde um


estando de flexão pura vem:

π
M crit = E I z I tor G (2.12)
l ef

Iz : momento de inércia (eixo fraco z); Itor : momento de inércia torsional; E: valor característico do
módulo de elasticidade; G: módulo de distorção; lef : comprimento de encurvadura.

A nível de dimensionamento, e tendo em conta uma distribuição probabilística dos parâmetros


mecânicos da madeira, a tensão crítica é dada por:

M y,crit π E0,05 I z G0,05 I tor


σ m,crit = = (2.13)
Wy l ef Wy

em que:

E0,05 valor correspondente ao quantilho de 5 % do módulo de elasticidade paralelo ao fio;

G0,05 valor correspondente ao quantilho de 5 % do módulo de distorção paralelo ao fio;

Wy módulo de flexão em relação ao eixo de maior resistência y.

Para gama de secções habituais de secções rectangulares de madeira e considerando E0,05/G0,05 = 16,
como é estabelecido na norma, vem uma expressão simplificada e conservativa:

0,78 b2
σ m,crit = E0,05 (2.14)
h l ef

em que b é a largura e h a altura da viga.

Visto que os elementos de madeira não ficam sujeitos a uma flexão pura em toda a sua extensão, o
comprimento efectivo da viga poderá ser reduzido tendo em conta a potencialidade de instabilizar em
função das condições de apoio e localização das cargas.

O parâmetro lef pode ser substituído através do factor de momento uniforme equivalente (m), que define
o comprimento efectivo em proporção das condições de apoio e de carga.

0,78 b2
σ m,crit = E0,05 (2.15)
h ml

f m,k
λ rel,m = (2.16)
σ m,crit

O Eurocódigo 5 apresenta também valores para o vão efectivo, mas tendo em conta menores condições
de carga (Tabela 2.1). Sempre que possível, deve-se utilizar os valores da Tabela 2.2.

Tabela 2.1. Comprimento efectivo definido em proporção do vão, segundo EC5

Tipo de viga Tipo de carregamento lef /l a

Momento constante 1,0


Simplesmente apoiada Carga uniformemente distribuída 0,9
Carga concentrada a meio vão 0,8

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Carga uniformemente distribuída 0,5


Consola Carga concentrada na extremidade livre 0,8

a
A relação entre o comprimento efectivo lef e o vão l é válida para uma viga com apoios impedidos
relativamente à torção e carregada no centro de gravidade. Se a carga é aplicada na face
comprimida da viga, lef deverá ser aumentado de 2h e poderá ser reduzido de 0,5h para uma carga
aplicada na face traccionada da viga.

Tabela 2.2. Factor m para diferentes condições de apoio e carregamento (Choo, 1995)

O apontamento relativo à localização da carga é importante para ter em conta os efeitos provocados pelo
ponto de aplicação, e deverá ser considerado também caso se opte pela utilização das tabelas com
momento uniforme equivalente.

Quando o valor dos momentos ou tensões actuantes é superior aos valores críticos que potenciam a
instabilidade lateral-torcional, e apresentados anteriormente, é necessário verificar a segurança ao
bambeamento das vigas.

No caso em que existe apenas um momento My em relação ao eixo de maior resistência y, as tensões
deverão satisfazer a seguinte expressão:

σ m,d ≤ kcrit f m,d (2.18)

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em que:

σm,d valor de cálculo da tensão actuante de flexão;

fm,d valor de cálculo da tensão resistente de flexão;

kcrit coeficiente que tem em conta a redução da resistência à flexão devida à encurvadura.

Para as vigas com um desvio inicial de rectidão lateral dentro dos limites definidos no EC5, kcrit poderá
ser determinado a partir da expressão:


1 , para λrel,m ≤ 0, 75



kcrit = 1,56 - 0, 75λrel,m , para 0, 75 < λrel,m ≤ 1, 4 (2.19)

 1
 , para 1, 4 < λrel,m
 λrel,m
2

1.2

0.8
kcrit

0.6

0.4

0.2

0
0 1 2 3 4
λrel

Figura 2.2. Curva de bambeamento em função da esbelteza

O coeficiente kcrit poderá ser considerado igual a 1,0 para uma viga em que o deslocamento lateral da sua
face comprimida é impedido ao longo de todo o seu comprimento e a rotação de torção é impedida ao
nível dos apoios.

Medidas para diminuir a possibilidade de ocorrência de bambeamento:

- Aumento do módulo de elasticidade do material;

- Aumento da largura da secção transversal;

- Redução da altura da secção transversal;

- Redução do comprimento efectivo de bambeamento.

No caso de uma combinação de momento My em relação ao eixo de maior resistência y e de uma força de
compressão Nc, as tensões deverão satisfazer a seguinte expressão:

2
 σ m,d  σ c,d
  + ≤1 (2.20)
 kcrit fm,d  kc,z fc,0,d

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em que σm,d é o valor de cálculo da tensão actuante de flexão, σc,d é o valor de cálculo da tensão resistente
de flexão, fc,0,d é o valor de cálculo da tensão resistente de compressão paralela ao fio e kc,z é calculado de
acordo com as condições de encurvadura a falar posteriormente.

Para situações de flexão com tracção, e como a tracção tem um efeito estabilizador na peça, a verificação
deverá ser realizada desprezando o efeito de tracção.

2.5.5 Travamento ao bambeamento em vigas ou asnas


O travamento ao bambeamento das vigas de madeira pode ser feito através de elementos colocados
perpendicularmente a estas, restringindo os movimentos na zona comprimida da peça. Em pavimentos,
esta função pode ser cumprida pelos sarrafos ou mesmo pelas próprias tábuas do soalho.

O elemento de travamento deverá estar fixo a uma zona estável, para que o seu funcionamento seja
eficiente.

Outra medida que deverá ser tomada é a restrição de rotações torcionais ao nível dos apoios, pois o
bambeamento resulta de flexão com torção. Em vigas de construção tradicional, esta medida é garantida
pela introdução das vigas nas paredes de alvenaria. Em construção nova, esta restrição deverá também
ser garantida utilizando um qualquer tipo de restrição ao nível do apoio.

Em vigas contínuas, a verificação à instabilidade lateral-torsional deverá ser realizada entre troços não
restringidos, à semelhança da verificação à encurvadura de pilares. Nesta verificação, o factor de
momento uniforme equivalente deverá corresponder à forma do diagrama no troço em análise, e não do
diagrama global da viga.

Os elementos de travamento deverão ser dimensionados para as forças que se poderão desenvolver.
Segundo a cláusula 9.2.5.1 (3) de EC5, a força de travamento deverá ser calculada para a combinação de
acções mais desfavorável, tendo em conta os efeitos de esforços horizontais exteriores (por exemplo, o
vento), assim como a uma força de estabilidade interna (qd).

De acordo com a cláusula 9.2.5.3, é possível dimensionar n elementos de travamento paralelos, de forma
a restringir os efeitos de bambeamento de vigas ou asnas. Recorrendo à Figura 2.3, é possível
dimensionar, por viga e por elemento de travamento, a força Fd a que cada elemento de travamento
estará sujeito.

aN d
Fd = kl (2.21)
kf,3 l

em que:

1

kl = min  15 (2.22)

 l
, que leva em conta a variação do esforço de compressão, no caso de vigas ou treliças de grande vão (>
15m).

a espaçamento entre elementos de travamento, em m;

Nd valores de cálculo do esforço actuante de compressão médio no elemento;

l vão global do sistema estabilizante, em m;

kf,3 factor de correcção.

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Legenda:
(1) n elementos do sistema
(2) Contraventamento (sistema VT)
(3) Deformação do sistema de asnas devido às imperfeições e aos efeitos de segunda
ordem
(4) Forças estabilizantes
(5) Carga externa no contraventamento
(6) Esforços de reacção do contraventamento devidos às cargas exteriores
(7) Esforços de reacção do sistema de asnas devidos às forças estabilizantes

Figura 2.3 – Sistema de vigas ou de asnas necessitando de apoios laterais (EC5)

O sistema VT terá de resistir ao somatório de todas as forças Fd geradas pela instabilidade das vigas
(nFd). O valor de kf,3 = 30, segundo o EC5.

Para peças em flexão simples de vigas de secção rectangular, o valor de Nd pode ser calculado através da
expressão (9.36) do EC5, Eq. (2.23).

Md
Nd = (1- kcrit ) (2.23)
h

O valor de kcrit deverá ser calculado para a viga não contraventada, e Md é o valor de cálculo do momento
máximo na viga de altura h. Conservadoramente e em pré-dimensionamento, o valor de kcrit pode ser
considerado com o valor de 0, aproximando-se do valor correcto quanto mais esbelta for a viga.
Para peças em flexão composta com compressão, uma forma de contabilizar o esforço de compressão à
resultante das tensões na zona comprimida pode ser definida como:

Md
N d = N 0 + (1- kcrit ) (2.24)
h

Onde N0 é o esforço axial actuante no elemento.

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2.6 Corte

Conforme visto na 1ª aula, os esforços de corte originados nas fibras de madeira podem gerar, em função
da orientação das fibras em relação ao esforço de corte, diferentes solicitações, devido à anisotropia do
material. O valor mínimo ocorre em superfícies longitudinais, onde a rotura dá-se pelo escorregamento
entre planos adjacentes das fibras.

Figura 2.4. Efeito de corte longitudinal (Edlund, 1995)

No plano transversal, a rotura dá-se pelo esmagamento das fibras devido ao esforço de corte solicitado
nesta direcção, requerendo tensões superiores ao primeiro caso.

Na prática, admite-se que é esta última a forma de rotura da madeira na verificação de segurança ao
corte, realizando uma verificação semelhante à de outros materiais, mas com o valor da resistência ao
corte da madeira associado ao valor obtido para escorregamento dos planos longitudinais.

Nos elementos submetidos, simultaneamente, à flexão e corte, a solicitação desenvolve tensões


tangenciais de deslizamento e de corte. A rotura ocorre segundo o plano mais fraco, ou seja, pelo
deslizamento entre planos longitudinais.

O valor máximo de corte desenvolvido na secção é dado pela tensão tangencial desenvolvida a meia
altura da secção.

- Para secções rectangulares (A=bh):

3 Vsd
τ sd = (2.25)
2 A
- Para secções circulares (A=πr2):

4 Vsd
τ sd = (2.26)
3 A
Segundo o Eurocódigo 5, a verificação de segurança ao corte é realizada a partir de:

τ sd ≤ f v , d (2.27)

em que τd é o valor de cálculo da tensão de corte e fv,d é o valor de cálculo da resistência ao corte.

Esta verificação é válida para qualquer que seja a orientação do esforço de corte actuante na secção.

Figura 2.5. Diferentes orientações do esforço de corte na verificação de resistência (Negrão e Faria, 2009)

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No caso de peças à flexão, deve ser considerada uma largura reduzida da secção (bef) na verificação ao
corte, para levar em conta o efeito das fendas. Essa largura, que corresponde a diminuir a resistência ao
corte a partir de um factor kcr, é definido como:

bef = kcr b (2.28)

, sendo kcr = 0,67, para madeira maciça e madeira lamelada colada


1,00, para outros derivados de madeira

Segundo o EC5, nos apoios poderá ser desprezada a contribuição para o esforço transverso total de uma
carga concentrada F actuante na face superior de uma viga e a uma distância inferior a h ou hef da
extremidade do apoio (Figura 2.6). Em vigas com um entalhe ao nível do apoio, esta redução do esforço
transverso aplica-se unicamente quando o entalhe é do lado oposto ao apoio.

Figura 2.6. Condições de apoio, para as quais uma força concentrada F poderá ser desprezada para o cálculo
do esforço transverso

2.6.1 Verificação com entalhes


A presença de entalhes na face traccionada de elementos à flexão (Figura 2.7) origina concentração de
tensões na zona do entalhe, agravando desta forma o risco de rotura por corte.

Figura 2.7. Vigas com entalhe de extremidade

Para vigas de secção transversal rectangular, o EC5 utiliza um coeficiente redutor de resistência (kv) em
função das características do entalhe:

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  1,1 i1.5  
 kn 1 +  
  h  
kv = min 1; (2.29)
 x 1 
 h  α (1 − α ) + 0,8 −α 2  
 h α 
  
, onde:

i tangente do ângulo β definido pela plano de transição com a vertical;

α rácio hef/h

x distância entre a raiz do entalhe e a secção teórica de apoio (definida pela posição da reacção de
apoio);

kn coeficiente dependente do material da viga: 5,0 (madeira maciça); 6,5 (madeira lamelada colada);
4,5 (micro-lamelada colada, LVL).

Este coeficiente pode não ser considerado (kv=1) nos seguintes casos:

- tracção ou compressão paralelos ao fio;

- entalhes com i ≥ 10;

- entalhes na face comprimida da viga.

2.6.2 Reforço de entalhes


(a) Configuração incorrecta de entalhe

(b) Introdução de força de compressão


perpendicular, como forma de neutralizar as
tracções, mediante barra roscada - perde eficácia
com a contracção transversal da viga e com a
variação do teor em água;

(c) Introdução de barra na viga de madeira,


obtendo-se uma ligação rígida entre os dois
materiais – com a diminuição do teor em água, a
barra impede a contracção da viga, podendo
originar fendas;

(d) Fixação de chapa metálica na viga de madeira;

(e) e (f) Colagem e cravação de placas de


contraplacado nas faces laterais da viga;

(g) Mantas de fibra de vidro envolvendo a viga na


zona de apoio;

(h) Configuração correcta de entalhe

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2.7 Torção

Apesar de não ser um esforço muito comum nas estruturas correntes de madeira, a resistência a esforços
de torção é modesta pois a ausência de cintagem sobre as fibras longitudinais resulta no seu
desfibramento quando torcidas. O valor da resistência à torção, em termos de tensão de rotura, é
superior ao valor da resistência ao corte, e por isso é este último o valor de referência utilizado no
dimensionamento de estruturas de madeira à torção segundo o EC5.

Verificação de segurança segundo o EC5:

τ tor , d ≤ kshape f v ,d (2.30)

, onde:

τtor,d : valor de cálculo da tensão de torção;

fv,d :valor de cálculo da resistência ao corte (assume-se que ftor,d é igual a fv,d)

Kshape : coeficiente de forma do tipo de secção.

O coeficiente de forma é dado por:

1, 2 , para secções circulares



  h
k shape = 1 + 0,15 (2.31)
min  b , para secções rect angulares
 
 2, 0
, sendo b e h, a menor e maior dimensão da secção transversal da peça, respectivamente.

O valor de cálculo da tensão de torção é calculado de acordo com o tipo de secção (rectangular ou
circular), valor do momento torsor (T), relação entre altura e base da viga (h/b) ou raio da secção
transversal (r).

Para secções circulares:

2 ⋅T
τ tor , d = (2.32)
π ⋅ r3
Para secções rectangulares:

T
τ tor , d = (2.33)
α ⋅ h ⋅ b2

O valor de α, determinado a partir da relação de dimensões da peça, é determinado a partir da Tabela


2.3.

Tabela 2.3. Valores do coeficiente α

h/b 1.00 1.50 1.75 2.00 2.50 3.00 4.00 6.00 8.00 10.00 ∞

α 0,208 0,231 0,239 0,246 0,258 0,267 0,282 0,299 0,307 0,313 0,333

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2.7.1 Interacção corte-torção


No caso de termos solicitações simultâneas de corte e torção, e apesar de o EC5 não apresentar
verificação para este caso, o valor do esforço máximo de torção acontece no mesmo ponto do esforço
máximo de corte. Desta forma, resulta uma sobreposição de tensões tangenciais que deverá ser
verificada de acordo com o critério de Möhler-Hemmer:

2
τ tor ,d τ 
+  v ,d  ≤ 1 (2.34)
f tor ,d f
 v ,d 

2.8 Pilares e encurvadura

2.8.1 Considerações gerais


A utilização de elementos de madeira à compressão, apesar de não ser a situação com eficiência similar a
outro tipo de esforços (p.ex. flexão), é possível de realizar em secções correntes (circulares,
rectangulares, etc), ou através de secções compostas, com ligações entre diferentes elementos de forma a
aumentar a resistência global do elemento, diminuindo problemas de instabilidade.

A resistência máxima à compressão de uma peça pode ser dada por esgotamento da sua capacidade
resistente à compressão ou, como acontece na maioria das vezes, por instabilidade por encurvadura das
peças (teoria clássica de Euler).

O esgotamento da resistência da secção, quer por compressão simples, quer por flexão composta, já foi
abordada anteriormente e não será referida novamente aqui. Nesta secção, será abordada a verificação à
encurvadura de elementos sujeitos a esforços de compressão.

O comportamento de elementos sujeitos a esforços de compressão é normalmente condicionado pela


instabilidade da peça, que resulta numa deformação transversal incontrolada a partir de um dado valor
crítico de esforço axial (Ncrit).

A instabilidade é ainda agravada por desvios de linearidade da peça, excentricidade da carga, ou defeitos
de fabrico do elemento, originando que pequenas deformações ao longo do eixo da peça potenciem a
ocorrência de encurvadura para cargas mais baixas.

A forma corrente de abordar este problema baseia-se no uso de curvas de encurvadura, que relacionam a
tensão máxima a que a peça poderá estar sujeita (σ) em função da esbelteza desta (λ), sendo este
parâmetro dado por:

lv
λ= (2.35)
i
, onde lv é o comprimento de encurvadura do elemento e i é o raio de giração no plano de encurvadura
considerado. Define-se raio de giração como sendo a raiz quadrada da relação entre o momento de
inércia no plano considerado e a área da superfície.

Sendo o valor da carga crítica de Euler dada por:

π 2 EI
Pcrit = (2.36)
lv2
O valor da tensão crítica será dado por:

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π 2E
σ crit = (2.37)
λ2
Para determinarmos o ponto a partir do qual a encurvadura é condicionante no dimensionamento, basta
igualar a tensão crítica à resistência máxima da peça à compressão, resultando o ponto de inflexão da
curva de encurvadura, resultando:

E
λ0 = π (2.38)
fc
A curva de encurvadura pode também ser representada a partir do parâmetro esbelteza relativa (λrel),
dado por:

λ
λrel = (2.39)
λ0
A verificação regulamentar preconiza a utilização de curvas de encurvadura, determinadas de acordo
com a teoria da elasticidade mas alteradas de forma a ter em conta defeitos, imperfeições, etc. Para a
realização destas curvas, o ideal seria realizar N ensaios experimentais para determinar a curva de
encurvadura para todos os valores de esbelteza (λ). No entanto, como tal não é possível, recorre-se à
modelação numérica onde todos os efeitos que podem aparecer nos elementos de madeira, como
empenos, defeitos, imperfeições, etc., são modelados numericamente.

Desta forma, recorrendo a inúmeras análises numéricas para diferentes valores de esbelteza, e tendo em
conta a distribuição de resultados associado a cada um dos valores de esbelteza considerados nas
análises, associa-se os resultados obtidos a uma lei de distribuição representativa dos resultados obtidos,
a partir da qual é possível obter o quantilho de 5% (valor característico inferior). É a partir destes
pontos, calculados para N valores de esbelteza, que se desenvolve a curva de encurvadura preconizada
no EC5, onde os problemas associados com os elementos de madeira estão internamente contemplados
nesta análise.

De realçar que, para valores de esbelteza crescentes, o efeito dos defeitos diminui (menor dispersão de
resultados através de modelação numérica), pois a rotura por instabilidade elástica prevalecer sobre a
rotura por esmagamento do material, mais susceptível a defeitos e imperfeições.

2.8.2 Verificação de segurança


Na verificação de segurança, e em peças rectangulares, assume-se que a instabilidade pode ocorrer
segundo os dois eixos principais de inércia da secção. Apesar de a instabilidade poder ocorrer segundo
uma combinação qualquer de planos, a verificação segundo os eixos principais de inércia da secção
assegura a verificação de segurança segundo um plano qualquer crítico e diferente destes últimos.

A análise dos efeitos de encurvadura numa peça de madeira inicia-se então pela determinação dos valores
das esbeltezas (2.40) segundo os dois eixos principais (y-y’ e z-z’), a partir do raio de giração (i) e
comprimento de encurvadura (lv) segundo cada eixo.

lv , y lv , z
λy = λz = (2.40)
iy iz

Na expressão anterior, lv,y é o comprimento de encurvadura para flexão em torno do eixo y (deformação
no plano xz), enquanto que lv,z é o comprimento de encurvadura para flexão em torno do eixo z
(deformação no plano xy).

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A partir deste valor, calcula-se as esbeltezas relativas segundo cada eixo de forma a retirar o valor do
coeficiente de encurvadura segundo o EC5.

λy f c ,0,k λz f c ,0, k
λrel , y = λrel , z = (2.41)
π E0,05 π E0,05
A utilização dos valores característicos reflecte uma aproximação conservadora da segurança à
encurvadura. É de realçar que a verificação de peças à encurvadura é dispensável quando a esbelteza
relativa em ambas as direcções forem simultaneamente inferiores a 0,3. Para esta gama de valores, as
peças serão compactas e a rotura ocorre por esmagamento na secção transversal mas não susceptíveis a
encurvar por acção do esforço axial.

Deve, no entanto, ser realizada a verificação à flexão composta sem consideração do efeito de
encurvadura (ou kc = 1).

2
σ  σ m,y,d σ m,z,d
 c,0,d  +k + ≤1
 f  m
f f
 c,0,d  m,y,d m,z,d

2
σ  σ σ m,z,d
 c,0,d  + m,y,d + k ≤1
 f  f
m
f
 c,0,d  m,y,d m,z,d

No caso de existência de encurvadura, a interacção entre momentos e esforço axial de compressão já não
é quadrático como no caso de peças compactas, pois não será possível atingir o patamar plástico por
instabilidade do elemento. Desta forma, a verificação à encurvadura é realizada considerando uma
interacção linear, resultando nas seguintes verificações:

σ c,0,d σ m,y,d σ m,z,d


+ +k ≤1 (2.42)
m
k c,y f f f
c,0,d m,y,d m,z,d

σ c,0,d σ m,y,d σ m,z,d


+k + ≤1 (2.43)
m
k c,z f f f
c,0,d m,y,d m,z,d

, onde kc,y e kc,z são coeficientes de encurvadura, determinados de acordo com (2.44) e (2.45)

1
k c,i = (2.44)
ki + k -λ
2 2
i rel,i

( (
ki = 0,5 1 + β c λrel,i - 0,3 + λrel,i
2
) ) (2.45)

,com β = 0,2 (madeira maciça); 0,1 (madeira lamelada colada).

O aspecto das curvas de encurvadura, calculadas de acordo com (2.44), permite calcular a redução da
resistência à compressão das peças por efeito de encurvadura.

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1.2

0.8

kc
0.6

0.4

0.2

0
0 1 2 3 4
λrel

Figura 2.8. Curva de encurvadura

2.8.3 Comprimento de encurvadura


Os comprimentos de encurvadura são calculados de acordo com a Resistência dos Materiais, tendo em
conta os dois planos principais de encurvadura que as peças podem ter. No entanto, como existe alguma
flexibilidade nas ligações, é possível corrigir o comprimento teórico por um comprimento efectivo,
afectando o primeiro de um coeficiente (β) apresentado na Tabela 2.4, sendo:

lef = β l (2.46)

Figura 2.9. Comprimentos de encurvadura em diferentes situações de apoio (Alvarez, 1996)

Tabela 2.4. Coeficiente para contabilização da flexibilidade das ligações

Teórico β = 0.70 β = 0.50 β = 1.00 β = 2.00


Recomendado β = 0.85 β = 0.70 β = 1.50 β = 2.50

2.8.4 Travamento
Cada apoio intermédio deverá ter uma rigidez de mola mínima C:

Nd
C = ks (2.47)
a
em que:

ks factor de correcção, Nd é o valor de cálculo do esforço actuante de compressão médio no


elemento e a o comprimento entre travamentos regulares. O valor de cálculo da força estabilizante Fd
em cada apoio deverá ser calculado pela Eq. (2.48), em que kf,1 e kf,2 são factores de correcção.

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 Nd
k para madeira maciça
 f,1
Fd =  (2.48)
 Nd para madeira lamelada colada e LVL
 kf,2

Tabela 2.5. Factores de correcção no cálculo da força estabilizante

Factor de correcção Valores


ks 4
kf,1 50
kf,2 80

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3 Estados-limite de utilização
A madeira e seus derivados são materiais com rigidez bastante baixa, comparativamente às suas
resistências mecânicas. Esta relação traduz-se num dimensionamento que, na maioria das vezes, é
condicionado pelas condições dos estados-limite de utilização, nomeadamente o estado-limite de
deformação. Além do estado-limite de deformação, o de vibração também é condicionante para o
conforto dos pavimentos associados à utilização do material de construção madeira.

3.1 Estado-limite de deformação

A deformação da madeira pode ser separada em 3 diferentes níveis: deformação instantânea; deformação
por efeito de fluência primária e secundária; deformação por efeito de fluência terciária. O valor da
deformação final da peça pode atingir o dobro do valor da deformação instantânea, ou ainda mais
dependendo do tipo de material. O nível destas deformações depende também de vários factores, como o
teor em água da madeira, duração da carga e nível de tensão.

A deformação final do elemento em madeira é dada pelo somatório das deformações provocadas pelas
acções e combinações a considerar, tendo em conta o coeficiente de fluência (kdef) que é apresentado na
Tabela 3.1, tendo em conta o tipo de material e classe de serviço.

- Deformação instantânea (uinst): calculada para a combinação característica de acções, utilizando


valores médios apropriados dos módulos de elasticidade, de distorção e de deslizamento;

- Deformação final (ufin): calculada para a combinação de acções quase-permanente.

Para estruturas constituídas por elementos, componentes e ligações com as mesmas características de
fluência, e na hipótese de uma relação linear entre as acções e as deformações correspondentes, como
simplificação, a deformação final, ufin, poderá ser considerada igual a:

u fin = u fin,G + u fin,Q1 + u fin,Q i


(3.1)
em que:

u fin,G = u inst,G (1 + k def ) para uma acção permanente, G (3.2)

ufin,Q,1 = uinst,Q,1 (1+ ψ 2,1kdef ) para a acção variável de base da combinação, Q1 (3.3)

(
ufin,Q,i = uinst,Q,i ψ 0,i + ψ 2,i kdef ) para os valores acompanhantes das acções variáveis, Qi (i > 1) (3.4)

uinst,G , uinst,Q,1 , uinst,Q,i deformações instantâneas respectivamente para as acções G, Q1,

Qi;

ψ2,1, ψ2,i coeficientes para o valor quase-permanente das acções variáveis;

ψ0,i coeficientes para o valor de combinação das acções variáveis;

Tabela 3.1. Valores de kdef (EC5)

Classe de serviço
Material 3
1 2
Madeira maciça 0,60 0,80 2,00
Madeira lamelada colada 0,60 0,80 2,00

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LVL 0,60 0,80 2,00

O cálculo da deformação total final (wfin) é obtido através da soma da deformação instantânea com a
diferida, de acordo com a . As diferentes componentes da deformação são: winst, deformação instantânea
devido à combinação de acções; wc, contraflecha aplicada à viga; wnet,fin, deformação final sem ter em
conta contraflecha.

Figura 3.1. Componentes da flecha (EC5)

A flecha aparente final, considerada em relação à linha recta entre os apoios, wnet,fin, deverá ser
considerada igual a:

wnet,fin = winst + wcreep − wc = wfin − wc (3.5)

Relativamente à definição dos valores máximos de flecha admissíveis para elementos de madeira, o EC5
apresenta uma abordagem minimalista (Tabela 3.2), complementada no Documento Nacional de
Aplicação (DNA) com critérios mais objectivos, e que irão ser seguidos na verificação das deformações.

Tabela 3.2. Valores limites para as flechas de vigas segundo o EC5

winst wnet,fin wfin


Viga sobre dois l /150 a l /300
l /300 a l /500 l /250 a l /350
apoios
Viga em consola l /150 a l /250 l /125 a l /175 l /75 a l /150

Tabela 3.3. Valores de wnet,fin especificados no DNA do EC5

wnet,fin
Simplesmente Consola
apoiada
Coberturas em geral l/200 l/100
Coberturas utilizadas frequentemente por pessoas, para além do l/125
l/250
pessoal de manutenção
Pavimentos em geral l/250 l/125
Pavimentos e coberturas que suportem rebocos ou outros l/125
l/250
acabamentos frágeis, ou divisórias não flexíveis
Quando wnet,fin possa afectar o aspecto do edifício l/250 l/125

A contraflecha, apesar de não ser muito normal em estruturas correntes, é uma prática comum na
produção de madeira lamelada colada, de forma a compensar no dimensionamento as deformações finais
da peça, diminuindo a importância da deformação nas dimensões da secção.

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3.2 Estado-limite de vibração

A vibração de pavimentos deverá ser verificada para assegurar adequadas condições de conforto e
segurança. Para tal, as vibrações induzidas pelos ocupantes das divisões onde se encontram pavimentos
deverão ser controladas, vibrações estas provocadas maioritariamente pelos passos das pessoas. Existem
outras fontes de vibração, como as induzidas por máquinas ou por proximidade e transferência de outros
locais.

A frequência fundamental de um pavimento em madeira com dimensões l x b, simplesmente apoiado nos


4 bordos com vigas de madeira de vão l, pode ser calculada a partir da fórmula aproximada, Eq. (3.6),
representativa de uma viga simplesmente apoiada com carga uniformemente distribuída.

π ( EI ) L
f1 = 2
(3.6)
2l m
em que:

m massa por unidade de área, em kg/m²;

l vão do pavimento, em m;
(EI)l rigidez equivalente de flexão de placa do pavimento segundo um eixo perpendicular à direcção
das vigas, em Nm²/m.

Para frequências de vibrações inferiores a 8Hz (f1 ≤ 8Hz), os pavimentos deverão ser alvo de uma análise
específica, tema que não irá ser abordado aqui. Para pavimentos com frequência fundamental superior a
8Hz, o EC5 especifica duas verificações, Eq. (3.7) e (3.8).

u
≤ a mm/kN (3.7)
F

v ≤ b( f1ζ -1) m/(Ns²) (3.8)

em que:

u flecha vertical máxima instantânea causada por uma força vertical estática concentrada F aplicada em
qualquer ponto do pavimento, tendo em conta a distribuição das cargas;

ζ coeficiente de amortecimento modal, considerado igual a 2% (ou 0,02) para pavimentos nas situações
correntes, segundo o anexo UKNA do EC5.

v resposta em velocidade a um impulso unitário, em m/(Ns2), ou seja, o valor inicial máximo da


velocidade de vibração vertical do pavimento (em m/s) causada por um impulso unitário ideal (1 Ns)
aplicado no ponto do pavimento que fornece uma resposta máxima. Os termos acima de 40 Hz
poderão ser desprezados.

3.2.1 Verificação para vibrações de baixa frequência


A primeira verificação apresentada (Eq. (3.7)) está relacionada com as vibrações de baixa frequência, aqui
representado pela deformação na zona central de um pavimento provocada por uma força estática de 1
kN, representativa de uma passada lenta.Os valores limite desta deformação encontram-se divididos em
função do vão do pavimento:

a ≤ 1,8 ( mm ) para l ≤ 4,0 m (3.9)

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16500
a≤ ( mm) para l > 4,0 m (3.10)
l 1,1
A deformação da zona central do pavimento pode ser encontrada a partir da Eq. (3.11).

1000kdist leq3 kamp


a= (3.11)
48 ( EI )viga

• O valor de kdist significa a proporção da carga de 1kN suportada por uma viga apenas, sendo
este valor calculado a partir da seguinte equação:

 14 ( EI )b  
kdist = max 0,38 − 0,08ln  4  ;0,30  (3.12)
  s  

• (EI)b é encontrado a partir da rigidez de flexão do soalho, segundo um eixo de flexão paralelo à
orientação das vigas principais;
• s é o espaçamento médio entre as vigas principais;
• O valor de leq é determinado em função da continuidade das vigas de pavimento:

l para vigas simplesment e apoiadas



leq =  0,9l para vãos ext remos de vigas cont ínuas (3.13)
 0,85l para vãos int ermédios de vigas cont ínuas

• kamp é um factor de amplificação que tem em conta as deformações por corte das vigas:

 1,05 para vigas simplesment e apoiadas


k amp =  (3.14)
1,10 para vigas cont ínuas

• (EI)viga é a rigidez de flexão de uma viga apenas, calculada com o valor de Emean.

3.2.2 Verificação para vibrações de alta frequência


A 2ª verificação a realizar nos estados-limite de vibração em pavimentos de madeira, consiste na análise
da influência que as vibrações de alta frequência poderão originar nos pavimentos, através do cálculo da
velocidade máxima de vibração vertical da zona central de um pavimento, devido a uma força impulsiva
de 1,0 N s. Essa verificação é realizada de acordo com a Eq. (3.8),

v ≤ b( f1ζ -1) m/(Ns²)

onde:

180 − 60 a , com a ≤ 1 mm
b= (3.15)
160 − 40 a , com a > 1 mm

• f1 é a 1ª frequência natural de vibração do pavimento (Hz) e calculada de acordo com a Eq. (3.6);
• ζ é o coeficiente de amortecimento, podendo ser considerado igual a 0,02.
Para um pavimento rectangular com dimensões globais b×l, simplesmente apoiado nos quatro lados, o
valor da velocidade de deformação (v) provocada pelo impulso unitário, poderá ser calculado por:

4(0,4 + 0,6 n40 )


v = (3.16)
m b l + 200

em que:

• n40 número de modos de vibração de primeira ordem com frequências próprias até 40 Hz;

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• b largura do pavimento (m);


• m massa (kg/m2);
• l vão do pavimento (m).
O valor de n40 é calculado a partir da Eq. (3.17):

0,25
  
 b  ( EI ) L
2  4
  40  
n 40 =    - 1    (3.17)
   f 1    l  ( EI ) 
 b

, com (EI)b e (EI)L em Nm2/m, em que (EI)b < (EI)L.

Para a realização destes cálculos, deverá admitir-se que o pavimento está apenas sujeito ao peso próprio
e a outras acções permanentes, além da força concentrada ou impulso unitário, necessários para os
cálculos.

Alexandre A. Costa 35
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4 Verificação de segurança em estruturas correntes

4.1 Pavimentos

A verificação de segurança de pavimentos deverá ter em conta os estados-limite últimos adequados aos
seus elementos, nomeadamente a verificação à flexão simples das tábuas de soalho, flexão simples com
bambeamento das vigas principais, verificação da compressão perpendicular ao fio nas entregas das
vigas, verificação ao corte das vigas e soalho (caso se justifique).

Relativamente aos estados-limite de utilização, deverá ser sempre verificada a deformação dos
pavimentos, assim como a vibração e satisfação das condições de conforto

4.2 Coberturas

A verificação de segurança das peças principais que constituem as coberturas de madeira, e


relativamente aos estados-limite últimos de resistência, poderá ser dividida em relação aos diferentes
elementos existentes, nomeadamente:

• Pernas: verificação à flexão composta (M + C) e encurvadura;


• Escoras: encurvadura
• Linhas: flexão composta (M + T);
• Pendurais: Tracção paralela ao fio;
• Cumeeiras: Flexão simples e bambeamento;
• Madres: Flexão desviada e bambeamento.

No entanto, há que ter em consideração que as coberturas, em função da sua inclinação e da possibilidade
de existirem abertura que possam conduzir a forças ascensionais e sucção da mesma, pode originar a
inversão de esforços, ficando os elementos estruturas a esforços de sinal contrário.

Os estados-limite de utilização deverão contemplar apenas a verificação à deformação dos elementos,


tendo em conta os limite estabelecidos anteriormente de acordo com o DNA do EC5.

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5 Ligações

5.1 Introdução

As ligações realizadas nos elementos de madeira podem ser divididas em dois géneros: ligações
tradicionais de marcenaria, recorrendo a entalhes e/ou a mecha e espiga; ligações mecânicas.

Como actualmente só se utiliza na maioria dos casos ligações mecânicas nas novas estruturas em
madeira, serão apenas estas últimas as abordadas em detalhe.

As ligações mecânicas podem ser distinguidas entre ligadores tipo cavilha (fasteners) e os ligadores
planos (connectors).

Os ligadores tipo cavilha, inseridos na madeira paralela, oblíqua ou transversalmente ao fio da madeira,
são uma forma corrente de ligação entre elementos de madeira. A forma mais eficiente de fazer a ligação
entre os elementos é recorrendo a ligações transversais ao fio, aumentando também a sua resistência.
Esta resistência é dada pelo esmagamento local da madeira na zona de contacto, sendo também possível
a ocorrência de plastificação do ligador devido aos esforços actuantes (corte e flexão).

Os ligadores planos podem ser de diferentes formas, como anéis abertos ou fechados, placas circulares,
placas metálicas denteadas, chapas de pregar ou estampadas, etc. A área de contacto entre ligadores e
peças de madeira normalmente é elevada, visto estes encontrarem-se na superfície das peças.

Na escolha do sistema de ligação a utilizar, deverão ter-se em conta os seguintes aspectos (Negrão e
Faria, 2009):

• Capacidade de carga e rigidez;


• Estética;
• Durabilidade;
• Custo de materiais e montagem;
• Adequação ao fim proposto.
As cavilhas e os parafusos de porca são a opção habitual para elementos de grandes dimensões, nos quais
está em jogo a transmissão de esforços elevados. Os parafusos de enroscar são utilizados, em geral, em
elementos não estruturais ou elementos estruturais secundários.

As chapas estampadas podem ter protusões para um ou dois lados, consoante se destinam a ligar peças
alinhadas ou sobrepostas, e têm a sua utilização mais comum na transmissão de forças nos nós de asnas
pré-fabricadas. Os anéis permitem, dada a sua forma, a realização de articulações quase perfeitas.
Idêntica possibilidade é proporcionada pelas placas denteadas circulares, as quais podem apresentar
dentes para ambos ou um só lado, consoante se destinem a realizar ligações madeira-madeira ou entre
madeira e um material mais rígido, como aço ou betão. Estes ligadores e os anéis são aplicados em
conjunção com um parafuso de porca, inserido no furo central, que tem por finalidade impedir a expulsão
do ligador por efeito de forças transversais (perpendiculares ao plano do ligador), permanentes ou
acidentais (Negrão e Faria, 2009).

5.2 Parafusos

Os parafusos mais comuns utilizados em estruturas de madeira são os parafusos de cabeça sextavada,
embora também existam os parafusos de cabeça de embeber ou redonda. Normalmente, a parte lisa da
espiga corresponde a 40% do seu comprimento total. O material constituinte dos parafusos pode ser aço
inoxidável ou aço com tratamento anti-corrosão à base de zincagem.

Alexandre A. Costa 39
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As dimensões dos parafusos a serem utilizados em construção têm diâmetros que variam entre os 8 a
20mm e comprimentos até 300mm. O diâmetro nominal do parafuso corresponde ao do liso da espiga ou
ao definido pelo limite exterior da rosca (adaptado de Negrão e Faria, 2009).

Para evitar a fractura da madeira durante a introdução do parafuso, este deverá ser introduzido com pré-
furação, sendo depois enroscado à rotação sem percussão. Na profundidade correspondente ao liso da
espiga do parafuso, o furo deve ter o diâmetro deste, passando a cerca de 70% no restante comprimento
do furo.

A ligação aparafusada pode ser reversível, ou seja, os parafusos podem ser removidos e reaplicados,
praticamente sem perda da capacidade resistente da ligação, nomeadamente ao arranque.

5.2.1 Funcionamento ao corte


A verificação da resistência ao corte de um parafuso deverá ter em conta o diâmetro efectivo (def), para
ter em conta o momento plástico da espiga.

O efeito da parte roscada do parafuso deve ser tido em conta na determinação da capacidade resistente,
utilizando um diâmetro efectivo def.

Para parafusos com espiga lisa, quando o diâmetro exterior da parte roscada é igual ao diâmetro da
espiga, aplicam-se as regras dadas em teoria de Johansen, desde que:

• diâmetro efectivo def seja considerado igual ao diâmetro da parte lisa da espiga;
• parte lisa da espiga penetre no elemento que contém a ponta do parafuso no mínimo 4d.
No caso em que as condições anteriores não são satisfeitas, a capacidade resistente do parafuso de
enroscar deverá ser calculada utilizando um diâmetro efectivo def igual a 1,1 vezes o diâmetro interior da
parte roscada do parafuso.

No caso de parafusos com parte lisa da espiga de diâmetro d > 6 mm, aplicam-se as regras para ligações
com parafusos de porca. No caso de parafusos com parte lisa da espiga de diâmetro inferior ou igual a 6
mm, aplicam-se as regras indicadas para pregos carregados lateralmente..

5.2.2 Funcionamento ao arranque


O valor característico da resistência ao arranque de parafusos de diâmetro nominal entre 6 e 12mm e
relação d1/d (onde d1 é o diâmetro do fundo da rosca) entre 0,60 e 0,75:

nef f ax ,α ,k dlef kd
Fax ,α , Rk = (5.1)
1.2 cos 2 α + sin 2 α
Onde nef é o número efectivo de parafusos, d o diâmetro medido pelo exterior da rosca e lef o
comprimento de penetração da rosca na peça que recebe a ponta. α é o ângulo formado entre o eixo do
parafuso e o fio.

f ax ,α ,k é o valor característico da resistência ao arranque a um ângulo α entre o eixo do parafuso e o fio,


dado por:

f ax ,k = 0,52d −0,5lef−0,1 ρk0,8 (5.2)

Kd é um coeficiente definido como:

d 
kd = min  ;1 (5.3)
8 

Alexandre A. Costa 40
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E ρk é a massa volúmica da madeira.

Para uma ligação constituída por um grupo de parafusos de enroscar solicitados por uma componente de
esforço paralela à espiga, o número efectivo de parafusos é dado por:

nef = n0,9 (5.4)

em que:

nef número efectivo de parafusos;

n número de parafusos actuantes numa ligação simultaneamente.


25
arrancamento da ligação
Capacidade de

22.5
(kN)

20

17.5

15
0 20 40 60 80
Ângulo com o fio (o)

Figura 5.1. Influência do ângulo de inserção de 2 parafusos relativamente ao fio (d = 10mm, lef = 100mm,
GL24h)

Esta forma de dimensionamento da ligação submetido a tracção axial pressupõe que os outros modos de
rotura possíveis de ocorrer têm uma resistência superior ao valor dado pela eq. (5.1):

• rotura da cabeça do parafuso (se existe chapa metálica de interposição);


• resistência à tracção do parafuso;
• resistência ao punçoamento sob a cabeça do parafuso.
Enquanto que nos dois primeiros casos aplicam-se as verificações de construções metálicas segundo o
EC3, a última pode ser expressa, para ângulos entre o parafuso e o fio não inferiores a 30º, a expressão:

0,8
ρ 
Fax ,α , Rk = nef f head , k d  k 
2
(5.5)
 ρa 
h

onde f head ,k é o valor característico do parâmetro de punçoamento do parafuso e ρ a é a massa


volúmica associada, sendo dh o diâmetro da cabeça do parafuso.

Existem prescrições relativamente a espaçamentos mínimos a respeitar para parafusos de enroscar


solicitados axialmente, evitando também efeitos de encurvadura dos parafusos.

Tabela 5.1. Espaçamentos mínimos para parafusos de enroscar (Negrão e Faria, 2009)

Dimensão Valor
Espaçamento na direcção do fio, a1 7d
Espaçamento na direcção perpendicular ao fio, a2 5d
Distância mínima do centro geométrico (G) da parte roscada inserida na peça 10d
ao topo desta, a1,cg
Distância mínima do centro geométrico (G) da parte roscada inserida na peça 4d
ao lado desta, a2,cg

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5.2.3 Interacção corte e arranque


Deve ser feita a verificação segundo a fórmula de interacção para pregos helicoidais ou nervurados, ou
seja, utilizando a expressão:

2 2
 Fax , Ed   Fv , Ed 
  +   ≤ 1 (5.6)
 Fax , Rd   Fv , Rd 

5.3 Cavilhas e parafusos de rosca

Os parafusos de porca deverão ser aplicados com anilhas sob a cabeça e sob a porca para evitar o
esmagamento local da madeira provocado pelo aperto do parafuso. Para tal, as anilhas podendo ser
circulares ou quadradas, devem ter um lado ou diâmetro mínimo de 3 d e uma espessura mínima de 0,3d,
devendo resistir à carga em toda a área de contacto

5.3.1 Corte
Para o dimensionamento ao corte, a teoria de Johansen é aplicável, sendo o calor característico do
momento plástico (N mm) dado por:

M y , Rk = 0,3 fu ,k d 2,6 (5.7)

Onde d é o diâmetro do ligador (mm) e fu,k é o valor característico da resistência à tracção (MPa).

Para parafusos de porca de diâmetro inferior ou igual a 30 mm deverão tomar-se os seguintes valores
característicos da resistência ao esmagamento localizado na madeira, para um ângulo α em relação ao
fio:

f h,0,k
f h,α,k = (5.8)
k 90 sin 2α + cos 2α

f h,0,k = 0,082 (1- 0,01 d ) ρ k (5.9)

em que:

1,35 + 0,015 d para resinosas


k 90 =  (5.10)
0,90 + 0,015 d para folhosas

Onde fh,0,k é valor característico da resistência ao esmagamento localizado paralela ao fio, em N/mm2, ρk
é o valor característico da massa volúmica da madeira, em kg/m³, α o ângulo entre o esforço e o fio e d o
diâmetro do parafuso de porca, em mm.

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Figura 5.2. Espaçamentos e distâncias ao bordo e à extremidade: (a) Espaçamentos paralelos ao fio numa
fiada e perpendiculares ao fio entre fiadas; (b) Distâncias ao bordo e à extremidade (EC5)

Na figura anterior, (1) é o caso de extremidade solicitada, (2) extremidade não solicitada; (3) o bordo solicitado e
(4) o bordo não solicitado. O apontamento 1 indica o ligador, enquanto o 2 significa a direcção do fio.
Tabela 5.2. Valores mínimos do espaçamento e das distâncias de parafusos de porca

Espaçamento e distâncias Ângulo Espaçamento ou distância mínimos

° °
a (paralelo ao fio) 0 ≤ α ≤ 360 (4 + │cos α│) d
1
° °
a (perpendicular ao fio) 0 ≤ α ≤ 360 4d
2

° °
a (extremidade solicitada) -90 ≤ α ≤ 90 max (7 d; 80 mm)
3,t

° °
90 ≤ α < 150 max [(1 + 6 sin α) d; 4d]
° °
a (extremidade não solicitada) 150 ≤ α < 210 4d
3,c
° ° max [(1 + 6 sin α) d; 4d]
210 ≤ α ≤ 270

° °
a (bordo solicitado) 0 ≤ α ≤ 180 max [(2 + 2 sin α) d; 3d]
4,t
° °
a (bordo não solicitado) 180 ≤ α ≤ 360 3d
4,c

Tabela 5.3. Valores mínimos do espaçamento e das distâncias para cavilhas

Espaçamento e distâncias Ângulo Espaçamento ou distância mínimos

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° °
a (paralelo ao fio) 0 ≤ α ≤ 360 (3 + 2│cos α│) d
1
° °
a (perpendicular ao fio) 0 ≤ α ≤ 360 3d
2

° °
a (extremidade solicitada) -90 ≤ α ≤ 90 max (7 d; 80 mm)
3,t

° °
90 ≤ α < 150 max(a │sin α│) d; 3d)
3,t
° °
a (extremidade não solicitada) 150 ≤ α < 210 3d
3,c
° ° max(a │sin α│) d; 3d)
210 ≤ α ≤ 270 3,t

° °
a (bordo solicitado) 0 ≤ α ≤ 180 max[(2 + 2 sin α) d; 3d]
4,t
° °
a (bordo não solicitado) 180 ≤ α ≤ 360 3d
4,c

Para uma fiada de n parafusos de porca paralela ao fio, a capacidade resistente paralela ao fio, deverá ser
calculada a partir do número efectivo de ligadores nef, em que:

 n

nef = min  0,9 a1 (5.11)
n 4
 13d

em que a1 é o espaçamento, na direcção do fio, entre os parafusos de porca, d é o diâmetro dos parafusos
de porca e n é o número de parafusos de porca numa fiada.

Para esforços perpendiculares ao fio, o número efectivo de ligadores deverá ser considerado igual a
nef = n . Se o ângulo força-fio tiver um valor intermédio, pode proceder-se a interpolação linear entre os
dois casos anteriores.
O cálculo do número efectivo de ligadores também deverá ser realizado para ligações com cavilhas.

5.3.2 Carregamento axial em parafusos de rosca


No caso de termos a ligações feitas em parafusos de rosca com esforço axial, a resistência da ligação é
dada pelo menor dos valores de:
• resistência à tracção do parafuso;
• punçoamento sob a cabeça do parafuso, se a ancoragem se fizer a chapas, painéis ou elementos
mais finos;
• resistência ao esmagamento da madeira sob a anilha.

Os dois primeiros casos são abrangidos pelo EC3, enquanto o último caso já está contemplado no EC5 e
tem em conta o efeito das compressões perpendiculares ao fio. A verificação a efectuar, para um esforço
de corte na madeira Vk (que se transforma em esforço axial na ligação) será:

Vk
σ c ,90,k = ≤ 3 f c ,90, k
π (d − d2)/ 4
2
(5.12)
anilha

Onde d é o diâmetro do parafuso (ou do furo na madeira). Ou seja, a resistência máxima ao corte da
ligação será dada por:

π
Vk = 3 f c ,90,k
4
(d 2
anilha −d2) (5.13)

A capacidade resistente, por parafuso de porca, de uma chapa de aço não deverá exceder a de uma anilha
circular cujo diâmetro é igual ao menor valor entre:

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• 12t, em que t é a espessura da chapa;


• 4d, em que d é o diâmetro do parafuso de porca.

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6 Regras de dimensionamento (Teoria de Johansen)


A Teoria de Johansen é o modelo segundo o qual o EC5 se rege para verificação de ligadores tipo cavilha
sujeitos ao corte.

O método de dimensionamento estabelece as equações de equilíbrio limite para ligações madeira-


madeira, madeira-derivados de madeira e madeira-aço, no pressuposto do comportamento rígido-plástico
do aço dos ligadores e da madeira sujeita a esmagamento por estes. Os dois conceitos que traduzem estas
hipóteses no cálculo numérico são a resistência ao esmagamento localizado da madeira e o momento
plástico do ligador (Negrão e Faria, 2009).

6.1 Modos de rotura

As expressões contempladas no EC5 como valores característicos da capacidade resistente de ligadores


são apresentadas por plano de corte e por ligador. No caso de corte duplo ou múltiplo, deverá ser
multiplicado pelo número total de planos para se obter a resistência final por ligador.

Dependendo das características mecânicas e geométricas dos elementos intervenientes na ligação, o


mecanismo de rotura pode assumir diferentes modos de rotura, com esmagamento localizado da
madeira, que poderá ser combinado ou não com a formação de rótulas plásticas no ligador.

Na verificação da capacidade resistente ao corte segundo o EC5, a capacidade resistente das ligações
entre diversos elementos aparece dividida entre ligações: madeira-madeira e madeira-placas de derivados
de madeira; ligações aço-madeira. Além disso e no 2º caso, aparece também uma divisão relativamente à
espessura do elemento a ligar à madeira, nomeadamente chapa de aço espessa e chapa delgada, assim
como a localização desta chapa na ligação.

6.1.1 Ligações madeira-madeira


De acordo com Negrão e Faria (2009), os modos de rotura (apresentados na Figura 6.1) são designados
como:

- tipo 1: esmagamento da madeira sem plastificação do ligador;

- tipo 2: esmagamento da madeira com formação de rótula plástica por plano de corte;

- tipo 3: formação de duas rótulas plásticas por plano de corte.

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Figura 6.1. Modos de rotura para ligações madeira-madeira e madeira-placas de derivados de madeira

6.1.1.1 Para ligadores em corte simples (caso (1)):

 f h,1,k t1d (a)



 f h,2,k t2 d (b)

 f h,1,k t1d    
2 2

  β + 2β 2 1 + t2 +  t2   + β 3  t2  − β  1 + t2   + Fax,Rk
      (c)
 1 + β   t1  t1    t1   t1   4
  
  
Fv,Rk = min 1,05 f h,1,k t1d  2β (1 + β ) + 4 β (2 + β )M y,Rk − β  + Fax,Rk (d) (6.1)
 2+ β  2

f h,1,k d t1 4
 
 f td 4 β (1 + 2β )M y,Rk  Fax,Rk
1,05 h,1,k 2  2 β 2 (1 + β ) + −β + (e)
 1 + 2β  f h,1,k d t2 2
 4
 
 2β Fax,Rk
1,15 2 M y,Rk f h,1,k d + (f)
 1+ β 4

com

f h,2,k
β= (6.2)
f h,1,k

em que Fv,Rk é o valor característico da capacidade resistente, por plano de corte e por ligador, ti a
espessura da madeira ou da placa, ou profundidade de penetração com i igual a 1 ou 2, fh,i,k o valor
característico da resistência ao esmagamento localizado do elemento de madeira i, d é o diâmetro do
ligador, My,Rk é o valor característico do momento de cedência plástica do ligador, β relação entre as
resistências ao esmagamento localizado dos elementos, Fax,Rk é o valor característico da resistência ao
arranque axial do ligador, e já apresentado anteriormente (parafusos, eq. (5.5); cavilhas e parafusos de
rosca, eq. (5.12)).

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O caso a), b) e c) correspondem ao modo de rotura 1, ou seja, envolvendo apenas o esmagamento local da
madeira. Neste último (c) assim como nos seguintes (d), e) e f)), o último termo é relativo à contribuição
do efeito de corda (ou de biela, segundo Negrão e Faria (2009), devido à rotação do ligador (Figura 6.2).

Figura 6.2. Efeito de corda (Kuipers, 1982)

No entanto, esta contribuição deverá estar limitada às percentagens máximas definidas na Tabela 6.1, da
parte relativa à teoria de Johansen.

Tabela 6.1. Contribuição máxima do efeito de corda

Pregos redondos lisos 15%


Pregos quadrados lisos 25%
Outros pregos 50%
Parafusos de enroscar 100%
Parafusos de porca 25%
Cavilhas 0%

No caso de Fax,Rk não ser conhecido, a contribuição do efeito de corda deverá ser considerada igual a
zero.

Para ligadores em corte simples, o valor característico da resistência ao arranque, Fax,Rk , é considerado
igual à menor das resistências dos dois elementos.

As equações d) e e) correspondem ao segundo modo de rotura, com plastificação de uma rótula plástica
por plano de corte. Estas duas equações são semelhantes, variando apenas a posição da rótula de acordo
com a posição das peças a ligar. Por último, a equação f) tem em conta a formação de duas rótulas
plásticas, uma em cada peça da madeira.

6.1.1.2 Para ligadores em corte duplo (caso (2)):

 f h,1,k t1d (g)



0,5 f h,2,k t2 d (h)

 f td  4 β (2 + β )M y,Rk  F
Fv,Rk = min 1,05 h,1,k 1  2β (1 + β ) + − β  + ax,Rk (j) (6.3)
 2+ β 
2
f h,1,k d t1  4

 2β F
1,15 1 + β 2 M y,Rk f h,1,k d + ax,Rk (k)
 4

Os dois primeiros casos g) e h) reportam a mesma situação exibida para corte simples (modo de rotura
1), ou seja, a rotura por esmagamento local da madeira das barras laterais (g) ou da central (h). A
equação (6.3) j) reporta então o modo de rotura 2, ou seja, a formação de rótulas plásticas por plano de
corte. Como temos dois planos de corte, a formação desta rótula acontece no plano médio por

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intersecção dos dois alinhamentos, formando-se uma só rótula central. Por último, a última equação k)
reporta a formação de 2 rótulas plásticas em cada plano de corte, totalizando então 4 rótulas plásticas,
podendo as duas centrais ter a mesma localização.

6.1.2 Ligações aço-madeira


No cálculo das ligações aço-madeira, a teoria de Johansen é também aplicável assumindo algumas
hipóteses (Negrão e Faria, 2009):

i) Chapas finas permitem a rotação do ligador na secção do furo; a conjugação da pequena


espessura da chapa com a fola do furo possibilitam a rotação;
ii) Chapas espessas não permitem a rotação do ligador na secção do furo; a grande espessura
da chapa proporciona, às forças que se opõem à rotação do ligador, um braço que permite
desenvolver um momento de encastramento.

Segundo o EC5, uma chapa é fina quando a sua espessura for inferior ou igual a metade do diâmetro do
ligador. Quando a espessura da chapa for superior a d, a chapa passa a considerar-se espessa na condição
de a folga do furo não ser superior a 0,1d. Para valores intermédios, admite-se o cálculo por interpolação
linear entre os 2 casos.

Chapa fina: 0,5 d ≥ t

Chapa espessa: t ≥ d

Os modos de rotura em ligações aço-madeira possíveis de ocorrer estão representados na Figura 6.3

Figura 6.3. Modos de rotura em ligações aço-madeira

6.1.2.1 Para uma chapa de aço fina em corte simples:

0,4 f h,k t1 d (a)



Fv,Rk = min  Fax,Rk (6.4)
1,15 2 M y,Rk f h,k d + (b)
 4

6.1.2.2 Para uma chapa de aço espessa em corte simples:


 f h,k t1 d (c)

  4 M y,Rk  F
Fv,Rk = min  f h,k t1 d  2 + 2
− 1 + ax,Rk (d) (6.5)
  f h,k d t1  4

2,3 M F
f h,k d + ax,Rk (e)
 y,Rk
4

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6.1.2.3 Para uma chapa de aço de qualquer espessura constituindo o elemento central de uma ligação
em corte duplo:


 f h,1,k t1 d (f)

  4 M y,Rk  Fax,Rk
Fv,Rk = min  f h,1,k t1 d  2 + − 1+ (g) (6.6)
  f h,1,k d t12  4

2,3 M F
f h,1,k d + ax,Rk (h)
 y,Rk
4

6.1.2.4 Para chapas de aço delgadas constituindo os elementos exteriores de uma ligação em corte
duplo:

0,5 f h,2,k t2 d (j)



Fv,Rk = min  Fax,Rk (6.7)
1,15 2 M y,Rk f h,2,k d + (k)
 4

6.1.2.5 Para chapas de aço espessas constituindo os elementos exteriores de uma ligação em corte
duplo:

0, 5 f h,2,k t2 d (l)



Fv,Rk = min  Fax,Rk (6.8)
2, 3 M y,Rk f h,2,k d + (m)
 4

Nas equações anteriores, Fv,Rk é o valor característico da capacidade resistente por plano de corte e por
ligador, fh,k é o valor característico da resistência ao esmagamento localizado do elemento de madeira; t1 é
o menor dos valores entre a espessura do elemento de madeira lateral e a profundidade de penetração; t2
é a espessura do elemento intermédio de madeira; d é o diâmetro do ligador; My,Rk o valor característico
do momento de cedência plástica do ligador e Fax,Rk o valor característico da resistência ao arranque do
ligador.

6.1.3 Outros aspectos a considerar

6.1.3.1 Rotura por corte em bloco


A rotura por corte em bloco (Figura 6.4) acontece quando a força necessária a mobilizar, assegurada pela
resistência da madeira ao corte (Figura 6.5, zona b e c) e tracção (Figura 6.5, zona a) na ligação do
conjunto é atingida. Este tipo de rotura é susceptível de ocorrer em ligações aço-madeira com múltiplos
ligadores do tipo cavilha, com uma componente do esforço paralela ao fio localizada próxima da
extremidade do elemento de madeira.

Figura 6.4. Rotura por corte em bloco Figura 6.5. Zonas com resistência mobilizadas
(Negrão e Faria, 2009)

O valor máximo da resistência à rotura em bloco é dado pelo maior dos valores resistentes destes
mecanismos mencionados:

Fbs , Rk = max (1,5 Anet ,t f t ,0,k ; 0, 7 Anet ,v f v ,k ) (6.9)

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O primeiro termo é referente à rotura por tracção da superfície, sendo Anet,t a área líquida resistente (sem
contabilização dos furos) perpendicular ao fio, dada por:

Anet .t = Lnet ,t t1 (6.10)

Onde t1 é a espessura útil de resistência, dada pelo menor valor da espessura da peça de madeira ou
profundidade de penetração dos ligadores. O comprimento Lnet,t é a medição das zonas traccionadas que
resistem ao esforço, e é dado pela Eq. (6.11).

Lnet,t = ∑ lt,i (6.11)


i

Os valores de lt,i são definidos de acordo com a Figura 6.6.

Figura 6.6. Definição das larguras de contacto para os dois modos de rotura (EC5)

O segundo termo da Eq. (6.9) refere-se à rotura por corte das secções laterais na zona da ligação, dada
pela área de contacto entre a peça de ligação e a peça de madeira, descontando novamente a área dos
furos, Anet,v. Esse valor é dado pela área mobilizada em cada um dos modos de rotura, o que influencia
também a determinação desse parâmetro. Pode-se definir a área que contribui para a resistência (Anet,v)
em função dos modos de rotura ao corte, já apresentados anteriormente e que se apresentam novamente
na Figura 6.7, a partir da Eq. (6.12).

 Lnet,v t1 modos de rot ura (e, f, j/ l, k, m)



Anet,v =  Lnet,v (6.12)

 2
( Lnet,t + 2 tef ) t odos os out ros modos

Figura 6.7. Modos de rotura em ligações aço-madeira

O valor da altura útil que depende do modo de rotura do ligador (tef) é calculado em função do modo de
rotura e do tipo de chapa.

– para chapas de aço delgadas (para os modos de rotura indicados entre parênteses):

0,4 t1 (a)

tef =  M y,Rk (6.13)
1,4 f d (b)
 h,k

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– para chapas de aço espessas (para os modos de rotura indicados entre parênteses):

 M y,Rk
2 (d)(h)
 f h,k d
tef =  (6.14)
  M y,Rk 
t1  2 + f d t 2 − 1 (c)(g)
  h,k 1 

Tal como no caso da rotura por tracção, o valor do comprimento da peça mobilizada pelo corte (Lnet,v) é
dada por:

Lnet,v = ∑ lv,i (6.15)


i

6.1.3.2 Ligações para forças oblíquas


Quando, numa ligação, existe um esforço actuante que transmite forças com um ângulo em relação ao
fio, é necessário verificar a possibilidade de fendimento provocado pela componente do esforço de tracção
perpendicular ao fio, FEd sin(α). Para ter em conta a possibilidade de fendimento perpendicular ao fio,
deve ser verificada a seguinte condição:

Para ter em conta a possibilidade de fendimento provocado pela componente do esforço de tracção
perpendicular ao fio, FEd sin(α), deverá ser satisfeita a seguinte condição:

Fv,Ed ≤ F90,Rd (6.16)

com

 Fv,Ed,1
Fv,Ed =max  (6.17)
 Fv,Ed,2

em que F90,Rd é o valor de cálculo da capacidade resistente de fendimento, calculado a partir do valor
característico da capacidade resistente de fendimento, F90,Rk; Fv,Ed,1, Fv,Ed,2 são os valores de cálculo das
forças de corte actuantes em cada lado da ligação, de acordo com a Figura 6.8.

a) b)
Figura 6.8. Ligações com forças oblíquas

No caso de madeiras de Resinosas e para disposições como a representada na Figura 6.8, o valor
característico da capacidade resistente de fendimento deverá ser calculado de acordo com a Eq. (6.18).

he
F90,Rk = 14 b w (6.18)
 he 
1 − 
 h 

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Nesta equação, e no caso de ligadores do tipo cavilha (parafusos de enroscar, parafusos de rosca ou
cavilha), o valor de w é igual a 1.

Nestes cálculos, os valores dos parâmetros são explicados em seguida: F90,Rk é o valor característico da
capacidade resistente de fendimento, em N; w é o factor de correcção; he a distância do bordo carregado
ao centro do ligador mais afastado, em mm; h é a altura do elemento de madeira, em mm; b é a espessura
do elemento, em mm.

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7 Ligações tradicionais
As ligações tradicionais (entalhes e empalmes) constituem o modo mais antigo de realizar ligações entre
peças de madeira, onde a transmissão de esforços e resistência da ligação é dada essencialmente pela
resistência ao corte e à compressão segundo um ângulo α.

A resistência da ligação é dada pelo contacto directo entre os elementos a unir, onde as forças gravíticas
se encarregam de colocar a ligação em funcionamento, garantindo desta forma a eficácia da ligação.

Podendo ser ligações perna-linha, pendural-perna, cachorros de ligação, emendas de madres (empalmes),
etc., é necessário garantir que as forças transmitidas por cada um dos elementos é correctamente
transmitida na zona da ligação, preconizando adequadamente as zonas de entalhe para a transmissão de
esforços. No entanto, este tipo de ligações funciona bem para cargas gravíticas, mas a inversão de
esforços (p.ex., nas coberturas) origina a definição de ligações eficientes nestes casos, como o uso de
braçadeiras metálicas (comuns nas ligações pernas-linha) ou parafusos. Estas peças têm a única missão
de resistir à inversão de esforços, impedindo também o deslocamento relativo entre elas.

7.1 Entalhes

7.1.1 Entalhes à compressão


São desenhados e dimensionados para transmitir esforços de compressão, onde a inversão de esforços
pode levar ao desarranjo e ineficiência da ligação. A transmissão de esforços é realizada através de
tensões entre superfícies de contacto, evitando o deslizamento de uma peça sobre a outra mediante
mechas, respigas ou entalhes.

7.1.1.1 Entalhes de mecha e respiga


Uma das peças tem, no seu extremo, uma parte mais delgada que se chama de respiga (em forma de
paralelepípedo), encaixando numa peça que tem a forma de caixa, a que se chama mecha (Figura 7.1). De
forma a evitar que a respiga transmita todo o esforço da ligação, esta costuma ser ligeiramente mais
curta do que a profundidade da mecha, evitando assim o seu apoio na zona mais vulnerável.

Figura 7.1. Entalhe de mecha e respiga recto e oblíquo (Alvarez e Arriaga, 2000)

7.1.1.2 Entalhes dentados com rebaixamento


No caso da utilização de dentes, a peça a ligar não contém respiga, sendo a superfície de contacto dada
pela área total da peça. No entanto, existe um rebaixamento na peça que recebe o elemento, permitindo
desta forma a transmissão de esforços por tensões axiais e tangenciais na interface entre os elementos.
No entanto, é necessário manter a integridade desta ligação recorrendo a pernos ou cintas metálicas.

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Figura 7.2. Casos típicos de entalhes dentados (Alvarez e Arriaga, 2000)

7.1.1.3 Entalhes dentados com mecha e respiga


Este tipo de ligação resulta na combinação dos dois anteriores, onde a transmissão de esforços é
realizada quer na zona do dente quer na zona da ligação respiga-mecha.

Figura 7.3. Entalhe dentado com mecha e respiga (Alvarez e Arriaga, 2000)

7.2 Empalmes

As ligações empalmadas são utilizadas para união de peças segundo o mesmo eixo. Este tipo de ligação
era utilizada muito frequentemente na emenda de madres e cumeeiras, onde a manutenção do mesmo
alinhamento deveria ser assegurado para garantir uma geometria correcta da cobertura. A transmissão
de esforços era assegurada por cortes na madeira, assegurando a transmissão de esforços por tensões
tangenciais e de compressão.

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Em peças traccionadas, este tipo de ligação é o mais frequentemente nas estruturas existentes e
correntes de grande vão, onde a transmissão de esforços axiais é assegurada. Neste tipo de ligação, a
secção eficaz da peça é reduzida a menos de metade da secção completa.

Um dos tipos de empalme com maior capacidade resistente e de fácil execução é o empalme em chave. É
constituído um entalhe em cada uma das peças com uma configuração em chave, assegurando a
transmissão de esforços e evitando o deslizamento. Esta ligação possui um pequeno espaçamento no
meio para colocação e ajuste do empalme.

Figura 7.4. Empalme em chave (Alvarez e Arriaga, 2000)

Outro tipo de ligação é o empalme em raio de Júpiter, muito utilizado na ligação de peças constituintes
das madres, onde a ligação é oblíqua e garantida essencialmente pela resistência à compressão do fio na
zona de contacto.

Figura 7.5. Empalme em raios de Júpiter (Alvarez e Arriaga, 2000)

A utilização de empalmes é também frequente na ligação de vigas sobre os apoios, de forma a utilizar o
suporte para a transição de elementos, visto estas peças estarem submetidas à flexão. O empalme pode
ser realizado por corte em Z, corte oblíquo ou um corte Z e oblíquo.

É possível também utilizar empalmes em peças comprimidas, embora não se encontrem unicamente
empalmadas, utilizando normalmente respigas e mechas, formando ligações à compressão um pouco
mais complexas.

7.3 Cálculo de entalhes

A utilização de entalhes deverá ser realizada apenas em madeiras com classe de resistência igual ou
superior a C22, segundo a NP EN 338, visto esta estar submetida a corte, compressão ou tracção
perpendicular à fibra.

O método de cálculo apresentado aqui é relativo à união perna-linha, para que possam o tipo de entalhe
mais comum nas estruturas de madeira.

O primeiro ponto a respeitar no cálculo de entalhes inicia-se pelo próprio desenho da ligação, devendo-se
ter em consideração três parâmetros fundamentais:

1) A profundidade de rebaixamento da linha, e, deverá ser pelo menos e=1/5h, sendo h a altura da
linha;

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2) O ângulo de corte do entalhe (β) deverá ser calculado a partir da bissectriz do ângulo formado
pelas faces exteriores da perna e linha;
3) A localização do corte, l, deverá ser deduzida através do cálculo. Recomenda-se, no entanto, um
valor mínimo de 20cm.

Figura 7.6. Critérios de desenho (Alvarez e Arriaga, 2000)

Para este tipo de ligação perna-linha, a linha (tirante) ficará apenas submetido a um esforço de tracção
(Nt,d), podendo-se desprezar o efeito do peso próprio da linha. Além disso, a perna transmite um esforço
de compressão e corte, Np,d e Qp,d, respectivamente. De forma a equilibrar este nó, a reacção do apoio (Rd)
deverá equilibrar o somatório das forças verticais, enquanto a força mobilizada pela linha deverá
equilibrar as forças horizontais.

Figura 7.7. Forças mobilizadas no nó de ligação perna-linha

O resultado deste sistema de forças gerado no nó de ligação através de entalhe origina tensões de
compressão oblíquas às fibras, cuja análise da segurança dos elementos de madeira poderá ser realizado,
de uma forma simplificada, através das componentes paralelas e perpendiculares às fibras.

Assim, a componente vertical que resulta da reacção Rd provoca uma tensão perpendicular às fibras
(σc,90,d) sobre a superfície de área a b, devendo esta tensão actuante ser inferior ao valor da resistência de
cálculo, Eq. (7.1).

Rd
σ c ,90, d = ≤ f c ,90, d (7.1)
ab

O esforço axial de tracção originado na linha (Nt,d) origina tensões de compressão paralelas às fibras na
superfície de entalhe, e b. Estas tensões de compressão paralelas às fibras deverão ser inferiores à
resistência de cálculo da madeira, Eq. (7.2).

Nt ,d
σ c ,0, d = ≤ f c,0, d (7.2)
eb

Por fim, as tensões tangenciais que se desenvolvem na zona do entalhe (e) deverão também ser
verificadas relativamente à tensão resistente máxima, Eq. (7.3).

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Nt ,d
τd = ≤ f v, d (7.3)
bl

A secção da linha deverá ser verificada para a secção remanescente, h-e, de tal forma que a tensão de
tracção actuante não exceda a resistente da linha, Eq. (7.4).

Nt ,d
σ t ,0, d = ≤ f t ,0, d (7.4)
b (h − e)

No caso da utilização de dentes duplos com profundidades tv1 e tv2, a força actuante deverá ser
decomposta em função da profundidade relativa de cada entalhe, desde que o ângulo de corte do entalhe
se mantenha constante. Deverá ser sempre garantida uma distância mínima entre as duas superfícies de
corte associadas a cada um dos entalhes (d), recomendando-se valores mínimos de:

d = tv 2 − tv1 ≥ max (10 mm; 0, 2 tv 2 ) (7.5)

A verificação de cada um dos entalhes deverá repetir o procedimento acima mencionado, estando os
valores de força actuantes correctamente associados a cada um dos entalhes.

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8 Bibliografia geral

EN 1995 : Eurocode 5 – Design of timber structures [2004]

Negrão, J., Faria, A. [2009] Projecto de Estruturas de Madeira, Publindústrias, Edições Técnicas.

Branco, J., Sebenta da disciplina de “Estruturas de Madeiras”, Universidade do Minho

Arriaga, F, Pezaza, F, Esteban, M, Bobabilla, I and Garcia, F [2002] Intervención en estructuras de


madera, AITIM, Madrid.

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